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A enfiteuse é um direito real alienável

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A enfiteuse é um direito real alienável, ou seja, direito que permitiria ceder ou conferir a um titular ou enfiteuta o domínio útil de um imóvel, valendo cessão mediante pagamento ao proprietário, o senhorio direto, de uma pensão anual, denominada foro. De origem grega, plenamente incorporada à praxe romana, e posteriormente plenamente utilizada pelo direito português na ocupação das terras descobertas em solo colonial. Consiste, basicamente, na cedência do domínio útil de determinado prédio ou lote de terras para um terceiro, chamado de foreiro ou enfiteuta, para que este possa usufruir do bem, cabendo ainda a este, pagar uma taxa anual ao senhorio direto, o proprietário original do bem em questão.
Atualmente, o instituto da enfiteuse está em desuso no sistema jurídico brasileiro. Já havia sua extinção prevista no código anterior, de 1916, prevalecendo apenas os já existentes e com regras para desestimular sua manutenção. No atual código civil de 2002 está inserido no art. 2038, no livro complementar, das disposições finais e transitórias, e determina sua proibição, subordinando as existentes às disposições do código civil anterior. Veio a ser substituído de forma prática, pelo direito de superfície.
Cabe ressaltar sua importância na fundação e constituição do município de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, pois este teve origem de terras de uma fazenda pertencente a Dom Pedro I, vindo posteriormente a passar para a posse de seu sucessor, Dom Pedro II, que determinou, via decreto imperial, o loteamento de terrenos para posterior ocupação e formação da cidade, fazendo uso do instituto da enfiteuse, muito comum e utilizada plenamente a época, como instrumento jurídico empregado na concessão dos lotes. Servindo também para financiar e manter as despesas da família real, o que se vislumbra até hoje, sendo esta importante fonte de renda dos descendentes da família real brasileira, através da denominada Companhia Imobiliária de Petrópolis.
Sobre a ocorrência do instituto da enfiteuse no munícipio de Porto Alegre, como exemplo, cito o prédio da METROPLAN, situado na Avenida Voluntários da Pátria, que tem como senhorio direto o Estado do Rio Grande do Sul e foreiro a própria METROPLAN, pois o referido prédio é tema de ação judicial movida pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre, para sua desapropriação para posterior duplicação da referida avenida. 
	Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DESAPROPRIAÇÃO. MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE. INCORPORAÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO DO DOMÍNIO ÚTIL DE IMÓVEL FOREIRO AO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (IMÓVEL SOBRE O QUAL RECAI DIREITO REAL DE ENFITEUSE). - Evidenciado que o Estado do Rio Grande do Sul manterá o domínio direto do bem, descabe sua inclusão no pólo passivo da demanda. - Tratando-se a apropriação tão somente do domínio útil do bem, não havendo a extinção da enfiteuse, correto o depósito prévio equivalente a 83% do valor total do bem, nos termos do laudo apresentado pelo Município de Porto Alegre. - Caso em que o Decreto de utilidade pública foi claro ao prever o desapossamento de fração do todo maior, não abrangida a área gravada pela enfiteuse. POR MAIORIA, VENCIDO O RELATOR, DERAM PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. (Agravo de Instrumento Nº 70057156176, Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Matilde Chabar Maia, Julgado em 27/03/2014)
	
	
	
Visto que anteriormente, o terreno do Estaleiro Só também foi alvo de ação semelhante por parte do PSOL, tentando impedir a construção de prédios comerciais naquele local. 
Cabe ressaltar ainda, que a lei que extingue a enfiteuse do direito privado, mantem expressamente o instituto nos terrenos da união, mais precisamente naquele pertencentes à Marinha do Brasil e acrescidos à ela, ficando estes regulamentados por lei especial. Os terrenos de marinha, são aqueles beiram mares, rios ou lagoas onde existam influência de marés, abrangendo a enfiteuse da União a área de até 33 metros para dentro do terrenos, pois dizem respeito à segurança nacional.

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