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Trabalho Aline Faria Gomes dos Santos

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COLÉGIO ESTADUAL PROFESSOR PAULO STENCEL- E.F.M
A CRÍTICA SOCIAL NA MÚSICA BRASILEIRA
Aline Faria Gomes dos Santos
São Mateus do Sul- 2017
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 	 3
2. A MÚSICA BRASILEIRA E A CENSURA DA DITADURA MILITAR...	4
3. A CENSURA A CAÇA DE TODOS..................................................................5	 
4.CANÇÕES DE PROTESTO ............................................................................7
5. ESTUDO DA MÚSICA
O pequeno burguês – Martinho da Vila...............................................................8
6.O PEQUENO BURGÊS MARTINHO DA VILA...............................................10
7. CONCLUSÃO ...............................................................................................11
REFERÊNCIAS.................................................................................................12
INTRODUÇÃO
Impulsionados pelo aumento nas tarifas do transporte público, manifestantes de diversos pontos do Brasil estão se organizando em grandes protestos. Marchas tomaram as ruas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília, Curitiba, Salvador, Vitória, Maceió, Recife, Fortaleza, Belém, entre outras cidades.
No período em que o Brasil foi governado pelos militares (1964-1985), artistas deixaram na história músicas de protesto ao regime – por isso, muitos foram reprimidos e punidos. Mesmo após a ditadura, os problemas sociais e políticos do Brasil foram e continuam sendo apontados em canções de grupos como Titãs, Racionais MC’s, Dead Fish, Ratos de Porão entre tantos outros.
No período da ditadura militar no Brasil de 1964 a 1985 a arte, especialmente a música produzida no país, assumiu postura de oposição ao regime militar. Para isso, os compositores tinham de utilizar princípios e recursos linguísticos e discursivos que persuadissem o público subliminarmente, já que as manifestações explícitas eram alvos da censura. Esta pesquisa objetiva analisar o ethos discursivo dos compositores da Música Popular Brasileira nesse período histórico, identificando as marcas discursivas e as estratégias persuasivas utilizadas nas canções. 
2. A MÚSICA BRASILEIRA E A CENSURA DA DITADURA MILITAR
Quando o golpe militar foi deflagrado, em 1964, ironicamente o Brasil tinha na época, os movimentos de bases político-sociais mais organizados da sua história. Sindicatos, movimento estudantil, movimentos de trabalhadores do campo, movimentos de base dos militares de esquerda dentro das forças armadas, todos estavam engajados e articulados em entidades como a UNE (União Nacional dos Estudantes), o CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), o PUA (Pacto da Unidade e Ação), etc., que tinham grande representatividade diante dos destinos políticos da nação. 
Com a implantação da ditadura, todas essas entidades foram asfixiadas, sendo extintas ou a cair na clandestinidade. Em 1968, os estudantes continuavam a ser os maiores inimigos do regime militar. Reprimidos em suas entidades, passaram a ter voz através da música. A Música Popular Brasileira começa a atingir as grandes massas, ousando a falar o que não era permitido à nação. Diante da força dos festivais da MPB, no final da década de sessenta, o regime militar vê-se ameaçado. Movimentos como a Tropicália, com a sua irreverência mais de teor social-cultural do que político-engajado passou a incomodar os militares. A censura passou a ser a melhor forma de a ditadura combater as músicas de protesto e de cunho que pudesse extrapolar a moral da sociedade dominante e amiga do regime. Com a promulgação do AI-5, em 1968, esta censura à arte institucionalizou-se. A MPB sofreu amputações de versos em várias das suas canções, quando não eram totalmente censuradas.
Para censurar a arte e as suas vertentes, foi criada a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), por onde deveriam previamente, passar todas as canções antes de executados nos meios públicos. Esta censura prévia não obedecia a qualquer critério, os censores poderiam vetar tanto por motivos políticos, ou de proteção à moral vigente, como por simplesmente não perceberem o que o autor queria dizer com o conteúdo. A censura além de cerceadora era de uma imbecilidade jamais repetida na história cultural brasileira.
A CENSURA A CAÇA DE TODOS
A censura da ditadura militar não obedecia a nenhum critério. Qualquer ameaça não só ao regime por ela imposto ao país, como à sociedade conservadora que a ajudou a ascender ao poder e nele continuar por mais de duas décadas. Vestido de uma moral hipócrita, o regime militar barrava qualquer obra que suspeitasse ofender à moral, ou que se mostrasse obscena a essa moral. Em um mesmo contesto, tanto Chico Buarque, quanto Odair José, um cantor e compositor de sucessos popularescos, sem vínculos com qualquer militância política, ou mesmo o genial e popular Genival Lacerda, sofriam os reveses da censura. “Tanto Mar” (Chico Buarque), “Pare de Tomar a Pílula” (Odair José) e “Severina Xique Xique”, apesar de canções antagônicas, de vertentes diversas dentro da música brasileira, oscilando entre a canção política e a considerada “brega” ou “pimba”, eram consideradas pela censura um perigo latente ao regime e à moral que se construía naquela época. Em 1975, já Genival Lacerda tinha transformado a sua música “Severina Xique Xique” (Genival Lacerda – João Gonçalves) em um grande sucesso de público no nordeste brasileiro, quando foi vítima do preconceito das famílias do Ceará, que acusavam a palavra “boutique” de ter duplo sentido, ofendendo os bons costumes do lugar. Diante do protesto, o departamento regional da polícia federal do Ceará encaminhou a letra à Divisão de Censura de Brasília. Surpreendentemente, o técnico de censura de Brasília, mantém a liberação da música e afirma que a canção “é um veículo de integração da nacionalidade“. Este fato prova que a censura não vinha só do regime militar, mas da sociedade que apoiava este regime, e que muitas vezes, era mais repressiva e conservadora do que ele.
Dentro do popularesco da canção brasileira, Odair José foi um dos compositores que mais sofreu com a censura. “O Motel” (Odair José) teve só pelo seu título, o veto da censura. Revelar a intimidade de um casal naqueles preconceituosos anos setenta era inconcebível para a censura militar. Outra música de Odair José vetada pela censura foi “A Primeira Noite”, considerada inconveniente para ser consumida pelo público jovem e adolescente da época. O autor mudou o título da canção para “Noite de Desejos”, conseguindo liberá-la e gravá-la. A mais polêmica música de Odair José foi “Pare de Tomar a Pílula”, onde ele pedia para a namorada deixar de usar anticoncepcionais para que pudesse engravidá-la. Vista à ótica do tempo, a canção chega a ser ingênua, de uma simplicidade quase grotesca, absolutamente inofensiva para um público atual, mas aviltante para as velhas senhoras que em 1964, saíram às ruas de rosários nas mãos, saudando, em nome da família brasileira, os golpistas militares.
CANÇÕES DE PROTESTO
Alguns artistas usavam a própria música para protestar contra a censura. Algumas destas músicas ganharam um caráter histórico dentro do movimento da MPB. Por outro lado, algumas canções eram censuradas apenas por não condizer com os valores morais da época, como é o caso de "Como Eu Quero" de Paula Toller e Leoni, cuja personagem principal exige de seu namorado que "tire essa bermuda". Também é famoso o caso de censura à canção "Tortura de Amor" de Waldick Soriano, lançada no auge da repressão. Outro caso conhecido de censura por razões não políticas foi a imposta a Adoniran Barbosa, que compunha de acordo com o dialeto caipira, obrigado a corrigir as letras de suas canções de acordo com a Gramática, caso quisesse gravá-las. Adoniran preferiu esperar pelo fim da censura prévia para voltar a gravar.
"Apesar de Você" – Chico Buarque
"Pra Não Dizer que Não Falei das Flores" – Geraldo Vandré
"Cálice" – Chico Buarquee Gilberto Gil
"É Proibido Proibir" – Caetano Veloso
"Acorda, Amor" – Leonel Paiva e Julinho da Adelaide (Chico Buarque)
"Que as Crianças Cantem Livres" – Taiguara
"Animais Irracionais" – Dom e Ravel
''Ouro de Tolo'' – Raul Seixas
"Sociedade Alternativa" - Raul Seixas
"Como Nossos Pais" - Belchior, também interpretada por Elis Regina
"Opinião" - Zé Keti
"Arrombou o cofre" - Rita Lee
"A Primeira Noite de um Homem" - Odair José
"Bolsa de Amores" - Chico Buarque
"Tiro ao Álvaro" - Adoniran Barbosa
“O Pequeno Burguês”- Martinho da Vila
ESTUDO DA MÚSICA
O pequeno burguês – Martinho da Vila
Para muitos, “O pequeno burguês” é a maior obra-prima de Martinho da Vila, mas tratando-se da genialidade do compositor em questão, é difícil também não citar “Disritmia”, “Casa de bamba”, “Sonho de um sonho” e tantas outras verdadeiras artes que passaram pelo crivo e criação de um dos maiores gênios do samba.
Ainda que lançada em seu primeiro disco (Martinho da Vila – 1969), “O pequeno burguês” não foi o primeiro sucesso do até então apenas promissor sambista e compositor. Dois anos antes, ele concorreu pela primeira vez no III Festival da Record com a canção “Menina Moça”. Um ano depois, estourou nas rádios com a dançante “Casa de bamba”, cantada pelo amigo Jair Rodrigues no Festival do ano seguinte.
O que torna “O pequeno burguês” tão especial, entretanto, não é sucesso posterior a gravação, mas a história cantada em uma letra simples e que retrata a vida de muitos brasileiros ainda hoje.
Antes de se tornar um sambista de sucesso, Martinho da Vila serviu o Exército como sargento burocrata. Na época, todos os homens que iniciavam a vida de adulto e não tinham condições de sustentar uma família, acabavam servindo a nação, ainda que o salário recebido não fosse dos melhores. O “pequeno burguês” personagem da canção não é Martinho, mas um de seus companheiros de Infantaria, o Sargento Xavier.
Na época, um fardado que conseguisse conciliar o trabalho duro do Exército com uma graduação era raro, mas Sargento Xavier conseguiu o feito e se formou em Direito. Os companheiros de Infantaria, orgulhosos do companheiro, combinaram de irem todos juntos fardados na formatura de Xavier, afinal, a maioria não tinha dinheiro para comprar um terno. No dia da formatura, entretanto, ninguém foi convidado.
Um dia após o baile, todos os companheiros decidiram dar um “gelo” no Sargento Xavier, que ficou conhecido como o “pequeno burguês”, por não convidar os amigos pobres para sua formatura. Sem entender o que tinha acontecido, um dia Xavier se encontrou com Martinho e perguntou o motivo de todos o excluírem das conversas confraternizações. Sem chances de fugir, Martinho o contou que todos estavam ofendidos por nãoserem chamados para o baile de formatura.
Ao saber da história, Xavier, bastante surpreso, explicou que ele não tinha convidado a todos por um simples motivo: ele também não tinha ido, afinal, a faculdade era particular e ele não tinha como bancar o aluguel de um terno, preço de Buffet e tantas outras coisas. Ele ainda informou que o “canudo” com o diploma só foi retirado dias depois, na secretaria da Faculdade.
Gênio, Martinho emprestou a história do amigo e compôs “O pequeno burguês”. O causo de um Sargento que consegue se formar, mas não vai à formatura.
 “Mas burgueses são vocês, eu não passo de um pobre coitado”.
O PEQUENO BURGÊS MARTINHO DA VILA
O pequeno burguês – Martinho da Vila
Intérprete – Martinho da Vila
 Compositor – Martinho da Vila
 Ano de divulgação – 1969
 Álbum – Martinho da Vila (1969)
Mas felizmente
Eu consegui me formar
Mas da minha formatura
Não cheguei participar
Faltou dinheiro prá beca
E também pro meu anel
Nem o diretor careca
Entregou o meu papel...
O meu papel!
Meu canudo de papel
O meu papel!
Meu canudo de papel...
E depois de tantos anos
Só decepções, desenganos.
Dizem que sou um burguês
Muito privilegiado
Mas burgueses são vocês
Eu não passo
De um pobre coitado
E quem quiser ser como eu
Vai ter é que penar um bocado
Um bom bocado!
Vai penar um bom bocado
Um bom bocado!
Vai penar um bom bocado
Um bom bocado!
Vai penar um bom bocado...
Felicidade!
Passei no vestibular
Mas a faculdade
É particular
Particular!
Ela é particular
Particular!
Ela é particular...
Livros tão caros
Tanta taxa prá pagar
Meu dinheiro muito raro
Alguém teve que emprestar
O meu dinheiro
Alguém teve que emprestar
O meu dinheiro
Alguém teve que emprestar...
Morei no subúrbio
Andei de trem atrasado
Do trabalho ia prá aula
Sem jantar e bem cansado
Mas lá em casa
À meia-noite
Tinha sempre a me esperar
Um punhado de problemas
E criança prá criar...
Para criar!
Só criança prá criar
Para criar!
Só criança prá criar...
CONCLUSÃO 
A censura passou a ser a melhor forma de combater as músicas de protesto e de cunho que pudesse extrapolar a moral da sociedade dominante e amiga do regime. 
Em 1968, com o AI-5, esta censura à arte institucionalizou-se. A MPB sofreu amputações de versos em várias das suas canções, quando não eram totalmente censuradas. Para censurar a arte e as suas vertentes, foi criada a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP).
Dentro de um processo repressivo, todos os argumentos tornam-se incoerentes, a razão é substituída pela força bruta. A censura não constrói uma lógica, muitas vezes ela percorre movida pelas decisões pessoais dos censores.
 Para manter as necessidades de uma ditadura, a censura fazia parte da arma de propaganda do estado repressivo, podava a liberdade de expressão, principalmente as que feriam os princípios que justificam um governo ilegítimo, emanado da força, da opressão e da traição aos princípios da democracia.
Dessa forma, pretendemos comprovar que a construção do ethos se materializa nas escolhas linguísticas e discursivas e nas relações intertextuais e interdiscursivas utilizadas pelos compositores. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, de cunho qualitativo, que considera a realidade histórica cultural da época e trabalha com um corpus composto por vinte e três canções. No estudo, foram utilizados pressupostos teóricos, históricos, culturais e linguístico-discursivos, principalmente da Análise do Discurso Francesa de Maingueneau e Charaudeau. Conclui-se que, no período, além das estratégias referentes ao domínio artístico, os compositores utilizaram estratégias específicas para driblar a censura e preservar suas faces, construindo ethe que marcaram a memória brasileira e os tornaram reconhecidos como símbolos de resistência ao regime militar.
REFERÊNCIAS
https://prezi.com/gbj2x4o0yvvo/a-musica-brasileira-e-a-ditadura-millitar/
Música de Protesto e Ethos Discursivo no Período da Ditadura Militar. A Arte de Dizer o Proibido
Livro - Sinal Fechado: A Música Popular Brasileira sob Censura (1937-45 / 1969-78)
http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiadobrasil/a-ditadura-militar-no-brasil-atraves-musica-popular-.htm
http://www.esquinamusical.com.br/50-anos-do-golpe-e-da-ditadura-militar-16-musicas-marcantes-do-periodo/

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