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NPJ II 2 Penal 2019 Defesa Preliminar Josiane Almeida

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 9ª VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS
AUTOS Nº
Josiane Almeida, já qualificada na denúncia oferecida pelo digníssimo Promotor de Justiça, por seu advogado que ao final subscreve (mandato incluso, doc. …), vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, apresentar:
DEFESA PRELIMINAR
Com fulcro no artigo 514 do Código de Processo Penal, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas. 
DOS FATOS 
A acusada Josiane Almeida, funcionária pública da Caixa Econômica Federal, localizada em Belo Horizonte/MG, teria supostamente cadastrado, sem autorização da correntista Margarida de Souza, senha bancária referente à conta de referida Cliente.
Em ato subsequente, Josiane supostamente teria requisitado cartão magnético de nº 6031029182091 e, a partir da senha, efetuado diversos saques entre julho e agosto do ano corrente.
Margarida, surpreendida com as irregularidades, compareceu a agência da Caixa Econômica Federal e requereu que a situação lhe fosse esclarecida. O diretor-geral, Sr. Valdemar instaurou processo administrativo para a apuração do ocorrido, que culminou em oferecimento de denúncia em face de Josiane Almeida pelo crime de peculato por parte do Ministério Público Federal.
DO DIREITO
Como bem passaremos a demonstrar, a denúncia deve ser rejeitada pelo Meritíssimo Juiz a quo, uma vez que não houve tipicidade nem perfeita adequação do caso concreto à descrição do delito em tela. Com efeito, o artigo 312, do Código Penal assim descreve a conduta tipificada como peculato:
“Art. 312 – Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio.”
Note-se que não configura o crime aplicado, uma vez que o agente não empregou o verbo apropriar-se. Não houve uma vontade dirigida para o plano da má-fé, conforme reconhece o TJMS, em um caso semelhante:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - UTILIZAÇÃO DE VEÍCULOS E SERVIDORES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM EVENTO PARTICULAR - ART. 10, XIII, DA LEI 8.429/9 2 - AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ - RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. A aplicação do art. 10, XIII, da Lei 8.429/92 só se justifica no caso de a órbita da improbidade ser gravemente atingida. Se os atos apontados como ímprobos, quando muito, importaram em má gestão, sem vontade dirigida para o plano da má-fé, não há justificativa para a atuação judicial.
(TJ-MS - APL: 08000 669720118120018 MS 080006 6-97.2011.8.12.0018, Relator: Des. Oswaldo Rodrigues de Melo, Data de Julgamento: 03 /12/2013, 3ª Câmara Cível, Data de Publicação: 2 0/02/2014). 
Nesse mesmo interim, sustentam o TJ-PR a atipicidade do crime quando não houve prejuízo ao erário: 
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. UTILIZAÇÃO DE VEÍCULO PÚBLICO POR PARTICULARES. CONJUNTO PROBATÓRIO QUE DEMONSTROU O PAGAMENTO DAS DESPESAS PELOS USUÁRIOS. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO AO ERÁRIO. NÃO CONFIGURAÇÃO DE ATO DE IMPROBIDADE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. Não há falar em improbidade administrativa quando não houve prejuízo ao erário, pois o conjunto probatório revelou que, embora o veículo público tenha sido utilizado para o transporte de particulares, estes efetuaram pagamento por tal utilização, arcando com as despesas dela decorrentes. 
(TJ-PR - AC: 3 218102 PR 0321810-2, Relator: Luiz Mateus de Lima, D ata de Julgamento: 15/08 /2006, 5ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 7204)
Do exposto, insta mencionar V. Eª, não haver tipicidade na conduta do acusado, uma vez que o mesmo não atuou com o necessário dolo para a configuração do delito. Portanto, restando configurada a atipicidade da conduta do Acusado, não há falar em crime.
Nessa oportunidade, faz-se mister ingressar à colocação do entendimento da súmula 330 do STJ, pela oportunidade de uma defesa preliminar pelo aludido art. 514 do CPP.
Para a caracterização do crime de peculato, exige-se a demonstração de prejuízo ou lesão ao patrimônio público, o que não ocorre no presente caso. 
Em momento algum há qualquer traço sobre algum prejuízo ao patrimônio público. Pelo contrário, a inicial traz apenas o levantamento de questões formais, sem a existência de qualquer evidência de bens ou valores públicos indevidamente usurpados, desconfigurando o crime de peculato, conforme entendimento da jurisprudência sobre o tema:
APELAÇÃO CRIMINAL. PECULATO. ABSOLVIÇÃO. Ausentes provas de desvio de bem em proveito de terceiro ou demonstração de prejuízo material para o ente público, impõe-se a absolvição . Recurso provido. (TJ-GO - APR: 04481625120118090065, Relator: DR(A). SIVAL GUERRA PIRES, Data de Julgamento: 17/01/2017, 1A CAMARA CRIMINAL, Data de Publicação: DJ 2265 de 11/05/2017) 
Por fim insta consignar que para que haja a condenação é necessária a real comprovação da autoria e da materialidade do fato, caso contrário, o fato deve ser resolvido em favor do acusado.
Cabe salientar que a condenação exige certeza absoluta, fundada em dados objetivos indiscutíveis, o que não ocorre no caso em tela. Razão pela qual, mesmo com o recebimento da denúncia, no que data máxima vênia, discordamos, não há que imputar ao acusado a conduta denunciada, levando em consideração e devido respeito ao princípio constitucional do in dubio pro reo.
Sobre o tema, o doutrinador Noberto Avena destaca:
“Apenas diante de certeza quanto à responsabilização penal do acusado pelo fato praticado é que poderá operar-se a condenação. Havendo dúvidas, resolver-se-á esta em favor do acusado. Ao dispor que o juiz absolverá o réu quando não houver provas suficientes para a condenação, o art. 386, VII, do CPP agasalha, implicitamente, tal princípio.” (Processo penal. 10ª ed. Editora Metodo, 2018. Versão ebook, 1.3.15)
Trata-se da devida materialização do princípio constitucional da presunção de inocência - art. 5º, inc. LVII da Constituição Federal, pela qual cabe ao Estado acusador apresentar prova cabal a sustentar sua denúncia, impondo-se ao magistrado fazer valer brocado outro, a saber: allegare sine probare et non allegare paria sunt – alegar e não provar é o mesmo que não alegar.
Não sendo o conjunto probatório suficiente para afastar toda e qualquer dúvida quanto à responsabilidade criminal do acusado, imperativa a sentença absolutória. A prova da autoria deve ser objetiva e livre de dúvida, pois só a certeza autoriza a condenação no juízo criminal. Não havendo provas suficientes, a absolvição do réu deve prevalecer.
DO PEDIDO
Diante do exposto, requer seja reconhecida a atipicidade da conduta e rejeitada a denúncia oferecida pelo Promotor de Justiça, com fulcro no artigo 395, inciso, III do Código de Processo Penal.
Nestes Termos,
Pede Deferimento.
Belo Horizonte, DATA.
ADVOGADO
[INSCRIÇÃO OAB]

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