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A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao 
longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita 
formal da língua portuguesa sobre o tema “Sistema carcerário brasileiro: problemas e 
soluções”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. 
Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para 
defesa​ ​de​ ​seu​ ​ponto​ ​de​ ​vista. 
TEXTO​ ​I 
Especialistas​ ​apontam​ ​problemas​ ​do​ ​sistema​ ​prisional​ ​brasileiro 
O​ ​relator​ ​do​ ​estudo​ ​sobre​ ​Segurança​ ​Pública​ ​em​ ​análise​ ​pelo​ ​Centro​ ​de​ ​Estudos​ ​e 
Debates​ ​Estratégicos​ ​(Cedes)​ ​da​ ​Câmara​ ​dos​ ​Deputados,​ ​deputado​ ​Paulo​ ​Teixeira 
(PT-SP),​ ​defendeu​ ​a​ ​adoção​ ​de​ ​penas​ ​alternativas​ ​e​ ​a​ ​revisão​ ​das​ ​leis​ ​relacionadas​ ​ao 
uso​ ​e​ ​tráfico​ ​de​ ​drogas​ ​e​ ​dos​ ​crimes​ ​hediondos​ ​como​ ​maneira​ ​de​ ​ressocializar​ ​os​ ​presos 
e​ ​diminuir​ ​o​ ​índice​ ​de​ ​violência​ ​no​ ​país.​ ​“Temos​ ​que​ ​ter​ ​a​ ​coragem​ ​de​ ​propor​ ​essas 
mudanças​ ​para​ ​permitir​ ​a​ ​reinserção​ ​social​ ​dos​ ​presos,​ ​por​ ​meio​ ​de​ ​educação​ ​e 
assistência​ ​à​ ​saúde,​ ​além,​ ​é​ ​claro,​ ​de​ ​adotar​ ​outras​ ​medidas,​ ​como​ ​desarticular​ ​a​ ​ação 
de​ ​organizações​ ​criminosas​ ​nos​ ​presídios”,​ ​declarou. 
Realidade​ ​brasileira 
O Brasil é o quarto país do mundo em número de presos e o único desses quatro em que 
o número só aumenta. Em 1990, o país tinha 90 mil presos. Hoje são 607 mil. 
“Banalizamos o uso de prisões”, disse Valdirene Daufemback, diretora de Políticas 
Penitenciárias do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), órgão do Ministério da 
Justiça. Para ela, a finalidade do sistema prisional deveria ser a inclusão social dos 
presos. “Atualmente, o sistema se preocupa mais com o passado, ou seja, mais com o 
que o preso fez do que com o futuro”, disse.Ela manifestou preocupação principalmente 
em relação ao aumento do número de mulheres presas, que é de 567% desde o ano 
2000. A maioria das detentas foi presa por tráfico de drogas. Segundo a diretora, a 
prisão das mulheres desestrutura famílias inteiras, o que facilita a reprodução das 
condições​ ​que​ ​resultam​ ​no​ ​aumento​ ​da​ ​criminalidade.​ ​[…] 
Penas​ ​alternativas 
As​ ​más​ ​condições​ ​de​ ​estabelecimentos​ ​penais​ ​pelo​ ​país​ ​também​ ​foram​ ​mencionadas 
como​ ​um​ ​dos​ ​fatores​ ​que​ ​dificultam​ ​a​ ​ressocialização​ ​e​ ​reforçam​ ​a​ ​necessidade​ ​de​ ​penas 
alternativas.​ ​De​ ​acordo​ ​com​ ​o​ ​representante​ ​da​ ​OAB,​ ​700​ ​detentos​ ​vivem​ ​em 
contêineres​ ​no​ ​Pará.​ ​No​ ​Paraná,​ ​um​ ​terço​ ​dos​ ​presos​ ​fica​ ​encarcerado​ ​em​ ​delegacias. 
“Muitas​ ​vezes​ ​a​ ​pena​ ​alternativa​ ​pode​ ​ser​ ​mais​ ​benéfica”,​ ​disse​ ​Queiroz. 
O advogado Gustavo do Vale Rocha, conselheiro do Conselho Nacional do Ministério 
Público, apontou outro fator responsável pelo índice de criminalidade no país, ao mesmo 
tempo em que complica a gestão do sistema prisional: o número de presos que não 
deveria estar nas prisões. Dos mais de 600 mil detentos do país, 40% são presos 
provisórios, ou seja, estão aguardando julgamento. E 40% destes devem ser 
 
condenados a regime aberto ou absolvido. “O encarceramento não diminui a violência. 
Não há condições de ressocialização na maioria dos presídios, e o número de prisões só 
aumenta​ ​porque​ ​o​ ​clamor​ ​público​ ​exige​ ​cada​ ​vez​ ​mais​ ​prisões”,​ ​enfatizou. 
Os trabalhos do Centro de Estudos e Debates Estratégicos (Cedes) se transformam em 
proposições legislativas ou recomendações enviadas ao governo federal – como já 
aconteceu com estudos relativos ao petróleo da camada do pré-sal, programa espacial 
brasileiro,​ ​terras​ ​raras,​ ​biodiesel,​ ​dívida​ ​pública,​ ​TV​ ​digital​ ​e​ ​outros. 
Fonte: 
http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/SEGURANCA/497683-ESPECIALISTA
S-APONTAM-PROBLEMAS-DO-SISTEMA-PRISIONAL-BRASILEIRO.html​​ ​(​Adaptado) 
TEXTO​ ​II 
O​ ​cenário​ ​dos​ ​presídios​ ​nacionais 
O ano de 2017 começou com o novo capítulo de uma antiga história. A morte de mais de 
100 detentos chamou atenção para a guerra de facções criminosas dentro de presídios 
brasileiros e expôs a fragilidade do sistema penitenciário nacional. 
Segundo os últimos dados divulgados em 2014 pelo Sistema Integrado de Informações 
Penitenciárias do Ministério da Justiça (Infopen), o Brasil chegou à marca de 607,7 mil 
presos. Desta população, 41% aguarda por julgamento atrás das grades. Ou seja, há 
222 mil pessoas presas sem condenação. 
Três episódios que aconteceram em 2017 denotam a crise nos presídios brasileiros. No 
dia 1º de janeiro, pelo menos 60 presos que cumpriam em Manaus (AM) foram mortos 
durante a rebelião que durou 17 horas. Na mesma semana, houve um tumulto em uma 
penitenciária em Roraima, onde 33 presos foram mortos. No dia 14, Rio Grande do 
Norte, pelo menos 26 presos foram mortos em rebelião na Penitenciária Estadual de 
Alcaçuz. 
Após o ocorrido, cerca de 220 presos foram transferidos para outras penitenciárias. 
Estados como Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná também enfrentaram esse tipo de 
problema. No dia 24 de janeiro, mais de 200 detentos fugiram do Instituto Penal Agrícola 
em​ ​Bauru​ ​(SP). 
Autoridades​ ​discutem​ ​soluções​ ​para​ ​crise​ ​prisional 
Logo quando aconteceu o massacre em Manaus, a imprensa internacional criticou os 
presídios do país. Já o presidente Michel Temer decidiu ampliar a atuação do governo 
federal no combate à crise penitenciária. “Quero, numa primeira fala, mais uma vez, 
 
solidarizar-me com as famílias que tiveram seus presos vitimados naquele acidente 
pavoroso​ ​que​ ​ocorreu​ ​no​ ​presídio​ ​de​ ​Manaus”,​ ​afirmou​ ​Temer. 
Diante da crise, o Ministério da Justiça anunciou a criação de um Grupo Nacional de 
Intervenção Penitenciária para atuar dentro dos presídios, em conjunto com as forças 
policiais estaduais. A exemplo da Força Nacional de Segurança Pública, o grupo conta 
com cerca de cem agentes penitenciários cedidos pelos estados e tem como objetivo 
conter situações problemáticas do sistema carcerário. 
As medidas sucederam ao anúncio do lançamento do Plano Nacional de Segurança 
Pública, que começará a ser implementado no dia 15 de fevereiro. O plano prevê ações 
conjuntas de segurança pública e inteligência por parte dos governos federal e estaduais 
para tentar reduzir o número de homicídios dolosos, feminicídios e violência contra a 
mulher em todo o país. 
Fonte: ​http://www.ebc.com.br/especiais/entenda-crise-no-sistema-prisional-brasileiro 
(Adaptado) 
TEXTO 
III​(Correio da Paraíba/Divulgação)​Fonte: 
http://correiodaparaiba.com.br/cidades/estatisticas/falta-de-defensores-gera-superlotac
ao-nos-presidios/ 
Textos​ ​para​ ​Fundamentação​ ​teórica 
​ ​O​ ​Sistema​ ​Prisional​ ​Brasileiro​ ​e​ ​os​ ​Seus​ ​Efeitos​ ​no​ ​Século​ ​XXI 
 
 
 
Na obra “Memórias do Cárcere”, o autor Graciliano Ramos – preso durante o regime do 
Estado Novo – relata os maus tratos, as péssimas condições de higienee a falta de 
humanidade vivenciadas na rotina carcerária. Hoje, ainda que não vivamos mais em um 
período opressor, o sistema prisional brasileiro continua sendo visto como um símbolo de 
tortura. Desse modo, rever a situação social a qual o penitenciário está submetido é 
indispensável​ ​para​ ​avaliar​ ​seus​ ​efeitos​ ​na​ ​contemporaneidade. 
Primeiramente, a má infraestrutura na maioria das cadeias faz com que os presos 
firmem uma luta diária pela sobrevivência. Mesmo que estes vivam em um regime 
fechado, a superlotação e deterioração das celas e, até, a falta de água potável provam 
a falta de subsídio à integridade humana, visto que os indivíduos são postos à margem 
do descaso. Ademais, tal condição supre a visão Determinista do século XIX, que afirma 
que o homem é fruto de seu meio. Porém, se esse olhar não for combatido, ao final da 
pena, o indivíduo terá dificuldades para se reintegrar na sociedade e tende a viver do 
trabalho​ ​informal​ ​ou,​ ​em​ ​muitos​ ​casos,​ ​voltar​ ​ao​ ​crime. 
Outro problema vigente é a negligência às condições higiênicas do público feminino. A 
jornalista Nana Queiroz, autora do livro “Presos que menstruam”, retratou a realidade de 
detentas que sofreram com o tratamento idêntico entre os gêneros, sendo excluídos os 
cuidados íntimos da mulher, vide a falta de absorventes, em algumas prisões, e ausência 
de acompanhamento ginecológico. Esses aspectos revelam a falta de políticas públicas 
que prezem pela saúde feminina e esconde, ainda, o tratamento destinado às gestantes, 
que não possuem um zelo diferenciado na gravidez e tampouco o auxílio médico na 
maioria​ ​dos​ ​sistemas​ ​carcerários. 
Portanto, a maneira que os indivíduos são tratados no cárcere fere os direitos humanos 
e, por isso, mudanças fazem-se urgentes. O governo deve investir na extensão de 
cadeias para evitar a lotação e, como solução paliativa, usar caminhões pipa para suprir 
a carência de água potável. Além disso, atividades pedagógicas ou esportivas, 
intermediadas por ONGs, darão aos detentos a oportunidade de reinserção social. O 
acesso à saúde pública é um direito universal, logo, são imprescindíveis equipes médicas 
e a fiscalização desses cuidados, principalmente em relação à saúde da mulher. Assim, 
garantiríamos que as condições dos detentos não fossem enfrentadas de forma 
desumana. 
 
 
 
Saiba mais sobre a obra Vigiar e Punir, de Michel Foucault 
Em Vigiar e Punir, Michel Foucault mostra por que a Justiça deixou de aplicar 
torturas mortais e passou a buscar a "correção" dos criminosos 
Por​ ​​Reinaldo​ ​José​ ​Lopes 
access_time16​ ​maio​ ​2017,​ ​13h46​ ​-​ ​Publicado​ ​em​ ​8​ ​mar​ ​2012,​ ​17h39 
Embora esteja longe de ser um romance, o livro Vigiar e Punir começa com uma 
narrativa eletrizante, capaz de revirar os estômagos mais sensíveis. O ano é 1757, e as 
ruas do centro de Paris se enchem com os gritos de “Meu Deus, tende piedade de mim! 
 
Jesus, socorrei-me!”, de Robert-François Damiens, condenado por parricídio. Sentença: 
ter a carne dos mamilos, dos braços, das coxas e da barriga das pernas arrancada com 
tenazes; a mão direita (segurando a faca que serviu como arma do crime) queimada 
com fogo de enxofre; as feridas cobertas com chumbo derretido, óleo fervente, piche, 
cera quente e enxofre; o corpo puxado e desmembrado por quatro cavalos; o cadáver 
reduzido a cinzas e elas espalhadas aos quatro ventos. Se você acha que a coisa não 
podia ficar pior para o pobre Damiens, saiba que as tenazes, embora afiadas, não foram 
suficientes para arrancar a carne com facilidade, levando o carrasco a dar vários puxões 
antes de conseguir, e que os cavalos sozinhos não puderam desmembrar o criminoso: o 
jeito foi usar uma faca para cortar a carne do sujeito quase até o osso, de maneira que 
os puxões finalmente pudessem arrancar braços e pernas. Dizem que ele ainda estava 
vivo​ ​quando​ ​o​ ​tronco​ ​foi​ ​jogado​ ​na​ ​fogueira. 
A cena seguinte deixa claro que o filósofo francês Michel Foucault, autor da obra, não 
reproduz os autos da execução por pura curiosidade mórbida.No século seguinte ao 
suplício, vemos o regulamento da Casa dos Jovens Detentos de Paris, na qual a única 
tortura parece ser a chatice: tantos minutos para se vestir, outros tantos para 
descansar, horários rígidos de trabalho e de refeições. A pergunta que Foucault tenta 
responder no livro de 1975 é: por quê? O que levou o sistema jurídico do Ocidente (em 
especial o da França, caso estudado detidamente na obra) a deixar de lado a tortura e a 
execução públicas e preferir as prisões, supostamente visando a “corrigir” os criminosos? 
A resposta que Vigiar e Punir dá a essa pergunta é complexa, mas pode-se dizer que ela 
depende de todas as principais transformações da sociedade francesa entre os séculos 
17 e 19. Nesse período, muita coisa mudou. O poder absoluto dos reis acabou dando 
lugar a uma república “moderna”, assim como ocorreu em outros lugares do planeta, os 
quais, aliás, seguiram o exemplo francês. Mas, paradoxalmente, o poder do governo 
para controlar a vida dos cidadãos não necessariamente ficou menor, apenas mudou de 
forma, argumenta o filósofo – e o “nascimento da prisão”, como diz o subtítulo original 
da​ ​obra,​ ​é​ ​parte​ ​importante​ ​dessa​ ​metamorfose. 
“Vigiar e Punir aborda o problema da institucionalização do poder de forma muito nova, 
o que deixou marcas profundas nas pesquisas históricas e sociológicas que se seguiram 
a ele. O livro traz a compreensão de que o poder não é só uma força exercida 
verticalmente, de cima para baixo, mas atravessa e constitui cada espaço das relações 
no interior das sociedades”, diz Fabiano Lemos, doutor em filosofia pela Universidade do 
Estado do Rio de Janeiro e pela Universidade Stanford (EUA). Trocando em miúdos: para 
Foucault, a punição dos criminosos se transforma, em grande parte, porque o jeito de 
exercer o poder também mudou. Nos séculos em que a execução pública e precedida por 
suplícios era a regra, pode-se dizer que o destino dado aos criminosos era a 
manifestação física da vingança do rei sobre seus súditos. 
Numa monarquia absoluta, como era a da França antes da Revolução Francesa, de 1789, 
o rei tinha tamanho controle sobre a legislação que virava uma espécie de encarnação 
das leis. Os crimes, portanto, eram uma afronta pessoal contra ele. Assim, em vez de 
apenas impedir que o criminoso voltasse a cometer o delito, as sentenças que hoje 
consideramos bárbaras deixavam claro como seria terrível a vingança do monarca contra 
quem fizesse coisas parecidas. 
As execuções se transformavam num grande teatro. Uma vez condenado, o criminoso 
tinha de caminhar pela cidade apregoando seu delito em voz alta, fazendo uma confissão 
pública diante de certa igreja. Não era incomum que matassem o sujeito no mesmolocal 
 
e com as mesmas armas de seu crime. E, claro, esperava-se que o povo estivesse 
presente​ ​para​ ​ser​ ​“instruído”​ ​pela​ ​punição​ ​física. 
Pela​ ​culatra 
Tudo​ ​isso​ ​parecia​ ​fazer​ ​um​ ​bocado​ ​de​ ​sentido,​ ​mas​ ​não​ ​era​ ​raro​ ​que​ ​o​ ​feitiço​ ​se​ ​voltasse 
contra​ ​o​ ​feiticeiro,​ ​lembra​ ​Foucault.​ ​Da​ ​mesma​ ​maneira​ ​que​ ​a​ ​tortura​ ​e​ ​a​ ​execução 
representavam​ ​a​ ​vingança​ ​pessoal​ ​do​ ​monarca,​ ​era​ ​possível​ ​que​ ​a​ ​população​ ​se​ ​voltasse 
contra​ ​a​ ​pessoa​ ​do​ ​soberano​ ​caso​ ​se​ ​solidarizasse​ ​com​ ​o​ ​condenado.​ ​Esse​ ​tipo​ ​de​ ​revolta 
costumava​ ​acontecer​ ​quando​ ​o​ ​criminoso​ ​suportava​ ​as​ ​pancadas​ ​com​ ​paciência​ ​e 
humildade,​ ​dando​ ​a​ ​impressão​ ​de​ ​um​ ​arrependimento​ ​“santo”,​ ​ou​ ​quando​ ​os​ ​carrascos, 
por​ ​falta​ ​de​ ​habilidade,​ ​faziam​ ​o​ ​coitado​ ​sofrer​ ​mais​ ​do​ ​que​ ​o​ ​considerado​ ​necessário. 
Em​ ​tais​ ​casos,​ ​a​ ​plateia​ ​da​ ​execução​ ​se​ ​revoltava,​ ​tentava​ ​linchar​ ​o​ ​carrasco​ ​e​ ​salvar​ ​o 
condenado,​ ​o​ ​qual​ ​podia​ ​até​ ​receber​ ​um​ ​perdão​ ​oficial​ ​se​ ​sobrevivesse​ ​a​ ​toda​ ​essa 
bagunça. 
Para​ ​Foucault,​ ​portanto,​ ​os​ ​castigos​ ​muito​ ​violentos​ ​e​ ​arbitrários​ ​tornavam​ ​o​ ​sistema 
penal​ ​instável,​ ​imprevisível,​ ​pouco​ ​eficiente.​ ​E,​ ​conforme​ ​a​ ​sociedade​ ​francesa​ ​foi 
assumindo​ ​características​ ​cada​ ​vez​ ​mais​ ​ligadas​ ​à​ ​produtividade​ ​industrial,​ ​ao​ ​comércio 
de​ ​larga​ ​escala​ ​e​ ​às​ ​grandes​ ​transações​ ​financeiras,​ ​na​ ​virada​ ​do​ ​século​ ​18​ ​para​ ​o​ ​19,​ ​a 
ineficiência​ ​ficou​ ​cada​ ​vez​ ​mais​ ​difícil​ ​de​ ​tolerar,​ ​inclusive​ ​na​ ​hora​ ​de​ ​punir​ ​criminosos. 
“A​ ​própria​ ​ideia​ ​de​ ​humanidade​ ​(agir​ ​de​ ​forma​ ​‘humanitária’​ ​diante​ ​do​ ​criminoso)​ ​como 
limite​ ​de​ ​aplicação​ ​do​ ​poder,​ ​entre​ ​o​ ​suplício​ ​do​ ​século​ ​17​ ​e​ ​a​ ​reforma​ ​penal​ ​do​ ​século 
18,​ ​corresponde​ ​a​ ​uma​ ​nova​ ​economia​ ​punitiva:​ ​como​ ​punir​ ​mais​ ​eficazmente​ ​sem 
recorrer​ ​à​ ​dor​ ​física​ ​e​ ​aos​ ​meios​ ​para​ ​criá-la​ ​e​ ​intensificá-la”,​ ​afirma​ ​Jason​ ​de​ ​Lima​ ​e 
Silva,​ ​doutor​ ​em​ ​filosofia​ ​pela​ ​Pontifícia​ ​Universidade​ ​Católica​ ​do​ ​Rio​ ​Grande​ ​do​ ​Sul. 
Além​ ​dessa​ ​preocupação​ ​com​ ​a​ ​“economia”​ ​e​ ​eficiência,​ ​a​ ​iniciativa​ ​de​ ​agir​ ​com 
“humanidade”​ ​também​ ​tem​ ​a​ ​ver​ ​com​ ​a​ ​intenção​ ​de​ ​“não​ ​se​ ​rebaixar”​ ​ao​ ​nível​ ​do 
condenado​ ​ao​ ​ser​ ​tão​ ​violento​ ​quanto​ ​ele.​ ​O​ ​objetivo​ ​é​ ​resguardar​ ​a​ ​humanidade​ ​dos 
que​ ​exercem​ ​o​ ​poder,​ ​e​ ​não​ ​exatamente​ ​a​ ​de​ ​quem​ ​cometeu​ ​o​ ​crime. 
Úteis​ ​para​ ​a​ ​sociedade 
Eis​ ​a​ ​raiz​ ​da​ ​tendência,​ ​comum​ ​até​ ​hoje,​ ​a​ ​exigir​ ​que​ ​os​ ​presos​ ​“trabalhem​ ​para​ ​se 
sustentar”,​ ​“sejam​ ​úteis​ ​à​ ​sociedade”​ ​e​ ​outros​ ​slogans​ ​do​ ​tipo.​ ​Por​ ​outro​ ​lado,​ ​a 
capacidade​ ​de​ ​vigiar​ ​do​ ​Estado​ ​se​ ​multiplica​ ​exponencialmente,​ ​seja​ ​quando​ ​os​ ​vigiados 
são​ ​criminosos,​ ​seja​ ​quando​ ​são​ ​cidadãos​ ​“de​ ​bem”. 
O​ ​arquétipo​ ​dessa​ ​vigilância​ ​aumentada​ ​é,​ ​para​ ​Foucault,​ ​o​ ​projeto​ ​arquitetônico​ ​do 
Panopticon​ ​(algo​ ​como​ ​“o​ ​que​ ​tudo​ ​vê”,​ ​em​ ​grego),​ ​ideia​ ​apresentada​ ​em​ ​1785​ ​pelo 
filósofo​ ​britânico​ ​Jeremy​ ​Bentham​ ​e​ ​nunca​ ​colocada​ ​em​ ​prática,​ ​embora​ ​tenha​ ​inspirado 
construções​ ​de​ ​verdade​ ​nos​ ​séculos​ ​seguintes. 
O Panopticon era uma espécie de precursor do Big Brother: um presídio cujas celas e 
centro de vigilância estavam dispostos de tal maneira que um único guarda poderia 
observar todos os prisioneiros sem que eles soubessem ao certo se havia alguém a 
observá-los. Era como se o guarda assumisse um papel divino, a onisciência. Para quem 
vive na era dos reality shows, não é preciso muita imaginação para perceber que esse 
conceito, além de permitir a criação de presídios mais eficientes e claustrofóbicos, 
também está por trás de coisas tão diversas quanto os sistemas de monitoramento de 
suspeitos nas fronteiras, das câmeras de vigilância em locais públicos e de muitas outras 
maneiras de acompanhar cada passo dos cidadãos de uma sociedade moderna. 
“No século 19, a punição passa a integrar um sistema de controle social mais amplo, que 
 
Foucault chama de disciplina: uma série de mecanismos que visam separar o indivíduo 
dos outros e de si mesmo e, assim, qualificá-lo como são ou louco, normal ou anormal, 
sadio ou doente, bom cidadão ou delinquente. Há o deslocamento do problema da 
infração à norma ao problema da anormalidade da conduta do indivíduo. Passam a 
existir menos punição e mais vigilância”, diz Lima e Silva. 
Para Foucault, a “disciplina” também se manifesta nas escolas, indústrias e Forças 
Armadas modernas, justamente como uma maneira de exercer o poder para produzir 
sujeitos capazes de funcionar como engrenagens da nova sociedade pós-absolutismo. 
Até o tempo de que as pessoas dispõem será controlado de formas muito mais estritas 
do que se via antes. 
O Estado tenta transmitir a imagem de que esse poder exercido sobre os indivíduos é 
benevolentente, algo que supostamente pretende apenas “corrigir” e “reformar” a 
pessoa, nunca apenas puni-la. Isso, porém, revela uma intolerância crescente contra 
qualquer desvio das normas de comportamento. Ao mesmo tempo, certos delitos ligados 
ao funcionamento financeiro de grande escala desse tipo de sociedade (“crimes do 
colarinho branco”, como desvios de dinheiro) tendem a ser punidos de forma menos 
direta (com multas e outros dispositivos) do que furtos, por exemplo. 
É claro que a análise de Foucault não elimina a necessidade de legislar sobre crimes ou 
construir prisões. Mas ela continua sendo um lembrete importante de que não é só o 
desejo​ ​de​ ​justiça​ ​que​ ​move​ ​esse​ ​tipo​ ​de​ ​iniciativa. 
 
Disponível​ ​em​ ​​https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/saiba-mais​​ ​-sobre-a-​ ​obra-vigiar- 
e-punir-de-michel-foucault/.​ ​Acesso​ ​em​ ​18​ ​out​ ​de​ ​2017.

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