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D. Riff 1 O Registro Fóssil do Brasil com Ênfase nos Invertebrados PROTEROZÓICO Grupo Corumbá O Grupo Corumbá é composto por carbonatos e rochas siliciclásticas expostas no estado do Mato Grosso do Sul. A sedimentação teve início após a última glaciação proterozóica (600 Ma), em bacia do tipo rift. Ao longo da margem teria ocorrido ressurgência marinha que propiciou a formação de rochas fosfáticas na plataforma. Em águas profundas, a leste da margem da plataforma, teriam sido depositados os turbiditos do Grupo Cuiabá. Os sedimentos foram deformados pelo Tectonismo Brasiliano, finalizado ao redor de 490 Ma, tendo sido este mais intenso na porção leste, estruturando a zona interna, e incipiente na zona externa, que também engloba a cobertura cratônica. As fácies de água profundas são formadas por lamitos, as fácies transicionais são formadas por lamitos alternados a margas e por brechas e as fácies de água rasa por calcários dolomíticos e oolíticos, lamitos e arcósios (rocha sedimentar rica em feldspato e quartzo com grãos angulosos ou subangulosos, que reflete uma rápida desintegração de rochas graníticas). Nas rochas fosfáticas de água rasa (principalmente dolomíticas) ocorrem estromatólitos. Nas fácies de água rasa ocorrem os mais antigos registros de animais no Brasil: Cloudina (C. lucianoi e C. riemkeae) e Corumbella werneri. O primeiro trata-se de um esqueleto (cones-em-cones calcários) de afinidade incerta, mas provavelmente um cnidário séssil. O segundo trata-se de um cnidário Scyphozoa (grupo que inclui as medusas). Cloudina também ocorre em outras bacias Neopaleozóicas do Brasil, como na Bacia Eleutério (SP e MS), Bacia Cajamar (SP) e Bacia Pouso Alegre (MG). Ocorrem também icnofósseis (ex: Cruziana, Bergaueria). FANEROZÓICO A história geológica do Fanerozóico brasileiro inicia-se nas grandes bacias intracratônicas (Amazonas, Solimões, Parnáiba e Paraná). Sedimentos com espessuras de até 5.000 m preservaram-se nestas bacias, que iniciaram suas histórias no Ordoviciano, com subsidência moderada no Siluriano e máxima no D. Riff 2 Devoniano. Os arcos marginais que definem os limites dessas bacias ergueram-se ente o Siluriano e o Devoniano, sendo que somente no Carbonífero seus depósitos tornaram-se individualizados, pois durante o período das grandes transgressões marinhas (Devoniano) houveram comunicações interbacinais. A partir desse período a fase de subsidência intercala-se com movimentos de elevação, de modo que a sedimentação marinha diminui gradativamente no Carbonífero-Permiano e significativamente no Mesozóico e Terciário, quando os depósitos passam a ser principalmente continentais e transgridem os limites das bacias, que perdem sua individualidade. A partir do Cretáceo, o principal cenário da sedimentação passa ser as bacias costeiras, formadas pelo tectonismo que separa o bloco brasileiro do africano. Assim, cinco foram os principais acontecimentos na história geológica do Fanerozóico brasileiro: • início das bacias intracratônicas no Ordoviciano-Siluriano; • grande transgressão marinha no Devoniano (fase talassocrática); • fim da fase transgressiva no Neopaleozóico; • aparecimento das fossas tectônicas costeiras no fim do Jurássico (fase geocráfica); • fim da individualidade das bacias intracratônicas no Cretáceo. Eopaleozóico Este intervalo de tempo é escassamente representado no Brasil, provavelmente devido ao bloco continental brasileiro estar quase totalmente emerso, havendo assim poucos depósitos marinhos. Além disso, grande parte da porção sul- americana do Gondwana situava-se no círculo polar antártico. Os registros fósseis do Fanerozóico brasileiro iniciam-se no Ordoviciano (495-440 Ma), na formação Benjamin Constant (Bacia do Solimões). Incluem palinomorfos (quitinozoários, acritarcas e esporos) e icnofósseis (Skolithos), estes atribuídos a invertebrados de infauna. Alguns autores, baseando-se em graptólitos e icnofósseis (Artrophycus), sugerem que a formação Autás Mirim (porção não-aflorante basal do Grupo Trombetas, Bacia do Amazonas) tenha idade neo-ordoviciana. D. Riff 3 O Siluriano fossilífero (440-417 Ma) no Brasil é representado principalmente pelo Grupo Trombetas (Bacia do Amazonas, com pequenas espessuras ocorrendo também da Bacia do Solimões), formação Vila Maria e arenito Eusébio Ayala (Bacia do Paraná) e formação Itaim ("Grupo" Serra Grande, Bacia do Parnaíba). O Grupo Trombetas (Formações Autás Mirim, Nhamundá, Pitinga e Manacapuru) é o mais rico testemunho da vida no Eopaleozóico do Brasil, representado o primeiro registro de uma grande trangressão marinha paleozóica no bloco brasileiro. É formado por depósitos siliciclásticos (arenitos, diamictitos, siltitos e folhelhos) depositados em mar raso, influenciado pela glaciação Ordoviciana-Siluriana, que afetou grande parte do Gondwana. Quanto aos invertebrados, a maioria provém de afloramentos da formação Pitinga (folhelhos e diamictitos marinhos, arenitos finos com siltitos intercalados e estratificação ondulada truncada) situados no município de Oriximiná (PA). Ocorrem: • espículas de esponjas Hexactinellida; • Conularia (Cnidaria); • Moluscos monoplacóforos? (Belerophon), gastrópodes, bivalves (Ctenodonta), talvez um Rostroconchia (Conocardium), cefalópodes e Tentaculites; • escolecodontes; • Ostracoda; • Eurypterida (Chelicerata: Merostomata); • Braquiópodes Articulata e Inarticulata; • prováveis equinodermas Carpoidea; • graptólitos (estes relacionados aos hemicordados Pterobranchia). • Icnofósseis (p. ex.: Artrophycus). A formação Vila Maria (argilitos compactados e folhelhos) e o Arenito Eusebio Ayala representam uma outra transgressão marinha, provavelmente relacionada com a citada acima. Nesses pacotes há registros escassos mas importantes de bivalves e braquiópodes e mais freqüentemente icnofósseis (ex: Artrophycus, Skolithos). D. Riff 4 Devoniano O período Devoniano, apesar de representado por poucos afloramentos no Brasil, é muito bem representado paleontologicamente. Tal riqueza deu-se devido às grandes transgressões marinhas ocorridas no bloco brasileiro neste período. Os mares epicontinentais estendiam-se sobre as grandes bacias sedimentares existentes: bacias amazônicas (Solimões e Amazonas), Bacia do Parnaíba e Bacia do Paraná. Há formações devonianas também nas bacias do Jatobá e Tucano e retrabalhamento de microfósseis desse período nas bacias do Araripe e do Recôncavo. Há indícios que esses mares provavelmente foram interligados entre si, pois apresentam várias espécies em comum. A seqüência sedimentar devoniana mais representativa localiza-se na Bacia do Amazonas, onde cerca de 1.300 m de espessura de arenitos, siltitos e folhelhos depositados em fase transgressiva guardam importantes registros de fósseis marinhos. Divide-se nas formações Maecuru (arenitos finos intercalados por folhelhos e siltitos com bioturbações na base e arenitos grosseiros com estratificação cruzada no topo), Ererê (folhelhos na base e arenito micáceo fino no topo) e Curuá (folhelhos negros, principal geradora de petróleo de região). Ocorrem os seguintes fósseis de invertebrados: • Cnidaria Conularia e Anthozoa (Tabulata e Rugosa); • Moluscos monoplacóforos, bivalves, gastrópodes, cefalópodes e Tentaculites; • escolecodontes; • Trilobitas (Phacopida e Ptycopariida); • Ostracoda • Equinodermas Crinoidea; • Brachiopoda Inarticulata e Articulata (destacam-se os Chonetida); • Bryozoa; • Icnofósseis. O Devoniano da Bacia do Parnaíba inclui os Grupos Serra Grande e Canindé. No primeiro, apenas a formação Itaim (arenitos finos a muito finos com estratificações cruzadas) é significativamente fossilífera. O Grupo Canindé, bem mais representativo, inclui as formações Pimenteira (folhelhos micáceos com intercalaçõesD. Riff 5 de arenitos), Cabeças (arenitos médios a grosseiros com intercalações de siltitos e folhelhos), Longá (folhelhos negros alternados com siltitos cinzas, ocorrendo também sedimentos glaciais, como varvitos) e Poti (esta do Carbonífero), formadas por sedimentos costeiros depositados num contexto trangressivo-regressivo. Ocorrem os mesmos grupos fósseis acima (exceto corais Rugosa e Tabulata), além de fragmentos de euripterídeos (formações Itaim e Pimenteiras). Destaca-se também o registro icnofossilífero da formação Pimenteiras, com diversos icnogêneros representados (ex: Arenicolites, Asteriacites, Bifungites, Cruziana, Neoskolithos, etc). Na Bacia do Paraná o Devoniano é representado pelas formações Furnas (arenitos grossos a finos, com estratificações cruzadas e onduladas) e Ponta Grossa (folhelhos argilosos e micáceos, siltitos e arenitos finos, com estratificação cruzada hummocky ocasionalmente). O conteúdo fossilífero da formação Furnas é restrito a icnofósseis e vegetais (moldes e esporângios, principalmente de Rhyniophyta). A formação Ponta Grossa, por outro lado, apresenta rico registro marinho devoniano, ocorrendo todos os grupos acima (exceto euripterídeos e corais Rugosa e Tabulata), além de equinodermos Blastoidea e Asteroidea, com um predomínio de braquiópodes (ex: Lingula, Australospirifer, Australocoelia, Orbiculoidea) e bivalves. A fauna devoniana da Bacia do Paraná possui vários elementos em comum com outras faunas devonianas gondwânicas vizinhas (Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Peru, Ilhas Malvinas e África do Sul). Essa associação, que difere das faunas devonianas de outras regiões do globo, é conhecida como malvinocáfrica e é marcada por um forte endemismo de formas de ambiente marinho raso e clima frio. Contemporâneas à fauna malvinocáfrica são a fauna renana (de ambiente costeiro) e boêmia (de mar aberto), ambas de clima tropical, ocorrendo principalmente onde hoje encontra-se a Europa Central. Nas bacias do Jatobá e Tucano (PE) ocorrem sedimentos correlacionáveis ao Grupo Serra Grande da Bacia do Parnaíba, contendo braquiópodes, bivalves e escolecodontes. D. Riff 6 Carbonífero Este período é representado por espessos depósitos, situados em sua maioria nas grandes bacias intracratônicas (Solimões, Amazonas, Paraná e Parnaíba). Diferente dos períodos anteriores, ocorre uma significativa parcela de sedimentos continentais, ainda num contexto transgressivo-regressivo. O ciclo de deposição do Neopaleozóico (Carbonífero-Permiano) é conhecido também por ciclo carbonático, diferenciando-se do ciclo clástico anterior. O Carbonífero na Bacia do Amazonas é representado pela formações Faro, Monte Alegre, Itaituba e Nova Olinda. A formação Faro, interdigitada na base com a formação Curuá, representa a fase regressiva final da seqüência devoniana- eocarbonífera. É formada por arenitos finos a grosseiros e folhelhos argilosos, ocorrendo também na Bacia do Solimões. A formação Monte Alegre marca o início de nova transgressão marinha e é formada por uma sucessão lateral de arenitos finos a médios, folhelhos e carbonatos, sendo a principal camada-reservatório de petróleo e gás da região. O conteúdo fossilífero dessa formação restringe-se a palinomorfos nas fácies carbonáticas. As formações Itaituba e Nova Olinda são constituídas principalmente por carbonatos e evaporitos, ocorrendo também arenitos finos e folhelhos. A formação Itaituba ocorre também na Bacia do Acre e a formação Nova Olinda não aflora, sendo conhecida a partir de sondagens. Ambas contam com rico conteúdo fossilífero, ocorrendo: • Porifera • Cnidaria (corais Tabulata e Rugosa); • Moluscos bivalves, gastrópodes e cefalópodes; • escolecodontes; • Trilobitas; • Ostracoda; • Bryozoa; • Brachiopoda Articulata (principalmente Productida); • Equinodermas Crinoidea e Echinoidea; • Icnofósseis (p. ex: Cruziana). D. Riff 7 Na Bacia do Parnaíba o Carbonífero é representado pelas formações Poti e Piauí. A primeira assenta-se gradacionalmente sobre a formação Longá (Devoniano) e constitui-se de arenitos finos a médios, ligeiramente conglomeráticos, com estratificação cruzada, siltitos e folhelhos com lentes de calcário e argilitos. Sua base contém bivalves (p. ex.: Edmondia), braquiópodes Lingula e equinodermas ofiuróides. Para o topo são comuns vegetais (Lycophyta e Pteridospermae), alguns preservados in situ. A formação Piauí constitui-se predominantemente por arenitos avermelhados com estratificação cruzada na base (depositados em ambiente continental - planícies de inundação) e folhelhos com lentes de sílex, arenitos avermelhados e calcários (depositados sob transgressão marinha). Ambas seqüências são fossilíferas. Na primeira ocorrem principalmente restos vegetais (Calamites e Pecopteris) e esporos. Invertebrados ocorrem na seqüência transgressiva, com moluscos monoplacóforos (Bellerophon), bivalves, gastrópodes e cefalópodes, braquiópodes e trilobitas, predominando os bivalves. O calcário Mocambo da formação Piauí compartilha várias espécies bivalves com a formação Itaituba da Bacia do Amazonas. O Carbonífero da Bacia do Paraná é representado pela parte inferior do Grupo Tubarão. É constituído por uma associação heterogênea de rochas, essencialmente clásticas, havendo carbonatos subsidiários, depositadas num contexto transgressivo- regressivo glacial. Aflora no lado oriental da Bacia do Paraná, de Mato Grosso ao Uruguai. A porção carbonífera do Grupo Tubarão inclui os seguintes subgrupos: ♣ Itararé (formações Campo do Tenente, Mafra e Rio do Sul), constituído essencialmente por arenitos, ritmitos (ex: varvito de Itu), diamictitos e folhelhos depositados em ambientes glaciais, flúvio e lacustre-glaciais, deltaico e marinho, havendo estratificações cruzadas diversas, marcas onduladas e estrias de geleiras. Ocorrem espículas de esponjas Hexactinellida, escolecodontes, bivalves, gastrópodes, braquiópodes articulados e inarticulados, ostracodes, asas de insetos (Gryloblattida), fragmentos de euripterídeos, colunas de crinóides, icnofósseis (p. ex.: Diplichnites, associado a miriápodes), além de vegetais (flora de Glossopteris). D. Riff 8 ♣ Aquidauana (formação Aquidauana), constituído predominantemente de sedimentos arenosos com matriz argilosa, calcífera ou silicosa, ricos em óxido de ferro, com diamictitos na base. O registro fóssil deste pacote é escasso, ocorrendo fragmentos de asas de insetos. Permiano Os pacotes sedimentares do Permiano e seu conteúdo fossilífero demonstram uma diminuição da influência marinha e um afastamento do bloco brasileiro do círculo polar em relação aos períodos anteriores. Ocorrem principalmente nas grandes bacias intracratônicas, além de registros menores em bacias nordestinas (Tucano, Recôncavo, Jatobá e Sergipe-Alagoas). Na Bacia do Amazonas, o Permiano é representado pela porção superior da formação Nova Olinda (ver acima) e pela formação Andirá. Esta é constituída por siltitos e folhelhos calcíferos e arenitos finos. Na Bacia do Acre ocorrem calcários conhecidos como formação Cruzeiro-Euirunepê, contendo conodontes, situados no Neopermiano. A formação Andirá representa o fim do ciclo trangressivo-regressivo na Bacia do Amazonas, sendo depositada em ambiente misto (fluvial e planície de inundação com influência marinha) e contém fósseis de ostracodes e braquiópodes, além de palinomorfos. Na Bacia do Parnaíba, a formação Pedra de Fogo e parte da formação Motuca representam a sedimentação permiana. A primeira caracteriza-se por uma sedimentação cíclica, com cada ciclo formado por arenitos, siltitos, calcários oolíticos e folhelhos, com freqüentes camadas de sílex (a "pedra de fogo" que dá nome ao rio local e indiretamente à formação), depositados num ambiente continental marinho e lagunar. A formação Motucaé formada por arenitos na base, passando a folhelhos vermelhos, anidridas e calcários e novamente arenitos, depositados em ambiente misto (continental lagunar, fluvial e marinho raso). Ocorrem bivalves e gastrópodes, além de restos vegetais abundantes (troncos de samambaias e gimnospermas), alguns estromatólitos e palinomorfos. A formação Sambaíba, formada por arenitos friáveis, encerra a sedimentação neopaleozóica na bacia sendo, contudo, afossilífera. D. Riff 9 Os remanescentes neopaleozóicos nas bacias nordestinas (formações Batinga, Acararé, Santa Brígida e Curituba) são litologicamente correlacionados às formações acima. Pobres em fósseis, são conhecidos apenas esporomorfos. Na Bacia do Paraná, o Permiano é representado pela parte superior do Grupo Tubarão (subgrupo Guatá) e pelo Grupo Passa Dois. O primeiro (formações Rio Bonito, Palermo e Tatuí) é formado por arenitos finos, siltitos e folhelhos contendo carvão (Fm. Rio Bonito- autóctone, em geral betuminoso com nódulos de pirita), calcários oolíticos e pisolíticos (especialmente na Fm. Tatuí) e nódulos de sílex (na Fm. Palermo). Sua fauna fóssil inclui bivalves em abundância (p. ex: Guiratinga, Heteropecten), gastrópodes, crustáceos Isopoda e asas de insetos, além de rica paleoflora (Fm. Rio Bonito- principalmente coníferas). Sua idade seria Mesopermiana. O Grupo Passa Dois inclui as formações Irati, Serra Alta, Estrada Nova, Corumbataí e Rio do Rastro. Ocorre interno ao grupo Tubarão na Bacia do Paraná, estando ausente em Minas gerais e Mato Grosso do Sul. Suas formações datam do Neopermiano. A formação Irati é formada por folhelhos negros, pirobetuminosos, com odor de petróleo (principalmente no Paraná), com leitos irregulares de dolomitos e calcários (São Paulo) e concreções de sílex ("bonecas"), depositados em ambiente marinho raso. Acima dos sedimentos pirobetuminosos ocorrem, em concordância, siltitos (na maior parte sem estratificação) considerados como uma fácies (Serra Alta) do Irati de Santa Catarina e Paraná e posteriormente como formação Serra Alta. De fato essas litologias estão intimamente ligadas, ocorrendo intercalações. Nos folhelhos e calcários do Irati ocorrem bivalves, braquiópodes lingulídeos, conchostráceos, ostracodes, crustáceos malacostráceos Decapoda (Pygaspsis e Clakecaris) e icnofósseis (Didymaulichnus, atribuído a gastrópodes). A formação Estrada Nova é a unidade mais espessa do Grupo Passa Dois (685 m). Predominam clásticos finos e subordinadamente calcarenitos e ritmitos (leitos alternados de siltito e arenito ou argilito) com gretas de contração. A formação Corumbataí constitui-se por siltitos e argilitos de cores diversas, intercaladas a arenitos finos e calcarenitos, leitos de sílex, shell beds e bone beds (leitos de conchas e ossos fragmentados) e ritmitos de siltito e argilito em lâminas finas (1 D. Riff 10 mm), havendo gretas de contração, marcas de onda e microestratificações cruzadas. A formação Rio do Rastro é constituída por arenitos, siltitos (com concreções calcárias e secundariamente argilitos, predominantemente vermelhos, com estratificação geralmente paralela, havendo cruzadas e ondulações. A sedimentação da formação Rio do Rastro estende-se até o Triássico. As formações Estrada Nova e Corumbataí foram depositada sob planície de marés, ocorrendo espículas de esponjas, ostracodes, bivalves (principalmente megadesmídeos) e gastrópodes, além de carófitas, lenhos e outros restos vegetais (flora de Glossopteris). A formação Rio do Rastro depositou-se em ambiente continental fluvial, ocorrendo bivalves, ostracodes e conchostráceos, além de restos da flora de Glossopteris. MESOZÓICO O Mesozóico fossilífero do Brasil é desigualmente representado. Enquanto o Cretáceo possui extensos testemunhos, principalmente nas bacias costeiras do Nordeste, originadas na separação Brasil-África, e por áreas das grande bacias intracratônicas, o Triássico e o Jurássico possuem apenas alguns registros. Isso deve-se principalmente à estabilidade tectônica que a plataforma sul-americana estava sujeita durante esses dois primeiros períodos do Mesozóico. Seguindo a tendência de continentalidade cada vez maior das bacias intracratônicas no fim do Paleozóico, o início do Mesozóico é marcado pela emersão geral do território brasileiro, no auge de coesão do supercontinente Gondwana. De fato, não existem sedimentos marinhos triássicos nem jurássicos no Brasil. Quanto ao clima, boa parte do bloco brasileiro já se situava em torno do trópico de Capricórnio, possuindo assim um clima sub-tropical-topical no início da Era. No Cretáceo o clima é tropical quente. Triássico Nas bacias do Amazonas e Parnaíba o Triássico é representado apenas por derrames basálticos, sendo que nessa última esses derrames intercalam-se a arenitos, conhecidos como formação Mosquito, afossilífera. O registro fóssil desse período está representado apenas na Bacia do Paraná, no Grupo Rosário do Sul, aflorante apenas no estado do Rio Grande do Sul. Esse pacote inclui as formações Sanga do Cabral, Santa Maria, Caturrita e o Arenito Mata. D. Riff 11 O grupo Rosário do Sul é o melhor registro do Triássico brasileiro. É formado principalmente por arenitos finos e siltitos, ocorrendo também pelitos, ruditos e folhelhos (estes na formação Santa Maria), todos caracteristicamente avermelhados e depositados em ambientes fluviais e lacustres. Ocorrem conchostráceos, ostracodes, insetos e icnofósseis (bioturbações como Skolithos e Arenicolites e marcas em ossos de vertebrados, associados à insetos necrófagos), além de plantas esfenófitas, pteridospermas, cicadófitas, ginkgófitas e coníferas (flora Dicroidium). A formação Pirambóia, também da Bacia do Paraná, têm sido considerada como do Eotriássico. Constituída por arenitos médios a finos, com estratificações paralela e cruzadas, aflora principalmente em São Paulo, Mato Grosso e Goiás. Nela ocorrem ostracodes e conchostráceos, além de troncos de coníferas. Alguns autores, entretanto, situam-na no Neopermiano. Jurássico Este período da era Mesozóica é pouco representado no Brasil. Na Bacia do Paraná restringe-se aos arenitos do paleodeserto da formação Botucatu, que contata discordantemente as formações Aquidauana, Posta Grossa, Corumbataí, Rio do Rastro e o Grupo Rosário do Sul, além de repousar diretamente sobre o embasamento cristalino em Minas Gerais. Acima, contata em não-conformidade os basaltos da formação Serra Geral, datados do Cretáceo Inferior (cerca de 133 Ma). De fato, sua posição no tempo é parcialmente baseada nessas relações de contato, de modo que sua idade não é precisa, sendo que alguns autores a consideram eocretácica. A formação Botucatu, depositada sob influência eólica, é composta predominantemente de arenitos finos, bem selecionados, portando estratificações cruzadas de grande porte, com mergulhos de até 34o. O conteúdo fossilífero restringe-se a poucos bivalves e ostracodes e abundantes icnofósseis, o que dificulta a datação. As pistas são atribuídas a insetos, além de vertebrados. Como há evidências de que o arenito já estava consolidado quando dos derrames da formação Serra Geral, um hiato considerável parece existir entre essas duas formações, o que leva muitos a considerá-lo como Jurássico. A análise icnológica postulou que a formação Botucatu, pelo menos em afloramentos do Estado de São Paulo, e D. Riff 12 particularmente na região de Araraquara, poderia ser considerada como depositada entre o Rético (Triássico Superior) e o Jurássico Médio, com grande probabilidade de encontrar-se no intervalo temporal Jurássico Inferior - seção inferior do Jurássico Médio. O arenito Botucatu estende-se por imensa área, tendo cerca de 100 m de espessura e originalmente cobria uma superfície estimada de 1.300.000 km2, constituindo o maior desertoconhecido já existente na Terra. Além disso, guarda parte do maior reservatório aqüífero do mundo, o Aqüífero Guarani. Nas bacias costeiras do Nordeste, as rochas depositadas em fase pré-rift da separação Brasil-África são consideradas como Neojurássicas (incluídas no andar Dom João). Ocorrem nas bacias da Depressão Afro-Brasileira, na bacia do Araripe, de Almada (ou Camamu-Almada) e Sergipe-Alagoas. A Depressão Afro-Brasileira é uma fossa tectônica abortada que inclui sedimentos também na bacia do Gabão (África) e divide-se nas bacias do Jatobá, Recôncavo e Tucano. As três primeiras compartilham as rochas do Grupo Brotas (formações Aliança e Sergi). Na Bacia de Almada o Neojurássico é representado apenas pela formação Sergi, em Sergipe- Alagoas pelas formações Bananeiras e Serraria e na Bacia do Araripe pelas formações Brejo Santo e Missão Velha. Todos esse pacotes constituem-se de sedimentos clásticos (arenitos, siltitos, argilitos e folhelhos), com freqüentes estratificações cruzadas e calcários ocasionais (Sergipe-Alagoas), depositados em ambientes continentais fluviais e lacustres. Ocorrem conchostráceos e ostracodes, além de freqüentes troncos de coníferas (especialmente nas formações Sergi e Missão Velha), normalmente fragmentados em grande pedaços. Na Bacia do Acre, a formação Juruá Mirim é tida como Neojurássica devido a suas relações estratigráficas. Formada por arenitos finos, siltitos e folhelhos, é conhecida apenas por sondagem e não foram encontrados fósseis, o que dificulta a datação. Cretáceo Inicial (Berriasiano-Albiano) A maior parte do Cretáceo Inferior no Brasil é registrada por sedimentos continentais (fluviais e lacustres) depositados durante os estágios pré-rift e rift da separação das placas sul-americana e africana e pela primeira fase de sedimentação D. Riff 13 marinha do proto-oceano Atlântico. Ocorrem nas bacias da Depressão Afro-Brasileira (Recôncavo, Tucano e Jatobá), nas pequenas bacias interiores do nordeste (Souza, Uiraúna-Brejo das Freiras, Cedro, Iguatú, Malhada-Vermelha, Lima Campos, Icó, Rio Nazaré, Padre Marcelo, São José do Belmonte, Lavras da Mangabeira, Pau dos Ferros e Rio do Peixe), na bacia do Araripe, nas bacias costeiras de Sergipe-Alagoas e Almada, na Bacia Sanfranciscana e em áreas das grandes bacias intracratônicas. Na Bacia do Paraná este período é marcado pelo grande vulcanismo gerador dos basaltos da formação Serra Geral. Esse vulcanismo, fruto do início da abertura do Atlântico Sul (Reativação Wealdeana, ligada a processos infracrustais de escala continental), gerou derrames basálticos datados de 133 Ma (Valanginiano). Empilham-se em até 1.500 m de espessura e cobrem a maior parte da Bacia do Paraná e áreas vizinhas, caracterizando o maior vulcanismo conhecido na história da Terra. Há derrames correspondentes nas bacias do Parnaíba (formação Sardinha), Parecis, Santos, Campos e Espírito Santo, principalmente através de diques. Na Bacia do Parnaíba o Eocretáceo é registrado também pelos arenitos, argilitos e folhelhos calcíferos e silicificados das formações Pastos Bons e Corda (fluviais- lacustres) e pelos evaporitos (ambiente transicional) das formações Codó e Grajaú (estas do final do eocretáceo). Aí ocorrem conchostráceos e ostacodes. Não há registros seguros do Cretáceo Inferior na Bacia do Amazonas, mas ocorrências de ostracodes juro-cretácicos retrabalhados em sedimentos terciários na Bacia do Acre sugere a existência de sedimentos dessa idade na região. Na Bacia Sanfranciscana ocorrem sedimentos continentais clásticos, calcários e intercalações vulcânicas. Nessa bacia, destaca-se os folhelhos e calcários da formação Aerado (membro Quiricó), com conchostráceos e ostracodes, além de coníferas e palinomorfos. A fase rift de deposição de sedimentos eocretácicos continentais nas bacias da Depressão Afro-Brasileira inclui as formações Itaparica, Candeias, Ilhas, São Sebastião e Salvador (ou Montserrat) compostas por conglomerados (Salvador), arenitos finos e folhelhos com leitos calcários. Nas bacias interiores do Nordeste, bacia do Araripe, bacia de Sergipe-Alagoas e Almada, o Eocretáceo também é representado por sedimentos clásticos (p. ex.: formações Penedo e Barra de Itiúba da Bacia Sergipe-Alagoas) e calcários continentais (ex: calcários laminados com D. Riff 14 folhelhos do membro Crato da formação Santana da Bacia do Araripe). O final do Eocretáceo (Albiano-Aptiano) é marcado por sedimentos transicionais, com influência marinha do proto-oceano Atlântico, como os membros Ipubi e Romualdo da formação Santana da Bacia do Araripe. Estes pacotes incluem grandes depósitos de gipsita com folhelhos (Ipubi) e camadas de argilito com nódulos calcários (Romualdo). Acima do membro Romualdo assentam-se os pacotes de arenitos fluviais da formação Exu, que representa a fase regressiva e final da Bacia do Araripe. Em todas essas bacias ocorrem principalmente ostracodes, conhostráceos, insetos (membro Crato), gastrópodes, bivalves e cefalópodos amonites (estes em Sergipe-Alagoas e Almada), além de palinomorfos e icnofósseis. O final do Eocretáceo, registrado principalmente por evaporitos, ocorre também nas bacias costeiras de Jequitinhonha, Espírito Santo, Campos, Pelotas e Santos. Nessas são conhecidos palinomorfos. Cretáceo Final (Cenomaniano-Maastrichtiano) Com a abertura do Atlântico no Albiano-Aptiano (fim do Eocretáco), nova transgressão propiciou a deposição de sedimentos marinhos, principalmente na faixa costeira nordeste-norte, em bacias mais antigas (como Sergipe-Alagoas, Jequitinhonha, Almada, Campos, Santos e Pelotas) e novas, como Pernambuco- Paraíba, Piauí e Ceará (as duas últimas desenvolvida inteiramente em plataforma). Além dessas, há bacias de ambientes transicionais (principalmente deltaicas), cuja influência marinha é registrada principalmente no topo da sucessão de sedimentos, como as bacias de Marajó, São Luís, Bragança-Viseu, Barreirinhas e Potiguar. Os pacotes dessas bacias incluem sedimentos clásticos (principalmente folhelhos) e calcários. Ocorrem aí espículas de esponjas, corais bivalves, gastrópodes, amonitas, ostracodes, briozoários e equinóides (principalmente nas bacias de Sergipe-Alagoas, Pernambuco-Paaríba e Potiguar), além de foraminíferos, radiolários, nanofósseis e palinomorfos. Nas bacias intracratônicas, o Neocretáceo é representado por sedimentos continentais (fluviais a lacustres). Nas bacias do Solimões e Amazonas ocorre a formação Alter do Chão (arenitos a argilas) e na bacia do Acre as formações Rio D. Riff 15 Azul e Divisor (arenitos e folhelhos, respectivamente). Na bacia do Parnaíba é representado pela formação Itapecuru, formada por arenitos com intercalações de folhelhos, que se estende pelas bacias de São Luís e Bragança-Viseu. O melhor registro do neocretáceo continental brasileiro é o Grupo Bauru da Bacia do Paraná (ou Bacia Bauru), que ocorre nos estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul, com pacotes areniticos fossilíferos em Mato Grosso a ele associados. Quase sempre superpõe-se aos basaltos da formação Serra Geral, sendo por isso também conhecido genericamente como Seqüência Suprabasáltica Neocretácea. Predominam nesse conjunto rochas siliciclásticas continentais como arenitos, siltitos, argilitos e folhelhos, exibindo calcretização em certos níveis, que se acumularam em contextos ambientais que variam de eólicos, aluviais, fluviais a lacustres. Subdivide-se nas formações Goio- Erê, Rio-Paraná, Caiuá, Santo Anastácio, Adamantina, Marília e Uberaba. No Neocretáceo das bacias intracratônicas ocorrem bivalves, gastrópodes, conchostráceos e ostracodes, além de carófitas e plantas. CENOZÓICO Terciário No Brasil, O Terciário marinho é bem documentado, principalmente pela formação Maria Farinha da Bacia Pernambuco-Paraíba(Paleoceno), pelas seqüências Eocenozóicas das bacias de Barreirinhas e Potiguar e pela formação Pirabas, entre as bacias de Marajó e Bragança-Vizeu (Mioceno). Sedimentos Eocenozóicos contendo apenas microfósseis e palinomorfos ocorrem também nas bacias costeiras de Almada, Jequitinhonha, Espírito Santo e Campos. Esses pacotes são formados principalmente por folhelhos e calcários depositados sob águas costeiras. O registro fóssil, abundante nas formações Maria Farinha e Pirabas inclui espículas de esponjas, corais, bivalves, gastrópodes, escafópodes (Pirabas), crustáceos decapoda (camarões e caranguejos), cracas, ostracodes, briozoários e equinóides, além de foraminíferos e plantas (folhas). O Terciário continental fossilífero é representado pelas bacias de Itaboraí (Paleoceno) e Resende (Mioceno-Plioceno) no Rio de Janeiro, Gandarela e Fonseca D. Riff 16 (ambas Eoceno) em Minas Gerais, Taubaté (Oligoceno) em São Paulo e pela formação Solimões da Bacia do Acre (Mioceno). Esses depósitos são formados por siltitos, argilitos e folhelhos, exceto Itaboraí, que é preenchida apenas por calcários (fitados, oolíticos e argilosos). Ocorrem gastrópodes, bivalves, ostracodes, insetos e icnofósseis, além de palinomorfos e plantas (folhas, frutos, flores e caules, principalmente em Gandarela e Fonseca). Na bacia de Resende ocorrem apenas raras folhas e pólens. Vários outros depósitos, formados por arenitos e argilas, são de idade neoterciária, entre eles o Grupo Barreiras, que se estende no litoral desde a foz do Amazonas até o Rio de Janeiro, as bacias de Volta Redonda e Guanabara, no Rio de Janeiro, bacia de São Paulo e cascalheiras depositadas ao longo da calha do Rio Paraná. Com exceção de uma área do Barreiras no município de Ouriçanguinhas (Bahia) com abundantes fósseis vegetais (folhas), esses outros depósitos são afossilíferos. Pleistoceno O Pleistoceno é representado por diversos depósitos continentais descontínuos em todo o Brasil restritos em bacias (como a Bacia de Curitiba e parte superior da Bacia de Itaboraí), como depósitos de aluvião e deltaicos (principalmente de grandes rios como o Amazonas e São Francisco) ou acúmulos em cacimbas (pequenas depressões no embasamento), caldeirões (depressões em leitos de rios) e grutas. Depósitos marinhos também são abundantes e foram formados principalmente com as oscilações do nível do mar devido às glaciações pleistocênicas. Inclui recifes, praias, restingas e dunas. Os depósitos pleistocênicos normalmente sofreram apenas eodiagênese e os restos orgânicos preservados incluem normalmente espécies viventes nas áreas circundante ou extintas apenas localmente (entre os invertebrados e plantas, exceto vertebrados).
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