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COMENTÁRIOS À EMENDA 45

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COMENTÁRIOS À EMENDA 45
Roberto Sergio de Holanda Curchatuz.
Com esta obra pretendo, como estudante de Direito, tecer comentários pertinentes sobre a Emenda 45 e sua repercussão no mundo jurídico.
A Emenda Constitucional 45, de oito de dezembro de 2004, iniciou a chamada Reforma do Judiciário trazendo em seu bojo muitos tópicos relacionados com a discussão do controle da atividade jurisdicional, tema que por muito tempo polemizou e acalorou inúmeros debates.
De fato, o Poder Judiciário estava necessitando de reformas, pois o Direito influencia e é influenciado pela sociedade na qual está inserido. Dessa forma, o Direito deve ser dinâmico, modificando-se de acordo com as transformações sociais, não necessariamente na mesma proporção e velocidades dessas mudanças. 
Alguns afirmam que a Emenda 45 não seguiu os ditames do tempo tendo sido criada extemporaneamente, outros estudiosos condenam a Emenda alegando que ela se focou em aspectos pouco relevantes dentro do contexto que envolve os problemas do Poder Judiciário. Como estudante de Direito, tenho perspectivas superficiais do tema, mas alguns aspectos merecem atenção especial.
Ao estudar profundamente a Emenda 45, percebemos rapidamente a preocupação do legislador com a velocidade processual. Na atualidade, as pessoas acreditam que o Poder Judiciário trabalha de forma lenta e demasiadamente burocrática, asseverando alguns que um dos principais problemas é o excesso de recursos e a falta de trabalho por parte dos servidores desse Poder.
Acredito que o problema é mais complexo. O importante é que o Judiciário melhore com o escopo de atender bem os destinatários da jurisdição.
A Administração Pública foi criada com o objetivo de atender os interesses da sociedade, é dever dos administradores buscar o melhor modo de solucionar os problemas sociais, utilizando-se de medidas pertinentes e afastando qualquer tipo de decisão eleitoreira.
Num primeiro momento, como não poderia deixar de ser, falarei da tentativa de estabelecer a celeridade processual no Direito pátrio.
Inúmeros artigos e incisos da Emenda 45 demonstram uma preocupação com a agilidade da prestação jurisdicional.
Inicialmente a mudança efetuada no artigo 50 com a inclusão do inciso LXXVIII, dispondo que ‘a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação’.
Certamente, todos aqueles que já ingressaram em juízo com o objetivo de resolver suas lides sabem que as decisões judiciais se prolongam demasiadamente, o serviço judiciário é burocrático e não só, tornou-se impotente diante de tantas demandas. Isto ocorre, devido o Estado invocar para si o poder-dever de resolver os conflitos surgidos, substituindo às partes, gerando maior grau de justiça e pacificação social. 
Devemos analisar este inciso cautelosa e sistematicamente. Não podemos exigir de um magistrado, que reside numa pequena cidade do interior, munido para o seu trabalho de uma máquina de escrever e, em muitas ocasiões, sendo este o responsável por alguns serviços burocrático-jurídicos, a rapidez nas decisões processuais que teria o juiz de uma comarca ou seção judiciária grande, provida de inúmeros computadores modernos. Além do que, algumas vezes, o juiz que exerce o ‘múnus’ em cidades pequenas do interior tem o dever de solucionar os diversos casos que aparecerem. Nota-se que deve haver a inclusão deste inciso acima citado, à luz do princípio da razoabilidade. Foi fundamental a emenda 45 ter acrescentado o inciso XIII ao artigo 93, este artigo proclama que o número de juízes será proporcional à efetiva demanda judicial e à respectiva população já que não adiantaria tentar produzir julgamentos mais céleres sem dar condições para tal. 
A inclusão da alínea ‘c’ do inciso II do artigo 93 afirmando que ‘a promoção, de entrância para entrância, por antiguidade e merecimento baseia-se na aferição do merecimento conforme o desempenho e pelos critérios objetivos de produtividade e presteza no exercício da jurisdição e pela freqüência e aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento’, combinado com a inclusão do inciso ‘e’ do artigo 93, declarando que ‘não será promovido o juiz que retiver, injustificadamente, os autos além do prazo legal’. Isto tudo demonstra certa coerção aos magistrados brasileiros, pois sugere que estes devam se comportar visando à rapidez dos julgamentos. Não podemos esquecer que o Poder Judiciário não está com problema em seu corpo funcional, mas na falta de estrutura burocrático-jurídica e aparelhamento técnico. 
Compulsando as adições realizadas pela Emenda 45 à Carta Magna, visualizamos um inciso que desperta polemicas acerca das vantagens e desvantagens de sua inclusão no ordenamento pátrio. O inciso XII reza que ‘a atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedado férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau...’. Em uma primeira vista, este inciso parece contribuir, juntamente com os demais, para o aperfeiçoamento da Justiça brasileira. No Brasil, atualmente, existem escritórios formados por inúmeros profissionais competentes que podem fazer um revezamento e combinar suas férias a fim de que o escritório não pare de funcionar determinadas épocas do ano. Estes escritórios se beneficiam com o inciso XII acrescentado ao artigo 93. Os advogados, recém-formados, que sonham em advogar, solitariamente, sem ter um aparelhamento funcional, provavelmente não vão se sentir confortáveis ao curtirem suas férias cientes de que os juízos e tribunais estão em pleno funcionamento. Restaria ao Estado criar mais mecanismos que ajudassem os bacharéis a atuarem na advocacia, com mais segurança e tranqüilidade, sem, é claro, esquecer a presteza que deve prevalecer nos processos da Justiça nacional.
A emenda então comentada acrescentou, visando a agilidade e uma maior facilidade de acesso ao Judiciário, os parágrafos 2o e 3o do artigo 105, os parágrafos 1º e 2º do artigo 115 e os parágrafos 6º e 7º do artigo 125. Estes parágrafos se referem à instalação de justiças itinerantes, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários e atuando nos limites territoriais da respectiva jurisdição. Além de estabelecer o funcionamento de Câmaras regionais nos Tribunais de forma descentralizada. O legislador, quanto a esses acréscimos, atuou com desenvoltura.
O bom estudante de Direito, que tem conhecimento da Constituição Federal, aprendeu que o artigo 5º é a matriz da Carta Magna. Combinando o inciso XXXV do artigo 5º (a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito) com o inciso LXXIV (o Estado prestará assistência judiciária integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos) juntamente com o princípio da Isonomia que assevera que o Estado deve igualar os iguais e desigualar aqueles que não se encontram em situação de igualdade. Isto favorece um justo acesso ao Judiciário. Com esse intuito, foi criada a Defensoria Pública, formada por excelentes profissionais. Muitos estudantes de Direito procuram-na a fim de conhecerem os mais variados tipos de lides. A emenda 45 se referiu de forma particular à Defensoria Pública vislumbrando talvez uma maneira de dar maior importância a essa instituição tão estimada.
Outro aspecto relevante a ser comentado é o estabelecimento, por parte da Emenda 45, da Súmula Vinculante.
O artigo 103-A passou a vigorar com a seguinte redação:
‘O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário à administração Pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder a sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei’. 
Foi muito importante à instituição da Súmula Vinculante, pois irá cooperar para a diminuição do grande número deprocessos que possuem as diversas varas existentes em nosso país. Por outro lado, o juiz singular tem um conhecimento mais amplo dos processos em que atua, está mais próximo aos conflitos existentes, possui um acesso melhor às informações das partes, conhecendo seus reclamos e suas angústias, além do que, por serem geralmente mais novos, apreciam teorias mais atuais sobre os pedidos que aparecerem, tendo, portanto, uma possibilidade de oferecer um julgamento mais justo e correto.
A Súmula Vinculante originou-se contrariamente ao fluxo de informações, já que este se dá seguindo as instancias do Poder Judiciário e aquela origina decisões vindas do Supremo Tribunal Federal.
As decisões devem ser ágeis, todavia não se pode prezar pela quantidade de processos resolvidos e se desprezar a qualidade desse tipo de resolução. Evidentemente, o Supremo é formado por Ministros os quais são profundos conhecedores do Direito, contudo o juiz singular tem uma melhor visão dos conflitos. É importante salientar o estabelecimento por parte do legislador de um preceito, contido no artigo 8º da emenda 45, ditando que as súmulas somente produzirão efeito vinculante após sua confirmação por dois terços dos integrantes do Supremo... 
Ante o exposto, observa-se que a Emenda 45 simbolizou uma tentativa de promover o aspecto da celeridade processual, porque muitas vezes a demora na resolução dos processos revela um grau maior de injustiça do que o próprio julgamento injusto. 
Além da preocupação do legislador com a rapidez das decisões percebe-se também a seriedade com que foram tratados os direitos humanos.
O artigo 5º da Constituição Federal trouxe uma nova redação ao seu parágrafo 3º dispondo que à medida que ‘os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais’. 
No ordenamento jurídico pátrio há uma certa hierarquia entre as leis, pois umas são produzidas por um processo legislativo mais dificultoso e abrangem conteúdos mais amplos e outras são mais simples de serem produzidas e atuam em áreas mais especificas da sociedade.
Os tratados e convenções internacionais tidos como Emendas Constitucionais, desde que estes se refiram aos direitos humanos, o legislador optou por dar uma maior relevância a esses temas. O parágrafo terceiro deve ser entendido conjuntamente ao parágrafo 5º do artigo 109. Esse parágrafo declara que ‘nas hipóteses de grave violação de direitos humanos o Procurador Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos os quais o Brasil pactuou, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal’. 
Esse último parágrafo deve ser interpretado de acordo com a competência residual da Justiça Estadual estabelecida pela própria Constituição. 
A primeira divisão administrativa da jurisdição, citada pelos mais diversos autores, é aquela que divide as atribuições dos órgãos da justiça federal e estadual. Os artigos 102, 105, 108, 109, 114, 121, e 124 da Carta Magna, têm a delineação da competência dos mais diversos órgãos jurisdicionais, restando à Justiça dos Estados o restante dos casos, para os quais a competência não foi estabelecida.
O legislador, atormentado com as constantes violações aos Direitos Humanos, documentou as mudanças acima mencionadas a fim de dar maior apóio às causas, envolvendo os Direitos Humanos. Dessa forma, transferiu, desde que necessário, a competência relativa a causas envolvendo esses direitos a Justiça Federal, vislumbrando uma maior rapidez e acuidade com os Direitos Fundamentais das pessoas. A Justiça Federal tem uma possibilidade de dar maior seriedade aos casos relatados já que sua competência é descrita na Constituição, contrariando a competência residual da Justiça Estadual, demasiadamente atribulada, portanto.
A competência da Justiça do Trabalho modificou-se profundamente. Quando adquiri uma nova Constituição, constituída da emenda 45, fiquei surpreso com a amplitude das mudanças que se operaram. Houve um aumento da competência da Justiça do Trabalho. 
Dispunha o artigo 114 da CF anterior à emenda 45: compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de direito público externo e da administração publica direta e indireta dos Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União e, na forma da lei, outras controvérsias decorrentes das relações de trabalho, bem como os litígios que tenham origem no cumprimento das suas próprias sentenças, inclusive coletivas. Continuando o artigo 114 parágrafo terceiro asseverava que competia ainda à Justiça do Trabalho executar, de oficio, as contribuições sociais previstas no artigo 195, I, a e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir.
O artigo 114, com as mudanças introduzidas pela emenda 45, obteve a seguinte redação: ‘Compete a Justiça do Trabalho processar e julgar as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração publica direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; as ações que envolvam o direito de greve; as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; os mandados de segurança, os hábeas corpus e hábeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no artigo 102, I, o; as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho; as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no artigo 195, I, a e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei.
Com as mudanças, inúmeras palestras têm sido oferecidas em todo o país, por professores e estudiosos do assunto, tentando dirimir as controvérsias originadas por todas as alterações introduzidas na competência trabalhista. Alguns professores chegam a afirmar que todo tipo de relação que origine divergências de ímpeto trabalhista pertencem a Justiça do Trabalho. Outros estudiosos alegam que até mesmo 
problemas envolvendo a relação de consumo devem ser dirimidos na Justiça do Trabalho. Tudo que direta ou indiretamente se relacione com o trabalho constituirá ações integrantes da competência trabalhista. 
O Judiciário, segundo alegam, é um poder pouco democrático, porque não é auferida sua popularidade mediante eleição popular de seus membros. O ingresso na carreira inicial da Magistratura e do Ministério Público se dá por aferição mediante concurso público de provas e títulos. Este critério, embora pareça ser pouco democrático, é o mais democrático, à medida que somente os mais capacitados para o cargo conseguem obter a aprovação nestes concursos.
Baseado na ansiedade social a fim de que o Judiciário e o Ministério Público fossem controlados, já que não são tidos como poderes democráticos, houve a criação do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público.
De fato, foi importante a criação de conselhos como o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e o CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), pois estes não podem opinar sobre a atuação dos magistrados e órgãos do Ministério Público, mas devem exercer a fiscalização administrativa, financeira e zelar pelo cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, promotores e procuradores. 
A sociedade almeja que a criação desses conselhos não seja uma medida indireta de exercerum controle sobre o modo de agir dos juízes de 1º grau, já tão suprimido com medidas do legislador como a criação da Súmula Vinculante. Esses conselhos devem atuar, gerando um melhor acompanhamento do Judiciário, resistindo para que mesmo sem haver eleições periódicas dos membros do Poder Judiciário e do Ministério Público, atuem de acordo com o princípio da Supremacia do Interesse Público, isto é, atendendo aos medos, angustias e reclamos da sociedade.
Considerando terem sido estas as modificações mais relevantes introduzidas pela emenda 45, é importante salientar que o legislador introduziu alterações fundamentais ao ordenamento jurídico pátrio. Algumas variações ainda com pouca repercussão no mundo jurídico e social diante da difícil tarefa dos aplicadores do Direito e dos administradores nacionais de implementá-las, outras mais fáceis de serem observadas, mas é fundamental que essas transformações sejam utilizadas da forma correta, na real tentativa de corrigir e introduzir na sociedade aspectos modernos que solucionem omissões do passado e estabelecam a construção do futuro.
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Aluno da Faculdade de Direito da UFC
7º semestre, manha.-Matricula 0143260.

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