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Livro Eletrônico Aula 00 Direito Constitucional p/ Policia Militar - RN 2018 (Soldado) Com videoaulas Professores: Equipe Ricardo e Nádia 01, Equipe Ricardo e Nádia 02, Nádia Carolina, Ricardo Vale 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 129 DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale !ULA !! TEORIA!GERAL!DA!CONSTITUIÇÃO! Conceito de Constituição ............................................................................................................... 5 1) Sentido sociológico: ............................................................................................................... 5 2) Sentido político: ....................................................................................................................... 6 3) Sentido jurídico: ...................................................................................................................... 7 4) Sentido cultural: ...................................................................................................................... 9 O Direito Constitucional e os Demais Ramos do Direito ..................................................... 11 Estrutura das Constituições ......................................................................................................... 12 A Pirâmide de Kelsen – Hierarquia das Normas .................................................................... 14 Classificação das Constituições .................................................................................................. 18 1) Classificação quanto à origem: ........................................................................................... 18 2) Classificação quanto à forma: ............................................................................................. 19 3) Classificação quanto ao modo de elaboração: .................................................................. 21 4) Classificação quanto à estabilidade: .................................................................................. 22 5) Classificação quanto ao conteúdo: ..................................................................................... 23 6) Classificação quanto à extensão: ......................................................................................... 26 7) Classificação quanto à correspondência com a realidade: ............................................. 27 8) Classificação quanto à função desempenhada: ............................................................... 28 9) Classificação quanto à finalidade: ..................................................................................... 28 10) Classificação quanto ao conteúdo ideológico: ............................................................... 30 11) Classificação quanto ao local da decretação: .................................................................. 30 13) Outras Classificações: ......................................................................................................... 31 Aplicabilidade das normas constitucionais ............................................................................. 33 Poder Constituinte ........................................................................................................................ 41 Aplicação das normas constitucionais no tempo .................................................................... 46 Interpretação da Constituição ..................................................................................................... 52 1) Métodos de Interpretação Constitucional: ....................................................................... 54 a) Método jurídico (hermenêutico clássico): ....................................................................... 54 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 129 DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale b) Método tópico‑problemático: ............................................................................................ 54 c) Método hermenêutico‑concretizador: .............................................................................. 54 d) Método integrativo ou científico‑espiritual: ................................................................... 55 e) Método normativo‑estruturante: ...................................................................................... 55 2) Princípios da Interpretação Constitucional: ..................................................................... 57 a) O princípio da unidade da Constituição: ........................................................................ 57 b) Princípio da máxima efetividade (da eficiência ou da interpretação efetiva) ........... 58 3) Interpretação conforme a Constituição: ............................................................................ 60 A Constitucionalização simbólica .............................................................................................. 61 Princípios Fundamentais da República Federativa do Brasil ............................................... 63 1) Regras e Princípios: ............................................................................................................... 63 2) Princípios Fundamentais: .................................................................................................... 64 2.1 ‑ Fundamentos da República Federativa do Brasil: ..................................................... 65 2.2‑ Forma de Estado / Forma de Governo / Regime Político: .......................................... 69 2.3‑ Harmonia e Independência entre os Poderes: ............................................................. 74 2.3‑ Objetivos Fundamentais da República Federativa do Brasil: .................................... 76 2.4‑ Princípios das Relações Internacionais: ........................................................................ 78 QUESTÕES COMENTADAS ..................................................................................................... 80 LISTA DE QUESTÕES ............................................................................................................... 112 GABARITO .................................................................................................................................. 128 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 129 DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale APRESENTAÌO E CRONOGRAMA DE AULAS Ol, amigos do Estratgia Concursos, tudo bem? com enorme alegria que damos incio hoje ao nosso ÒCurso de Direito Constitucional p/ Polcia Militar-RN (Soldado) - 2018Ó, focado na banca IBADE, com questes de diversos concursos da rea policial. Antes de qualquer coisa, pedimos licena para nos apresentar: - Ndia Carolina: Sou professora de Direito Constitucional do Estratgia Concursos desde 2011. Trabalhei como Auditora-Fiscal da Receita Federal do Brasil de 2010 a 2015, tendo sido aprovada no concurso de 2009. Tenho uma larga experincia em concursos pblicos, j tendo sido aprovada para os seguintes cargos: CGU 2008 (6¼ lugar), TRE/GO 2008 (22¼ lugar) ATA-MF 2009 (2¼ lugar), Analista-Tributrio RFB (16¼ lugar) e Auditor-Fiscal RFB (14¼ lugar). - Ricardo Vale: Sou professor e coordenador pedaggico do Estratgia Concursos. Entre 2008-2014, trabalhei como Analista de Comrcio Exterior (ACE/MDIC), concurso no qual fuiaprovado em 3¼ lugar. Ministro aulas presenciais e online nas disciplinas de Direito Constitucional, Comrcio Internacional e Legislao Aduaneira. Alm das aulas, tenho trs grandes paixes na minha vida: a Prof» Ndia, a minha pequena Sofia e o pequeno JP (Joo Paulo)!! Como voc j deve ter percebido, esse curso ser elaborado a 4 mos. Eu (Ndia) ficarei responsvel pelas aulas escritas, enquanto o Ricardo ficar por conta das videoaulas. Tenham certeza: iremos nos esforar bastante para produzir o melhor e mais completo contedo para vocs. Vejamos como ser o cronograma do nosso curso: Aulas Tpicos abordados Data Aula 00 Constituio: Conceito. Princpios fundamentais. Classificao. Aplicabilidade e Interpretao das Normas Constitucionais. Poder Constituinte: Conceito. Finalidade. Titularidade e Espcies. 19/01 Aula 01 Direitos e deveres individuais e coletivos (Parte 01). 22/01 Aula 02 Direitos e deveres individuais e coletivos (Parte 02). 24/01 Aula 03 Direitos sociais. Nacionalidade. 26/01 Aula 04 Direitos polticos. 29/01 Aula 05 Da Organizao do Estado. 31/01 Aula 06 Da Administrao Pblica. Disposies Gerais. Dos Servidores Pblicos. 02/02 Aula 07 Poder Executivo. 05/02 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 129 DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Aula 08 Poder Legislativo. 07/02 Aula 09 Poder Judicirio. 12/02 Aula 10 Defesa do Estado e das instituies democrticas: segurana pblica; organizao da segurana pblica. 14/02 Aula 11 Reforma da Constituio. Clusulas Ptreas. 16/02 Aula Extra Lista IBADE 19/02 Dito tudo isso, j podemos partir para a nossa aula 00! Todos preparados? Um grande abrao, Ndia e Ricardo Para tirar dvidas e ter acesso a dicas e contedos gratuitos, acesse nossas redes sociais: Facebook do Prof. Ricardo Vale: https://www.facebook.com/profricardovale Canal do YouTube do Ricardo Vale: https://www.youtube.com/channel/UC32LlMyS96biplI715yzS9Q Periscope do Prof. Ricardo Vale: @profricardovale 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 129 DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Conceito de Constituio Comeamos esse tpico com a seguinte pergunta: o que se entende por Constituio? Objeto de estudo do Direito Constitucional, a Constituio a lei fundamental e suprema de um Estado, criada pela vontade soberana do povo. ela que determina a organizao poltico-jurdica do Estado, dispondo sobre a sua forma, os rgos que o integram e as competncias destes e, finalmente, a aquisio e o exerccio do poder. Cabe tambm a ela estabelecer as limitaes ao poder do Estado e enumerar os direitos e garantias fundamentais.1 A concepo de constituio ideal foi preconizada por J. J. Canotilho. Trata- se de constituio de carter liberal, que apresenta os seguintes elementos: a) Deve ser escrita; b) Deve conter um sistema de direitos fundamentais individuais (liberdades negativas); c) Deve conter a definio e o reconhecimento do princpio da separao dos poderes; d) Deve adotar um sistema democrtico formal. Note que todos esses elementos esto intrinsecamente relacionados limitao do poder coercitivo do Estado. Cabe destacar, por estar relacionado ao conceito de constituio ideal, o que dispe o art. 16, da Declarao Universal dos Direitos do Homem e do Cidado (1789): ÒToda sociedade na qual no est assegurada a garantia dos direitos nem determinada a separao de poderes, no tem constituio.Ó importante ressaltar que a doutrina no pacfica quanto definio do conceito de constituio, podendo este ser analisado a partir de diversas concepes. Isso porque o Direito no pode ser estudado isoladamente de outras cincias sociais, como Sociologia e Poltica, por exemplo. 1) Sentido sociolgico: Iniciaremos o estudo dessas concepes de Constituio apresentando seu sentido sociolgico, que surgiu no sculo XIX, definido por Ferdinand Lassalle. 1 MORAES, Alexandre de. Constituio do Brasil Interpretada e Legislao Constitucional, 9» edio. So Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 17. 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 129 DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Na concepo sociolgica, a Constituio um fato social, e no uma norma jurdica. A Constituio real e efetiva de um Estado consiste na soma dos fatores reais de poder que vigoram na sociedade; ela , assim, um reflexo das relaes de poder que existem no mbito do Estado. Com efeito, o embate das foras econmicas, sociais, polticas e religiosas que forma a Constituio real (efetiva) do Estado. Na Prssia do tempo de Lassalle, os fatores reais de poder (foras econmicas, polticas e sociais) eram determinados pelo choque de interesses dos diversos atores do processo poltico: a monarquia, o Exrcito, a aristocracia, os grandes industriais, os banqueiros e tambm a pequena burguesia e a classe operria, ou seja, o povo. O equilbrio instvel entre esses interesses tinha como resultado a Constituio real. Por outro lado, existe tambm a Constituio escrita (jurdica), cuja tarefa reunir em um texto formal, de maneira sistematizada, os fatores reais de poder que vigoram na sociedade. Nessa perspectiva, a Constituio escrita mera Òfolha de papelÓ, e somente ser eficaz e duradoura caso reflita os fatores reais de poder da sociedade. em razo disso que se houver um conflito entre a Constituio real (efetiva) e a Constituio escrita (jurdica), prevalecer a primeira. Se, ao contrrio, houver plena correspondncia entre a Constituio escrita e os fatores reais de poder, estaremos diante de uma situao ideal. Em resumo, para Lassale, coexistem em um Estado duas Constituies: uma real, efetiva, correspondente soma dos fatores reais de poder que regem este pas; e outra, escrita, que consistiria apenas numa Òfolha de papelÓ. Como possvel perceber, a concepo sociolgica busca definir o que a Constituio Òrealmente Ó, ou seja, material (leva em conta a matria) e no formal (no leva em conta a forma pela qual ela foi criada). Foi a partir dessa lgica que Lassale entendeu que todo e qualquer Estado sempre teve e sempre ter uma Constituio real e efetiva, independentemente da existncia de um texto escrito. A existncia das Constituies no algo dos Òtempos modernosÓ; o que o evoluir do constitucionalismo fez foi criar Constituies escritas, verdadeiras Òfolhas de papelÓ. 2) Sentido poltico: Outra concepo de Constituio que devemos conhecer a preconizada por Carl Schmitt, a partir de sua obra ÒA Teoria da ConstituioÓ, de 1920. Na sua viso, a Constituio seria fruto da vontade do povo, titular do poder constituinte; por isso mesmo que essa teoria considerada decisionista ou voluntarista. 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 129 DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Para Schmitt, a Constituio uma deciso poltica fundamental que visa estruturar e organizar os elementos essenciais do Estado. A validade da Constituio, segundo ele, se baseia na deciso poltica que lhe d existncia, e no na justia de suas normas.Pouco importa, ainda, se a Constituio corresponde ou no aos fatores reais de poder que imperam na sociedade; o que interessa to-somente que a Constituio um produto da vontade do titular do Poder Constituinte. Da a teoria de Schmitt ser chamada de voluntarista ou decisionista. Schmitt distingue Constituio de leis constitucionais. A primeira, segundo ele, dispe apenas sobre matrias de grande relevncia jurdica (decises polticas fundamentais), como o caso da organizao do Estado, por exemplo. As segundas, por sua vez, seriam normas que fazem parte formalmente do texto constitucional, mas que tratam de assuntos de menor importncia. A concepo poltica de Constituio guarda notria correlao com a classificao das normas em materialmente constitucionais e formalmente constitucionais. As normas materialmente constitucionais correspondem quilo que Carl Schmitt denominou ÒConstituioÓ; por sua vez, normas formalmente constitucionais so o que o autor chamou de Òleis constitucionaisÓ. 3) Sentido jurdico: Outra importante concepo de Constituio foi a preconizada por Hans Kelsen, criador da Teoria Pura do Direito. Nessa concepo, a Constituio entendida como norma jurdica pura, sem qualquer considerao de cunho sociolgico, poltico ou filosfico. Ela a norma superior e fundamental do Estado, que organiza e estrutura o poder poltico, limita a atuao estatal e estabelece direitos e garantias individuais. Para Kelsen, a Constituio no retira o seu fundamento de validade dos fatores reais de poder, dizer, sua validade no se apoia na realidade social do Estado. Essa era, afinal, a posio defendida por Lassale, em sua concepo sociolgica de Constituio que, como possvel perceber, se opunha fortemente concepo kelseniana. Com o objetivo de explicar o fundamento de validade das normas, Kelsen concebeu o ordenamento jurdico como um sistema em que h um escalonamento hierrquico das normas. Sob essa tica, as normas jurdicas inferiores (normas fundadas) sempre retiram seu fundamento de validade das normas jurdicas superiores (normas fundantes). Assim, um decreto retira seu fundamento de validade das leis ordinrias; por sua vez, a validade das leis ordinrias se apoia na Constituio. 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 129 DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Chega-se, ento, a uma pergunta decisiva para que se possa completar a lgica do sistema: de qual norma a Constituio, enquanto Lei suprema do Estado, retira seu fundamento de validade? A resposta a essa pergunta, elaborada por Hans Kelsen, depende da compreenso da Constituio a partir de dois sentidos: o lgico-jurdico e o jurdico-positivo. No sentido lgico-jurdico, a Constituio a norma hipottica fundamental (no real, mas sim imaginada, pressuposta) que serve como fundamento lgico transcendental da validade da Constituio em sentido jurdico-positivo. Esta norma no possui um enunciado explcito, consistindo apenas numa ordem, dirigida a todos, de obedincia Constituio positiva. como se a norma fundamental hipottica dissesse o seguinte: ÒObedea-se a constituio positiva!Ó. J no sentido jurdico-positivo, a Constituio a norma positiva suprema, que serve para regular a criao de todas as outras. documento solene, cujo texto s pode ser alterado mediante procedimento especial. No Brasil, esta Constituio , atualmente, a de 1988 (CF/88). No sistema proposto por Kelsen, o fundamento de validade das normas est na hierarquia entre elas. Toda norma apoia sua validade na norma imediatamente superior; com a Constituio positiva (escrita) no diferente: seu fundamento de validade est na norma hipottica fundamental, que norma pressuposta, imaginada. 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 129 DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale 4) Sentido cultural: Apesar de pouco cobrado em prova, importante que saibamos o que significa a Constituio no sentido cultural, preconizado por Meirelles Teixeira. Para esse sentido, o Direito s pode ser entendido como objeto cultural, ou seja, uma parte da cultura. Isso porque o Direito no : a) Real: uma vez que os seres reais pertencem natureza, como uma pedra ou um rio, por exemplo; b) Ideal: uma vez que no se trata de uma relao (igualdade, diferena, metade, etc.), nem de uma quantidade ou figura matemtica (nmeros, formas geomtricas, etc.) ou de uma essncia, pois os seres ideais so imutveis e existem fora do tempo e do espao, enquanto o contedo das normas jurdicas varia atravs dos tempos, dos lugares, dos povos e da histria; c) Puro valor: uma vez que, por meio de suas normas, apenas tenta concretizar ou realizar um valor, no se confundindo com ele. Por isso, considerando que os seres so classificados em quatro categorias Ð reais, ideais, valores e objetos culturais Ð o Direito pertence a esta ltima. Isso porque, assim como a cultura, o Direito produto da atividade humana. SENTIDOS DA CONSTITUIÇÃO SOCIOLÓGICO (LASSALLE): SOMA DOS FATORES REAIS DE PODER POLÍTICO (SCHMITT): DECISÃO POLÍTICA FUNDAMENTAL JURÍDICO (KELSEN): ‑ LÓGICO JURÍDICO: NORMA HIPOTÉTICA FUNDAMENTAL ‑ JURÍDICO‑POSITIVO: NORMA POSITIVA SUPREMA 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 10 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale A partir dessa anlise, chega-se ao conceito de constituio total, que condicionada pela cultura do povo e tambm atua como condicionante dessa mesma cultura. Essa constituio abrange todos os aspectos da vida da sociedade e do Estado, sendo uma combinao de todas as concepes anteriores Ð sociolgica, poltica e jurdica. (TJ-PR Ð 2017) Em sentido sociolgico, a Constituio deve ser entendida como a norma que se refere deciso poltica estruturante da organizao do Estado. Comentrios: A Constituio em sentido sociolgico a soma dos fatores reais de poder que vigoram na sociedade. Questo errada. (PC/DF Ð 2015) Hans Kelsen concebe dois planos distintos do direito: o jurdico-positivo, que so as normas positivadas; e o lgico-jurdico, situado no plano lgico, como norma fundamental hipottica pressuposta, criando- se uma verticalidade hierrquica de normas. Comentrios: No sentido lgico-jurdico, a Constituio a norma hipottica fundamental. J no sentido jurdico-positivo, a Constituio a norma positiva suprema. Questo correta. (PC/DF Ð 2015) De acordo com o sentido poltico de Carl Schmitt, a constituio o somatrio dos fatores reais do poder dentro de uma sociedade. Isso significa que a constituio somente se legitima quando representa o efetivo poder social. Comentrios: No sentido sociolgico, preconizado por Ferdinand Lassale, a Constituio a soma dos fatores reais de poder. Questo errada. (PC / DF Ð 2015) De acordo com o sentido sociolgico de Ferdinand Lassale, a constituio no se confunde com as leis constitucionais. A constituio, como deciso poltica fundamental, ir cuidar apenas de determinadas matrias estruturantes do Estado, como rgos do Estado, e dos 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 11 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. RicardoVale direitos e das garantias fundamentais, entre outros. Comentrios: Carl Schmitt quem fez a distino entre Constituio e Òleis constitucionaisÓ. Questo errada. O Direito Constitucional e os Demais Ramos do Direito Como vimos, a Constituio fundamento de validade de todas as demais normas do ordenamento jurdico. Por esse motivo, o Direito Constitucional um tronco de onde partem todas as ramificaes que constituem os demais campos do Direito. Desse modo, o Direito Constitucional que confere unidade ao Direito como um todo, seja ele pblico ou privado. Veja como a nossa disciplina se relaciona com os demais ramos do Direito: a) Direito Constitucional e Direito Administrativo - o Direito Constitucional determina os princpios gerais e os fundamentos da Administrao Pblica, bem como estabelece normas para os servidores pblicos. b) Direito Constitucional e Direito Penal - o Direito Constitucional que fixa os fundamentos e determina os limites da pretenso punitiva do Estado, bem como garante o direito de defesa do acusado. Os limites atuao do Estado se encontram nos direitos e garantias fundamentais estabelecidos pela Constituio, estando insertos implcita ou explicitamente no art. 5¼ da Carta Magna, que estudaremos adiante neste curso. c) Direito Constitucional e Direito Processual - o Direito Constitucional est intimamente ligado ao Direito Processual, uma vez que: - Garante o acesso Justia (art. 5¼, XXXV, CF); - Estabelece o devido processo legal (art. 5¼, LIV, CF), bem como o contraditrio e a ampla defesa (art. 5¼, LV); - Determina a inadmissibilidade, no processo, de provas obtidas por meios ilcitos (art. 5¼, LVI, CF); - Prev remdios constitucionais como o mandado de segurana individual e coletivo (art. 5¼, LXIX e LXX, CF), o habeas data (art. 5¼, LXXII, CF) e a ao popular (art. 5¼, LXXIIII, CF); - Garante a assistncia jurdica integral e gratuita aos que comprovarem insuficincia de recursos (art. 5¼, LXXIV, CF), bem como a razovel 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 12 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale durao do processo, no mbito judicial e administrativo, e os meios que garantam a celeridade de sua tramitao (art. 5¼, LXXVIII, CF); - Regula a ao direta de inconstitucionalidade, a ao declaratria de constitucionalidade, a arguio de descumprimento de preceito fundamental e a ao direta de inconstitucionalidade por omisso. d) Direito Constitucional e Direito do Trabalho - a Constituio que prev os principais direitos sociais do empregado (arts. 7¼ a 10, CF), o que torna o Direito Constitucional intrinsecamente relacionado ao Direito do Trabalho. e) Direito Constitucional e Direito Civil - a partir da Constituio de 1988, houve o fenmeno da constitucionalizao do Direito Civil, que passou a ter suas normas sujeitas aos princpios e regras constitucionais. Valores constitucionais como a dignidade da pessoa humana, a solidariedade social e a igualdade substancial, previstos na Constituio, conferiram ao Direito Civil um carter mais humanista, em oposio base patrimonial que se verificava outrora. Uma das consequncias desse fenmeno a aplicabilidade dos direitos fundamentais s relaes privadas e no apenas s relaes com o Poder Pblico. Assim, pode o particular opor um direito ou garantia fundamental a outro particular, o que reduz a autonomia privada. f) Direito Constitucional e Direito Tributrio - o Direito Constitucional delineia o sistema tributrio nacional, estabelece o conceito de tributo2, discrimina a competncia tributria e fixa limites ao poder de tributar. Estrutura das Constituies As Constituies, de forma geral, dividem-se em trs partes: prembulo, parte dogmtica e disposies transitrias. O prembulo a parte que antecede o texto constitucional propriamente dito. O prembulo serve para definir as intenes do legislador constituinte, proclamando os princpios da nova constituio e rompendo com a ordem jurdica anterior. Sua funo servir de elemento de integrao dos artigos que lhe seguem, bem como orientar a sua interpretao. Serve para 2 Segundo Geraldo Ataliba, o conceito de tributo tem origem na Constituio, no podendo ser alargado, reduzido ou modificado pelo legislador constitucional. Isso por ser ele um conceito- chave para demarcao das competncias legislativas e balizador do regime tributrio, conjunto de princpios e regras constitucionais de proteo do contribuinte contra o chamado poder tributrio, exercido, nas respectivas faixas delimitadas de competncias, por Unio, Estados e Municpios (Hiptese de Incidncia Tributria, So Paulo: Malheiros). 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 13 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale sintetizar a ideologia do poder constituinte originrio, expondo os valores por ele adotados e os objetivos por ele perseguidos. Segundo o Supremo Tribunal Federal, ele no norma constitucional. Portanto, no serve de parmetro para a declarao de inconstitucionalidade e no estabelece limites para o Poder Constituinte Derivado, seja ele Reformador ou Decorrente. Por isso, o STF entende que suas disposies no so de reproduo obrigatria pelas Constituies Estaduais. Segundo o STF, o Prembulo no dispe de fora normativa, no tendo carter vinculante3. Apesar disso, a doutrina no o considera juridicamente irrelevante, uma vez que deve ser uma das linhas mestras interpretativas do texto constitucional. 4 A parte dogmtica da Constituio o texto constitucional propriamente dito, que prev os direitos e deveres criados pelo poder constituinte. Trata-se do corpo permanente da Carta Magna, que, na CF/88, vai do art. 1¼ ao 250. Destaca-se que falamos em Òcorpo permanenteÓ porque, a princpio, essas normas no tm carter transitrio, embora possam ser modificadas pelo poder constituinte derivado, mediante emenda constitucional. Por fim, a parte transitria da Constituio visa integrar a ordem jurdica antiga nova, quando do advento de uma nova Constituio, garantindo a segurana jurdica e evitando o colapso entre um ordenamento jurdico e outro. Suas normas so formalmente constitucionais, embora, no texto da CF/88, apresente numerao prpria (vejam ADCT Ð Ato das Disposies Constitucionais Transitrias). Assim como a parte dogmtica, a parte transitria pode ser modificada por reforma constitucional. Alm disso, tambm pode servir como paradigma para o controle de constitucionalidade das leis. (DPE-MS Ð 2014) O prembulo da Constituio no constitui norma central, no tendo fora normativa e, consequentemente, no servindo como paradigma para a declarao de inconstitucionalidade. Comentrios: O prembulo no tem fora normativa e, em razo disso, no serve de paradigma para o controle de constitucionalidade. Questo correta. dos direitos e garantias fundamentais tm aplicao imediata. 3 ADI 2.076-AC, Rel. Min. Carlos Velloso, DJU de 23.08.2002. 4 MORAES, Alexandre de. Constituio do Brasil Interpretada e Legislao Constitucional, 9» edio. So Paulo Editora Atlas: 2010, pp. 53-55 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 14 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo ValeA Pirmide de Kelsen Ð Hierarquia das Normas Para compreender bem o Direito Constitucional, fundamental que estudemos a hierarquia das normas, atravs do que a doutrina denomina Òpirmide de KelsenÓ. Essa pirmide foi concebida pelo jurista austraco para fundamentar a sua teoria, baseada na ideia de que as normas jurdicas inferiores (normas fundadas) retiram seu fundamento de validade das normas jurdicas superiores (normas fundantes). Iremos, a seguir, nos utilizar da Òpirmide de KelsenÓ para explicar o escalonamento normativo no ordenamento jurdico brasileiro. A pirmide de Kelsen tem a Constituio como seu vrtice (topo), por ser esta fundamento de validade de todas as demais normas do sistema. Assim, nenhuma norma do ordenamento jurdico pode se opor Constituio: ela superior a todas as demais normas jurdicas, as quais so, por isso mesmo, denominadas infraconstitucionais. Na Constituio, h normas constitucionais originrias e normas constitucionais derivadas. As normas constitucionais originrias so produto do Poder Constituinte Originrio (o poder que elabora uma nova Constituio); elas integram o texto constitucional desde que ele foi promulgado, em 1988. J as normas constitucionais derivadas so aquelas que resultam da manifestao do Poder Constituinte Derivado (o poder que altera a Constituio); so as chamadas emendas constitucionais, que tambm se situam no topo da pirmide de Kelsen. relevante destacar, nesse ponto, alguns entendimentos doutrinrios e jurisprudenciais bastante cobrados em prova acerca da hierarquia das normas constitucionais (originrias e derivadas): a) No existe hierarquia entre normas constitucionais originrias. Assim, no importa qual o contedo da norma. Todas as normas constitucionais originrias tm o mesmo status hierrquico. Nessa tica, as normas definidoras de direitos e garantias fundamentais tm a mesma hierarquia do ADCT (Atos das Disposies Constitucionais Transitrias) ou mesmo do art. 242, ¤ 2¼, que dispe que o Colgio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, ser mantido na rbita federal. b) No existe hierarquia entre normas constitucionais originrias e normas constitucionais derivadas. Todas elas se situam no mesmo patamar. c) Embora no exista hierarquia entre normas constitucionais originrias e derivadas, h uma importante diferena entre elas: as 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 15 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale normas constitucionais originrias no podem ser declaradas inconstitucionais. Em outras palavras, as normas constitucionais originrias no podem ser objeto de controle de constitucionalidade. J as emendas constitucionais (normas constitucionais derivadas) podero, sim, ser objeto de controle de constitucionalidade. d) O alemo Otto Bachof desenvolveu relevante obra doutrinria denominada ÒNormas constitucionais inconstitucionaisÓ, na qual defende a possibilidade de que existam normas constitucionais originrias eivadas de inconstitucionalidade. Para o jurista, o texto constitucional possui dois tipos de normas: as clusulas ptreas (normas cujo contedo no pode ser abolido pelo Poder Constituinte Derivado) e as normas constitucionais originrias. As clusulas ptreas, na viso de Bachof, seriam superiores s demais normas constitucionais originrias e, portanto, serviriam de parmetro para o controle de constitucionalidade destas. Assim, o jurista alemo considerava legtimo o controle de constitucionalidade de normas constitucionais originrias. No entanto, bastante cuidado: no Brasil, a tese de Bachof no admitida. As clusulas ptreas se encontram no mesmo patamar hierrquico das demais normas constitucionais originrias. Com a promulgao da Emenda Constitucional n¼ 45/2004, abriu-se uma nova e importante possibilidade no ordenamento jurdico brasileiro. Os tratados e convenes internacionais de direitos humanos aprovados em cada Casa do Congresso Nacional (Cmara dos Deputados e Senado Federal), em dois turnos, por trs quintos dos votos dos respectivos membros, passaram a ser equivalentes s emendas constitucionais. Situam-se, portanto, no topo da pirmide de Kelsen, tendo ÒstatusÓ de emenda constitucional. Diz-se que os tratados de direitos humanos, ao serem aprovados por esse rito especial, ingressam no chamado Òbloco de constitucionalidadeÓ. Em virtude da matria de que tratam (direitos humanos), esses tratados esto gravados por clusula ptrea5 e, portanto, imunes denncia6 pelo Estado brasileiro. O primeiro tratado de direitos humanos a receber o status de emenda constitucional foi a ÒConveno Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia e seu Protocolo FacultativoÓ. Os demais tratados internacionais sobre direitos humanos, aprovados pelo rito ordinrio, tm, segundo o STF, ÒstatusÓ supralegal. Isso significa 5 Estudaremos mais frente sobre as clusulas ptreas, que so normas que no podem ser objeto de emenda constitucional tendente a aboli-las. As clusulas ptreas esto previstas no art. 60, ¤ 4¼, da CF/88. Os direitos e garantias individuais so clusulas ptreas (art. 60, ¤ 4¼, inciso IV). 6 Denncia o ato unilateral por meio do qual um Estado se desvincula de um tratado internacional. 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 16 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale que se situam logo abaixo da Constituio e acima das demais normas do ordenamento jurdico. A EC n¼ 45/2004 trouxe ao Brasil, portanto, segundo o Prof. Valrio Mazzuoli, um novo tipo de controle da produo normativa domstica: o controle de convencionalidade das leis. Assim, as leis internas estariam sujeitas a um duplo processo de compatibilizao vertical, devendo obedecer aos comandos previstos na Carta Constitucional e, ainda, aos previstos em tratados internacionais de direitos humanos regularmente incorporados ao ordenamento jurdico brasileiro.7 As normas imediatamente abaixo da Constituio (infraconstitucionais) e dos tratados internacionais sobre direitos humanos so as leis (complementares, ordinrias e delegadas), as medidas provisrias, os decretos legislativos, as resolues legislativas, os tratados internacionais em geral incorporados ao ordenamento jurdico e os decretos autnomos. Todas essas normas sero estudadas em detalhes em aula futura, no se preocupe! Neste momento, quero apenas que voc guarde quais so as normas infraconstitucionais e que elas no possuem hierarquia entre si, segundo doutrina majoritria. Essas normas so primrias, sendo capazes de gerar direitos e criar obrigaes, desde que no contrariem a Constituio. Novamente, gostaramos de trazer baila alguns entendimentos doutrinrios e jurisprudenciais muito cobrados em prova: a) Ao contrrio do que muitos podem ser levados a acreditar, as leis federais, estaduais, distritais e municipais possuem o mesmo grau hierrquico. Assim, um eventual conflito entre leis federais e estaduais ou entre leis estaduais e municipais no ser resolvido por um critrio hierrquico; a soluo depender da repartio constitucional de competncias. Deve-se perguntar o seguinte: de qual ente federativo (Unio, Estados ou Municpios) a competncia para tratar do tema objeto da lei? Nessa tica, plenamente possvel que, num caso concreto, uma lei municipal prevalea diante de uma lei federal. b) Existe hierarquia entre a Constituio Federal, as ConstituiesEstaduais e as Leis Orgnicas dos Municpios? Sim, a Constituio Federal est num patamar superior ao das Constituies Estaduais que, por sua vez, so hierarquicamente superiores s Leis Orgnicas. 7 MAZZUOLI, Valrio de Oliveira. Teoria Geral do Controle de Convencionalidade no Direito Brasileiro. In: Controle de Convencionalidade: um panorama latino-americano. Gazeta Jurdica. Braslia: 2013. 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 17 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale b) As leis complementares, apesar de serem aprovadas por um procedimento mais dificultoso, tm o mesmo nvel hierrquico das leis ordinrias. O que as diferencia o contedo: ambas tm campos de atuao diversos, ou seja, a matria (contedo) diferente. Como exemplo, citamos o fato de que a CF/88 exige que normas gerais sobre direito tributrio sejam estabelecidas por lei complementar. c) As leis complementares podem tratar de tema reservado s leis ordinrias. Esse entendimento deriva da tica do Òquem pode mais, pode menosÓ. Ora, se a CF/88 exige lei ordinria (cuja aprovao mais simples!) para tratar de determinado assunto, no h bice a que uma lei complementar regule o tema. No entanto, caso isso ocorra, a lei complementar ser considerada materialmente ordinria; essa lei complementar poder, ento, ser revogada ou modificada por simples lei ordinria. Diz-se que, nesse caso, a lei complementar ir subsumir-se ao regime constitucional da lei ordinria. 8 d) As leis ordinrias no podem tratar de tema reservado s leis complementares. Caso isso ocorra, estaremos diante de um caso de inconstitucionalidade formal (nomodinmica). e) Os regimentos dos tribunais do Poder Judicirio so considerados normas primrias, equiparados hierarquicamente s leis ordinrias. Na mesma situao, encontram-se as resolues do CNMP (Conselho Nacional do Ministrio pblico) e do CNJ (Conselho Nacional de Justia). f) Os regimentos das Casas Legislativas (Senado e Cmara dos Deputados), por constiturem resolues legislativas, tambm so considerados normas primrias, equiparados hierarquicamente s leis ordinrias. Finalmente, abaixo das leis encontram-se as normas infralegais. Elas so normas secundrias, no tendo poder de gerar direitos, nem, tampouco, de impor obrigaes. No podem contrariar as normas primrias, sob pena de invalidade. o caso dos decretos regulamentares, portarias, das instrues normativas, dentre outras. Tenham bastante cuidado para no confundir os decretos autnomos (normas primrias, equiparadas s leis) com os decretos regulamentares (normas secundrias, infralegais). 8AI 467822 RS, p. 04-10-2011. 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 18 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale (MPE-BA Ð 2015) Existe hierarquia entre lei complementar e lei ordinria, bem como entre lei federal e estadual. Comentrios: No h hierarquia entre lei ordinria e lei complementar. Elas tm o mesmo nvel hierrquico. Tambm no h hierarquia entre lei federal e lei estadual. Questo errada. Classificao das Constituies Ao estudar as diversas Constituies, a doutrina prope diversos critrios para classific-las. justamente isso o que estudaremos a partir de agora: a classificao das Constituies, levando em considerao variados critrios. 1) Classificao quanto origem: As Constituies se classificam quanto origem em: a) Outorgadas (impostas, ditatoriais, autocrticas): so aquelas impostas, que surgem sem participao popular. Resultam de ato unilateral de vontade da classe ou pessoa dominante no sentido de limitar seu prprio poder, por meio da outorga de um texto CONSTITUIÇÃO, EMENDAS CONSTITUCIONAIS E TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS APROVADOS COMO EMENDAS CONSTITUCIONAIS OUTROS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS LEIS COMPLEMENTARES, ORDINÁRIAS E DELEGADAS, MEDIDAS PROVISÓRIAS, DECRETOS LEGISLATIVOS, RESOLUÇÕES LEGISLATIVAS, TRATADOS INTERNACIONAIS EM GERAL E DECRETOS AUTÔNOMOS NORMAS INFRALEGAIS 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 19 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale constitucional. Exemplos: Constituies brasileiras de 1824, 1937 e 1967 e a EC n¼ 01/1969. b) Democrticas (populares, promulgadas ou votadas): nascem com participao popular, por processo democrtico. Normalmente, so fruto do trabalho de uma Assembleia Nacional Constituinte, convocada especialmente para sua elaborao. Exemplos: Constituies brasileiras de 1891, 1934, 1946 e 1988. c) Cesaristas (bonapartistas): so outorgadas, mas necessitam de referendo popular. O texto produzido sem qualquer participao popular, cabendo ao povo apenas a sua ratificao. d) Dualistas (pactuadas): so resultado do compromisso instvel entre duas foras antagnicas: de um lado, a monarquia enfraquecida; do outro, a burguesia em ascenso. Essas constituies estabelecem uma limitao ao poder monrquico, formando as chamadas monarquias constitucionais. (DPE-PR Ð 2017) As constituies cesaristas, normalmente autoritrias, partem de teorias preconcebidas, de planos e sistemas prvios e de ideologias bem declaradas. Comentrios: As Constituies cesaristas so aquelas que, aps serem impostas (outorgadas), precisam ser aprovadas em um referendo popular. No h relao entre ÒConstituies cesaristasÓ e a existncia de uma ideologia bem declarada. Questo errada. (PC / DF Ð 2015) As constituies outorgadas so aquelas que, embora confeccionadas sem a participao popular, para entrarem em vigor, so submetidas ratificao posterior do povo por meio de referendo. Comentrios: As constituies cesaristas que so submetidas ratificao por meio de referendo popular. Questo errada. 2) Classificao quanto forma: No que concerne forma, as Constituies podem ser: 0 00000000000 - DEMO 0 www.estrategiaconcursos.com.br 20 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale a) Escritas (instrumentais): so constituies elaboradas por um rgo constituinte especialmente encarregado dessa tarefa e que as sistematiza em documentos solenes, com o propsito de fixar a organizao fundamental do Estado. Subdividem-se em: - codificadas (unitrias): quando suas normas se encontram em um nico texto. Nesse caso, o rgo constituinte optou por inserir todas as normas constitucionais em um nico documento, escrito. A Constituio de 1988 escrita, do tipo codificada. - legais (variadas, pluritextuais ou inorgnicas): quando suas normas se encontram em diversos documentos solenes. Aqui, o rgo constituinte optou por no inserir todas as normas constitucionais num mesmo documento. b) No escritas (costumeiras ou consuetudinrias): so constituies cujas normas esto em variadas fontes normativas, como as leis, costumes, jurisprudncia, acordos e convenes. Nesse tipo de constituio, no h um rgo especialmente encarregado de elaborar a constituio; so vrios os centros de produo de normas. Um exemplo de constituio no-escrita a Constituio inglesa.Muito cuidado com um detalhe, pessoal! As constituies no-escritas, ao contrrio do que muitos podem ser levados a pensar, possuem tambm normas escritas. Elas no so formadas apenas por costumes. As leis e convenes (normas escritas) tambm fazem parte dessas constituies. (TCE Ð PI Ð 2014) As denominadas Constituies legais ou inorgnicas caracterizam-se por contemplar expressivo conjunto de normas apenas formalmente constitucionais. Comentrios: A caracterstica central das Constituies legais que seu contedo est disperso em diversos documentos solenes. Questo errada. 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 21 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale 3) Classificao quanto ao modo de elaborao: No que se refere ao modo de elaborao, as Constituies podem ser: a) Dogmticas (sistemticas): so escritas, tendo sido elaboradas por um rgo constitudo para esta finalidade em um determinado momento, segundo os dogmas e valores ento em voga. Subdividem-se em: - ortodoxas: quando refletem uma s ideologia. - heterodoxas (eclticas): quando suas normas se originam de ideologias distintas. A Constituio de 1988 dogmtica ecltica, uma vez que adotou, como fundamento do Estado, o pluralismo poltico (art. 1¼, CF). b) Histricas: tambm chamadas costumeiras, so do tipo no escritas. So criadas lentamente com as tradies, sendo uma sntese dos valores histricos consolidados pela sociedade. So, por isso, mais estveis que as dogmticas. o caso da Constituio inglesa. Jos Afonso da Silva destaca que no se deve confundir o conceito de constituio histrica com o de constituio flexvel. As constituies histricas so, de fato, juridicamente flexveis (sofrem modificao por processo no dificultoso, podendo ser modificadas pelo legislador ordinrio), mas normalmente so poltica e socialmente rgidas, uma vez que, por serem produto do lento evoluir dos valores da sociedade, raramente so modificadas. (PC / DF Ð 2015) As constituies podem ser ortodoxas, quando reunirem uma s ideologia, como a Constituio Sovitica de 1977, ou eclticas, quando conciliarem vrias ideologias em seu texto, como a Constituio Brasileira de 1988. Comentrios: A CF/88 ecltica, pois suas normas se originam de ideologias distintas. Por outro lado, a Constituio Sovitica de 1977 pode ser apontada como Constituio ortodoxa, pois baseada apenas em uma ideologia: a ideologia comunista. Questo correta. 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 22 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale 4) Classificao quanto estabilidade: Na classificao das constituies quanto estabilidade, leva-se em conta o grau de dificuldade para a modificao do texto constitucional. As Constituies so, segundo este critrio, divididas em: a) Imutvel (grantica, intocvel ou permanente): aquela Constituio cujo texto no pode ser modificado jamais. Tem a pretenso de ser eterna. Alguns autores no admitem sua existncia. b) Super-rgida: a Constituio em que h um ncleo intangvel (clusulas ptreas), sendo as demais normas alterveis por processo legislativo diferenciado, mais dificultoso que o ordinrio. Trata-se de uma classificao adotada apenas por Alexandre de Moraes, para quem a CF/88 do tipo super-rgida. S para recordar: as clusulas ptreas so dispositivos que no podem sofrer emendas (alteraes) tendentes a aboli-las. Esto arroladas no ¤ 4¼ do art. 60 da Constituio. Na maior parte das questes, essa classificao no cobrada. c) Rgida: aquela modificada por procedimento mais dificultoso do que aqueles pelos quais se modificam as demais leis. sempre escrita, mas vale lembrar que a recproca no verdadeira: nem toda Constituio escrita rgida. A CF/88 rgida, pois exige procedimento especial para sua modificao por meio de emendas constitucionais: votao em dois turnos, nas duas Casas do Congresso Nacional e aprovao de pelo menos trs quintos dos integrantes das Casas Legislativas (art. 60, ¤2¼, CF/88). Exemplos: Constituies de 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988. d) Semirrgida ou semiflexvel: para algumas normas, o processo legislativo de alterao mais dificultoso que o ordinrio; para outras no. Um exemplo a Carta Imperial do Brasil (1824), que exigia procedimento especial para modificao de artigos que tratassem de direitos polticos e individuais, bem como dos limites e atribuies respectivas dos Poderes. As normas referentes a todas as demais matrias poderiam ser alteradas por procedimento usado para modificar as leis ordinrias. e) Flexvel: pode ser modificada pelo procedimento legislativo ordinrio, ou seja, pelo mesmo processo legislativo usado para modificar as leis comuns. 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 23 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale importante salientar que a maior ou menor rigidez da Constituio no lhe assegura estabilidade. Sabe-se hoje que esta se relaciona mais com o amadurecimento da sociedade e das instituies estatais do que com o processo legislativo de modificao do texto constitucional. No seria correta, portanto, uma questo que afirmasse que uma Constituio rgida mais estvel. Veja o caso da CF/88, que j sofreu dezenas de emendas. Da rigidez constitucional decorre o princpio da supremacia da Constituio. que, em virtude da necessidade de processo legislativo especial para que uma norma seja inserida no texto constitucional, fica claro, por consequncia lgica, que as normas constitucionais esto em patamar hierrquico superior ao das demais normas do ordenamento jurdico. Assim, as normas que forem incompatveis com a Constituio sero consideradas inconstitucionais. Tal fiscalizao de validade das leis realizada por meio do denominado Òcontrole de constitucionalidadeÓ, que tem como pressuposto a rigidez constitucional. (UEG Ð 2015) A CF/88 pode ser definida como semirrgida, pois apresenta dispositivos que podem ser emendados por meio de lei (normas apenas formalmente constitucionais), ao passo que as normas materialmente constitucionais s podem ser alteradas por meio de emendas constituio. Comentrios: A CF/88 classificada como rgida, pois somente pode ser modificada por um procedimento mais dificultoso do que o das leis ordinrias. Na histria brasileira, a Constituio de 1824 era semirrgida. Questo errada. 5) Classificao quanto ao contedo: Para entender a classificao das constituies quanto ao contedo, fundamental deixarmos bem claro, primeiro, o que so normas materialmente constitucionais e o que so normas formalmente constitucionais. 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 24 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale Normas materialmente constitucionais so aquelas cujo contedo tipicamente constitucional, dizer, so normas que regulam os aspectos fundamentais da vida do Estado (forma de Estado, forma de governo, estrutura do Estado, organizao do Poder e os direitos fundamentais). Essas normas, estejam inseridas ou no no texto escrito da Constituio, formam a chamada ÒConstituio materialÓdo Estado. relevante destacar que no h consenso doutrinrio sobre quais so as normas materialmente constitucionais. inegvel, contudo, que h certos assuntos, como os direitos fundamentais e a organizao do Estado, que so considerados pelos principais constitucionalistas como sendo normas materialmente constitucionais. Por outro lado, normas formalmente constitucionais so todas aquelas que, independentemente do contedo, esto contidas em documento escrito elaborado solenemente pelo rgo constituinte. Avalia-se apenas o processo de elaborao da norma: o contedo no importa. Se a norma faz parte de um texto constitucional escrito e rgido, ela ser formalmente constitucional. Cabe, aqui, fazer uma importante observao. Um pressuposto para que uma norma seja considerada formalmente constitucional a existncia de uma Constituio rgida (altervel por procedimento mais difcil do que o das leis). Ora, em um Estado que adota constituio flexvel, no cabe falar-se em normas formalmente constitucionais; no h, afinal, nesse tipo de Estado, distino entre o processo legislativo de elaborao das leis e o das normas que alteram a Constituio. Em uma Constituio escrita e rgida, h normas que so apenas formalmente constitucionais e outras, que so, ao mesmo tempo, material e formalmente constitucionais. Um exemplo clssico o art. 242, ¤ 2¼, da CF/88, que dispe que o Colgio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, ser mantido na rbita federal. Por estar no texto da Constituio, esse dispositivo , inegavelmente, uma norma formalmente constitucional. No entanto, o seu contedo no essencial organizao do Estado, motivo pelo qual possvel afirmar que trata-se de uma norma apenas formalmente constitucional. Por outro lado, o art.5¼, inciso III, da CF/88 (Òningum ser submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradanteÓ) norma material e formalmente constitucional. As normas formalmente constitucionais podem, portanto, ser materialmente constitucionais, ou no. No ltimo caso, sua insero no texto 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 25 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale constitucional visa sublinhar sua importncia, dando-lhes a estabilidade que a Constituio rgida confere a todas as suas normas9. Feitas essas consideraes, voltemos classificao das constituies que, quanto ao contedo, podem ser: a) Constituio material: o conjunto de normas, escritas ou no, que regulam os aspectos essenciais da vida estatal. Sob essa tica, todo e qualquer Estado dotado de uma Constituio, afinal, todos os Estados tm normas de organizao e funcionamento, ainda que no estejam consubstanciadas em um texto escrito. Alm disso, plenamente possvel que existam normas fora do texto constitucional escrito, mas que, por se referirem a aspectos essenciais da vida estatal, so consideradas como fazendo parte da Constituio material do Estado. Ressalte-se, mais vez, que analisar se uma norma ou no materialmente constitucional depende apenas da considerao do seu contedo. Um exemplo de Constituio material a Carta do Imprio de 1824, que considerava constitucionais apenas matrias referentes aos limites e atribuies dos poderes e direitos polticos, inclusive os individuais dos cidados. b) Constituio formal (procedimental): o conjunto de normas que esto inseridas no texto de uma Constituio rgida, independentemente de seu contedo. A Constituio de 1988, considerada em sua totalidade, do tipo formal, pois foi solenemente elaborada por uma Assembleia Constituinte. Todas as normas previstas no texto da Constituio Federal de 1988 so formalmente constitucionais. Entretanto, algumas normas da Carta Magna so apenas formalmente constitucionais (e no materialmente), j que no tratam de temas de grande relevncia jurdica, enquanto outras so formal e materialmente constitucionais (como as que tratam de direitos fundamentais, por exemplo). H tambm, no ordenamento jurdico brasileiro, normas materialmente constitucionais fora do texto constitucional. o caso dos tratados sobre direitos humanos introduzidos no ordenamento 9 Manoel Gonalves Ferreira Filho, Curso de Direito Constitucional, 27» edio, p. 12, Ed. Saraiva. 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 26 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale jurdico pelo rito prprio de emendas constitucionais, conforme o ¤ 3¼ do art. 5¼ da Constituio10. Segundo o Prof. Michel Temer, a distino entre normas formalmente constitucionais (todas as normas da CF/88) e normas materialmente constitucionais (aquelas que regulam a estrutura do Estado, a organizao do Poder e os direitos fundamentais) juridicamente irrelevante, luz da Constituio atual 11. Isso se deve ao fato de que a CF/88 formal e, por isso, todas as normas que a integram so normas constitucionais, modificveis apenas por procedimento legislativo especial. Destaque-se, tambm, que a distino entre normas materialmente constitucionais e normas formalmente constitucionais no tem qualquer efeito sobre a aplicabilidade dessas normas. 6) Classificao quanto extenso: Quanto extenso, as Constituies podem ser analticas ou sintticas. a) Analticas (prolixas, extensas ou longas): tm contedo extenso, tratando de matrias que no apenas a organizao bsica do Estado. Contm normas apenas formalmente constitucionais. A CF/88 analtica, pois trata minuciosamente de certos assuntos, no materialmente constitucionais. Esta espcie de Constituio uma tendncia do constitucionalismo contemporneo, que busca dotar certos institutos e normas de uma proteo mais eficaz contra investidas do legislador ordinrio. Ora, devido supremacia formal da Constituio, as normas inseridas em seu texto somente podero ser modificadas mediante processo legislativo especial. b) Sintticas (concisas, sumrias ou curtas): restringem-se aos elementos substancialmente constitucionais. o caso da Constituio norte-americana, que possui apenas sete artigos. O detalhamento dos direitos e deveres deixado a cargo das leis infraconstitucionais. Destaque-se que os textos constitucionais sintticos so qualificados 10 Dirley da Cunha Junior. Curso de Direito Constitucional, 6» edio, p. 149, Ed. JusPodivm. 11 Michel Temer, Elementos de Direito Constitucional. 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 27 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale como constituies negativas, uma vez que constroem a chamada liberdade-impedimento, que serve para delimitar o arbtrio do Estado sobre os indivduos. (Instituto Rio Branco Ð 2017) A Constituio Federal de 1988 classificada, quanto extenso, como sinttica, pois suas matrias foram dispostas em um instrumento nico e exaustivo de seu contedo. Comentrios: A Constituio Federal de 1988 pode ser classificada, quanto extenso, como analtica, por tratar de matrias que no so materialmente constitucionais. Questo errada. 7) Classificao quanto correspondncia com a realidade: Quanto correspondncia com a realidade poltica e social (classificao ontolgica), as constituies se dividemem: a) Normativas: regulam efetivamente o processo poltico do Estado, por corresponderem realidade poltica e social, ou seja, limitam, de fato, o poder. Em suma: tm valor jurdico. Exemplos: Constituies brasileiras de 1891, 1934 e 1946. b) Nominativas: buscam regular o processo poltico do Estado, mas no conseguem realizar este objetivo, por no atenderem realidade social. So constituies prospectivas, que visam, um dia, a sua concretizao, mas que no possuem aplicabilidade. Isso se deve, segundo Loewenstein, provavelmente ao fato de que a deciso que levou sua promulgao foi prematura, persistindo, contudo, a esperana de que, um dia, a vida poltica corresponda ao modelo nelas fixado. No possuem valor jurdico: so Constituies Òde fachadaÓ. c) Semnticas: no tm por objetivo regular a poltica estatal. Visam apenas formalizar a situao existente do poder poltico, em benefcio dos seus detentores. Exemplos: Constituies de 1937, 1967 e 1969. Destaca-se que essa classificao foi criada por Karl Loewenstein. Embora existam controvrsias na doutrina, podemos classificar a CF/88 como normativa. 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 28 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale (SEAP/DF Ð 2015) Semntica, de acordo com a concepo ontolgica de Karl Loewenstein, a constituio que no tem o objetivo de regular a vida poltica do Estado, mas, sim, de formalizar e manter a conformao poltica atual, o status quo vigente. Deixa-se, portanto, de limitar o poder real para apenas formalizar e manter o poder existente. Comentrios: isso mesmo! A Constituio semntica visa apenas manter o status quo vigente, sem a pretenso de regular a vida poltica do Estado. Questo correta. 8) Classificao quanto funo desempenhada: No que se refere funo por ela desempenhada, as Constituies se classificam em: a) Constituio-lei: aquela em que a Constituio tem ÒstatusÓ de lei ordinria, sendo, portanto, invivel em documentos rgidos. Seu papel de diretriz, no vinculando o legislador. b) Constituio-fundamento: a Constituio no s fundamento de todas as atividades do Estado, mas tambm da vida social. A liberdade do legislador de apenas dar efetividade s normas constitucionais. c) Constituio-quadro ou Constituio-moldura: trata-se de uma Constituio em que o legislador s pode atuar dentro de determinado espao estabelecido pelo constituinte, ou seja, dentro de um limite. Cabe jurisdio constitucional verificar se esses limites foram obedecidos. 9) Classificao quanto finalidade: As Constituies podem ser classificadas, quanto finalidade, em garantia, dirigente ou balano. a) Constituio-garantia: seu principal objetivo proteger as liberdades pblicas contra a arbitrariedade do Estado. Corresponde ao primeiro perodo de surgimento dos direitos humanos (direitos de primeira gerao, ou seja, direitos civis e polticos), a partir do final do sculo XVIII. As Constituies-garantia so tambm chamadas de negativas, uma vez que buscam limitar a ao estatal; elas impem a omisso ou negativa de atuao do Estado, protegendo os indivduos contra a ingerncia abusiva dos Poderes Pblicos. 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 29 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale b) Constituio-dirigente: aquela que traa diretrizes que devem nortear a ao estatal, prevendo, para isso, as chamadas normas programticas. Segundo Canotilho, as Constituies dirigentes voltam-se garantia do existente, aliada instituio de um programa ou linha de direo para o futuro, sendo estas as suas duas principais finalidades. Assim, as Constituies-dirigentes, alm de assegurarem as liberdades negativas (j alcanadas), passam a exigir uma atuao positiva do Estado em favor dos indivduos. A Constituio Federal de 1988 classificada como uma Constituio-dirigente. Essas constituies surgem mais recentemente no constitucionalismo (incio do sculo XX), juntamente com os direitos fundamentais de segunda gerao (direitos econmicos, sociais e culturais). Os direitos de segunda gerao, em regra, exigem do Estado prestaes sociais, como sade, educao, trabalho, previdncia social, entre outras. c) Constituio-balano: aquela que visa reger o ordenamento jurdico do Estado durante um certo tempo, nela estabelecido. Transcorrido esse prazo, elaborada uma nova Constituio ou seu texto adaptado. uma constituio tpica de regimes socialistas, podendo ser exemplificada pelas Constituies de 1924, 1936 e 1977, da Unio Sovitica. Tambm chamadas de Constituies-registro, essas constituies descrevem e registram o estgio da sociedade em um dado momento. As Constituies-garantia, por se limitarem a estabelecer direitos de primeira gerao, relacionados proteo do indivduo contra o arbtrio estatal, so sempre sintticas. J as Constituies-dirigentes so sempre analticas, devido marcante presena de normas programticas em seu texto12. (ISS Ð SP Ð 2014) No que diz respeito ao seu modo de elaborao, a CF/88 definida como constituio-dirigente, pois examina e regulamenta todos os assuntos que entenda ser relevantes destinao e ao funcionamento do Estado. Comentrios: Quanto ao modo de elaborao, as Constituies podem ser 12 Jos Afonso da Silva conceitua as normas programticas como aquelas "atravs das quais o constituinte, em vez de regular, direta e imediatamente, determinados interesses, limitou-se a traar-lhes os princpios para serem cumpridos pelos rgos (legislativos, executivos, jurisdicionais e administrativos), como programas das respectivas atividades, visando realizao dos fins sociais do EstadoÓ. 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 30 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale classificadas como dogmticas ou histricas. A CF/88 classificada como dogmtica. Questo errada. (PGE-PR Ð 2015) A noo de Constituio dirigente determina que, alm de organizar e limitar o poder, a Constituio tambm preordena a atuao governamental por meio de planos e programas constitucionais vinculantes. Comentrios: Alm de assegurarem as liberdades negativas (limitando o poder estatal), as Constituies dirigentes traam diretrizes que devem nortear a ao estatal. Ela define planos e programas vinculantes para os poderes pblicos. Questo correta. 10) Classificao quanto ao contedo ideolgico: Essa classificao, proposta por Andr Ramos Tavares, busca identificar qual o contedo ideolgico que inspirou a elaborao do texto constitucional. a) Liberais: so constituies que buscam limitar a atuao do poder estatal, assegurando as liberdades negativas aos indivduos. Podem ser identificadas com as Constituies-garantia, sobre as quais j estudamos. b) Sociais: so constituies que atribuem ao Estado a tarefa de ofertar prestaes positivas aos indivduos, buscando a realizao da igualdade material e a efetivao dos direitos sociais. Cabe destacar que a CF/88 pode ser classificada como social. 11) Classificao quanto ao local da decretao: Quanto ao local da decretao, as constituies podem ser classificadas em: a) Heteroconstituies: so constituieselaboradas fora do Estado no qual elas produziro seus efeitos. b) Autoconstituies: so constituies elaboradas no interior do prprio Estado que por elas ser regido. A Constituio Federal de 1988 uma autoconstituio. 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 31 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale 12) Classificao quanto ao sistema: Quanto ao sistema, as Constituies podem ser classificadas em principiolgicas e preceituais. a) Constituio principiolgica ou aberta: aquela em que h predominncia dos princpios, normas caracterizadas por elevado grau de abstrao, que demandam regulamentao pela legislao para adquirirem concretude. o caso da CF/88. b) Constituio preceitual: aquela em que prevalecem as regras, que se caracterizam por baixo grau de abstrao, sendo concretizadoras de princpios. 13) Outras Classificaes: A doutrina constitucionalista, ao estudar as Constituies, identifica ainda outras classificaes possveis para estas: a) Plstica: no h consenso doutrinrio sobre quais so as caractersticas de uma constituio plstica. O Prof. Pinto Ferreira considera como sendo plsticas as constituies flexveis (alterveis por processo legislativo prprio das leis comuns); por outro lado, Raul Machado Horta denomina de plsticas as constituies cujo contedo de tal sorte malevel que esto aptas a captar as mudanas da realidade social sem necessidade de emenda constitucional. Nessa perspectiva, Òa Constituio plstica estar em condies de acompanhar, atravs do legislador ordinrio, as oscilaes da opinio pblica e do corpo eleitoralÓ. 13 b) Expansiva: na evoluo constitucional de um Estado, comum que uma nova Constituio, ao ser promulgada, traga novos temas e amplie o tratamento de outros, que j estavam no texto constitucional anterior. Essas constituies so consideradas expansivas, como o caso da Constituio Federal de 1988 que, alm de trazer luz vrios novos temas, ampliou substancialmente o tratamento dos direitos fundamentais. Quanta informao, no mesmo? Vamos revisar? A Tabela a seguir sintetiza as principais classificaes das Constituies que vimos nesta aula: CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES QUANTO À ORIGEM OUTORGADAS Impostas, surgem sem participação popular. Resultam 13 HORTA, Raul Machado. Direito Constitucional, 5» edio. Ed. Del Rey, 2010. 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 32 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale de ato unilateral de vontade da classe ou pessoa dominante no sentido de limitar seu próprio poder. DEMOCRÁTICAS Nascem com participação popular, por processo democrático. CESARISTAS Outorgadas, mas necessitam de referendo popular. DUALISTAS Resultam de um compromisso entre a monarquia e a burguesia, dando origem às monarquias constitucionais. QUANTO À FORMA ESCRITAS Sistematizadas em documentos solenes. NÃO‑ESCRITAS Normas em leis esparsas, jurisprudência, costumes e convenções. QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO DOGMÁTICAS Elaboradas em um determinado momento, segundo os dogmas em voga. HISTÓRICAS Surgem lentamente, a partir das tradições. Resultam dos valores históricos consolidados pela sociedade. QUANTO À ESTABILIDADE IMUTÁVEIS Não podem ser modificadas. RÍGIDAS Modificadas por procedimento mais dificultoso que aquele de alteração das leis. Sempre escritas. SEMIRRÍGIDAS Processo legislativo de alteração mais dificultoso que o ordinário para algumas de suas normas. QUANTO AO CONTEÚDO MATERIAIS Conjunto de normas que regulam os aspectos essenciais da vida estatal, ainda que fora do texto constitucional escrito. FORMAIS Conjunto de normas que estão inseridas no texto de uma Constituição rígida, independentemente de seu conteúdo. QUANTO À EXTENSÃO ANALÍTICAS Conteúdo extenso. Contêm normas apenas formalmente constitucionais. SINTÉTICAS Restringem‑se aos elementos materialmente constitucionais. QUANTO À CORRESPONDÊNCIA COM A REALIDADE NORMATIVAS Limitam, de fato, o poder, por corresponderem à realidade NOMINATIVAS Não conseguem regular o processo político, embora esse seja seu objetivo, por não corresponderem à realidade social. 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 33 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale SEMÂNTICAS Não têm por objeto regular a política estatal, mas apenas formalizar a situação da época. QUANTO À FINALIDADE CONSTITUIÇÕES‑ GARANTIA Objetivam proteger as liberdades públicas contra a arbitrariedade do Estado. CONSTITUIÇÕES‑ DIRIGENTES Traçam diretrizes para a ação estatal, prevendo normas programáticas. CONSTITUIÇÕES‑ BALANÇO Descrevem e registram o estágio da sociedade em um dado momento. QUANTO AO CONTEÚDO IDEOLÓGICO LIBERAIS Buscam limitar o poder estatal. SOCIAIS Têm como objetivo realizar a igualdade material e a efetivação dos direitos sociais. QUANTO AO LOCAL DA DECRETAÇÃO HETEROCONSTITUIÇÕES Elaboradas fora do Estado em que produzem seus efeitos. AUTOCONSTITUIÇÕES Elaboradas dentro do Estado que regem. QUANTO AO SISTEMA PRINCIPIOLÓGICAS Nelas, predominam os princípios. PRECEITUAIS Nelas, prevalecem as regras. Aplicabilidade das normas constitucionais O estudo da aplicabilidade das normas constitucionais essencial correta interpretao da Constituio Federal. a compreenso da aplicabilidade das normas constitucionais que nos permitir entender exatamente o alcance e a realizabilidade dos diversos dispositivos da Constituio. Todas as normas constitucionais apresentam juridicidade. Todas elas so imperativas e cogentes ou, em outras palavras, todas as normas constitucionais surtem efeitos jurdicos: o que varia entre elas o grau de eficcia. A doutrina americana (clssica) distingue duas espcies de normas constitucionais quanto aplicabilidade: as normas autoexecutveis (Òself executingÓ) e as normas no-autoexecutveis. As normas autoexecutveis so normas que podem ser aplicadas sem a necessidade de qualquer complementao. So normas completas, bastantes em si mesmas. J as normas no-autoexecutveis dependem de complementao legislativa antes de serem aplicadas: so as normas 0 00000000000 - DEMO www.estrategiaconcursos.com.br 34 de DIREITO CONSTITUCIONAL – PM/RN Profa Nádia / Prof. Ricardo Vale incompletas, as normas programticas (que definem diretrizes para as polticas pblicas) e as normas de estruturao (instituem rgos, mas deixam para a lei a tarefa de organizar o seu funcionamento). 14 Embora a doutrina americana seja bastante didtica, a classificao das normas quanto sua aplicabilidade mais aceita no Brasil foi a proposta pelo Prof. Jos Afonso da Silva. A partir da aplicabilidade das normas constitucionais, Jos Afonso da Silva classifica as normas constitucionais em trs grupos: i) normas de eficcia plena; ii) normas de eficcia contida e; iii) normas de eficcia limitada. 1) Normas de eficcia plena: So aquelas que, desde a entrada em vigor da Constituio, produzem, ou tm possibilidade de produzir, todos os efeitos que o legislador constituinte
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