Buscar

Artigo - Pedagogia do Oprimido2

Prévia do material em texto

FACULDADE SÃO LUIZ
Filosofia da Educação
Professora: Dr. Maria Glória Dietrich
Acadêmico: Kelvin Custódio Maciel
Data: 20 abr. 2015
Ensaio sobre a obra: Pedagogia do oprimido de Paulo Freire
Título: O PROCESSO PEDAGÓGICO PARA UMA POSSÍVEL FORMAÇÃO DA AUTONOMIA DO EDUCANDO
A Pedagodia do oprimido de Paulo Freire remete-nos a reflexão de um futuro sonho de uma educação pautada no amor, no conhecimento e na mudança. Entretanto, é preciso estimular e atuar em favor da igualdade e contra a opressão, pois conhecendo os limites e os espaços abertos que nos rodeiam, é necessário que o ser humano transforme a história com suas próprias mãos, em nosso próprio tempo. Deste modo, é possível configurar uma prática de liberdade, dentro do processo pedagógico moderno, que promova a formação da autonomia do educando? . [1: Paulo Freire dividia o seu poder de secretário da Educação com sua equipe na Secretaria. Fazia isso com tranquilidade, mas, sobretudo, por convicção política. [...] No quotidiano difícil, demandante, desafiador da educação na cidade de São Paulo (Brasil), na construção de uma gestão democrática, a equipe de Paulo Freire pôde experimentar a sua disposição para o diálogo, a tolerância, uma paciência/impaciente e um toque de paixão em tudo o que fazia. Depois de dois anos e meio de gestão, Paulo Freire julgou que a equipe da Secretaria já estava em condições da dar prosseguimento ao trabalho liderado por ele até então. Retirou-se para escrever, para poder atender aos convites feitos a ele como “cidadão do mundo” e para voltar com mais intensidade à docência, na PUC de São Paulo. [STRECK, Danilo R. Paulo Freire: ética, utopia e educação. Petrópois: Editora Vozes, 1999, p. 26-27].]
Para tanto, neste ensaio buscar-se-á analisar e compreender como se forma um educando, no processo pedagógico moderno, e se é possível de certa forma uma prática que o alfabetizando inserido numa cultura controladora, opressora e desumanista, possa libertar-se das amarras do sistema educacional que oprimem-no. Para tentar responder este problema, Freire propõe em sua obra: Pedagodia do oprimido, premissas epistemológicas e metodológicas numa crítica ao positivismo lógico e pedagógico, ao privilegiar uma concepção hermenêutica do conhecimento humano como decisivo para as ciências humanas. 
A obra Pedagogia do oprimido é pertubadora e ao mesmo tempo admirável, porque recusa a aceitar o presente como incubido na história. Para o educador, a educação é política porque pode confirmar ou contestar o status quo. Logo, o presente pode ser mudado, não é algo cristalizado. Podemos adquirir o conhecimento necessário para mudar a desigualdade de classes, de raça e de sexo impostas por uma elite que domina a educação e a sociedade.[2: Cf. FREIRE, Paulo. Uma biobibliografia: Moacir Gadotti. São Paulo: Cortez, 1996, p. 565.]
Em um primeiro momento, Pedagogia do oprimido quer traz atona uma narrativa da educação como um projeto político, rompendo deste modo, as múltiplas formas de dominação e ampliando os princípios e práticas da dignidade humana, liberdade e justiça social. 
Talvez seja este o sentido mais exato da alfabetização: aprender a escrever a sua vida, como autor e como testemunha de sua história, isto é, biografar-se, existenciar-se, historicizar-se. Por isto, a pedagogia de Paulo Freire, sendo método de alfabetização, tem como idéia [sic] animadora toda a amplitude humana da “educação como prática da liberdade”, o que, em regime de dominação, só se pode produzir e desenvolver na dinâmica de uma “pedagogia do oprimido”.[3: FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1987, p. 5.]
É evidente, na pedagogia de Freire o fato de que apresenta o homem como protagonista da sua própria história, portanto, um humanismo pedagógico voltado para a antropologia, que por sua vez, acaba por exigir e comandar uma política. Para que se alcance a meta da humanização, é preciso se libertar primeiramente da opressão desumanizante, para que depois, haja a superação das “situações-limites” em que os homens se acham quase coisificados. 
Neste sentido, o alfabetizando tem por missão a objetivação de seu mundo, das suas experiências, de suas palavras, que Freire denomina de palavras ‘geradoras’. O educando, a partir do momento em que se adimira com o universo dos objetos (slides, quadros, filminas, etc..) se encontra em um processo de “descodificação” daquilo que antes era codificado, onde ele transfere suas significações constituídas ou reconstituídas de seu comportamento para o círculo de cultura.
A este círculo de cultura pressupõe que o alfabetizando ao objetivar seu mundo, possa reencontrar-se nos outros e com os outros. Desta forma, reecontram-se todos em um mundo comum, onde há atividade da comunicação, do diálogo que criticiza o conduzirá à práxis, resultando na promoção dos participantes do círculo.
Desta forma, Freire propõe duas concepções opostas de educação: a bancária, e a concepção problematizadora. Na perspectiva bancária, ou seja institucional, o educador é visto como o intérprete do mundo e tem a função de transmitir essa interpretação, já o educando é virtualmente silenciado quando se tenta pronunciar uma palavra que esteja associada a sua concepção de mundo.
O essêncial desta dinâmica pedagógica que Freire apresenta, é que o educador também deve se colocar na posição de aprendiz, e aprender com as realidades do educando. Faz-se importante afirmar que, quando o professor estiver preparando a sua aula, é necessário aprofundar-se nas pesquisas de assuntos que vai ministrar em sala de aula, e fazer com que os alfabetizandos busquem e desenvolvam essa área da pesquisa, para que estes se tornem sujeitos autônomos do seu próprio pensamento, e não fiquem somente na educação bancária.
	
Nela, o educador aparece como seu indiscutível agente, como o seu real sujeito, cuja tarefa indeclinível é “encher” os educandos dos conteúdos de sua narração. Conteúdos que são retalhos da realidade desconectados da totalidade em que se engendram e em cuja visão ganhariam significação. [...] A narração, de que o educador é o sujeito, conduz os educandos à memorização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração os transforma em “vasilhas”, em recipientes a serem “enchidos” pelo educador. Quanto mais vá “enchendo” os recipientes com seus “depósitos”, tanto melhor educador será. Quanto mais se deixem docilmente “encher”, tanto melhores educandos serão.[4: FREIRE, 1987, p. 33.]
 Contudo, a educação problematizadora, que visa uma certa problematização, funda-se numa relação recíproca dialógico-dialética entre educador e educando, onde ambos aprendem juntos. Neste sentido, “[...] o diálogo é, portanto, uma exigência existencial, que possibilita a comunicação e permite ultrapassar o imediato vivido. Ultrapassando suas ‘situações-limites’, o educador-educando chega a uma visão totalizante do contexto”.[5: Cf. GADOTTI, Moacir. Convite à leitura de Paulo Freire. 2. ed. São Paulo: Editora Scipione, 1991, p. 69.]
Para que se efetive a prática do diálogo, o educador não pode se colocar numa posição ingênua de quem se apropria de todo o saber. Deve antes colocar-se em uma posição humilde de quem não sabe tudo, e adiante, reconhecer que o indivíduo que está em busca de saber, não é um homem “perdido”, fora da realidade, mas alguém que tem um experiência vivida, e portanto, é também portador de saber.
O papel do educador segundo Freire, não é daquele que concebe o conhecimento como verdade absoluta, mais sim ajuda o educando a desenvolver o seu pensamento. Em seguida, afirma que o conhecimento é inacabado, ou seja, os educadores são eternos aprendizes, logo, o professor deve ter a consciência de que o ser humano está condicionado a história, a uma cultura, a um tempo. Portanto, é preciso saber que o educando está preso as suas realidades, logo é necessário que o educador provoque a reflexão para que o educando possa refletir sobre sua própria existência. 
Se na fase da alfabetização aeducação problematizadora e da comunicação busca e investiga a “palavra geradora”, no período de pós-alfabetização busca-se a investigação do “tema gerador”. Por este, diz respeito à uma investigação metodológica libertadora, não bancária onde o seu conteúdo programático já está estabelecido, mas sim porque inicia e nasce do povo, em diálogo com os educadores, resultando assim, em anseios e esperanças.
Ao analisar dentro do modo da produção capitalista, o processo pedagógico que se estende na relação educador-educando, Freire adimite que há uma enorme contradição em relação ao trabalho, e por consequência, no processo de distribuição das riquezas entre os que pode-se denominar: opressores e oprimidos. 
O educador enfatiza que a grande dificuldade do mundo da educação, como também do mundo político, é a incapacidade de saber o verdadeiro sentido do Estado. Segundo o educador brasileiro, é preciso que se efetive a igualdade econômica, sendo necessário que a educação volte-se para uma atividade da práxis, onde o educando acredite em si mesmo, e deste modo possa se libertar das amarras da opressão.
Somente quando os oprimidos descobrem, nitidamente, o opressor, e se engajam na luta organizada por sua libertação, começam a crer em si mesmos, superando, assim, sua “coninvência” com o regime opressor. Se esta descoberta não pode ser feita em nível puramente intelectual, mas da ação, o que nos parece fundamental é que não se cinja a mero ativismo, mas esteja associada a sério empenho de reflexão, para seja práxis.[6: FREIRE, 1987, p. 29.]
Freire afirma que se existe a prentenção de libertar o homem, não se pode aliená-lo ou mantê-lo aliená-lo, mas é preciso ativar a humanização como processo, não é um conteúdo programático que se deposita no homem. Para que se consiga a autêntica libertação, é necessário que o homem passe por este processo, pois, é a práxis que implicará na ação e reflexão do homem sobre o mundo para transformá-lo.[7: Cf. FREIRE, 1987, p. 38.]
Os oprimidos, nos vários momentos de sua libertação, precisam reconhecer-se como homens, na sua vocação ontológica e histórica de Ser Mais. A reflexão e a ação se impõe, quando não se pretende, errôneamente, dicotomizar o conteúdo da forma histórica de ser do homem.[8: Ibid., p. 29.]
Desta forma, é evidente traços na obra Pedagogia do oprimido, que elucidam a situação das políticas educacionais na modernidade, usando de seus mecanismos e tecnologias, construiram um determinado tipo de educando, voltado para os interesses econômicos das classes dominantes.
 É necessário, que este alfabetizando se reconheça homem neste processo de humanização, objetivando seu mundo, cultivando seu próprio eu, e em conjunto com seus pais e professores e todos envolvidos na escola, em um dado momento, se liberte das amarras do sistema opressor capitalista. 
Faz-se ressaltar, que ao retratar o compromisso de toda a vida de um homem que associa teoria e ação, compromisso e humildade, coragem e fé. A obra de Paulo Freire não pode ser separada nem de sua história, porque de fato, elucida que não pode ser reduzida a uma especificidade de intenções, pois como o próprio autor no diz: “É proibido proibir”. 
	
REFERÊNCIAS
	
GADOTTI, Moacir. Convite à leitura de Paulo Freire. 2. ed. São Paulo: Editora Scipione, 1991.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1987.
_______. Uma biobibliografia: Moacir Gadotti. São Paulo: Cortez, 1996.
STRECK, Danilo R. Paulo Freire: ética, utopia e educação. Petrópois: Editora Vozes, 1999.

Continue navegando