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DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E PRIVADO
GRAAL DA PROVA ORAL DO 29º CPR – 10/2018
Organizado por Valdir Monteiro Oliveira Júnior
1A. Desenvolvimento histórico do Direito Internacional Público. Terminologia. A sociedade internacional e suas características. A expansão qualitativa e quantitativa do Direito Internacional. Princípios que regem as relações internacionais do Brasil.
Sérgio Corrêa de Carvalho 02/09/2018
Fonte: Direito Internacional Público e Privado, Paulo Henrique Gonçalves Portela; Direito Internacional Público e Privado, Maria Beatriz Ribeiro Gonçalves; Pluralidade das Ordens Jurídicas: uma nova perspectiva na relação entre o direito internacional e o direito constitucional, André de Carvalho Ramos; A Constitucionalização do Direito Internacional e a incorporação de Tratados Internacionais pelos Estados Membros do Mercosul, Fernanda Brusa Molino.
I. Desenvolvimento histórico do Direito Internacional Público
	
Sendo uma tentativa de reger as relações entre nações, não há marco exato para o nascimento do Direito Internacional. Hoje a necessidade de relações entre países é premente, mas o intercâmbio entre as nações sempre existiu. 
Há registros de regras sobre relações internacionais desde a Antiguidade, entre os Hititas, em 1272 a.C. Aponta-se que o Direito Internacional tornou-se ramo autônomo do Direito Público no século XVII, com o tratado de Westfalia (1648) que contou com a participação ativa do holandês Hugo Grotius, que então ficou conhecido como o “pai do Direito Internacional”.
Pode-se distinguir duas fases no Direito Internacional Público: a fase clássica (até a II Guerra Mundial), centrada nas relações entre os Estados soberanos, na qual o DIP se ocupava principalmente do Direito à Guerra e das questões relacionadas à colonização; e a fase moderna ou contemporânea (após a II Guerra Mundial), focada na proteção dos direitos humanos e construção de uma sociedade mundial mais justa, em que surgem questões como limitação ao poder soberano dos Estados, regulação do uso da força, Direito Humanitário e o surgimento de Organizações Internacionais temáticas e/ou regionais de criação e aplicação de normas internacionais.
II. Terminologia
O termo “Direito Internacional” foi empregado pela primeira vez em 1780, pelo inglês Jeremy Bentham, em sua obra An Introduction to the of Moral and Legislation, com o intuito de diferenciar o Direito que cuida das relações entre os Estados, também designados em inglês como nations, do Direito nacional (National Law) e do Direito municipal (Municipal Law).
Posteriormente, por influência francesa, foi incluído o termo “público”, aludindo ao interesse geral da matéria regulada pelo Direito Internacional, bem como para distingui-lo do Direito Internacional Privado, ramo do Direito cujo objeto principal é definir qual a ordem jurídica, nacional ou estrangeira, aplicável aos conflitos de leis no espaço em relações privadas com conexão internacional.
A expressão é criticada por parte da doutrina, visto que palavra nation também significa “nação”, noção que não se confunde com a de “Estado”. Entretanto, a denominação “Direito Internacional” é de uso corrente na atualidade. Em todo caso, ainda há autores que se referem ao Direito Internacional como “Direito das Gentes”, tradução literal do jus gentium do Direito Romano e que predominava até o século XVIII, ou jus inter gentes, expressão cunhada no século XV por Francisco de Vitória, que significaria “Direito entre Estados”.
É comum a referência ao Direito Internacional Público (e também ao próprio Direito Internacional Privado) simplesmente como “Direito Internacional”, embora haja diferenças importantes no ao objeto das duas disciplinas.
III. A sociedade internacional e suas características
A doutrina aponta o uso incorreto das expressões “comunidade internacional” e “sociedade internacional” como sinônimas.
A comunidade fundamenta-se em vínculos espontâneos e de caráter subjetivo, envolvendo identidade e laços culturais, emocionais, históricos, sociais, religiosos e familiares comuns. Caracteriza-se pela ausência de dominação, pela cumplicidade e pela identificação entre seus membros, cuja convivência é naturalmente harmônica.
Já a sociedade apoia-se na vontade de seus integrantes, que decidiram se associar para atingir certos objetivos que compartilham. É marcada, portanto, pelo papel decisivo da vontade, como elemento que promove a aproximação entre seus membros, e pela existência de fins, que o grupo pretende alcançar.
Considerando estes aspectos, a doutrina considera não haver uma “comunidade internacional”, mas tão somente uma “sociedade internacional”, que seria um conjunto de vínculos entre diversas pessoas e entidades interdependentes entre si, que coexistem por diversos motivos e que estabelecem relações que reclamam a devida disciplina.
Algumas características da sociedade internacional são apontadas. Vejamos:
A sociedade internacional é universal, ou seja, abrange o mundo inteiro, ainda que o nível de integração de alguns de seus membros às suas dinâmicas não seja tão profundo. Deste modo, ainda que um certo Estado adote uma política externa isolacionista deverá, no mínimo, se relacionar com o Estado com o qual tem fronteira.
A sociedade internacional é heterogênea, havendo a integração de atores que podem apresentar significativas diferenças entre si, de cunho econômico, cultural etc. A maior ou menor heterogeneidade influenciará decisivamente o processo de negociação e de aplicação das normas internacionais, que poderá ser mais ou menos complexo.
Parte da doutrina defende que a sociedade internacional é interestatal, ou seja, composta meramente por Estados. Todavia, este entendimento se tornou ultrapassado desde que as organizações internacionais se firmaram como sujeitos de Direito Internacional. Outrossim, atualmente há participação de empresas, ONGs e até mesmo de indivíduos nas relações internacionais.
A sociedade internacional é descentralizada, não havendo um poder central internacional ou um governo mundial, mas vários centros de poder, como os próprios Estados e as organizações internacionais, não subordinados a qualquer autoridade maior. Logo, a sociedade internacional é caracterizada não pela subordinação, mas sim pela coordenação de interesses entre seus membros.
	
IV. A expansão qualitativa e quantitativa do Direito Internacional
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o resultado das atividades oriundas do Nazismo, houve uma preocupação da comunidade internacional em criar mecanismos para reprimir tal repetição de fatos e violações de direitos. Consequentemente, entre os mecanismos criados são elencados a Organização das Nações Unidas e a elaboração de tratados internacionais para tal fim. Por conseguinte, houve uma expansão quantitativa e qualitativa de normas internacionais.
Neste contexto, a expansão quantitativa seria o aparentemente inesgotável manancial de produção de normas internacionais sobre os mais diversos campos da conduta social. Esse furor normativo criou obrigações invasivas, aptas a reger a conduta das sociedades internas (e não somente a conduta dos estados no campo diplomático, interestatal), como é o caso das obrigações de Direitos Humanos, de comércio internacional, de regime de benefícios tributários etc.
Já́ a expansão qualitativa consiste no fortalecimento de procedimentos internacionais de interpretação e cumprimento das normas, superando, em vários sub-ramos do Direito Internacional, a tradicional descentralização e fragilidade na execução das normas internacionais.
É importante observar que a expansão quantitativa do Direito internacional – com a elaboração de diversos tratados – preparou uma expansão qualitativa, com a criação de inúmeros tribunais internacionais e órgãos quase-judiciais que fornecem uma interpretação imparcial e concretizam o dever de cumprimento das normas internacionais. Há, na atualidade, uma proliferação dos próprios mecanismos de solução de controvérsia,gerando a constitucionalização do Direito internacional.
Deste modo, tem-se a constitucionalização do Direito Internacional, que consiste em um fenômeno pelo qual o Direito internacional adapta institutos outrora reservados ao Direito Constitucional, como, por exemplo, criação de tribunais, proteção de direitos fundamentais, rule of law, acesso direto de indivíduos, julgamento de indivíduos no campo penal (até com pena de caráter perpétuo), entre outros.
	
V. Princípios que regem as relações internacionais do Brasil
A própria Constituição da República Federativa do Brasil, em seu artigo 4º, faz menção às relações internacionais desta nação e enumera os princípios que devem informá-la:
I - independência nacional; 
II - prevalência dos direitos humanos; 
III - autodeterminação dos povos; 
IV - não-intervenção; 
V - igualdade entre os Estados; 
VI - defesa da paz; 
VII - solução pacífica dos conflitos; 
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; 
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; 
X - concessão de asilo político.
Outrossim, o parágrafo único do citado artigo, afirma-se que a “República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações”.
1B. Princípios do Direito Internacional Privado. Igualdade e tolerância no Direito Internacional Privado. Interpretação e aplicação do direito estrangeiro. Prova do direito estrangeiro. Reenvio.
Isadora Carvalho
Princípios gerais de DIPr: caracterizam-se pela abertura e servem para (i) integrar as lacunas do Direito Internacional e ainda para (ii) balizar a interpretação das demais normas. São contextuais, variando conforme a época. A extração de princípios no plano internacional tem a vantagem de contar com a aceitação dos Estados, já que se originam de normas internacionais. Assim, o Dipr contemporâneo caracteriza-se pela gestão da diversidade normativa e jurisdicional da vida privada do indivíduo, em um contexto marcado pelo respeito à diversidade e direitos humanos. Por isso, os princípios gerais (reconhecidos em precedentes internacionais) que impactam essa gestão da diversidade são, ao mesmo tempo, fontes do DIPr. 
São eles: 1) P. da proteção e respeito à dignidade humana: dignidade enquanto valor central no Dipr contemporâneo. Reconhecimento de que cada indivíduo - nacional ou estrangeiro - envolvido nos fatos transnacionais tem o direito de ser respeitado pelos demais e também deve reciprocamente respeitá-los. A dignidade humana consiste na qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano, que o protege contra todo tratamento degradante e discriminação odiosa, bem como assegura condições materiais mínimas de sobrevivência. Tal princípio advém de diversos tratados (ex. DUDH; Pactos de 1966; CADH; Carta de direitos fundamentais da EU); 2) P. da igualdade de tratamento e vedação da discriminação: exigência de um tratamento sem discriminação odiosa a todos os envolvidos nosfatos transnacionais. Tem fundamento na universalização dos direitos humanos, uma vez que todos os seres humanos – nacionais ou estrangeiros - são iguais em direitos. Além das 2 facetas complementares da igualdade (a formal e a material), o Dipr também se importa com a igualdade de reconhecimento de identidades próprias, distintas dos agrupamentos hegemônicos. Ficam consagradas, então, as lutas pelo reconhecimento da igualdade orientada pelos critérios de origem, gênero, orientação sexual, idade, raça, etnia, entre outros; 3) P. da autonomia da vontade e da proteção da parte vulnerável: poder que as partes de um negócio jurídico têm de regular o conteúdo das relações nele inseridas. Autorregulamentação de interesses particulares, limitada pelas normas jurídicas. Tal princípio é ponderado pela proteção da parte vulnerável, uma vez que o respeito à liberdade de agir no fato transnacional pressupõe o equilíbrio entre os envolvidos. Do contrário, não existirá liberdade, mas imposição da posição do mais forte, a ensejar a intervenção do Estado, impondo limites à autonomia da vontade e restaurando sua premissa original, que é a liberdade de agir sem coerção; 4) P. da proteção da diversidade cultural: respeito às formas originais e plurais de identidades dos mais diversos indivíduos envolvidos nos fatos transnacionais, evitando a hegemonia da visão de mundo do Estado do foro. Os direitos culturais são reconhecidos como parte da gramática dos direitos humanos (DUDH). As formas plurais e originais de expressões culturais não são estanques e interagem (intercâmbios inesperados, nascendo a "interculturalidade": existência e e interação equitativa de diversas culturas, assim como a possibilidade de geração de expressões culturais compartilhadas por meio do diálogo e respeito mútuo). A diversidade cultural é patrimônio comum da humanidade e fortalece democracia, tolerância, justiça social e mútuo respeito; 5) P. da cooperação internacional leal: a interdependência entre os Estados e a expansão quantitativa e qualitativa do Dipr impede eventual isolacionismo no tratamento dos fatos transnacionais. Desde a Carta da ONU os Estados assumiram o dever de cooperar, com base na boa-fé; 6) P. do respeito ao acesso à justiça e ao devido processo legal: proteção judicial adequada para a regência do fato transnacional. Tal princípio é fundamental na determinação da jurisdição e no reconhecimento e execução de deliberações estrangeiras, evitando a denegação de justiça e eventual prestação jurisdicional arbitrária e xenófoba. Tem faceta formal (acesso ao Judiciário) e material (efetivação do direito por meio do devido processo legal em prazo razoável); 7) P. da segurança jurídica ou da uniformidade de tratamento: exigência da mesma solução para os fatos transnacionais, não importando o país no qual tenha sido prolatada a decisão ou emanada a interpretação das normas de regência. Está em linha com o p. da igualdade. A segurança jurídica no Dipr tem faceta objetiva (imunização de atos jurídicos transnacionais de alterações posteriores. Irretroatividade da lei) e subjetiva (p. da confiança).
Igualdade e tolerância no Direito Internacional Privado. A centralidade do DIPr na nova globalização está na tolerância e respeito às diferenças, no reconhecimento do outro e na promoção de direitos de todos os envolvidos os fatos transnacionais. Gestão da diversidade normativa e jurisdicional à luz dos direitos humanos evitando amesquinhamento de direitos e situações de intolerância, xenofobia e chauvinismo jurídico, concretizando, no plano da gestão dos fatos plurilocalizados, o ideal de uma sociedade inclusiva. O valor de tolerância à diversidade representa a essência do DIPr, uma vez que a possibilidade de uso de direito estrangeiro e implementação de decisões judiciais de outro Estado caracterizam a disciplina. Caso simplesmente o direito local repelisse o direito estrangeiro (xenofobia jurídica), não existiria o DIPr.
Aplicação do direito estrangeiro. Fontes do direito estrangeiro: As fontes formais do direito estrangeiro obedecem seu próprio sistema, podendo inclusive abranger fontes não aceitas como vinculantes pelo Estado do foro, como o costume ou doutrina. Há um critério para delimitar o direito estrangeiro: o seu uso pelo juiz local. Assim, é todo o direito vigente privado ou público utilizado pelos próprios juízes estrangeiros. No tópico ACR fala sobre a “natureza das normas estrangeiras” (as normas de direito privado ou não), que é questão indiferente ao DIpr (já que mesmo normas de direito público estrangeiro podem ser indicadas), e também sobre “as controvérsias de Dipr” sobre a aplicação das normas estrangeiras pelo Estado do foro” (ex. norma produzida por meio de ofensa a normas internacionais, como no caso lei estrangeira sobre determinado território sob ocupação estrangeira ilícita: a lei do ocupante, nessa hipótese, não deve ser usada pelo DIPr). Sobre esse último ponto: Exige-se que a interpretação do direito estrangeiro estejaalinhada com a integridade das normas internacionais. O DIPr não pode isolar-se e pretender que a aplicação de suas normas se dê em descompasso com as normas internacionais, sob a justificativa de que o objeto do DIPr envolve somente interesses privados. Por outro lado, as divergências entre o Estado do foro e o Estado estrangeiro devem ser relevadas, caso não haja nenhuma norma internacional violada.
Natureza do direito estrangeiro a ser aplicado: 1) corrente da equiparação fática: É negacionista: Defende a equiparação fática, pela qual o direito estrangeiro é assimilado a um fato que deve ser provado e apreciado segundo as regras processuais do Estado do foro. Negação do direito estrangeiro, pois este não seria aplicável além do território de um Estado e a lex fori só reconhece situações consolidadas no exterior. Gera o inconveniente de descaracterizar a obrigatoriedade do uso do direito estrangeiro estabelecido pela própria regra de conexão do foro, que ficaria ao sabor da vontade do interessado em invocar o direito estrangeiro.; 2) corrente do reconhecimento jurídico: o direito estrangeiro é considerado como norma jurídica, mas há divergências no seu seio a respeito de que "tipo de direito" seria (se tem natureza própria; se é incorporado em norma nacional - teoria da recepção material; ou se o direito estrangeiro é incorporado no foro como como direito, mas preserva o alcance e sentido impostos pela ordem estrangeira - teoria da recepção/remissão formal). A diferença entre as duas correntes impacta na aplicação do direito estrangeiro: se for considerado fato, cabe a parte interessada alegar e provar; se for considerado direito, é possível exigir que o julgador aplique o direito de ofício, mas nasce o problema do modo de interpretação (se de acordo com a lei do foro ou conforme a interpretação estrangeira). No Brasil, adota-se a corrente do reconhecimento jurídico: É dever do juiz aplicar o direito estrangeiro de ofício (o que está de acordo com o art. 480 do Cód. de Bustamante). Caso o juiz não conheça o direito estrangeiro, pode determinar a "quem o invoca" (LINDB) ou "a parte que alegar" (CPC/2015), o que não impede que (i) a parte espontaneamente produza tal prova ou ainda que (ii) o juiz diligencie nesse sentido. Caso o juiz não exija tal colaboração da parte, é seu dever conhecer do teor, vigência e interpretação do direito estrangeiro, gerando impactos na interpretação da norma. Logo, o juiz nacional, assim, ao se deparar com a necessidade de aplicação do direito estrangeiro deve seguir as seguintes regras: (i) aplicar a norma estrangeira de ofício, como consequência direta do DIPr e do acesso à tutela justa; (ii) caso não conheça a norma estrangeira e, mesmo dispondo da possibilidade de determinar à parte que produza a prova do direito estrangeiro, deve diligenciar e buscar o texto faltante", em face do seu dever de aplicar a lei cabível de ofício e decidir a lide (a chamada proibição do non liquet- art. 140 do CPC'); (iii) caso, mesmo após sua diligência, não conheça o teor e a vigência, deve exigir da parte que o alegou a prova do direito alegado; e (iv) as partes (mesmo aquela que nada alegou) podem espontaneamente apresentar o direito invocado.
Meios de Prova: A prova do direito estrangeiro pode ser obtida por todos os meios admitidos no ordenamento do Estado do foro, ex: (i) prova documental pela apresentação do texto; (ii) prova pericial (parecer de advogados ou professores); (iii) informação do próprio Estado estrangeiro sobre a vigência, sentido e alcance legal do direito; e (iv) prova testemunhal. O Código Bustamante prevê no art. 409 que o texto legal estrangeiro, sua vigência e sentido, podem ser demonstrados mediante certidão, devidamente legalizada, de dois advogados em exercício no Estado estrangeiro, e o art. 410 possibilita ao juiz solicitar, de ofício, pela via diplomática, antes de decidir, ao Estado de cuja legislação se trate, que este forneça um relatório sobre (i) o texto, (ii) a vigência e (iii) o sentido do direito aplicável. Esse relatório pode ser fornecido pelo mais alto tribunal, pela Procuradoria-Geral, pela Secretaria ou pelo Ministério da Justiça (art. 411). A Convenção Interamericana sobre Prova e Informação acerca do Direito Estrangeiro, adotada em Montevidéu (1979), prevê a consulta para prova e informação sobre o direito estrangeiro, por meio de autoridade central. O Protocolo de Cooperação e Assistência Jurisdicional em Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e Administrativa (Protocolo de Las Lenas") também prevê o pedido de informação de direito por intermédio da Autoridade Central (no Brasil, também o Ministério da Justiça). Isso facilita o trabalho do juiz ao sentenciar, pois pode se valer da via célere da autoridade central para receber informação atual do direito estrangeiro. 
Interpretação do direito estrangeiro: a corrente do reconhecimento jurídico subdividiu-se, para justificar a aplicação do direito estrangeiro como norma jurídica pelo juiz nacional, em três: (i) a teoria da remissão ou recepção material, (li) a teoria da remissão ou recepção formal e (iii) a teoria da aceitação. As teorias da recepção (pelas quais só teria validade se fosse incorporada ou recepcionada pelo direito nacional) já estão ultrapassadas, pois incompatíveis com a pluralidade de fontes do DIpr. Vige, hoje, a teoria da aceitação, pois esta em linha com o objetivo de gestão da diversidade normativa e jurisdicional do DIpr à luz dos DH, baseado na tolerância e na diversidade: aceitar o direito estrangeiro como tal não ofende a soberania nacional, uma vez que a realização de justiça e respeito ao outro é também objetivo dos Estados na atualidade. A pluralidade de fontes do DlPr (nacional e internacional) não exige mais que seja debatida a aplicabilidade do direito estrangeiro por meio das teorias da recepção. Pelo contrário, há um dever internacional que considera que a norma estrangeira é a norma reguladora daquele fato transnacional. A norma internacional de DIPr, p. ex., obriga todo o Estado a fazê-la valer internamente, sob pena de responsabilização internacional e descumprimento - no caso brasileiro - da própria Constituição, que assegura o respeito aos tratados celebrados. A consequência da teoria da aceitação é a exigência de que a interpretação da lei estrangeira seja feita conforme a hermêutica do Estado de origem, uma vez que não se trata de "direito nacional" ou "direito estrangeiro incorporado", mas simplesmente direito estrangeiro, ou seja, o juiz brasileiro deve aplicar a norma estrangeira como se juiz estrangeiro fosse. “Caso dos empréstimos franco-brasileiros”: A CPJI decidiu que, após ter sido indicada a lei estrangeira, esta deve ser aplicada como o seria no próprio Estado estrangeiro. A Convenção Interamericana sobre Normas Gerais de Direito Internacional Privado, Montividéu 1979, diz que "os juízes e as autoridades dos Estados-Partes ficarão obrigados a aplicar o direito estrangeiro tal como o fariam os juízes do Estado cujo direito seja aplicável, sem prejuízo de que as partes possam alegar e provar a existência e o conteúdo da lei estrangeira invocada" (art. 2°). Logo, para cumprir a indicação da regra de DIPr, é necessário o uso da interpretação fixada pelo Estado de origem da norma. Para assegurar isso, é necessário que cada Estado possua recursos cabíveis contra interpretações errôneas do direito estrangeiro ou negativa de sua aplicação. Nesse sentido, o Cód. de Bustamante prevê o “recurso de cassação ou instituição correspondente” para os casos de violação, interpretação errônea ou aplicação indevida da lei estrangeira (art. 412). No Brasil, o STF admitiu recurso contra decisão que aplicou o direito estrangeiro diversamente do que constava da interpretação dominante no Estado estrangeiro de origem. Na atualidade, caso determinado TJ interprete o direito estrangeiro de modo diverso do feito no Estado estrangeiro, é cabível recurso especial ao STJ, justamente para uniformizar a aplicação da norma estrangeira no Brasil.
Falha na prova do direitoestrangeiro: 1) Uso da lex fori (posição STJ); 2) Imposição do ônus da prova (na falta de previsão legal de aplicação da lex fori, deve-se julgar não provada a pretensão baseada no dispositivo da lei estrangeira. A crítica a esse entendimento consiste na indevida equiparação do direito estrangeiro a um fato que, se não provado, prejudica quem o alegou em proveito próprio); 3) Converter o julgamento em diligência (crítica a essa corrente é que sua aplicação pode prolongar excessivamente os litígios, ofendendo o direito ao devido processo legal em prazo razoável. Além disso, essa opção é, em abstrato, incompleta, pois não explica o que o juízo deve fazer caso a diligência fracasse; 4) Julgar de acordo com o direito provável existente (A crítica a tal posicionamento é o aumento exponencial de arbítrio judicial no julgamento do litígio); 5) Uso de analogia e princípios gerais de direitos (para essa corrente a ausência de prova do direito estrangeiro é equivalente a uma lacuna que deve ser preenchida, art. 4º LINDB); 6) Uso de regra de conexão subsidiária (EX. caso o direito estrangeiro indicado pela lei do domicílio não seja provado, utiliza-se a lei da residência, tal qual consta do DlPr brasileiro. Crítica: essa corrente também é incompleta, pois nada obsta que não haja prova também do direito estrangeiro indicado pela regra de conexão subsidiária.
Problemas na aplicação do direito estrangeiro: 
1) questão prévia/preliminar/incidente: quando em uma mesma situação com elemento de estraneidade há uma questão prejudicial e uma questão principal, havendo dúvida sobre quais regras de conexão usar para indicar o direito aplicável a cada uma dessas questões, há 2 posições: corrente da conexão subordinada (impõe à questão prévia a mesma regra de conflito que foi utilizada para determinar o direito material da questão principal) e corrente do desmembramento ou dépeçage (utilização de uma regra de conexão específica para cada categoria jurídica envolvida na situação transnacional, sendo, assim, corrente da conexão autônoma). A LINDB foi omissa, o que aponta para o uso da corrente da conexão autônoma, uma vez que nada autoriza o desprezo da regra de conexão específica da questão prévia em favor do consequente uso da regra de conexão da questão principal.
2) adaptação/aproximação: ajuste pelo julgador das normas estrangeiras (matéria ou regras de conflito) com os institutos da lei do foro a fim de evitar resultados injustos. A adaptação pode ocorrer, p.ex., quando se está diante de instituto desconhecido no foro.
3) conflito móvel: é a modificação das situações fáticas que incidem sobre os elementos de conexão (ex. mudança fática do lugar do domicílio, do lugar de origem da nacionalidade, do lugar da residência habitual ou da situação de um bem móvel), gerando, consequentemente, novo direito indicado. Retrata conflito de leis no espaço (não no tempo), mobilidade da situação jurídica pelos diferentes Estados: A regra de conexão é a mesma, mas, em virtude da alteração fática de componente do elemento de conexão, altera-se o direito indicado para reger a situação transnacional, atraindo uma “conexão móvel” e havendo a competência sucessiva de distintas leis materiais para reger o fato transnacional. A dúvida é saber, em todos os casos de elemento de conexão, qual é o momento temporal que deve ser levado em consideração para a indicação final do direito material de regência. A solução é verificar a existência de regras internacionais ou nacionais. Na ausência, ACR aponta 2 correntes: (i) a corrente da regra intertemporal, para a qual cabe aplicar, ao conflito móvel, o mesmo critério de solução dado à temática do direito intertemporal do Estado do foro. Ex. indivíduo que já atingiu o limite etário para ser considerado capaz (por exemplo, 14 anos) e, com a alteração de domicílio para o Brasil, perde tal capacidade por lhe faltar ainda alguns anos (novo limite sendo 18 anos). Não há direito adquirido a um regime jurídico (capacidade plena) para os novos contratos que venha a celebrar.; (ii) corrente da solução internacional, que defende a predominância de uma solução especificamente internacional, adaptada às funções e objetivos da regra de DIPr analisada. Critica a corrente da regra intertemporal por querer resolver o conflito de leis materiais no espaço usando regras de solução de conflitos no tempo. Ex: Tribunal israelense que não declara nulo matrimônio celebrado no estrangeiro em desacordo com a lei do local da celebração por entender que a mudança de domicílio para Israel conferiu eficácia a um casamento nulo na origem, em uma validade retroativa. A preservação da validade do casamento impediu a aplicação da regra intertemporal. 
4) uso da lei mais favorável: (i) dispositivos nacionalistas (afastamento de determinado direito material para favorecer o sujeito ou o interesse nacional. Ex. art. 5º, XXXI, CF: “a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do "de cujus") e (ii) dispositivos de proteção de valores (regras que permitem a escolha, pelo intérprete, do direito material que melhor protege determinado interesse mencionado na regra de conexão. Relaciona-se com o método indireto flexível, regras de conexão alternativas. Ex. lei mais favorável à validade do matrimônio e do testamento à indenização da vítima do dano).
Reenvio/retorno/devolução: estudo das regras de Dipr do ordenamento estrangeiro a partir de regras de conflito do foro, para que seja (i) confirmada a indicação original, aplicando-se então o direito material estrangeiro ou (ii) seja recusada a indicação, sendo apontado outro ordenamento para reger o fato transnacional. A origem do instituto está nas diferentes escolhas dos Estados no que diz respeito às regras de conexão, tanto objeto de conexão (categorias jurídicas nas quais a situação transnacional é inserida) quanto no elemento de conexão (os vínculos a um determinado ordenamento). No reenvio a divergência encontra-se entre os elementos de conexão. Há um conflito negativo de sistemas, pois o DIPr do Estado do foro indica um determinado ordenamento estrangeiro, mas este ordenamento estrangeiro (por meio do seu próprio DIPr) não quer regular o fato transnacional, devolvendo a temática ao Estado do foro ou reenviando ao ordenamento de um Estado terceiro''.
Tipos de reenvio: a) reenvio de primeiro grau/indireto/retorno de competência: caso clássico de reenvio é o da divergência entre a lei da nacionalidade e da lei do domicílio para reger a capacidade jurídica de determinada pessoa. Determinado Estado X, adotante da lei do domicílio, analisa a capacidade de seu nacional domiciliado no Estado Y, que adota a lei da nacionalidade. Pelo instituto do reenvio, o Estado X deve consultar, primeiro, o Direito Internacional Privado de Y, que, por adotar a lei da nacionalidade, ordenaria que fosse aplicado o direito material de X(lei da nacionalidade, pois o indivíduo é apenas domiciliado em Y, tendo a nacionalidade de X); b) reenvio de segundo grau/transmissão de competência: quando há uma segunda remissão, ou seja, se o DIpr de X remeter ao Dipr de Y e esse indicar o direito de um terceiro Estado W. Pode haver reenvio de 3º, 4º graus, etc.
Com a aceitação do reenvio por diversos Estados, houve a adoção de variantes em vários países: a) teoria da referência global ao direito estrangeiro (fortalece o reenvio ao sustentar que não há como separar a aplicação do direito estrangeiro em (i) normas materiais e (ii) normas de conflito, devendo aquele ser aplicado como um todo); b) duplo reenvio (atividade de replicar no Estado do foro a solução que seria dada pelos tribunais do país cujo direito a lex fori indicou ser aplicável à relação); c) reenvio de primeiro grau simples (caso seja feita referência à lei de outro país e suas normas de conflito remeterem de volta à lei do foro, esta última será aplicada); d) reenvio oculto (surgiu a partir da inexistência, emalguns países, de regras próprias de conflito de leis. É a simulação do reenvio, caso não haja regra de DlPr no Estado estrangeiro); e) reenvio de ordem pública (aceitação do reenvio desde que a lei material ao final indicada não viole a ordem pública do Estado estrangeiro cuja lei material, sem o reenvio, regularia hipoteticamente a situação)
A defesa do reenvio e variações do seu uso: o fundamento do reenvio aponta que não se deve utilizar o direito material de um Estado que não o aplicaria, caso o mesmo fato transnacional hipoteticamente tivesse que ser lá julgado. Com o reenvio, o juiz do foro age na escolha da lei como se juiz estrangeiro fosse, aplicando, de início, o Direito Internacional Privado estrangeiro e, depois, o direito material indicado. P/ quem defende o reenvio, há o argumento de respeito à soberania do Estado estrangeiro e aos direitos adquiridos; harmonia nas decisões sobre o mesmo fato transnacional; forma de coordenação entre os sistemas que evita insegurança e ofensa à igualdade. OBS: No plano convencional, os tratados de DPr em geral não aceitam o reenvio, fazendo menção somente à lei material para regular os fatos transnacionais, uma vez que, por definição na redação dos tratados, entende-se que aquela regra de conexão é a mais apropriada para todos os Estados contratantes e deve ser uniformemente utilizada, concretizando o universalismo do DIPr.
O reenvio não é admitido no Brasil: a introdução ao CC/1916 era omissa (Beviláquia e Valladão admitiam o reenvio implícito na época, e a jurisprudência também). A LICC (atual LINDB) proibiu o reenvio no art. 16.
1C. Prerrogativas e imunidades das organizações internacionais. Incorporação ao direito brasileiro das deliberações de organizações internacionais. Extinção e sucessão das organizações internacionais. Responsabilidade internacional das Organizações internacionais e a proteção funcional.
Marília Siqueira
A) PRERROGATIVAS E IMUNIDADES DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS. 
- Para garantir o respeito de sua personalidade jurídica e as exigências de funcionamento em face de eventuais pressões por parte de Estados, criaram-se, para as organizações internacionais, certos mecanismos de proteção, genericamente denominados privilégios e imunidades, que são estabelecidos levando em conta o princípio da especialidade, considerando as competências de cada organização. A base das imunidades/prerrogativas é convencional, pois estabelecidas nos atos constitutivos das organizações ou em tratados específicos, assim, não há um regime jurídico único ou regras generalizadas.
- As imunidades têm fundamento tanto convencional quanto em legislações internas, a exemplo da Convenção Geral sobre Privilégios e Imunidades das Nações Unidas, Convenção de Viena sobre Representação dos Estados em suas Relações com Organizações Internacionais de Caráter Universal, de 1975, a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, concluída em 18.04.1961, e a Convenção de Viena sobre Relações Consulares, concluí­da em 24.04.1963.
- Princípios fundamentais: (i) às organizações internacionais deve ser conferida situação jurídica que as coloque ao abrigo de controles e interferências por parte de qualquer governo, no desempenho de suas funções; (ii) nenhum Estado deve ser permitido obter vantagens financeiras por meio da cobrança de tributos de organizações internacionais ou de fundos internacionais comuns; (iii) a todas as organizações internacionais devem ser destinadas instalações adequadas para a realização de suas funções oficiais, da mesma forma que os Estados o fazem entre si. 
- As imunidades de jurisdição e execução das organizações internacionais são absolutas, desde que não haja renúncia expressa, em relação a determinada situação. Exceção: organizações de caráter financeiro, como o BIRD e bancos regionais de desenvolvimento, que permanecem sujeitos ao direito comum local quando emitem valores mobiliários em determinado país e não gozam de imunidades em relação a seus credores privados. A renúncia compete à autoridade máxima da organização, como o Secretário-Geral ou o Diretor-Geral (cabe delegação), cujo ato é discricionário. A relativização da imunidade de jurisdição dos Estados estrangeiros é baseada na igualdade soberana e reciprocidade, distinguindo-se atos de império/gestão com base em norma costumeira internacional e não se aplica às organizações internacionais porque não têm as mesmas características daqueles.
- As imunidades de jurisdição e de execução podem ser invocadas pelas organizações internacionais perante as autoridades nacionais, tanto no nome próprio quanto em favor de seus funcionários.
- Exemplo de casos: (i) caso Mazilu (nome do perito), que versava sobre privilégios e imunidades de peritos em missões da Organização das Nações Unidas, pois o Sr. Mazilu, de nacionalidade romena, encontrava obstáculos ao desenvolvimento de sua atividade na Romênia. Em parecer consultivo, a CIJ entendeu que a Convenção Geral sobre Privilégios e Imunidades das Nações Unidas aplicava-se plenamente ao Sr. Mazilu, pois a referida Convenção incluía não apenas funcionários regulares da ONU, mas também outras pessoas a quem a organização confiava missões de duração determinada; (ii) o caso Cumaraswamy, cidadão malaio que atuava como Relator Especial da Comissão de Direitos Humanos da ONU, em missão para avaliar a independência de juízes e advogados da Malásia. No parecer de 1999, a CIJ estatuiu que aos relatores especiais estão protegidos pela Convenção das Nações Unidas sobre Privilégios e Imunidades, que “asseguram o exercício independente de suas funções”. Assim, o relator especial não poderia ser submetido ao Poder Judiciário da Malásia acerca de questões relativas ao exercício de suas funções.
Privilégios e imunidades aplicáveis aos funcionários das organizações e àqueles que participam de suas atividades. Aos funcionários das organizações são concedidos privilégios e imunidades exclusivamente em virtude do fato de que as organizações às quais pertencem também gozam de privilégios e imunidades, para lhes garantir independência. Essa independência deverá ser respeitada por todos os Estados, incluindo o Estado de nacionalidade e de residência do funcionário e do especialista a serviço (caso Mazilu). Isso os difere dos representantes dos Estados-membros na organização que não gozarão de imunidades em relação ao Estado que representam.
Imunidades asseguradas aos dirigentes da ONU: (i) os dirigentes, seus cônjuges e dependentes têm imunidade em relação a restrições à imigração e registro de estrangeiros; (ii) a ONU rejeita o direito de o Estado expulsar dirigentes de uma organização que estejam em seu território, com base na consideração de que são persona non grata; (iii) tributária, sendo estes isentos quanto às imposições fiscais sobre os salários e emolumentos pagos pela Organização; (iv) imunidade perante a jurisdição do Estado onde desempenham suas funções, relativamente a seus atos oficiais. 
Casos como aceitação de propina, espionagem no Estado onde exerce a função e a prática de atos fraudulentos na comarca onde está situado o escritório central têm sido sistematicamente considerados, pelas organizações, como não oficiais, sendo, portanto, não passíveis de proteção relativamente aos funcionários acusados de praticá-los.
- O prazo de duração da imunidade é indeterminado, estendendo-se por toda a vida do funcionário, interpretação adotada pela ONU e constante do Artigo 39.2 da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, de 1961. 
No Brasil, o STF, no julgamento dos recursos extraordinários (REs 578543 e 597368), reconheceu a imunidade de jurisdição e de execução da Organização das Nações Unidas e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (ONU/PNUD) com relação a demandas decorrentes de relações de trabalho. A União e a ONU sustentavam a incompetência da Justiça do Trabalho e afirmavam que a ONU/PNUD possui regras escritas, devidamente incorporadas ao ordenamento jurídico brasileiro, que garantem a imunidade de jurisdiçãoe de execução – a Convenção sobre Privilégios e Imunidades (Decreto 27.784/1950) e o Acordo de Assistência Técnica com as Nações Unidas e suas Agências Especializadas (Decreto 59.308/1976).
E o que é a imunidade pessoal e real? A imunidade pessoal diz respeito as pessoas. E a imunidade real diz respeito aos bens de determinada organização. Então, é preciso estudar o tratado celebrado pelo Brasil com a organização internacional para saber se os funcionários da organização têm imunidade pessoal plena e se os bens da organização têm imunidade real plena. E ainda, é preciso analisar se a própria organização tem imunidade de jurisdição.
Imunidade de organizações internacionais comparada com as imunidades dos Estados: enquanto as regras referentes às imunidades dos estados são costumeiras, as regras relativas às imunidades das organizações internacionais são convencionais. Prevalece hoje a imunidade absoluta das organizações internacionais, diversamente do que ocorre para os Estados, que possuem imunidade de jurisdição relativa (somente para atos de império), no processo de conhecimento e absoluta apenas no processo de execução.
B) INCORPORAÇÃO AO DIREITO BRASILEIRO DAS DELIBERAÇÕES DE ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS.
Os atos emanados das OIs têm impacto crescente sobre as políticas públicas e o ordenamento jurídico dos Estados; mesmo nos casos em que não se lhes reconhece, a priori, caráter obrigatório, costumam ter força persuasiva considerável. Assim, o seu real alcance só pode ser avaliado à luz dos ordenamentos jurídicos dos respectivos membros.
Mesmo nos casos em que o Tratado constitutivo das OIs contenha dispositivos específicos em matéria de aplicação interna dos atos emanados dos seus, na prática, compete ao ordenamento jurídico dos Estados-membros precisar os efeitos internos que os atos das OIs produzem. No entanto, são raros os ordenamentos jurídicos que ostentam regras claras sobre a interação dos atos adotados no âmbito institucional com o direito interno. No caso brasileiro, a situação não é muito diferente. A CF é praticamente silente sobre a participação brasileira em OI e não contém nenhuma disposição específica sobre a integração dos atos emanados desses organismos no ordenamento jurídico brasileiro.
A análise da jurisprudência e da doutrina na matéria tampouco permite identificar uma prática consistente. Uma das poucas exceções refere-se à questão da incorporação das normas do MERCOSUL, que tem despertado grande interesse. Com base no artigo 4º, parágrafo único, da CF, muitos autores têm defendido que o Brasil contaria com autorização constitucional para comportar avanços na institucionalidade do MERCOSUL, incluindo a aplicação direta dos atos emanados dos órgãos decisórios do Bloco. Para grande parte da doutrina, no entanto, o parágrafo único do artigo 4º teria caráter programático e seria desprovido de efeitos práticos para fins de internalização dos atos emanados do MERCOSUL. Mais recentemente, a doutrina passou a interessar-se, igualmente, pela questão da internalização dos atos e decisões emanadas do sistema de proteção dos direitos humanos, com base no art. 5º, §2º, CF.[1: Trecho da aula de ACR, no material Alcance de 2014: temos o art. 4º, inciso IX, trazendo o progresso da humanidade e temos o parágrafo único do mesmo artigo, falando da comunidade latino-americana de nações. Eu vejo esses dois princípios, não como uma carga programática tão somente, mas em especial eu vejo esses dois dispositivos como um guia ao interprete para que tenhamos alguma consequência em relação aos tratados mercosulinos. Façam então um asterisco no artigo com a observação de que é possível que esses tratados tenham algum tipo de vantagem adicional. Não é possível interpretarmos a constituição dizendo que um tratado qualquer com um país fora da zona do MERCOSUL sejam a mesma coisa. Não acho adequado isso, mas reconheço que isso é polêmico. Alguns autores afirmam que esses princípios são apenas normas programáticas.]
Porém, até o momento, não foi possível sistematizar de forma adequada o procedimento de recepção dos atos emanados das OIs que permitisse identificar a priori sua natureza jurídica e efeitos no ordenamento jurídico brasileiro. 
No plano teórico, três correntes doutrinárias principais costumam ser invocadas para dar embasamento jurídico à incorporação dos atos emanados das OIs: (i) tese da autorização legislativa implícita: a implementação dos atos emanados das OIs dar-se-ia com base no ato interno que promulgou o respectivo Tratado constitutivo prevendo a adoção dos atos em questão; (ii) Assimilação das normas emanadas das OIs a “acordos em forma simplificada”: uma variante da tese da autorização implícita consiste em assimilar, para efeito de sua aplicação interna no Brasil, os atos emanados das OIs aos chamados “acordos em forma simplificada” isto, é atos internacionais, como memorandos de entendimentos, acordos por troca de notas verbais, entre outros, cuja vigência interna no Brasil prescindiria, segundo parte da doutrina, da apreciação do Congresso; (iii) Assimilação das normas a Tratados Internacionais: propõe associar sistematicamente os atos emanados das OIs a Tratados para efeitos de sua aplicação interna. Nesse caso, independentemente da matéria regulada ou do alcance do ato, sua aplicação interna estaria condicionada, na linha do previsto na CF, à aprovação prévia do Legislativo pátrio. Nenhuma das três hipóteses doutrinárias está isenta de dificuldades. A verdade é que não há como identificar a priori, de maneira categórica, qual a base jurídica da aplicação dos atos emanados das OIs no Brasil.
Atos emanados das OIs aplicados como atos internacionais: os dois principais exemplos, nesse grupo, são as Resoluções do CSNU e os Protocolos negociados no âmbito da ALADI, que têm sido internalizados por decreto da Presidência da República, promulgado com fundamento no artigo 84, inciso IV e VII, da CF como ato de execução, respectivamente, da Carta das Nações Unidas e do Tratado de Montevidéu de 1980 (TM-80) sobre a criação da ALADI, aprovado pelo Decreto-Legislativo nº 66. O STJ confirmou a validade do instrumento de incorporação utilizado.
Atos incorporados como Tratados internacionais: a adoção de Tratados e Convenções é uma das formas mais comuns de ação normativa das OIs. No caso do Brasil, a vigência interna das Convenções e Recomendações emanadas da OIT está condicionada à sua aprovação pelo Congresso e promulgação pelo Presidente da República. 
Atos incorporados como normas de direito interno: utilizada para internalização de boa parte dos atos unilaterais negociados no âmbito das OIs, incluindo as normas do MERCOSUL e das decisões emanadas de Tribunais internacionais, e comporta uma infinidade de procedimentos específicos, normalmente, por atos infralegais. Para todos os efeitos jurídicos internos, no entanto, trata-se de ato próprio do Executivo. 
Decisões de Tribunais Internacionais: as sentenças emanadas desses Tribunais têm a natureza jurídica de atos emanados de OI. Não há no ordenamento jurídico brasileiro, nenhuma previsão específica sobre a aplicação interna desses atos. Exceção: decisões do TPI, cuja aplicação interna está sendo objeto de regulamentação específica via lei. 
a) Corte Interamericana de Direitos Humanos: de acordo com jurisprudência pacífica da Corte, o artigo 68.1 da Convenção Americana impõe a obrigação jurídica para os Estados de assegurar a implementação, em nível interno, do disposto pela Corte em suas decisões. Na prática, embora o caráter vinculante das decisões da Corte seja inquestionável, o amplo leque de medidas exigido do Brasil para dar cumprimento à sentença levou o governo a optar pela adoção de decreto específico, com base no artigo 84, inciso IV da Constituição - casos Damião Ximenes Lopes, Escher e Garibaldi. b) Tribunal Penal Internacional: Ainda não houve decisão do TPI emitida contra cidadão brasileiro, logo não houve procedimento de incorporação ao direito interno de suas decisões.
Atos emanados de OIs especializadas:muitos organismos especializados foram dotados da capacidade de adotar regulamentos técnicos, com o objetivo de facilitar a harmonização de regras em um domínio técnico específico. Quando não são adotados mediante Convenções ou Emendas formais aos Tratados constitutivos da OI, em geral, a incorporação desses regulamentos, inclusive pela natureza técnica, tende a ser feita no Brasil de forma difusa pelos órgãos internos competentes. Ex: Organização da Aviação Civil Internacional, Organização Mundial da Saúde Regras do CODEX Alimentarius (FAO/OMS), Organização Marítima Internacional (IMO).
Deliberações de órgãos internacionais que constatam violações de direitos humanos: André Carvalho Ramos subdivide essas deliberações em 3 tipos, considerando sua obrigatoriedade: a) recomendações: são opiniões não vinculantes de órgão internacional de direitos humanos, fruto da existência de obrigação internacional de monitoramento e supervisão dos direitos protegidos; b) decisões quase judiciais: decorrem dos mecanismos previstos na fase de controle da observância dos direitos humanos, na qual se analisam petições individuais e interestatais que se insurgem contra violações de direitos humanos e pleiteiam reparação. Análise é feita por instância internacional não judicial, a exemplo do Comitê de Direitos Humanos. Há divergência quanto ao caráter vinculante dessas deliberações, dada a ausência de disposição expressa nos tratados nesse sentido; ACR posiciona-se pela vinculação, uma vez que a interpretação deve ser feita em prol do aumento da carga protetiva dos direitos humanos; c) decisões judiciais: são decisões emanadas de Cortes Internacionais, havendo previsão expressa na Convenção Americana e Convenção Europeia acerca da competência dos Tribunais e a força vinculante de suas decisões (cautelares e definitivas). Deve-se destacar que estes Tribunais não atuam como quarta instância, pois não são capazes de rescindir ou revisar sentença judicial interna, uma vez que é o Estado nacional que escolhe os meios de cumprimento das sentenças internacionais. Nesse contexto, há o problema da executoriedade das decisões internacionais, pois não há possibilidade de execução forçada pela substituição do Estado por um terceiro; o descumprimento enseja nova responsabilidade de internacional do Estado, por violação da obrigação de cumprimento de boa-fé das decisões internacionais.
C) EXTINÇÃO E SUCESSÃO DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS.
A extinção da Organização Internacional ocorre com a desconstituição da personalidade jurídica pelos membros. No entanto, raramente uma organização é completamente liquidada, retornando seus ativos aos Estados-membros; em regra, quando dissolvida, seu patrimônio e suas funções são, em essência, assumidas por uma nova organização, dotada de objeto e composição similares. Assim, sucessão de uma organização internacional é a substituição de uma organização em funcionamento (a organização predecessora) por uma nova (a organização sucessora) no exercício de certas funções e/ou competências e na posse e/ou utilização de determinado patrimônio. 
No caso das organizações internacionais, a sucessão não é uma necessidade: não se lhes aplica qualquer princípio análogo ao da continuidade do Estado.
 A sucessão pode ocorrer por: a) substituição imediata; b) absorção; c) fusão; d) secessão de parte da organização; ou e) simples transferência de certas funções de uma organização para outra.
Fundamentos (forma): a) Tratados intergovernamentais de transferência, pelos quais pode ser prevista a sucessão imediata ou de forma dissociada; o acordo de sucessão pode ser autônomo e exclusivo, único ou múltiplo, ou, ainda, constar de dispositivos esparsos do ato constitutivo da organização internacional sucessora; b) atos de transferência concluídos entre as organizações interessadas: nesse caso, se se tratar de ato unilateral, resolução de um órgão plenário, terá o valor, em princípio, de uma recomendação e dificilmente terá o condão de extinguir um tratado constitutivo para transferir, no todo ou em parte, as competências de uma organização para outra. Em caso de unanimidade entre as partes contratantes da organização internacional que deverá ser sucedida, o ato constitutivo será ab-rogado.
Quanto aos objetos da sucessão, devemos separar a análise dos diversos componentes das organizações internacionais: funções, normas, agentes e patrimônio. Funções: a transferência de funções e de bens de uma organização para sua sucessora pode ser feita de diversas maneiras, pode ser prevista explicitamente em um dos atos de sucessão, os quais podem fazer distinção entre funções de natureza técnica, que podem ser imediatamente transferidas, e funções de natureza política, cuja transferência é mais complexa, e precisa ser examinada caso a caso. Normas: o princípio fundamental é o de que um novo consentimento deva ser manifestado. No entanto, é necessário distinguir os atos cuja transferência não seja possível sem acordo expresso da nova organização internacional e as normas que fazem parte dos atos que podem ser praticados e incorporados pelos Estados-membros da organização sucessora ou por seus órgãos, contidas no tratado constitutivo ou em textos do direito derivado. Agentes: há uma tendência a não incorporá-los, ao menos em sua maioria, aos quadros da organização sucessora, concedendo liberdade de escolha à nova organização quanto ao tipo de recrutamento de pessoal e regime jurídico de contratação. Essa é a regra geral, mas há exceções. Patrimônio: consiste no conjunto de bens móveis e imóveis, além das dívidas e dos créditos, e é objeto frequente de acordos nos casos de sucessão, embora a transferência de ativos nem sempre seja acompanhada da dos passivos. A sucessão quanto às dívidas da organização predecessora não é matéria pacífica. Os ajustes são feitos por meio de acordos entre os Estados-membros ou entre as organizações internacionais envolvidas no processo.
D) A RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS E A PROTEÇÃO FUNCIONAL.
A responsabilidade pressupõe a existência de dois ou mais sujeitos reconhecidos por um sistema jurídico, em face dos quais uma obrigação juridicamente vinculada encontra-se violada. Assim, a responsabilidade das organizações internacionais pressupõe o reconhecimento de sua personalidade jurídica internacional, separada e distinta da de seus membros. Uma organização internacional possui personalidade jurídica internacional se o ato constitutivo da entidade confere a seus órgãos competência para o exercício de certas funções em relação aos respectivos membros e o poder de firmar compromissos internacionais que estabeleçam obrigações e direitos perante a Comunidade. 
Diante de sua personalidade jurídica internacional e de sua capacidade de agir, a organização internacional pode concretizar vulneração a suas obrigações internacionalmente reconhecidas, devendo responder em função disso.
A Comissão de Direito Internacional apresentou o Projeto de Artigos sobre a Responsabilidade dos Estados por Atos Internacionalmente Ilícitos, no qual foi incluído o tema da responsabilidade das organizações internacionais em seu programa de trabalho a longo prazo (CDI, 2003, p. 13). De acordo com o projeto, entende- se por “organização internacional” a entidade instituída por um tratado ou outro instrumento regido pelo direito internacional e dotada de personalidade jurídica internacional própria. Não se inclui nessa categoria as organizações não-governamentais puras e organismos criados por intermédio de instrumentos regidos pelo direito estatal interno, salvo na hipótese em que, posteriormente, seja adotado um ato constitutivo regido pelo direito internacional.
No art. 3.1 do PAROIAII, estabeleceu-se a pedra angular da responsabilidade das organizações internacionais ao considerar que “todo ato internacionalmente ilícito de uma organização gera sua responsabilidade internacional”.
Verifica-se a ocorrência de um ato internacionalmente lícito, fundamento suficiente para a geração de responsabilidade,a partir do momento em que presentes seus elementos constitutivos essenciais, ou seja, quando (PAROIAII, art. 3.2): 1) o comportamento consistente em uma ação ou omissão é atribuível à organização internacional, em consonância com o direito internacional; 2) essa conduta constitui violação de uma obrigação internacional do organismo. Fala-se no ato ilícito como “fundamento suficiente”, pois a maioria da doutrina adota a teoria objetiva da responsabilidade, dispensando o elemento culpa (lato sensu) e, da mesma forma, entende que o dano não é elemento necessário do fato gerador da responsabilidade internacional. Apesar da divergência, é este o entendimento que prevalece. 
Assim como os Estados, as organizações internacionais agem no campo institucional mediante seus órgãos e agentes, que não são necessariamente pessoas naturais, visto que podem ser pessoas jurídicas ou outras entidades por intermédio das quais o organismo realiza suas atividades (CDI, 2004, p. 118). A responsabilidade da organização, pelo exposto, poderá decorrer de atos de seus órgãos executivos, judiciários ou “legislativos”, visto que, como no caso dos Estados, o direito internacional adota o princípio da unidade da organização (KLEIN, 1998, p. 383).
Atos ultra vires. No âmbito da responsabilidade dos Estados, é muito comum a alegação de que a prática do ilícito pelos órgãos ou agentes estatais, no exercício de atribuições próprias do poder público, tenha derivado da extrapolação das competências delimitadas no ordenamento jurídico interno, motivo por que não se trataria propriamente de um “ato de Estado” (BROWNLIE, 1997, p. 474). Com vistas a combater referida escusa, foi progressivamente acatada pela jurisprudência a denominada “teoria da aparência” (BROWNLIE, 1997, p. 474-475), segundo a qual a antijuridicidade da conduta ultra vires dos agentes estatais funda-se na exteriorização de sua capacidade oficial para assim agirem, ainda que, formalmente, não possuam tais prerrogativas.
O Estado afigura-se internacionalmente responsável pela conduta de seus órgãos, ainda quando a respectiva atuação houver sido concretizada contra suas diretrizes ou ordem superior direta (VERDROSS, 1982, p. 359). Paralelamente, os atos ultra vires dos órgãos ou agentes da organização internacional também são susceptíveis de engendrar a responsabilidade da entidade (KLEIN, 1998, p. 390). A regra positivada no art. 6o do Projeto de Artigos sobre a Responsabilidade das Organizações Internacionais. 
Responsabilidade da organização internacional em decorrência do ato de um Estado ou de outra organização internacional. 
a) O critério da efetividade do Controle. De acordo com o art. 5o do PAROIAII: “O comportamento de um órgão de um Estado ou de um órgão ou agente de uma organização internacional que esteja à disposição de outro organismo será considerado ato desta última organização, segundo o direito internacional, se esta exerce um controle efetivo sobre a conduta.. O critério do efetivo controle exercido pela organização. O critério do efetivo controle exercido pela organização internacional sobre as atividades do órgão ou agente revela-se juridicamente predominante para fins de se precisar a quem é atribuída a prática do ato ilícito (KLEIN, 1998, p. 378). Se a conduta exigida pelo mandamento exarado pela organização internacional implicar, necessariamente, a comissão de uma ilicitude, estará em jogo também a responsabilidade da entidade prolatora da decisão (GAJA, 2005, p. 14).
b) Reconhecimento e adoção de um comportamento alheio como próprio. Em conformidade com o disposto no art. 11 do PAREAII, condutas originariamente não enquadráveis no conceito de “ato de Estado” podem vir a ser reconhecidas e adotadas como próprias pela entidade estatal. Os organismos internacionais, em conjunto, podem reconhecer e adotar como próprio um comportamento que não lhe seja por si só atribuível. Nesse ponto, necessário precisar se o órgão ou agente que efetiva o reconhecimento e a adoção do ato possui específica competência para tanto, com base nas “regras da organização” (CDI, 2004, p. 136).
A organização internacional na condição de administradora de territórios. Especialmente quando a organização internacional figura na condição de administradora temporária de territórios, atribuições de cunho originariamente estatal como a manutenção da ordem e a segurança pública passam a ser encargo do organismo (VELASCO VALLEJO, 1993, p. 671). Em virtude disso, sua atuação deverá pautar-se pela assunção de obrigações concernentes à proteção eficaz dos direitos humanos básicos (ILA, 2004, p. 23).
Por intermédio da Resolução no 1244, de 10 de junho de 1999, o Conselho de Segurança das Nações Unidas autorizou expressamente o Secretário Geral, com a assistência das organizações internacionais pertinentes, a estabelecer uma presença civil internacional em Kosovo (ex-Yugoslávia) a fim de estruturar uma administração provisional para aquele território (CDI, 2004, p. 114). Em hipóteses como esta, a organização internacional atua com as competências territoriais parciais de um ente de natureza potestativa, ou seja, age provisoriamente com poderes implícitos de um Estado (CARREAU, 1994, p. 374). Conclui- se, nesse sentido, que eventual atuação qualificada como internacionalmente ilícita passará a ser regida pelos princípios e normas referentes à responsabilidade própria dos Estados no que não for em manifesto incompatível com o regime especial das organizações internacionais.
Proteção funcional. Em breve síntese, a proteção funcional se caracteriza nos casos em que as organizações internacionais podem tomar para si os litígios referentes a danos sofridos por seus agentes, quando em exercício. Valendo-se dessa prerrogativa, as organizações internacionais também podem outorgar endosso, seguindo requisitos análogos aos da proteção diplomática. É ato discricionário da organização internacional envolvida. 
Sobre o tema, destaca-se o caso da Reparação de danos sofridos por agente das Nações Unidas ("Caso Folke Bernadotte"), apreciado pela CIJ em 11 de abril de 1949, em face de parecer solicitado pela Assembleia Geral da ONU. (Objeto de questão oral “Fale sobre o caso Folke Bernadotte”).
Em 1948 foi assassinado o Conde sueco Folke Bernadotte. Ele havia sido nomeado pela ONU mediador de paz entre os Estados árabes e o recém-criado Estado de Israel. Seu assassinato ocorreu no contexto das primeiras negociações Israel-Palestina, pelo grupo israelense de extrema direita conhecido como LEHI (Lutadores pela Liberdade de Israel), comprometidos com uma campanha de terror a fim de forçar a saída de não israelenses da Palestina. Após o assassinato, e frente à inação do governo israelense, a ONU decidiu levar o debate à Corte Internacional de Justiça (CIJ). 
Em 3 de dezembro de 1948, a Assembleia Geral adotou a resolução que submeteu à Corte duas questões jurídicas, pedindo uma opinião consultiva. Indagou-se se, em primeiro lugar, (i) a ONU, na qualidade de uma organização internacional (OI), teria a capacidade de fazer uma reivindicação internacional contra um Estado em vistas de obter reparações por danos causados à organização ou aos seus agentes; e, (2) se sim, com relação aos agentes, como tal ação pela ONU poderia ser conciliada com iguais direitos de proteção dotados pelo Estado de nacionalidade do indivíduo em questão. O parecer respondeu afirmativamente à primeira questão, conferindo à organização o direito de formular reclamações contra o governo israelense e criando jurisprudência concernente ao tema ao estabelecer o status de personalidade jurídica à ONU. Da mesma forma, passou-se também a se admitir a responsabilidade das próprias organizações internacionais pelos atos lesivos que vierem a causar na ordem internacional. Esta decisão marcou o fim do monopólio da personalidade jurídica internacional dos Estados.
Com relação à segunda questão apresentada pela Assembleia Geral à CIJ, a opinião consultiva estatuiu a primazia da proteção funcional sobre a proteção diplomática, no contextodas OIs. Logo, após este parecer, os funcionários de organizações internacionais como a ONU passaram a receber proteção não apenas de seus respectivos Estados patriais, através do instituto da proteção diplomática, mas também das organizações de que fazem parte, pelo instituto da proteção funcional.
 
2A. Desenvolvimento Histórico e Fases do Direito Internacional Privado. Fontes do Direito Internacional Privado. Pluralidade de objeto do direito internacional privado. Fato transnacional e suas características.
Lucas Costa Almeida Dias 09/09/2018
I. Desenvolvimento histórico: 
O DIPr surge com a crise da Idade Média e o renascimento de relações comerciais entre cidades que eliminaram o modo de produção feudal. Nasce o capitalismo comercial e industrial, que impulsionam a necessidade de reger fatos transnacionais.
II. Fases do DIPr:
A) Fase precursora: fluxos de pessoas, bens e condutas pelas fronteiras dos Estados. Os Estados, apesar da soberania e do territorialismo inicial, aceitam, ao longo do tempo, aplicar o direito estrangeiro e executar decisões estrangeiras no seu território.
Glosadores – juristas financiados pelos burgueses para adaptar o texto romano codificado por Justiniano.
Glosa de Acúrsio (séc. XII): qual é a lei que devo aplicar, em Modena, a um comerciante de Bolonha? Havia a dúvida sobre a escolha da lei (a lei de Modena ou de Bolonha?) diante de um fato transfronteiriço.
Pós-glosadores: Já passam a ter uma função quase que criativa, criando novas regras com substrato mínimo do direito romano.
B) Fase iniciadora
Escolas estatutárias
a) Escola italiana: As regras podem ser reais (regulam as coisas) e pessoais (capacidade, personalidade e estado das pessoas). As pessoais têm alcance extraterritorial e acompanham o indivíduo onde quer que estejam.
b) Escola francesa: Estabelece que, em geral, as regras são reais/territoriais e excepcionalmente pessoais/extraterritoriais.
c) Escola holandesa: Ápice do territorialismo, de modo que os estatutos pessoais/extraterritoriais apenas seriam aplicados de forma excepcional, caso o soberano assim permitisse por cortesia internacional. A importância desta escola é a vinculação do DIPr com o DIP, pois cortesia internacional é instituto típico de DIP.
d) Escola alemã: oscilou entre a cortesia internacional (escola holandesa) e a invocação do direito natural.
C) Fase clássica 
Savigny não analisa a regra (ao contrário das escolas estatutárias), mas a relação jurídica, que possui uma sede um centro. Pretende-se estabelecer regras universalistas para serem aplicadas em todos os Estados.
Nasce o método conflitual, que (a) analisa a relação jurídica, (b) categoriza essa relação, e (c) em razão dessa categoria, determina a lei aplicável (ex: se disser respeito à categoria 'personalidade', a regra será a 'lei do domicílio').
D) Guinada nacionalista
Código Civil prussiano é o primeiro esforço de codificação nacional do DIPr. A ele se seguem inúmeros outros Códigos que levam a um DIPr com forte influência das leis nacionais e que, por isso, pode ser denominado de DIPr unilateral (particularista, nacionalista ou individualista).
E) Evolução: busca por um direito internacional privado uniforme, universalista, que seja interpretado conforme os direitos humanos e assegure a pluralidade, diversidade e tolerância.
III. Fontes de Direito Internacional Privado 
A) Fontes internacionais
- Tratados celebrados (a) sob auspícios da Conferência de Haia de Direito Internacional Privado; (b) Código Bustamante (Interamericana); OEA e cisma sul-americano (nacionalidade x domicílio); Mercosul; Cooperação jurídica internacional (Abade – a maior parte ocorreu com a redemocratização, em que o Brasil se abriu à sociedade internacional).
b) DIPr de matriz legal x DIPr multilateral
Há inclinação internacional (multilateral) em detrimento da fonte nacional (matriz legal), pelo aumento intenso do número de tratados celebrados nos últimos anos. Ambos convivem, mas só o internacional garante o universalismo.
Pluralidade das fontes de matriz legal: a dispersão é evidente, porque não há um único diploma normativo de cunho legal que abranja toda a tríade contemporânea do DIPr (concurso de leis, jurisdição e cooperação jurídica internacional). É hora para um novo projeto de lei que busque (i) sistematizar o DIPr como um todo e (ii) possuir normas de coordenação e diálogo com os inúmeros tratados de DIPr celebrados pelo Brasil nessas décadas.
c) DIPr supera a visão de “direito privado” e contempla questões de direito público (trabalho, concorrência, consumidor), sob pena de gerar desigualdade de tratamento e negar o acesso à justiça. 
Diálogo das fontes: Diálogo das fontes e busca da sistematização do DIPr – a complexidade do regramento conta com regras domésticas, internacionais em sentido estrito e transnacionais. É preciso utilizar os critérios de superação das antinomias (cronológico, hierárquico e especialidade) e o diálogo das fontes (Cláudia Lima Marques) para fazer nascer o novo DIPr.
IV. Fato transnacional e suas características
São fatos sociais que se relacionam com mais de uma comunidade humana, e que, portanto, (a) são multiconectados ou plurilocalizados, (b) apresentam elementos de estraneidade, e (c) podem ser regidos por mais de um ordenamento jurídico. São consequências da “sociedade que se move” e não obedece às fronteiras políticas de um Estado. O DIPr contemporâneo é caracterizado pela pluralidade de objetos, que orbitam em torno da gestão da diversidade de ordenamentos jurídicos diante de um fato transnacional. Entre os objetos da disciplina, há (i) a escolha da lei; (ii) a determinação da jurisdição e (iii) o reconhecimento e execução de decisões estrangeiras (também conhecido como cooperação jurídica internacional).
2B. Estado. Elementos constitutivos. Autodeterminação dos Povos. Soberania e suas espécies. Reconhecimento de Estado e Governo. Direitos e Deveres do Estado. Restrições aos direitos dos Estados.
Responsável: Adriano Lanna
Obras consultadas: Curso de Direito Internacional Público (Valério Mazzuoli); Direito Internacional (Malcolm Shaw); Jurisprudência Internacional dos Direitos Humanos (Caio Paiva e Thimotie Heemann); Manual de Direito Internacional Público (Accioly); Graal do 28º CPR.
Estado. Elementos constitutivos
Na formação da sociedade internacional, o Estado foi o primeiro a adquirir a condição de sujeito de direito, sendo tido como o único sujeito absoluto do direito das gentes até o final da Primeira Guerra Mundial. Ele pode ser definido, modernamente, como um ente jurídico dotado de personalidade internacional, formado pela reunião de indivíduos estabelecidos de maneira permanente em um território determinado, sob a autoridade de um governo independente e com a finalidade de zelar pelo bem comum daqueles que o habitem. Vejamos tais elementos:
a) Comunidade de indivíduos (elemento humano): ainda que em circunstâncias excepcionais falte algum dos outros elementos do Estado (como o governo nos períodos de anarquia ou o próprio território quando dele não se tem total disponibilidade), o elemento humano é o único que permanece imune a quaisquer fatos que possam vir a ocorrer dentro do Estado. Dentro do Estado existe o povo (conjunto de nacionais, natos e naturalizados) e a população (formada pelo povo mais estrangeiros e apátridas radicados no território nacional), exercendo o Estado sua competência sobre ambos.
Para a formação deste elemento, importa apenas que a massa de pessoas que o integra habite permanentemente a sua porção de terra com ânimo definitivo, independentemente da eventual união por laços comuns. Não se adota, assim, o princípio das nacionalidades, segundo o qual toda massa humana com características semelhantes de raça, língua, religião, etc., tem direito à criação de um Estado próprio, o que justificou a anexação nazista da Áustria e da Tchecoslováquia.
b) Território fixo e determinado (elemento material): é a fração delimitada do planeta em que o Estado se assentacom sua população e com seus demais elementos. É sobre este território que o Estado irá exercer a sua soberania. Não importa ao Direito Internacional quão maior ou menor é o território do Estado, de forma que a qualidade de membro das Nações Unidas também não está condicionada pelo tamanho geográfico do Estado.
Embora parte da doutrina mencione que as embaixadas seriam extensão dos respectivos Estados, tais afirmações estão inteiramente equivocadas, tendo o Direito Internacional abandonado a ficção da extraterritorialidade. O que as embaixadas têm é mera inviolabilidade.
c) Governo autônomo e independente (elemento político): não há Estado sem um poder governante capaz de organizar e manter a ordem política interna e de participar das relações internacionais com total independência. Tal exercício deve ser efetivo e legítimo, requisitos sem os quais não se pode falar em verdadeira autonomia e independência. Apesar disso, nem todos os elementos citados se fazem presentes quando da formação de um Estado (ex.: Ruanda foi admitida como membro da ONU mesmo sem ter seu governo totalmente organizado). O conceito de governo autônomo e independente induz à ideia de Estado soberano, que é aquele que, em última análise, não reconhece nenhum poder superior capaz de ordenar o exercício de suas competências internas.
d) Finalidade (elemento social): o fim perseguido pelo Estado é o bem comum de cada um dos indivíduos que o compõem.
Autodeterminação dos Povos
A Carta da ONU faz referência à autodeterminação dos povos em dois momentos, em seu art. 1º.2. e em seu art. 55, tendo sido tratada igualmente por sua Resolução 1514, segundo a qual todos os povos podem livremente determinar seu status político e livremente buscar seu desenvolvimento econômico, social e cultural. De acordo com Shaw, a interpretação dada a tais dispositivos foi bastante restritiva, no sentido de que o sujeito da autodeterminação deve estar dentro da estrutura territorial consolidada do sistema colonial. Assim, o exercício de tal direito de autodeterminação só poderia ocorrer quando determinado “povo” quisesse se livrar do jugo colonial. Isso, pois conferir a tais dispositivos uma interpretação mais ampla, incluindo como titulares de tais direitos aqueles “povos” que se encontram submetidas à jurisdição de um Estado independente poderia levar à secessão territorial, lesando o princípio da integridade territorial.
Apesar disso, Shaw aponta que o princípio da autodeterminação dos povos, como um direito humano, pode ser utilizado fora do contexto colonial, desde que não sirva como instrumento jurídico para o desmembramento de Estados soberanos, conforme análise do Comitê de Direitos Humanos ao interpretar o art. 1º do PDCP. Trata-se, aqui, de um princípio crucial dos direitos humanos coletivos que envolve o reconhecimento de que os povos (ex.: indígenas e quilombolas) podem se auto organizar e determinar como manterão suas relações sociais, culturais e econômicas. Nesse sentido, observar os casos Povo Saramaka vs. Suriname e Povo Indígena Kichwa de Sarayaku vs. Equador, no qual se reconheceu o dever de consulta prévia às comunidades indígenas, bem como o dever de obter consentimento de tais comunidades em determinados casos específicos. É importante ressaltar que a Corte IDH reconhece a tais povos ius standi, podendo eles, por tal motivo, atuar perante a Corte.
Soberania e suas espécies
Segundo Rezek, a soberania estatal é um atributo fundamental do Estado, consistente na capacidade do ente estatal de cuidar de seu próprio desenvolvimento e bem-estar sem se colocar sob jugo de outros Estados, desde que não viole os direitos legítimos destes últimos. O conceito clássico de soberania, de poder absoluto e perpétuo do Estado (ilimitado, acima do direito interno e livre para acolher ou não o direito internacional) não mais subsiste. Na atualidade, prevalece a premissa básica do Estado de Direito pela qual o ente estatal atua dentro de certos limites, estabelecidos internamente pela ordem jurídica nacional e, externamente, pelo Direito Internacional.
A soberania interna representa o poder do Estado em relação às pessoas e coisas dentro dos limites da sua jurisdição. É também chamada autonomia. A soberania interna compreende os direitos: a) de organização política, ou seja, o de escolher a forma de governo, adotar uma constituição política, estabelecer, enfim, a organização política própria e modificá-la à vontade, contanto que não sejam ofendidos os direitos de outros Estados; b) de legislação, ou seja, o de formular as próprias leis e aplicá-las a nacionais e estrangeiros, dentro, naturalmente, de certos limites; c) de jurisdição, ou seja, o de submeter à ação dos próprios tribunais as pessoas e coisas que se achem no seu território, bem como o de estabelecer a sua organização judiciária; d) de domínio, em virtude do qual o Estado possui uma espécie de domínio eminente sobre o seu próprio território.
A soberania externa é uma competência conferida aos Estados pelo direito internacional e se manifesta na afirmação da liberdade do Estado em suas relações com os demais membros da comunidade internacional. Confunde-se, pois, com a independência. A soberania externa compreende vários direitos, entre os quais: o de ajustar tratados ou convenções, o de legação ou de representação, o de fazer a guerra e a paz, o de igualdade e o de respeito mútuo.
Reconhecimento de Estado e Governo
Surgindo o Estado, pleno em sua soberania, o exercício dos direitos e prerrogativas inerentes aos sujeitos do Direito Internacional está condicionado à sua admissão na sociedade internacional, ao que se chama de reconhecimento de Estado. Apesar de o reconhecimento ser considerado um ato livre dos sujeitos de Direito Internacional, parte da doutrina tem apontado ser direito do Estado – e, consequentemente, dever dos outros Estados – ser reconhecido quando apresentar seus quatro elementos constitutivos. Tem-se defendido só ser possível impedir que os Estados reconheçam a personalidade jurídica do novo Estado quando este tiver nascido por meio de flagrante violação das normas do direito convencional vigente (ato ilícito – Doutrina Stimson).
Para a teoria constitutiva (teoria do efeito atributivo), a personalidade jurídica internacional do Estado lhe é atribuída pelo ato político do reconhecimento; já para a teoria declaratória (majoritária e adotada na Carta da OEA), se um novo Estado já apresentar seus quatro elementos constitutivos, ele não deixa de ser considerado como tal pelo simples fato de não ter sido reconhecido, ou seja, o reconhecimento é mero ato declaratório com efeito retroativo.
Por outro lado, quando o Estado já existe como tal, mas sobrevém uma mudança em seu governo em desacordo com as normas constitucionais em vigor, passa a ter existência o problema do reconhecimento do governo de facto. O problema de tal reconhecimento vem à toa com as grandes rupturas políticas e sociais, hipótese em que os demais Estados podem se recusar a reconhecer a nova situação jurídica se não houver uma mínima estabilidade institucional e de garantia de cumprimento das obrigações internacionais do Estado em causa. De qualquer forma, o reconhecimento de governo não importa no reconhecimento de sua legitimidade, significando apenas que ele tem condições de comandar o país e representa-lo nas suas relações internacionais.
Sobre o tema, duas grandes doutrinas emergiram na América Latina: a) Doutrina Tobar: sustentava que a América deveria se negar a reconhecer governos que alcançaram o poder por meio de golpes de Estado. O reconhecimento do governo, em tais casos, estaria sujeito à aprovação popular; b) Doutrina Estrada: baseado no princípio da não intervenção em assuntos internos estatais, Estrada defendeu que o não-reconhecimento de governos constitui ingerência indevida em assuntos particulares dos Estados, motivo pelo qual devem subsistir as obrigações internacionais anteriormente contraídas, mesmo que haja a substituição de um governo por outro. Segundo Mazzuoli, ambas as

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