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Resenha Obra Literária

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Resenha Obra Literária: O Cortiço
Autor: Aluísio Azevedo
Editora: Martin Claret
Ano da publicação: 1890
Números de páginas: 240
O Cortiço teve uma boa repercussão e percebemos sua qualidade e relevância para a história da literatura, pois acabou sendo levado às telas do cinema, sob a direção de Francisco Ramalho Jr.,com Betty Faria representando Rita Baiana.
Um dos valores maiores de Aluísio, que vemos retratados em o Cortiço é sua facilidade em fixar conjunto humanos, em fazer uma análise de tipos sociais, só que esses tipos só se manifestam como uma “conseqüência” do meio, pois o grande personagem na verdade é o conjunto,ou seja, o cortiço. Os personagens modificam-se por influência do meio.
Outro fato que é bastante destacado na obra é o sexo, várias cenas são descritas em cima desse tema, e essas descrições são feitas de modo bem detalhista e realista, tomando para isso, termos científicos, biológicos, fazendo alusão às idéias correntes na época: o cientificismo, darwinismo e todas as demais teorias biológicas que estavam em alta, e eram características principais do Naturalismo.
Podemos corroborar essas afirmações com um trecho da história que relata um “encontro sexual” de Miranda e Estela (ambos eram casados, mas como Estela o havia traído eles não mais mantinham relações íntimas, só que Miranda não se separava dela por causa do dinheiro), estorceu-se toda, rangendo os dentes, grunhindo, debaixo daquele seu inimigo odiado.
Podemos notar as ações humanas comparadas às de animais.
Algumas vezes o tema em destaque não é o ato sexual em si,, mas também a sensualidade que é trabalhada principalmente na figura da Rita Baiana. Rita Baiana essa noite estava de veia para a coisa; estava inspirada! Divina!
Nunca dançara com tanta graça e tamanha lubricidade. Cada verso que vinha de sua boca de mulata era um arrulhar choroso de pomba no cio.
Pontuamos um outro aspecto importante na obra, a redução da mulher em simples objeto,“escrava” ao realizar os afazeres domésticos e trabalhistas (a maioria das mulheres do cortiço eram lavadeiras) ou em objeto sexual, pronta a todo momento à satisfazer as necessidades dos homens, isso percebemos com mais clareza na personagem Bertoleza (escreva fujona), que era extorquida por João Romão, dono do cortiço, este era uma pessoa mesquinha, que não media esforços para conseguir o que queria, nem que para isso tivesse que passar por cima dos outros. Bertoleza trabalhava dia e noite sem parar e não era reconhecida, até porque no final da obra João, querendo se casar com a filha do Miranda para adquirir riqueza, manda os verdadeiros donos da escrava buscá-la, para poder se casar com Zulmira. A negra no ato vendo-se traída pelo companheiro enfia uma faca no ventre rasgando-o, a descrição dos fatos nessa cena é de forma tão cientificista e realista que parecemos visualizá-la.
Vemos na cena acima descrita e em também outras passagens do romance um total abandono de sentimentos, onde o que vale é o dinheiro, o poder, aquela idealização e sentimentalismo românticos não tem mais vez nesse período, as idéias realistas e naturalistas já tem tomado todo o espaço de fato, retratando o que realmente acontecia no contexto social da época.
Como já citamos anteriormente, o cortiço é tomado pelo autor como o protagonista do romance, e Aluísio tratou de caracterizá-lo, e descrevê-lo minuciosamente, como um verdadeiro personagem realista deveria ser descrito, constatamos isso em uma amostra de uma passagem do livro que revela-nos o amanhecer no cortiço eram cinco horas da manhã, e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas as pedra do chão esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha.
Na verdade todas as cenas praticamente ocorrem dentro do cortiço. O cortiço é uma espécie de “coração de mãe” sempre cabe mais um, e era assim mesmo, todos os cômodos estavam locados pelos mais variados tipos de pessoas, pobres, lavadeiras, operários de todas as profissões, pessoas que por sorte ou não, não tinham como manter um nível mais elevado.
Vemos que o autor não fixa-nos nesses personagens, mas sim como eles vivem em função do meio e podem ser modificadas pelo mesmo, comportamento que é observável na figura de Pombinha, menina pura que vivia no cortiço, mas que por estar em uma ambiente um pouco degradante, acaba se casando e depois se separando, passando à viver com Leónie, uma prostituta que antes de Pombinha casar havia levado a menina a cometer atos de lesbianismo.
Finalizando, podemos perceber que Aluísio de fato não escrevia, mas sim pintava a sociedade da época, que na verdade, não foge muito da nossa atual, com pessoas querendo mais e mais poder e dinheiro, pensando em si sós, enquanto milhões de pessoas vivem marginalizadas em favelas, nas ruas. Por isso, a nosso ver, Aluísio Azevedo pode ser considerado um escritor universal (pelo que vimos nessa obra), pois seu romance é atemporal, é sempre atual e de suma importância para entendermos e o que a sociedade estava enfrentando na época e para que possamos estar refletindo sobre a situação degradante que por ora vivemos e nem sequer percebemos, pois permanecemos alienados.
Ele traz à tona, o que os livros de história, os meios de comunicação e os políticos não nos mostram, que estamos longe ainda de ser uma sociedade ideal. O seu estudo é indispensável na área das ciências humanas, pois ele traz-nos não somente um tema qualquer, mais uma análise crítica e analítica da vida social.

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