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A Rádio Rebelde na Revolução Cubana

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS 
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA 
 
 
 
 
 
BEATRIZ BUSCHEL PASQUALINO 
 
 
 
 
A RADIO REBELDE COMO ARMA DE GUERRILHA 
NA REVOLUÇÃO CUBANA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAMPINAS 
2016
Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): Não se aplica.
Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Cecília Maria Jorge Nicolau - CRB 8/3387
 
 Pasqualino, Beatriz Buschel, 1981- 
 P264r PasA Radio Rebelde como arma de guerrilha na Revolução Cubana / Beatriz
Buschel Pasqualino. – Campinas, SP : [s.n.], 2016.
 
 
 PasOrientador: Marcelo Siqueira Ridenti.
 PasDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas.
 
 
 Pas1. Guevara, Ernesto, 1928-1967. 2. Comunicação. 3. Rádio. 4. Cuba -
História. 5. América Latina - História. I. Ridenti, Marcelo Siqueira,1959-. II.
Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas. III. Título.
 
Informações para Biblioteca Digital
Título em outro idioma: La Radio Rebelde como arma de guerrilla en la Revolución
Cubana
Palavras-chave em inglês:
Communication
Radio
Cuba - History
Latin America - History
Área de concentração: Sociologia
Titulação: Mestra em Sociologia
Banca examinadora:
Marcelo Siqueira Ridenti [Orientador]
Luciano Victor Barros Maluly
Fernando Antonio Lourenço
Data de defesa: 30-03-2016
Programa de Pós-Graduação: Sociologia
Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)
 
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS 
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS 
 
 
A Comissão Julgadora dos trabalhos de Defesa de Dissertação de Mestrado composta pelos 
Professores Doutores a seguir descritos, em sessão pública, realizada em 30 de março de 
2016, considerou a candidata Beatriz Buschel Pasqualino aprovada. 
 
 
Professor Dr. Marcelo Siqueira Ridenti 
Professor Dr. Luciano Victor Barros Maluly 
Professor Dr. Fernando Antonio Lourenço 
 
 
A Ata de Defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de 
vida acadêmica da aluna. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A meus pais e a minha filha. 
A Ángel Fernández Vila e família. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
À mama, por me despertar para as dores e as belezas da luta social, pela 
dedicação, pela inspiração diária e pelo apoio irrestrito nesta longa jornada. 
A meu pai, presença permanente em memória, pelos ensinamentos de vida. 
À minha irmã de coração, Camila Maciel, pelo apoio incondicional. 
Ao Ramon, pelo amor e incentivo. 
Ao Marcelo Ridenti, pelo acolhimento dos desafios da temática desta pesquisa, 
orientação e compreensão ao longo do estudo. 
Ao Ángel Fernández Vila, pela confiança, dedicação, generosidade e pela luta 
por liberdade. Por viabilizar – literalmente – esta pesquisa do começo ao fim. 
Ao MST, pela perseverança na luta e apoio imprescindível a esta pesquisa. 
Às amigas e amigos do coração que me incentivam e me aguentam na alegria, na 
tristeza e no Mestrado: Anne, Bibi Briguglio, Carol Mennella, Eliane Gonçalves, Elisa 
Soares, Gissela Mate, Joana Côrtes, Juan Pablo, Maíra Kúbik, Nelson Lin, Pri Kerche e Tata 
Waldman. 
Aos amigos e amigas cubanas que me apoiaram e contribuíram, cada um a seu 
modo, com esta pesquisa: Izett, Ailed, Sayonara, Irma Shelton, Pedro Pablo Figueredo, 
Deborah (Biblioteca Nacional José Martí), Raul e Rogério (Centro de Prensa Internacional). 
A todos e todas do Centro Martin Luther King (CMLK), pela acolhida e 
solidariedade. 
À Juliana Nunes e à Empresa Brasil de Comunicação (EBC), pelo apoio 
fundamental nesta árdua jornada de trabalhadora e pesquisadora. 
À Yanina, por acreditar neste mestrado e cuidar da minha alma. 
À Unicamp, pelas portas abertas no precioso campo do ensino público. 
Ao bravo povo cubano, pela luta por liberdade, pelos ensinamentos ao mundo, 
pela solidariedade infinita e pela superação cotidiana de um vexatório bloqueio imposto pelos 
EUA. E por fazer isso tudo sin perder la ternura jamás. 
À minha filha, ainda em ventre, pela força na conclusão deste trabalho. 
 
 
RESUMO 
 
Esta dissertação tem como tema central a Radio Rebelde, emissora clandestina fundada por 
Ernesto Che Guevara em 1958 durante a guerrilha comandada por Fidel Castro na Sierra 
Maestra, em Cuba, para derrubar a ditadura de Fulgêncio Batista – iniciada em 1952 por meio 
de golpe militar. A hipótese que norteou esta pesquisa foi a de que, além de ser meio de 
informação, tal emissora influenciou o processo guerrilheiro revolucionário cubano ao atuar 
também como ferramenta de mobilização do povo e como aparato militar. O trabalho de 
campo, em Cuba, colheu relatos (entrevistas) dos combatentes da época, além de digitalizar 
dezenas de documentos originais inéditos da locução radiofônica transmitida naquele período. 
Preocupou-se ainda em apresentar um panorama da propaganda do Movimiento 
Revolucionario 26 de Julio, como os principais jornais clandestinos da época. Neste sentido, a 
dissertação aborda o público-alvo das emissões, a linguagem utilizada, a estratégia 
comunicacional, bem como outros recursos de cunho ideológico presentes no conteúdo 
radiofônico transmitido nos 311 dias em que a emissora atuou na guerrilha. Estudam-se a 
primeira transmissão, a equipe de trabalho, a rotina de produção, o alcance das emissões, o 
uso da música, a relação da emissora com os órgãos clandestinos de imprensa do Movimiento 
Revolucionario 26 de Julio etc. Buscou-se fazer o diálogo entre a descrição histórica realizada 
a partir dos relatos e os documentos pesquisados, analisando em que medida a Radio Rebelde 
impactou a luta revolucionária, por exemplo, como ferramenta de contra-hegemonia, na 
perspectiva gramsciana. 
 
Palavras-chaves: Guevara, Ernesto, 1928-1967; Comunicação; Rádio; Cuba - História; 
América Latina - História 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This dissertation is focused on Radio Rebelde, a clandestine radio station founded by Ernesto 
Che Guevara in 1958, during the guerrilla led by Fidel Castro in Sierra Maestra, in Cuba, 
which aimed to overthrow the dictatorship of Fulgencio Batista – which began in 1952 
through military coup. The hypothesis that guided this research was that, more than being a 
means of information, such radio station influenced the Cuban revolutionary guerrilla process 
by acting also as a tool to mobilize the people and as military apparatus. The fieldwork in 
Cuba enabled the gathering of former combatants’ narratives (interviews), besides the 
scanning of dozens of unpublished original documents of radio voiceovers broadcasted during 
that period. It also enabled the presentation of an overview on Movimiento Revolucionario 26 
de Julio’s propaganda, such as the main clandestine newspapers of that time. In this sense, the 
dissertation addresses the audience of the emissions, the parlance used, the communicational 
strategy, as well as other ideological resources present in the radio content broadcasted in the 
311 days in which the radio station served the guerrilla. The issues that were studied include 
the first transmission, the work team, the production routine, the scope of the emissions, the 
use of music, the relationship between the radio station and the clandestine organs of the 
Movimiento Revolucionario 26 Julio’s press etc. There was an attempted to establish a 
dialogue between the historical description of personal narratives and the reviewed 
documents, analyzing to what extent Radio Rebelde impacted the revolutionary struggle, for 
instance, as counter-hegemonymeans, in the Gramscian perspective. 
 
Key words: Guevara, Ernesto, 1928-1967, Communication; Radio; Cuba – History; Latin 
America - History 
 
 
 
 
 
LISTA DE IMAGENS 
 
Imagem 1: “La tiranía” - Texto lido pelos locutores da Radio Rebelde. 1958. Acervo Ángel 
Fernandez Vila | 34 
Imagem 2: Edição número 1, ano 1, do jornal clandestino El Cubano Libre, produzido na 
Sierra Maestra pelo M-26-7. 1957. Arquivo Biblioteca Nacional José Martí | 44 
Imagem 3: “¡Adelante Campesino!” - Texto lido pelos locutores da Radio Rebelde.1958. 
Arquivo Ángel Fernandez Vila | 49 
Imagem 4: Trecho de texto transmitido pelos locutores da Radio Rebelde sobre os riscos da 
tarefa de propaganda clandestina. 1958. Arquivo Ángel Fernández Vila | 53 
Imagem 5: Texto “Las tareas de propaganda del Mov. Revolucionario 26 de Julio”, locutado 
pela equipe da Radio Rebelde. 1958. Arquivo Ángel Fernández Vila | 55 
Imagem 6: Capa do jornal Revolución, edição número 9, ano II, de 25 de junho de 1958 com 
a manchete “La propaganda de la ditadura”. Arquivo Ángel Fernández Vila | 58 
Imagem 7: Bonos do M-26-7 para arrecadação de dinheiro para a luta revolucionária. 
Arquivo Ángel Fernández Vila | 59 
Imagem 8: Folheto de divulgação da campanha de arrecadação de fundos para o M-26-7 
chamada El Salario de la Libertad. Arquivo Angel Fernández Vila | 59 
Imagem 9: Página do jornal clandestino Vanguardia Obrera com a manchete: “Obrero: 
ayuda la revolución. Digamos: para acabar con y Mujal, los bonos hay que comprar”. S/d. 
Arquivo Angel Fernández Vila | 62 
Imagem 10: Texto lido na Radio Rebelde com convocatória ao povo cubano para comprar os 
bonos do M-26-7 para financiamento da luta. 1958. Arquivo Ángel Fernandez Vila | 63 
Imagem 11: Propaganda do M-26-7 dirigida aos trabalhadores bancários. S/d. Arquivo Ángel 
Fernández Vila | 642 
Imagem 12: Propaganda do M-26-7 dirigida aos trabalhadores do setor de gastronomia e 
trabalhadores em geral. Arquivo Ángel Fernández Vila | 664 
Imagem 13: Propaganda do M-26-7 dirigida aos soldados das Forças Armadas. Arquivo 
Ángel Fernández Vila | 68 
Imagem 14: Cópia do bilhete assinado pelo piloto Juan Manuel Fangio sobre o sequestro dele 
pelo M-26-7. 24 de fevereiro de 1958. Arquivo Ángel Fernández Vila | 70 
 
 
Imagem 15: Ações de sabotagem do M-26-7 - Texto veiculado pelo Radio Rebelde. 1958. 
Arquivo Ángel Fernández Vila | 71 
Imagem 16: Transmissão da Radio Rebelde em que é veiculada notícia sobre ação de 
sabotagem à emissora de rádio CMKR. Arquivo Ángel Fernández Vila | 72 
Imagem 17: Cópia do anúncio “03C – La consigna de la vergüenza”, do M-26-7, utilizado 
para locução na Radio Rebelde. Arquivo Ángel Fernández Vila | 74 
Imagem 18: Anúncio “03C”, do M-26-7, lido pelos locutores da Radio Rebelde. 1958. 
Arquivo Ángel Fernández Vila | 75 
Imagem 19: Contrato de aluguel de local para instalação de imprensa clandestina, assinado 
em 8 de janeiro de 1958, em que Ángel Fernández Vila utiliza nome falso. Arquivo Ángel 
Fernández Vila | 775 
Imagem 20: Capa da edição número 9, ano I, de 24 de outubro de 1958, do jornal 
Vanguardia Obrera. Arquivo Ángel Fernández Vila | 81 
Imagem 21: Capa da edição da segunda quinzena de julho de 1957 do jornal Revolución. 
Arquivo Biblioteca José Martí | 82 
Imagem 22: Capa da edição de Havana do boletim Sierra Maestra, número 18, de 16 de 
dezembro de 1957, com a manchete “¡Hay que quemar la caña!!”. Arquivo Biblioteca 
Nacional José Martí | 842 
Imagem 23: Capa da edição do Oriente do boletim Sierra Maestra, de 16 de junho de 1958. 
Arquivo Ángel Fernández Vila | 853 
Imagem 24: Capa da edição de Camagüey do boletim Sierra Maestra, de 15 de setembro de 
1958. Arquivo Ángel Fernández Vila | 86 
Imagem 25: Capa da publicação Sierra Maestra para o público estrangeiro, edição número 3, 
volume I, de maio de 1958. Arquivo Biblioteca Nacional José Martí | 88 
Imagem 26: Contracapa da publicação Sierra Maestra para o público estrangeiro, edição 
número 3, volume I, de maio de 1958. Arquivo Biblioteca Nacional José Martí | 89 
Imagem 27: Capa da edição número 4 do jornal El Cubano Libre, de fevereiro de 1958, com 
a manchete “Pino del Agua: Victoria rebelde”. Arquivo Biblioteca José Martí | 91 
Imagem 28: Edição número 1, ano 1, do suplemento humorístico do jornal El Cubano Libre. 
Setembro de 1958. Arquivo Biblioteca Nacional José Martí | 92 
Imagem 29: Destaque de notícia publicada no jornal Revolución (n. 13, de 11 de agosto de 
1958) tendo como fonte a Radio Rebelde. Acervo Biblioteca Nacional José Martí | 93 
 
 
Imagem 30: Papel que era utilizado pela equipe da Radio Rebelde como aviso aos 
combatentes para não fazerem barulho durante as transmissões. 1958. Arquivo Ángel 
Fernández Vila | 105 
Imagem 31: Cópia do diploma recebido em 2003 por Ángel Fernández Vila, assinado por 
Fidel Castro, pelos serviços prestados à revolução na Radio Rebelde. Arquivo Ángel 
Fernández Vila | 108 
Imagem 32: Notícia divulgando as transmissões da Radio Rebelde, publicada no jornal El 
Cubano Libre (n. 4, ano I, edição de fevereiro de 1958). Arquivo Biblioteca Nacional José 
Martí | 113 
Imagem 33: Roteiro da programação da Radio Rebelde em 24 de dezembro de 1958. Arquivo 
Ángel Fernández Vila | 116 
Imagem 34: Notícia lida pela locutora Violeta Casal na Radio Rebelde informando sobre a 
batalha os combatentes da coluna liderada por Che Guevara em 28 de dezembro de 1958, que 
culminou com a tomada da cidade de Santa Clara pelos rebeldes. Arquivo Ángel Fernández 
Vila | 117 
Imagem 35: Notícia lida por Ricardo Martinez na Radio Rebelde conclamando o povo 
cubano a apoiar o M-26-7 por meio da compra de bonos. S/d. Arquivo Ángel Fernández Vila | 
118 
Imagem 36: Texto lido na Radio Rebelde que repercute notícia da imprensa internacional 
sobre a fuga de familiares do ditador Fulgêncio Batista do país, enquanto o Exército Rebelde 
avançava e dominava várias regiões de Cuba em dezembro de 1958. Arquivo Ángel 
Fernández Vila | 119 
Imagem 37: Texto locutado pela Radio Rebelde em que é anunciada a ampliação do número 
de rádios estrangeiras em rede via Cadena de la Libertad. S/d. Arquivo Ángel Fernández Vila 
| 123 
Imagem 38: Texto locutado na Radio Rebelde já nos primeiros momentos do triunfo do 
Exército Rebelde e que orienta a população a se informar via a Cadena de la Libertad. 
Arquivo Ángel Fernández Vila | 123 
Imagem 39: Informe publicado no jornal Revolución, n. 21, de 18 de novembro de 1958, 
sobre as rádios da Cadena de la Libertad. Arquivo Ángel Fernández Vila | 124 
 
 
Imagem 40: Notícia lida na Radio Rebelde informa que a coluna liderada por Raúl Castro 
comunica a emissora sobre a deserção de soldados da ditadura. Arquivo Ángel Fernández 
Vila | 1264 
Imagem 41: Notícia lida na Radio Rebelde em que Coluna 2 Antonio Maceo informa a 
emissora sobre a deserção de soldados da ditadura. Arquivo Ángel Fernández Vila | 127 
Imagem 42: Informe de guerra que foi ao ar na Radio Rebelde sobre ações dos rebeldes que 
foram repassadas por rádio à emissora. 15 de dezembro de 1958. Arquivo Ángel Fernández 
Vila | 127 
Imagem 43: Rádio da marca “Zenith” utilizado por Raúl Castro durante a última etapa da 
guerrilha. Foto tirada Museo Complejo Histórico del Segundo Frente Oriental "Frank País", 
na cidade de Santiago de Cuba. Arquivo Beatriz Pasqualino | 126 
Imagem 44: Transmissor e receptor de rádio portátil “Minipak” utilizado pelos membros da 
Coluna 17 “Abel Santamaría”. Foto tirada no Museo Complejo Histórico del Segundo Frente 
Oriental "Frank País", na cidade de Santiago de Cuba. Arquivo Beatriz Pasqualino | 126 
Imagem 45: Rádio “Hallicrafter” que serviu de suporte receptor da gravação pela Radio 
Rebelde. Foto tirada no Museo de la Revolución, em Havana. Arquivo Beatriz Pasqualino | 
127 
Imagem 46: Estrutura de rádio utilizada por Che durante a guerrilha na região de Las Vilas. 
Fototirada no Museo de la Revolución, em Havana. Arquivo Beatriz Pasqualino | 127 
Imagem 47: Texto lido na Radio Rebelde evidencia a comunicação entre colunas de 
guerrilheiros via ondas radiofônicas. Arquivo Ángel Fernández Vila | 130 
Imagem 48: Texto em linguagem cifrada utilizado pela equipe da Radio Rebelde. S/d. 
Arquivo Ángel Fernández Vila | 131 
Imagem 49: Roteiro do programa veiculado pela Radio Rebelde em 30 de dezembro de 1958, 
já na cidade de Palma Soriano. Lê-se no item1 Himno Invasor; e no 10, Himno del 26. 
Arquivo Ángel Fernández Vila | 137 
Imagem 50: Texto lido na Radio Rebelde já em Palma Soriano, nos momentos finais da 
guerrilha. S/d. Arquivo Ángel Fernández Vila | 140 
Imagem 51: Cópia da foto de Fidel Castro durante o pronunciamento na Radio Rebelde em 1º 
de janeiro de 1959, em Palma Soriano, rodeado pelos locutores da emissora. À esquerda, 
Ángel Fernández Vila. Arquivo Ángel Fernández Vila | 141 
 
 
Imagem 52: Roteiro de transmissão da Radio Rebelde chamado Orden del Programa. 1958. 
Arquivo Ángel Fernández Vila | 144 
Imagem 53: Roteiro da Radio Rebelde utilizado na transmissão de 30 de dezembro de 1958, 
realizada em Palma Soriano. Arquivo Ángel Fernández Vila | 146 
Imagem 54: Texto locutado na Radio Rebelde com informações sobre soldados feitos 
prisioneiros e armas apreendidas durante ação dos rebeldes. 1958. Arquivo Ángel Fernández 
Vila | 149 
Imagem 55: Texto locutado na Radio Rebelde informando o número de rendições de 
soldados e de apreensão de armas pelos combatentes. 1958. Arquivo Ángel Fernández Vila | 
149 
Imagem 56: Informe de guerra locutado pela Radio Rebelde em 15 de dezembro de 1958 que 
noticia a entrega de 19 soldados da ditadura para a Cruz Vermelha. 1958. Arquivo Ángel 
Fernández Vila | 150 
Imagem 57: Página 2 de texto locutado na Radio Rebelde sobre vitórias dos rebeldes em 
Morón e Santa Cruz del Sur. 1958. Arquivo Ángel Fernández Vila | 151 
Imagem 58: Texto da campanha veiculada na Radio Rebelde convocando ao boicote à Shell. 
1958. Arquivo Ángel Fernández Vila | 154 
Imagem 59: Texto da campanha “03C” veiculado na Radio Rebelde convocando a população 
a boicotar cinemas, compras e cabarés. 1958. Arquivo Ángel Fernández Vila | 155 
Imagem 60: Campanha veiculada na Radio Rebelde convocando a população a aderir aos 
boicotes contra a ditadura e a contribuir financeiramente com o M-26-7 por meio da compra 
de cupons. 1958. Arquivo Ángel Fernández Vila | 156 
Imagem 61: Texto locutado pela Radio Rebelde em que é denunciada a veiculação, por parte 
de agências de notícias internacionais, da falsa informação de que Che Guevara estaria morto. 
1958. Arquivo Ángel Fernández Vila | 158 
Imagem 62: Texto locutado na Radio Rebelde repercutindo a informação veiculada pela 
agência de notícias internacional UPI sobre a fuga de familiares de Fulgêncio Batista, de 
Cuba. 1958. Arquivo Ángel Fernández Vila | 159 
Imagem 63: Texto locutado pela Radio Rebelde divulga informações veiculadas por agências 
de notícias estrangeiras. 1958. Arquivo Ángel Fernández Vila | 158 
 
 
Imagem 64: Primeira página do artigo assinado pela Sección Obrera Nacional del 
Movimiento 26 de Julio, datado de 13 de dezembro de 1958, e locutado na Radio Rebelde. 
1958. Arquivo Ángel Fernández Vila | 161 
Imagem 65: Segunda e última página do artigo assinado pela Sección Obrera Nacional del 
Movimiento 26 de Julio, datado de 13 de dezembro de 1958, e locutado na Radio Rebelde. 
1958. Arquivo Ángel Fernández Vila | 162 
Imagem 66: Última página (de um total de sete) do artigo escrito pelo capitão Evelio Laferté 
e lido na Radio Rebelde. 1958. Arquivo Ángel Fernández Vila | 163 
Imagem 67: Artigo sobre boicote à Shell convocado pelo M-26-7 e lido por Jorge Henrique 
na Radio Rebelde. 1958. Arquivo Ángel Fernández Vila | 164 
Imagem 68: Texto locutado pela Radio Rebelde dirigido aos quadros clandestinos do M-26-7 
na capital cubana. 1958. Arquivo Ángel Fernández Vila | 166 
Imagem 69: Texto locutado pela Radio Rebelde convocando os “companheiros de Havana” a 
entrarem em contato com a emissora. 1958. Arquivo Ángel Fernández Vila | 167 
Imagem 70: Texto locutado na Radio Rebelde, dirigido ao povo de Cuba, em que denunciam 
nominalmente inimigos da luta insurrecional. 1958. Arquivo Ángel Fernández Vila | 168 
Imagem 71: Texto locutado em 29 de dezembro de 1958 pela Radio Rebelde conclamando 
que o povo fique alerta à tentativa de golpe contra-revolucionáro. Arquivo Ángel Fernández 
Vila | 169 
Imagem 72: Texto locutado na Radio Rebelde direcionado às tropas da ditadura, incentivando 
a deserção. 1958. Arquivo Ángel Fernández Vila | 170 
Imagem 73: Texto locutado na Radio Rebelde, com trecho assinado por um ex-soldado da 
ditadura, que passou a integrar o Exército Rebelde. 1958. Arquivo Ángel Fernández Vila | 172 
Imagem 74: Texto locutado na Radio Rebelde direcionado à opinião pública da América 
denunciando as ações da ditadura. 1958. Arquivo Ángel Fernández Vila | 174
 
 
SUMÁRIO 
CONSIDERAÇÕES INICIAIS ______________________________________________ 15 
CAPÍTULO 1: ____________________________________________________________ 29 
MOVIMIENTO 26 DE JULIO, PROPAGANDA E RÁDIO _______________________ 29 
1.1. ANTECEDENTES DO CONTEXTO HISTÓRICO ________________________________ 30 
1.1.1. O PENSAMENTO DE JOSÉ MARTÍ _____________________________________________________ 32 
1.1.2. DO DOMINÍO ESPANHOL AO ESTADUNIDENSE _________________________________________ 35 
1.1.3. INÍCIO DA LUTA ARMADA __________________________________________________________ 39 
1.2. PROPAGANDA COMO ARMA DE LUTA POR LIBERTAÇÃO ____________________ 42 
1.2.1. ÓRGÃOS DE IMPRENSA DO M-26-7___________________________________________________ 76 
1.2.1.1. JORNAIS ________________________________________________________________________ 80 
1.3. REFLEXÕES TEÓRICAS SOBRE O RÁDIO ____________________________________ 95 
1.4. EXPERIÊNCIAS DE USO POLÍTICO DO RÁDIO ________________________________ 98 
CAPÍTULO 2: RADIO REBELDE, LA VOZ DE LA SIERRA MAESTRA __________ 104 
2.1. PREPARATIVOS PARA A BATALHA NAS ONDAS DO RÁDIO __________________ 109 
2.1.1. TRANSMISSÃO INAUGURAL ________________________________________________________ 111 
2.2. ORGANIZAÇÃO RADIOFÔNICA DE GUERRILHA ____________________________ 114 
2.2.1. GREVE GERAL DE 9 DE ABRIL DE 1958 _______________________________________________ 120 
2.2.2. RADIO REBELDE ALÉM DAS FRONTEIRAS DE CUBA _____________________________________ 122 
2.2.3. RÁDIOS NAS COLUNAS REBELDES ___________________________________________________ 125 
2.2.4. LINHA EDITORIAL ________________________________________________________________ 132 
2.3. MÚSICA COMO ARMA CONTRA-HEGEMÔNICA _____________________________ 135 
2.4. TRANSMISSÃO DA VITÓRIA REVOLUCIONÁRIA ____________________________ 139 
2.5. ESTRUTURA DO CONTEÚDO VEICULADO __________________________________ 143 
2.5.1. ORDEN DEL PROGRAMA (ROTEIRO) _________________________________________________ 143 
2.5.2. PARTES DE GUERRA (INFORMES DE GUERRA) _________________________________________ 147 
2.5.3. CAMPANHAS ___________________________________________________________________ 153 
2.5.4. CABLES INTERNACIONALES ________________________________________________________ 157 
2.5.5. ARTIGOS _______________________________________________________________________ 160 
2.6. PÚBLICO-ALVO DA EMISSORA ____________________________________________ 165 
2.6.1. MILITÂNCIA DO M-26-7 ___________________________________________________________ 165 
2.6.2. POVO CUBANO __________________________________________________________________ 167 
2.6.3. SOLDADOS DA DITADURA _________________________________________________________ 170 
2.6.4. POPULAÇÃO ESTRANGEIRA ________________________________________________________ 173 
CONSIDERAÇÕES FINAIS _______________________________________________ 175 
BIBLIOGRAFIA________________________________________________________ 177 
ANEXOS _______________________________________________________________ 181 
ANEXO 1: ENTREVISTAS _____________________________________________________ 183 
ANEXO 2: DOCUMENTOS SONOROS ___________________________________________ 185 
ANEXO 3: JORNAIS E REVISTAS ______________________________________________ 187 
 
15 
 
CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
 
Esta pesquisa de mestrado surgiu de uma vontade, de uma inquietação e de um 
compromisso militante, que foram semeados e cultivados desde o início dos anos 2000. 
Primeiro, veio a paixão pelo rádio, ainda no curso de graduação em Jornalismo. 
Diversos foram os motivos. A instantaneidade, a oralidade, a facilidade em transmitir a 
informação a partir dos mais improváveis locais e, principalmente, a veia mais democrática 
que outros meios de comunicação. Sim, afinal, o rádio é mais barato na comparação com a 
televisão e o jornal e, por isso, pode se tornar – ainda que fora da legalidade – um instrumento 
político de setores da sociedade tradicionalmente excluídos da mídia como emissores. Além 
disso, não é preciso – teoricamente, uma vez que a comunicação é por voz e não por imagem 
do emissor – estar dentro dos padrões estéticos impostos pela sociedade, como no caso da 
televisão, na qual muitas vezes o “rosto bonito” ― e, por que não dizer, branco e magro ― é 
condição sine qua non para estar na telinha na condição de emissor de informação, como 
repórter ou apresentador. Não obstante, o custo de um receptor de rádio ― especialmente o 
velho e imbatível “radinho de pilha” ― é muito menor na comparação com a tevê e não exige 
pagamento periódico para acessá-lo, como no caso do jornal, por exemplo. E, por fim, a veia 
mais “democrática” do rádio fica evidente, uma vez que tal meio de comunicação atinge 
melhor a população não letrada, na comparação com veículos impressos, por exemplo. 
Em meados de 2002, passei a coordenar o programa de rádio do Movimento dos 
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Vozes da Terra. Foi a feliz conciliação entre minha 
paixão profissional e meu desejo de ter uma militância política. Ali fui apresentada, ainda que 
tardiamente, à América Latina. Se na escola me ensinavam tudo sobre as Revoluções 
Francesa e Industrial, quase nada aprendi sobre os hermanos e hermanas do Brasil – a não 
ser, basicamente, a localização geográfica desses países. Sobre essa situação, vale relembrar 
José Martí1: 
A história da América, dos incas para cá, deve ser ensinada minuciosamente, mesmo 
que não se ensine a dos arcontes da Grécia. A nossa Grécia é preferível à Grécia que 
não é nossa, nos é mais necessária (MAO JUNIOR, 2007, p. 108). 
 
 
1 José Martí (1853-1895), apóstolo da independência de Cuba. 
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Visitei Cuba em dezembro de 2003, após a conclusão do curso de Jornalismo, em 
uma viagem de 15 dias, de férias. Queria conhecer a história da ilha socialista e ver com meus 
próprios olhos o legado da revolução comandada por Fidel Castro ainda naquela época, 45 
anos depois de findada a guerrilha2 na Sierra Maestra. Nessa ocasião, no tradicional Museu 
da Revolução, fui apresentada à Radio Rebelde. Nunca tinha ouvido nada sobre essa emissora 
histórica que existe até hoje3 e que, durante 311 dias, em 1958, foi instrumento do Exército 
Rebelde contra a ditadura de Fulgêncio Batista. Na época, em que o MST mantinha 
arduamente4 algumas dezenas de emissoras de rádio em acampamentos e assentamentos pelo 
Brasil afora5, me parecia que a experiência da Radio Rebelde teria muito a ensinar aos 
“rebeldes sem-terra brasileiros”. Aliás, a ensinar a todos os povos da América Latina. Até 
porque não se trata de estudar Cuba somente, mas de pesquisar nossa própria história, como 
latino-americanos, com passado comum de exploração, opressão e resistência. 
Tendo retornado, descobri que eram poucas as informações sobre a Radio Rebelde 
no Brasil ou na internet. Por que essa experiência não recebeu a devida atenção em 
publicações pelo mundo afora? 
Uma década se passou e eu estava convencida de que precisava dar uma modesta 
contribuição na tarefa de registrar a história da Radio Rebelde e entender – e, quiçá, tentar 
explicar – o papel de uma emissora clandestina, montada em uma guerrilha na Sierra Maestra 
há mais de 50 anos na estratégia para a derrubada da ditadura em Cuba e consequente vitória 
da revolução. 
 
2 Entende-se como período de guerrilha na Revolução Cubana o intervalo entre o dia de desembarque (2 de 
dezembro de 1956) em território cubano da expedição do iate Gramna, oriunda do México, ao dia 1º de janeiro 
de 1959, considerado marco do triunfo dos revolucionários sobre o Exército da ditadura de Batista, já que os 
rebeldes deixam a Sierra Maestra e ocupam as cidades cubanas. Portanto, trata-se de um período de 25 meses. 
3 A Radio Rebelde completou 57 anos em 24 de fevereiro de 2015. Atualmente tem sede em Havana e conta com 
programação 24 horas por dia e alcance de 98% do território cubano. É transmitida nas frequências AM (670 - 
710 – 1180 Khz), FM (96.7 Mhz) e OC (bandas de 31m e 49m), além da internet. Os programas têm caráter 
essencialmente informativo, com destaque à cobertura de eventos esportivos. Possui 274 funcionários, 
garantindo a presença de jornalistas em todas as províncias do país, inclusive no município especial Isla de la 
Juventud. Hoje se identifica como Radio Rebelde: Al ritmo de la vida. Fonte: 
http://www.radiorebelde.cu/quienes-somos/. Acesso em 13 de setembro de 2013. 
4 A luta constante era contra a apreensão de equipamentos e a prisão de militantes das rádios não legalizadas pela 
Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e pela Polícia Federal, bem como havia o desafio de manter 
financeira e editorialmente uma programação com conteúdo atrativo e alinhado aos princípios do MST. 
5 Um levantamento parcial realizado pelo Setor Nacional de Comunicação do MST em 2015 apontou que, de 14 
estados consultados, 11 possuíam alguma iniciativa em rádio (emissora propriamente dita, rádio-poste, espaço 
comprado/cedido em emissoras da localidade etc.). 
17 
 
Assim, entre julho e agosto de 2011, retornei a Cuba, em viagem de 15 dias, desta 
vez com o apoio do MST6, com o propósito de fazer uma primeira pesquisa exploratória para 
saber se haveria condições de levar adiante uma possível pesquisa de mestrado sobre o 
assunto. Eu ainda não havia prestado a seleção para a pós-graduação. Existiriam gravações 
das transmissões? Haveria combatentes vivos para contar essa história? Ouvintes? Será que 
encontraria publicações sobre a emissora? 
 
Trabalho de campo 
A escolha da data para a segunda viagem a Cuba não foi aleatória. O objetivo era 
estar no país no Dia da Rebeldia Nacional: 26 de julho. Trata-se de uma data de 
comemorações oficiais em toda a ilha: o aniversário dos assaltos aos quartéis Moncada e 
Carlos Manuel de Céspedes pelos rebeldes liderados por Fidel Castro em 1953. O episódio é 
considerado o marco do nascimento do Movimiento Revolucionário 26 de Julio (M-26-7) e da 
luta armada clandestina. Essa sim é a data mais comemorada – em termos de eventos oficiais 
– como aniversário da Revolução Cubana, e não 1º de janeiro de 1959, dia em que o último 
grupo de rebeldes desceu a Sierra Maestra vitorioso, com a tomada do país e a fuga do 
ditador. Para os cubanos, trata-se de celebrar a gênese do M-26-7. 
Anualmente, uma cidade é selecionada pelo governo cubano como sede do ato 
oficial de 26 de julho, que conta sempre com a presença de vários combatentes vindos de 
diversas partes da ilha e do presidente do país, Raúl Castro. Estar presente nesse ato oficial, 
portanto, era uma oportunidade de estar com diversas fontes em potencial em um mesmo local 
e data, ocasião ainda maisrara quando se pensa que os poucos combatentes ainda vivos são, 
sem exceção, idosos. Vale registrar que o Exército Rebelde era integrado, não raro, por jovens 
com menos de 30 anos e que hoje, se vivos, estariam com mais de 70 ou 80 anos. 
Embora a participação como espectador dessa cerimônia não seja aberta a 
qualquer pessoa – pois o público é organizado por indicações de organizações locais da 
comunidade e é altamente disputado –, eu poderia participar como jornalista internacional e 
 
6 O apoio do MST à minha pesquisa se traduziu em me colocar em contato com pessoas em Cuba as quais, 
posteriormente, se tornariam fundamentais para a pesquisa, bem como no credenciamento junto ao Centro de 
Prensa Internacional (CPI), do Ministério das Relações Exteriores, como jornalista militante do movimento. Tal 
apoio me auxiliou nos contatos com fontes, uma vez que os cubanos, em geral, conhecem e admiram a luta do 
MST no Brasil e sabem de sua solidariedade para com a Revolução Cubana. Ou seja, chegar às fontes em Cuba e 
me apresentar como uma jornalista brasileira não se traduz na mesma receptividade que tive como jornalista 
brasileira militante do MST. 
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me juntar ao coletivo da imprensa estrangeira que cobriria o evento. Foi o que fiz tanto nessa 
segunda viagem como na seguinte, em 2013. 
Em 2011, a cidade que sediou o ato oficial foi Ciego de Ávila. Após a cerimônia, 
tentei localizar combatentes que estiveram na Sierra Maestra. Quase em vão, já que os que ali 
estavam eram rebeldes que participaram do assalto ao Moncada, e não da guerrilha 
propriamente dita. Contudo, por uma “quase sorte”, no hotel onde tais combatentes se 
hospedaram conheci Arsenio Garcia D´Ávila, um dos únicos – quiçá o único – guerrilheiro da 
Sierra Maestra. Cheguei até ele por meio de contato com os organizadores do evento oficial 
que estavam no hotel naquele momento após a cerimônia. O nome dele já estava na lista que 
eu tinha elaborado após as pesquisas prévias à viagem a partir do material existente na 
internet sobre a Radio Rebelde e a guerrilha, e em livros sobre esse período. 
Na entrevista descubro que ele era um dos 12 expedicionários do iate Granma7 
sobreviventes8 do que ficou conhecido como combate de Alegria de Pio9 e que deram início à 
guerrilha. Não obstante, D´Ávila foi combatente na Coluna 1, comandada por Fidel e que 
tinha como base a chamada Comandancia de la Plata, local onde a Radio Rebelde ficou 
sediada a partir de maio de 1958, após três meses do início das transmissões. Sendo assim, ele 
se tornou uma fonte primordial para esta pesquisa sobre o uso da rádio pela guerrilha. 
Em Havana, com os nomes de combatentes ligados à emissora na Sierra, busquei-
os um a um por meio de consultas à companhia telefônica cubana. Encontrei somente um da 
lista: o coronel Ángel Celestino Fernández Vila, que só aceitou conversar comigo depois de 
confirmar com uma conhecida jornalista cubana – Irma Shelton –, amiga do MST, que eu era 
de confiança política. Tendo em vista a formação militante revolucionária dele, bem como a 
conjuntura de condenação midiática quando o tema é Revolução Cubana, não foi supresa essa 
 
7 O iate Granma foi a embarcação que levou de Tuxpan (México) a Cuba os 82 rebeldes do M-26-7, sob o 
comando de Fidel Castro, com o objetivo de derrubar a ditadura de Batista. Depoimentos dão conta das 
dificuldades – entre elas, fome, sede e enjoos – que os rebeldes enfrentaram durante os sete dias de viagem. 
“Muitos de nós pensavam que este iate nos transportaria para algum barco grande. Mas não mudamos de barco, e 
o iate ficou sendo o transporte definitivo, a ponte entre o México e Cuba. Que eu saiba, ninguém fez travessia tão 
longa num iate que podia transportar somente dez ou doze pessoas, mas no qual iam amontoados oitenta e dois 
homens, mal podendo mover-se, além de carga, armas, balas, mochilas, uniformes, sacos de laranja, tanques de 
água, latas com combustível de reserva, um bote, e um dos dois motores avariados” (BOSQUE, 1991, p. 10). 
8 Entre os expedicionários do iate Granma, estavam Fidel Castro, Raúl Castro, Ernesto Che Guevara, Camilo 
Cienfuegos e Juan Almeida Bosque, revolucionários-chave comandantes de colunas rebeldes da Guerra de 
Libertação Nacional. 
9 Poucos dias depois do desembarque do Granma, realizado em 2 de dezembro de 1956, os rebeldes foram 
surpreendidos pelos soldados da ditadura. Dos 82 expedicionários do iate, 70 foram assassinados. 
19 
 
cautela dele. Considero que o contato com a Irma, bem como o fato de me apresentar como 
jornalista do MST, facilitou tal confiança. É público que o MST é um movimento popular 
com repercussão mundial e que se solidariza com a Revolução Cubana e almeja a construção 
de uma sociedade socialista, mantendo relação – inclusive – com o governo cubano. Para citar 
um exemplo, dezenas de estudantes sem-terra fazem a graduação em Medicina em Cuba, por 
meio de convênios estudantis governamentais. 
 Vila, que na época da guerrilha estudava Medicina, foi subdiretor da Radio 
Rebelde nos últimos dois meses da luta na Sierra10, tendo sido antes delegado nacional de 
Propaganda do M-26-7 em Havana e um dos fundadores do jornal clandestino Vanguardia 
Obrera, órgão oficial do Movimento em 1958. Qual não foi minha surpresa quando, no 
primeiro contato pessoalmente, ele me mostrou um “tesouro escondido”: cerca de 100 
documentos (textos originais) que foram lidos pelos locutores da emissora ainda na guerrilha 
e que permaneceram guardados em uma gaveta da casa dele. Inéditos até então11. Vila deixou 
o material à minha disposição para que fosse digitalizado, além de me conceder uma primeira 
entrevista naquela ocasião. 
Perguntado sobre o motivo de ter guardado esses documentos em plena guerrilha, 
Vila explicou que já na cidade de Palma Soriano, ou seja, nos momentos finais da luta 
insurrecional, Fidel precisava de um documento que ele havia lido na Radio Rebelde. Vila, 
então, busca em seus arquivos e o entrega ao comandante, que ficou “maravilhado” com o 
fato de ele tê-lo guardado. “Aí me dei conta do que eu tinha, que era um tesouro”, contou. 
Em termos de publicações, encontrei nesta viagem um único livro12 que tratava da 
Radio Rebelde na época da guerrilha como tema central. Nas demais e abundantes 
publicações sobre a guerrilha ou o M-26-7, embora não raro houvesse menção à emissora, o 
 
10 Vila foi enviado à Sierra Maestra e passou a atuar como subdiretor da emissora em novembro, função que 
exerceu até o triunfo do Exército Rebelde, em 1º de janeiro de 1959. Ele era dirigente estudantil da FEU 
(Federación Estudantil Universitaria) em Havana – onde frequentava a Faculdade de Medicina – e já participava 
de manifestações contra o ditador Fulgêncio Batista, desde o ano do golpe: 1952. A partir da radicalização do 
movimento estudantil para a luta revolucionária, ele se incorpora à seção operária (obrera) do Movimiento 26 de 
Julio, uma vez que, além de universitário, trabalhava como torneiro. Ali, atua na propagando voltada ao setor 
obrero, de onde resulta o jornal Vanguardia Obrera (do M-27-7), do qual é fundador. 
11 Em 2014, Vila lançou um livro de memórias no qual explora a história dos meios de comunicação clandestinos 
durante a guerrilha em Cuba e traz alguns poucos documentos apresentados também nesta dissertação. Trata-se 
da obra Por las ideas del Moncada, publicada em 2013 pela Casa Editorial Verde Olivo, de Havana. Grande 
parte do material recolhido nesta pesquisa continua inédita. 
12 Na obra 7RR – La historia de Radio Rebelde, de 1978, o autor Ricardo Martínez Victores, um dos fundadores 
da emissora, reúne testemunhos de diversos atores sociais que participaram da construção e da manutenção da 
rádio na Sierra Maestra durante a guerrilha. 
20 
 
assunto merecia poucas linhas.Além disso, foi possível copiar seis arquivos digitais em áudio 
com transmissões originais da Radio Rebelde em 1958, a partir do acervo da própria emissora 
e da Radio Habana Cuba. Diante desses materiais, concluí que seria viável realizar esta 
pesquisa acadêmica ao nível de mestrado. A questão central: por que e como o rádio fez parte 
da estratégia do Exército Rebelde na Sierra Mestra? 
Tendo sido aprovada no Programa de Pós-Graduação de Sociologia no Instituto 
de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, em julho de 2013 parti para a terceira viagem a 
Cuba, com foco no trabalho de campo. A viagem durou 39 dias e tinha dois objetivos centrais: 
encontrar e digitalizar todo e qualquer material disponível sobre a Radio Rebelde tanto em 
acervos pessoais como em bibliotecas e emissoras; e entrevistar mais pessoas que lutaram na 
Sierra Maestra e tiveram relação com a rádio, para poder reconstituir com mais elementos a 
história da emissora no processo pré-revolucionário. De novo o mês de julho foi escolhido por 
conta do ato oficial de 26 de julho, ao qual assisti como jornalista estrangeira novamente. 
Desta vez, a comemoração se deu na cidade de Santiago de Cuba e foi maior, pois 
se tratava do aniversário de 60 anos do assalto ao Moncada, localizado nesse mesmo 
município. No entanto, justamente por tal razão de ser uma data expressiva para marcar a 
efeméride, não foi possível localizar e entrevistar combatentes, uma vez que havia um rígido 
esquema de segurança por causa da presença de vários chefes de Estado e autoridades locais 
no evento. A chegada e a saída dos combatentes se deram de forma restrita e isolada da 
imprensa e do público. 
Todavia, copiei mais áudios originais da emissora na época da guerrilha os quais 
estavam no acervo da Radio Habana Cuba e que em 2011 ainda não estavam digitalizados, 
além de outros relacionados ao tema. Além disso, fotografei todas as edições disponíveis na 
Biblioteca Nacional José Martí, em Havana, dos mais importantes jornais e boletins 
clandestinos da época da guerrilha que eram órgãos oficiais do M-26-7 e que, não raro, 
reproduziam notícias transmitidas pela Radio Rebelde, conforme será exposto ao longo desta 
dissertação. São eles: Vanguardia Obrera, Revolución, Sierra Maestra e El Cubano Libre. 
Cabe registrar que a relação da emissora com essas publicações também se dava na via 
inversa: os locutores liam textos veiculados nesses impressos. 
Pude, ainda, fotografar mais material inédito até então. Se antes Vila havia me 
passado apenas uma pasta com notícias originais lidas pelos locutores na guerrilha, desta vez 
ele me entregou outras cinco que ele mantinha em sua casa. Eram mais 160 documentos, 
21 
 
aproximadamente. Além disso, me possibilitou a cópia de diversas edições de jornais 
clandestinos que ele guardava, parte delas não disponível na Biblioteca Nacional José Martí. 
Por meio do contato facilitado por Vila, entrevistei Ciro Arturo Del Rio Guerra, 
um dos responsáveis pelo traslado dos equipamentos da emissora à Sierra Maestra, a pedido 
de Che Guevara, em 1958. Guerra passou a integrar o Exército Rebelde, atuando como 
segurança do “estúdio” da Radio Rebelde e como soldado em combates contra o exército da 
ditadura. Naquele momento, foi possível obter mais detalhes sobre a logística para envio dos 
equipamentos aos guerrilheiros, bem como coletar relatos e impressões pessoais do 
combatente sobre a atuação da emissora no período. 
Visitei a Comandancia de la Plata13 na Sierra, porém o museu da Radio Rebelde 
ali estava fechado para obras. Durante subida da montanha, soube que o guia turístico que nos 
acompanhava era justamente vizinho de Eugenio Medina – uma das fontes que eu tentava 
localizar –, de 71 anos, um dos membros da família de camponeses que formavam o grupo 
musical Quinteto Rebelde, cuja criação foi idealizada por Fidel, que entendia a música como 
fator que poderia melhorar o ânimo dos guerrilheiros e também desmoralizar os soldados de 
Batista, conforme será abordado com mais detalhes ao longo da dissertação. Esses 
camponeses participaram regularmente das transmissões da Radio Rebelde na guerrilha. Com 
auxílio do guia, consegui entrevistá-lo nessa ocasião. 
Já em 2013, realizei entrevista com a atual diretora-geral da emissora, Sofia 
Mabel Manso Delgado, e com Pedro Pablo Figueredo, que exerceu tal cargo entre 1998 e 
2003. Em junho de 2015, retornei a Cuba e estabeleci mais uma vez contato com Vila para 
compartilhar com ele o andamento da dissertação e tirar eventuais dúvidas. 
A hipótese que norteou esta pesquisa foi a de que, além de ser meio de 
informação, a Radio Rebelde influenciou o processo guerrilheiro revolucionário cubano ao 
atuar como instrumento de informação do povo e como aparato militar. Cabe esclarecer que 
esta pesquisa teve foco no emissor, e não no receptor das notícias da Radio Rebelde. 
Inicialmente, pretendia-se entrevistar também ouvintes da emissora na época em que a rádio 
era clandestina. Nas primeiras conversas com ouvintes realizadas na viagem de 2013, todavia, 
 
13 Atualmente, essa região pode ser acessada por meio de uma trilha de três quilômetros (3 km) percorrida com 
guias especializados em ecoturismo e história. Nessa região também é possível visitar as instalações originais da 
Radio Rebelde, com a exibição de alguns equipamentos radiofônicos utilizados pelos rebeldes. Trata-se hoje de 
um ponto turístico da província Granma, no Parque Nacional Turquino. 
22 
 
concluiu-se que não haveria material suficiente para uma análise também do ponto de vista do 
receptor. Isso porque os depoimentos eram muito semelhantes (limitavam-se, em geral, a 
dizer que ouviam escondido a emissora e que “todo mundo” escutava a rádio para saber da 
guerrilha) e sem mais elementos que permitissem tal análise naquele momento. 
Para isso, os estudos foram realizados sob a perspectiva de Gramsci, a partir da 
compreensão do autor italiano sobre o conceito de hegemonia e o papel da imprensa no 
cenário político. Tal escolha foi feita com o objetivo de investigar a Radio Rebelde como 
ferramenta de comunicação contra-hegemônica. 
Esta pesquisa também se propôs a reunir os materiais coletados numa tentativa de 
contribuir para a memória e a reconstituição da história da emissora para pesquisa futura de 
mais fôlego. O esforço investigativo deu-se no sentido de produzir uma narrativa histórica 
densa sob o viés acadêmico, sobre o tema da propaganda clandestina da guerrilha da 
Revolução Cubana a partir do relato dos próprios atores combatentes; de criar condições para 
a sistematização da trajetória clandestina da Radio Rebelde; e de se tornar um dos possíveis 
caminhos para socializar esse conhecimento para além das estantes de bibliotecas dentro de 
universidades. 
 
Coleta de dados 
Durante a pesquisa, a coleta de materiais foi feita por diferentes métodos. O ponto 
de partida foi o contato com Vila, que concedeu entrevistas ao longo da pesquisa, 
disponibilizou para digitalização o seu acervo pessoal de textos originais locutados na Radio 
Rebelde (bem como de jornais clandestinos do M-26-7) e me colocou em contato com Ciro 
del Río, um dos responsáveis por levar os equipamentos da estação de rádio para a Sierra 
Maestra. Além dos encontros presenciais em Cuba com Vila, foram mantidas trocas de 
mensagens por correio eletrônico ao longo da pesquisa. 
Nas viagens à ilha, foram investigados os acervos de duas importantes bibliotecas 
de Havana: a Biblioteca Nacional José Martí e a Biblioteca Rúben Matinez, onde foram 
buscados artigos e reportagens de jornais e revistas. De parte deles a pesquisadora já possuía 
os dados da publicação (título, veículo e/ou data), coletados por meio de citações indicadas 
em outros textose livros sobre a Revolução Cubana. Outra parte foi acessada a partir da 
investigação dos jornais clandestinos do M-26-7 e de outros de circulação relevante no 
período entre 1957 e o primeiro trimestre de 1959, aproximadamente. O objetivo desse recorte 
23 
 
temporal foi abranger o período que antecedeu as transmissões da Radio Rebelde e durante o 
qual já havia luta armada na Sierra Maestra, bem como observar os desdobramentos nos 
primeiros meses após a vitória dos revolucionários, uma vez que poderia haver menção nas 
publicações sobre o papel do rádio no processo de luta por liberação. 
Ainda na pesquisa in loco, foram obtidas cópias de arquivos de áudio relacionados 
à Radio Rebelde e que fazem parte do arquivo da Radio Habana Cuba e da própria Radio 
Rebelde. Tais materiais foram coletados a partir de visitas a tais emissoras, por meio de 
contatos de jornalistas cubanos simpatizantes do MST. 
Após tal trabalho de campo, o esforço foi no sentido de organizar os dados, ou 
seja, transcrever as entrevistas; catalogar as fotos de jornais de acordo com data e tipo de 
publicação, unificando arquivos repetidos; catalogar as fotos dos textos originais da emissora, 
tentando agrupá-los – na medida do possível – em data de veiculação; e transcrever áudios 
originais da Radio Rebelde. Vale ressaltar que se optou por manterem as transcrições em 
língua espanhola a fim de que não houvesse qualquer prejuízo (seja de conteúdo, semântico 
ou de entonação) derivado da tradução para o português. 
Apesar de, desde a primeira viagem a Cuba, haver a intenção de que a pesquisa 
abordasse não somente o emissor das mensagens radiofônicas durante a guerrilha, isso não foi 
possível. Em conversas informais realizadas com potenciais ouvintes da Radio Rebelde em 
1958, verificou-se o discurso quase unânime a respeito do assunto – dos que, obviamente, 
possuíam o receptor de rádio (cujo preço não era dos mais baixos) –, uma vez que se 
limitavam a dizer que ouviam sim a emissora, em volume baixo, em casa para que os 
soldados da ditadura não os flagrassem comentendo tal “crime”. A partir desse cenário 
percebido no trabalho de campo, a pesquisa priorizou a análise das informações radiofônicas 
com foco no emissor desse conteúdo, o que não elimina a possibilidade de se focar no 
receptor em investigação futura, tendo como base métodos e abordagens adequadas para 
explorar essa outra perspectiva. 
Apresenta-se, abaixo, o resumo dos materiais coletados de fontes diversas: 
– Textos das notícias lidas pelos locutores da Radio Rebelde nos dois últimos meses de 
guerrilha: novembro e dezembro de 195814. Esse material integra o acervo pessoal de Ángel 
Fernández Vila. Trata-se dos papéis originais usados pelos locutores da emissora na Sierra 
 
14 É possível limitar a data desse material aos últimos dois meses de guerrilha, pois foi o período em que Vila 
esteve na Sierra Maestra e assumiu a tarefa de subdiretor da Radio Rebelde. 
24 
 
Maestra e que até a presente pesquisa permaneciam guardados na casa dele. São cerca de 260 
documentos fotografados. Cabe registrar que esse material raramente indica a data de 
veiculação do texto radiofônico, assim como não se refere a todas as notícias transmitidas pela 
rádio nos últimos dois meses de guerrilha15; 
– Áudios de transmissões originais da Radio Rebelde em 1958, bem como outros áudios 
relacionados ao assunto. São 13 arquivos digitais16 do acervo da Radio Habana Cuba e da 
Radio Rebelde; 
– Edições de jornais clandestinos que eram órgãos oficiais do M-26-7 em 1957 e 1958: El 
Cubano Libre, Revolución, Vanguardia Obrera e Sierra Maestra. Tal material foi fotografado 
a partir do acervo disponível na Biblioteca Nacional José Martí, em Havana, e do acervo 
pessoal de Ángel Fernández Vila. Somam 90 edições. O objetivo é extrair dessas publicações 
as notícias diretamente relacionadas à Radio Rebelde, uma vez que havia muito intercâmbio 
entre a notícia da rádio e o que se publicava nesses jornais, ou vice-versa; 
– Entrevistas gravadas em áudio e vídeo com combatentes do M-26-7 que tiveram 
participação direta ou indireta nas transmissões da Radio Rebelde na Sierra Maestra. São 
quatro entrevistados: Ángel Fernández Vila, Arsenio Garcia D´Ávila, Ciro Arturo Del Rio 
Guerra e Eugenio Medina17; 
– E artigos em jornais e revistas, posteriores à vitória da revolução, que reproduzem textos de 
notícias veiculadas pela Radio Rebelde, quando das transmissões clandestinas. 
 
A dissertação 
A partir da percepção – pela minha própria experiência pessoal, bem como dos 
currículos oficias escolares – de que existe uma lacuna importante de conhecimento entre os 
brasileiros sobre a história da América Latina, em especial de Cuba, optou-se no primeiro 
capítulo – intitulado “Movimiento 26 de Julio, Assalto ao Moncada e propaganda clandestina” 
– por localizar o leitor no contexto da época. Não seria possível abordar a Radio Rebelde sem 
entender o golpe de Batista em 1952, sem saber quem foi José Martí e sem ter noção da 
importância do assalto ao Quartel Moncada para a luta armada revolucionária. Ainda no 
 
15 Vila relatou a esta pesquisadora que parte do material guardado por ele na Sierra Maestra desapareceu logo 
em seguida do triunfo, em janeiro de 1959. 
16 Para detalhes sobre esses áudios, consultar “Documentos sonoros” em “Fontes e Bibliografia”. 
17 Para saber mais sobre os entrevistados, consultar “Entrevistas” em “Fontes e Bibliografia”. 
25 
 
referido capítulo, tratou-se de apresentar brevemente o Movimiento Revolucionário 26 de 
Julio para, em seguida, apontar como a propaganda clandestina aparecia como um dos pilares 
da luta dos militantes para burlar a censura e denunciar os crimes da ditadura. É nessa parte da 
dissertação que são apresentados os principais órgãos de imprensa do M-26-7, com a 
publicação de páginas digitalizadas do acervo de Vila e de bibliotecas. 
No segundo capítulo, intitulado “Radio Rebelde, a voz da Sierra Maestra”, 
buscou-se expor facetas dos debates teóricos sobre o rádio, passando por Brecht, Benjamin, 
Hale, McLuhan. Além disso, houve a preocupação de ilustrar alguns usos semelhantes desse 
meio de comunicação em contexto de guerra, guerrilha ou efervescência político-social. Para 
isso, deu-se preferência a casos da realidade latino-americana, tais como a Radio Sandino na 
Nicarágua, a Radio Venceremos em El Salvador, ou mesmo a Cadeia da Legalidade 
comandada por Leonel Brizola contra o golpe cívico-militar no Brasil de 1964, e o uso das 
ondas radiofônicas na Revolução Constitucionalista de 1932. É nesse capítulo que, a partir 
dos relatos dos combatentes, com apoio da bibliografia e do material digitalizado, é resumida 
a trajetória dos 311 dias de transmissão da Radio Rebelde na Sierra Maestra. Neste sentido, 
abordam-se a primeira emissão, a equipe de trabalho, a rotina de produção, o alcance das 
transmissões, o uso da música, a relação da emissora com os órgãos clandestinos de imprensa 
do M-26-7, entre outros aspectos. 
Ainda nesse capítulo, a dissertação categoriza os tipos de conteúdo transmitidos 
pela emissora, a partir dos documentos coletados do acervo pessoal de Vila. Nesse sentido, 
lança luz ao público-alvo das emissões, linguagem utilizada, estratégia comunicacional, bem 
como outros recursos de cunho ideológico presentes no conteúdo radiofônico, como para que 
a população cubana se mobilizasse contra a ditadura. 
Nas “Considerações Finais”, buscou-se fazer o diálogo entre a descrição histórica 
da trajetória da emissora – realizada a partir dos relatos e documentos pesquisados – e o 
contexto político cubano da época, apontando em que medida a Radio Rebelde influenciou o 
processo revolucionário. 
Por fim, nos anexos são apresentadas as listagens de entrevista,documentos 
sonoros e textos de jornais e revistas recolhidos em Cuba ao longo da investigação e que 
foram utilizados para a construção desta dissertação. 
 
27 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 1: 
MOVIMIENTO 26 DE JULIO, PROPAGANDA E RÁDIO 
 
 
 “La propaganda es vital. 
Sin propaganda no es posible movilizar a las masas, 
y sin movilización de las masas, no hay Revolución” 
 
Fidel Castro em carta enviada à combatente do 
Movimiento Revolucionario 26 de Julio, Melba Hernández, 
em 27 de agosto de 1955. 
(Arquivo de História do Conselho de Estado)
28 
 
 
1.1. ANTECEDENTES DO CONTEXTO HISTÓRICO 
 
Para entender a conjuntura que propiciou o surgimento da Radio Rebelde, temos 
que conhecer o Movimiento Revolucionario 26 de Julio e vislumbrar o quadro político, 
econômico e social cubano no período. 
Do ponto de vista demográfico, na década de 1950, Cuba era um país com 
predomínio de população urbana (57% da população total, que era de 5.829.029 habitantes), 
com expressivo índice de analfabetismo (23,6% da população com 10 anos ou mais), 
concentrado especialmente na área rural (41,7% do total de analfabetos com 10 anos ou mais). 
No que se refere ao emprego, 46,2% da população com 14 anos ou mais estavam fora da força 
de trabalho. O índice representa um total de 1.768.805 pessoas18. 
Sob o ponto de vista político e econômico, se faz necessário visitar os 
antecedentes dos anos 1950, voltar o olhar para as lutas por libertação que o país travou. Essa 
necessidade fica mais evidente com a seguinte declaração de Fidel Castro, em 1973, no 
aniversário de 20 anos do assalto ao Quartel Moncada: 
 
La fase actual de la Revolución Cubana es la continuidad histórica de las luchas 
heroicas que inició nuestro pueblo en 1868 y proseguió después infatigablemente en 
1895 contra el colonialismo español; de su batallar constante contra la humillante 
condición a que nos sometió Estados Unidos, con la intervención, la Enmienda Platt 
y el apoderamiento de nuestras riquezas que redujeron nuestra patria a una 
dependencia yanki, un jugoso centro de explotación monopolista [...]19 
 
Consideramos que não se pode desvincular o processo revolucionário cubano da 
década de 1950 como um “episódio” isolado das lutas por libertação do país que antecederam 
a vitória de 1º de janeiro de 1959. Rejeita-se, de partida, portanto, a visão não rara – e que 
advém da equivocada análise maniqueísta e apaixonada da história cubana: ser contra a 
Revolução ou a favor dela – de que o processo de lutas que culminou na Revolução Cubana é 
 
18 Censo da população cubana. In: Los Censos de Población y Viviendas en Cuba: 1907-1953. Disponível em: 
http://www.one.cu/publicaciones/cepde/loscensos/anexo_7.pdf Acesso em: 30 maio 2014. 
19 CASTRO, F. Fragmentos del discurso pronunciado por el Comandante en Jefe Fidel Castro Ruz, en e lacto 
central en conmemoración del ataque al cuartel Moncada. Revista Bohemia, 2013, p.121. 
29 
 
 
fruto de pouco mais de uma dezena de heroicos combatentes que vieram do México e 
“salvaram” a povo cubano, sob liderança de Fidel Castro e Che Guevara, principalmente. 
É desta perspectiva de continuidade de um processo histórico que parte esta 
dissertação20. Tal acepção se coaduna com o pensamento do sociólogo Emir Sader: 
 
[...] a revolução cubana de 1959 foi a continuidade das frustradas lutas de 
independência iniciadas na segunda metade do século passado e pode ser 
caracterizada efetivamente como uma revolução não pelo fato de ter tomado o 
poder, mas por ter desenvolvido um processo de transformações radicais das 
estruturas econômicas, sociais, políticas e ideológicas que fizeram de Cuba o 
primeiro país socialista da América Latina e do mundo ocidental (SADER, 1992, 
p.15). 
 
Por conta de sua localização estratégica no mar do Caribe, a cerca de 200 
quilômetros de distância dos Estados Unidos, Cuba sempre foi alvo de disputa internacional. 
Ao todo, foram quase quatro séculos como colônia espanhola. Nesse período de exploração 
agrícola, destacaram-se os cultivos de tabaco, açúcar e café. Para trabalhar a terra, um clássico 
presente nas colônias americanas: mão de obra escrava. 
 
O desenvolvimento da produção de açúcar trouxe consigo importantes 
transformações econômicas e sociais para a colônia. A principal delas, sem dúvida, 
foi a ampliação do trabalho escravo, a ponto de tornar essa forma de trabalho 
dominante (MÁO JUNIOR, 2007, p. 84). 
 
Esse cenário está dado no fim do século XVIII e no início do XIX, quando o país 
recebe importante fluxo de haitianos refugiados da Guerra de Independência da então colônia 
francesa, onde a produção açucareira era a principal atividade econômica. Intensifica-se a 
importação de escravos e cresce o poder econômico do latifúndio açucareiro em Cuba. 
Enquanto isso, a massa de “guajiros” – como são chamados os camponeses pobres – era 
constantemente expulsa de suas terras. 
 
20 Cabe esclarecer, ainda, que esta pesquisa não se propõe a entrar no mérito ou “julgamento” de uma das 
questões mais controversas da historiografia mundial. O exercício realizado foi no sentido de evitar a apologia e 
a satanização no que se refere à Revolução Cubana. Pondera-se, no entanto, que o trabalho de campo realizado 
focou em fontes primárias e oficiais da Revolução, haja vista que a Radio Rebelde é um tema pouco explorado 
na literatura e esse diálogo entre diferentes percepções e interpretações não foi possível neste momento. 
Portanto, os relatos se dão a partir de personagens que participaram diretamente do processo revolucionário e a 
partir de documentos originais, principalmente. 
30 
 
 
A ilha caribenha foi a última colônia latino-americana a se libertar da dominação 
espanhola, fato que se concretizou em 1898, após duas guerras de independência. A Primeira 
Guerra de Independência (1868-1878) – também conhecida como a Guerra dos Dez Anos – se 
deu em um cenário de profunda crise econômica derivada da queda da cotação internacional 
do açúcar. 
 
O movimento, inicialmente liderado por latifundiários descontentes das regiões 
central e oriental, logo ganhou adeptos entre outros segmentos da sociedade, 
particularmente entre a população pobre do campo e das cidades, principalmente os 
escravos libertos pelas forças revolucionárias (MÁO JUNIOR, 2007, p. 92). 
 
A guerra, no entanto, termina sem a derrota das tropas coloniais espanholas, e sim 
em um pacto conhecido como “Paz de Zanjón”, que se constituía em um acordo de 
capitulação cubana. 
Em 1895, é deflagrada a Segunda Guerra de Independência, que durou até 1898. E 
aqui cabe um parêntese fundamental para compreender os alicerces teóricos e estratégicos do 
Movimiento Revolucionario 26 de Julio: José Martí. 
 
1.1.1. O PENSAMENTO DE JOSÉ MARTÍ 
 
Não é possível falar em Revolução Cubana sem entender o legado de uma figura 
querida pelo povo cubano e considerada um dos heróis nacionais. José Martí surge e se 
destaca nesse momento histórico. 
Nascido em 1853 em Havana, filho de espanhóis, apresentou nos bancos escolares 
veia poética e política, de patriota cubano. No período da Primeira Guerra de Independência, 
apoiou o movimento de libertação do domínio espanhol, por meio também da publicação e da 
divulgação clandestina de seus textos. 
Em 1869, ou seja, ainda nesse período, foi preso (tinha 16 anos). Com a pena 
comutada por desterro na Espanha, deixou Cuba. Inicia, então, um fértil período para sua 
formação ideológica, intelectual e política. Passa a escrever textos com reflexões políticas 
para vários jornais, de diversos países. Entre os temas abordados, a liberdade, a injustiça, a 
desigualdade, o humanismo, o anti-imperialismo e o desenvolvimento latino-americano.Em 
31 
 
 
seus escritos, está presente o permanente olhar para a América Latina e a relação com os 
Estados Unidos. 
 
No exterior, dedicou-se à difícil tarefa de unificar todos os setores independentistas, 
organizando com eles o Partido Revolucionário Cubano, para reiniciar a guerra 
contra os espanhóis (SADER, 1992, p. 20). 
 
Três anos antes da Segunda Guerra de Independência (1895-1898), é oficializada 
a fundação do Partido Revolucionário Cubano, concebido por Martí. E é na preparação e no 
confronto militar desse novo período de luta por libertação que ele desempenhou relevante 
papel de liderança. Em maio de 1895, no entanto, é morto em combate, aos 42 anos. 
Os textos escritos e a trajetória de vida de Martí apontam para uma pessoa de 
perfil humanista e nacionalista. Já sua classificação ideológica é difícil precisar, na opinião de 
José Rodrigues Máo Junior. Para ele, se trata de um “democrata-revolucionário, cuja 
radicalidade o vincularia àqueles que, em sua época, censuravam abertamente as mazelas do 
capitalismo ocidental sem, entretanto, chegarem a ser porta-vozes de um proletariado apenas 
incipiente em seus países” (2007, p. 128). Já para Pedro Pablo Rodríguez, Martí foi: 
 
[...] um transgressor consciente da lógica dominadora imposta pelas mudanças do 
fim do século na nova etapa da modernidade que se iniciava. A consciência que 
tinha do problema iluminou sua cuidadosa, contínua e abundante reflexão sobre os 
Estados Unidos, ao mesmo tempo em que esta nação tendia a se converter no 
principal obstáculo a seu anseio de libertação continental (PABLO RODRÍGUEZ, 
2006, p. 23). 
 
A importância de Martí para a luta de libertação de Cuba, bem como a atualidade 
de seu pensamento, é assim resumida no Museu da Revolução, em Havana: 
 
Las generaciones que le sucedieron le concedieron los títulos de El Maestro, Apóstol 
de la Independencia y Héroe Nacional. Su imágen traspasó las fronteras nacionales 
para convertirse no sólo en una figura de la América que tanto amó, sino para 
alcanzar una dimensión universal con vigencia tal que llega a nuestros días (Texto 
em exposição permanente no Museu da Revolução, em Havana, em julho de 2013). 
 
A respeito da influência de Martí sobre os pilares teóricos e estratégicos na gênese 
e no avanço da Revolução Cubana, aponta Florestan Fernandes (1979), ao comentar os 
resultados da Guerra dos Dez Anos: 
32 
 
 
A espoliação inerente ao esbulho colonial continuou a imperar e a revolução 
nacional frustrada converteu-se numa herança política, transferida para o futuro. 
Fidel identifica-se com essa herança ao retomar a tradição de Martí e sua ideologia 
revolucionária. Acabar com as ditaduras que apenas prolongavam, como versão 
militar e política modernizada, a tirania espanhola e extinguir a satelitização dos 
Estados Unidos, que apenas era uma versão imperialista da dominação colonial, 
converteram-se nos dois pólos sine qua non da revolução nacional (FERNANDES, 
1979, p. 18). 
 
O próprio Fidel, em sua defesa no julgamento do assalto ao Quartel Moncada – a 
ser aprofundado nesta dissertação mais à frente –, afirma que o “responsável intelectual” por 
tal ação armada foi justamente Martí. Tal fato reforça a noção de o quanto os escritos e a 
atuação de Martí serviram de referência para o Movimiento 26 de Julio. 
Essa inspiração no pensamento martiniano aparece também nas transmissões 
clandestinas da Radio Rebelde durante a guerrilha na Sierra Maestra, conforme documento 
abaixo locutado na emissora em 1958. 
 
Imagem 1 – “La tiranía” – Texto lido pelos locutores da Radio Rebelde; 1958 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Arquivo Ángel Fernandez Vila 
33 
 
 
Tal conteúdo radiofônico, intitulado “La tiranía” – referindo-se à ditadura de 
Fulgêncio Batista –, inicia com referência direta a uma citação de Martí: “La tiranía no 
corrompe, prepara”. Interpretando o pensamento martiniano para o referido momento 
histórico da guerrilha, a emissora destaca que a rejeição dos cubanos aos males da ditadura 
que corroem o povo – citando a prostituição e o alcoolismo como exemplos – acabou por 
prepará-los para a luta emancipadora, ou seja, para a Revolução. 
Trata-se de uma reflexão que deve ter sido transmitida pelas ondas da Radio 
Rebelde nos últimos momentos de luta, uma vez que cita que “La guerra está ganada. Ahora 
tenemos que ganar la paz” – ou seja, registra vitória sobre a ditadura – e menciona o “espíritu 
sublime” demonstrado pela cidade Palma Soriano e por outros povos liberados. Tal cidade foi 
tomada pelos rebeldes nos últimos episódios da guerrilha. Cabe ressaltar que foi sediada em 
tal localidade que a emissora fez a transmissão da vitória revolucionária em 1º de janeiro de 
1959. 
 
1.1.2. DO DOMINÍO ESPANHOL AO ESTADUNIDENSE 
 
Ainda na Segunda Guerra de Independência, as tropas revolucionárias avançavam 
e conquistavam diversas regiões do país. Com o apoio de soldados enviados pelos Estados 
Unidos, os revoltosos empregam sucessivas vitórias sobre os espanhóis. A metrópole, então, 
antes que seja dada como certa a derrota, aceita o armistício, o chamado Tratado de Paris21. 
 
Em 12 de agosto, a Espanha assina um armistício com os Estados Unidos em 
Washington e, em 10 de dezembro, um tratado de paz em Paris, em que se 
reconhece a independência de Cuba, transfere aos Estados Unidos a posse de Porto 
Rico e Guam, e o controle das Filipinas em troca do pagamento de vinte milhões de 
dólares (AYERBE, 2004, p. 24). 
 
Em 1º de janeiro de 1899, chega ao fim o domínio espanhol sobre o território 
cubano. No entanto, Cuba ainda não seria dos cubanos. O motivo? A ingerência militar, 
política e econômica estadunidense. 
 
21 O Tratado de Paris foi um acordo de paz bilateral assinado por Estados Unidos e Espanha, em 10 de dezembro 
de 1898. Com isso, a Espanha renuncia aos seus direitos de soberania e propriedade sobre o território cubano. 
34 
 
 
A crescente dependência dos Estados Unidos terá como consequência direta no 
desfecho da segunda guerra de Independência. Em sua gestação e suas batalhas 
principais, a iniciativa esteve sempre sob a liderança dos cubanos, mas foi a 
participação norte-americana no conflito que determinou seu resultado (AYERBE, 
2004, p. 22). 
 
Também para Sader (1992), a vitória das forças independentistas foi frustrada 
pelos Estados Unidos, que tinham a intencionalidade de manter Cuba sob sua dependência. 
 
O Exército Libertador vitorioso foi privado do triunfo e submetido imediatamente à 
ação desmobilizadora por parte dos militares norte-americanos, que ofereceram 
grandes somas em dólares para que os soldados depusessem as armas, conseguindo, 
assim, dividir as tropas de Gómez e semear a discórdia entre seus seguidores, apesar 
da resistência dos líderes, como foi o caso do general dominicano. Mas isso não 
impediu que política e militarmente os EUA se apropriassem da vitória das guerras 
de independência protagonizadas pelos cubanos contra o colonialismo espanhol 
(SADER, 1992, p. 22). 
 
Para Sader, “politicamente, o país passou a ser uma pseudorrepública, 
complemento da neocolônia no plano econômico, tutelada pela presença ostensiva dos EUA” 
(1992, p. 23). Tal dominação, contudo, não se limitava à área econômica e transbordava na 
cultura, na política e na ideologia cubanas. 
É nesse cenário, por exemplo, que os EUA conquistam a cessão de um território 
cubano para a instalação da base naval de Guantánamo, por meio da chamada Emenda Platt – 
instrumento que dava o amparo jurídico à ocupação militar estadunidense. 
Durante os 25 anos da República Cubana, as eleições eram marcadas por fraudes e 
fragilidade de partidos que aindaestavam em gestação. E, assim, nasce mais uma ditadura no 
país, período conhecido como “machadato”. À frente de uma farsa eleitoral, alcança o poder o 
general Geraldo Machado, conhecido por sua relação de submissão aos interesses 
estadunidenses. Entre seus compromissos com o capital dos EUA, estava a adoção de medidas 
para que greves de trabalhadores não afetassem os lucros das empresas estadunidenses 
instaladas na ilha. Leia-se: repressão. Como resultado, o que se viu foi a instabilidade social e 
um clima tenso, devido à repressão ostensiva e permanente contra as forças sindicais. Nesse 
contexto, nos idos de 1925, surge na clandestinidade o Partido Comunista de Cuba. 
35 
 
 
O país encontrava-se mergulhado em grave crise econômica, com as mobilizações 
de greves e contra a repressão do “machadato” crescendo a cada dia. Em 1933, pressionado, o 
general renuncia. 
Depois de muita turbulência política, o país vive novo golpe militar. Desta vez, 
liderado por aquele que anos depois seria o grande inimigo da Revolução Cubana: Fulgêncio 
Batista. Nessa ação coordenada junto com os EUA, o coronel Carlos Mendieta assume a 
Presidência de Cuba, mas quem governava de fato era Batista. 
Em 1940, Batista sai vitorioso das eleições presidenciais e tem governo 
constitucional garantido por quatro anos. Ele chega a obter apoio do Partido Comunista, que 
passa a ocupar inclusive ministérios do seu governo. 
 
Apesar do caráter autoritário, seu regime não foi considerado como uma mera 
continuidade do machadismo. Como bem destaca Fernando Mires (2001, p. 291), “o 
próprio Batista era produto da revolução popular de 1933 e, para muitos setores 
políticos de esquerda, parecia ser seu continuador, embora em condições de maior 
‘ordem e segurança’”. A esses fatores o autor acrescenta a origem operária de 
Batista e da maioria dos seus oficiais, assim como a aceitação de negros e mulatos 
em suas fileiras” (AYERBE, 2004, p. 28). 
 
Em 1944, Ramón Grau San Martín – que havia sido deposto do poder em 1934 
por um golpe militar liderado por Batista – é eleito presidente de Cuba. Batista não chegou a 
concorrer às eleições por ser impedido pela Constituição de se candidatar a um novo mandato. 
O governo do então dirigente máximo do Partido Revolucionário Cubano 
(Auténtico) – PRC (A) – é marcado por ferrenha oposição a Batista. O contexto de Guerra 
Fria já está instalado e tem reflexos na política interna cubana, na medida em que o discurso 
anticomunista dos Estados Unidos serviu como pretexto para a repressão aos movimentos 
populares. Os rumos do PRC(A) causam rachas no partido. 
 
Em 1947, as divergências internas se agudizam causando a ruptura de sua ala 
esquerda, liderada por Eduardo Chibás, que fundou o Partido del Pueblo Cubano – 
PCPC (mais conhecido como Ortodoxos). A saída desse grupo de militantes do 
PRC(A) eliminou o pouco que restava de coerência naqueles que, em sua fundação, 
pretendiam ser os autênticos continuadores do PRC fundado por José Martí (MAO 
JUNIOR, 2007, p. 216). 
 
36 
 
 
Em 1948, é eleito presidente cubano Carlos Prío Socarrás, do PRC(A) e discípulo 
de Ramón Grau San Martín. Como não poderia ser diferente, a corrupção e a repressão às 
agitações populares foram marcas de sua gestão, em sintonia com o governo dos Estados 
Unidos. 
A fundação do novo partido por Chibás22 é pautada pela rejeição à degradação 
moral e econômica dos governos anteriores. O Partido do Povo Cubano (Ortodoxo) atrai 
apoio popular, entre eles o de Fidel Castro – um jovem estudante de Direito na época. 
 
O Partido do Povo Cubano (Ortodoxo) foi criado em 1947, a partir da ruptura de 
setores do Partido Revolucionário Cubano (PRC, Autêntico), governista, que 
denunciaram o caráter corrupto da administração de Grau San Martin e passaram a 
pautar sua ação pela busca de uma renovação ética na política nacional, sob a 
bandeira “Prometemos não roubar”, angariando crescente apoio do movimento 
estudantil. Seu favoritismo para vencer as eleições foi a principal motivação do 
golpe de Estado de 1952, que recebeu o apoio do governo dos Estados Unidos 
(AYERBE, 2004, p. 27). 
 
Nesse contexto, Fulgêncio Batista reassume o destaque no cenário político no país 
ao deflagrar novo golpe militar, o estopim para a ação que desencadeou a Revolução Cubana. 
Em 10 de março de 1952, ainda no governo de Socarrás, começava mais um 
capítulo da longa história de ditaduras em Cuba. A menos de três meses das eleições 
presidenciais, em que Batista era candidato, ele decidiu pela tomada do poder à força, 
prevendo a provável derrota nas urnas. Entre seus concorrentes estava Chibás, que cometeu 
suicídio antes do pleito e do golpe. 
 
Mesmo com a morte de Chibás, a candidatura de Batista seria provavelmente 
derrotada nas eleições convocadas para 1952, contra outro candidato ortodoxo que 
sucederia Chibás. Entretanto, o ex-sargento, com o aval do governo norte-
americano, que não via com bons olhos a corrente do líder falecido, deu um golpe 
militar no dia 10 de março (SADER, 1992, p. 30). 
 
 
22 Tratava-se de um político bastante popular, especialmente por conta de sua atuação contra a corrupção. 
Suicidou-se durante discurso na rádio CMQ (onde mantinha um programa semanal de expressiva audiência), ao 
vivo, após não conseguir provar as denúncias que fez contra o governo vigente. Esse discurso, em 5 de agosto de 
1951, ficou conhecido como El último aldabonazo. A morte de Chibás provocou comoção nacional. Mais de um 
milhão de pessoas acompanharam o funeral. A situação levou Fidel Castro a conclamar os militantes do partido e 
a sociedade cubana à revolução, e a afirmar tempos depois que, sem o legado do líder do Partido Ortodoxo, o 
Movimiento Revolucionario 26 de Julio não teria sido possível. 
37 
 
 
Poucos dias depois do golpe, Batista promulgou a Lei da Ordem Pública, que 
“suprimia os direitos democráticos do cidadão, instaurava a censura e assentava as bases 
legais para a atividade terrorista e repressiva das unidades aradas do regime” (CASTRO, 
1979, p. 20). 
É neste cenário que se começa a gestar a derrubada da ditadura de Batista por 
meio da luta insurrecional. 
 
1.1.3. INÍCIO DA LUTA ARMADA 
 
O processo revolucionário cubano liderado por Fidel Castro contra a ditadura de 
Batista teve início, como luta armada, em 26 de julho de 1953, quando foi deflagrado o 
assalto ao Quartel Moncada, na cidade de Santiago de Cuba, que abordaremos a seguir. Cabe, 
contudo, resgatar a construção dessa resistência. 
O Movimiento Revolucionario 26 de Julio começa a ser constituído logo após o 
golpe de Batista e é encabeçado por jovens militantes do Partido Ortodoxo, entre eles Fidel 
Castro. A estratégia foi de organização em células de menos de dez pessoas, que não tinham 
contato entre si (essa relação era proibida, inclusive). A Universidade de Havana, além de 
fornecer militantes para o M-26-7, era uma base importante para exercícios militares do 
grupo. Entre as características do movimento, destacavam-se a discrição e a disciplina. 
Sobre o perfil dos combatentes, afirmou Fidel: 
 
Nuestros jóvenes combatientes habían sido reclutados, además, en las capas más 
humildes del pueblo, trabajadores en su casi totalidad, procedentes de la ciudad y del 
campo, y algunos estudiantes y professionales no contaminados por los vicios de la 
política tradicional ni el anticomunismo que einfestaba el ambiente de la Cuba de 
entonces23 
 
Integrantes do movimento apontam para a rigidez comportamental à qual 
deveriam se submeter, como relata Gabriel Gil, militante do M-26-7: 
 
23 CASTRO, F. Fragmentos del discurso pronunciado por el Comandante em Jefe Fidel Castro Ruz, en e lacto 
central em conmemoración del ataque al cuartel Moncada. Revista

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