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Introdução............................................................................................................................03
Comentário do autor...........................................................................................................05
Capítulo 1.............................................................................................................................06
Capítulo 2.............................................................................................................................10
Capítulo 3.............................................................................................................................16
Capítulo 4.............................................................................................................................21
Capítulo 5.............................................................................................................................28
Capítulo 6.............................................................................................................................39
Capítulo 7.............................................................................................................................45
Capítulo 8.............................................................................................................................54
Capítulo 9.............................................................................................................................60
Capítulo 10...........................................................................................................................65
Capítulo 11...........................................................................................................................71
Capítulo 12...........................................................................................................................81
Capítulo 13...........................................................................................................................86
Capítulo 14...........................................................................................................................90
Capítulo 15...........................................................................................................................98
Capítulo 16.........................................................................................................................104
Capítulo 17.........................................................................................................................115
Capítulo 18.........................................................................................................................122
Capítulo 19.........................................................................................................................131
Capítulo 20.........................................................................................................................136
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O livro @mor.com.br conta a história de Lucas. Um jovem adolescente do Sul, que por 
enfrentar problemas de saúde em sua família, acaba se mudando para São Paulo, indo 
morar com seus tios e seu primo Robson. Tomado por pensamentos que vão contra sua 
educação, ele se retrai e tenta fugir desses desejos que julga ser anormal. 
Mas a negação de seus sentimentos não dura por muito tempo. A descoberta de sua 
sexualidade começa com a ajuda de Robson. Ambos da mesma idade, acabam se 
entregando às vontades despertadas no clima de um quarto escuro. De início é algo carnal, 
apenas tesão, porém, ninguém consegue controlar seus sentimentos e Lucas acaba se 
apaixonando por ele. Tentando esquecê-lo, Lucas conhece várias outras pessoas através da 
Internet, mas Robson não sai de sua cabeça.
Decidido a lutar pelo Robson, ele descobre que o namorado de seu primo não é o anjo que 
parece. Embora ele tente desmascará-lo, acaba se passando por vilão. A história envolve 
muitas intrigas e descobertas, realizações de desejos e fantasias que levam á todos ao auge 
da coragem, mexendo com a imaginação de cada um.
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Lu Mounier ® 2004
Estudante na área de Comunicação Social, nasceu e foi criado em São Paulo. É o autor de: 
Um estranho dentro de mim, A marca de batom, Quase Levy um fora e Prazer em 
conhecer.
Começou a escrever livros aos seus 17 anos, trazendo como temas centrais romances e 
transgressões culturais. Explicando das formas mais simples que todo ser humano possui 
sua identidade própria, vontades e sentimentos que os diferenciam do perfil ideal criado 
pela sociedade. Sendo visados como pecadores, marginais, acabam sendo vítimas de 
preconceitos, discriminações injustamente, quando na verdade eles apenas são diferentes.
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Comentário do autor
O livro @mor.com.br foi minha primeira obra literária. O que ele trás é o desejo e a 
fantasia de todo mundo, mas não são todos que podem realizá-las. Essa confusão que 
começa na cabeça de não se saber o que é, até entender que seus interesses são diferentes 
dos meninos comuns de sua idade. Se achando anormal, acabam entrando em depressão, 
tornando-se pessoas frustradas, e às vezes até se matando. 
A história de Lucas mostra um pouco dessa fase tão difícil que é para um homossexual, que 
é sua aceitação. Em seguida, vêm as descobertas sexuais através da Internet e balada, que 
em sua maior parte, são as mais presentes. O leitor realiza algumas de suas vontades e 
fantasias através de Lucas. 
Quem é que nunca se imaginou com um professor (a)? Essa fantasia acompanha as crianças 
desde que começa a fase da puberdade. 
O Gabriel, ao ser desmascarado, se torna vítima de sua própria maldade e interesse. Ao 
mesmo tempo em que o Robson o pune pelo que fez, os leitores o ajudam, torcendo e 
vibrando com cada tapa, palavra do Robson. 
O poder de escolha está ao alcance de cada um, sendo assim, “Se você pedir, eu fico”, e ele 
pediu. 
Amar também é sofrer, mas não pode ser um sofrimento que dure uma vida, apenas uma 
fase. As pessoas devem viver para amar e não amar para viver.
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Sempre tive uns pensamentos estranhos, desejos diferentes que um garoto normal da 
minha idade tinha. Às vezes me sentia muito mal, mas não sabia o que era. Tinha dias que 
eu pensava estar louco, me achava anormal. Não sei explicar, era uma sensação muito ruim.
Por diversas vezes eu beijava minha namorada e não sentia nada. Era como se eu 
estivesse beijando uma parede. 
Certo dia ela cobrou isso de mim, e o que eu poderia dizer? Explicar? Eu também 
não sabia o que era, não conseguia controlar aqueles desejos. 
Um dia tive vontade de beijar o irmão dela, o vendo jogando futebol na rua com 
outros garotos, sem camisa, todo suado. Será que eu estava ficando louco? Não era normal 
um homem ficar pensando em outro, muito menos desejar um corpo masculino, 
principalmente o irmão da própria namorada. 
Muitos jovens, antes da aceitação, quando se descobrem gays percorrem um longo 
caminho. Uma das primeiras reações é tentar negar à si mesmo o que sentem, achando que 
trata-se apenas de uma fase. O tempo passa e os sentimentos persistem, e quando não há 
mais como negar aqueles sentimentos, sentem-se um peixe fora d'água, ausente de um 
mundo conhecido como "normal", perguntando-se: "Por que comigo?".
Perdi a conta de quantas vezes aliviei minhas vontades no banho, pensando em 
corpos masculinos. Por causa desses e outros pensamentos que eu saí de casa na intenção 
de acabar com tudo isso, livrando-me de todo esse sofrimento e tortura.
Afirmar que a homossexualidade é uma opção, reforça os preconceitos, pois optar 
por algo é responsabilizar-se por aquilo que escolheu, porém, não é o que acontece. 
Conscientizar-se sobre sua homossexualidade trata-se de um processo, e não um 
acontecimento. Essa conscientização às vezes ocorrecedo, podendo também levar anos 
para que aconteça.
Eu nasci e fui criado em Londrina, sou filho único. Vim de uma família humilde, 
apesar disso meu pai nunca deixou nos faltar nada, porém, nossa vida sempre foi muito 
simples. Eu me lembro que no meu último aniversário, meu pai me deu uma bicicleta de 
presente. O coitado economizou o ano inteiro para poder conseguir compra-la. 
Perto de casa havia uma represa onde ficava cheia de moradores da região em dias 
de verão. Minha mãe costumava me levar todos os domingos à tarde quando eu era criança. 
Passávamos lá por um longo tempo. Tenho saudade daquela época. 
Ao sair de casa naquela manhã de sábado, deixei um bilhete sobre meu travesseiro. 
Tratava-se de uma carta de despedida.
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Mãe e pai!
Por todo esse tempo eu venho sofrendo, lutando contra um sentimento que 
insiste em me perseguir. Às vezes quando escuto vocês conversando sobre a 
hora de terem netos eu me entristeço, pois não consigo mais desejar uma 
mulher. Não sei o que acontece comigo, não acho isso normal, não pode ser 
normal. 
Por isso, estou me despedindo através dessa carta. Não vejo mais sentido 
em viver, não quero mais sofrer ouvindo vocês desejarem uma casa cheia de 
netos e eu não poder dar. 
Desculpa por não ser o filho ideal. 
Amo vocês!
Lucas.
Chegando à beira do rio eu respirei fundo, olhando para aquela água que corria em 
um movimento sincronizado. Com o bater do vento ela chagava a molhar meus pés. O 
silêncio predominava por ali, quebrado apenas pelo barulho da água corrente. 
Atrás de mim havia várias árvores cheias de flores e frutos, altas, enormes. 
Segurando uma corda na mão esquerda, caminhei em direção à uma delas. Escolhi um 
galho bem forte e fiz um laço de forma não permitir que atingisse ao chão quando eu 
pulasse.
Respirei fundo. Amarrei a corda em volta do pescoço, fechei os olhos e pensei em 
toda minha vida. Contei até três, em seguida pulei. Pensei que naquele momento estaria 
tudo acabado, mas enganei-me. O nó que eu havia dado não resistiu, fazendo com que eu 
caísse à grama. 
Chorei de raiva, mas não tentei novamente. Próximo a mim havia um ninho de 
passarinho, provavelmente caiu quando tentei pular. Dentro havia um passarinho recém 
nascido e outro quebrando a casca do ovo. Fiquei ali parado, olhando aquela cena inédita, 
uma graça de Deus. 
Com um pouco de receio e muito cuidado comecei a ajudar o outro passarinho que 
não estava conseguindo romper à casca. Ao vê-lo fora e aparentemente bem, sem querer 
deixei escorrer uma lágrima de emoção. 
Sentei-me à margem do rio e comecei a refletir sobre tudo. Uma vida acabara de 
nascer e eu querendo por fim na minha. Seria um sinal? Quem sabe, só sei que graças 
àquele passarinho eu desisti da idéia de me afogar naquele rio. 
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O suicídio é definido como um tipo de comportamento que procura solucionar um 
problema existente, pondo um fim a própria vida. De acordo com dados da ANDI - 
Agência de Notícias dos Direitos à Infância, cerca de 7% dos suicídios provocados por 
adolescentes e jovens estão relacionados a conflitos com sua identidade sexual.
Voltei pra casa feliz, aliviado por dentro. O engraçado é que eu não sentia mais 
culpa dentro de mim, quando entrei minha mãe estava na cozinha preparando arroz doce, 
fui correndo pro meu quarto e o bilhete ainda estava sobre a cama, fechei a porta e respirei 
aliviado, ainda bem que ninguém havia visto ainda, na mesma hora peguei o bilhete e 
rasguei em vários pedaços, nessa hora minha mãe entrou no quarto, acabei levando um 
susto:
-O que você está rasgando ai, Lucas?
-Nada não, mãe...
-Estou fazendo um arroz doce com bastante leite condensado...
-Hummm... Que delícia!... Estou sentindo o cheiro daqui...
Sentei na cama quando vi minha mãe olhando de um lado pro outro e fechando a 
porta do quarto, limpando a mão no avental amarrado em sua cintura ela se sentou ao meu 
lado e pegou na minha mão:
-Filho, estou preocupada com teu pai...
-O que houve, mãe?
-Não sei, eu notei essa noite que ele gemia ao dormir...
-Será que...
-Eu também estou achando.
-Você já falou com ele?
-Não. 
Há alguns anos meu pai vinha sofrendo de alguns problemas de saúde, paramos de 
falar no assunto assim que ele chegou em casa. Depois que minha mãe voltou para a 
cozinha peguei os pedaços de papel e fui jogar no cesto de lixo na área de serviço. 
Aos meus 17 anos eu já trabalhava e ao mesmo tempo estudava, pois meus pais não 
tinham condições de me dar tudo que eu queria. Vendo a situação em que nós passávamos, 
decidi procurar um emprego para poder ajudar um pouco em casa. De início meu pai não 
concordou muito com a idéia, orgulhoso do jeito que ele era quase me bateu. Minha mãe 
também achou um pouco cedo demais, mas depois acabaram concordando, afinal, uma hora 
eu tinha que adquirir minha independência. 
Depois desse turbilhão, nossa vida parecia estar tranqüila, até que um dia voltando 
da escola levei um susto:
-Lucas, preciso falar contigo, meu filho.
-Pode falar, mãe.
-A doença do teu pai está se agravando, vamos ter que levá-lo para fazer um tratamento 
no Rio de Janeiro. 
-Mas por que no Rio de Janeiro?
-Porque lá tem mais recursos que aqui.
-Se for assim vamos pra São Paulo...
-Não Lucas, só vamos pro Rio de Janeiro porque um conhecido de teu pai tem um 
apartamento lá e vai nos emprestar por enquanto...
-Entendi... Vamos depressa então mãe, vou arrumar minhas malas.
-Lucas espere. 
-O quê?
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-Não temos dinheiro suficiente para sustentar nós três... 
-Como assim?
-Tua tia Helena disse que vai cuidar de ti pelo tempo que vamos ficar no Rio.
-Como assim? Eu vou ficar longe de vocês?
-Meu filho, entenda que não temos condições de sustentar os três... São muito remédios, 
despesas, táxi... Já falei com tua tia e ela disse que você pode ficar na casa dela pelo 
tempo que precisar...
-Não vai ser a mesma coisa...
-Não fique assim meu filho, você vai poder nos visitar quando senti saudade... Vai ser por 
pouco tempo, tu vais ver.
Receber aquela notícia, pra mim foi um impacto. Afastar-me da minha família 
assim por tempo indeterminado, me causava medo. Nunca fiquei longe dos meus pais, 
também fazia muito tempo que eu não via a tia Helena. A última vez que ela foi nos visitar 
eu tinha 8 anos. Mal lembrava de seu rosto, apenas de sua voz, pois sempre nos falávamos 
por telefone. 
Antes do anoitecer, dei uma passada na casa da minha namorada para me despedir 
dela. Achei que seria um pouco difícil, mas até que não foi, pois já não sentia mais nada por 
ela:
-Oi Lucas!... Você não avisou que vinha...
-Precisamos conversar...
-Que cara é essa?
-Meu pai está muito doente.
-Ele não tinha melhorado?
-Não... Ele vai precisar se tratar na cidade grande...
-Ele vai pra Curitiba?
-Não...
-Pra onde então?
-Rio de Janeiro.
-Nossa... Mas por que tão longe?
-Porque lá tem mais recursos...
-Entendi.
-Por isso vim me despedir de ti.
-Como assim?
-Vou morar com minha tia em São Paulo por esse tempo...
-E vai me deixar?
-Não posso ficar aqui sozinho... 
-Você não está pensando nem um pouco em mim...
-E você, está pensando em mim?
-Eu estou pensando em nós, Lucas.
-Desculpa, mas a saúde do meu pai está em primeiro lugar.
-Ah... É assim?
-Sim.
-Muito bem, nosso namoro termina aqui.
-Você tem certeza?
-Tchau, Lucas.
Quase machuquei o nariz quando ela bateu a porta na minha cara. Sinceramente, foi 
até bom terminar com esse namoro que já não me agradava mais como no início, pois o 
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carinho que eu tinha por ela estava se perdendo cada vez mais e correndo i risco de tornar 
antipatia, por conta de suas consecutivas cobranças. 
Na mesma semana eu me mudei para São Paulo, deixando minha casa com o 
coração apertado, preocupado e com medo do que me esperava por lá, pois pelo que 
falavam,não era um dos melhores lugares para se viver. 
Meus pensamentos se misturavam à angústia que apertava meu peito. Eu não sabia 
o que me esperava na cidade grande, diziam que era violenta, tinham muitos prédios altos, 
muita gente, muitos carros, diferente da vida tranqüila que eu tinha em Londrina. Fazia 
muito tempo que eu não via meus tios, ao mesmo tempo em que éramos parentes próximos, 
eu não me sentia à vontade de chegar e tirar a liberdade deles, porque de certa forma, uma 
visita quebra uma rotina familiar, mesmo sendo um parente. 
Ao chegar na cidade, fiquei assustado com o trânsito nas ruas. Muita gente 
apressada caminhando sem olhar pros lados. Os barulhos de carros, caminhões, ônibus, 
aviões que passavam, todos se misturavam tornando-se um só, causando um desgaste que 
nunca havia sentido antes. Em quase todos os quarteirões haviam construções civis, 
reformas de prédios. A impressão que dava era de que a vida não parava, trabalhando às 24 
horas do dia. 
O sol quente misturado à poluição deixava o tempo seco, prejudicando minha 
garganta. Eu olhava pela janela do ônibus e achava estar em outro mundo, dos filmes da TV 
talvez. Arranha-céus como aqueles eu só havia visto nas novelas, e ver pessoalmente para 
quem não está acostumado assusta um pouco. 
Quando cheguei na rodoviária, minha tia Helena já me esperava, toda sorridente. 
-Lucas... Aqui, querido...
-Oi tia!...
-Nossa! Como você cresceu... Está tão bonito...
-Obrigado, tia!... A senhora também está diferente...
-Está querendo dizer que eu estou velha?
-Claro que não, está muito bonita...
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-Hahaha... Obrigada... O Robson não vê a hora de você chegar...
-Sério? Como ele está, tia?
-Já está um homem, igual a você. Eu mandei fotos dele pra sua mãe ver...
-Há cinco anos atrás, né?
-Hahaha... Nossa! É verdade... O que foi?
-Nada... 
-Tem certeza?
-Humpft... To com um pouco de medo, só isso.
-Medo de quê?
-Sei lá... Olha só esse monte de pessoas nas ruas...
-Não se preocupe, quando eu cheguei em São Paulo me senti igual a você, mas fui me 
acostumando... Logo você se adapta também...
-Se a senhora diz...
-Meu carro está logo ali, vem comigo...
-Sim...
Atravessamos a rua após aguardar o semáforo fechar. De olhos escuros e a chave do 
carro balançando na mão, a tia helena atravessou a faixa de pedestre rapidamente. Tentando 
acompanhar seus passos, atravessei logo em seguida. 
-Vou abrir o porta-mala pra você guardar suas coisas.
-Obrigado!
Entrei em seu carro que estava parado no estacionamento da rodoviária. Colocamos 
o cinto de segurança e antes de sair a tia Helena comentou:
-Humpft... Esse calor está me matando. Vou deixar os vidros do carro fechados e ligar o ar 
condicionado. Tudo bem por você?
-Como quiser, tia.
-Está com fome?
-Eu comi na estrada...
-Mas comida de estrada não é comida, né? Já pedi para a empregada fazer um 
estrogonofe de frango para o meu sobrinho favorito.
-Sou seu único sobrinho, tia.
-Por isso mesmo... Gosta de estrogonofe?
-Claro!... Minha mãe fez uma vez quando a senhora mandou a receita.
-Pare de me chamar de senhora... Desse jeito me faz sentir velha.
-Desculpa.
-Está desculpado.
Fui o caminho todo calado, olhar perdido na rotina agitada lá fora. O tempo todo 
vinha à minha cabeça a imagem de meu pai, as lágrimas que descera de seus olhos ao se 
despedir antes de partir.
-Lucas... Lucas... Lucas?
-Oi, tia...
-Onde você está?
-Desculpa... Acabei me levando no pensamento.
-Pensando em quê?
-Humpft... No meu pai. 
-Meu querido, pense pelo lado bom das coisas...
-Por mais que eu tente, não tem como não ficar preocupado.
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-Humpft... Sei como é isso... Mas toda essa angústia vai passar no primeiro telefonema que 
ele fizer.
-Não vejo a hora, tia.
-Bem, Lucas... A partir de hoje, essa será sua casa por um tempo.
-Você mora nesse prédio enorme?
-Eu, o César e o Robson.
-Nossa!... É bem alto.
-Nem tanto, só tem quinze andares.
-Só? Hahaha... Que modéstia a tua...
-Se tratando de São Paulo, está dentro dos padrões normais.
A tia Helena morava em um bairro de alto padrão com meu tio César e meu primo 
Robson, em um apartamento de quatro dormitórios. A rua do condomínio era bem 
arborizada, calma, com alguns carros encostados no acostamento e vários condomínios de 
luxo. 
Chegamos no estacionamento do prédio e começamos a pegar as bagagens do porta 
mala do carro. Não eram muitas, apenas duas, pois não tinha muita coisa para trazer.
-Que cara é essa, Lucas?
-Nada não.
-Tem certeza?
-Ah tia... To com medo de não me adaptar aqui...
-Humpft... Quando eu cheguei aqui era uma caipirinha idiota, muito boba, mas não 
demorou muito me acostumei, é como eu te disse, se eu consegui você também consegue.
-Que os anjos digam Amém!
-Vamos subir... Abra a porta do elevador...
-Sim.
Ao chegar no 14º andar ela abriu à porta de sua casa pra mim. Entrei com o coração 
disparado na sala. Logo em frente à porta havia um lindo aquário com vários peixes, 
tomando parte da parede que dividia a sala de jantar com a de estar. 
Deitado no sofá estava meu primo Robson. Quase não o reconheci vendo levantar 
aquele alto rapaz. Em seguida, com um sorriso aberto ele caminhou em minha direção para 
me cumprimentar. Na hora fiquei sem graça, tímido. 
Tenho que confessar, ele estava muito bonito, mais que bonito, ele estava gostoso 
com sua tatuagem beirando o inicio do pubs à mostra. Ver aquilo fez-me despertar aqueles 
pensamentos outra vez. 
-Lucas!... Nem acreditei quando minha mãe disse que você viria pra cá...
-Pois é, nem eu...
-Que bom que você veio...
-Humpft...
Não entendia o que acontecia comigo. Quando ele me deu um abraço, até deixei as 
malas caírem ao chão. Retribui com um abraço também. Seu toque foi muito gostoso, 
dando-me até um frio na espinha. Não sei explicar por que eu sentia aquelas sensações 
estranhas. 
A grande maioria dos meninos homossexuais entre 11 - 13 anos têm consciência 
que sentem desejos homoeróticos, porém, ainda não se consideram homossexuais. Por volta 
dos 13 - 14 anos, começam a surgirem as fantasias e a compreensão desses sentimentos 
como homossexuais acontece por volta dos 15 anos.
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Definir-se como um homossexual ocorre mais tarde, em torno dos 18 anos de idade, 
adotando o estilo de vida e termo "gay" já em sua fase adulta, a partir dos 20 anos.
Dentro da minha cabeça um turbilhão de coisas deixava-me confuso, mas claro que 
não demonstrei nenhuma atitude que pudesse dar a entender esse meu “desvio”. 
-Minha mãe mandou preparar um quarto pra você, Lucas...
-Sério?
-Sim... Vem comigo que eu te mostro...
-Sim.
Olhei para a tia Helena que esboçou um sorriso e disse:
-Vá com ele, deixe que depois eu levo suas malas pra lá.
-Obrigado, tia!
Ganhei um quarto só para mim. Ao entrar, mal pude acreditar no que via à minha 
frente. Tinha uma enorme TV de 29 polegadas e tela plana, um computador, ar 
condicionado. Sobre a grande cama havia um lindo edredom xadrez, e dois macios 
travesseiros. A parede branca e texturizada deixam o ambiente amplo, alegre, com um 
guarda-roupa enorme que pegava de uma ponta à outra. Todo luxo que eu nunca tive 
quando morava no Sul com meus pais. 
Não perdi tempo e me joguei na cama. O Robson deu risada e pulou comigo. 
Aquele colchão macio faziam-me parecer estar no céu, lençóis perfumados, tinha até um 
banheiro dentro do meu quarto. 
Meus olhos brilhavam de felicidade. Aproveitei e já fui tomar um banho para me 
livrar do suor e cansaço da viagem, enquanto isso o Robson ia ajudando a Jaqueline guardar 
minhas roupas no armário. Jaqueline era uma moça que trabalhava para minha tia, muito 
bonita por sinal. 
Depois do banho, passei um óleo que estava em cima da pia do meu banheiro, em 
seguida enxuguei-me com uma toalhabem branquinha e macia. Enrolei-a na cintura e fui 
pegar uma peça de roupa no meu novo guarda-roupa. 
Logo quando saí do banheiro avistei o Robson sentado em minha cama, 
observando-me. Quando me viu seminu saindo do banheiro, reparei que ele deu um leve 
suspiro e um sorriso meio safado, mas nem levei na maldade.
-Nossa!
-O que foi?
-Eu não sabia que você estava ai...
-Por que o espanto? 
-Bem, eu...
-Ora... Deixa de ser bobo. O que você tem ai eu também tenho...
-Humpft... Está bem.
Tirei a toalha. Nu, eu escolhia uma roupa para vestir, enquanto o Robson 
permanecia no quarto, deitado em minha cama. Coloquei uma bermuda e uma regata azul. 
Passei um creme nos braços que havia na cabeceira da cama, calçando o chinelo em 
seguida.
Por um lado eu estava feliz em desfrutar de todo aquele conforto, mas por outro eu 
sentia-me um pouco estranho, uma angústia que me incomodava. Talvez o motivo fosse 
meus pensamentos que ainda estavam no meu pai, doente, longe de mim. 
Na hora do jantar eu comi uma comida maravilhosa. Minha tia estava muito feliz 
pela minha estadia em sua casa, e o tio César já fazia planos pro meu futuro. Ele queria que 
eu e o Robson tivéssemos um futuro brilhante, com sucesso pessoal e profissional. 
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Após beber um gole de água, o tio César perguntou:
-Está gostando, Lucas?
-De que, tio?
-Da cidade... Da nossa casa...
-Bom, a cidade é muito grande... A princípio eu não gostei muito não. Já da casa, eu 
adorei, muito bacana, tio... Estou muito agradecido por vocês me receberem aqui com 
tanto carinho.
Tocando em minha mão, tia Helena concluiu:
-Não tem de que agradecer, querido.
-Pode deixar, mãe... Vou tirar essa impressão dele rapidinho...
-Isso ai, filho. Leve o Lucas para conhecer as baladas, os museus, shopping...
-Deixa comigo, pai.
Depois do jantar fui pro meu quarto assistir um pouco de TV. Liguei o DVD e deitei 
em minha cama. Pra mim era tudo novidade. Tirei a camisa, a bermuda e vesti uma cueca 
samba-canção. 
Deitei todo esparramado à cama. Alguns minutos depois o Robson bateu duas vezes 
à porta, em seguida entrou no quarto, trazendo na mão direita alguns vídeos. 
-Posso entrar?
-Claro!
-Com licença... Eu trouxe aqui esses DVDs pra nós assistirmos juntos...
-Beleza.
Após encostar à porta o Robson trocou o que eu estava assistindo pelo que ele 
trouxe. Assim que a bandeja do aparelho se fechou, ele abriu à porta novamente dizendo:
-Peraê que vou buscar a pipoca.
-Ta bom.
Enquanto isso, juntei várias almofadas no chão e forrei o edredom, onde deitamos 
para assistir ao filme comendo pipoca. 
-Você já assistiu esse filme?
-Ainda não, e você?
-Também não, aluguei hoje e esperei você chegar pra assistirmos juntos.
-Obrigado pela consideração.
-Relaxa... Olha lá, começou...
No começo o filme parecia ser um pouco chato, parado. Eu que sempre gostei de 
filmes de ação, estava quase dormindo, até iniciar uma cena erótica que me deixou 
excitado, com tesão. 
Não deu pra disfarçar, porque eu estava sem camisa, apenas de samba-canção. O 
volume me denunciava, mas até então não tinha problema nenhum, estando dois homens no 
quarto não precisaria ficar com vergonha. 
Continuei assistindo ao filme até notar o Robson olhando pra mim. Inocente, nem 
dei muita atenção, até que ele tocou na minha perna, aí eu fui perceber que havia uma certa 
maldade em seus olhares pra mim. 
Naquele momento eu paralisei, fiquei totalmente sem reação. Suas mãos foram 
tocando minha perna e subindo cada vez mais. Sem saber o que fazer eu não me movi, 
apenas fechei meus olhos e não pensei em mais nada. 
O Robson pegou o controle e desligou a TV. Em seguida, levantou-se e foi até a 
porta, trancando-a para que ninguém entrasse e nos surpreendesse. Ali estávamos, só nós 
dois, iluminados apenas pela luz da janela que penetrava pela persiana. 
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Deitado sobre as almofadas, no escuro do quarto eu senti seus lábios tocarem os 
meus. Não sei explicar, mas um frio pela espinha vinha subindo e uma satisfação enorme 
tomava conta de mim. O pior era que eu estava gostando. 
Com minha mão aberta, segurei sua nuca enquanto ele me beijava com muito 
desejo. Uma de suas mãos veio deslizando por baixo da minha cueca, fazendo-me tremer. 
Recebi um abraço que jamais havia recebido antes. Foi um abraço forte, firme. Senti-me 
seguro, protegido, eu nem deveria estar gostando, pois sendo homem não poderia ter nada 
com outro homem, mas aquele beijo foi muito diferente, muito gostoso.
Empurrei meu primo pra longe de mim, pedindo para que ele saísse do quarto. Não 
sei o que deu em mim naquela hora, mas precisava interromper a pouca vergonha, afinal, eu 
estava beijando um homem, e eu aprendi que isso é pecado. 
-Chega... Sai daqui...
-Mas o que foi?
-Sai daqui... Preciso ficar sozinho...
-Fiz algo de errado?
-Por favor, me deixe sozinho?
-Humpft... Tudo bem.
O Robson me olhou triste e confuso, destrancou à porta e saiu do meu quarto, 
deixando-a meio aberta. Levantei e fechei. Encostando atrás dela e respirando ofegante, não 
sei o que deu em mim de permitir que aquilo acontecesse. Eu deveria estar ficando louco, 
não era possível. 
Corri e deitei na minha cama. Comecei a chorar. Não sei exatamente o motivo, mas 
ao mesmo tempo em que eu fazia, pensava também naquele abraço, no beijo, no cheiro. Eu 
estava ficando maluco. Aquilo estava me consumindo, principalmente pelo seu perfume 
que havia ficado na minha pele. Acabei adormecendo, pensando naquele beijo. 
Algo me perturbava, fazendo-me acordar no meio da madrugada. Aquele beijo 
mexeu comigo e não me deixava em paz, eu precisava fazer alguma coisa. Levantei-me e 
fui até o quarto do Robson. Abri à porta bem devagar, encostando-a com todo cuidado pra 
não fazer barulho. Aproximei-me de sua cama e sentei à beirada. 
Sem entender nada ele acordou e ficou me olhando. Ansioso, tentei me desculpar:
-Olha, Robson... Eu fui muito bruto com você hoje...
Antes que eu pudesse terminar ele tapou minha boca com seus dedos, olhou pra 
mim com cara de desejo e sussurrou:
-Não fale mais nada. Eu sabia que você ia voltar...
Parecia que ele já tinha planejado tudo. No breu do quarto o Robson tocou em 
minha mão esquerda, e mais uma vez me beijou. Dei-lhe um abraço, e deitamos na cama, 
nos beijando. Não demorou muito para que eu ficasse excitado. Um fogo foi subindo e me 
consumindo de tal forma que eu perdi o controle. 
O Robson não hesitou em encher a mão tocando meu pau. Arranquei sua camisa 
regata, e ele foi tirando minha cueca com o roçar de seu corpo no meu. Uma mistura de 
selvagem com romance, levando-me à loucura. 
Não parávamos de nos beijar. O clima estava esquentando. Àquelas alturas eu já não 
pensava em mais nada, deixei que o momento me envolvesse e continuei. Ele começou a 
morder minha orelha bem devagar, ao mesmo tempo dando aquelas baforadas que me 
causavam arrepio. Depois, sua boca foi descendo e passou a chupar meu pescoço. Não 
eram umas simples chupadas, mas sim “as chupadas”. 
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Nossa! Estavam me enlouquecendo. Os gemidos eram baixinhos, mas iam se 
tornando mais intensos na medida em que o tesão aumentava. Sua boca safada não parava 
quieta, vinha descendo cada vez mais. 
Quando ele chupou meu mamilo, não resisti. A provocação era demais, eu já não me 
agüentava de tanto tesão, acabei deixando escapar um grito. Não foi muito alto, mas 
suficiente pro Robson saber que eu estava morrendo de tesão. 
Quando ele ia colocar sua boca no meu pau, recuei.
Voltei pro meu quarto correndo. Encostei-me à porta com a respiração ofegante, 
tamanha era a intensidade do clima que rolava há poucos instantes. Ao mesmo tempo em 
que sentia medo, eu estava adorando. Era uma experiência nova. Uma adrenalina me 
consumia de tal modo a confundir meus sentidos.Fiquei ali parado, relembrando cada momento em que eu havia passado minutos 
atrás. Minha vontade de estar com ele novamente ia aumentando. O gosto de sua boca 
ainda estava em meus lábios, e seu perfume exalava em minha pele. Eu já não conseguia 
mais raciocinar. Não parava de pensar nele. Na sede de beijá-lo outra vez, passava minha 
língua em volta dos lábios para senti-lo um pouco mais. Olhei ao relógio e já passavam dás 
5 horas. Deitei na minha cama e adormeci pensando naqueles momentos.
É estranho você se imaginar com outro cara, justo eu que sempre fiz muito sucesso 
com as meninas. Tudo bem que às vezes eu pensava em garotos, mas até então não tinha 
problema, pois “fazer” já era um passo que ia além de pensar. Mas quer saber? Eu adorei 
sim, gostei mesmo, me senti mais seguro, algo que eu nunca havia sentido antes. O cheiro, 
a pegada firme, tudo me fazia sentir melhor. 
No outro dia, acordei com dor no pescoço por dormir de mau jeito. Levantei e fui 
tomar um banho pra ficar bem disposto. Em seguida vesti uma camisa, uma bermuda bem 
confortável e fui tomar café da manhã com todos à mesa. 
Quando tio César perguntou-me como havia sido minha noite, fique sem saber o 
que responder. Mal sabe ele que havia sido uma noite muito “prazerosa”:
-Bom dia!
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-Bom dia, Lu!
-E então Lucas... Como passou sua primeira noite fora de casa?
-Bem, tio... Estranhei um pouco no começo, mas depois acostumei.
-É normal...
-Ontem eu e o Lucas assistimos DVD e conversamos até tarde...
Adoçando seu chá, a tia Helena falou:
-Eu ouvi mesmo uma movimentação pelo corredor...
-O Lucas é bem “divertido”.
-Que bom que está se adaptando, querido... Pode me passar a manteiga?
-Claro.
O Robson falava com um sorriso bem safado, usando-se duplo sentido em algumas 
palavras. Quando ele começou a contar, eu gelei. Sentado à minha frente na mesa ele me 
olhava com desejo, deixando-me sem graça. Não contente, o Robson roçava sua perna na 
minha por baixo da mesa. Parece que ele gostava de correr certos riscos. Quase engasguei 
com o suco de acerola que bebia. 
Safado e audacioso ele começou a rir, meus tios olharam pra nós sem entender o 
que se passava. 
-Lucas, essa noite eu e seu tio conversamos bastante sobre seu futuro e o do Robson. 
Decidimos que a partir de segunda-feira vocês vão trabalhar no escritório do César, 
começarão fazendo um estagio... Agora que vocês já terminaram a escola, estão na hora 
de começarem a seguir uma profissão, e vão pensando em que curso vocês querem fazer 
que eu e seu tio vamos ajudar vocês a pagarem suas faculdades.
-Ajudar, mãe?
-Na verdade sua mãe queria que eu bancasse o curso de vocês...
-Seria uma ótima idéia.
-Sim... Mas está na hora de você adquirir responsabilidade em sua vida e aprender a 
controlar seus gastos. Lá fora não é fácil ganhar dinheiro, mas é muito fácil gastar. 
Portanto, se você quiser eu ajudo pagando uma parte.
-Por mim tudo bem, tio!
-Mas que saco.
Fiquei muito feliz com a novidade, tanto que meus pais não teriam condições de me 
dar o que eu estava recebendo na casa da minha tia. 
Após o café fui para meu quarto. Encostei à porta e entrei no banheiro para escovar 
os dentes e lavar o rosto. Quando voltei ao quarto o Robson estava esperando-me, sentado 
na minha cama. Levei um susto ao vê-lo ali, sem camisa, pele branquinha, corpinho 
definido, sem pêlos. Só de ver já fiquei perturbado.
-Percebi que você gostou da noite passada, embora teve um pouco de receio, né Luca?.
-Por que você fez aquilo?
-Porque me senti atraído por você, Lucas.
-Você é gay, Robson?
Ele caiu na risada. Deitou na cama e abraçou o travesseiro, às gargalhadas. Na hora 
até levei um susto. Confesso que essa palavra “gay” me deixava meio apreensivo. 
Simplesmente não gostava.
-Fale baixo... Sim, eu sou gay. Mas meus pais não sabem...
-Tudo bem, eu não vou contar... Humpft... Sabe... Eu confesso que gostei da noite passada.
-Claro que você gostou, eu percebi pela sua excitação, pela sua “avantajada” satisfação...
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-Pois é, eu não sei por quê, mas me senti bem... Uma sensação que nunca havia sentido até 
o momento.
-Você é tão gostosinho, Lucas!
-Pare com isso... 
Aproximando-me da janela, continuei:
-Às vezes eu sentia uma vontade de beijar o meu vizinho... Era tão estranho... No chuveiro 
eu pensava nele, aquele peitoral definido, bronzeado de sol, encostando junto ao meu... 
Aquela boca bem feita tocando a minha... Sentir aquelas mãos no meu corpo era meu 
sonho de consumo. Eu pensava nele até na cama com minha namorada, mas tinha vezes 
que eu me reprimia, chorava dias e dias por isso. Uma vez eu tentei me matar, cheguei da 
escola, escrevi uma carta de despedida e coloquei em cima da minha cama... 
-Já entendi. Você sentia atração por homens, mas não aceitava isso... 
-Humpft... É.
O Robson veio até mim e me deu um abraço. Dessa vez foi diferente, inocente, só 
carinho, sem malícia ou segunda intenção. Depois daquela conversa com meu primo, senti-
me um pouco mais aliviado. Que bom que eu pude desabafar algumas coisas que estavam 
me sufocando, e ele soube me compreender direitinho. 
Não demorou muito o Robson deixou meu quarto. Deitei na cama e fiquei pensando 
no que ele havia dito. Eu me sentia estranho, ao mesmo tempo aliviado, satisfeito. Não tem 
como explicar, só sei que eu estava muito melhor que antes.
À noite o Robson disse que iria sair. A tia Helena pediu para que ele me levasse 
junto, pra eu conhecer um pouco da cidade. Adorei a idéia, e o Robson também. 
Entusiasmado ele disse que iria me levar para conhecer às baladas. 
Eu nunca havia ido à uma balada, ainda mais na balada que ele iria me levar. 
-Mãe, daqui a pouco to saindo pra balada...
-Robson, leve o Lucas com você, ele precisa se divertir um pouco nessa cidade.
-Claro!
Fui pro meu quarto tomar um banho antes de sair. Sempre gostei de cantar no 
chuveiro, por isso não consegui ouvir o Robson entrar no quarto. Só fui perceber quando 
ele abriu à porta do box do banheiro. 
Com a cabeça cheia de xampu, levei um susto, fazendo com que caísse um pouco 
em meu olho e o fizesse arder:
-Caramba!
-Calma... Não precisa se assustar...
-Você é louco?
-Por quê?
-E se alguém nos pega aqui?
-Ué... Estamos fazendo algo de errado?
-Não.
-AINDA não, você quis dizer.
O Robson era muito safado e atrevido. Mal deixou eu falar e já foi me beijando. 
Entrou embaixo do chuveiro com roupa e tudo. Ficamos ali, nos beijando por um bom 
tempo. Quando a coisa estava começando a esquentar, pedi pra parar. Aquela boca safada 
chupava meu pescoço de uma tal maneira que me deixava anestesiado, todo arrepiado. 
Já sem roupa o Robson passava seu corpo no meu, deixando minha imaginação 
pervertidamente afiada. Que tesão! 
-É melhor a gente parar por aqui...
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Palavras intercaladas com beijos e mordidas nos lábios, ele respondeu:
-Parar... Você quer mesmo parar?...
Fiquei calado.
-Eu sabia que não... Deixe o tempo passar e vamos nos permitir aproveitar um pouco.
-Robson, você vai acabar comigo...
-Acabar como... Só se for de tanto prazer...
À noite estava linda, o céu estrelado e uma lua belíssima. Fomos a uma boate gay 
que o Robson dizia gostar muito. No começo eu fiquei com um pouco de receio, pois 
imaginava um monte de garotos afeminados dando em cima de todo mundo, transando com 
qualquer um pelos cantos do lugar. Sinceramente, pra mim uma balada gay não passava de 
suruba coletiva. 
Quando chegamos, a idéia de ambiente que eu tinha foi mudando. Fui muito bem 
recebido na portaria pelos funcionários. Era um ambiente bem sofisticado, pessoas de alto 
nível, bem vestidas, totalmente diferente da imagem que eu fazia antes de conhecer. 
Logo quando chegamos, o Robson encontrou com uns amigos seus e veio me 
apresenta-los, que por sinal eram muito bonitos,aliás, na boate só tinha gente bonita. 
Andava pelo lugar e observava o ambiente. Quanta gente beijando pessoas do mesmo sexo! 
A primeira vista eu me assustei. Nunca havia presenciado dois homens se beijando sem 
vergonha do que estavam fazendo perante as pessoas, mas depois acabei me acostumando, 
afinal, para todo mundo que estava ali isso era normal, e eu era quem tinha que controlar 
meu preconceito. 
Fiquei observando eles, ali se beijando, e não demorou muito me deu uma vontade 
de beijar também. Aquele casal parecia se conhecer há algum tempo, pois se tratavam com 
intimidade. Um deles era muito bonito, cabelo espetado, bem vestido, moreno de olhos 
puxados. 
Só me dei conta que estava sozinho quando olhei para o lado e não vi mais meu 
primo nem seus amigos. Fiquei com medo de me perder, então sentei-me em uma das 
mesas e permaneci ali, observando todo o movimento do lugar. 
Não demorou muito e um rapaz se aproximou de mim dizendo:
-Com licença, você está acompanhado?
-Sim, mas acredito que ele vai demorar a voltar.
-Posso me sentar com você?
-Fique à vontade.
-Você namora há quanto tempo?
-Não namoro mais, tive que deixar minha namorada e vir morar com meus tios.
-Mas você não disse que estava acompanhado?
-Estou, vim com meu primo.
Ele começou a rir. Eu não entendi nada, afinal, eu era novo nesse “meio”. Pouco 
compreendia o que as pessoas falavam, muitas gírias diferentes das que eu costumava 
ouvir. 
-Qual seu nome?
-Sou Lucas, e você?
-Prazer, meu nome é Dênis! Você não é de São Paulo, certo?
-Não, sou de Londrina.
-Notei pelo sotaque.
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Ficamos conversando por um bom tempo sentados à mesa. O Dênis era um rapaz 
muito simpático e divertido. Seu jeito descontraído me deixou mais à vontade, permitindo 
assim um diálogo informal. 
Com paciência ele me explicou algumas gírias que o pessoal utilizava em São 
Paulo, assim eu conseguiria compreender o linguajar dos jovens da minha idade e não ficar 
tão perdido. 
Ao mesmo tempo em que conversávamos, eu olhava de um lado para o outro 
procurando pelo meu primo, mas nada de encontrar. A música estava empolgante e a pista 
dava pra ver que estava lotada através vidro que a separava do mezanino. 
O Dênis era um rapaz muito bonito. Tinha um estilo mauricinho, mas não 
transparecia traços afeminados, o deixando fora das suspeitas de ser gay. Um sorriso de 
anjo iluminava sua face, e a voz grave formavam o contraste perfeito. O perfume era 
moderado, podendo sentir de perto, mostrando assim que ele tinha bom gosto.
Depois de um tempo eu comecei a me familiarizar com o ambiente, sentindo-me 
mais à vontade também, até o momento em que o Dênis olhou em meus olhos e disse: 
-Lucas...
-Eu?
-Posso te dar um beijo?
A saliva passou pela minha garganta raspando. Eu não sabia para onde olhar. 
Àquelas alturas eu já deveria estar vermelho como um pimentão, tamanha foi minha 
vergonha. Senti minha pele amolecer e meus lábios ressecarem. 
Olhei pra ele com os olhos estufados, sem saber o que responder.
-Desculpa ser direto assim... É que fiquei muito a fim de você.
Confesso que eu também me senti atraído por ele, mais pelo seu jeito de ser, embora 
eu ainda estivesse um pouco apreensivo por ser a primeira vez que recebia uma indireta tão 
direta de um cara. Na hora eu não soube como agir.
Sua pele morena de sol, um pouco mais baixo que eu, cabelo liso com topete 
espetadinho e luzes. O que mais me encantou foram àqueles olhos negros e expressivos que 
me olhavam de uma tal maneira a me tirar um raio-x por completo. 
Claro que ele notou minha falta de jeito para esse tipo de situações, e foi aí que ele 
puxou sua cadeira pra perto da minha, olhou dentro dos meus olhos, tocou em minha face 
com sua mão esquerda e fechou seus olhos. 
Tremi. Pouco a pouco o Dênis foi aproximando seu rosto do meu e encostando sua 
boca à minha. Primeiro um selinho delicado, e lentamente ia abrindo sua boca, tornando o 
beijo cada vez melhor e mais intenso. Alternava entre o seco e molhado. Enquanto nos 
beijávamos, carícias no rosto e na nuca rolavam de ambas as partes. 
Não sei como explicar, mas aquele beijo foi sublime. Seu perfume ficou na minha 
pele e o cheiro de sua respiração servia de estímulo para que o clima continuasse. Em meio 
aos beijos intercalados com mordidas nos lábios ele ruborizava. Àquelas alturas o Dênis já 
estava ofegante. 
Foi muito bom. Ficamos conversando e nos beijando a noite inteira quase, até o 
Robson aparecer de mãos dadas com um garoto.
-Opa... Vejam só...
Ao me ver junto com o Dênis ele ficou surpreso, mas ao mesmo tempo aparentava 
estar feliz por mim. Abusado como ele só, já foi tomando a iniciativa e se apresentou ao 
Dênis:
-Não perdeu tempo, né Lucas? Meu nome é Robson, sou primo do Lucas... Prazer.
20
-Prazer... Dênis.
-Lucas, daqui a pouco vamos embora...
-Tudo bem.
-Deixa eu te apresentar... Esse é o Gabriel.
-Beleza?
-Tudo bacana.
-Vou dançar um pouco na pista e depois eu volto pra te buscar.
-Ta bom.
Depois de abraçar o garoto, o Robson e o Gabriel seguiram para a pista. Tocando 
em minha mão e virando meu rosto pra si o Dênis disse:
-Posso te beijar outra vez, Lucas?
-Pode.
Lentamente ele tocou meus lábios com os seus, assim ficamos nos beijando por 
mais um tempo. O jeito que ele tocava, estava me deixando louco. Era um toque leve, mas 
ao mesmo tempo firme, sabia onde pegar. 
Na hora de ir embora, ofereci carona para ele que aceitou numa boa. Ainda dentro 
do carro fomos nos beijando, até o deixarmos na estação do metrô mais próxima. 
-Obrigado, pessoal!
-Por nada.
-Falou cara.
-Tchau.
Cheguei em casa e seu perfume ainda estava em minha roupa, em minha pele. 
Respirei fundo e percebi o quanto é bom você poder beijar alguém sem se preocupar com 
quem está olhando ou pensando, nos livrando do peso na consciência por achar que 
estamos fazendo algo de errado, quando na verdade não é. 
Ao entrar no quarto, encostei a porta e fui direto tomar um banho. Aproveitei para 
descarregar meu tesão acumulado da noite toda. Eu ainda estava meio confuso, mas em 
momento algum arrependi-me do que havia feito. 
21
Depois do banho me enxuguei e fui deitar-me, sem roupa, pois desde o início da 
adolescência eu tinha o costume de dormir nu em noites de verão, às vezes de cueca. 
No outro dia acordei com o Robson me chamando dentro do quarto. Levantei da 
cama correndo, procurando uma toalha para me cobrir, pois fui pego de surpresa:
-Lucas, acorde...
-Caramba!
-Calma, não precisa esconder... Eu já vi outros desses, ta certo que o seu é tudo de bom, 
isso eu não posso negar...
-Você está me deixando sem graça, Robson.
-Com o tempo você acostuma... Como foi com o Dênis ontem? 
-Foi ótimo. adorei!
-Quando é que vocês irão se ver outra vez?
-Não sei.
-Como não sabe?
-Não sei, como vou encontrá-lo?
-Vocês não trocaram telefones? E-mail?
-Não decorei o telefone daqui, e nem sei mexer em computador...
-Precisa aprender, Lucas... Humpft... Vem aqui que eu te ensino.
O Robson ligou o computador, puxou uma cadeira junto à minha e começou a me 
ensinar como usar a internet. Criou uma conta de e-mail pra mim. Depois entramos no 
bate-papo, visitamos alguns sites picantes e baixamos algumas músicas. Navegar na web 
era mais fácil do que eu pensava, peguei o jeito rapidinho e comecei a utilizar sozinho.
-Você bobiou com o garoto, né?
-Por quê?
-Ele era muito gatinho, parecia ser muito legal também...
-O Dênis é muito bacana.
-Olha só como você fala?
Dando-lhe um empurrão, falei:
-Quer parar?
-Você fala com tanta calma, tranquilidade...
-Você queria que eu falasse como?
-Bom, eu no seu lugar estaria desesperado... Odeio perder oportunidades de ser feliz.
-Até parece que agora você tem o poder de prever a felicidade dos outros...-Não custa tentar, né?
-Humpft... 
Indicando com o dedo na tela, o Robson chamou-me atenção:
-Dê uma olhada no nick desse cara...
-Qual deles?
-O G@toS@r@do...
-O que tem ele?
-Provavelmente ele já entrou na intenção de encontrar alguém pra fazer sexo.
-Como você sabe?
-O próprio apelido dele na sala insinua que ele tem beleza e um corpo malhado, ou seja...
-Credo!... Vem cá, é fácil de conseguir arrumar alguém pra transar nessas salas de bate- 
papo?
-Muito fácil. As pessoas só entram aqui pra procurar sexo, dificilmente tem alguém 
procurando fazer amizade... Quer ver?
22
-Uhum...
RoBsOn fala pra G@toS@r@do: Blz cara? 
G@toS@r@do fala para RoBsOn: fmz... o q curte?
Confuso, perguntei ao Robson:
-O que ele quis dizer com isso?
-Quer saber o que eu faço na cama. Se sou ativo ou passivo.
-Ah...
RoBsOn fala para G@toS@r@do: eu curto um sexo bem gostoso e vc?
G@toS@r@do fala para RoBsOn: eu tb... tem local?
RoBsOn fala para G@toS@r@do: topa motel?
-Você vai sair com ele?
Gargalhando ele respondeu:
-Claro que não, só estou zoando...
-Parece que ele ficou muito a fim de sair com você.
-Ele só está a fim de gozar... Vai querer sair com ele?
-Ta louco? 
Levantando-se da cadeira o Robson falou:
-Bom, então fique ai se divertindo um pouco...
-Aonde você vai?
-Vou telefonar pro meu gato.
-Pra quem?
-Para o Gabriel...
-Nossa!... Pelo visto você está confiante com esse garoto, né?
-Espero que agora eu tenha acertado na felicidade.
-Humpft... Vou torcer por você.
-Obrigado.
Não sei por quê, mas não fui muito com a cara do Gabriel, porém, não tive coragem 
de dizer ao Robson, pois ele estava tão feliz que fiquei com receio de magoá-lo. Pode ser 
que fosse apenas implicância minha, talvez um ciuminho da minha parte pra cima do meu 
primo, mas se esse garoto fosse fazê-lo feliz, o máximo que eu poderia fazer era desejar 
sorte.
Enquanto o Robson foi ligar para o seu mais recente amor, continuei conversando 
com alguns caras no bate-papo. Ter um diálogo com eles era um pouco difícil, pois só 
estavam a fim de sexo, além de usarem certos termos que eu não conhecia. Foram poucos 
os caras que consegui ter um papo cabeça, até cheguei a trocar e-mail com um deles. 
Depois de ficar quase duas horas na frente do computador, deixei em modo de 
espera e fui vestir uma roupa, indo tomar café da manhã logo em seguida.
-Bom dia!
-Bom dia, Lucas! Você viu o Robson?
-Eu acho que está no quarto dele, tia...
-Deixa que daqui a pouco ele vem, Helena. Como foi a balada ontem?
-Foi bacana, tio...
-Conheceu alguma garota?
23
Na hora eu não sabia o que dizer. Fiquei vermelho de vergonha. Meu tio também 
tinha que fazer esse tipo de pergunta na mesa do café? Sorte foi que minha tia interrompeu 
o assunto e o Robson chegou em seguida, mudando assim o rumo da conversa:
-César, você não está vendo que ele é tímido?
-Mas o que foi, Helena?
-Não fique fazendo esse tipo de pergunta idiota para o garoto...
-Bom dia pai, bom dia mãe!
-Bom dia, meu filho.
-Bom dia!
-Não tem torta de maçã?
Mordendo uma torrada, a tia Helena respondeu:
-Hoje não.
-Que droga!
-O que é isso, Robson?
-Isso o quê?
-Você anda muito malcriado.
-Não começa me alugar, mãe.
Tentando evitar um conflito, mudei o assunto:
-Chega... Vamos falar de coisas boas? É amanhã que a gente começa a trabalhar com o 
senhor, tio?
-Com certeza. Vão ter que acordar cedo, vestir terno e gravata...
Sem graça, respondi:
-Mas... Eu não tenho terno nem gravata...
Tocando em minha mão, a tia Helena respondeu:
-Não tem problema, Lucas. Depois o Robson vai levar você ao shopping e lá vocês 
compram...
-Eu vou levar?
-Claro que vai...
-Se o Robson não quiser ir, tudo bem, tia... É só me ensinar o caminho que eu vou 
sozinho...
-De jeito nenhum, o Robson vai te levar.
-Relaxa, Lucas... A gente vai dar umas voltas no shopping mais tarde. Aproveitamos e 
pegamos um cinema...
-Tudo bem.
-Aproveite e compre um celular para o Lucas também, ele vai precisar...
-Claro, pai!
-Posso comprar um tênis novo?
-Você já tem muitos tênis, Robson...
-Tudo bem, deixa pra lá.
Terminamos de tomar nosso café da manhã falando sobre trabalho, em como seria 
nosso primeiro dia na empresa. Confesso que fiquei muito empolgado com a idéia de 
trabalhar em um escritório com meu tio e meu primo, ganhar uma grana boa, também 
podendo estudar. Passei a sonhar com um futuro promissor. 
Levantei da mesa e voltei para meu quarto. Sentei-me à beirada da cama e olhei para 
o retrato que estava no criado mudo, onde eu e meus pais estávamos abraçados como uma 
família feliz, sorrindo, contentes, momentos raros de serem vividos nas situações em que eu 
me encontrava. 
24
Enquanto me arrumava, o Robson foi ligar para o Gabriel e convidá-lo para ir 
conosco ao shopping. No princípio não gostei muito da idéia, pois ficar segurando vela pros 
outros não era comigo.
-Lucas, já está pronto?
-Só vou passar um pouco de gel no cabelo...
-Tudo bem, vou te esperar na garagem...
-Certo... Já estou descendo.
Fui até o banheiro pulando em uma perna só, pois ainda calçava o tênis. Olhei bem 
pro meu rosto no espelho e pensei em desistir de ir, desanimei. Eu não estava a fim de olhar 
pra cara do idiota do Gabriel. Tudo bem que eu nem cheguei a conhecer o cara direito, mas 
não adiantava tentar, algo nele não me agradava. Sendo assim, resolvi assumir minha 
implicância com ele e pronto. 
Voltei pro quarto na intenção de ligar no celular do Robson avisando que não iria 
mais com eles. Tirei o telefone do gancho e antes que eu pudesse discar, minha tia entrou 
com o telefone da sala à mão. 
Estampando um sorriso na face ela me entregou o aparelho. Peguei o telefone de sua 
mão e sentei na cama para atender:
-Lucas!... 
-Entre, tia...
-Sua mãe ao telefone...
-Minha mãe?
-Sim!
-Passe pra cá... Alô?
-Filho?
-Oi mãe!
-Como você está?
-Eu estou bem, na medida do possível...
-Como assim? Lucas... Está acontecendo algo contigo?
-Não, mãe... Fique tranqüila. Como estão as coisas por aí?
-Eu e seu pai chegamos ontem aqui no Rio...
-Como o pai está, mãe?
-Continua na mesma, amanhã ele vai passar com o médico pra marcar o início do 
tratamento.
-Tenho certeza de que vai dar tudo certo.
-Estamos todos esperançosos... Sua tia me contou que você vai trabalhar com o César...
-Contou?
-Estou tão orgulhosa de você, Lucas... Quando contar isso ao seu pai ele vai ficar muito 
feliz...
-Pois é...
-Filho, agora preciso ir.
-Tudo bem, mãe. Te amo!
-Eu também, meu filho. Fique com Deus.
-Tchau!
Desliguei o telefone super feliz, com um alívio completo da alma. Falar com minha 
mãe foi o incentivo que eu precisava. Peguei um boné dentro do armário, coloquei na 
cabeça e me despedi da tia Helena.
-Tia... Estou de saída...
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-Cuidado, Lucas...
-Tomarei... Já coloquei o telefone no lugar.
-Obrigada!
-Tchau.
Chegando no estacionamento, avistei o Robson que já estava dentro do carro, 
falando ao celular. Claro que nem me dei ao trabalho de adivinhar quem era do outro lado 
da linha, e pelo tom de voz que ele usava e a forma com que falava, estava obvio demais.
-Podemos ir, Robson?
-Gato, vou ter que desligar, te espero lá, ok? Beijão... Pronto, Lucas.
-Já?
-Sim... Põe o cinto.
-Só não quero demorar por lá, Robson.
-Pare com isso, Lucas. Vamos nos divertir um pouco... Acho que você está precisando de 
um amor...
-Sem comentários.
-Estou errado?
-Muito infeliz essa sua observação.
-Ué... Mas por quê?
-Não me faça ser grosseiro.
-Humpft... Tudo bem, desculpa.
Ao chegarmos, fomos procurar uma vaga no estacionamento para deixar o carro. 
Naquele dia o shopping parecia lotado, pois estava praticamente impossível de encontrar 
uma vaga.
Eu sempre detestei multidão. Muita gente aglomerada me fazia sentirmal. Depois 
de finalmente estacionar o carro, seguimos direto para o cinema, encontrar o Gabriel que 
aguardava pelo Robson em frente à bilheteria. 
Cumprimentei o Gabriel apenas por educação, pois não via a hora de comprar logo 
o que precisava e ir embora. 
-Oi amor!
-Oi meu gato!... Tudo bem, Lucas?
-Beleza.
-Pra onde vamos, Ro?
-Vamos comprar algumas roupas e um celular...
-E depois?
-Depois...
Caminhando em direção à escada rolante, respondi:
-Depois eu vou embora e vocês decidem o que farão. Podemos ir logo, Robson?
-Calma, Lucas. O que você tem hoje?
-Humpft... É melhor não perguntar o que você não está preparado para ouvir. 
Eu caminhava atrás do casal, para assim evitar qualquer contato com o Gabriel. 
Perdido em meus pensamentos, fiquei imaginando como estariam meus pais no Rio de 
Janeiro. A sua adaptação, tentando imaginar se meu pai conseguiria viver em um ambiente 
tão diferente do nosso. 
Paramos em frente a uma grife de roupas sociais. Só de olhar pela vitrine percebi 
que os preços estavam praticamente colados no teto, de tão caros que eram. Pensei em 
desistir de entrar quando vi uma camisa que custava praticamente o valor da minha 
26
bicicleta, mas o Robson insistiu dizendo que era naquela loja que iríamos gastar, então não 
dei palpite em nada, tentando não contrariar para assim, ir embora mais rápido.
-Vamos ver nessa loja... Boa tarde!
-Boa tarde! Em que posso ajudar?
-Veja alguns ternos para meu primo, gravata, sapato, cinto...
-Podem me acompanhar?...
-Sim.
Provei vários ternos. Nunca tinha me olhado no espelho de social. Modéstia à parte 
eu fiquei bonito, arrancando um suspiro da vendedora, que tentou disfarçar, mas eu já havia 
percebido.
Com a maior cara de pau o Gabriel fez-me um elogio:
-Nossa... Como você ficou bonito, Lucas!
-Já to com ciúme, Gabriel.
-Que isso, amor...
-Acho que vou levar um pra mim também... O que acha?
-Eu acho que você vai ficar lindo também.
Fingi que nem ouvi o comentário do Gabriel e continuei a provar as outras peças 
que a vendedora trouxe. Enquanto o Robson foi vestir um terno na cabine, eu separei todas 
as peças que já havia provado, entreguei para a vendedora que os reservou em cima da 
mesa, perguntando-me em seguida:
-Gostou?
-Ficaram legais, vou levar.
-Todas?
-Sim.
Enquanto ela foi marcando tudo no seu bloco de notas e separando as peças, o 
Gabriel aproximou-se de mim e começou a puxar assunto, tirando a minha paz e testando 
minha paciência:
-Ficou muito bonito vestido de social, Lucas.
-Humpft... Não mereço, mas agradeço.
-Claro que merece... Você parece não ir muito com a minha cara, né?
-Boa observação a sua.
Parado a minha frente, questionou:
-O que eu fiz pra você?
-Vamos mudar de assunto?
-Nossa, Lucas!... Me sinto tão mal com isso... Se eu te fiz alguma coisa de ruim, peço 
desculpas. 
-Não... Você não me fez nada de ruim. 
-Só não queria que ficasse esse clima chato entre nós...
-Desculpa, mas não me peça para ser seu amigo, pois não te suporto.
-Caramba! Você é muito sincero, Lucas.
-Demais.
Antes que o Gabriel pudesse retrucar, o Robson chegou:
-Sobre o que vocês estão falando?
-Bem...
-O Gabriel estava elogiando as roupas...
-Sério, mô?
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Sorte a minha que o Robson chegou na hora certa de interromper aquele diálogo 
estúpido. Eu já estava quase quebrando a cara do Gabriel, mas não entendia o por quê tinha 
tanta raiva dele assim. Até tentava entender, porém, algo em mim me dizia que ele não era 
uma pessoa confiável. 
Depois de comprar as roupas eu pedi para o Robson me levar pra casa. Maldita foi a 
hora em que fui cogitar essa hipótese. Quase que instantaneamente eles começaram a 
resmungar, pois ainda queriam ir ao cinema e por incrível que pareça insistiram que eu 
fosse, mas é claro que eu recusei. Já havia feito o sacrifício de comprar roupa junto com 
aquele idiota, imagine segurar vela para dois marmanjos dentro de uma sala de cinema. 
Ridículo.
-Lucas... Espere...
-Desculpe, mas não aguento mais esse ambiente. 
Percebendo que eu iria embora de qualquer jeito, o Robson acabou deixando-me na 
portaria do prédio, dizendo que iria dar uma volta com Gabriel. Peguei as sacolas do porta-
mala e subi para o apartamento, louco para me trancar no meu quarto. 
Tinha vezes que eu parava pra pensar e não me conformava em como pudesse 
existir pessoas tão estúpidas como o Gabriel, sem contar sua cara de pau de ir falar comigo 
como se fossemos amigos íntimos. Isso me deixava mais puto ainda.
Três meses se passaram e minha vida parecia estar se ajustando. Durante esse tempo 
tirei minha carteira de habilitação, fiz vários amigos na Internet. Toda semana eu falava 
com a minha mãe, e as notícias sobre meu pai eram boas. Pelos passos que as coisas 
andavam, voltaríamos pro Sul muito antes do que esperávamos.
O carnaval estava chegando. Tive uma semana sem aulas na faculdade. Em uma 
terça-feira à tarde entrei na internet e não permaneci por muito tempo, pois não havia nada 
de interessante. 
Quando estava saindo da sala de bate-papo, um garoto me chamou pra teclar. Como 
eu já não estava mais com saco pra ficar em chat teclando com alguém, trocamos e-mail e 
passamos a conversar por lá. 
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Depois que inventaram o e-mail com certeza facilitou a vida de muita gente. As 
correspondências chegam na hora, a comunicação fica mais rápida, uniu distâncias 
literalmente. 
Passei a conversar com aquele garoto por dias. Ele era adorável, muito simpático, 
divertido, e disse que adorava carnaval. Depois de conversarmos por quase quinze dias, 
marcamos um encontro no shopping. Seria meu primeiro encontro com alguém que eu 
conhecia via internet. Fiquei com um pouco de receio, mas também na expectativa de 
encontrar alguém legal. 
Cheguei dez minutos adiantados. Comprei um milkshake e sentei-me à uma mesa na 
praça de alimentação. Fiquei ali, ansioso esperando por ele. Quando meu relógio marcou a 
hora combinada, minha barriga começou a doer, minhas pernas tremeram. Comecei a suar. 
Não sei se isso acontece só comigo, creio que deve acontecer com várias pessoas quando 
vão ao primeiro encontro com alguém. 
A gente fica imaginando as pessoas de todas as formas, tentando adivinhar qual 
perfume será que ele usa, estilo de roupa, se tem bom papo, entre outras inúmeras coisas.
Esperei durante vinte e cinco minutos. Foram os minutos mais longos de minha 
vida. Quando já não agüentava mais esperar, escutei alguém pronunciando meu nome:
-Lucas?
-Você é o André?
-Sim, tudo bom?
-Tudo ótimo.
-Desculpa o atraso, é que acabei tendo uns problemas em casa...
-Sem crise.
-Podemos ir a um lugar mais calmo para conversarmos?
-Podemos.
Saímos do shopping e fomos dar umas voltas de carro pelas ruas da cidade.
-Me fale um pouco de você, Lucas?
-O que você gostaria de saber?
-Tudo!
-Hahaha... Tudo bem, pode perguntar então.
-O que você gosta de fazer nas horas vagas?
-Eu gosto de cinema, adoro teatro, gosto de futebol...
-Pena que não gosta de carnaval...
-Não é que eu não gosto de carnaval... Eu gosto sim, o que eu não gosto é essa pouca 
vergonha que se tornou...
-Nossa!
-Antes o carnaval era uma festa onde todos podiam participar, de qualquer idade e 
religião, hoje em dia os propósitos mudaram, as pessoas usam o carnaval pra encher a 
cara, ficar pelado mostrando o corpo, sair facinho beijando todo mundo...
-Por um lado você tem razão...
-A festa em si, eu gosto sim.
-Você já terminou a escola, Lucas?
-Terminei um pouco antes de vir pra São Paulo, e você?
-Ainda estou terminando.
-Repetente!
-Eu não repeti, parei de estudar por um ano.
-Fez mal...
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-Fiquei arrependido, mas já passou. De qual cidade você veio?
-Londrina.
-Faz quanto tempo que você está em São Paulo?
-Cheguei em novembro do ano passado...
-Engraçado...
-O que é engraçado?
-Você nãotem sotaque do Sul, só conversando muito tempo com você pra perceber uma 
pequena diferença na maneira de falar...
-Eu me adapto fácil. No começo fiquei com um garoto que percebeu, mas agora já não é 
tão perceptível assim...
Depois de rodar por um tempo, parei o carro em uma rua atrás do shopping. Estava 
um pouco escura. A tia Helena havia me emprestado seu carro, por isso tratei de tomar o 
maior cuidado com ele. 
À noite estava agradável. Lá fora ventava um pouco, a rua estava deserta. Com os 
vidros filmados não era possível nos ver dentro do carro, cujo deixei tudo apagado. Liguei 
o rádio bem baixinho e coloquei pra tocar “As brigas que perdi – Pato Fu”. 
Conversamos durante um bom tempo. O André era um garoto meigo, mas não no 
sentido de delicado, pois ele era bem molecão, não aparentava nem de longe ser gay, mas 
sim na maneira de falar das coisas, na doçura que ele tinha nos olhos. Não sei explicar, era 
algo muito cativante que vinha dele. 
Antes de irmos embora ele tocou em minha mão. Com a outra o André pegou por 
trás da minha cabeça e a puxou para perto de si, aproximando nossas bocas, pouco a pouco. 
Meu coração quase saiu pela boca. Eu não sabia nem o que dizer. 
Olhando dentro dos seus olhos eu notava seu desejo. Sussurrando em meu ouvido, 
ele perguntou:
-Posso te beijar?
Não consegui responder, apenas fiz sinal com a cabeça dizendo que sim. Após 
molhar os lábios com a língua, o André fechou seus olhos e veio lentamente encostando sua 
boca à minha. Permaneci de olhos abertos, vendo o cuidado que ele tinha e o romantismo 
de beijar alguém, com jeitinho, carinho. Aos poucos fui fechando meus olhos e me 
deixando levar pelo clima. 
No início fiquei um pouco tímido, reação normal com todo mundo que vai ao seu 
primeiro encontro com alguém que conheceu pela internet. A música de fundo 
proporcionava um clima ainda mais romântico. Aquelas mãos grandes tocavam minha 
barriga, deixando-me pirado. 
Quando estávamos no maior clima, meu celular tocou. Era minha tia preocupada 
comigo. Avisei que estava tudo bem e que logo estaria voltando para casa. Ela cuidava de 
mim como se fosse minha mãe, preocupada com o horário e os locais aonde eu ia, pois em 
uma cidade grande como São Paulo, a violência não é algo que se deva desconsiderar. 
Desliguei o celular. Para despedir-me do André, iniciei um longo beijo. 
-André, vou precisar ir embora, já está ficando tarde...
-Tudo bem, a gente se encontra outra hora.
-Quer que eu te deixe em casa?
-Não precisa. Pego o metrô aqui, é rapidinho.
-Tem certeza?
-Tenho sim, Lu. Muito obrigado pela noite.
-Eu que agradeço.
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-Tchau.
-Falou.
Era impossível esquecer os beijos daquela noite, os abraços, o gosto de seus lábios 
ainda impregnado aos meus. Sempre fui um cara muito intenso. Gostava de aproveitar os 
momentos ao máximo possível, e enquanto rolava o clima no carro fiz questão de fazer 
tudo que me deu vontade no momento. Acho que todo mundo deveria fazer o mesmo, pra 
depois não ficar com aquela perturbação na cabeça, ou arrependido pelo que não fez. 
Cheguei em casa e minha tia esperava por mim na sala. Levantando-se do sofá ela 
falou:
-Lucas, preciso que você vá comigo ao supermercado.
-Ué... Agora?
-Sim.
-Humpft... Tudo bem, tia. Deixa eu pegar um casaco...
-Não precisa, não vamos demorar.
-Mas à uma hora dessas, tia? Não acha que está um pouco tarde para fazer compras?
-É que lembrei que não temos nada pra comer no café amanhã...
-Ok, vamos lá então.
Não entendi o por quê de ter chamado justo a mim para ir, ao invés de levar a 
Jaqueline, empregada da casa. 
Pegamos o elevador e fomos até a garagem do prédio. Seguimos em direção a um 
carro novo. Achei estranho. Entregando-me a chave a tia Helena pediu para que eu o 
dirigisse, pois estava com sua tendinite atacada. Até então não vi problema algum. 
Provavelmente ela havia trocado de carro.
-Lucas, pegue a chave e abra o carro. Dirija você porque estou com tendinite.
-Cadê seu carro tia?
-Está na sua frente.
-A senhora trocou de carro?
-Esse carro não é meu, Lucas. É seu.
-Meu? 
-Sim, agora que você tirou sua carteira de motorista, eu e seu tio estamos te dando um 
carro de presente.
-Caramba! Obrigado, tia...
-Claro que será você quem irá pagar. Trabalhando com seu tio, estudando e tirando notas 
boas na faculdade.
-Nem sei como agradecer...
-Agradeça estudando, trabalhando, crescendo como pessoa. Quero ver você e o Robson 
formados, dois homens de verdade.
-Pode deixar, tia. Nunca irei te decepcionar.
Meus olhos brilharam naquele momento. Acabava de ganhar um carro do ano, 
filmado, preto, todo equipado. Parecia um sonho. Graças a Deus meus tios eram muito 
bons, e pensavam no meu bem estar. Não esperava ganhar um automóvel deles, pois só o 
fato de me receberem em sua casa, já era muito gratificante pra mim. 
No outro dia acordei cedo com o Robson me chamando. Eu já estava até me 
acostumando, pois quase todos os dias ele acordava-me pulando à minha cama, me batendo 
com o travesseiro. 
Às vezes eu ficava puto com suas brincadeiras, mas só de olhar para aquela carinha 
de cachorro abandonado que ele fazia, acabava o perdoando.
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-Bom dia, Lu! Está na hora de acordar... Vamos, levante...
-Calma.
-Opa!... Ainda não acostumei com a idéia de que você dorme pelado, sempre esqueço...
-Qualquer hora você vai ter uma surpresa...
-Uau... Que tipo de surpresa?
Levantando da cama ainda pelado, segui em direção ao banheiro dizendo:
-Se é surpresa eu não vou contar.
-Hum... Adoro esse tipo de mistério.
-Por que você veio me acordar à uma hora dessas?
-É que estou indo pra academia. Pensei que você poderia ir comigo, é chato malhar 
sozinho...
-Humpft... Tudo bem, deixa eu tomar um banho antes, ta?
-Obaaaaaa... Vou te esperar lá na sala, então.
-Ta certo.
Já no banheiro, antes de entrar no chuveiro fui fazer a barba. Eu não gostava muito 
de fazer com água quente, pois ardia muito minha pele, e depois, o pêlo nascia encravado, 
fazendo-me sofrer. 
Após deixar o rosto lisinho, entrei no box e liguei o chuveiro. Esperei a água 
esquentar pra poder entrar, pois banho para mim tinha que ser em “ponto de canja”. 
Enquanto passava xampu no cabelo, fiquei relembrando à noite anterior, passado na 
companhia do André. 
Não demorou muito para que eu ficasse excitado. Por conta das encoxadas, acabei 
ficando com as partes um pouco doloridas, precisando dar uma aliviada, aproveitando que 
estava no banho. 
Distraído com o ato, acabei esquecendo de trancar à porta, e só percebi esse detalhe 
quando fui surpreendido pelo Robson, que olhando-me falou:
-Se eu não estivesse namorando, te ajudaria com todo prazer...
-Caramba!
-Você demorou muito, vim ver se estava vivo.
-Poderia ter batido na porta antes, né?
-Se você tivesse a deixado fechada... Humpft... Desculpa.
-Agora já foi, né?... Já terminei de tomar banho mesmo.
-Sei...
Colocando o sabonete de volta ao suporte, disse:
-Quer parar?
-Já parei.
-Pega a toalha pra mim?
-Opa!... Toma.
-Obrigado!
Encostando-se à porta, o Robson questionou:
-Você vai demorar muito?
-Por quê? Está com pressa?
Já no quarto, ele respondeu:
-Não, só perguntei... Você é tão cheiroso...
-É?
-Sim... Na cama é muito gostoso também... 
-Pare com isso, você está me deixando sem graça.
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-Desculpa. Podemos ir?
-Podemos.
Deixamos o apartamento e pegamos o elevador até o estacionamento. O Robson que 
foi dirigindo o carro até a academia, pois ele quem conhecia o trajeto. No caminho, 
conversávamos sobre varias coisas:
-Gostou do carro novo?
-Adorei!
-Nossa, quando eu ganhei o meu, fiquei bobo. É muito boa a sensação...
-É...
-Na primeira semana eu estreei...
-Imagino... Gastou um tanque de combustível andando pela cidade inteira...-Estou falando no sentido “prazeroso”. 
-Como assim?
-Ah... Na época eu namorava, né...
-Pode parar, já entendi.
Chegamos na academia. O Robson deixou o carro no estacionamento em frente e 
seguimos para a entrada principal. Logo na recepção as meninas me atenderam super bem, 
e meu primo facilmente conseguiu convencer-me a fazer minha matricula para malhar junto 
com ele. Claro que com a ajuda das meninas da recepção.
-Que bom que vamos malhar juntos!
-Espero não me arrepender depois...
-Claro que não vai... 
Apontando para um rapaz, o Robson comentou:
-Ta vendo aquele professor?
-Sim. O quê tem?
-Eu pago um pau pra ele. O cara é tudo de bom... As meninas daqui arrastam um 
caminhão por ele...
-Bem... Ele parece ser gostoso mesmo.
-Se ao menos ele me desse sopa...
Dando-lhe um empurrão, falei:
-Esqueceu que você namora?
-Claro que não. Estou falando da época que eu era solteiro...
-Hahaha... Sei...
Não serei hipócrita em dizer que o professor da academia não era gostoso, pois ele 
era demais, mas foi um exagero da forma que o Robson contou. Tudo bem que pro Robson 
o Glauco era um Deus grego, talvez fosse também para aquelas meninas que ficavam se 
jogando pra cima do coitado, porém, pra mim era um cara normal. 
Saindo da academia dei uma passada em casa, depois fui encontrar com o André 
antes de ir à faculdade.
-Oi Lu!
-Oi André, tudo bem?
-Tudo... Quer dizer...
-Você não parece estar muito bem. Aconteceu algo?
-Sabe, Lu... Às vezes eu me sinto mal em ter que esconder da minha mãe minha condição 
de homossexual...
-E por que você não conta?
-Humpft... Eu tenho vontade de contar, mas tenho medo...
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-Medo de quê?
-Sei lá, da reação dela...
-Você acha que sua mãe seria capaz de te fazer algum mal?
-Não... Mas meu pai sim.
-Entendi... Bem... Vamos falar de coisas boas. Olha o que eu trouxe pra você...
-Uma foto sua?
-Sim. Atrás tem uma dedicatória minha pra você.
-Nossa, Lu... Adorei!
Eu sempre acreditei que mãe sente o que o filho sente. Todas sabem quando o filho 
é homossexual, algumas se calam com medo de ter a confirmação, outras preferem ouvir da 
boca do próprio filho. 
Claro que as mães só querem o bem de suas crias. A maior parte delas não 
recriminam a maneira de seu filho ser, porém, o que as mais entristece é pensar no 
preconceito que ele sofrerá no mundo a fora. Certamente elas têm razão. A sociedade é 
muito preconceituosa, seja com sexualidade, religião, cor, etnia. Uma tremenda bobagem, 
pois as pessoas só veem valores em dinheiro e aparência. 
Conversamos um pouco, e depois o levei para dar uma volta em meu carro novo. 
Aproveitamos para dar uns beijos gostosos, como fizemos da outra vez. Passamos pouco 
tempo juntos, mas foi muito gostoso pelo que curtimos. 
Deixei o André próximo de sua casa, seguindo para a faculdade logo após. Mal 
consegui prestar atenção na aula, pois meus pensamentos estavam no André. Não que eu 
estivesse apaixonado, mas sei lá, ele mexia comigo. Talvez eu estivesse começando a 
gostar dele, ou então, uma simples empolgação. 
Quando cheguei em casa, recebi o recado de que ele havia me ligado. Fui pro meu 
quarto. Deixei minha mochila em cima da cama, tirei toda a roupa e fiquei só de cueca. 
Liguei o computador e entrei na internet. Coincidência ou não, o André estava on-line. 
Começamos a teclar, e no decorrer do tempo notei que ele estava um pouco 
estranho. Algo me dizia que sua mãe estava envolvida nisso.
-DarkDragon diz (00:32) : oi lú...
-Lucas Lucas diz (00:33): ola André! Tudo bem?
-DarkDragon diz (00:35): naum mt...
-Lucas Lucas diz (00:35): O que aconteceu?
-DarkDragon diz (00:37): minha mãe descobriu tudo
-Lucas Lucas diz (00:38): Como?
-DarkDragon diz (00:41): ela viu sua foto...
Na verdade, a intenção do André sempre foi contar para sua mãe sobre sua 
sexualidade, pois já não aguentava mais esconder, e certamente utilizou minha foto para 
isso. Senti-me um pouco usado, porque ele se aproveitou do meu retrato para resolver um 
problema familiar, cujo eu nada tinha a ver. 
Tenho certeza que sua intenção nunca foi me prejudicar, mas entristeceu-me um 
pouco saber que ele, de certa forma, me usou. Os efeitos não foram positivos, pelo menos 
para mim, pois sua mãe começou a achar que eu era o culpado pela sexualidade do André.
 
-Lucas Lucas diz (00:42): Ela está aí?
-DarkDragon diz (00:45): ta sim.
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-Lucas Lucas diz (00:45): Posso falar com ela?
-DarkDragon diz (00:47): ela num vai kerer falar com vc lú...
-Lucas Lucas diz (00:47): Então eu vou escrever aqui e você mostra pra ela, certo?
-DarkDragon diz (00:48): ta.
-Lucas Lucas diz (00:48): Boa noite! Eu entendo que a senhora deve estar achando 
que eu sou o culpado por seu filho ser um homossexual, mas queria dizer que ninguém 
é assim por que quer, eu não pedi para nascer homossexual, sofri demais para aceitar 
isso e ainda sofro um pouco.
-DarkDragon diz (00:53): lú ela disse q isso eh safadeza nossa e podemos mudar sim.
-Lucas Lucas diz (00:54): Isso não é verdade, se eu pudesse escolher não escolheria 
ser assim, ser homossexual não é opção, ninguém opta por sofrer a vida inteira com 
preconceito, apanhando da vida, tendo que fazer amor e trocar carinho escondido... 
 
Nessa hora sua mãe tomou a frente do computador, e para minha surpresa, começou 
a desabafar comigo.
-DarkDragon diz (00:58): não é fácil pra uma mãe ter um filho homossexual, esse 
mundo é muito promiscuo...
-Lucas Lucas diz (00:59): Eu sei que não é fácil, mas também não é um bicho de sete 
cabeças. Eu não sou um promiscuo e nem os homossexuais são, o homem é promiscuo. 
Se a senhora deixar seu marido ir à uma festa e uma mulher ficar dando bola pra ele, 
o que a senhora acha que vai acontecer? Claro que ele vai catar, pois a desculpa dele 
vai ser : “Eu sou homem...” Um homossexual não deixa de ser homem, não vou ser 
hipócrita em dizer que não rola sexo fácil, pois rola, mas não pela condição de ser um 
homossexual, mas sim pela condição de ser homem.
-DarkDragon diz (01:02): imagine quando a família começar a perguntar das 
namoradas, o André nunca vai trazer uma namorada pra casa, não me dará um 
neto...
-Lucas Lucas diz (01:05): Mas a senhora tem 5 filhos, vai ter muitos netos, a família 
não tem que cobrar namorada de ninguém, o André não precisa abrir sua cama para 
todos deitarem, sua vida íntima só desrespeita a ele...
-DarkDragon diz (01:07): meu filho não era assim...
-Lucas Lucas diz (01:08): Seu filho sempre foi assim, não foi eu que o transformei em 
homossexual, tanto que não fui eu que o procurei, mas sim ele quem me procurou no 
bate-papo, me pediu um beijo...
-DarkDragon diz (01:10): lú ela foi pra cozinha chorando, acho q não fizemos bem...
-Lucas Lucas diz (01:12): Deixa ela dar uma pensada...
De início sua mãe foi muito mal criada comigo, culpando-me pelo filho dela ser 
gay. Não adiantou eu explicar para ela que não é uma questão de escolha, mas sim, de falta 
de opção, e que ninguém opta por ser o que é. 
Uma semana se passou. Eu e o André marcamos de nos encontrar novamente. Claro 
que naquele encontro pós-crise familiar, ficou um clima estranho, mas aos poucos nós 
fomos nos soltando. 
-Lu... Desculpa pelo que minha mãe falou...
-Não se preocupe, já esqueci tudo. 
35
Rimos juntos. Estávamos caminhando por uma rua pouco movimentada, quando 
paramos embaixo de uma árvore, e aos poucos ele foi se aproximando de mim. Colocou-me 
contra ela com seu corpo, e ali mesmo foi me beijando, tomando-me só pra ele. 
Tudo aconteceu tão rápido que mal consegui reagir. Deixei-me levar pelo momento, 
e me fiz seu prisioneiro. Beijos e mão boba rolavam à vontade, sem medo de ser feliz. Se 
aquela rua escura falasse, estávamos perdidos.
-Lu...
-Oi.
-Eu posso te fazer

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