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Capítulo 1 IMPORTÂNCIA E DIVERSIDADE DOS INSETOS Existem milhões de tipos de insetos, ainda que nós não saibamos exatamente (ou mesmo aproximadamente) quantos. Nossa ignorância a respeito do número de organismos que dividem o planeta conosco é surpreendente, considerando que comparativamente milhões de estrelas e outros objetos galácticos estão listados, mapeados e têm nomes ou números únicos. Algumas estimativas (discutidas adiante) sugerem que a riqueza de espécies de insetos é tão grande que, a grosso modo, todos os organismos poderiam ser considerados insetos. As questões levantadas pela diversidade de insetos são muitas. Por exemplo, a vinheta deste capítulo mostra abelhas pertencentes a três gêneros, a partir da esquerda, Bombus, Apis e Trigona. Embora elas sejam morfologicamente parecidas umas com as outras, cada uma destas espécies difere das outras em tamanho e ecologia, além de suas preferências de polinização. A dominância dos insetos aplica-se a ecossistemas terrestres e de água doce, mas não se estende no ambiente marinho além da linha da maré alta. A curiosidade científica a respeito das identidades e estilos de vida dos habitantes do nosso planeta é justificativa suficiente para seu estudo. Além disso, quando aspectos econômicos são considerados, os efeitos de alguns insetos são enormes. Sem dúvida, nós devemos entender estes animais invasores. Neste capítulo de abertura nós delinearemos a importância ecológica dos insetos e seu uso pelos seres humanos, e discutiremos sua diversidade, distribuição e classificação. Iniciaremos introduzindo as funções ecológicas dos insetos. Depois, consideraremos uma contribuição pouco explorada dos insetos para nossas vidas - seu uso como alimento para os humanos. Exploraremos ainda a riqueza de espécies e ocorrência dos insetos e passaremos a uma discussão sobre os sistemas de nomenclatura e classificação. A seção final do capítulo é um resumo tabular das características de cada ordem de inseto. 1.1. O QUE É ENTOMOLOGIA? Entomologia é o estudo dos insetos e entomólogos são pessoas que os estudam. Existem incontáveis milhares de entomólogos no mundo inteiro, observando, coletando, criando e fazendo experimentos com insetos. As pesquisas feitas pelos entomólogos cobrem todas as disciplinas biológicas, incluindo evolução, ecologia, comportamento, anatomia, fisiologia, bioquímica e genética. A característica unificadora é que os organismos de estudo são insetos. Embora muitas pessoas que trabalham com insetos tenham postura profissional, a entomologia envolve muitos amadores, ainda que eles sejam em menor número que em ornitologia. Os biólogos escolhem trabalhar com insetos por muitas razões: a facilidade de manter culturas de laboratório, ciclos de vida curtos e disponibilidade de muitos indivíduos são fatores importantes. Os poucos problemas éticos que surgem com o uso experimental responsável de insetos, quando comparado com vertebrados, é outra consideração importante. É popularmente sabido que entomólogos matam ou ao menos controlam insetos, mas a entomologia inclui muitos aspectos positivos dos insetos, uma vez que seus benefícios para nós superam seus prejuízos. 1.2. A IMPORTÂNCIA DOS INSETOS Nós devemos estudar insetos por muitas razões. Além de apresentarem alta variação ecológica, eles freqüentemente dominam as cadeias e teias alimentares em biomassa e riqueza de espécies. As especializações alimentares dos diferentes grupos de insetos passam por detritivoria, saprofagia, xilofagia e micofagia (Capítulo 8), alimentação por filtração da água e pastejo (Capítulo 9), fitofagia (herbivoria), incluindo sucção de seiva (Capítulo 10), e carnivoria (predação e parasitismo) (Capítulo 12). Outros grupos de insetos mostram várias combinações destes principais tipos de alimentação. Os insetos podem ser aquáticos (Capítulo 9) ou terrestres ao longo de toda ou parte de suas vidas. Seus estilos de vida abrangem modos solitários, gregários, subsociais e altamente sociais (Capítulo 11). Eles podem ser conspícuos ou estar escondidos (Capítulo 13) e ativos durante o dia ou à noite. Os ciclos de vida dos insetos são adaptados a uma variedade de condições abióticas, incluindo extremos sazonais de calor e frio, seca e umidade, e climas previsíveis ou imprevisíveis. Os insetos são essenciais nos seguintes papéis nos ecossistemas: Reciclagem de nutrientes através da degradação da serapilheira foliar e lenhosa, disposição de carcaças e fezes, e movimentação do solo. Polinização de plantas e, às vezes, dispersão de sementes. Manutenção da composição e estrutura da comunidade vegetal através da fitofagia, incluindo alimentação de sementes. Manutenção de animais insetívoros, como muitos pássaros, mamíferos, répteis e peixes. Cada espécie de inseto é parte de uma comunidade mais ampla e, se alguma espécie for perdida, a complexidade e a abundância de outros organismos serão afetadas. De um ponto de vista antropocêntrico, alguns insetos prejudicam a saúde de animais domésticos e a nossa própria (Capítulo 14), e afetam adversamente a agricultura e a horticultura (Capítulo 15). Outros insetos beneficiam em alto grau a sociedade humana, tanto por nos fornecer alimento diretamente ou por sua contribuição para os materiais que utilizamos ou para o alimento que comemos. Por exemplo, as abelhas nos fornecem mel, mas elas são também importantes polinizadores na agricultura, movimentando cerca de 1,6 a 5,7 bilhões de dólares anualmente, apenas nos Estados Unidos. Além disso, o controle de pragas promovidos por besouros predadores, percevejos e vespas parasitóides, freqüentemente passa despercebido, especialmente por cidadãos urbanos. Os insetos também contêm uma grande quantidade de compostos químicos, alguns dos quais podem ser coletados, extraídos ou sintetizados e usados por nós. A seda dos casulos dos bichos-da-seda, Bombyx mori, tem sido usada em tecidos há séculos. O pigmento vermelho, coccineal, é obtido comercialmente de cochonilhas Dactylopius coccus cultivadas em cactos Opuntia. Outra cochonilha, o inseto da laca Kerria lacca, é uma fonte de um verniz comercial chamado laca. A quitina, um componente da cutícula dos insetos, ou um derivado da quitina, pode 3 agir como anticoagulante ou agente hemostático para reparação de tecidos em humanos, acelerando a cura de ferimentos e queimaduras, reduzindo o colesterol seral, servindo como um carreador de drogas não alergênicas, provendo um plástico biodegradável de grande força de tensão, e aumentando a remoção de poluentes de águas de despejo, apenas para mencionar algumas de suas possíveis aplicações. Os benefícios dos insetos são mais do que econômicos ou ambientais; características de certos insetos fazem com que eles sejam modelos úteis para o entendimento de processos biológicos em geral. Por exemplo, a então (ver original dispersa mosca da fruta), Drosophila melanogaster, tem um tempo de geração muito curto, alta fecundidade e facilidade de criação em laboratório e manipulação, fazendo com que seja ideal para a pesquisa genética e citológica. Esteticamente, a enorme variedade de estruturas e cores nos insetos é digna de admiração, seja em coleções ou em desenhos e fotografias. Por último, e provavelmente o mais importante, o enorme número de insetos significa que seu impacto no ambiente, e portanto nas nossas vidas, é altamente significativo. Os insetos constituem o maior componente da biodiversidade e, pelo menos por esta razão, nós devemos tentar entendê-los melhor. 1.2.1. Insetos como alimento humano: entomofagia O estudo dos insetos como alimento humano é um campo popular da entomologia que tem crescido muito. Cerca de 500 espécies de insetos em mais de 260 gêneros e 70 famílias são usados como alimento em alguma parte do mundo, especialmente na África central e meridional, na Ásia, Austrália e América Latina. No entanto, a sociedade ocidental tem ignorado a cozinhaentomológica. Os insetos têm alto valor protéico, energético e têm várias vitaminas e minerais: eles podem constituir 5-10% da proteína animal consumida anualmente por alguns povos indígenas. Insetos que servem como alimento geralmente alimentam-se de matéria vegetal viva ou morta, e espécies que têm proteção química são evitadas. Cupins, grilos, gafanhotos, besouros e larvas de mariposas são os insetos consumidos mais freqüentemente. A típica repugnância "ocidental" pela entomofagia é mais cultural do que científica ou racional. Mesmo porque outros invertebrados como certos crustáceos e moluscos são itens culinários bem vistos. As objeções ao uso de insetos como comida não pode ser justificada pelo sabor ou valor alimentar. Muitos são ditos ter um aroma agradável e estudos reportam favoravelmente sobre o conteúdo nutricional dos insetos, ainda que sua composição de aminoácidos não seja ideal e tenha que ser balanceada com proteína vegetal adequada. A Tabela 1.1 apresenta os valores nutricionais obtidos de análises conduzidas em amostras de quatro espécies de insetos cozidos de acordo com métodos tradicionais da Angola Central, África. Os insetos são: indivíduos reprodutores do cupim, Macrotermes subhyalinus (Isoptera: Termitidae), os quais são de-alados e fritos em óleo de palmeira; as grandes lagartas de duas espécies de mariposas, Imbrasia ertli e Usta terpsichore (Lepidoptera: Saturniidae), das quais são retiradas as vísceras e cozidas em água, assadas ou secas ao sol; e as larvas do besouro da palmeira, Rhynchophorus phoenicis (Coleoptera: Curculionidae), que são abertas e então fritas inteiras em óleo. Larvas maduras das espécies de Rhynchophorus vêm sendo apreciadas por povos das áreas tropicais da África, Ásia e Neotropicais por séculos. Essas larvas 4 gordas e sem pernas (Fig. 1.1), freqüentemente chamadas de vermes da palmeira, provêm uma das mais ricas fontes de gordura animal, com quantidades substanciais de riboflavina, tiamina, zinco e ferro (Tabela 1.1). Sistemas primitivos de cultivo, envolvendo o corte de palmeiras para prover alimento adequado aos besouros são conhecidos no Brasil, Colômbia, Paraguai e Venezuela. Em plantações, no entanto, os vermes da palmeira são tidos como pragas, pois causam sérios danos aos cocos vivos e às palmeiras oleíferas. Na África Central, povos do sul do Zaire comem lagartas pertencentes a algumas poucas dúzias de espécies. O valor calórico destas lagartas é alto; seu conteúdo protéico varia entre 45% a 80% e elas são uma fonte rica em ferro. Em locais onde existe uma falta crônica ou sazonal de proteína de vertebrados, como na (África ao sul Ver original) do Saara, a alternativa dos insetos é usada ou mesmo preferida. Por exemplo, as lagartas são a fonte mais importante de proteína animal em algumas áreas da Província Norte da Zâmbia. As lagartas comestíveis de uma mariposa imperial (Saturniidae), localmente chamadas mumpa, são muito valiosas como alimento. As pessoas viajam centenas de quilômetros para apanhar mumpa, provendo um mercado altamente lucrativo. As lagartas contêm 60-70% de proteína por peso seco e compensam a desnutrição causada por deficiência de proteína. As mumpas são tanto fritas frescas ou cozidas em água e secas ao sol antes da estocagem. Mais ao sul da África, os povos Pedi do norte do Transvaal preferem vermes mopanie, as larvas dos saturniídeos Gonimbrasia belina, a bifes. Nas Filipinas, besouros June (escarabeídeos melontíneos), formigas costureiras (Oecophylla smaragdina), grilos e gafanhotos servem como alimento em algumas regiões. Os gafanhotos formam um importante complemento da dieta durante os surtos, os quais aparentemente tornaram-se menos comuns desde o uso de inseticidas. Várias espécies de gafanhotos eram normalmente comidas pelas tribos nativas do oeste da América do Norte antes da chegada dos Europeus. O número e a identidade das espécies foram fracamente documentados mas sabe-se que espécies de Melanoplus eram consumidas. Para a coleta, os gafanhotos eram conduzidos por pessoas ou por fogo para um buraco no solo ou (então para uma carvão em brasa ver Original). Os aborígenes Australianos usam uma grande variedade de insetos como alimento, especialmente larvas de mariposas. As lagartas das mariposas de madeira ou fantasma (Cossidae e Hepialidae; Fig. 1.2) são chamadas de larvas "witchety", da palavra aborígene "witjuti" para as espécies da Acacia, das quais as larvas se alimentam, infestando as raízes e os ramos. As larvas witchety são consideradas especiarias: elas contêm 7-9% de proteína. 14-38% de gordura e 7- 16% de açúcares, além de serem boas fontes de ferro e cálcio. Os adultos da mariposa "bogong", Agrotis infusa (Noctuidae), formam outro alimento aborígene famoso, coletadas aos milhões em seus locais de repouso em cavernas e fendas estreitas em picos de montanhas no sudeste da Austrália. As mariposas cozidas na brasa provêm uma rica fonte de gordura. Uma fonte favorita de açúcar dos aborígenes Australianos que vivem em regiões áridas vem de espécies de Melophorus e Camponotus, popularmente conhecidas como formigas potes de mel. Operárias especializadas (chamadas repletas) são alimentadas com néctar por outras operárias, para armazená-lo em seus abdomens muito distendidos (Fig. 2.4). As repletas servem como 5 reservatórios de alimento para a colônia e regurgitam parte do conteúdo de seus abdomens quando solicitados por outra formiga. Os aborígenes cavam os ninhos subterrâneos para capturar repletas, uma atividade feita principalmente pelas mulheres, que às vezes escavam buracos de um metro ou mais de profundidade em busca destas doces recompensas. Ninhos individuais raramente suprem mais de 100 g de mel, o qual é essencialmente similar em composição ao mel comercial. Formigas de mel no oeste dos Estados Unidos e México pertencem a um gênero diferente, Myrmecocystus. As repletas, um alimento muito valioso, são coletadas por camponeses do México, um processo difícil no solo duro e rochoso onde as formigas nidificam. Mesmo nas regiões urbanas dos Estados Unidos alguns insetos são ainda um alimento popular. Os milhões de cigarras de 17 anos que periodicamente assolam cidades como Chicago são comestíveis. Cigarras recém eclodidas, chamadas de tenerais, são consumidas em função da sua cutícula mole, o que significa que elas podem ser consumidas sem ser necessário remover antes as pernas e asas. Essas especiarias deliciosas podem ser marinadas ou refogadas e então fritas, cozidas e temperadas ou assadas. A coleta em larga escala ou a produção em massa de insetos para consumo humano traz alguns problemas práticos. O pequeno tamanho da maioria dos insetos apresenta dificuldades na coleta ou criação e no processamento para a venda. A imprevisibilidade de muitas populações selvagens necessita ser suplantada pelo desenvolvimento de técnicas culturais. No entanto, existem várias vantagens. O encorajamento da entomofagia em muitas sociedades rurais, particularmente naquelas com histórico de uso de insetos, pode ajudar a diversificar a dieta dos povos. Através da incorporação de coleta em massa de insetos praga em programas de controle, o uso de pesticidas pode ser reduzido. Além disso, o cultivo de insetos para produção de proteína deve ser menos menos daninho ao ambiente do que a criação de gado, que devasta florestas e campos nativos. A criação de insetos é compatível com baixa entrada, agricultura sustentável e muitos insetos têm uma alta eficiência de conversão alimentar comparados com animais usados convencionalmente). Talvez o bugburger, cricketburger ou beeburger venham tornar-se alternativas aceitáveis ao bem conhecido hamburger Americano. 1.2.2. Insetos como alimento para animais domesticados Se não lhe agrada o prospecto de comer insetos, então talvez o conceito de insetos como fonte de proteína para animais domésticos seja mais aceitável. O valor nutritivo de insetoscomo alimento de peixes, aves, porcos e doninhas Mustela vison (que vira os famoso casacos de Mink ou vison) é certamente reconhecido na China, onde testes alimentares mostraram que dietas derivadas de insetos podem ser alternativas de custo eficiente às dietas mais convencionais de carne e peixe. Os insetos envolvidos são primariamente as larvas e pupas das moscas domésticas (Musca domestica), as pupas de lagartas de bicho-da-seda (Bombyx mori) e as larvas de besouros (Tenebrio molitor). Os mesmos insetos (ou outros relacionados), estão sendo usados ou investigados em outros locais, principalmente como alimento de aves e peixes. Pupas de bichos-da-seda, um sub-produto da indústria da seda, podem ser usadas como um suplemento rico em proteína para galinhas. Na Índia, as aves são alimentadas com o que resta das 6 larvas, após o óleo ter sido extraído. Larvas de moscas dadas às galinhas podem reciclar o composto orgânico e o desenvolvimento de um sistema de reciclagem para converter dejetos orgânicos em suplemento alimentar é inevitável, dado que muitas substâncias orgânicas servem de alimento a uma ou mais espécies de insetos. Claramente os insetos podem formar parte da base nutricional para pessoas e seus animais domésticos. Mais pesquisas são necessárias e um banco de dados com identificações acuradas é imprescindível para manusear a informação biológica. Nós devemos saber com qual espécie estamos trabalhando para podermos usar a informação colhida em outros locais com o mesmo inseto ou insetos relacionados. Dados a respeito do valor nutricional, ocorrência sazonal, plantas hospedeiras ou outras necessidades alimentares, e métodos de criação e coleta devem ser organizados para todos os insetos que podem ser potencialmente usados, ou que já são usados. As oportunidades para empreendimentos utilizando insetos como alimento são numerosas, dada imensa diversidade de insetos. 1.3. DIVERSIDADE DE INSETOS 1.3.1. Estimativas da diversidade de insetos As estimativas da riqueza de espécies de insetos variam de menos de cinco milhões a mais de 80 milhões de espécies. Extrapolações feitas a partir da razão do número de espécies nas regiões temperada:tropical para grupos bem conhecidos (como vertebrados) nas áreas temperadas bem conhecidas para as áreas essencialmente desconhecidas dos trópicos, provêm estimativas conservativamente baixas). No entanto, amostragens recentes da fauna previamente desconhecida dos estratos superiores (dossel) das florestas úmidas, aumentaram muito as idéias prévias a respeito do número de espécies de insetos. Muito deste aumento estimado veio de besouros arbóreos (Coleoptera), mas outros grupos claramente são mais numerosos do que se acreditava anteriormente. Os fatores chaves em cálculos mais recentes da diversidade tropical incluem a identificação do número de espécies de besouros encontrados, (ver original a alocação a grupos alimentares), o grau inferido de especificidade à arvore hospedeira amostrada e a proporção entre besouros e outros artrópodes. Certas premissas podem ser contestadas e algumas reanálises inclinam em direção às estimativas conservadoras anteriores, ainda que outras levem a estimativas ainda maiores do número global de espécies de insetos. Será que a evolução ("Deus") realmente mostra uma atração extravagante por besouros, como brincou certa vez J.B.S. Haldane? Geralmente os Coleoptera são tidos como a ordem de insetos mais rica em espécies. Isso pode ser verdade em locais como Austrália, Japão e América do Sul tropical, mas a alta diversidade relativa de besouros pode ser um artefato de coletas e pesquisa pelos entomólogos. Em algumas regiões temperadas bem estudadas como Grã- Bretanha e Canadá, espécies de moscas verdadeiras (ordem Diptera) parecem ser mais numerosas do que besouros. Estudos recentes de insetos de dossel da ilha tropical de Bornéo mostraram que tanto os Hymenoptera (vespas, formigas e abelhas) quanto os Diptera podem ser mais diversos que os Coleoptera. 7 Inventários regionais (extensivos ver original) ou estimativas convincentes da diversidade de insetos podem eventualmente nos dizer qual é a ordem de inseto que é mais diversa globalmente. Se a nossa estimativa é de 30-80 milhões de espécies, ou uma ordem de magnitude a menos, os insetos constituem cerca de metade da diversidade de espécies global (Fig. 1.3). Se nós considerarmos apenas a vida terrestre, os insetos compreendem uma proporção ainda maior das espécies vivas, uma vez que a radiação dos insetos é um fenômeno predominantemente terrestre. A nossa percepção da importância relativa dos insetos para a diversidade global pode ser um pouco diminuída se a diversidade marinha, na qual os insetos têm uma contribuição negligível, for muito maior do que se acreditava previamente. Pesquisas recentes em oceano profundo, que revelaram cerca de 800 espécies de animais vivendo em uma pequena área do substrato oceânico da costa leste dos Estados Unidos, permitem estimativas de uma diversidade marinha total de 10 milhões de espécies, ainda que esta estimativa seja contestada. 1.3.2. Algumas razões para a diversidade de insetos Seja qual for a estimativa global, os insetos constituem um grupo de organismos extremamente rico em espécies (Fig. 1.3). Sua alta diversidade de espécies tem sido atribuída a vários fatores. O tamanho reduzido dos insetos, uma limitação imposta pelo seu método de trocas gasosas via traquéias, é um determinante importante da riqueza de espécies. Existem mais nichos em qualquer ambiente para organismos pequenos do que para organismos grandes. Assim, uma única árvore de acácia, que pode prover uma refeição para uma girafa, pode propiciar o desenvolvimento completo do ciclo de vida para dúzias de espécies de insetos, como as borboletas licenídeas cujas larvas comem as folhas, um percevejo que suga a seiva dos ramos, um besouro longicorno cava a madeira, uma mosca que faz galhas nos botões florais, um besouro bruquídeo que destrói as sementes, um pulgão que suga a seiva das raízes, e várias espécies de vespas que parasitam cada um desses fitófagos especializados. Uma acácia adjacente de uma espécie diferente pode servir de alimento à mesma girafa, mas pode possuir uma composição de insetos inteiramente diferente. O ambiente pode ser visto como mais heterogêneo da perspectiva de um inseto do que da perspectiva de um mamífero ou um pássaro. O tamanho pequeno por si só não é suficiente para permitir uma exploração desta heterogeneidade ambiental, uma vez que os organismos têm que ser capazes de reconhecer e responder às diferenças ambientais. Os insetos têm sistemas sensoriais e neuro-motores mais organizados do que muitos outros invertebrados, talvez comparáveis aos dos animais vertebrados. Além disso, os insetos diferem dos vertebrados não só no tamanho, mas também na sua forma de responder às mudanças ambientais. Geralmente, os animais vertebrados têm vida mais longa do que os insetos e os indivíduos podem adaptar-se às mudanças por algum grau de aprendizado. Os insetos, por outro lado, normalmente respondem às condições alteradas ou suportam-nas (por exemplo, a aplicação de inseticidas à sua planta hospedeira) através de mudanças genéticas (por exemplo, levando à resistência ao inseticida). Uma alta heterogeneidade genética ou elasticidade nas espécies de insetos permite a persistência em face às mudanças ambientais. A persistência expõe as espécies a processos que 8 promovem a especiação, predominantemente envolvendo fases de expansão da distribuição e subseqüente fragmentação. Tanto as pressões de seleção como os processos estocásticos (i.e., ao acaso) podem resultar em alterações genéticas relativamente rápidas que fixam-se espacial ou temporalmente em populações isoladas. Todas as características dos insetos descritas acima fazem com que seja possível uma outra influência diversificadora potencial que pode ser responsávelpela riqueza de espécies dos insetos como um grupo. As interações com outros organismos, como plantas no caso de insetos herbívoros ou hospedeiros no caso de insetos parasitas, podem gerar diversificação de comedores e comidos. Essas interações são mais freqüentemente chamadas de coevolução e são discutidas em maior detalhe nos Capítulos 7 e 10. A natureza recíproca destas interações pode acelerar as mudanças evolutivas em um dos parceiros ou em ambos, talvez levando a grandes radiações em alguns grupos em particular. Comparações entre grupos de insetos e entre insetos e seus parentes próximos pode nos ajudar a entender as razões para a diversidade dos insetos. Quais são as características em comum das ordens de insetos mais ricas em espécies, os Coleoptera, Hymenoptera, Diptera e Lepidoptera? Quais características dos insetos que faltam em outros artrópodes, como aracnídeos (aranhas, ácaros, escorpiões e afins)? Nenhuma explicação simples emerge destas comparações; características de conformação de corpo, padrões de ciclos de vida flexíveis e hábitos alimentares provavelmente desempenham um papel importante e alguns desses fatores são explorados mais detalhadamente no Capítulo 7. É notável que os aracnídeos, em contraste com os grupos de insetos de maior sucesso, não tenham asas, não tenham transformação completa da forma corpórea durante o desenvolvimento (metamorfose) e usualmente não tenham uma dependência alimentar completa em organismos específicos. Ácaros, o grupo mais diverso e abundante de aracnídeos, são excepcionais por possuírem muitas associações específicas com outros organismos vivos. A alta persistência das espécies ou (ver original linhagens ou abundância numéricas) de espécies individuais são todas tidas como indicadores do sucesso dos insetos. No entanto, os insetos seriam considerados como tendo menos sucesso do que os vertebrados em pelo menos uma medida popular de sucesso, aquela do tamanho corpóreo. O maior inseto vivo é uma libélula que têm 15 cm de asas, mas os fósseis nos mostram que no passado os insetos eram consideravelmente maiores do que os atuais. Por exemplo, no Carbonífero Superior, tisanuros da espécie Ramsdelepion schusteri, tinha um comprimento de corpo de 6 cm e muitos insetos alados do Carbonífero tinham asas que excediam 45 cm de uma ponta à outra. Uma libélula do Permiano, Meganeuropsis americana, as asas tinham 71 cm de uma ponta à outra. Notavelmente nesses insetos grandes, o tamanho vinha acompanhado de um corpo fino e elongado, ainda que o inseto vivo mais pesado, o besouro rinoceronte Dynastes hercules (16 cm de comprimento), seja uma exceção e possua um corpo massivo. A maioria dos insetos fica entre um gradiente que vai de 1-10 mm de comprimento, mas alguns foram além na miniaturização e podem ser muito pequenos: vespas mirmarídeas (parasitas de ovos de insetos), com um comprimento de corpo de cerca de 0,3 mm, não são excepcionais. 9 As barreiras ao grande tamanho incluem a limitação do sistema traqueal para a difusão dos gases por distâncias extensas, dos músculos ativos através dos espiráculos ao ambiente externo (Quadro 3.2). Maiores elaborações do sistema traqueal não puderam ser feitas sem comprometer o balanço de água em insetos grandes. Muitos insetos grandes, sendo estreitos, não estenderam muito a distância máxima entre a fonte externa de oxigênio e o local muscular de trocas gasosas, quando comparados a um inseto menor. Em resumo, a radiação de muitas linhagens de insetos provavelmente dependeram de: (a) tamanho pequeno dos indivíduos combinado com (b) tempo de geração curto, (c) sofisticação sensorial e neuro-motora, (d) interações evolutivas com plantas e outros organismos, (e) metamorfose e (f) adultos alados. O tempo substancial desde a origem de cada um dos principais grupos de insetos permitiu uma ampla oportunidade para a diversificação das linhagens (Capítulo 7). A diversidade de espécies atual resulta tanto das altas taxas de especiação (para as quais existe apenas evidência limitada) e/ou baixas taxas de extinção de espécies (maior persistência) do que em outros organismos. 1.4. DISTRIBUIÇÃO DOS INSETOS Uma das observações mais marcantes é que diferentes plantas e animais vivem em países diferentes. Isso é mais do que um questão de climas e ecologias diferentes: por exemplo, a Austrália tem árvores adequadas mas nenhum pica- pau, florestas tropicais sem primatas e pradarias sem ungulados nativos. Os desertos Norte-americanos não têm cactos, mas têm vários análogos incluindo euforbiáceas suculentas. A biogeografia é o estudo destas distribuições, da história passada e das atuais explicações ecológicas para estas distribuições. Os insetos, não menos do que as plantas e vertebrados, mostram padrões de restrição a uma área geográfica (endemismo) e os entomólogos estiveram e ainda estão entre os biogeógrafos mais proeminentes. Os humanos, no entanto, têm sido responsáveis pela perda de muito endemismo e a expansão das distribuições de muitas espécies, de forma que muitos dos nossos insetos mais familiares são cosmopolitas (ou seja, ocorrem em virtualmente todo o mundo) em suas distribuições. Existem pelo menos cinco explicações para a expansão de tantos insetos, de uma distribuição previamente restrita para o cosmopolitismo. · Muitos insetos (ligados ao ver original) homem (antropofílicos), tais como baratas, traças e moscas domésticas, acompanham os humanos virtualmente para todos os locais. · Os humanos criam habitats perturbados aonde quer que vão e, alguns insetos sinantrópicos (associados aos humanos) agem como plantas invasoras e têm a capacidade de levar mais vantagem nas condições perturbadas do que as espécies nativas. A sinantropia é uma associação mais fraca do que a antropofilia. · Os insetos (e outros artrópodes) que são parasitas externos (ectoparasitas) e internos (endoparasitas) de humanos e de animais domésticos são freqüentemente cosmopolitas. · Os humanos dependem de poucos cultivos para a alimentação, muitos dos quais são cultivados de maneira muito ampla. Insetos que se alimentam de plantas (fitófagos) associados a espécies de plantas antes endêmicas e agora domesticadas e disseminadas pelos humanos podem seguir o cultivo e, como pragas, espalhar-se e prejudicar a colheita aonde quer que ela seja cultivada: muitos têm feito isso. · Os insetos expandiram suas distribuições por introdução antropogênica (ajudado pelos humanos) deliberada de algumas espécies como agentes de controle biológico, para controlar pragas de plantas e animais, incluindo outros insetos. 10 Tentativas têm sido feitas para restringir o embarque de pragas da agricultura e da veterinária, através de regulações de quarentena, mas muito da mistura de faunas de insetos já ocorreu antes da implementação de medidas efetivas. Assim, insetos praga tendem a ser idênticos em partes climáticas semelhantes no mundo, e a entomologia aplicada deve ter uma perspectiva mundial em seus estudos. 1.5. NOMENCLATURA E CLASSIFICAÇÃO DOS INSETOS A nomenclatura formal dos insetos segue as regras de nomenclatura desenvolvidas para todos os animais (as plantas têm um sistema ligeiramente diferente). Nomes científicos formais são necessários para uma comunicação sem ambigüidade entre todos os cientistas, não importando sua língua nativa, entre as milhares usadas no mundo. Nomes vernaculares (comuns) não podem preencher esta necessidade: o mesmo inseto pode ter nomes vernaculares diferentes mesmo entre pessoas que falam a mesma língua. Por exemplo, os britânicos chamam de "ladybirds" os mesmos besouros coccinelídeos que são conhecidos pelos americanos de "ladybugs" (joaninhas). Muitos insetos não têm nome vernacular, ou o mesmo nome comum é dado a muitas espécies, como se fossem uma só espécie. Essas dificuldades foram resolvidas pelo sistema Linneano, no qual cada espécie descrita recebe dois nomes. O primeiro é o nomegenérico, utilizado normalmente para um agrupamento maior do que o segundo nome, que é o nome específico. Estes nomes latinizados sempre são usados juntos e são escritos em itálico, como neste livro. A combinação dos nomes genérico e específico provê um nome único para cada organismo. Assim, o nome Aedes aegypty é reconhecido por qualquer entomologista médico, em qualquer lugar, qualquer que seja o nome local (e existem muitos) para este mosquito transmissor de doenças. Em publicações científicas, o nome da espécie é freqüentemente seguido do nome da pessoa que originalmente descreveu a espécie e talvez o ano em que a espécie foi legalmente publicada. Neste livro nós não seguimos esta prática mas, quando insetos em particular são discutidos, nós damos os nomes da ordem e da família às quais a espécie pertence. Em publicações, após a primeira citação da combinação dos nomes genérico e específico no texto, é uma prática comum em citações subseqüentes abreviar o gênero com apenas a letra inicial (e.g. A. aegypty). No entanto, onde isto possa ser ambíguo, como para dois gêneros de mosquitos Aedes e Anopheles, as duas letras iniciais Ae. e An. são usadas, como no Capítulo 14. Vários grupos, também chamados de taxa, são reconhecidos entre os insetos. Como para todos os outros organismos, o táxon biológico básico, que fica acima do indivíduo e da população, é a espécie, que é a unidade fundamental de nomenclatura em taxonomia, (ver original quanto em, de maneira contestável, em evolução). Estudos multi-específicos permitem o reconhecimento de gêneros, que são grupos superiores mais ou menos discretos. De uma maneira similar, os gêneros podem ser agrupados em tribos, as tribos em subfamílias, e as subfamílias em famílias. As famílias de insetos são colocadas em grupos relativamente grandes, mas facilmente reconhecíveis, chamados ordens. Esta hierarquia de grupos (ou categorias) se estende assim do nível de espécie, através de uma série níveis "superiores" de (inclusividade ver original) maior e 11 maior, até que todos os insetos verdadeiros sejam incluídos em uma classe, os Insecta. Existem sufixos padronizados para certos grupos na hierarquia taxonômica, de forma que o grupo pode ser reconhecido pela inspeção de sua terminação (Tabela 1.2). De acordo com o sistema de classificação usado, cerca de 26 a 29 ordens de Insecta podem ser reconhecidas. As diferenças surgem principalmente porque não existem regras rápidas e seguras para decidir os grupos taxonômicos citados acima. Existe apenas uma concordância geral de que os grupos devem ser monofiléticos, compreendendo todos os descendentes de um ancestral comum (Capítulo 7). As ordens têm sido reconhecidas de maneira relativamente arbitrária nos últimos dois séculos, e o máximo que se pode dizer é que as ordens presentemente constituídas contêm insetos semelhantes, que têm diferenças em comum com outras ordens de insetos. Ao longo do tempo, um sistema de classificação relativamente estável se desenvolveu, mas permaneceram diferenças de opinião com relação aos limites entre os grupos, com "divisionistas" reconhecendo um número maior de grupos e "agrupacionistas" favorecendo categorias mais amplas. Por exemplo, alguns taxonomistas americanos agrupam os Megaloptera e os Raphidioptera em uma ordem, os Neuroptera, enquanto outros, incluindo nós mesmos, dividem o grupo e reconhecem três ordens separadas (embora relacionadas), Megaloptera, Raphidioptera e um grupo Neuroptera mais definido. Às vezes a ordem Hemiptera é dividida em duas ordens, Homoptera e Heteroptera, ainda que a validade (monofilia) do grupo Homoptera seja questionável (Quadro 10.8). Neste livro nós reconhecemos 29 ordens para as quais as características físicas e as biológicas dos seus taxa constituintes são descritas, e suas relações consideradas. Entre estas ordens, distinguimos as ordens "principais", baseados nos números de espécies, sendo apreciavelmente maiores nos Coleoptera, Diptera, Lepidoptera, Hymenoptera e Hemiptera do que nas ordens "menores". Além disso, as ordens menores freqüentemente têm ecologias relativamente homogêneas, que podem ser resumidas convenientemente em um único Quadro descritivo/ecológico, seguindo os capítulos baseados em ecologia (Capítulos 8-14). As ordens principais são menos prontamente sumariadas ecologicamente e a informação pode aparecer em dois capítulos. Um resumo das características diagnósticas de todas as 29 ordens de insetos, mais as três ordens de ordens de hexápodes não-insetos (Protura, Collembola e Diplura), referências para identificação completa e informações ecológicas, é mostrado na Tabela 1.3. Tabela 1.1. Análises minerais e vitamínicas aproximadas de quatro insetos comestíveis de Angola (porcentagens das necessidades humanas diárias/100 g de insetos consumidos) (segundo Santos Oliveira et al., 1976, adaptado por DeFoliart, 1989) Nutriente Necessidade per capita Macrotermes subhyalinus (Termitidae) Imbrasia ertli (Saturniidae) Usta terpsichore (Saturniidae) Rhynchophoru s phoenicis (Curculionidae ) Energia 2850 kcal 21,5% 13,2% 13,0% 19,7% Proteína 37 g 38,4 26,3 76,3 18,1 Cálcio 1 g 4,0 5,0 35,5 18,6 Fósforo 1 g 43,8 54,6 69,5 31,4 Magnésio 400 mg 104,2 57,8 13,5 7,5 12 Ferro 18 mg 41,7 10,6 197,2 72,8 Cobre 2 mg 680,0 70,0 120,0 70,0 Zinco 15 mg - - 153,3 158,0 Tiamina 1,5 mg 8,7 - 244,7 201,3 Riboflavina 1,7 mg 67,4 - 112,0 131,7 Niacina 20 mg 47,7 - 26,0 38,9 Tabela 1.2. Categorias taxonômicas (as categorias obrigatórias são mostradas em negrito) Categoria taxonômica Sufixo padrão Ordem Subordem SuperfamÌlia -oidea Família -idae SubfamÌlia -inae Tribo -ini GÍnero SubgÍnero Espécie Tabela 1.3. Resumo das características diagnósticas das três ordens de hexápodos não-insetos e das 29 ordens de Insecta Protura (proturos) Muito pequenos, sem asas, sem olhos, sem antenas, entognatos (partes bucais dentro de dobras da cabeça), pernas dianteiras viradas posteriormente, segmentos torácicos iguais aos abdominais, pernas com cinco segmentos, abdômen do adulto com 12 segmentos sem cercos; est·dios imaturos como pequenos adultos mas com menos segmentos abdominais. Capítulo 8 Box 8.2 Collembola (colêmbolos) Pequenos, sem asas, partes bucais entognatas, antenas presentes, segmentos torácicos parecidos com os abdominais, pernas com quatro segmentos, abdômen com 6 segmentos com tubo ventral e fúrcula usado para saltar, sem cercos; estádios imaturos iguais a pequenos adultos, com um número constante de segmentos. Capítulo 8 Box 8.2 Diplura (dipluros) Pequenos a médios, sem asas, sem olhos, entognatos, longas antenas como um colar de contas, segmentos torácicos iguais aos abdominais, pernas com cinco segmentos, abdômen com 10 segmentos, alguns segmentos com pequenas protrusıes, cercos terminais filiformes ou em forma de pinÁa; est·dios imaturos como pequenos adultos. Capítulo 8 Box 8.2 Archaeognatha Tamanho moderado, sem asas, com tórax abaulado, hipognatos (partes bucais dirigidas para baixo), grandes olhos compostos quase em contato, alguns segmentos abdominais com estilos e vesículas pareadas, com três "caudas" (cercos pareados) menores do que o apêndice caudal mediano único; estádios imaturos como pequenos adultos. Capítulo 8 Box 8.3 Thysanura (traças) Médios, achatados, com escamas prateadas, sem asas, hipognatos a prognatos (partes bucais dirigidas para baixo ou para frente), olhos compostos pequenos, bem separados ou ausentes, alguns segmentos abdominais com estilos ventrais, com três "caudas" (cercos pareados) quase tão longos quanto o apêndice caudal mediano; estádios imaturos como pequenos adultos. Capítulo 8 Box 8.3 Ephemeropter a (efeméridas) Pequenos a grandes, alados com grandes asas triangulares anteriores e asas posteriores menores, peças bucais reduzidas, olhos compostos grandes, longas antenas filiformes,abdômen fino comparado ao tórax corpulento, com três "caudas" (cercos pareados) frequentemente tão longos quanto o apêndice caudal mediano; estádios imaturos (ninfas) aquáticas, com três "caudas" e brânquias com placas abdominais, penúltimo ínstar como um subimago alado. Capítulo 9 Box 9.1 13 com placas abdominais, penúltimo ínstar como um subimago alado. Odonata (libÈlulas) Médios a grandes, alados, com asas anteriores e posteriores iguais (Zygoptera) ou asas posteriores mais largas do que as anteriores (Anisoptera), cabeça móvel, com grandes olhos compostos separados (Zygoptera) ou quase em contato (Anisoptera), partes bucais mandibuladas, antenas curtas, tórax alargado, abdômen fino; estádios imaturos (larvas) aquáticos, robustos ou pequenos, com "máscara labial extensível, brânquias terminais ou retais. Capítulo 9 Boxes 5.3, 9.2 Orthoptera (gafanhotos, locustas, esperanças, grilos) Médios a grandes, hipognatos, usualmente alados, asas anteriores usualmente formando uma tegmina coriácea, asas posteriores largas, em descanso dobradas sob a tegmina, pronoto curvado sobre a pleura, asas posteriores frequentemente alargadas para salto, cercos com um segmento; estágios imaturos (ninfas) como pequenos adultos. Capítulos 5, 6, 10 Boxes 5.2, 10.5 Phasmatodea (bicho-pau) Médios a grandes, cilÌndricos como gravetos ou achatados como folhas, prognatos, mandibulados, olhos compostos pequenos e colocados lateralmente, asas anteriores formas tegmina coriácea, asas posteriores largas com margem anterior endurecida, pernas alongadas para caminhar, cercos com um segmento; estádios imaturos (ninfas) como pequenos adultos. Capítulos 10, 13 Box 10.6 Grylloblattode a Médios, corpo mole, alongados, plidos, sem asas e frequentemente sem olhos, prognatos, com coxas grossas em pernas adaptadas para correr, cercos com 5-9 segmentos, fÍmea com ovipositor curto; estágios imaturos (ninfas) como pequenos adultos plidos. Capítulo 8 Box 8.4 Dermaptera (lacrainhas, tesourinhas) Pequenos a médios, alongados e achatados, prognatos, antenas curtas, pernas curtas, se as asas estão presentes, as asas anteriores são pequenas tegminas coriáceas, asas posteriores semi-circulares, abdômen em telescópio, cercos modificados em pinças; estádios imaturos (ninfas) parecem pequenos adultos. Capítulo 8 Box 8.5 Isoptera (tÈrmitas ou cupins) Pequenos a médios, mandibulados (com desenvolvimento das peças bucais variável em castas diferentes), antenas longas, olhos compostos frequentemente reduzidos, em formas aladas, as asas anteriores e posteriores usualmente semelhantes, frequentemente com venação reduzida, corpo terminando em cercos com 1-5 segmentos; est·dios imaturos morfologicamente variáveis (polimórficos) de acordo com a casta. Capítulo 11 Box 11.4 Blattodea (baratas) Pequenos a grandes, achatados dorsoventralmente, hipognatos, olhos compostos bem desenvolvidos (exceto em insetos de cavernas), protórax grande e em forma de escudo (pode cobrir a cabeça), asas anteriores formadas como uma tegmina cori·cea, protegendo grandes asas posteriores, grandes lobos anais nas asas posteriores, coxas grandes, tocando a região ventral, cercos usualmente multisegmentados; estádios imaturos (ninfas) como pequenos adultos. Capítulo 8 Boxes 8.6, 11.1 Mantodea (louva-deus) Médios a grandes, cabeça pequena, móvel e triangular, olhos compostos grandes e separados, tórax fino, asas anteriores formam tegmina, asas posteriores largas, pernas anteriores predadoras (raptoriais), pernas medianas e posteriores alongadas; estádios imaturos (ninfas) parecem pequenos adultos. Capítulo 12 Boxes 5.2, 12.2 Zoraptera (zorápteros) Pequenos, parecidos com cupins, hipognatos, espécies aladas com olhos e ocelos, espécies sem asas sem olhos e sem ocelos, se aladas então venação simples e de abcisão fácil, coxas bem desenvolvidas, abdômen 11-segmentado, curto e inchado; estádios imaturos (ninfas) parecem pequenos adultos. Capítulo 8 Box 8.4 Plecoptera (plecópteros) Médios, com asas anteriores e posteriores quase iguais (subiguais) em tamanho, em repouso as asas envolvem em parte o abdômen e estendem-se além do ápice do abdômen mas redução das asas é frequente, pernas fracas, abdômen mole com alguns resquícios de 3 "caudas"; estádios imaturos (ninfas) aquáticos, parecendo muito os adultos. Capítulo 9 Box 9.3 14 Embioptera (embiópteros) Pequenos a moderados, alongados, cilíndricos, prognatos, olhos compostos em forma de rim, sem asas em todas as fêmeas, alguns machos com asas moles e flexíveis, pernas curtas, tarso da perna anterior alargado com glândula de seda, cercos com dois segmentos; estádios imaturos (ninfas) como pequenos adultos. Capítulo 8 Box 8.4 Thysanoptera (trips) Pequenos, finos, hipognatos com um tubo de alimentação formado a partir de três estiletes - as lacínias maxilares mais a mandíbula esquerda, com ou sem asas, se presentes as asas subiguais, em forma de fita, com longos pêlos; estádios imaturos (ninfas/larvas) como pequenos adultos. Capítulo 10 Box 10.7 Hemiptera (percevejos, cigarras, pulgıes, afÌdeos, cochonilhas, etc.) Pequenos a grandes, estiletes bucais repousando em uma probÛscide (ou rostro) dirigido posteriormente, sem palpos, asas anteriores podem ser engrossadas para formar hemiélitros (Heteroptera), redução de asas ou ausência é comum; estádios imaturos (ninfas) usualmente parecidos com pequenos adultos. Capítulos 9, 10 Boxes 3.3, 8.1, 9.5, 10.8, 15.4, 15.5 Psocoptera (psÛcidos) Pequenos a médios, cabeça grande e móvel, peças bucais mastigadoras assimétricas, palpos labiais reduzidos, olhos compostos grandes, antenas longas e finas, asas frequentemente reduzidas ou ausentes, se presentes venação simples, pareadas em luta, mantidas em forma de telhado em repouso, cercos ausentes; estádios imaturos (ninfas) como pequenos adultos. Capítulo 10 Box 10.9 Phthiraptera (piolhos) Pequenos, achatados dorsoventralmente, sem asas, ectoparasitas, peças bucais mandibuladas ou em forma de bico, olhos compostos pequenos ou ausentes, antenas em cavidades ou estendidas, pernas alargadas com fortes garras para segurar os pêlos ou penas do hospedeiro; estádios imaturos (ninfas) como adultos pequenos e p·lidos. Capítulos 12, 14 Box 14.2 Coleoptera (besouros) Pequenos a grandes, frequentemente duros e compactos, altamente esclerotizados ou armados, mandibulados, com asas anteriores modificadas como élitros rígidos cobrindo as asas posteriores dobradas em repouso, pernas modificadas de várias maneiras, frequentemente com garras e estruturas adesivas; estádios imaturos (larvas) terrestres ou aquáticas com cápsula cefálica esclerotizada, mandíbulas opostas e usualmente pernas torácicas 5-segmentadas, sem pernas abdominais ou glândula de seda labial. Capítulos 9, 10 Boxes 9.5, 10.2, 10.10, 13.3, 15.1 Strepsiptera Pequenos, endoparasitas aberrantes; macho com cabeça grande, olhos protraídos com poucas facetas, antenas com ramificações, asas anteriores reduzidas com pouca venação, asas posteriores em forma de leque com pouca venação; fêmea larviforme, sem asas, dentro do hospedeiro; estádios imaturos (larvas) inicialmente um triungulino com 3 pares de pernas torácicas, mais tarde vermiforme ápodo sem peças bucais. Capítulo 12 Box 12.4 Neuroptera (formigas-leão) Médios, prognatos, olhos compostos grandes e separados, mandibulados, protórax frequentemente maior do que o meso- e o metatórax, asas mantidas como um telhado em repouso, asas anteriores e posteriores subiguais com numerosas nervuras transversais com uma definição maior de nervuras no lado distal, sem dobra anal; estádios imaturos (larvas) predominantemente terrestres, prognatos, com mandíbulas finas e maxilas usualmente formando peças bucais cortantes/sugadoras, compernas articuladas apenas no tórax, sem brânquias abdominais. Capítulo 12 Boxes 9.5, 12.3 Megaloptera Médios, olhos compostos grandes e separados, prognatos, mandibulados, protórax apenas pouco mais longo do que meso- e o metatórax, asas anteriores e posteriores subiguais com dobra anal nas posteriores; estádios imaturos (larvas) aquáticos, prognatos, com mandíbulas alargadas, pernas articuladas apenas no tórax, com brânquias traqueais no abdômen. Capítulo 12 Boxes 9.5, 12.3 Raphidioptera Médios, prognatos, mandibulados, antenas multisegmentadas, olhos Capítulo 12 15 compostos grandes e separados, protórax muito mais longo do que o meso- e o metatórax, asas anteriores um pouco mais longas do que as posteriores, que são semelhantes, sem dobras anais; estádios imaturos (larvas) terrestres, prognatos com pernas articuladas apenas no tórax, sem brânquias abdominais. Box 12.3 Hymenoptera (vespas, abelhas, formigas) Muito pequenos a grandes, peças bucais mandibuladas a sugadoras e mastigadoras, antenas multisegmentadas frequentemente longas e projetadas para a frente, tórax 3-segmentado ou formando um mesosoma pela incorporação do 1° segmento abdominal e nesse caso o abdômen é peciolado (com cintura), asas com venação simples, asas anteriores e posteriores mantidas juntas através de ganchos nas asas posteriores; estádios imaturos (larvas) muito variáveis, muitas completamente sem pernas, todas têm mandíbulas distintas mesmo se a cabeça é reduzida. Capítulos 10, 11, 12 Boxes 10.3, 10.4, 11.2, 11.3, 12.1 Trichoptera (tricÛpteros) Pequenos a grandes, com longas antenas multisegmentadas, partes bucais reduzidas (sem probóscide), mas palpos labiais e maxilares bem desenvolvidos, asas pilosas (ou raramente com escamas), sem células discais com nervuras anais da asa anterior dobradas (veja Lepidoptera); estádios imaturos (larvas) aquáticos, frequentemente com um casulo, mas muitos de vida livre, com três pares de pernas segmentadas no tórax e sem falsas pernas no abdômen. Capítulo 9 Box 9.4 Lepidoptera (mariposas, borboletas) Pequenos a grandes, hipognatos, quase todos com probóscides longas e enroladas, antenas multisegmentadas e frequentemente em forma de pente (pectinadas), clavadas em borboletas, asas com camada dupla de escamas e grandes células incluindo as discais; estádios imaturos (larvas, lagartas) com cabeça mandibulada esclerotizada, glândulas labiais produtoras de seda, pernas articuladas no tórax, e algumas falsas pernas abdominais. Capítulos 10, 13 Boxes 10.11, 13.1 Mecoptera (mecÛpteros) Médios, hipognatos com rostro alongado formado das mandíbulas longas e serradas, maxilas e o lábio alongado, asas anteriores e posteriores estreitas e subiguais, pernas raptoriais; estádios imaturos (larvas) principalmente terrestres, com cápsula cefálica fortemente esclerotizada, olhos compostos, pernas articuladas torácicas curtas, abdômen usualmente com falsas pernas. Capítulos 5, 12 Boxes 5.1, 12.5 Siphonaptera (pulgas) Pequenos, muito modificados, ectoparasitas comprimidos lateralmente, peças bucais perfuradoras e sugadoras sem mandíbulas, antenas em sulcos, corpo com muitas cerdas e espinhos dirigidos para trás, alguns como pentes, pernas fortes, terminando em garras fortes para agarrar-se ao hospedeiro; estádios imaturos (larvas) terrestres, ápodos (sem pernas), com cápsula cefálica distinta. Capítulo 14 Box 14.3 Diptera (moscas, mosquitos) Pequenos a moderados, asas restritas ao mesotórax, metatórax com orgãos de balanço (halteres), peças bucais variando de não funcionais a picadoras e sugadoras; estádios imaturos (larvas) variáveis, sem pernas articuladas, com cápsula cefálica esclerotizada ou variavelmente reduzida até ganchos bucais remanescentes. Capítulos 9, Capítulo 14 Boxes 5.4, 6.1, 6.2, 9.5, 14.1, 14.4 16 Capítulo 2 ANATOMIA EXTERNA Insetos são invertebrados segmentados que possuem um esqueleto articulado externo (exoesqueleto), característico de todos os artrópodos. Os grupos são diferenciados por várias modificações do exoesqueleto e dos apêndices - por exemplo, adultos da classe Hexapoda (à qual os Insecta pertencem) são os únicos artrópodos com seis pernas. Muitas características anatômicas dos apêndices, especialmente das peças bucais, pernas e ápice abdominal, são importantes no reconhecimento dos grupos superiores dentro dos hexápodos, incluindo as ordens de insetos, famílias e gêneros. Diferenças entre espécies freqüentemente são indicadas por diferenças anatômicas. Sendo assim, um entendimento da anatomia externa é necessário para interpretar estes vários desenhos e permitir a identificação dos insetos e de seus parentes hexápodos. Neste capítulo, nós descrevemos e discutimos a cutícula, a segmentação do corpo, a estrutura da cabeça, do tórax e do abdômen e seus apêndices. No entanto, alguma classificação básica e terminologia precisa ser discutida antes de começar. Insetos adultos normalmente têm asas (os Pterygota), cuja estrutura pode diagnosticar ordens, mas existe um grupo de insetos primitivamente sem asas (os "apterigotos") (veja seção 7.5 para as características definidoras). Dentro dos Insecta, três padrões principais de desenvolvimento podem ser reconhecidos; esses padrões vão ser citados ocasionalmente neste capítulo, mas são discutidos em detalhe na seção 6.2. Os Apterygota (e hexápodos não-insetos) desenvolvem-se em adultos com poucas mudanças na forma do corpo (ametabolia), exceto pela maturação sexual através do desenvolvimento de gônadas e genitália. Todos os outros insetos têm uma mudança gradual na forma do corpo (hemimetabolia) com botões de asas tornando-se gradualmente maiores com cada muda, ou uma mudança drástica de uma forma sem asas imatura para um estádio maduro com asas, que ocorre via um estádio pupal (holometabolia). Insetos hemimetábolos imaturos são chamados ninfas, enquanto larvas são os equivalentes para insetos holometábolos. Estruturas anatômicas dos diferentes taxa são homólogos caso eles tenham uma origem evolutiva em comum, ou seja, se a base genética for herdada do ancestral em comum mais recente. Por exemplo, acredita-se que as asas de todos os insetos sejam homólogas; isso significa que as asas (mas não necessariamente o vôo: seção 7.4) têm uma origem comum. Geralmente, a homologia das estruturas é inferida pela comparação da similaridade na ontogenia (desenvolvimento de ovo a adulto), composição (tamanho e aparência nos detalhes) e posição (no mesmo segmento e mesma localização relativa no segmento). A homologia nas asas de todos os insetos pode ser derivada do mesmo padrão básico ou plano (como explicado na seção 2.4.2). Às vezes a associação com outras estruturas de homologia conhecida ajuda no estabelecimento da homologia de uma estrutura de origem incerta. Outro tipo de homologia, chamada de homologia serial, refere-se à mesma estrutura em segmentos diferentes de um inseto individual. Assim, os apêndices de cada segmento do corpo são homólogos seriais, ainda que em insetos vivos os segmentos da cabeça (antenas e peças 17 bucais) sejam muito diferentes na aparência daqueles do tórax (pernas) e do abdômen (genitália e cercos). 2.1. A CUTÍCULA A cutícula é uma contribuição chave para o sucesso dos Insecta. Essa camada inerte fornece o exoesqueleto forte do corpo e apêndices, os apódemas (suportes internos e ligamentos dos músculos) e o material das asas dos insetos pterigotos, e age como uma barreira entre os tecidos vivos e o ambiente. Internamente, a cutícula alinha os tubos traqueais (seção 3.5), alguns dutos de glândulas e as porções anterior e posterior do trato digestivo. A cutícula pode variar de rígida e parecida com uma armadura, como em muitos besouros adultos, a fina e flexível, como em muitos insetos imaturos. Uma função crítica da cutícula, a restrição da perda de água, é vitalao sucesso do insetos no meio terrestre. A cutícula é fina mas sua estrutura é complexa e ainda é objeto de algumas controvérsias. Uma única camada de células, a epiderme, fica embaixo e é reponsável pela secreção da cutícula, que consiste de uma procutícula grossa, coberta por uma epicutícula fina (Fig. 2.1). Juntas, a epiderme e a cutícula, formam um integumento - a camada externa que cobre os tecidos vivos de um inseto. A epicutícula varia de 3 mm a 0,1 mm em espessura, e usualmente consiste de três camadas: uma epicutícula interior , uma epicutícula exterior e uma camada superficial. Em muitos insetos, a camada superficial (provavelmente glicoprotéica) é coberta por uma camada de lipídeos ou cêra e, externa a esta uma camada variavelmente discreta de cimento. A química da epicutícula e das suas camadas externas é vital na prevençao da desidratação, uma função derivada dos lipídeos que repelem a água (hidrofóbicos), especialmente hidrocarbonos. Estes compostos incluem lipídeos livres e ligados a proteínas e a camada mais externa de cêra dá um brilho à superfície externa de alguns insetos. Outros padrões cuticulares , tais como reflexão de luz, são produzidos por vários tipos de micro- esculturas da superfície epicuticular, tais como tubérculos regulares ou irregulares muito agrupados, rugosidades ou pêlos muito pequenos. A composição de lipídeos pode variar e a quantidade de cêra pode aumentar sazonalmente ou em condições mais secas. Além de reter a água, as superfícies cerosas podem prevenir a predação, prover padrões de mimicria ou camuflagem, repelir o excesso de água, refletir a radiação solar e ultravioleta ou dar pistas olfativas espécie-específicas. A epicutícula não é extensível e não oferece suporte. O apoio é fornecido, em vez disso, pela procutícula abaixo dela, que é composta por uma endocutícula mais grossa, coberta por uma exocutícula mais fina, diferenciadas pela esclerotização desta última. A procutícula varia em espessura de 10 mm a 0,5 mm e consiste primariamente de quitina complexada com proteínas. A quitina é encontrada como elemento de suporte nas paredes celulares de fungos e nos exoesqueletos dos artrópodos, e é especialmente importante nas estruturas extracelulares dos insetos. Ela é um polímero não ramificado de alto peso molecular - um polissacarídeo aminado composto de b(1-4) unidades ligadas de N-acetil-D-glucosamina (Fig. 2.2). As moléculas de quitina são agrupadas em 18 pacotes e organizadas em microfibrilas flexíveis muito unidas e intimamente ligadas a uma matriz de proteína, possuindo uma força de tensão muito grande. O arranjo mais comum das microfibrilas de quitina é em uma camada, na qual as microfibrilas ficam paralelas. Na exocutícula cada camada sucessiva fica no mesmo plano, mas pode estar orientada em um ângulo ligeiramente diferente da camada anterior, de forma que muitas camadas formam um arranjo helicoidal, na qual uma seção da cutícula aparece com bandas escuras e claras alternadas (lamelas). Assim, os padrões parabólicos e o arranjo lamelar, visíveis tão claramente na cutícula seccionada, representa um artefato óptico resultante da orientação microfibrilar (Fig. 2.3). Na endocutícula, arranjos helicoidais ou pilhas alternadas de camadas microfibrilares podem ocorrer, freqüentemente dando origem a lamelas mais grossas do que na exocutícula. Arranjos diferentes podem ocorrer durante a noite comparados com aqueles que ocorrem durante a luz do dia, permitindo a determinação precisa da idade em muitos insetos adultos. Muito da resitência da cutícula vem de extensas pontes de hidrogênio entre cadeias de quitina adjacentes. Uma rigidez adicional é dada pela esclerotização, um processo irreversível que escurece e endurece a exocutícula e tem como resultado a insolubilização das proteínas. A esclerotização pode resultar de ligações entre cadeias de proteínas adjacentes por pontes fenólicas (curtição por quinonas), ou pela desidratação controlada das cadeias, ou por ambos os processos. A deposição de pigmentos na cutícula, incluindo a deposição de melanina, pode estar associada com as quinonas, mas é adicional à esclerotização e não necessariamente associada a ela. Em contraste à cutícula sólida típica dos escleritos e peças bucais como mandíbulas, cutículas mais moles, plásticas, altamente flexíveis ou verdadeiramente elásticas ocorrem no insetos em locais e proporções variadas. Onde os movimentos elástico ou de molas ocorrem, como nos ligamentos das asas ou para os pulos de uma pulga, a resilina - uma proteína parecida com borracha - está presente. As cadeias polipeptídicas em espiral desta proteína funcionam como uma mola mecânica sob tensão, compressão ou torção. Em larvas de corpo mole e nas membranas entre os segmentos a cutícula deve ser rígida, mas deve ter flexibilidade e extensibilidade. Esta cutícula "mole", às vezes chamada membrana artrodial, é evidente em fêmeas grávidas, por exemplo, nas locusta migratórias, Locusta migratoria (Orthoptera: Acrididae), nas quais as membranas intersegmentares podem ser esticadas até 20 vezes para a oviposição, e em ninfas de Rhodnius (Hemiptera: Reduviidae), nas quais o esticamento das membranas ocorre em resposta à entrada de um grande volume de líquidos como, por exemplo, na alimentação. De maneira semelhante, a grande dilatação abdominal de abelhas, cupins e formigas rainhas grávidas é possível através da expansão desta cutícula não esclerotizada. A epicutícula expande-se pelo desdobramento de um estado originalmente muito dobrado, e uma nova epicutícula é formada. Um exemplo extremo da distensão da membrana artrodial é visto nas formigas de mel (Fig. 2.4.: também na seção 11.2.3(b)). Componentes estruturais da cutícula, cêras, cimentos, feromônios (Capítulo 4), compostos defensivos e outros compostos, são produzidos pela epiderme, uma camada única de células virtualmente contínua abaixo da cutícula. muitos destes compostos são secretados para o exterior da epicutícula dos insetos. Numerosos canalículos porosos finos atravessam a procutícula e então ramificam-se em 19 numerosos canais de cêra (ou filamentos de cêra) ainda mais finos dentro da epicutícula (aumento na Fig. 2.1); este sistema transporta lipídeos (cêras) da epiderme para a superfície epicuticular. Glândulas dérmicas, parte da epiderme, produzem cimento e/ou cêra que é transportado por dutos maiores até a superfície cuticular. Glândulas secretoras de cêra são particularmente bem desenvolvidas em cochonilhas (Fig. 2.5). A epiderme está muito associada às mudas - os eventos e processos que levam à ecdise (eclosão) e a incluem, o descarte da cutícula velha (Capítulo 6). Os insetos são providos de várias extensões cuticulares, variando de finas e em forma de cabelo até robustas e em formas de espinhos. Quatro tipos básicos de protuberâncias (Fig. 2.6), todos com cutículas esclerotizadas, podem ser reconhecidos com base morfológica, funcional e de desenvolvimento. · Espinhos são multicelulares, com células epidermais indiferenciadas. · Setas, tamabém chamadas de pêlos, macrotríquia ou sensilas tricóides, são multicelulares, com células especializadas. · Acantos têm origem unicelular. · Microtríquias são subcelulares, com poucas a muitas extensões por célula. As setas sentem muito do ambiente táctil do inseto. Se grandes, estas setas podem ser chamadas pêlos ou quetos; as mais modificadas são as escamas, as setas achatadas encontradas em borboletas e mariposas (Lepidoptera) e esporadicamente em outros insetos. Três células distinats formam cada seta: uma para a formação do pêlo (célula tricógena), uma para a formação da base (célula tormógena) e uma célula sensorial (Capítulo 4, Fig. 4.1). Não existe uma diferenciação celular em espinhos multicelulares, acantos unicelulares e em microtríquias subcelulares. As funções destes tipos de protuberâncias são diversas e às vezes controversas, mas as suasfunções sensoriais parecem ser limitadas. A produção de padrões, incluindo cor, pode ser significativa para algumas das projeções microscópicas. Os espinhos são imóveis; se articulados, eles são chamados de esporões. Tanto os espinhos quanto os esporões podem possuir processos unicelulares quanto subcelulares. 2.2.1. Produção de cor As diversas cores dos insetos são produzidas pela interação da luz com a cutícula, e/ou com as células ou fluido embaixo desta, por dois mecanismos diferentes. Cores físicas (estruturais) resultam do espalhamento, interferência ou difração da luz, enquanto que a coloração pigmentária se deve à absorção da luz visível por vários compostos químicos. Freqüentemente ambos os mecanismos ocorrem em conjunto para produzir uma cor diferente daquela que seria produzida por apenas um dos mecanismos. Todas as cores físicas derivam da cutícula e de suas protuberâncias. As cores de interferência, como a iridescência e a ultravioleta, são produzidas por refração por camadas refletivas espaçadas, produzidas pela orientação microfibrilar dentro da exocutícula ou, em alguns besouros, na epicutícula, e por difração de superfícies regularmente texturizadas como em muitas escamas. Cores produzidas pelo espalhamento da luz dependem do tamanho das irregularidades da superfície em relação ao comprimento de onda da luz. Assim, o 20 branco é produzido por estruturas maiores do que o comprimento de onda da luz, de maneira que todos os comprimentos de onda reflitam, enquanto que o azul é produzido por irregularidades que refletem apenas os comprimentos de onda pequenos. Os pigmentos dos insetos são produzidos de três maneiras: · Pelo metabolismo do próprio inseto. · Pelo seqüestro em uma planta. · Raramente, por endosimbiontes microbianos. Os pigmentos podem estar localizados na cutícula, epiderme, hemolinfa ou corpos gordurosos. O escurecimento da cutícula é a coloração mais ubíqua nos insetos. Isso pode se dar tanto pela esclerotização (não relacionada à pigmentação) ou pela deposição exocuticular de melaninas, um grupo heterogêneo de polímeros que podem dar uma coloração preta, marrom, amarela ou vermelha. Carotenóides, omocromos, papiliocromos e pteridinas (pterinas) produzem as cores de amarelo a vermelho; flavonóides dão o amarelo; e tetrapirróis (incluindo a quebra de produtos de porfirinas como a clorofila e hemoglobina) criam o vermelho, azul e verde. Pigmentos quinonas ocorrem em cochonilhas como antraquinonas vermelhas e amarelas e em afídeos como afinas amarelas, vermelhas até o azul-esverdeado escuro. As cores têm muitas funções além do papel óbvio dos padrões de coloração em demonstrações sexuais e de defesa. Por exemplo, os omocromos são os principais pigmentos visuais dos olhos dos insetos, enquanto a melanina preta é um anteparo eficiente contra os raios de luz daninhos, podendo converter energia luminosa em calor e agir como o final de radicais livres que poderiam danificar as células. As hemoglobinas vermelhas (pigmentos respiratórios de vertebrados) ocorrem em poucos insetos, notavelmente em algumas larvas de Diptera e poucos percevejos aquáticos, nos quais o pigmento têm uma função respiratória semelhante. 2.2. SEGMENTAÇÃO E TAGMOSE Segmentação metamérica, tão distinta em anelídeos, é vista apenas em algumas larvas não esclerotizadas (Fig. 2.7 (a)). A segmentação vista em adultos esclerotizados ou em ninfas de insetos não é diretamente relacionada com aquela de larvas de insetos, uma vez que a esclerotização estende-se além de cada segmento primário (Fig. 2.7 (b), (c)). Cada segmento aparente representa uma área de esclerotização que começa na frente da dobra que demarca o segmento primário e estende-se quase até o final daquele segmento, deixando uma área não esclerotizada do segmento primário, a membrana intersegmentar ou conjuntiva. Esta segmentação secundária significa que os músculos, que estão sempre inseridos nas dobras, estejam ligados à cutícula sólida em vez de cutícula mole. A segmentação aparente de insetos adultos, como a do abdômen, é secundária na sua origem, mas ela é citada em todo o texto simplesmente como segmentos. Em insetos adultos e ninfas, e hexápodos em geral, uma das características externas mais marcantes é a união de segmentos em unidades funcionais. Esse processo de tagmose deu origem aos tagma (regiões) da cabeça, tórax e 21 abdômen. Nesse processo, os 20 segmentos originais dividiram-se em uma cabeça de seis segmentos embriologicamente detectáveis, um tórax com três segmentos e um abdômen com 11 segmentos (mais primitivamente o télson), ainda que vários graus de fusão signifique que o complemento total nunca seja visível. Antes de discutir a morfologia externa em maior detalhe, alguma indicação de orientação é necessária. O corpo de simetria bilateral pode ser descrito de acordo com três eixos: · Longitudinal, ou anterior para posterior, também chamada cefálica (cabeça) para caudal (cauda). · Dorsoventral, ou dorsal (superior) para ventral (inferior). · Transversal, ou lateral através do eixo longitudinal até a lateral oposta (Fig. 2.8). Para os apêndices, como pernas ou asas, proximal ou basal refere-se a próximo ao corpo e distal ou apical a distante do corpo. Além disso, a estrutura pode ser descrita como mesal, ou mediana, se ela está próxima da linha mediana, ou lateral se ela está próxima da margem do corpo, relativa a outras estruturas. Quatro regiões principais da superfície do corpo podem ser reconhecidas: o dorso ou superfície superior; o ventre ou superfície inferior; as duas pleuras laterais, separando o dorso do ventre e possuindo duas bases ramificadas, se elas estão presentes. A esclerotização que ocorre em áreas definidas dá origem a placas, chamadas escleritos. Os principais escleritos segmentares são o tergo (a placa dorsal), o esterno (a placa ventral) e a pleura (o lado da placa). Se um esclerito é uma subdivisão do tergo, esterno ou pleura, os termos diminutivos tergito, esternito e pleurito aplicam-se, ainda que seu uso seja inconsistente. As pleuras do abdômen são freqüentemente ao menos em parte membranosas, mas no tórax elas são sempre esclerotizadas e usualmente ligadas ao tergo e ao esterno de cada segmento. Esta fusão forma uma caixa que contém as inserções musculares das pernas e, em insetos alados, os músculos do vôo. Na cabeça, todos os escleritos são fundidos em uma cápsula rígida, exceto no caso de algumas larvas. Em larvas (mas não em ninfas) o tórax e o abdômen podem permanecer membranosos e a tagmose pode ser menos aparente (como em muitas larvas de vespas e moscas) e os tergos, esternos e pleuras são raramente distintos. 2.3. A CABEÇA A cápsula craniana rígida tem duas aberturas, uma posteriormente através do forâmen occipital para o protórax, e a outra para as peças bucais. Tipicamente, as peças bucais são ventralmente dirigidas (hipognatos), ainda que algumas vezes sejam voltadas anteriormente (prognatos) como em muitos besouros, ou posteriormente (opistognatos) como em homópteros como afídeos, cigarras e cigarrinhas. Várias regiões podem ser reconhecidas na cabeça (Fig. 2.9): o crânio posterior em forma de ferradura (dorsalmente o occipício) faz contato com o vértice dorsalmente e com as genas lateralmente; os vértices fundem-se anteriormente em um fronde e, mais anteriormente, o clípeo, os quais podem estar fundidos para formar o frontoclípeo. Em ninfas e insetos 22 adultos, um par de olhos compostos colocam-se mais ou menos dorso- lateralmente entre o vértice e as genas, com um par de antenas sensoriais colocadas mais medianamente. Em muitos insetos, três olhos "simples" sensíveis à luz, ou ocelos, estão situados mais medianamente no vértice anterior, tipicamente arranjados em um triângulo, e muitas larvas têm olhos estematais. As regiões da cabeça são freqüentemente pouco delimitadas, com algumas indicações da suaextensão dada por suturas (linhas ou marcas externas na cabeça). Três tipos de suturas podem ser reconhecidas: · Remanescentes da segmentação original, geralmente restritas à sutura pós-occipital. · Linhas de ecdise de cutícula mais fraca, onde a cápsula cefálica se partiu durante a muda (Capítulo 6), incluindo freqüentemente um "Y" invertido proeminente, ou sutura epicraniana, no vértice (Fig. 2.10). · Marcas, que refletem a rugosidade interna do esqueleto, como as suturas frontoclipeal ou epistomal que freqüentemente delimitam a fronde do clípeo mais anterior. O endoesqueleto da cabeça consiste de várias rugosidades invaginadas e braços (apófises, ou apódemas alongados), os mais importantes dos quais são os dois pares de braços tentoriais, um par posterior e o outro anterior, às vezes com um componente dorsal adicional. Alguns destes braços podem estar ausentes ou, em pterigotos, fundidos para formar o tentório. Fossas são discerníveis na superfície do crânio nos pontos onde os braços tentoriais invaginam. Essas fossas e suturas podem prover marcas proeminentes na cabeça, mas usualmente elas têm pouca ou nenhuma associação com os segmentos. A origem segmentar da cabeça é mais claramente demonstrada pelas peças bucais (seção 2.3.1). Do anterior para o posterior, existem seis segmentos fundidos na cabeça: · O segmento labral. · O segmento antenal, com cada antena equivalente a uma perna inteira. · O segmento pós-antenal, o qual é fundido com o segmento antenal. · O segmento mandibular. · O segmento maxilar. · O segmento labial. O pescoço é derivado principalmente da primeira parte do tórax e não é um segmento. 2.3.1. Peças bucais As peças bucais são formadas dos apêndices de todos os segmentos da cabeça, com exceção do segundo. Em insetos onívoros, como baratas, grilos e tesourinhas, as peças bucais são do tipo mordedor e mastigador (mandibulados) e parecem-se mais com o desenho básico provável de um ancestral dos insetos pterigotos do que as peças bucais da maioria dos insetos modernos. Modificações extremas da estrutura das peças bucais básicas, correlacionadas com especializações alimentares, ocorrem na maioria dos Lepidoptera, Diptera, Hymenoptera, Hemiptera e em um número das ordens menores. Nós discutiremos aqui primeiro as peças bucais básicas dos mandibulados, 23 exemplificados pela tesourinha européia, Forficula auriculata (Dermaptera: Forficulidae) (Fig. 2.10), e então descreveremos as modificações mais comuns associadas com dietas mais especializadas. Existem cinco componentes básicos das peças bucais: · O labro, ou lábio superior, com uma superfície ventral chamada de epifaringe. · A hipofaringe, uma estrutura em forma de língua. · As mandíbulas. · As maxilas. · O lábio, ou lábio inferior (Fig. 2.10). O labro forma o teto da cavidade pré-oral e da boca (Fig. 3.14) e cobre a base das mandíbulas; acredita-se que ele seja originado da fusão das partes de um par de apêndices ancestrais. Projetando-se para a frente da parte de trás da cavidade pré-oral está a hipofaringe, um lobo provavelmente composto em sua origem; em apterigotos, tesourinhas e ninfas de efeméridas a hipofaringe tem um par de lobos laterais, a superlíngua (Fig. 2.10). Ela divide a cavidade em uma bolsa alimentar dorsal, ou cibário, e um salivário ventral onde os dutos salivares abrem-se (Fig. 3.14). As mandíbulas, maxilas e lábios são os apêndices pares dos segmentos 4-6, e sua homologia serial com as pernas é mais aparente do que no caso do labro e da hipofaringe. As mandíbulas cortam e amassam o alimento e podem ser usadas para a defesa; geralmente elas têm uma borda apical cortante e a área basal molar manuseia o alimento. Elas podem ser extremamente duras (aproximadamente 3 na escala de Moh de dureza mineral, ou uma dureza de cerca de 30 kg/mm2) e assim muitos cupins e besouros não têm nenhuma dificuldade física em escavar através de metais comuns como cobre, chumbo, estanho e zinco. Atrás das mandíbulas estão as maxilas, cada uma consistindo de uma parte basal composta do cardo proximal e das estipes mais distais e, presas às estipes, dois lobos - a lacínia mesal e a gálea lateral - e um segmento lateral, o palpo maxilar, ou palpo. Funcionalmente, as maxilas assistem as mandíbulas no processamento do alimento; as lacínias pontudas e esclerotizadas seguram e maceram o alimento, enquanto as gáleas e palpos têm setas sensoriais (mecanoreceptores) e quimioreceptores que selecionam os itens antes da ingestão. Os apêndices do sexto segmento da cabeça são fundidos com o esterno para formar o lábio, que acredita-se ser homólogo às segundas maxilas dos Crustacea. Em insetos prognatos, como as tesourinhas, o lábio prende-se à superfície ventral da cabeça por uma placa esclerotizada ventromedial chamada gula (Fig. 2.10). Existem duas partes principais do lábio - o pós-mento proximal, fortemente conectado à superfície posteroventral da cabeça e às vezes subdividido em submento e mento, e o premento distal e livre, tipicamente possuindo um par de palpos labiais laterais em relação a dois pares de lobos, as glossas mesais e duas paraglossas mais laterais. As glossas e as paraglossas, incluindo às vezes a parte distal do premento ao qual estão presas, são conhecidas coletivamente como a lígula; os lobos podem estar fundidos ou reduzidos de várias maneiras, como em Forficula (Fig. 2.10), na qual as glossas estão ausentes. O premento com seus lobos formam a base da cavidade pré-oral (funcionalmente o "lábio inferior"), enquanto os palpos labiais têm uma função sensorial, similar àquela dos palpos maxilares. 24 Durante a evolução dos insetos, uma série de tipos diferentes de peças bucais derivaram-se a partir do desenho básico descrito acima. Freqüentemente estruturas de alimentação são características de todos os membros de um gênero, família ou ordem de insetos, de maneira que o conhecimento das peças bucais é útil tanto para a classificação taxonômica quanto para a identificação. A estrutura das peças bucais é geralmente categorizada de acordo com o método de obtenção do alimento, mas as mandíbulas e outros componentes podem funcionar em combate defensivo ou mesmo em disputas sexuais entre machos, como nas grandes mandíbulas de certos machos de besouros (Lucanidae). Peças bucais de insetos diversificaram-se em ordens diferentes, com métodos de alimentação que incluem lamber, sugar, morder ou picar, e filtrar, além do modo básico mastigador. As peças bucais das abelhas são do tipo mastigador e lambedor. Lamber é um modo de se alimentar no qual o alimento líquido ou semi-líquido adere a um órgão protrátil, ou "língua", e é transferido do substrato para a boca. Na abelha melífera, Apis mellifera (Hymenoptera: Apidae), as glossas labiais alongadas e fundidas formam uma língua pilosa, que é circundada pelas gáleas maxilares e pelos palpos labiais para formar uma probóscide tubular, contendo um canal alimentar (Fig. 2.11). Na alimentação, a língua é mergulhada no néctar ou no mel, que adere aos pêlos, e então ela é retraída de forma que o líquido aderente é carregado pelo espaço entre as gáleas e os palpos labiais. Esses movimentos para frente e para trás da glossa ocorrem repetidamente. O movimento do líquido para a boca resulta aparentemente da ação de bombeamento do cibário, facilitado por cada retração da língua empurrando o líquido para cima no canal. As lacínias e os palpos maxilares são rudimentares e as paraglossas envolvem a base da língua, direcionando a saliva do orifício salivar dorsal para um canal ventral de onde é transportado ao flabelo, um pequeno lobo na ponta da glossa; a saliva pode dissolver açúcar sólido ou semi-sólido. As mandíbulas esclerotizadas em forma de colher ficam na base da probóscide e têm uma variedade de funções, incluindo a manipulação de cêras e resinas de plantas para a construção do ninho, a alimentação de larvas e da
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