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Profa. Simone Biangolino O transtorno factício imposto a si próprio era antigamente denominado Síndrome de Münchausen. Descrita pela primeira vez pelo médico inglês Richard Asher em 1951, a síndrome de Munchausen (SM). É um transtorno factício em que o paciente se mostra aguda e dramaticamente doente, com a habilidade de mimetizar sinais e sintomas de forma a necessitar de internações prolongadas, procedimentos de diagnósticos invasivos, longo tempo de terapia com as mais variadas classes de drogas e cirurgias Esse transtorno é mais complexo do que a simples desonestidade. É um problema da saúde mental que está associado com graves dificuldades emocionais; com frequência o transtorno de personalidade boderline, podem estar envolvidos. Esse sintoma também pode ser fortemente suspeitado quando há a presença de transtorno de personalidade anti-social, discrepância entre os achados objetivos e o sofrimento ou deficiência apontados pelo indivíduo, contexto médico legal e falta de cooperação durante a avaliação diagnóstica e o tratamento prescrito (APA, 2002). Segundo Urzola, Córdoba e Folino (2005), mais de 50% dos pacientes que simulam têm transtorno de Personalidade Anti-social. Essa patologia caracteriza-se por um padrão de desrespeito e violação dos direitos e sentimentos alheios que pode ser observado desde os quinze anos Na entrevista com o sujeito que está simulando, pode- se observar que o paciente não dá detalhes precisos sobre o que está sentindo e fica tenso quando é pedido para que diga mais detalhes sobre sua sintomatologia. Além disso, fornece respostas exageradas, pouco espontâneas e não naturais, utiliza mais jargões médicos do que termos coloquiais ao nomear sua doença,entra em algumas contradições, solicita que se repitam as perguntas direcionadas a ele a fim de ganhar tempo para formular as respostas. A pessoa pode apresentar um histórico precoce de abuso emocional e físico, ou pode ter apresentado uma doença grave durante a infância ou tido um parente gravemente enfermo. Ela parece ter problemas com sua identidade e/ou autoestima, bem como relacionamentos instáveis. Fingir uma doença pode ser um modo de aumentar ou proteger a autoestima culpando sua doença por problemas sociais ou relacionados ao trabalho. As pessoas com esse transtorno lembram fingidores porque suas ações são conscientes e intencionais. Suas mentiras são conscientes, mas a motivação e a busca de atenção são, fundamentalmente, inconscientes. É uma doença de graves implicações clínicas e que gera elevados gastos para o sistema de saúde público. Diferentemente dos fingidores, as pessoas com transtorno factício não são motivadas por recompensas externas (como receber seguros ou se ausentar do trabalho). Elas não apenas sabem fingir doenças de forma convincente, mas também têm um conhecimento sofisticado das práticas médicas. Pessoas com esse transtorno são geralmente bastante inteligentes e habilidosas. Falsificação de sinais ou sintomas físicos ou psicológicos, ou indução de lesão ou doença, associada a fraude identificada (Critério A). Os sintomas podem ser dramáticos e convincentes. Indivíduos com transtorno factício também podem buscar tratamento para si mesmos ou para outro depois da indução de lesão ou doença. Geralmente, a pessoa envolvida, resiste em permitir que os médicos conversem com familiares e com outros médicos que trataram o filho ou a algum familiar no passado, ou a si próprio, quando o quadro incide sob a própria pessoa. Antigamente, esse transtorno era denominado transtorno factício por procuração ou síndrome de Münchausen por procuração. Deve-se ressaltar que esse sintoma pode ser observada em diferentes contextos, tais como o clínico e o jurídico. As patologias mais comuns de serem simuladas são transtorno de estresse pós traumático, síndrome de dano cerebral pós traumático, amnésia e psicose. (Caro et al, 2005) O diagnóstico requer a demonstração de que o indivíduo está agindo de maneira sub-reptícia para falsear, simular ou causar sinais ou sintomas de doença ou lesão na ausência de recompensas externas óbvias. O médico diagnostica o transtorno após descartar outros transtornos e após descobrir evidência de que a pessoa fingiu ter os sintomas. Os métodos de falsificação de doença podem incluir exagero, fabricação, simulação e indução. Podem manipular quem as tenta ajudar para serem hospitalizadas e submetidas a intensos exames e tratamentos, incluindo intervenções relevantes. Se uma condição médica preexistente estiver presente, o comportamento fraudulento ou a indução de lesão fraudulenta associada à fraude faz outras pessoas verem esses indivíduos (ou outros) como mais doentes ou comprometidos, o que pode levar a intervenções médicas excessivas. Indivíduos com transtorno factício poderiam relatar, por exemplo: ◦ sentimentos de depressão e ideias suicidas como consequência da morte de um cônjuge a despeito de essa morte não ser verdadeira ou de o indivíduo não ter um cônjuge; ◦ relatar falsamente episódios de sintomas neurológicos (p. ex., convulsões, tonturas ou desmaios); ◦ falsificar prontuários médicos para indicar uma doença; ◦ manipular um exame laboratorial (p. ex., acrescentando sangue à urina) para indicar falsamente uma anormalidade; ◦ ingerir uma substância (p. ex., insulina ou varfarina) para induzir um resultado laboratorial anormal ou uma doença; ◦ ou se automutilar ou induzir doença em si mesmos ou em outra pessoa (p. ex., injetando material fecal para produzir um abscesso ou induzir sepse). Familiares, amigos e profissionais da saúde também são muitas vezes afetados adversamente por esse comportamento. O diagnóstico de transtorno factício enfatiza mais a identificação objetiva da falsificação de sinais e sintomas de doença do que uma inferência acerca da intenção ou da possível motivação subjacente. O diagnóstico de transtorno factício enfatiza mais a identificação objetiva da falsificação de sinais e sintomas de doença do que uma inferência acerca da intenção ou da possível motivação subjacente; no entanto, apesar de configurar sintomas de uma doença mental, o comportamento criminoso ( sobretudo quando da ocorrência de transtorno factício imposto a outro, no qual as ações do pai ou da mãe representam abuso e maus-tratos a um filho) não pode ser desconsiderado. A prevalência do transtorno factício é desconhecida, provavelmente em virtude do papel da fraude nessa população. Entre pacientes em ambientes hospitalares, estima-se que cerca de 1% dos indivíduos tenham apresentações que satisfazem os critérios de transtorno factício. O curso do transtorno factício geralmente envolve episódios intermitentes. Episódios únicos e episódios caracterizados como persistentes e perseverantes são menos comuns. A manifestação inicial costuma ocorrer no início da idade adulta, com frequência depois de uma hospitalização em decorrência de uma condição médica ou de um transtorno mental. O transtorno pode continuar por toda a vida. O tratamento piora ossintomas, em vez de aliviá-los. Quando imposto a outro, o transtorno pode começar depois de uma hospitalização do filho ou de outro dependente da pessoa. Não existem tratamentos claramente eficazes. Se a pessoa receber tratamento para o transtorno que está fingindo, ela pode até sentir alívio temporário, mas depois ela costuma relatar outros sintomas e exigir mais tratamento. Uma parte importante do tratamento é evitar tratamentos desnecessários. Transtorno de sintomas somáticos Simulação Transtorno conversivo Transtorno da personalidade borderline Condição médica ou transtorno mental não associados a falsificação intencional de sintomas AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5. 5a.ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. Caro, M. I., Giráldez, S. L., Rodrigo, A. M. L. & Rionda, J. L. A. (2005). La simulación de efermidad física o trastorno mental. Papeles del Psicólogo, 26, 99-108.