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MÓDULO 5 SENTENÇA, RERCURSOS E EFEITOS DA DECRETAÇÃO DE FALÊNCIA

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20/02/2019 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
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Sentença e Recursos
8.1 Sentença decretatória
O terceiro pressuposto do estado de falência é a decretação judicial, ou seja, a
sentença que produz o concurso universal de credores. Trata-se do provimento
judicial que inaugura uma nova situação jurídica geradora de diversas
consequências de extrema gravidade em relação à pessoa, bens e contratos do
agente econômico devedor.
O processo falimentar envolve uma etapa cognitiva e uma etapa executiva
concursal. A primeira começa com o pedido de falência e termina com a
decretação desta. A mesma decisão que encerra a fase de cognição, acolhendo a
pretensão do autor, dá início à falência propriamente dita, introduzindo a execução
concursal universal.
A Lei nº 11.101/05, que é lei especial, exaure toda a disciplina do pedido e
processo de falência, e nela não se prevê a designação de audiência de
conciliação, quer dizer, não possui a fase de conciliação.
É por meio do decreto judicial que o estado fático de insolvência (em qualquer das
suas formas) ingressa no mundo jurídico. Pelas mãos da sentença decretatória, o
estado econômico de insolvência transforma-se no estado jurídico de falência. A
prolação judicial constitui nova situação jurídica.
Não se trata mais de singela conexão credor/devedor, mas de concurso creditício
sobre um patrimônio deficitário, de um novo liame jurídico a envolver credores,
empregados e o poder público.
Na medida em que produz uma nova situação jurídica (o concurso de credores, a
execução coletiva incidente sobre o patrimônio do devedor), a sentença que
decreta a falência do devedor é um provimento jurisdicional de conhecimento na
modalidade constitutiva, produtor do estado jurídico de falência.
Formalmente, são requisitos da sentença decretatória aqueles comuns a todas as
sentenças, vale dizer, os do art. 489 do estatuto instrumental civil:
•o relatório contendo os nomes das partes, uma síntese do pedido e da
contestação e o registro das principais ocorrências havidas no curso do
processo;
•os fundamentos, ou seja, a análise das questões de fato e de direito;
•o dispositivo, onde são dirimidas as questões suscitadas pelas partes, vale
dizer, a decisão propriamente dita.
Além daqueles efeitos genéricos, a sentença que decreta a falência deve conter os
elementos específicos peculiares à falência, previstos no art. 99 e seus incisos, da
LRE. Portanto, na sentença de falência, o juiz:
•descreverá em síntese o pedido;
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•procederá à identificação do empresário falido, de seus sócios e dos que
forem a esse tempo seus administradores;
•fixará o termo legal da falência, sem poder retrotraí-lo por mais de 90
(noventa) dias contados do pedido de falência, do pedido de recuperação
judicial ou do primeiro protesto por falta de pagamento, excluindo-se, para
esta finalidade, os protestos que tenham sido cancelados;
•ordenará ao falido que apresente, no prazo máximo de 5 (cinco) dias,
relação nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e
classificação dos respectivos créditos, se esta já não se encontrar nos
autos, sob pena de desobediência;
•explicitará o prazo para as habilitações de crédito;
•ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o falido;
•proibirá a prática de qualquer ato de disposição ou oneração de bens do
falido, submetendo-os preliminarmente à autorização judicial e do Comitê,
se houver, ressalvados os bens cuja venda faça parte das atividades
normais do devedor se autorizada a continuação provisória;
•determinará as diligências necessárias para salvaguardar os interesses
das partes envolvidas, podendo ordenar a prisão preventiva do falido ou de
seus administradores quando requerida com fundamento em provas da
prática de crime definidos na LRE;
•ordenará ao Registro Público de Empresas que proceda à anotação da
falência no registro do devedor, para que conste a expressão “falido”, a
data da decretação da falência e a inabilitação empresarial;
•nomeará o administrador judicial;
•determinará a expedição de ofícios aos órgãos e repartições públicas e
outras entidades para que informem a existência de bens e direitos do
falido;
•pronunciar-se-á a respeito da continuação provisória das atividades do
falido com o administrador judicial ou da lacração dos estabelecimentos da
empresa falida;
•determinará, quando entender conveniente, a convocação da assembleia
geral de credores para a constituição de Comitê de Credores, podendo
ainda autorizar a manutenção do Comitê eventualmente em funcionamento
na recuperação judicial quando da decretação da falência;
•ordenará a intimação do Ministério Público;
•determinará a comunicação por carta às Fazendas Públicas Federal e de
todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento,
para que tomem conhecimento da falência; e
•ordenará a publicação de edital contendo a íntegra da decisão que decreta
a falência e a relação de credores.
8.1.1 Termo legal
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O termo legal abrange um lapso temporal imediatamente anterior à decretação
judicial, período em que os atos praticados pelo devedor são passíveis de
ineficácia e revogabilidade, porque o estado patrimonial negativo já se
manifestava.
O juiz não poderá retrair o termo legal além de 90 (noventa) dias contados:
•do primeiro protesto por falta de pagamento; ou
•do despacho do pedido inicial de falência; ou
•do requerimento do pedido de recuperação, se caso de convolação; ou
•do requerimento de autofalência.
Se a falência for decretada com base nos atos reveladores de insolvência e não
tiver o devedor nenhum título protestado por falta de pagamento, o marco inicial
para fixação do termo legal deve ser o da data do despacho na petição inicial de
falência.
É bom distinguir o primeiro protesto por falta de pagamento e o protesto do título
que instrui a inicial, valendo o primeiro como termo a quo. São excluídos os
protestos cancelados antes da distribuição do pedido de quebra ou de recuperação
judicial.
Dentro desse lapso temporal (até 90 dias), tem o diretor do processo liquidatório
liberdade para fixar o momento em que se caracterizou a insolvência. Não pode
retrotrair o termo legal por mais de 90 (noventa) dias contados daqueles fatos já
mencionados, ou seja, pode fazê-lo até 90 (noventa) dias.
É bom advertir que não é a sentença decretatória que retrocede à data da fixação
do termo legal. É o próprio termo legal que retroage, ex-vi legis.
A instituição do termo legal visa propiciar a revogação dos atos nocivos aos
interesses dos credores, fraudulentos por presunção legal, tenha ou não havido a
má-fé.
Aliás, todo o escopo da disciplinação do processo de execução coletiva objetiva
maximizar a equiparação dos credores, para que eventuais manobras do devedor
não venham beneficiar uns em detrimento de outros.
Se, na vigência da LFC, facultava-se ao juiz a retificação do termo legal de
falência, a LRE não contempla expressamente essa possibilidade, mas, observado
o prazo máximo de 90 (noventa) dias, nada impede a alteração que objetive
definir melhor o início da crise econômico-financeira do devedor.
8.1.2 Nomeação do administrador judicial
Na sentença decretatória, o juiz deve nomear o administrador judicial. O
administrador judicial da massa falida não é um representante dos credores, mas,
isto sim, um auxiliar do juízo. Não patrocina os direitos dos credores nem os do
devedor; garante a integridade do ativo liquidando esua distribuição equitativa
aos credores.
A LRE não exige que a escolha do administrador judicial da massa deva recair, de
preferência, sobre o credor entre os maiores do devedor, com domicílio ou
residência no foro da liquidação, de idoneidade moral e financeira reconhecida.
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8.1.3 Convocação de assembleia e constituição de Comitê
Como ocorre na recuperação, também aqui o juiz pode convocar assembleia geral
de credores para deliberar sobre incidentes do processo falimentar, sobretudo a
respeito da forma de realização do ativo.
O aviso da convocação de assembleia, pelo juiz, deverá ser publicado no órgão
oficial com prévia antecedência (15 dias), ou, em segunda convocação, mediante
anúncio com antecedência mínima de 5 (cinco) dias.
Mesmo que na sentença o juiz não convoque assembleia de credores, esta poderá
se instalar mediante provocação de credores que representem no mínimo 25% do
valor total dos créditos de uma determinada classe.
A assembleia é presidida pelo administrador judicial, permitindo-se a
representação de qualquer credor por mandatário ou representante legal.
Conforme a LRE, o voto do credor é proporcional ao valor de seu crédito, o que
não significa devam ser prejudicados, por tratamento desfavorável, os credores
minoritários.
Na falência, incumbe à assembleia geral de credores o exame de qualquer matéria
que possa afetar o interesse dos credores. Por isso, é sua atribuição a constituição
do Comitê de Credores, a escolha de seus membros e sua even tual substituição.
Não menos relevante é a possibilidade que lhe confere a LRE de adotar
modalidades alternativas de realização do ativo.
No mesmo despacho que designa o administrador judicial, o juiz pode convocar a
assembleia geral de credores para constituir o Comitê.
Dois são os critérios alternativos que devem presidir a opção judicial pela
constituição do Comitê:
•o grau de complexidade da execução concursal; ou
•o porte econômico financeiro da empresa falida.
O Comitê tem, na falência, função eminentemente fiscalizatória, seja da
administração judicial, seja da alienação de bens, seja de atos de endividamento
necessário da massa. Compete-lhe:
•fiscalizar as atividades e examinar as contas do administrador judicial;
•zelar pelo bom andamento do processo e pelo cumprimento da lei;
•representar ao juiz sobre violação de direitos ou ocorrência de prejuízo
aos interesses dos credores;
•apurar e emitir parecer sobre quaisquer reclamações; e
•requerer ao juiz, quando necessário, a convocação da assembleia geral de
credores.
Na medida em que as atribuições do comitê são muito mais próprias da
recuperação do que da falência, sua constituição só se justifica, s. m. j., nos casos
em que o administrador judicial não tenha condições de, solitariamente,
desempenhar suas funções legais. Até porque, se o juiz convocar a assembleia
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geral de credores, esta poderá indicar representantes para fiscalizar e
acompanhar os atos de administração da massa.
8.1.4 Publicidade da decretação
A preocupação com a publicidade da decretação deve ser compreendida à luz do
caráter universal do juízo da falência.
A LRE prevê a possibilidade de lacração do estabelecimento do devedor. A medida
de lacrar o estabelecimento nada mais é que o resquício dos tempos em que a
liquidação tinha caráter infamante; serve como cientificação ao próprio devedor e
a qualquer do povo de que, daquele momento em diante, os bens do devedor
estão sob a administração jurisdicional. A lacração é recomendada para obviar
riscos à execução da arrecadação ou nos casos da transferência ou arrendamento
da empresa para sociedade de empregados. Visa à preservação dos bens da
massa.
São previstas diversas comunicações que deverão ser providenciadas pelo
escrivão sempre com o intuito de tornar notória a quebra do devedor empresário
e evitar que terceiros incautos possam sofrer prejuízos pela incidência da
liquidação. O dispositivo fala em expedição de ofícios aos órgãos e repartições
públicas e, bem assim, demais entidades, mas não esclarece quais sejam.
Receberão a comunicação, necessariamente, a Junta Comercial ou o Registro Civil
de Pessoas Jurídicas e a Comissão de Valores Mobiliários.
O escrivão cuida da publicação da sentença decretatória e da relação de credores.
Como a relação de credores pode não vir com a sentença, o que aliás é a maioria
dos casos, entende-se que podem haver duas publicações distintas, sempre
contendo a epígrafe “falência de...”.
8.2 Denegação do pedido de falência
Se no processo cognitivo não restar provada, extreme de dúvidas, a
impontualidade pelo devedor ou a prática dos atos sintomáticos de insolvência, o
juiz não poderá decretar a falência, devendo denegar o pedido formulado pelo
credor.
A sentença denegatória resultará assim da improcedência do pedido de falência,
produzindo os seguintes efeitos:
•a condenação do requerente que laborou com dolo à indenização de
perdas e danos;
•a revogação das medidas cautelares eventualmente adotadas.
A decisão denegatória não impede novo pedido de falência, pelo mesmo credor,
desde que com diversa causa de pedir. De outro lado, referida decisão não impede
pedido de falência oriundo de outros credores.
Outro efeito da sentença denegatória pertine com a condenação em honorários
advocatícios. Denegada a falência, pela procedência da defesa do requerido, é
cabível a condenação do requerente ao pagamento de honorários advocatícios,
uma vez que vige na espécie o princípio geral da sucumbência regulado no
CPC/2015 (arts. 84 e 85), diploma aplicável subsidiariamente à LRE.
Elidido o pedido de falência, pelo tempestivo depósito da importância reclamada,
cujo levantamento é deferido ao requerente, também é cabível a condenação do
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requerido ao pagamento de honorários advocatícios. O devedor, à evidência
sucumbiu, devendo responder pela honorária. Afinal, o devedor levou o credor a
postular, juridicamente, seu crédito. Adotar-se outro entendimento seria obrigar o
credor a sofrer injusto empobrecimento, visto que deve pagar o seu advogado.
No caso de denegação do pedido de falência, uma vez apurada culpa ou dolo do
autor da falência, transitada em julgado a sentença, é lícito ao devedor acionado
indevidamente haver perdas e danos.
Patenteado o dolo, a indenização será fixada na própria decisão denegatória, mas,
em se tratando de culpa, a indenização haverá de ser postulada em ação própria.
Importante notar é que a indenização não decorre necessariamente da simples
denegação, mas da culpa do autor.
O valor da indenização será obtido mediante a aplicação da correção monetária
sobre o valor do pedido de falência. A liquidação observará o disposto no art. 509
do CPC/2015, levando-se em conta que, se a litigância de má-fé se verificar em
segundo grau, na reforma da sentença decretatória, a indenização incluirá as
despesas com a administração da massa.
O agente econômico réu, na ação de falência denegada, não depende de
declaração judicial da ocorrência de culpa do requerente para ajuizar a ação
ressarcitória, onde poderá alegá-la e demonstrá-la.
Resumindo, no caso de dolo do autor, a própria sentença que denega a quebra
pode condená-lo a indenizar o devedor, apurando-se perdas e danos em liquidação
de sentença. Já, tratando-se de culpa ou abuso, comprovado do autor, a
indenização deve ser perseguida pelo prejudicado mediante a dedução de ação
própria. Se a falência foi requeridapor mais de uma pessoa apresenta-se a
solidariedade dos autores. Significa dizer que os litisconsortes ativos respondem
solidariamente pelo requerimento doloso de falência, por força da própria
sentença que indeferir pedido e reconhecer que foi formulado, estando cientes os
autores da solvência do devedor. É o que resulta do art. 101 e seus parágrafos.
8.3 Recursos
É evidente que a sentença decretatória de falência causa gravame e, assim, pode
ser objeto de recurso.
Contra sentença que decreta falência poderá ser interposto o agravo de
instrumento.
Nos processos falimentares iniciados anteriormente à vigência da LRE, ainda
aplicam-se as normas do Decreto-lei nº 7.661/45 (LFC). Isso quer dizer que
nesses feitos permanece a multiplicidade de recursos (agravo, embargos e
apelação) para os casos de falência decretada com base na impontualidade.
A sentença que decreta a falência, longe de terminar o processo, inaugura a
falência propriamente dita. É decisão interlocutória especial porque,
simplesmente, se interlocuta entre a cognição e a execução.
O recurso de agravo poderá também ser interposto pelo próprio credor insatisfeito
com cominações acessórias (v. g., fixação do termo legal).
Nada menciona a LRE quanto ao termo a quo do prazo recursal. Todavia, o prazo
de interposição de agravo deve ser contado do dia em que publicada a sentença
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no órgão oficial. Se várias as publicações, o prazo conta-se da primeira.
Nos termos do CPC/2015 aplicável subsidiariamente, o agravo será interposto
diretamente no 2º grau de jurisdição (art. 1.016). Reconsiderada a decisão,
assistirá ao credor o recurso de apelação, uma vez que a reforma da sentença
decretatória implicará a denegação do pedido.
É certo que, na pendência do agravo de instrumento (que, em regra, não tem
efeito suspensivo), o administrador judicial poderá proceder à liquidação do ativo.
O recurso de agravo é interposto mediante protocolo da petição, razões e
documentos no tribunal competente. A petição também pode ser protocolada na
própria comarca ou postada no correio com aviso de recebimento. Onde houver, a
parte poderá recorrer por meio do chamado protocolo integrado. A interposição
mediante transmissão por fax ou outro meio similar, desde que indicado na lei.
O art. 1.016 do CPC/2015 aponta os requisitos da petição de agravo de
instrumento, que são os nomes das partes, a exposição do fato e do direito; as
razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão e o próprio pedido; e o
nome e endereço completo dos advogados do recorrente.
Também é pressuposto de admissibilidade do agravo de instrumento a juntada
pelo agravante, não sendo eletrônicos os atos, no prazo de 3 (três) dias da
interposição do recurso, nos autos do processo de falência, de cópia da petição do
agravo e do comprovante de sua interposição (protocolo ou recibo do correio) e da
relação dos documentos que instruíram o recurso.
No tribunal, o relator poderá indeferir liminarmente o agravo se o recurso for
inadmissível, improcedente ou confrontar súmula ou jurisprudência dominante de
tribunais superiores. Conforme o CPC, poderá requisitar informações ao juiz da
causa, atribuir efeito suspensivo ao recurso ou ainda, deferir em antecipação de
tutela, total ou parcialmente a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua
decisão. Obrigatoriamente, mandará intimar o agravado para responder e o
Ministério Público.
Contra decisão do relator caberá agravo interno para o respectivo órgão colegiado,
observado o procedimento do art. 1.021, do CPC/2015.
Juntada aos autos do processo falitário a cópia da petição do agravo e o
comprovante de seu ajuizamento, o juiz poderá retratar-se, quer dizer, modificar
total ou parcialmente a sentença de falência. Nesse caso, comunicada a retratação
ao tribunal, o recurso ficará prejudicado na parte em que foi modificada a
sentença de quebra.
A execução do acórdão proferido no recurso de agravo de instrumento pode ser
feita por meio de certidão do julgado ou comunicação do resultado pelo tribunal.
Da sentença denegatória de falência, o recurso cabível é o de apelação. Aqui, ao
contrário da sentença decretatória, a decisão que indefere a postulação de quebra
define o processo. Este só poderá prosseguir se, em segundo grau, ocorrer a
reforma da decisão recorrida.
Se provido o inconformismo o Tribunal reformará a sentença negativa e decretará
a falência, incumbindo ao juízo natural de 1º grau as providências para
regularização da nova situação jurídica.
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8.4 Revogação da falência
A sentença que decreta a falência pode ser reformada se o agravo do falido for
provido, pela instância superior. Também poderá ser rescindida.
Com a reforma ou rescisão, conforme o caso, da sentença que decretou a falência,
a decorrente restauração da situação anterior não poderá prejudicar terceiros de
boa-fé nem os direitos de credores que eventualmente foram pagos. Se
receberam legitimamente, não necessitam restituir os valores hauridos.
Enfim, a publicidade da decisão que revoga a falência correrá às expensas daquele
que a requereu.
Efeitos da Decretação de Falência
9.1 Efeitos da sentença
Na medida em que a falência constitui um novo estado jurídico, produz efeitos
diversificados sobre o devedor e seus credores. A projeção da sentença
decretatória sobre a pessoa, os bens e os contratos celebrados pelo devedor,
envolve uma série de percalços e soluções, que será detalhada no
desenvolvimento deste capítulo. Tanto no âmbito processual como na órbita
material, os maiores problemas práticos da quebra concentram-se no campo
ocupado pelos seus efeitos.
Resumidamente, os efeitos da sentença positiva de falência são:
•formação da massa falida subjetiva;
•suspensão das ações individuais;
•suspensão condicional da fluência de juros;
•exigibilidade antecipada dos créditos contra o devedor, sócios
ilimitadamente responsáveis e administradores solidários;
•suspensão da prescrição;
•arrecadação dos bens do devedor.
9.1.1 Formação da massa falida subjetiva
A expressão massa falida comporta duas acepções: subjetiva, quando designativa
dos credores; objetiva, quando pertinente ao patrimônio colocado sob regime
falimentar.
Com a decretação da quebra nasce a massa de credores (corpus creditorum). Seu
objetivo é concorrer ao ativo do devedor, pelo montante de seus haveres. Rea -
lizado o ativo, irão partilhar o seu produto, equitativamente, conforme a
classificação de seus créditos.
Em outras palavras, a massa falida subjetiva concorre sobre os bens que estão a
cargo da massa falida objetiva. A massa falida não tem bens, uma vez que estes
pertencem ao devedor, de cuja posse e administração é privado em decorrência da
sentença falencial.
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Como eventual precipitação de credores vorazes sobre os bens arrecadados
colocaria a perder a finalidade precípua do processo falimentar, a concorrência dos
credores deve observar alguns princípios operativos e outros ideológicos:
•preservação e otimização da utilidade produtiva do ativo da empresa;
•economia processual;
•celeridade processual;
•universalidade do concurso; e
•proporcionalidade de tratamento dos credores.
Sobre o caráter universal do concurso de credores, ainda é bom acrescentar que a
decretação da falência sujeita a todos os credores e que o exercício de seus
direitos deverá circunscrever-se à forma estabelecida na LRE.
A LRE cria dois órgãos representativos de interessese direitos dos credores: a
assembleia geral de credores e o Comitê de Credores. Na verdade, esses dois
colegiados se confundem no contexto do diploma legal. Por exemplo, compete ao
Comitê de Credores requerer ao juiz a convocação da assembleia geral de
credores. Contudo, compete à assembleia geral de credores a constituição do
Comitê de Credores, a escolha de seus membros e sua substituição. Assim, a
assembleia geral de credores constitui o Comitê de Credores, e este requer ao juiz
a convocação da assembleia sempre que necessário.
Também, é atribuição do Comitê de Credores representar ao juiz caso constate
violação dos direitos ou prejuízo aos interesses dos credores. Já é atribuição da
assembleia geral de credores qualquer matéria que possa afetar os interesses dos
credores.
Ao Comitê de Credores incumbe fiscalizar as atividades e examinar as contas do
administrador judicial, mas é a assembleia geral de credores que delibera sobre a
substituição do administrador judicial.
A LRE chega a dizer que o Comitê de Credores tem atribuição de zelar pelo bom
andamento do processo e pelo cumprimento da lei. Só não diz que osmembros do
Comitê seguramente cumprirão esse encargo, desde que no interesse de seus
créditos.
Anote-se também que tendo em vista a aplicação subsidiária do CPC e uma vez
que a LRE não tem um capítulo relacionando os direitos dos credores, estes
ostentam todos os direitos processuais inerentes às partes.
Não é todo e qualquer crédito que poderá concorrer na fase executória da
falência.
Não podem ser reclamadas:
•as obrigações a título gratuito;
•as despesas que credores individualmente fizerem para tomar parte na
falência, salvo custas judiciais, em litígio com a massa.
Realmente, o patrimônio do devedor, garantia comum dos credores, não poderia
vincular-se a obrigações não onerosas (a doação, por exemplo), assente que a
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falência não comporta a reclamação de créditos não econômicos. Nem teria
sentido que atos liberatórios fossem equiparados a obrigações assumidas a título
oneroso.
Convém anotar que a prática de atos a título gratuito, no biênio imediatamente
anterior à sentença decretatória, é considerada ineficaz em relação à massa.
A proibição não tem atinência com o crédito oriundo de doação remuneratória, já
que este significa singelo pagamento de dívida com origem legítima. Consoante o
art. 540 do CC, o que exceder o valor dos serviços remunerados é considerado
liberalidade, cingindo-se a esse valor a vedação legal.
No caso do empresário individual, as prestações alimentícias. Sobre as prestações
alimentícias, basta recordar que decorrem de obrigações personalíssimas, atadas
ao status familiae, sem qualquer ponto de contato com o patrimônio do devedor,
como garantia dos credores. A expressão prestações alimentícias abrange os
alimentos derivados do parentesco, assim também os devidos ao cônjuge, em
virtude da separação judicial.
Note-se que liquidado o devedor, claro que estará desobrigado de prestar
alimentos. Não terá como fazê-lo. Sobrevindo mudança na sua situação
econômica, poderá postular sua redução ou, até mesmo, exoneração. E, nessa
hipótese, não há como negar que os efeitos da falência acabam por ultrapassar a
pessoa do falido, se empresário individual, alcançando por extensão o cônjuge
separado e filhos dependentes de alimentos.
Não podem, outrossim, ser reclamadas da massa as despesas atinentes à
habilitação dos credores, salvo as custas judiciais em litígios travados com a
massa. Custas judiciais e honorários advocatícios não são créditos concursais. É
intuitivo que a massa responderá por eles nos próprios processos em que
sucumbir.
Todavia, o credor que pede a falência do devedor comerciante tem o direito a
receber as despesas do ajuizamento da respectiva ação.
No regime instaurado pela LRE, as penas administrativas, inclusive as multas
tributárias, constituem créditos quirografários.
Por outro lado, as despesas do processo de restituição, não contestada a
reclamação, serão pagas pelo reclamante; se contestada, pelo vencido.
Não são devidos pela massa honorários de advogado do credor que o habilitou,
mas é óbvio que a massa deve honorários decorrentes de disputas judiciais em
que restou vencida.
9.1.2 Suspensão das ações individuais
Se a falência envolve a coletividade dos bens do devedor; se, conforme a lei,
todos os credores (salvo as exceções legalmente preestabelecidas) devem
concorrer no juízo infracionável e universal; se a falência visa assegurar a par
conditio creditorum – é natural que sejam suspensas as ações singulares contra o
devedor.
Ao final do processo, remanescendo saldo, o credor poderá executá-lo,
constituindo título hábil para tanto certidão onde conste a quantia por que foi
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admitido, por que causa, quanto pagou a massa em rateio e quanto tem a receber
do agente econômico liquidado.
Claro que em caso de superveniente sentença revocatória da falência as ações e
execuções suspensas poderão ser retomadas.
Cumpre recordar que nem todas as ações iniciadas antes da falência se
suspendem, tendo prosseguimento com o administrador judicial, que representa a
massa, aquelas ações e execuções por créditos não sujeitos a rateio (reclamações
trabalhistas, execuções fiscais, v. g.), as ações que dizem respeito a obrigações
personalíssimas e as que demandarem quantia ilíquida.
Nesses casos, a lei exige que o autor noticie sua situação ao juízo universal sob
pena de nulidade dos atos processuais seguintes à decretação da falência.
Todavia, também lhe assegura o direito de pedir reserva das importâncias que lhe
forem devidas na falência. Só quando tornado líquido seu direito poderá ser
inserido no quadro de créditos, na classe própria.
As execuções fiscais não ficam suspensas pela decretação da falência. Se
ajuizadas antes da quebra, com penhora realizada antes desta, não ficam os bens
penhorados sujeitos à arrecadação falencial, faz-se a penhora no rosto dos autos
deste, com citação do administrador judicial da massa.
Na execução, tratando-se de bens já arrematados, não há o que suspender. Esses
bens já não integram o patrimônio do agente econômico devedor. Para a massa
somente virá eventual sobra verificada após a satisfação do exequente.
Sobre as ações de busca e apreensão de bem alienado fiduciariamente em
garantia, a decretação da falência não impede seu prosseguimento com a ação de
depósito, desnecessário o pedido de restituição em face da massa.
Naqueles processos, tanto o devedor como qualquer credor podem integrar a lide
na condição de assistentes.
Quanto às execuções hipotecárias aforadas contra o liquidado, antes da sentença,
se garantidas por bens de terceiros, prosseguem com o administrador judicial, no
juízo onde ajuizadas, na medida em que os bens de terceiros dados em garantia
do débito do liquidado não pertencem à massa e, por isso, não se sujeitam a
rateio.
Por outro lado, se o bem dado em garantia pertence ao devedor, incide a força
atrativa do juízo falencial.
Se, na execução hipotecária, os bens ainda não estão em situação de praça com
data para arrematação, sobrevindo a falência, o juiz daquela deve enviar os autos
ao juízo desta.
Em face da Lei nº 3.726/60 e do CTN (art. 186), os créditos hipotecários e
pignoratícios passaram a ser sujeitos a rateio no juízo universal e indivisível da
falência. E pela LRE, situam-se em condição superior aos créditos tributários.
Realmente, os créditos derivados de relações de trabalho e os provenientes de
acidentes de trabalho têm preferência sobre os créditos garantidos com direitos
reais. Não teriasentido prosseguir-se na execução para privilegiar o credor com
garantia real, em detrimento de créditos mais meritórios.
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No tocante às ações de natureza trabalhista, serão processadas perante o juízo
especializado até a apuração do respectivo crédito, representada a massa falida
pelo administrador judicial. O devedor, se quiser, poderá assistir.
Para encerrar esse segmento, vale lembrar que a decretação da falência suspende
o exercício do direito de retenção sobre os bens sujeitos à arrecadação, pelo
administrador judicial. O titular desse direito deve habilitar-se para recepção de
seu crédito, conforme a classificação que lhe cabe.
9.1.3 Suspensão condicional da fluência de juros
Da sentença decretatória decorre, ainda, a suspensão da fluência de juros, visto
que há uma presunção legal, de caráter relativo, de que o ativo é insuficiente
para o pagamento deles. Isto significa que os juros que não correm contra a
massa são os posteriores à decretação da quebra.
Os já vencidos à época da sentença integram o crédito e podem ser reclamados.
Tal é o exemplo do crédito com garantia real que tem direito aos juros e à
correção monetária pactuados até a data da sentença de falência.
Todavia, a LRE deixa claro que a suspensão de juros ocorre “se o ativo apurado
não bastar para o pagamento dos créditos subordinados”. Logo, se o produto
haurido na venda dos bens da massa comportar, após o pagamento do débito
quirografário, serão pagos os juros pactuados e os juros legais.
Assim, a suspensão da fluência de juros depende de uma condição, isto é, da
impotência do produto obtido na realização do ativo.
São excluídos da regra os juros atinentes às debêntures e aos créditos com
garantia real. Estes, na conformidade da lei, serão satisfeitos pelo produto dos
bens dados em garantia.
9.1.4 Exigibilidade antecipada dos créditos
Nos casos de insolvência do devedor, os débitos têm sua exigibilidade antecipada.
É assim no Direito Comercial e no Direito Civil. No primeiro, a dívida considera-se
vencida se o devedor incidir em falência; no segundo, ao credor assistirá o direito
de cobrar a dívida antes de vencido o prazo pactuado se, executado o devedor, se
abrir concurso creditório.
Nos termos do art. 333, inciso I do CC, o credor tem o direito de cobrar a dívida
antes de vencido o prazo contratual ou legal no caso de falência do devedor. E,
pelo art. 1.425, inciso II, do CC, a dívida considera-se vencida se o devedor cair
em insolvência ou falir.
Por isso, imediatamente após a instauração da nova situação jurídica, todos os
credores (mesmo por créditos ainda não exigíveis), podem exercer a defesa dos
seus direitos. É imposição decorrente da par conditio creditorum.
Entretanto, o fato de a dívida se tornar exigível não enseja ao credor o direito de
pleiteá-lo singularmente. Precisa observar as regras do processo falimentar,
efetivando-se no instante aprazado, conforme a classificação dos créditos
habilitados. O que os credores têm, em verdade, é o direito ao rateio que lhes
tocar na liquidação do ativo do patrimônio do devedor.
A LRE insere os credores num quadro paritário, pois afasta as vantagens que
poderiam ter, com a antecipação do vencimento, os portadores de títulos ainda
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não exigíveis por ocasião da abertura da falência.
A sentença que decreta a falência determina o vencimento antecipado das
obrigações do devedor e dos sócios ilimitada e solidariamente responsáveis, com o
abatimento proporcional dos juros. Estabelece a conversão de todos os créditos
em moeda estrangeira para moeda nacional, pelo câmbio do dia da decisão
judicial.
Estão alheias à regra do vencimento antecipado as obrigações subordinadas à
condição suspensiva, deferido o seu pagamento até que a condição se verifique,
quando então passam a vigorar os efeitos da obrigação.
As cláusulas penais ou multas dos contratos unilaterais não serão atendidas se as
obrigações que eles encerram se vencerem em razão da sentença decretatória de
falência. É natural que assim seja tendo em vista o caráter de estipulação
acessória das cláusulas penais, tendentes a reforçar o cumprimento da obrigação.
Por outro lado, tratando-se de obrigações não solvidas, nada obsta que se postule
seu efeito ressarcitório, posto que infringida a obrigação.
A LRE determina, ainda, o abatimento dos juros legais ou da taxa pactuada, da
importância do crédito concorrente, antecipadamente exigível em razão da
inauguração do estado falimentar. Para o cálculo do aludido abatimento há que se
ter em conta a previsão ou não de juros no negócio contratado e o lapso temporal
restante para o vencimento normal do crédito. Nem poderia ser de outra forma
porque, no caso, não há motivo para se reclamarem juros.
O vencimento antecipado da dívida de um dos devedores solidários só se verifica
em relação à sua dívida, não se reputando vencido em relação aos demais
coobrigados.
É a regra do art. 333, parágrafo único do CC, onde se lê que ao credor assistirá o
direito de cobrar a dívida antes do vencimento no caso de falência do devedor,
mas se houver no débito solidariedade passiva não se reputará vencida a dívida
quanto aos outros devedores solventes.
Liquidado um dos coobrigados a massa deverá pagar a totalidade do crédito. O
credor, em caso de falência simultânea ou sucessiva de devedores solidários,
concorrerá pelo valor total do crédito nas massas respectivas, até ser
completamente pago, observando-se o controle pelos administradores judiciais
quanto aos rateios distribuídos.
Claro que o credor que, logrando receber o valor do seu crédito de coobrigado
solvente, não comunica o recebimento ao juízo falimentar, sujeita-se a restituir
em dobro o que recebeu, além de responder por perdas e danos.
Integralmente pago o credor, a massa que o pagou terá o direito ao regresso
contra as demais, observando-se a proporcionalidade dos valores pagos por cada
uma. É exceção à regra geral, segundo a qual as massas dos coobrigados em
liquidação judicial não têm ação regressiva umas contra as outras.
Os codevedores solventes e os fiadores do devedor e do sócio solidário da
sociedade falida habilitar-se-ão na massa pelos valores que pagaram.
9.1.5 Suspensão da prescrição
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Durante o processo de falência fica suspenso o curso da prescrição relativa a
obrigações de responsabilidade do devedor.
Com o encerramento do processo falencial, os credores recuperam o direito de
executar o devedor ou, no caso das sociedades, os sócios de responsabilidade
solidária, pelos saldos dos seus créditos.
Registre-se que, com o trânsito em julgado da sentença de encerramento, voltará
a fluir o prazo prescricional das obrigações do devedor, antes suspenso pela
decretação da falência.
Trata-se na espécie de suspensão e não de interrupção. Com efeito, a prescrição
relativa às obrigações do devedor recomeça a correr a partir da data em que
transitar em julgado a sentença de encerramento da falência. Se recomeça é
porque foi suspenso e não interrompido. O tempo anteriormente transcorrido
entra na contagem da prescrição. É o caso pois de paralisação do curso
prescricional, que recomeça a fluir quando cessado o impedimento legal.
A suspensão diz respeito, apenas, ao falido e não às obrigações de terceiro para
com o falido ou a massa. Não se suspende a prescrição das obrigações em que o
falido é credor.
Aqui é necessário deixar claro que a decadência não sofre os efeitos da falência.
9.1.6Arrecadação dos bens do devedor
Outro efeito da sentença de falência é a arrecadação do ativo do devedor. O
devedor perde a disponibilidade e a gestão dos seus bens, inclusive de direitos e
ações. Não se trata de expropriação, mas de perda da administração e da
disponibilidade. O falido não perde a propriedade dos bens, exclusivamente
porque se todos os credores forem pagos, terá direito à sobra, se houver. Só por
isso. De fato, seu direito de propriedade esvazia-se.
Com o desapossamento, o devedor não pode assumir novas obrigações, nem por
qualquer modo piorar a conjuntura patrimonial existente no momento da
decretação da falência.
Com a arrecadação do patrimônio do devedor, nasce a massa falida objetiva.
Constitui, então, um patrimônio afetado por sua destinação no regime legal de
falência. A massa falida objetiva é o próprio ativo do devedor sob a gestão do
administrador judicial.
Entenda-se por bens todo o ativo do devedor, ou seja, tudo o que consistir em
valor econômico.
Não são arrecadados os bens impenhoráveis (art. 833 e incisos do CPC/2015), por
exemplo, os bens inalienáveis, as pensões ou montepios hauridos dos cofres
públicos, o seguro de vida, utensílios indispensáveis ao trabalho profissional etc.
Também o imóvel residencial próprio do casal ou entidade familiar, conforme o
que dispõem o art. 70 do CC e o art. 1º da Lei nº 8.009/90.
Em outras palavras, no caso do empresário individual, os bens são atingidos pelos
efeitos da falência. Contudo, em seu patrimônio existem alguns bens estritamente
pessoais e outros que, por sua natureza ou por disposição legal, fundada em
motivo de equidade, são afastados da ação dos credores.
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9.2 Efeitos quanto ao devedor
Os efeitos mais importantes da sentença decretatória de falência quanto à pessoa
do devedor, ou seja, quanto ao empresário individual falido e os sócios
ilimitadamente responsáveis, são:
•inabilitação temporária para o exercício da atividade empresarial; e
•perda da administração e disponibilidade de seus bens.
A partir da sentença positiva de falência, o devedor fica inabilitado para exercer
qualquer atividade empresarial. A vedação persiste até a sentença extintiva de
suas obrigações.
Também, com a decretação falimentar, o devedor sofre a indisponibilidade de seus
bens e perde o direito de administrá-los.
O regime do devedor é restritivo de direitos e impositivo de deveres.
São deveres do agente econômico devedor:
•assinar nos autos, desde que intimado da decisão, termo de
comparecimento, com a indicação do nome, nacionalidade, estado civil,
endereço completo do domicílio, devendo ainda declarar, para constar do
dito termo:
a)as causas determinantes da sua falência, quando requerida pelos
credores;
b)tratando-se de sociedade, os nomes e os endereços de todos os
sócios, acionistas controladores, diretores ou administradores,
apresentando o contrato ou estatuto social e a prova do respectivo
registro, bem como suas alterações;
c)o nome do contador encarregado da escrituração dos livros
obrigatórios;
d)os mandatos que porventura tenha outorgado, indicando seu objeto,
nome e endereço do mandatário;
e)seus bens imóveis e os móveis que não se encontram no
estabelecimento;
f)se faz parte de outras sociedades, exibindo respectivo contrato;
g)suas contas bancárias, aplicações, títulos em cobrança e processos em
andamento em que for autor ou réu;
•depositar em cartório, no ato de assinatura do termo de comparecimento,
os seus livros obrigatórios, a fim de serem entregues ao administrador
judicial, depois de encerrados por termos assinados pelo juiz;
•não se ausentar do lugar onde se processa a falência sem motivo justo e
comunicação expressa ao juiz, e sem deixar procurador bastante, sob as
penas cominadas na lei;
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•comparecer a todos os atos da falência, podendo ser representado por
procurador, quando não for indispensável sua presença;
•entregar, sem demora, todos os bens, livros, papéis e documentos ao
administrador judicial, indicando-lhe, para serem arrecadados, os bens que
porventura tenha em poder de terceiros;
•prestar as informações reclamadas pelo juiz, administrador judicial, credor
ou Ministério Público sobre circunstâncias e fatos que interessem à
falência;
•auxiliar o administrador judicial com zelo e presteza;
•examinar as habilitações de crédito apresentadas;
•assistir ao levantamento, à verificação do balanço e ao exame dos livros;
•manifestar-se sempre que for determinado pelo juiz;
•apresentar, no prazo fixado pelo juiz, a relação de seus credores;
•examinar e dar parecer sobre as contas do administrador judicial.
Se inobservar qualquer um desses deveres depois de intimado pelo juiz a fazê-lo,
o devedor poderá incorrer na prática de desobediência e, consequentemente,
sujeitar-se ao respectivo processo criminal, sem prejuízo de conforme a natureza
do dever descumprido arcar com a prisão corretiva.
De lembrar que a decretação da prisão administrativa do devedor ou do sócio da
sociedade falida, por falta do cumprimento de dever inscrito entre os obrigatórios,
não tipifica constrangimento ilegal. Não se trata de prisão por crime liquidatório,
mas de medida basicamente disciplinar.
Não se pode esquecer que, desde o momento da decretação da quebra, o falido
acaba se transformando numa espécie de auxiliar compulsório do juízo da
falência. Não auxilia por que quer, mas por dever legal.
A prisão administrativa somente poderá ser aplicada ao devedor e não a seus
procuradores, especialmente quando tenham renunciado ao mandato e participem
da empresa como simples empregados.
Funcionando como medida compulsória, a fim de coagir o devedor ao
cumprimento de suas obrigações, a prisão administrativa assegura o regular
movimento do processo falencial.
Em princípio, o singelo sócio de responsabilidade limitada não se considera falido e
não está, portanto, sujeito, em virtude da condição de sócio, à prisão
administrativa. Sua eventual responsabilização pelas implicações legais da
sociedade falida vincula-se ao desempenho da gerência, administração ou
representação.
Diversa é a hipótese do sócio gerente de sociedade falida que intenta mudar sua
residência para fora do domicílio falitário sem autorização judicial. O
descumprimento de dever imposto ao sócio-gerente é que o sujeita à constrição.
Relativamente ao depósito em cartório dos livros obrigatórios, as microempresas
não têm o ônus de escriturar o Diário, conforme o art. 26, § 2º, da LC nº 123/06,
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já que esta se refere apenas ao Livro Caixa e ao Registro de Inventário. Embora
exista entendimento no sentido de que a LRE não foi alcançada pelos diplomas
referidos, permanecendo, portanto, a exigência de escrituração regular do Diário,
é bom lembrar que a LRE simplesmente alude à escrituração daqueles livros que a
lei comercial considera obrigatórios. Ora, no caso das microempresas a lei
comercial não reclama como compulsória a escrituração do Diário.
No que toca à incapacidade processual do devedor, a mesma se restringe à
provocação de medidas atinentes às relações patrimoniais abrangidas na
liquidação de seu ativo. Não há extrapolação para direitos civis e políticos.
A declaração de falência não torna o devedor incapaz. Incapacidade é outra coisa.
Não o interdita, visto que interdição, também, é outra coisa. Tolhe-se-lhe,
relativamente, a aptidão administrativa do patrimônio que não soube gerir.
Contudo,não deixa de ter interesse naqueles bens alcançados pela falência. A lei
lhe garante senão plenos direitos, no mínimo, o necessário para que possa
concretizar os interesses que conserva. Tem, entre outros, o direito de recorrer,
nos processos em que a massa figure como parte, ou seja, interessada.
9.2.1 Direitos do devedor
São direitos do devedor no concurso falitário (art. 103 da LRE):
•fiscalizar a administração da massa;
•requerer medidas acautelatórias dos bens arrecadados;
•intervir, como assistente, nas ações em que a massa for parte ou
interessada;
•interpor os recursos admitidos em lei; e
•requerer o que entender útil à defesa dos seus direitos.
9.3 Efeitos quanto aos contratos do devedor
Em princípio, o administrador judicial deve dar continuidade ao cumprimento de
todo contrato favorável à massa, desobrigando-a, de outra parte, dos contratos
onerosos, cujo custo ultrapasse os possíveis benefícios deles resultantes.
O legislador dividiu os efeitos da sentença de falência incidentes sobre os
contratos em duas ordens, a saber, os pertinentes aos contratos bilaterais e
aqueles que dizem com os contratos unilaterais.
É claro que a regra nos contratos bilaterais é a de que nenhum dos contratantes,
antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro (art.
476 do CC). Os contratos bilaterais erigem duas obrigações correlatas, sendo cada
um dos contraentes, ao mesmo tempo, credor e devedor, diante da conexidade
das obrigações e simultaneidade de execução.
Ao administrador judicial incumbe decidir: dar cumprimento ou denunciar os
contratos bilaterais do devedor; tem faculdade de optar entre cumpri-los e não,
conforme a conveniência da massa.
Se com o advento da falência o contrato ainda não foi executado por nenhuma
das partes, a opção do administrador judicial pela sua resolução libera as partes
das obrigações reciprocamente assumidas.
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Se a quebra advier após a conclusão do contrato, o outro contratante poderá
recusar-se à prestação que lhe incumbe até que o administrador judicial
satisfaça a prestação a que compete à massa ou ofereça garantia suficiente de
sua satisfação. É o que resulta da aplicação do art. 477 do CC.
A omissão do administrador judicial dá ao outro contratante o direito de
interpelação, no prazo de 90 (noventa) dias de sua nomeação, para que, em 10
(dez) dias, declare se pretende ou não cumprir o pacto. O silêncio do
administrador ou sua declaração negativa propiciará ao contratante o direito à
indenização cujo valor, apurado em ação ordinária, constituirá crédito
quirografário.
Por exemplo, se o devedor assumiu contratualmente a obrigação de fabricar
determinado bem, tendo recebido parte do pagamento, antecipadamente, o
inadimplemento contratual decorrente da superveniência da falência confere ao
contraente o poder de interpelar o administrador judicial e, na omissão ou silêncio
deste, o direito à indenização.
A propósito do dispositivo sob exame, resta claro que a sentença de falência não é
caso fortuito ou força maior impeditiva ou excludente da obrigação, posto que
evento mercantil perfeitamente previsível.
Cumpre lembrar ainda que, conquanto bilateral, o contrato de conta corrente
considera-se encerrado “no momento da declaração da falência, verificando-se o
respectivo saldo”. Dito encerramento não obsta a fluência de juros de créditos já
existentes.
Os contratos unilaterais continuam sem alteração na sua juridicidade. Se o
devedor for credor, a massa o substitui nos diretos creditórios. Se for devedor, o
contrato se vence com a decretação da falência, restando ao credor a
concorrência no concurso de credores, habilitando seu crédito.
A LRE traz uma série de normas especiais tendentes à solução de questões
contratuais oriundas da decretação de falência.
A primeira propicia ao vendedor que ainda não percebeu o preço obstar a entrega
da mercadoria em trânsito, desde que o comprador, antes da falência, não a tenha
revendido, ante a fatura e o conhecimento de transporte, enviado pelo vendedor.
É o right of stoppage in transitu, que pode ser efetivado por mera contraordem de
entrega, dada pelo vendedor ao transportador. São pressupostos do seu exercício:
•que a coisa não paga ainda esteja em trânsito;
•que o comprador, antes da decretação de sua falência, não a tenha
revendido;
•se o comprador a revendeu, que o tenha feito com fraude.
É lógico, pois se o comprador revendeu a coisa sem ter posse do conhecimento de
transporte a revenda não poderia ter ocorrido.
Observe-se que, se já se verificou a tradição real nos 15 (quinze) dias anteriores à
distribuição do pedido de falência, caberá a restituição e, se antes desse lapso, só
restará ao credor a habilitação do seu crédito.
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Outra regra trata de inexecução do contrato de execução sucessiva, pelo
administrador judicial, se o falido vendeu coisas compostas.
Neste caso, o todo não se aperfeiçoa se ausente uma das suas partes integrantes.
Por isso, a LRE conferiu ao comprador a faculdade de colocar à disposição da
massa os objetos já recebidos e reclamar perdas e danos, através de ação
ordinária.
Sobre a não entrega pelo devedor de coisa móvel que vendeu a prestações, deve
a massa restituir ao comprador as prestações recebidas pelo devedor, se o
administrador judicial não cumprir o contrato. O fato tipifica crime contra a
economia popular, se inocorrer a devolução das prestações efetivadas.
Consoante outra regra, se o administrador judicial da massa resolver não
continuar a execução do contrato de venda com reserva de domínio, deverá a
coisa móvel adquirida pelo devedor ser restituída, após a vistoria da mesma, sua
individualização e o arbitramento do seu valor, segundo a lei processual civil.
Assim, descontada do valor arbitrado a importância da dívida acrescida das
despesas judiciais e extrajudiciais, o autor restituirá ao réu o saldo, depositando-o
em pagamento.
Tratando da inexecução do contrato de venda a termo de coisa que tenha cotação
na Bolsa ou no Mercado, a LRE prevê a incidência de indenização consistente na
diferença entre “a cotação do dia do contrato e a da época da liquidação em
Bolsa”, entendendo-se por “época da liquidação” a data do vencimento do
contrato.
No caso de promessa de compra e venda de imóveis, aplica-se a legislação
pertinente. Assim, se a falência for do promitente vendedor, o administrador
judicial cumprirá o contrato; se do comprador, o administrador judicial promoverá
a arrecadação e a venda em hasta pública, sendo seu produto revertido à massa,
sem prejuízo do pagamento das prestações vincendas, pelo adquirente.
Consoante o art. 30 da Lei nº 6.766/79, a sentença de falência de qualquer das
partes não rescinde os contratos de compromisso de compra e venda ou de
promessa de cessão que tenham por objeto área loteada ou lotes da mesma. Se
falido for o proprietário da área loteada ou do titular de direito sobre ela, o
administrador deve dar cumprimento ao respectivo contrato; se o adquirente do
lote, seus direitos serão levados a praça.
Já por força do art. 43, inciso III da Lei nº 4.591/64, em caso de falência do
incorporador, pessoa física ou jurídica, e não ser possível à maioria prosseguir na
construção das edificações, os subscritores ou candidatos à aquisição de unidades
serão credores privilegiados pelas quantias que houverem pago ao incorporador,
respondendo subsidiariamente os bens pessoais deste.
Sobre a compensação, a LRE estipula que ocorra em relação aos débitos do falido,
vencidos até o dia do requerimento da quebra ou da recuperação judicial, seja o
vencimentoordinário (expiração do prazo pactuado), seja o vencimento
contratual, seja o vencimento extraordinário (por força daquelas sentenças).
Derrogatória do princípio do tratamento equitativo dos credores, a compensação
não se pode verificar nos seguintes casos:
•os créditos transferidos após o requerimento da recuperação judicial ou da
falência, salvo na sucessão por fusão, incorporação, cisão ou morte;
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•os créditos vencidos anteriormente quando já conhecido o estado de crise
econômico-financeira do devedor; ou
•os créditos transferidos com fraude ou dolo.
A propósito, o art. 373 do CC reza que a diferença de causa nas dívidas impede a
compensação se provier de esbulho, furto ou roubo; se uma se originar de
comodato, depósito ou alimentos; e se uma for de coisa não suscetível de
penhora.
Realizada a compensação de valores devidos por força de contrato, eventual saldo
positivo será transferido à massa falida. Saldo negativo é crédito contra o devedor.
Tratando-se de falência do locador não se resolve o contrato de locação; se do
locatário, o administrador judicial pode denunciar o contrato, com a indenização
arbitrada pelo juiz ao locador ou sua aceitação independente de mediação
jurisdicional.
Desde que autorizado pelo Comitê de Credores, o administrador judicial pode dar
cumprimento a contrato unilateral, pagando a respectiva prestação pela qual a
massa está obrigada. Isso pode ocorrer em duas situações:
•se o cumprimento reduzir ou evitar o aumento do passivo da massa
falida; ou
•se o cumprimento for necessário à preservação dos ativos da massa.
Em relação ao mandato outorgado pelo devedor antes da sentença de falência,
sobre negócios de interesse da massa, a LRE declara cessados seus efeitos e
compele o mandatário a prestar contas de sua gestão. Por outro lado, para o
devedor cessa o mandato ou comissão que recebeu antes da falência,
ressalvados, é claro, aqueles relativos à matéria estranha à empresa.
A LRE modifica o sistema que vigorava na LFC (art. 49), pois esta demandava a
cessação do mandato apenas quando expressamente revogado pelo síndico. Aliás,
aquela disposição já era divergente das legislações estrangeiras, que declaram a
expiração do mandato em virtude da decretação de falência.
Adite-se que a LRE acrescenta mais um caso de extinção de mandato na relação
prevista no art. 682 do CC.
No que pertine com as contas correntes, com a constituição da falência serão
encerradas, apurando-se o saldo e a concreta posição da massa em cada conta. O
devedor tem a obrigação de depositar em cartório seus livros obrigatórios para
que sejam encerrados pelo escrivão.
Essa regra repete dispositivo da legislação italiana fundado na necessidade de
precisar, no dia da falência, o saldo apurado contra o devedor, não se confundindo
com os créditos verificados contra a massa falida.
Quanto ao falido que integra sociedade de pessoas, a quebra daquele não afeta a
pessoa jurídica desta. Trata-se do falido que faz parte de sociedade empresária na
condição de comanditário ou cotista.
Para a massa falida, virão apenas os haveres que o falido possuir na sociedade,
apurados na forma prescrita no contrato, mas se este nada dispuser a respeito a
apuração será judicial. Agora, se por lei ou em virtude do contrato “a sociedade
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tiver de liquidar-se”, só depois da liquidação, pago o passivo social, o saldo do
falido reverterá para a massa.
9.4 Administradores e controladores
A responsabilidade pessoal dos controladores e administradores deve ser apurada
no juízo em que se processa a falência. Essa apuração independe da realização do
ativo e de sua eventual incapacidade para enfrentar o passivo do devedor.
Para os administradores da sociedade anônima, já vigora a regra do art. 158,
incisos I e II, da LSA. São responsáveis pelos prejuízos que causarem quando
procederem com culpa ou dolo, no desempenho de suas atribuições. Também
assim quando atuarem contra lei ou estatuto. São solidariamente responsáveis
pelos prejuízos resultantes da inobservância dos deveres que a lei impõe para o
funcionamento normal da companhia, ainda que, pelo estatuto, tais deveres não
caibam a todos.
Não se trata, pois, de ação para integralização de capital, mas de
responsabilização por atos ilícitos encetados na regência da sociedade. A matéria
deve ser objeto de ação ordinária e o administrador judicial terá legitimação ativa
para sua propositura, em defesa da massa, no juízo mesmo da liquidação.
Quanto aos controladores, o art. 117 da LSA adverte que o acionista controlador
responde pelos danos causados por atos praticados com abuso de poder. É o caso
do controlador que orienta companhia para fim estranho ao objeto social;
promove modificação estrutural da sociedade com o fim de obter vantagem
indevida; induz administrador ou fiscal a violar a lei ou estatuto; aprova ou faz
aprovar contas irregulares; e, enfim, faz da sociedade um instrumento para o
atendimento de desígnios espúrios.
É bom recordar que o acionista controlador tem, de modo permanente, a maioria
dos votos nas deliberações da assembleia geral e elege a maioria dos
administradores da companhia.
O acionista controlador tem o dever de implementar a realização do objeto social
e o cumprimento da função social da empresa. Seus deveres não se exaurem no
âmbito da sociedade, mas se projetam na comunidade onde atua.
Vale acrescentar que os conselheiros fiscais, tanto na sociedade limitada como na
sociedade anônima, têm os mesmos deveres e responsabilidades pertinentes aos
administradores.
Entre os atos suscetíveis de gerar a responsabilidade de administradores e
controladores, podem ser citados:
•lesionamento ou destruição total ou parcial do patrimônio social;
•criação artificial de passivo ou prejuízos;
•dissimulação do ativo social;
•compras a crédito com revenda por valor irrisório;
•dação em pagamento por preço inferior ao de mercado, para satisfação de
obrigação inexigível;
•disposição de bens em proveito pessoal ou de terceiros;
20/02/2019 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
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•uso dos bens sociais e do crédito em proveito pessoal de terceiros; e
•mantença de contabilidade fictícia.
A ação de responsabilização aqui versada pode ser proposta até 2 (dois) anos
contados da data do trânsito em julgado da sentença constitutiva de falência.
Enfim, na própria sentença que decreta a falência, o juiz pode determinar ad
cautelam a indisponibilidade dos bens particulares do réu controlador
ouadministrador, observada medida de compatibilidade com o dano que se lhe
imputa. Não precisa de provocação, pode definir ex officio a medida cautelar que é
mantida até a sentença definitiva na respectiva ação de responsabilidade.

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