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1. Introdução ao Direito Ambiental e Conceito de Meio Ambiente.
- Apresentação
- Iniciação da matéria: preocupação da comunidade mundial com a poluição
* Em 1972, foi realizada a Conferência de Estocolmo com o objetivo de conscientizar a sociedade a melhorar a relação com o meio ambiente e assim atender as necessidades da população presente sem comprometer as gerações futuras.
A conferência das Nações Unidas que aconteceu na capital da Suécia, Estocolmo, foi a primeira atitude mundial a tentar preservar o meio ambiente.
A Organização das Nações Unidas (ONU) decidiu então lançar a Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente.
As reações dos países foram diversas. Os Estados Unidos da América foi o primeiro a se dispor a reduzir a poluição na natureza. Decidiram reduzir por um tempo com as atividades industriais. O país contou com a liderança do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Neste instituto foram feitos estudos sobres as condições da natureza, denominado "desenvolvimento zero".
Países subdesenvolvidos não aprovaram as decisões de reduzir as atividades industriais, pelo fato de terem a base econômica focada na industrialização. Surgiu então, o "Desenvolvimento a qualquer custo" defendido pelas nações subdesenvolvidas.
Foram abordados diversos temas na conferência de Estocolmo. Estavam presentes nas discussões mais de 400 instituições governamentais e não governamentais e teve participação de 113 países.
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Cnumad), realizada em junho de 1992 no Rio de Janeiro, marcou a forma como a humanidade encara sua relação com o planeta. Foi naquele momento que a comunidade política internacional admitiu claramente que era preciso conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a utilização dos recursos da natureza.
Na reunião — que ficou conhecida como Rio-92, Eco-92 ou Cúpula da Terra —, que aconteceu 20 anos depois da primeira conferência do tipo em Estocolmo, Suécia, os países reconheceram o conceito de desenvolvimento sustentável e começaram a moldar ações com o objetivo de proteger o meio ambiente. Desde então, estão sendo discutidas propostas para que o progresso se dê em harmonia com a natureza, garantindo a qualidade de vida tanto para a geração atual quanto para as futuras no planeta.
A avaliação partiu do pressuposto de que, se todas as pessoas almejarem o mesmo padrão de desenvolvimento dos países ricos, não haverá recursos naturais para todo mundo sem que sejam feitos graves — e irreversíveis — danos ao meio ambiente.
— Na Rio-92, chegou-se à conclusão de que temos de agregar os componentes econômicos, ambientais e sociais. Se isso não for feito, não há como se garantir a sustentabilidade do desenvolvimento — analisou na CRE, em março passado, Luiz Alberto Figueiredo Machado, coordenador-geral dos preparativos da Conferência Rio+20.
O ambiente político internacional da época favoreceu a aceitação pelos países desenvolvidos de que as responsabilidades pela preservação do meio ambiente e pela construção de um convívio equilibrado com o planeta são diferentes.
Na Rio-92, ficou acordado, então, que os países em desenvolvimento deveriam receber apoio financeiro e tecnológico para alcançarem outro modelo de desenvolvimento que seja sustentável, inclusive com a redução dos padrões de consumo — especialmente de combustíveis fósseis (petróleo e carvão mineral). Com essa decisão, a união possível entre meio ambiente e desenvolvimento avançou, superando os conflitos registrados nas reuniões anteriores patrocinadas pela ONU, como na Conferência de Estocolmo, em 1972.
1.1. O Surgimento e a Autonomia do Direito Ambiental.
O Brasil nem sempre esteve regido por suas próprias Leis. No período do descobrimento a legislação portuguesa vigorou, eis que o território nacional não gozava de independência e soberania.
* Ordenações Afonsinas: A legislação portuguesa em vigor na primeira década do descobrimento do Brasil eram as Ordenações Afonsinas – primeiro Código legal europeu.
A preocupação Real com a proteção das riquezas florestais estava motivada pela necessidade premente do emprego das madeiras para o impulso da almejada expansão ultramarina portuguesa. O corte deliberado de árvores frutíferas era considerado ato de injúria ao Rei.
* Ordenações Manuelinas: As Ordenações Manuelinas foram editadas em 1521 também contendo dispositivos de caráter ambiental, a exemplo da proibição da comercialização das colmeias sem a preservação das abelhas; ou da caça de animais como coelhos, lebres e perdizes com instrumentos que pudessem denotar crueldade.
A tipificação do corte de árvores frutíferas passou a ser punida com o degrado para o Brasil quando a árvore abatida tivesse valor superior a trinta cruzados.
* Em 12/12/1605, foi criada a primeira lei protecionista florestal brasileira – Regimento sobre o Pau-Brasil – o qual proibia, entre outras coisas, o corte dessa espécie sem expressa licença real, aplicando penas severas aos infratores e realizando investigações nos solicitantes das licenças.
* Após uma série de legislações, regulamentos e determinações, em 1934 foram sancionados o primeiro Código Florestal e o Código de Águas.
* Em 1964 foi promulgada a Lei nº 4.504 (Estatuto da Terra) – ainda em vigor.
* Em 1965 passa a vigorar a nova versão do Código Florestal, inovando ao estabelecer a proteção das áreas de preservação permanente.
* Em 1981 é promulgada a Lei nº 6.938 (Política Nacional do Meio Ambiente), traçando diretrizes, objetivos e princípios, assim como sistematizou a atividade de polícia ambiental. Neste ponto que a maioria da doutrina defende como sendo o marco do direito ambiental brasileiro como uma ciência independente, autônoma.
Sobre a autonomia do direito ambiental, importante posicionamento pode ser extraído de obra sob a coordenação de José Joaquim Gomes Canotilho:
Por nossa parte defendemos a ideia segundo a qual se pode e deve falar em Direito do Ambiente não só como campo especial onde os instrumentos clássicos de outros ramos do Direito são aplicados, mas também como disciplina jurídica dotada de substantividade própria. Sem com isso pôr de lado as dificuldades que tal concepção oferece e condicionamentos que sempre terão de introduzir-se a tal afirmação. [José Joaquim Gomes Canotilho (coordenador), Introdução ao Direito do Ambiente, Universidade Aberta (1998)].
O direito ambiental rompe com a noção clássica da autonomia do direito pelo cientificismo que lhe foi atribuído pelas teorias da tradição civilística. Trata-se de uma área com origem em um paradigma social e econômico, típico da sociedade pós-moderna ou de risco. Dentro dos estritos limites da hermenêutica jurídica, o direito ambiental foi incluído no rol dos denominados “novos” direitos. Novos para o direito porque inauguram a fase de quebra da restrita visão da autonomia e independência do próprio direito.
E, sobretudo, porque são direitos que desafiam a capacidade dos juristas de resolverem os problemas fáticos pela via da construção de teorias a partir de pensamentos, julgados, textos de lei ou técnicas argumentativas preexistentes.
No estrito campo da ciência jurídica, esses “novos” direitos desafiam os juristas clássicos através de correntes doutrinárias que os definem como direitos de terceira geração. Estariam enquadrados ou como um sub-ramo do direito civil e, portanto, privado, ou como um sub-ramo dos direitos constitucional e administrativo, logo, público.
A resistência à autonomia do direito ambiental dentro da ciência jurídica não resiste ao processo interpretativo da identificação das suas fontes. Ao contrário de outras disciplinas consolidadas dentro da dicotômica divisão público / privado, o direito ambiental tem na ciência, na técnica, nas grandes catástrofes e, como decorrência, nos movimentos populares a sua fonte material maior. 
Com precisão, Antunes constatou o paradigma diferenciado das fontes materiais do direito ambiental.E, então, dividiu-as em sua obra entre fontes materiais e fontes formais. Segundo o autor, seriam fontes materiais os movimentos populares, as descobertas científicas e a doutrina jurídica. Já as fontes formais, segundo Antunes, elas “(...) não se distinguem ontologicamente daquelas que são aceitas e reconhecidas como válidas para os mais diversos ramos do Direito. Consideram-se fontes formais do DA: a Constituição, as leis, os atos internacionais firmados pelo Brasil, as normas administrativas originadas dos órgãos competentes e a jurisprudência”. [ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Iuris, 2008, pp. 50-54]
A peculiaridade da constatação do diferencial de fontes materiais do direito ambiental é decorrência de uma chamada “crise ecológica” que insere na sociedade pós-moderna a necessidade de gerir o risco ambiental. Logo, a questão ambiental extrapola os limites do debate em torno da autonomia da matéria no âmbito da ciência do direito, para se transformar em um paradigma que exige adaptação reinterpretativa de todas as áreas do conhecimento. No próprio direito, esse paradigma faz surgir um ramo autônomo, que impõe regras de conduta entre pessoas e o meio ambiente. E vai além: dentro da própria ciência do direito, a questão ambiental exige que outros ramos, tidos como clássicos, como o constitucional, o administrativo e o próprio direito civil sejam reinterpretados. 
O reflexo prático dessa constatação se concretiza, por exemplo, na recepção do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e a necessidade de significado a este conceito normativo; na necessária adequação dos instrumentos clássicos do direito administrativo às especificidades do papel do Poder Público na garantia desse direito; e na incorporação da noção da função socioambiental da propriedade, para citar apenas alguns.
* Fases de evolução da legislação ambiental:
Herman Benjamin defende que a evolução da legislação ambiental brasileira se deu em três fases ou momentos históricos, que são a fase de exploração desregrada, a fase fragmentária e a fase holística.
Fase individualista ou de exploração desregrada
Essa fase, que começa com o descobrimento do Brasil e termina na década de 1950, tem como característica a inexistência da preocupação com as questões ambientais. As poucas normas que diziam respeito ao assunto eram de feição privada, já que o meio não era considerado um bem autônomo.
Fase fragmentária
A partir da década de 1950 e mais enfaticamente a partir da década de 1960, começou a surgir uma legislação voltada ao controle das atividades exploratórias dos recursos naturais. É o caso da água, da fauna e da flora, que passaram a ser regidos por um arcabouço normativo próprio, do qual cabe destacar o seguinte:
• Velho Código Florestal (Lei nº 4.771/65)
• Código de Caça ou Lei de Proteção à Fauna (Lei nº 5.197/67)
• Código de Pesca (Decreto-lei nº 221/67)
• Código de Mineração (Decreto-lei nº 227/67)
• Lei de Responsabilidade por Danos Nucleares (Lei nº 6.453/77)
Essa legislação era marcada pela setorialidade, pois somente os recursos naturais com valor econômico recebiam proteção jurídica, visto que o meio ambiente ainda não era considerado um bem autônomo. Ainda é possível identificar na Administração Pública a existência de lógicas setoriais de ação e de interesses que impedem a integração das políticas públicas na área ambiental, de maneira que o paradigma econômico não foi completamente suplantado.
Fase holística
A fase holística é marcada pela compreensão do meio ambiente como um todo integrado, em que cada uma de suas partes é interdependente das outras e não fragmentada. A Lei nº 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e cria o Sistema Nacional do Meio Ambiente, é marco do começo da fase holística, pois somente a partir daí a defesa do meio ambiente começou a ser considerada uma finalidade em si mesma.
Nessa fase a autonomia científica do Direito Ambiental foi reconhecida, com a afirmação doutrinária, jurisprudencial e legislativa dos seus instrumentos, princípios, objetivos e objeto. O marco legislativo mais importante foi a promulgação da Constituição Federal de 1988, que dedicou um capítulo inteiro ao meio ambiente, alçando-o à categoria de direito fundamental da pessoa humana, embora existam outros que também merecem destaque:
• Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85)
• Lei dos Agrotóxicos (Lei nº 7.802/89)
• Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98)
• Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/97)
• Lei da Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9.795/99)
• Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei nº 9.982/00)
• Estatuto das Cidades (Lei nº 10.257/00)
• Lei da Política Nacional de Biossegurança (Lei nº 11.105/05)
• Lei de Gestão de Florestas Públicas (Lei nº 11.284/06)
• Lei da Mata Atlântica (Lei nº 11.428/06)
• Lei da Política Nacional de Saneamento Básico (Lei nº 11.445/07)
• Lei da Política Nacional sobre Mudança do Clima (Lei nº 12.187/09)
• Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/10)
1.2. O Antropocentrismo, o Ecocentrismo e o Biocentrismo.
O ser humano é definitivamente o animal que mais transforma o seu ambiente. Esta capacidade humana de interferir no ambiente, de alterá-lo, nós chamamos de antropogenia.
Toda sociedade cria uma forma de se relacionar com a natureza, dá significado ao meio natural conforme seus valores. “Toda sociedade possui uma teoria da natureza que lhe é própria, que se expressa em suas configurações intelectuais, senão igualmente em complexos de símbolos, de instrumentos e de práticas” [BALANDIER, Georges. Modernidad y poder: el desvio antropológico. p. 194 apud WALDMAN, Maurício. Meio ambiente & antropologia. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2006, p. 40]
* Antropocentrismo, Ecocentrismo e Biocentrismo
Salvo alguns países que adotam o teocentrismo (o regramento da vida em coletividade está centrado em alguma divindade), o Direto é, tradicionalmente, informado por uma visão antropocêntrica, ou seja, o home é o ser que está no centro do Universo, sendo que todo o restante gira ao seu redor.
Por essa linha, a proteção ambiental serve ao homem, como se este não fosse integrante do meio ambiente, e os outros animais, as águas, a flora, o ar, o solo, os recursos minerais não fossem bens tuteláveis por si sós, autonomamente, independentemente da raça humana.
Frederico Amado cita Antônio Almeida em texto que investigou as concepções ambientalistas dos professores portugueses, “o antropocentrismo defende a centralidade indiscutível do ser humano e valoriza a natureza de um ponto de vista instrumental. Tal centralidade não implica a negação da necessidade de preservação da natureza, uma vez que o mundo natural constitui um recurso quase ilimitado, susceptível de poder ser utilizado para os mais diversos fins humanos (agrícola, industrial, medicinal)”.
Ademais, há outras éticas que pensam diferente a relação entre o homem e o ambiente, que vêm evoluindo e ganhando corpo com o agravamento da crise ambiental, que aos poucos informam a elaboração das normas jurídicas pelo mundo. Destacam-se: o ecocentrismo e o biocentrismo.
Na doutrina, Antônio Almeida, citado por Frederico Amado, leciona que o ecocentrismo defende o valor não instrumental dos ecossistemas, e da própria ecosfera, cujo equilíbrio se revela preocupação maior do que a necessidade de florescimento de cada ser vivo em termos individuais. Perante o imperativo de assegurar o equilíbrio ecossistemático, o ser humano deve limitar determinadas atividades agrícolas e industriais, e assumir de uma forma notória o seu lado biológico e ecológico, assumindo-se como um dos componentes da natureza”.
O biocentrismo, à luz da doutrina de Peter Singer, sustenta a existência de valor nos demais seres vivos, independentemente da existência do homem, notadamente os mais complexos, a exemplo dos mamíferos, pois são seres sencientes (têm percepção,como dor e prazer). 
Por essa linha, a vida é considerada um fenômeno único, tendo a natureza valor intrínseco, e não instrumental, o que gerará uma consideração aos seres vivos não integrantes da raça humana. Inspirada no biocentrismo nasceu a defesa dos direitos dos animais (abolicionismo), movimento que vai de encontro à utilização dos animais como instrumento do homem, sua propriedade, chegando a alocá-los como sujeito de alguns direitos, notadamente os animais sencientes e autoconscientes.
Frederico Amado, a fim de facilitar a compreensão dessas correntes éticas, faz uma análise da alimentação humana à luz de cada. “O antropocentrismo e o Ecocentrismo são favoráveis ao consumo humano de animais, mas por premissas diversas. Para os antropocêntricos, decorre da liberdade humana de escolha da sua alimentação, não sendo prejudicial à sua saúde (se for racional), ainda gerando uma sensação de bem-estar. De seu turno, para os ecocêntricos, é corolário da natureza humana carnívora, sendo uma necessidade natural, típica da condição de predador natural ostentada pelo homem. Por outro lado, os biocêntricos defendem apenas o consumo de vegetais ou de produtos de origem animal (como ovos e leite), sob o argumento do direito à vida dos animais não racionais, além da vedação ao seu sofrimento”.
*Declaração Universal dos Direitos dos Animais – UNESCO – Bruxelas (27/01/1978). Objetiva influenciar positivamente na elaboração das leis das nações, aduzindo no preâmbulo que todo animal possui direitos (são arrolados os direitos à existência, ao respeito, à proteção do homem, à liberdade do animal selvagem, ressaltando que a morte de um animal sem necessidade caracteriza-se como biocídio, atentado, destarte, contra a vida).
*Constituição do Equador de 2008, em seu capítulo VII, previu a natureza como sujeito de direitos.
1.3. Movimentos Ambientalistas.
André Carlos Sant’Ana Diegues trata com profundidade dos movimentos ambientalistas originados nos Estados Unidos no século XIX em sua obra “O Mito Moderno da Natureza Intocada”, apresentando duas visões diferentes sobre a preocupação do homem com o meio ambiente. O conservacionismo de Gifford Pinchot x o preservacionismo de John Muir.
* O Conservacionismo
Gifford Pinchot foi um engenheiro florestal alemão e encabeçou o movimento de conservação dos recursos ambientais, apregoando seu uso racional. Trouxe uma concepção inicial sobre o que hoje é conhecido por “desenvolvimento sustentável”.
Na sua concepção, a conservação se baseava em três princípios: 
- o uso dos recursos naturais pela geração presente; 
- a prevenção de desperdício; e 
- o uso dos recursos naturais para benefício da maioria dos cidadãos.
Foi o primeiro movimento teórico-prático contra o “desenvolvimento a qualquer custo”. A grande aceitação desse enfoque reside na ideia de que se deve procurar o maior bem para o benefício da maioria, incluindo as gerações futuras, mediante a redução dos dejetos e da ineficiência na exploração e consumo dos recursos naturais não-renováveis, assegurando a produção máxima sustentável.
* O Preservacionismo
A essência dessa corrente ideológica é de reverência à natureza no sentido da apreciação estética e espiritual da vida selvagem. Pretende, pois, proteger a natureza contra o desenvolvimento moderno, industrial e urbano.
O preservacionismo norte americano foi influenciado pelas concepções de Henry David Thoreau, o qual se baseava na existência de um Ser Universal, transcendente no interior da natureza. “A terra sobre a qual caminho não é um ser morto, uma massa inerte; é um corpo, um espirito, é orgânico e transparente as influências do espírito”.
Ademais, John Muir foi o teórico mais importante do preservacionismo. A base do respeito pela natureza era seu reconhecimento como parte de uma comunidade criada à qual os humanos também pertenciam. Para esse autor, não somente os animais, mas as plantas, e até as rochas e a água eram fagulhas da Alma Divina que permeava a natureza. “Se ocorresse uma guerra de raças entre os animas selvagens e o Senhor-Homem, eu seria inclinado a me simpatizar com os ursos” – John Muir.
Essas ideias, segundo as quais o homem não poderia ter direitos superiores aos animais (depois chamadas de biocêntricas), ganharam um apoio científico da História Natural, em particular da teoria da evolução, de Charles Darwin (1809-1882). De acordo com Roderick Nash, os livros de Darwin, Sobre a Origem das Espécies (1859) e a Descendência do Homem (1871), colocando o homem de volta na natureza tornaram-se fontes importantes do ambientalismo e da ética ambiental.
John Muir, mais do que teórico, também era um preservacionista ativista, lutando para a criação de parques nacionais de preservação. Em 1890, como resultado, houve a criação do Parque Nacional de Yosemite, nos Estados Unidos.
1.4. Definição de Meio Ambiente.
* Conceito de Meio Ambiente:
Expressão tautológica (meio = ambiente Pelonasmo).
Considerada por Celso Antônio Pacheco Fiorillo como “[...] um conceito jurídico indeterminado”(2007, p.21), a expressão meio ambiente comporta uma infinitude de elementos ocasionando uma grande dificuldade na elaboração de seu conceito, a ponto de nem mesmo os especialistas conseguirem elaborar um em definitivo. Coube, portanto, à legislação brasileira (Lei 6.938/1981) elaborar seu próprio conceito (Hans Kelsen – Interpretação autêntica):
 “Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; [...]”
É possível observar o nível de complexidade contida na expressão meio ambiente, pelo excelente conceito trazido por Édis Milaré citando Ávila Coimbra:
“[...] meio ambiente é o conjunto de elementos abióticos (físicos e químicos) e bióticos (flora e fauna), organizados em diferentes ecossistemas naturais e sociais em que se insere o Homem, individual e socialmente, num processo de interação que atenda ao desenvolvimento das atividades humanas, à preservação dos recursos naturais e das características essenciais do entorno, dentro das leis da natureza e de padrões de qualidade definidos”. (MILARÉ, 2007, p. 111)
Os conceitos, legal e doutrinário de meio ambiente trazem à tona a complexidade da questão abordada pelo ramo do direito em estudo.
O conceito de meio ambiente, contudo, apenas adquiriu a relevância já destacada no momento em que foi transposto ao mundo jurídico e se tornou um bem a ser protegido. E, pela complexidade de seu significado, a doutrina tratou de criar uma forma de se proteger não apenas o amálgama de interações e elementos, mas também cada elemento individualmente considerado. Assim, dissociou-se o meio ambiente, enquanto bem jurídico em macro e microbem ambiental.
* Macro e Micro bem ambiental
Por macrobem deve ser entendido o meio ambiente como um todo, em seu conceito mais profundo e adequado. O macrobem ambiental é, portanto, o conjunto de interações e elementos nos termos citados pelo conceito de Ávila Coimbra (EQUILÍBRIO ECOLÓGICO).
O meio ambiente em sua máxima complexidade, em sua máxima extensão; todas as formas de vida interagindo entre si e com todas suas manifestações e criações.
A proteção do macrobem se dá em nível igualmente amplo com o de sua concepção; considera-se atentatório ao macrobem toda e qualquer ação que vitima o equilíbrio ecológico e, necessariamente, danifica o meio ambiente. Logo, quaisquer ecossistemas perturbados são exemplos de atividade destrutiva do macrobem ambiental. Mais do que isso, qualquer atividade atentatória à garantia da vida humana – conforme o enfoque antropocentrista do direito brasileiro – é considerada como danosa ao macrobem, pois, em última instância, a noção de macrobem se confunde com tudo o que influencia diretamente a harmonia do meio ambiente.
Ao contrário da visão condensada que comporta a definição de macrobem ambiental, microbemambiental é todo e qualquer elemento constituinte e integrante do meio ambiente. Os microbens, ao interagirem, é que formam o meio ambiente e, consequentemente, o macrobem ambiental. Por serem individualmente considerados, muitos possuem tratamentos legislativos próprios, tornando-os verdadeiros bens ambientais individuais. 
* Aspectos do Meio Ambiente (Classificação)
Quando se fala em classificação do meio ambiente, na verdade não se quer estabelecer divisões isolantes ou estanques do meio ambiente, até porque, se assim fosse, estaríamos criando dificuldades para o tratamento da sua tutela.
Mas exatamente pelo motivo inverso, qual seja, de buscar uma maior identificação com a atividade degradante e o bem imediatamente agredido, é que podemos dizer que o meio ambiente, apresenta pelo menos 04 significativos aspectos. São eles:
1) natural;
2) cultural;
3) artificial e
4) do trabalho.
STF – ADI 3.540/DF e Resolução 306/2002 – CONAMA.
“A incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que a atividade econômica, considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que privilegia a "defesa do meio ambiente" (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral. Doutrina. Os instrumentos jurídicos de caráter legal e de natureza constitucional objetivam viabilizar a tutela efetiva do meio ambiente, para que não se alterem as propriedades e os atributos que lhe são inerentes, o que provocaria inaceitável comprometimento da saúde, segurança, cultura, trabalho e bem-estar da população, além de causar graves danos ecológicos ao patrimônio ambiental, considerado este em seu aspecto físico ou natural” (STF – ADI 3.540/DF).
Res. 306/2002 – CONAMA – Anexo I - XII - Meio ambiente: conjunto de condições, leis, influência e interações de ordem física, química, biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.
1.4.1. Meio Ambiente Natural.
Meio ambiente NATURAL: composto por todos os elementos não produzidos pelo homem, ou seja, aqueles que não dependem da atuação humana para que possam existir. São eles, dentre tantos outros, o solo, a água, o ar, a flora, a fauna. Neste tipo de meio ambiente, acontece a interação dos seres vivos dentro de um determinado ecossistema, onde há correlação recíproca entre as espécies e as relações desta com o ambiente físico que ocupam.
Talvez seja o primeiro do qual nos recordamos por sua condição primordial: a ausência de preservação ou de utilização racional dos recursos ambientais de nosso planeta pode trazer consequências catastróficas.
Cenários antes apenas imaginados em filmes futuristas de gosto duvidoso, com a Terra transformada em um imenso deserto e pessoas travando lutas mortais pelas fontes de água, agora se tornaram preocupação patente para a Organização das Nações Unidas (ONU) com a diminuição dos níveis de água potável, através da ocupação das áreas de mananciais e da poluição dos reservatórios existentes. A consciência ambiental e o controle governamental aliados ao apoio da população podem, todavia, adiar ou mesmo contornar este e outros reveses sofridos por nossos rios, matas, fauna etc.
Art. 225 da CF/88:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
1.4.2. Meio Ambiente Cultural.
Meio ambiente CULTURAL: é formado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico e turístico. Tem-se, neste caso, uma preocupação em preservar a história da humanidade. Todas as suas trajetórias, conquistas, deficiências, sucessos... todos os acertos e erros que são herdados por cada elemento humano que, inevitavelmente, refletem na economia, política e cultura de um povo.
O patrimônio cultural de um povo constitui-se em seu meio ambiente cultural e este conceito engloba, segundo definição da própria Constituição da República Federativa do Brasil, o que faz "referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: as formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; e, os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico." A preservação e valoração da cultura de um povo, implica, em última instância na preservação e valoração deste próprio povo.
Art. 215 da CF/88:
O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
§ 1º - O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.
§ 2º - A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais.
Art. 216 da CF/88:
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.
1.4.3. Meio Ambiente Artificial.
ADPF – 347 – STF – Estado de Coisas Inconstitucional
Meio ambiente ARTIFICIAL: formado pelo espaço urbano construído. Neste, sim, o homem é o “criador” de todos os elementos que se relacionam nas mais diversas situações.
 Está dividido em: 
– espaço urbano fechado : conjunto de edificações – casas, galpões, indústrias, empresas... (normalmente associados aos bens privados);
e – espaço urbano aberto: equipamentos públicos – ruas, avenidas, praças, áreas verdes... (relacionados aos bens públicos, de maneira em geral). 
No tocante ao meio ambiente artificial podemos dizer que, em se tratando das normas constitucionais de sua proteção, recebeu tratamento destacado, não só no artigo 182 e seguintes da CF, não desvinculado sua interpretação do artigo 225 deste mesmo diploma, mas também no art. 21, XX, no art. 5º, XXIII, entre outros.
Portanto, não podemos desvincular o meio ambiente artificial do conceito de direito à sadia qualidade de vida, bem como aos valores de dignidade humana e da própria vida.
Ao cuidar da política urbana, a CF/88, invariavelmente, acabou por tutelar o meio ambiente artificial. E o fez não só voltada para uma órbita nacional como também para uma órbitamunicipal. Partindo do maior para o menor temos o art. 21, inciso XX:
"Compete a União:(...)
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos".
Tal competência da União terá por fim delimitar as normas gerais e diretrizes que deverão nortear não só os parâmetros, mas principalmente os lindes constitucionais da política urbana que os Estados e Municípios deverão possuir. Neste caso diz tratar-se de uma política urbana macroregional.
Todavia, em sede municipal, temos o artigo 182 da CF, que acaba por trazer a própria função da política urbana, como se vê:
"A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público Municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em Lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes".
1.4.4. Meio Ambiente do Trabalho.
Meio ambiente do TRABALHO: integrado pelo conjunto de bens, instrumentos e meios, de natureza material e imaterial, onde o ser humano exerce suas atividades. O meio ambiente do trabalho traz como valor agregado a possibilidade de sobrevivência do homem, por ser o local onde este adquire condições pecuniárias que serão empregadas em suas atividades e necessidades diárias.
Um meio ambiente de trabalho sadio proporciona a manutenção da saúde do trabalhador, por sua vez, um meio ambiente de trabalho agressivo leva ao surgimento de doenças profissionais e consequente perda da capacidade laborativa deste trabalhador.
Art. 7º da CF/88:
“São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança”;
Art. 200 da CF/88:
“Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho”.
Meio Ambiente Digital?
Celso Antonio Pacheco Fiorillo e Carolina Ferreira Souza - O Direito à Comunicação e a Tutela do Meio Ambiente Digital.
Celso Antonio Pacheco Fiorillo e Christiany Pegorari Conte – Crimes no Meio Ambiente Digital e a Sociedade da Informação.
A cultura digital deve ser interpretada com a segura orientação dos princípios fundamentais também indicados nos artigos 1º a 4º da Constituição Federal. Dessa forma, precisamos “estabelecer a tutela jurídica das formas de expressão, dos modos de criar, fazer e viver assim como das criações científicas, artísticas e principalmente tecnológicas realizadas com a ajuda de computadores e outros componentes eletrônicos observando-se o disposto nas regras de comunicação social determinadas pela Constituição Federal” (Fiorillo).
Para Fiorillo, o meio ambiente digital, por via de conseqüência, fixa no âmbito de nosso direito positivo, os deveres, direitos, obrigações e regime de responsabilidades inerentes à manifestação de pensamento, criação, expressão e informação realizados pela pessoa humana com a ajuda de computadores, do rádio, da TV, bem como, dos demais meios de comunicação existentes no século XXI, conforme assegura a Constituição Federal nos artigos 220 e 224.

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