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MASC ASPECTOS SÓCIO-HISTÓRICOS aula 3 - 25/02/2019 Ms. Ana Catão Universidade São Judas Tadeu UMA MUDANÇA CULTURAL PROFUNDA um novo cenário jurídico Crise da Modernidade… Crise do Estado / Crise da Democracia / Crise do Poder Judiciário NO DIREITO, abre-se espaço para: - Ampliação da concepção de Acesso à Justiça - Valorização do pluralismo jurídico - Entronização de uma cultura de afirmação dos Direitos Humanos no cotidiano (via da Educação em Direitos Humanos) - Descentralização: política, corporações de ofício, organizações sociais, igreja, universidades Poder difuso, presente em vários setores reflete no sistema normativo, nas formas de controle social. - Convivência de vários sistemas jurídicos (dir. romano, canônico, dos senhores feudais, dos mercadores…) - Sociedade verticalizada (fé e revelação, verdade dogmática) Fatores que contribuem para o surgimento da modernidade diante dessa sociedade fragmentada e pluralista - quebra de paradigma na astronomia (do geo ao heliocentrismo) - valorização da racionalidade cartesiana, a dúvida como método de produção do conhecimento (matriz da produção das verdades científicas) - ciências naturais (do teocentrismo ao antropocentrismo / dignidade do ser humano, sujeito razão passa a ser grande ator da história) Cultura jurídica antes da modernidade européia - Idade Média Vetores do pensamento moderno - Reforma protestante (livre pensamento, acesso direto à verdade, recompensa na terra / individualismo e competitividade) - Humanismo renascentista (foco na dignidade do homem) - Revoluções burguesas (restringem poder do soberano e garantem direitos aos cidadãos) Teoria do contrato social para explicar origem da sociedade humana (reunião dos homens, e não criação de Deus) - Iluminismo (enciclopedistas sec XVIII) Estrutura-se uma cultura jurídica centralizadora em que tradições e costumes (direito consuetudinário) perdem espaço para o direito legislado. → O Estado, que representa vontade popular (burocracia), é poder político centralizado, fonte do direito (monismo jurídico). Cultura jurídica da modernidade européia Valor da Justiça perde centralidade para o valor da Segurança jurídica (certeza, estabilidade, previsibilidade) Violência do Estado é legitimada (apenas essa) Criam-se atores secularizados para cuidar da Justiça (burocracia vinculada ao Estado e autônoma) Pilares sociais dessa cultura jurídica moderna: - capitalismo (fator economico) - burguesia de classe média (agentes sociais) - liberalismo - valor central da liberdade (visão de mundo) - Estado Nação - agente legítimo produtor de juridicidade (estrutura do poder) → mundo moderno = mundo da codificação (Direito Estatal) monismo (XVIII-XIX): Estatalidade, Unicidade, Positividade Cultura jurídica da modernidade européia Crise: colapso de um modelo histórico / disfuncionalidade de um sistema/ contradições estruturais de uma dada sociedade Krisis/ crivo/ peneira → possibilidade de fazer novas escolhas Cenário - crise de legitimidade do Estado - poder judiciário que não oferece mais previsibilidade/estabilidade - Justiça estatal não consegue responder às demandas da coletividade Paradigma: cjto de verdades temporárias de uma configuração histórica, que atende às necessidades humanas daquela configuração de forças. A constelação de crenças, valores, técnicas, etc..., partilhadas pelos membros de uma comunidade determinada (Thomas Kuhn) Crise da Modernidade - Novos paradigmas Mesmo o Direito Moderno não é produto apenas dos códigos e da interpretação dos juízes no tribunal. É produto de uma sociedade de lutas, de processos históricos Desde década de 70 Busca por formas, mais céleres, menos burocráticas, mais flexíveis, mais informais, mais efetivas de se fazer Justiça. → surge a necessidade de contemporizar segurança e flexibilidade Revisitação de formas de se fazer justiça de povos originários Validação de normatividades não oficiais Crise do Direito Moderno - Novos paradigmas - Há múltiplas manifestações normativas existentes na sociedade; - Que podem, ou não, ser reconhecidas pelo Estado / Poder político; - Podem ou não estar em conflito - Expressam necessidades humanas, de coletividades (existenciais, econômicas, políticas, …); - Anti-monista centralizador absoluto: há gama de normatividades (estatal e da sociedade) que promovem controle social. Pluralismo Jurídico Alternativa ao individualismo fragmentário, atomístico - sentido estrito, sentido amplo, sentido integrado; - acesso à tutela jurisdicional - justiça social - escopo jurídico, social e político (acesso à info/orientação jurídica e todos os MASC) = acesso à ordem jurídica justa) - 3 ondas renovatórias (Cappelletti e Garth): 1 - assist jud aos pobres 2 - interesses difusos e coletivos 3 - técnicas processuais adequadas e formação dos operadores do direito (Economides) Acesso à Justiça acesso à ordem jurídica justa, um direito fundamental (ART. 5º, XXXV) Desde o início da década de 1980, quando o sistema processual brasileiro passou por grandes e revolucionárias transformações, com a criação dos Juizados Especiais de Pequenas Causas (1984) e a aprovação da Lei da Ação Civil Pública (1985) — com posterior aprovação do Código de Defesa do Consumidor (1990), que trouxe no campo processual grandes inovações, em especial a disciplina mais completa e o aperfeiçoamento das ações coletivas —, o conceito de acesso à justiça passou por uma importante atualização: deixou de significar mero acesso aos órgãos judiciários para a proteção contenciosa dos direitos para constituir acesso à ordem jurídica justa. KAZUO WATANABE Acesso à Justiça acesso à ordem jurídica justa, um direito fundamental (ART. 5º, XXXV) Vem se entendendo que o papel do Judiciário não se deve limitar à solução dos conflitos de interesses, em atitude passiva e pelo clássico método da adjudicação por meio de sentença, cabendo-lhe utilizar todos os métodos adequados de solução das controvérsias, em especial os métodos de solução consensual, e de forma ativa, com organização e oferta de serviços de qualidade para esse fim. A mediação e a conciliação passaram, assim, a integrar o instrumental do Judiciário KAZUO WATANABE Acesso à Justiça acesso à ordem jurídica justa, um direito fundamental (ART. 5º, XXXV) A justiça é “obra coletiva”, na precisa afirmativa do magistrado e professor Dr. José Nalini, não somente no sentido de que, na organização do Judiciário e nos serviços por ele prestados na solução dos conflitos de interesses no plano judicial, deve haver a participação das próprias partes e de toda a sociedade, e não apenas do Estado, como também no sentido de que a própria sociedade, por suas instituições, organizações e pessoas responsáveis, também deve organizar e oferecer os serviços adequados de prevenção e solução dos conflitos de interesses. KAZUO WATANABE Acesso à Justiça acesso à ordem jurídica justa, um direito fundamental (ART. 5º, XXXV) Insuficiência da mera declaração de direitos. Deseja-se a sua efetivação - concretização da dignidade da pessoa humana e do respeito mútuo. Democratizar a democracia - entronização de uma cultura de participação (democratização do saber poder) Direitos Humanos princípio de ação A prática judicial, ao racionalizar dogmaticamente os conflitos subjetivos, recria-os em termos dessubjetivados, dando corpo aos conflitos jurídicos, chamados litígios 1. Desapropriação do próprio discurso, transformado em jargão jurídico (dessubjetivação/objetivação) 2. Conformação do conflito à norma jurídica (positivismo) 3. Imposição de uma temporalidadeprópria, burocrática, que afasta a emissão e a recepção dos discursos (formalismo/burocracia) De um paradigma formalista a um paradigma relacional A prática judicial, ao racionalizar dogmaticamente os conflitos subjetivos, recria-os em termos dessubjetivados, dando corpo aos conflitos jurídicos, chamados litígios 4. O dever de prova e de atendimento a formalidades processuais varre aspectos mais subjetivos do discurso conflitivo trazido inicialmente pelas partes (formalismo/dessubjetivação) 5. Há transferência do ato decisório (cultura de sentença) De um paradigma formalista a um paradigma relacional - participação - autonomia - acertamento horizontal e pluralista - definição do justo de acordo com os envolvidos / atendimento às necessidades mútuas - relação pessoal com a norma - interpessoalidade / solidariedade - saber compartilhado - funcionamento em redes complexas Ocasiona/reforça a construção de uma ética relacional e coletiva. De um paradigma formalista a um paradigma relacional Referências Bibliográficas ● CAPPELLETTI, Mauro e GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Trad. Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 1988. ● ECONOMIDES, Kim. Lendo as ondas do “Movimento de Acesso à Justiça”: epistemologia versus metodologia? CIDADANIA, justiça e violência/ Organizadores Dulce Pandolfi…[et al]. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getulio Vargas, 1999. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/6742/39.pdf?sequence=1&isAllowed=y ● KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 2005. ● SADEK, Maria Teresa. Direitos e sua concretização - judicialização e meios extrajudiciais. Disponível em: http://ec2-34-201-249-83.compute-1.amazonaws.com/wp-content/uploads/2017/04/CadernosFGVProjet os_30_solucaodeconflitos.pdf ● WATANABE, Kazuo. Depoimento. Disponível em: http://ec2-34-201-249-83.compute-1.amazonaws.com/wp-content/uploads/2017/04/CadernosFGVProjet os_30_solucaodeconflitos.pdf ● WOLKMER,. Pluralismo Jurídico.Disponível em: http://www.forumjustica.com.br/wp-content/uploads/2013/02/Antonio-Carlos-Wolkmer-Pluralismo-juridic o.pdf
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