Buscar

Prazer a Dois r1 2

Prévia do material em texto

PRAZER A DOIS 
Sugestões tântricas para uma 
relação com mais prazer 
KUSHI 
	
   2	
  
Oriente	
  e	
  Ocidente	
  
 
A cultura ocidental é pautada por "objetivos" 
e pela racionalidade. 
Emoções são frequentemente consideradas 
sinais de fragilidade e instabilidade. 
Decisões devem ser tomadas sempre de 
forma lógica e fundamentadas na razão. 
Essa maneira de pensar permeia o modo 
pelo qual nos relacionamos com o mundo e 
com as pessoas ao nosso redor, mas não 
temos consciência disso. 
O marco histórico para esse modelo de 
pensamento é o Iluminismo, um movimento 
cultural da elite intelectual europeia do 
século XVIII, que procurou mobilizar o poder 
da razão a fim de reformar a sociedade e o 
conhecimento herdado da tradição medieval. 
A história do oriente percorreu caminhos 
bem distintos da do ocidente. Embora 
ambos os povos tenham interagido ao longo 
do tempo, o oriente não enfrentou a ruptura 
iluminista. Boa parte do sul da Asia (China, 
Japão, India entre outros) tampouco viveu 
	
   3	
  
transições religiosas tão intensas como o 
advento do cristianismo e o islamismo. 
Ali, muito das tradições milenares foi 
mantido e os modelos mentais para 
interpretação do mundo são mais holísticos, 
Razão e emoção, corpo e alma, matéria e 
energia, tudo é percebido de forma inter-
relacionada, integral. 
O Brasil é um país muito jovem e herdou 
predominantemente influências ocidentais 
de seus colonizadores. 
Mas é um país tropical, miscigenado, com 
fortes influências dos nativos indígenas e de 
culturas africanas. 
O resultado disso é que somos um povo que 
se esforça para agir de acordo com os 
princípios iluministas, mas essencialmente 
sensoriais. Uma interessante, única e 
engenhosa mistura de ocidente e oriente. 
Que tal explorar essas características para 
desenvolver relações mais interessantes ? 
 
KUSHI 
 
	
   4	
  
 
 
 
1. 	
  Preparando	
  para	
  despir-­‐se	
  	
  
 
Das antigas filosofias orientais, a tântrica é a 
que mais valoriza o prazer. 
Isso não significa que o prazer seja um 
objetivo a ser alcançado. O prazer é a 
consequência da expansão da consciência e 
da percepção. 
Como o Tantra é um conjunto de 
pensamentos muito antigos, antecede a 
moral definida pelas religiões monoteístas 
(judaísmo, cristianismo, islamismo) mais 
recentes, cujas regras de conduta foram 
adotadas como padrões de comportamento 
social, mesmo para os que não as seguem. 
Para um tântrico a ideia de que o sofrimento 
é o caminho para a iluminação é tão 
estranha como a ideia de que o orgasmo 
seja um caminho para comunhão com o 
universo para um cristão. 
	
   5	
  
A exposição do corpo (nudez), os estímulos 
sensoriais (carícias) e o encontro de 
polaridades (sexo) são tratados com 
naturalidade pelos tântricos. 
O potencial orgástico feminino é encarado 
como uma manifestação de sua condição 
privilegiada. Como geradora da vida, a 
mulher é mais capacitada que o homem 
para conectar-se com a energia universal e 
integrar-se com ela. Ela é considerada uma 
sacerdotisa ou deusa. 
É por isso que estimular sensorialmente 
uma mulher é um ato revestido de 
sacralidade para um tântrico. 
Isso não quer dizer que precisamos preparar 
um altar e seguir um ritual religioso sempre 
que formos tocar uma mulher. Não é a 
forma do contato que muda. É a intenção. 
O homem também é considerado um ser 
animado pela divindade (ou pela energia do 
Universo). Ele apenas precisa se esforçar 
mais para conseguir aquilo que a mulher 
obtém naturalmente. Uma mulher generosa, 
disposta a compartilhar sua energia com seu 
	
   6	
  
amado, é o melhor presente que um homem 
pode receber do universo. 
Vale a pena mencionar que, até onde se 
sabe, a filosofia tântrica não faz nenhuma 
restrição à homossexualidade. 
Embora as energias masculina e feminina 
(polaridades) sejam percebidas como 
complementares e sinérgicas (uma 
potencializa a outra), é positivo que homens 
e mulheres desenvolvam e equilibrem essas 
energias dentro de si. 
Uma vivência sensorial tântrica entre 
pessoas do mesmo sexo é bastante 
diferente daquela experimentada por 
polaridades complementares, mas 
igualmente valorizada. E como a ideia de 
relações fechadas e possessivas não cabe 
na filosofia tântrica, questões como a união 
homossexual sequer são abordadas. 
Você não precisa ser tântrico para vivenciar 
as sensações de um encontro tântrico. 
Mas procurar se despir, por alguns 
momentos, dos preconceitos e pudores 
relacionados à moral ocidental pode ajudar. 
	
   7	
  
 
 
 
2. 	
  O	
  princípio	
  do	
  prazer	
  
 
Vamos ver o que podemos aprender com os 
tântricos para explorar nosso potencial 
sensorial e aumentar nossa habilidade de ter 
prazer a dois. 
O primeiro “truque” para ampliar o prazer a 
dois é aprender a sentir. 
Sentir é o princípio do prazer. 
Para os tântricos, os termos masculino e 
feminino não estão relacionados ao “gênero” 
(homem e mulher). Masculino tem o sentido 
de ativo. Feminino tem o sentido de 
passivo. 
Para alcançar a plenitude do "sentir" nossa 
atenção precisa estar totalmente dedicada a 
isso, e a melhor predisposição é uma atitude 
"passiva", receptiva. 
Parece simples, mas não é o que estamos 
acostumados a fazer. É um desafio, 
principalmente para os homens. 
	
   8	
  
Vamos começar com um exercício: 
 
 
Exercício 1: Sentir 
A regra número um para vivências 
sensoriais a dois é a higiene. Ambos 
devem tomar um banho cuidadoso e lembrar 
que todas as partes de seu corpo poderão 
ser tocadas. Escovar os dentes também é 
uma boa recomendação. Evite usar 
perfume. O aroma suave de sabonetes e 
shampoos é suficientemente agradável e 
interferem menos com a percepção dos 
feromônios (estimulantes naturais). 
Escolham um lugar confortável, isolado e 
onde não sejam interrompidos por pelo 
menos uma hora. O ideal é que pelo menos 
um de vocês possa ficar deitado. 
Um pouco de música também pode ajudar a 
criar uma atmosfera propícia para o 
exercício. Escolham músicas melódicas, 
cadenciadas e preferivelmente instrumentais 
(como Lounge ou Mantra Music). 
	
   9	
  
Comecem se despindo com calma. Um 
deve despir o outro, sempre que possível, 
mantendo o contato visual e antecipando o 
prazer que pretende oferecer através do 
olhar. 
Quem está sendo despido deve ficar imóvel, 
respirando lenta e profundamente, 
interagindo apenas com o olhar. 
Quem despe deve faze-lo devagar, com 
movimentos suaves, mantendo o corpo 
próximo, para que quem está sendo despido 
possa sentir o calor do corpo e a respiração. 
Quando terminarem de se despir um dos 
parceiros deve deitar-se e preparar-se para 
receber carícias. 
Preparar-se significa adotar uma atitude 
passiva, receptora. Mantenha a respiração 
lenta e profunda e volte sua atenção para 
seu próprio corpo. Fechar seus olhos pode 
ajudar a se “desligar” da presença física do 
parceiro e focalizar sua atenção em você. 
O outro parceiro deve preparar-se para 
estimular. 
	
   10	
  
Preparar-se significa adotar uma atitude 
ativa, doadora. Mantenha a respiração lenta 
e profunda e volte sua atenção para quem 
está recebendo. Observe cada movimento, 
cada reação do corpo, cada variação na 
respiração. Essas reações serão seu guia 
para conduzir as carícias. 
Comece com toques sutis, deslizando as 
pontas dos dedos na superfície da pele. 
Não tenha pressa. Explore o corpo 
lentamente e não se detenha nas áreas que 
já conhece e costuma acariciar. A lateral do 
corpo, a área interna dos braços e a externa 
das coxas são sensíveis e raramente 
tocadas. Aproveite-as. 
 
	
   11	
  
 
 
Experimente soprar. O ar expirado tem uma 
temperatura agradável e estimula as 
estruturas sensoriais dapele de forma única. 
Após aproximadamente10 minutos, troquem 
de posição e de papeis. 
Na segunda rodada de carícias, troquem o 
toque sutil com a ponta dos dedos por um 
toque suave, deslizando toda a mão pelo 
corpo. Aproxime seu corpo de forma que 
seu calor possa ser percebido. Encoste-se, 
de maneira suave. Respire na região do 
	
   12	
  
pescoço e próximo aos ouvidos e à boca. 
Roce os lábios, mas não beije. Cheire. 
Cheirar é uma atividade estimulante para 
ambos e pouco praticada. 
Passados outros 10 minutos troquem de 
posição. 
Na terceira e última rodada os toques 
podem ser mais ousados e o contato 
corporal mais intenso. Mas não seja afoito. 
Mantenha a lentidão dos movimentos de 
forma a que as carícias e o contato possam 
ser “saboreados”. Use a ponta da língua. 
Sinta o sabor da pele enquanto estimula o 
outro com suas carícias. Beije todo o corpo 
com suavidade. Dê pequenas e leves 
mordidas no pescoço, na cintura, na região 
pélvica, na área interna das coxas. 
Toque a região genital com a ponta dos 
dedos e deixe que o calor de sua respiração 
seja sentido ali. 
Passados outros 10 minutos troquem de 
posição. 
O parceiro que estiver terminando essa 
última rodada na posição ativa deverá, ao 
	
   13	
  
final de seus 10 minutos de carícias, 
encostar seu corpo inteiramente no outro, 
promovendo o contato direto das regiões 
genitais. 
A partir desse ponto podem trocar carícias 
simultâneas e efetuar a penetração se 
desejarem, embora terminar a vivência sem 
a penetração também seja uma experiência 
muito interessante. 
 
Durante todo o exercício os parceiros devem 
se esforçar para manter suas posições 
ativas e passivas. Quando um estimula cabe 
ao outro deixar-se estimular. A atenção de 
ambos deve ser dirigida a um de cada vez. 
Da primeira vez em que realizarem esse 
exercício, vale a pena conversar a respeito e 
compartilhar as sensações. 
Com o tempo e a repetição do exercício, 
ambos irão aprender a “ler” as reações do 
corpo e a conversa não será necessária. 
 
	
   14	
  
 
3. 	
  A	
  intenção	
  
 
O segundo “truque” para ampliar o prazer a 
dois é a maestria da intenção. 
Intenção é um propósito absoluto e integral, 
que une a mente e o corpo para um objetivo 
determinado. 
Não é fácil desenvolver a intenção. Requer 
muita dedicação e anos de prática. 
Observe as coisas mais simples. 
Um "bom dia" de um amigo, um beijo do 
namorado, o olhar de um desconhecido ou o 
abraço de uma pessoa querida. 
Com sua atenção voltada para isso, você irá 
perceber a diferença entre o bom dia, o 
beijo, o olhar ou o abraço animados pela 
intenção e aqueles meramente protocolares. 
O bom dia educado, o beijo displicente, o 
olhar desatento ou o abraço "mecânico" são 
inócuos, insignificantes. Que diferença 
enorme quando são praticados com 
intenção. 
	
   15	
  
Mas como tudo começa com o primeiro 
passo, vamos trabalhar a intenção a partir 
da vontade consciente. 
Para isso vocês precisam estar presentes no 
aqui e no agora. 
 
Exercício 2: Perceber 
Escolham um lugar confortável, isolado e 
onde não sejam interrompidos por pelo 
menos 30 minutos. 
Não é necessário estarem despidos. 
Este exercício deve ser feito em duas fases. 
Na primeira, um de vocês deverá adotar 
uma postura passiva, preparando-se para 
receber. 
O parceiro ativo irá dedicar-se a fazer 
pequenas carícias no parceiro passivo. 
Mas seu objetivo não será estimular o outro. 
Sua atenção deverá estar voltada para suas 
sensações. 
Comece com um suave beijo na lateral da 
face. 
Sinta o contato da pele do rosto com seus 
lábios. Perceba que sensações isso 
	
   16	
  
desperta em você. Inspire e sinta o cheiro 
da pele. Lentamente, repita o beijo em 
locais diferentes do rosto. Beije os olhos e 
perceba os cílios roçando em seus lábios. 
Beije a testa e sinta o cheiro particular dessa 
região, que é diferente do da lateral da face. 
Beije o canto da boca. Perceba como seus 
lábios são capazes de sentir o relevo. Beije 
os lábios e sinta a maciez do contato. 
Perceba o ar espirado pelo outro enquanto 
beija. 
Coloque a mão do cabelo e deixe que seus 
dedos penetrem entre os fios bem devagar. 
Sinta os fios passando pelos seus dedos. 
Cheire os cabelos. 
Cheire o pescoço e, com especial atenção, a 
região atrás da orelha. 
Passe os dedos levemente pela nuca e 
perceba os fios de cabelo mais finos 
daquela região. 
Troquem de posição de forma a que quem 
estava passivo repita a mesma sequencia. 
	
   17	
  
Terminada a sequência, vamos repetir esse 
mesmo exercício mas com um outro 
objetivo. 
Quem estiver ativo deve estar com sua 
atenção voltada para o outro. Cada gesto 
deve ser praticado como uma carícia, como 
um presente para o outro. 
Beije o rosto com o mesmo cuidado, mas 
pensando em depositar o seu beijo ali, como 
um presente. Acaricie os fios de cabelo e a 
nuca. Cheire o pescoço para provocar um 
arrepio. A cada gesto, perceba as reações 
do outro. 
Depois que ambos tiverem terminado, 
beijem-se na boca, lenta e intensamente. 
Durante o beijo, simultaneamente, exercitem 
o que vivenciaram nas sequencias 
anteriores. 
Sintam o contato dos lábios, a respiração, o 
cheiro da pele e da saliva. Passem a língua 
vagarosamente por dentro do lábio superior. 
Mordisquem suavemente. Em cada gesto 
desejem estimular o parceiro, mas sem 
deixar de perceber o contato e os aromas. 
	
   18	
  
Quando terminarem o beijo, deem as mãos 
e se olhem nos olhos por alguns instantes, 
com um pensamento de gratidão. 
 
Terminado o exercício, compartilhem as 
sensações. 
Falem sobre como se sentiram fazendo e 
recebendo as carícias e sobre as diferenças 
sensoriais das duas fases do exercício. 
Como foi o beijo final ? Diferente dos outros 
que já haviam dado ? Mais intenso ? 
Conseguiram permanecer com sua atenção 
no momento e no espaço do presente, aqui 
e agora ? 
Combinem entre vocês de, nos dias 
seguintes, fazer todos os pequenos gestos 
diários de carinho com a mesma atenção. 
Nada deve ser “automático”. Procurem 
praticar a intenção em cada gesto e serem 
intensos em cada toque. 
O resultado, como poderão observar, será 
muito interessante. 
 
 
	
   19	
  
4. 	
  A	
  conexão	
  
 
O terceiro “truque” para ampliar as 
sensações de prazer a dois é a conexão. 
Conectar-se com o outro vai além de estar 
juntos, conversando ou tocando. 
Para entender o sentido de uma conexão 
tântrica, basta lembrar da conhecida 
saudação “namaste”. 
Namaste significa, literalmente, “eu 
reverencio você”, mas seu sentido maior é a 
afirmação de que a energia que nos anima é 
a mesma e que fazemos parte do Universo. 
Há quem a traduza como “o Deus que está 
em mim saúda o Deus que está em você”. 
Essa saudação indica que reconhecemos no 
outro a mesma energia divina que nos 
habita e também anima o Universo e que, 
por conta disso, estamos inexoravelmente 
conectados. 
Quando transcendemos a racionalização e 
interiorizamos esse sentimento, passamos a 
nos identificar profundamente com o outro. 
	
   20	
  
Fazemos parte do outro que também faz 
parte de nós. 
Esse é o verdadeiro sentimento de conexão. 
Como, no mundo ocidental, vivemos do culto 
ao “ego”, exercitando nossa individualidade 
cotidianamente e construindo barreiras que 
nos “protegem” dos outros, a desconstrução 
dessa estrutura mental egóica não é uma 
tarefa simples. 
Quando amamos alguém intensamente, 
chegamos a experimentar algo parecido 
com isso, mas quase sempre de forma 
possessiva. Sentimos que a pessoa faz 
parte de nós, mas esse sentimento vem 
junto com o desejo de posse. O outro, o ser 
amado, nos pertence. 
Aprender a amar sem possuir é um caminho 
que vale a pena trilhar. 
A proposta desteexercício é coloca-los no 
início dessa trilha. 
 
	
   21	
  
 
Exercício 3: conectar 
Escolham um lugar confortável, isolado e 
onde não sejam interrompidos por pelo 
menos 30 minutos. 
Não é necessário estarem despidos. 
Fiquem de frente um para o outro, de mãos 
dadas. 
Olhem-se diretamente nos olhos e procurem 
transmitir uma mensagem amorosa com o 
olhar. 
É importante que cada um tenha em mente 
que o outro à sua frente é um ser amado, 
uma pessoa generosa e disposta a 
compartilhar esse momento de prazer. 
Retribuam essa generosidade e agradeçam 
mentalmente, sem falar. 
Sustentem o olhar e respirem profunda e 
lentamente. Expirem devagar, levando o 
dobro do tempo da inspiração. Procurem 
relaxar o corpo, sem perder o contato visual. 
Façam isso juntos e transmitam essa 
sensação de relaxamento. Sintam o 
relaxamento do outro. 
	
   22	
  
Busquem sincronizar a respiração. Inspirem 
e expirem no mesmo ritmo. Imaginem que 
estão respirando também para o outro. 
Aproximem-se um pouco mais. Sintam a 
expiração um do outro e deixem-se envolver 
por esse ar que é expirado. 
Ao inspirarem, imaginem que estão trazendo 
para dentro de vocês a energia do Universo. 
Ao expirarem, imaginem que estão 
compartilhando essa energia com o outro. 
Irradiem a energia para o outro. 
Não tenham pressa. 
Percebam como respirar juntos está 
deixando vocês mais unidos. 
Permaneçam algum tempo assim, de mãos 
dadas, com o olhar amoroso e a respiração 
sincronizada, compartilhando a sensação de 
relaxamento e envolvidos pela energia do 
Universo. 
Quando julgarem que é o momento, 
encostem os corpos. 
Com os braços relaxados ao longo do corpo, 
espalmem as mãos e encostem as palmas e 
os dedos. 
	
   23	
  
Encostem as coxas, a pélvis, o abdome, o 
peito. 
Continuem se olhando e respirando em 
sincronia. 
A cada expiração, deixem que os corpos se 
aproximem mais. Sintam o calor que resulta 
desse encontro dos corpos. 
Permaneçam algum tempo assim e, quando 
julgarem que é o momento, se abracem 
carinhosamente. 
Continuem respirando juntos e, a cada 
expiração, permitam que os corpos se 
aproximem ainda mais. 
Imaginem que vocês estão se fundindo, se 
tornando um só. 
Sintam o calor, o cheiro, as batidas do 
coração, o relaxamento, a respiração, a 
energia que vocês emanam. 
Permaneçam assim pelo tempo que 
quiserem. 
Quando julgarem que é o momento, se 
afastem lentamente e voltem a se olhar nos 
olhos, de mãos dadas. 
	
   24	
  
Agradeçam com o olhar e presenteiem com 
um sorriso, em silêncio. 
 
 
 
 
Quando terminarem o exercício, sentem-se 
de frente um para o outro. 
Mantendo sempre o contato visual, 
compartilhem as sensações. 
Calma e relaxadamente, um de cada vez, 
contem o que sentiram. 
Digam primeiro como estão se sentindo 
naquele momento e qual é o seu sentimento 
em relação ao outro. 
	
   25	
  
Depois, se quiserem, comentem as 
sensações que tiveram durante o exercício. 
 
 
	
   26	
  
 
5. 	
  Cuidado	
  e	
  carinho	
  
A convivência trás a intimidade. 
Quanto mais tempo você passa em 
companhia de uma pessoa amada, mais se 
sente confortável com a sua presença. 
Conforto, nesse caso, é a possibilidade de 
ser você. De relaxar e “despreocupar-se” 
com a presença do outro. 
Esse é um dos benefícios mais cativantes 
de uma relação duradoura. 
Mas casais que moram juntos também se 
ressentem do “desgaste” da relação, que 
costumam atribuir à convivência. 
Se observarmos com atenção perceberemos 
que a causa desse desgaste, que é real e 
relativamente comum, não é a convivência 
em si mesma. 
O que ocorre, quase sempre, é que a vida 
em comum exige a participação na solução 
de problemas. 
Pagamento de contas, questões domésticas, 
educação dos filhos (quando presentes), 
	
   27	
  
manutenção da casa, assuntos familiares, 
tudo isso precisa ser compartilhado. 
Quando o casal tem atividades profissionais 
que exigem sua ausência durante o dia, 
todas essas questões, quase sempre 
aborrecidas, precisam ser discutidas no 
pouco tempo em que estão juntos. 
A urgência de vários desses assuntos os 
transforma em prioridade. 
No começo de uma relação afetiva, 
ansiamos pelo momento em que vamos 
encontrar a pessoa amada. Antecipamos o 
prazer que sentiremos ao estar juntos, 
trocando palavras e carícias agradáveis. 
Quando o pouco tempo que passamos 
juntos é utilizado para discussão de 
problemas, associamos os problemas à 
pessoa amada. 
É nesse contexto que buscamos um espaço 
para um contato afetivo ou mesmo sexual. 
É bastante comum escutar pessoas casadas 
há algum tempo se referirem ao contato 
sexual com o parceiro como “cumprir suas 
obrigações”. Não é que o contato seja 
	
   28	
  
particularmente desagradável, mas ele 
“precisa” acontecer (afinal, o sexo deve 
fazer parte da “rotina” de um casal) e, com 
tantas outras responsabilidades, é preciso 
encontrar um tempo para realizar mais essa 
“obrigação”. 
Um pequeno “truque” para ampliar o prazer 
a dois: vamos inverter as prioridades. 
 
Exercício 4: cuidar 
Escolham um lugar confortável, isolado e 
onde não sejam interrompidos por pelo 
menos uma hora. 
Levem para esse encontro algumas folhas 
de papel, lápis, borracha, um calendário e 
suas agendas. 
Sim, isso é uma reunião de trabalho. 
Mas, antes de começar a “reunião”, sentem-
se de frente um para o outro. Deem-se as 
mãos, olhem-se nos olhos e respirem 
profundamente. Sincronizem a respiração. 
Procurem relaxar o corpo e lembrar de 
algum momento gostoso que tenham vivido 
	
   29	
  
juntos. Agradeçam ao outro, através do 
olhar, por essa lembrança. 
Permaneçam assim por algum tempo, até 
sentirem que estão conectados e presentes, 
prontos para iniciar uma pequena mas 
importante tarefa. 
O objetivo do encontro é bastante simples. 
Vocês irão definir horários para discussão 
de problemas e posiciona-los em sua 
agenda para os próximos 7 dias. 
Se for possível, escolham momentos 
diferentes em dias alternados e deixem 3 
dos 7 dias da semana livres, ou seja, sem 
espaço para discussão dos problemas. 
Preparem uma lista dos temas recorrentes 
(aqueles que costumam necessitar de 
atenção com frequência) e elaborem uma 
“pauta” prévia para cada encontro. Claro 
que a pauta deverá deixar espaço para 
“outros assuntos”, que deverão surgir no 
decorrer da semana e precisarão ser 
discutidos nessas ocasiões. 
Procurem, também, verificar as atividades 
“domésticas” (levar o carro para trocar o 
	
   30	
  
óleo, fazer compras de supermercado, 
ajudar as crianças nas lições) que 
precisarão ser realizadas durante aquela 
semana por cada um de vocês e coloquem 
nessa agenda comum, de forma a que não 
precisem “cobra-las” um do outro durante a 
semana. Vejam se é possível dividir essas 
tarefas de acordo com o tempo livre de cada 
um, de forma a que nenhum dos dois se 
sinta particularmente sobrecarregado. Esta 
não será uma semana para “compararem os 
sacrifícios”. A ideia é que ambos se apoiem 
para dar conta das obrigações e 
responsabilidades de forma eficiente. 
Caso algum dos dois precise realizar alguma 
atividade profissional nesse período, isso 
também deve ser colocado na agenda e, se 
possível, coordenado com as atividades do 
outro (se você vai ter que fazer um relatório 
em casa amanhã à noite então eu aproveito 
para ir no mercado nesse horário). 
Findo esse trabalho de organização da 
agenda, vocês devem fazer um pacto: 
nenhum “problema” será discutido fora dos 
	
   31	
  
horários estabelecidos para discussão de 
problemas, a não ser que seja um caso de 
vida ou morte. 
Se seus encontros para discussão de 
problemas estão agendados para dias 
alternados, terão que esperar, no máximo, 
até o dia seguinte (isso épossível na grande 
maioria dos casos). 
Comecem a implementar o plano combinado 
imediatamente após a “reunião” e 
mantenham isso por uma semana. 
Esperem até o final da semana para 
conversar sobre o resultado do exercício. 
 
Nos primeiros dias é possível que o casal 
enfrente alguns momentos de silêncio 
constrangedor. Sobre o que irão conversar? 
Como irão ocupar o seu tempo? 
Uma boa sugestão para esses momentos é 
cuidar do outro. Ofereça um chá ou uma 
massagem nos pés. 
Compartilhe uma leitura interessante. 
Sugira que assistam algo juntos comendo 
pipoca. 
	
   32	
  
Preparem juntos o jantar. 
Passeiem pelo bairro ou num parque 
próximo, de mãos dadas, em silêncio ou 
trocando impressões sobre coisas e 
pessoas à sua volta. 
Vale qualquer coisa, menos conversar sobre 
problemas e obrigações. 
Embora seja desejável que esses momentos 
sejam vividos a dois, procurem respeitar a 
individualidade. 
Se um de vocês deseja ler e o outro quer 
assistir televisão, façam isso. Numa 
situação como essa, vocês estarão juntos, 
na mesma casa, fazendo o que tem vontade 
de fazer e, ainda que sejam coisas 
diferentes, estarão compartilhando esse 
instante de prazer. 
Mas aproveitem para, mesmo nesses 
momentos, cometerem pequenas gentilezas 
como oferecer-se para buscar algo na 
cozinha caso se levante do sofá por 
qualquer razão. 
 
	
   33	
  
E a qualquer momento, se ambos não 
tiverem coisa mais interessante para fazer, 
sempre podem praticar um dos outros 
exercícios deste livro. 
 
 
	
   34	
  
 
 
6. Respeito	
  e	
  liberdade	
  
 
Gastamos boa parte do nosso tempo 
cuidando do que possuímos, do que 
pensamos que possuímos e do que 
gostaríamos de possuir. 
Uma parte de significativa de nosso espaço 
mental é ocupada pelo medo de perder o 
que conquistamos. 
E, se observarmos com cuidado, pautamos 
nossa vida pela ideia de corresponder às 
expectativas que, no fundo, raramente são 
“nossas”, para sermos “merecedores” dos 
privilégios da aceitação. 
Vivemos para ter e pertencer, imaginando 
que é isso que nos fará felizes. 
Nietzche, importante filósofo alemão que 
viveu no final do século XVIII, afirmou: 
"Nunca é alto o preço a pagar pelo privilégio 
de pertencer a si mesmo". 
	
   35	
  
Quando iniciamos a nossa vida, temos a 
necessidade de pertencer a alguém para 
estruturarmos nossa identidade. 
Somos "da mamãe", "do papai", "da vovó e 
do vovô" e é isso que nós dá a segurança 
necessária para caminhar rumo a um "ser" 
independente. 
Diversos aspectos, prioritariamente culturais, 
tornam complicada a transição do "ser de 
alguém" para o "ser alguém", e podemos 
observar que a maioria das pessoas chega à 
fase adulta sem finaliza-la, com uma 
sensação de "incompletude". 
Uma expressão comum para caracterizar o 
par amoroso é "a outra metade da laranja". 
Também é usual a menção à busca de 
alguém que nos "complete". 
Nessa situação, dedicamos boa parte da 
vida adulta à tentativa de preencher esse 
vazio existencial, seja através de outra 
pessoa, seja mediante a acumulação de 
bens. 
Dependemos de "pertencer" e de "ter" para 
"ser". 
	
   36	
  
É triste constatar que esse caminho será 
infrutífero. Pertencer e possuir não darão 
conta de completar-nos, ainda que 
momentaneamente possam oferecer a 
sensação de que o "vazio" foi preenchido. 
O "outro" a quem escolhemos pertencer nos 
frustra permanentemente. Os bens 
acumulados nunca são suficientes. 
Quanto antes tenhamos consciência de que 
a resposta não está "fora" de nós, mais 
tempo teremos para trilhar os caminhos 
"internos" que nos levarão a encontrar o que 
nos falta. 
Resolver essa questão é o trabalho de uma 
vida, mas estar consciente disso pode 
ajudar a melhorar o relacionamento de um 
casal. 
 
Exercício 5: desapegar 
Nesse exercício o casal irá trabalhar as 
questões do apego material e pessoal. 
A primeira parte é relativamente simples e é 
importante que o casal encare a atividade de 
forma lúdica. 
	
   37	
  
Diariamente, durante 5 dias, o casal deverá 
escolher 3 itens para se desfazer (jogar fora 
ou doar). Dois dos itens devem ter caráter 
individual (como algo de uso pessoal) e um 
de uso compartilhado. Ou seja, cada um de 
vocês irá abrir mão de um objeto pessoal e 
ambos abrirão mão de um objeto que é 
considerado como pertencente aos dois. 
Cada um de vocês deve sugerir ao outro, 
em cada dia, alguns objetos que consideram 
desnecessários. Será apenas uma 
sugestão. O outro poderá não acatar a 
sugestão, mas deverá dar uma explicação 
para sua recusa. Mesmo que as 
justificativas não sejam “convincentes”, 
caberá ao proprietário a decisão final sobre 
qual objeto será doado, e esse objeto pode 
não fazer parte da lista inicial de sugestões 
oferecidas pelo outro. 
No sexto dia, terminadas as doações 
começará a segunda parte do exercício. O 
casal irá reduzir os “custos” de seu 
relacionamento. 
	
   38	
  
Escolham um lugar confortável, isolado e 
onde não sejam interrompidos por pelo 
menos uma hora e meia. 
Levem para esse encontro algumas folhas 
de papel, lápis, borracha. 
Antes de começar a “reunião”, sentem-se de 
frente um para o outro. Deem-se as mãos, 
olhem-se nos olhos e respirem 
profundamente. Sincronizem a respiração. 
Procurem relaxar o corpo e lembrar de 
algum momento gostoso que tenham vivido 
juntos. Agradeçam ao outro, através do 
olhar, por essa lembrança. 
Permaneçam assim por algum tempo, até 
sentirem que estão conectados e presentes, 
prontos para iniciar essa importante 
conversa. 
Cada um de vocês deverá dizer ao outro 5 
coisas que gostaria de fazer mas que, de 
alguma forma, sente que o relacionamento é 
um impedimento para isso. 
O outro deve apenas ouvir e anotar os cinco 
itens numa folha de papel. 
	
   39	
  
A ideia não é discutir se o sentimento de 
impedimento é legítimo ou não. É apenas 
tomar conhecimento dos desejos que o 
outro está deixando de satisfazer em função 
do relacionamento. 
Tenham em mente que qualquer 
relacionamento funciona como uma espécie 
de conta corrente, onde os prazeres são um 
crédito e as frustrações são um débito. 
Fazemos um balanço, geralmente 
inconsciente, dessa relação entre o que 
“recebemos” e o que “pagamos” por isso. 
Deixar de fazer algo que gostaríamos para 
preservar a relação é “o preço a pagar” 
pelas coisas boas que essa relação nos 
oferece. Se o preço for muito alto, 
começamos a avaliar se a relação vale a 
pena. 
Cada um de vocês deverá observar a lista 
dos desejos do outro cuidadosamente e 
escolher 3 dos cinco desejos que considere 
que o outro poderia realizar sem colocar em 
risco a relação. Elejam o que os afeta 
menos e procurem ser generosos. Pensem 
	
   40	
  
em qual será seu real prejuízo caso o outro 
realize o desejo. 
Escolhidos os 3 desejos a serem 
concedidos, a tarefa passa ser informa-los 
ao outro, incentivar e apoiar sua realização. 
Pode não ser uma decisão fácil. Em alguns 
casos, talvez seja necessário definir 
algumas condições de “segurança” para 
oferecer o incentivo e o apoio. Mas lembre 
que vocês estarão melhorando o saldo de 
suas contas correntes, diminuindo os custos 
da relação para o outro. 
Existem duas coisas que devem ser 
consideradas nesse exercício. 
A primeira, é que não se deve exigir uma 
reciprocidade direta pelo desejo concedido. 
Essa reciprocidade já está implícita na 
medida em que cada um poderá realizar 3 
desejos. 
Se você vai “permitir” que o outro faça uma 
viagem paradisíaca sem a sua companhia, 
isso não quer dizer que você poderá fazer o 
mesmo, a não ser que isso também esteja 
	
   41	
  
na sua lista de desejos e tenha sido 
escolhido pelo outro para “liberação”. 
A segunda é ter consciência de que nossos 
desejose necessidades são diferentes. 
Nossos medos e inseguranças também são 
diferentes. 
Muitas vezes deixamos de fazer algumas 
coisas simplesmente porque não queremos 
que o outro faça. Talvez isso não seja 
importante para o outro e ele possa 
“permitir” que você faça sem ter o mesmo 
“direito”. 
Nas 3 semanas seguintes, cada um de 
vocês deverá realizar um dos desejos 
“concedidos” e compartilhar a experiência. 
Quem realizou o desejo deve contar como 
tudo aconteceu e como se sentiu antes, 
durante e depois. 
Quem “permitiu” que o desejo fosse 
realizado deve contar como está se sentindo 
à respeito. 
Se foi prazeroso para quem fez e sem 
nenhum incômodo para quem permitiu, 
ótimo. Acabaram de descobrir um “custo” 
	
   42	
  
desnecessário que pode ser eliminado da 
relação. 
Se quem “permitiu” esta se sentindo mal 
com o resultado (inseguro ou magoado), o 
casal deve combinar não repetir essa 
situação até que o sentimento de mal estar 
possa ser melhor elaborado e se dissipe. 
Neste caso, abrir mão desse desejo é um 
investimento realmente necessário para 
manutenção da relação. Se for algo muito 
importante (um custo alto), o casal poderá 
voltar a discutir o assunto mais tarde. 
No final das 3 semanas, após cada um 
haver realizado seus 3 desejos e o casal 
haver conversado sobre cada um deles, 
combinem um passeio juntos para um lugar 
agradável e amplo. Preferivelmente algo 
bem simples como um piquenique no parque 
ou uma manhã numa praia próxima. 
Comecem falando sobre as coisas que 
foram doadas. Estão sentindo falta delas? 
Elas faziam alguma diferença significativa na 
vida de vocês? 
	
   43	
  
Depois considerem o que tiveram que abrir 
mão para que o outro pudesse realizar seus 
desejos. Sentem que perderam algo 
importante? Os impedimentos eram apegos 
a convenções? A satisfação desses desejos 
trouxe algum prejuízo real para algum de 
vocês? Qual foi o impacto na relação do 
casal? 
Conversem sobre essa experiência sob a 
ótica da liberdade e do respeito. 
Reconheçam a importância da liberdade e o 
custo de abrir mão dela para cada um. 
Mas também reconheçam a importância de 
respeitar as limitações do outro, sejam elas 
racionais, emocionais, culturais, morais ou 
religiosas. 
Conversem sobre a possibilidade de 
exercitarem a liberdade de ser e o respeito 
pelo outro de forma mais ampla, 
desapegando-se das convenções e abrindo 
mão da necessidade da “posse”, da 
necessidade de controlar o outro. 
	
   44	
  
O benefício para ambos será o de uma 
relação mais leve e prazerosa, com custos 
menores e benefícios maiores. 
Essa leveza, se conquistada, permeará o 
cotidiano de vocês tornando tudo muito mais 
agradável e contribuindo para a 
cumplicidade e a afetividade do casal. 
 
 
 
 
	
   45	
  
7. 	
  Amor	
  e	
  consciência	
  
Curioso como temos o hábito de associar a 
palavra amor a relações específicas. 
Amor familiar (pais, filhos, irmãos, parentes 
próximos), amor romântico (parceiros), amor 
fraternal (amigos) descrevem as relações 
que mais usualmente são associadas ao 
sentimento. 
Os gregos oferecem quatro palavras com 
diferentes significados para o amor: Ágape, 
Eros, Philia e Storge. 
Ágape é o amor incondicional ou o 
“verdadeiro” amor. 
Eros é o amor passional, a paixão. 
Philia é o amor virtuoso, a amizade 
Storge é a afeição natural, o gostar de 
alguém. 
Muitos autores se limitam a considerar que 
apenas os três primeiros termos se referem 
ao amor. 
Uma certa hierarquia está implícita nessa 
classificação, um gradiente de intensidade, 
profundidade e valor, começando pelo 
Ágape – o amor absoluto (intenso, profundo 
	
   46	
  
e eterno), passando por Eros (intenso e 
profundo, eventualmente fugaz), Philia 
(menos intenso, as vezes profundo, sujeito à 
reciprocidade) e terminando com Storge 
(suave e volúvel). 
Ágape é considerado a forma mais nobre de 
amor. Os cristãos se apropriaram da 
palavra para descrever o amor incondicional 
de Deus por sua criação. Talvez o único 
exemplo humano passível de corresponder 
a essa descrição seja o amor da mãe pelo 
bebê. 
Eros, por sua fugacidade e pela associação 
com a sexualidade, costuma ter uma 
conotação negativa. 
Philia, ao contrário, tem uma conotação 
positiva (dissociada do sexo) e pode ser 
considerado a melhor forma de amor 
possível entre os seres humanos “comuns”. 
Storge não costuma merecer maior atenção. 
Mas é no storge que encontramos a 
semente de um amor universal. 
	
   47	
  
A afeição natural é espontânea. Costuma 
nascer do reconhecimento de si mesmo no 
outro. 
Isso não é ruim. É um início promissor. 
Embora seja percebido como uma forma de 
sentimento egoísta, porque é auto-
referenciado, o caminho para um amor 
universal e incondicional começa no amor 
próprio. 
Não é possível amar o próximo sem se amar 
primeiro. 
Além disso, reconhecer algo de nós no outro 
é reconhecer algo do outro em nós mesmos. 
É aí que começa o amor universal, 
evoluindo até a consciência de que somos 
parte do universo e o universo é parte de 
nós. 
Pode parecer um conceito estranho. 
Mas cultivar o Storge, a afeição natural, 
pelas pessoas e por todas as outras 
manifestações da natureza, dedicando 
nossa atenção a descobrir-nos nelas, resulta 
numa gradual identificação com tudo aquilo 
que nos cerca. 
	
   48	
  
Em algum momento, essa identificação irá 
resultar na transferência do amor próprio 
para todas as pessoas e coisas. 
Não será Ágape, Eros ou Philia. 
Não há um nome para esse sentimento, 
porque ele transcende o amor. 
As vezes é difícil trilhar esse caminho para a 
expansão da consciência quando vivemos 
um amor romântico. 
O amor romântico costuma ser possessivo e 
exigente. Não queremos permitir que o 
outro ame qualquer outra pessoa ou coisa. 
Não desejamos dividir essa amor com nada 
e ninguém mais. As vezes por ciúmes, por 
insegurança ou por puro egoísmo, 
pretendemos ser o centro do mundo do 
outro. 
E muitas vezes fazemos do outro o centro 
do nosso mundo também, sem deixar lugar 
para outros amores, por medo de deixar 
escapar esse sentimento. 
Isso é bastante comum e natural no início de 
alguns relacionamentos, animados pelo fogo 
das paixões arrebatadoras. 
	
   49	
  
Quando ainda não conhecemos bem aquela 
pessoa que é o alvo de nossa paixão, 
preenchemos as lacunas com nossas 
melhores expectativas. 
Por isso a pessoa parece tão perfeita e 
apaixonante. 
Na medida em que a relação evolui e o outro 
se dá a conhecer, vem a frustração. 
O outro parece estar “mudando”, quando, na 
verdade, está apenas sendo o que sempre 
foi, mas desconhecíamos. 
Começam aí a insegurança e os ciúmes, 
numa busca de recuperar o “controle” da 
situação. Começa ai a necessidade de 
tentar corresponder às expectativas do outro 
para evitar a frustração. Nasce aí o medo 
de que o outro seja acometido por outras 
paixões e nos abandone. 
A partir desse momento, o casal se fecha 
para o mundo. Constrói muros de proteção 
para o seu amor com a melhor das 
intenções e termina por sufoca-lo. 
	
   50	
  
Qualquer sentimento mais intenso por outra 
pessoa é percebido como uma ameaça, pelo 
risco de uma nova paixão. 
Nos esforçamos para deixar de amar os 
outros e esperamos que o amor siga 
existindo na relação a dois. 
Esse esforço intelectual, seja mais ou 
menos consciente, para o controle dessa 
emoção essencial é desastroso. 
Nossa capacidade de amar irá diminuindo 
lentamente. 
A relação do casal caminhará para a aridez, 
para algo mecânico e monótono, desprovido 
do amor que já não somos capazes de 
sentir. 
E como amar é um dom e uma necessidade 
humana, sempre haverá o risco do 
surgimento de uma nova paixão fora do 
relacionamento para uma das partes do 
casal. 
É por issoque o ciúmes mal elaborado pode 
ser considerado a maior armadilha de um 
relacionamento. 
	
   51	
  
Exercitar o amor não é um risco para a 
relação do casal. 
Impedir que o outro exercite sua afetividade 
de forma ampla é o verdadeiro risco. 
Quanto mais praticarmos o amor, mais 
seremos capazes de amar. 
O marido que estimula sua mulher a amar 
seus filhos, sem deixar que os ciúmes do 
compartilhamento atrapalhem essa relação, 
será ainda mais amado. 
A mulher que estimula o marido a amar seus 
amigos, sem deixar que os ciúmes do 
compartilhamento atrapalhem essa relação, 
será ainda mais amada. 
O casal que está aberto para o amor, em 
todas as suas relações com o mundo, se 
amará mais. 
O amor é um canal de conexão direta com a 
energia do universo. 
Quanto mais nos permitimos amar e 
incentivamos o amor, mais expandimos 
nossa consciência. 
Isso não é algo que possa ser explicado. É 
necessário vivenciar. 
	
   52	
  
Os exercícios que indicamos nos capítulos 
anteriores ajudam, de algum modo, a 
oferecer uma pequena amostra das 
possibilidades de expansão desse 
sentimento através do prazer e da gratidão. 
Mas é recomendável que o casal participe 
de vivencias tântricas coletivas, orientadas e 
monitoradas por pessoas experientes, que 
saberão conduzir os participantes a um 
estado de êxtase amoroso e de conexão 
com o grupo. 
Quando bem conduzida, essa é uma 
experiência única e libertadora, nada 
ameaçadora, e que permite alcançar um 
estado de expansão da consciência 
transformador. 
Quando se sentirem preparados para essa 
transformação, vale a pena experimentar. 
 
Namaste ! 
 
	
   53	
  
“Tantra é uma abordagem 
filosófica para a vida que tem 
como essência a liberdade de 
ser e o propósito de expandir 
a consciência. 
Nos últimos séculos, o mundo 
ocidental vem privilegiando a 
razão e menosprezando os aspectos 
emocionais e sensoriais do ser humano. 
Essa preponderância da razão limita nossa 
percepção do mundo e nossa capacidade de 
expandir a consciência. 
Os adeptos da filosofia tântrica propõem 
uma abordagem integrativa como caminho 
para o equilíbrio. 
É por isso que muitas das práticas tântricas 
são vivenciais e de natureza sensorial. 
Oferecem a oportunidade para pensar 
menos e sentir mais, propiciando o resgate 
da plenitude de ser. 
Reunimos aqui um conjunto de sugestões 
para o casal que deseja explorar a plenitude 
da relação. 
	
   54	
  
Trata-se de um convite para trilharem juntos 
esse caminho integrativo, por meio de 
exercícios instigantes e prazerosos. 
Aceitar esse convite significa escolher uma 
relação mais rica, profunda e intensa, 
também mais leve e amorosa. 
Não requer qualquer experiência anterior ou 
alguma habilidade excepcional. 
Mas, ainda assim, será abrir uma porta para 
um novo Universo do qual vocês irão adorar 
participar” 
 
KUSHI 
(Mentor do Mundo do Tantra) 
 
	
   55

Continue navegando