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CADERNO HERMENÊUTICA - PROVA 1 - CLÁUDIA ALBAGLI

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Leonardo David – 4º semestre – Hermenêutica – Cláudia Albagli – 2019.1 
 
Hermenêutica 
Hermenêutica é o refletir sobre a interpretação. É de extrema importância 
no âmbito do direito, na medida em que praticamente tudo o que ocorre é alvo 
de diferentes interpretações para que se chegue a um consenso. Nesse sentido, 
falando da norma e da sua abstração, o que tira ela dessa condição para a sua 
aplicação é a capacidade de aplicação da norma em um caso concreto, mediante 
interpretação. Dessa forma, pode-se conceituar a hermenêutica como a ciência 
que pensa a interpretação (não o ato interpretativo, mas o campo que pensa a 
interpretação), isto é, o campo de crítica/debate sobre o campo jurídico. Nesse 
sentido, como o espaço da interpretação cresceu no direito, deixando-o mais 
complexo, a hermenêutica cresce na importância para a formação do direito. 
Richard Palmer 
Palmer traz a teoria da exegese bíblica, na qual a religião está ligada à 
interpretação do texto sagrado. Como é sabido que a religião é um costume 
milenar, pode-se afirmar que a hermenêutica nasce na teologia. 
Palmer fala que a hermenêutica tem a ver com o estudo da língua, isto é, 
interpretação de palavras/expressões e não o texto como um todo, o que ele 
chama de metodologia filológica geral. Exemplo: por que o verbo, em 
determinada oração do texto, está no presente e não no passado? 
Ele afirma também que a hermenêutica não é um campo apenas do 
direito, mas das humanidades; é a base metodológica de humanidades. 
Ele define a hermenêutica como a fenomenologia de existência e da 
compreensão existencial, onde esta seria o modo de existência. Ora, interpretar 
é compreender, compreender é uma forma de existir, logo interpretar é existir 
(perspectiva filosófica da hermenêutica). 
Tércio Sampaio 
Tércio fala da função simbólica da língua. Faz o retorno à origem da ideia 
de palavra para chegar à interpretação jurídica. Ou seja, faz a reconstrução 
desses conceitos, falando sobre os signos (palavras), que é composto pelo 
significante (som, fonema) + significado (ideia construída a partir dessas 
palavras; plano inteligível; o que aparece na mente das pessoas ao ouvir essa 
Leonardo David – 4º semestre – Hermenêutica – Cláudia Albagli – 2019.1 
 
palavra. Ou seja, se falar uma palavra estranha, não nasce um significado). Ele 
diz que significar é apontar para algo ou estar em lugar de algo. A função 
significativa pode ser exercida por emblemas, distintivos, roupas, etc. 
Tércio faz uma diferenciação entre língua e fala. A primeira é composta 
por símbolos, é a somatória dos signos. Os símbolos nada significam 
isoladamente. Para que se torne tal, tem de aparecer num ato humano, o ato de 
falar, na medida em que falar é atribuir símbolos a algo. Seu uso faz o significado. 
A fala é a dinamicidade da língua. A língua é um repertório de símbolos inter-
relacionados numa estrutura. A língua portuguesa é uma só, mas a forma que 
falamos varia no tempo e no espaço. Isso torna as interpretações distintas. 
Portanto não se pode desconectar o que é dito do contexto em que foi dito. 
Resumindo: a fala é o uso atual da língua. Falar é dar a entender alguma 
coisa a alguém mediante símbolos linguísticos. Fala é o fenômeno comunicativo. 
Exige emissor, receptor e troca de mensagens, de forma que sem um receptor 
não há falas. É necessário que o receptor entenda a mensagem, ou seja, seja 
capaz de repeti-la. Isso diferencia a fala das outras formas de comunicação. 
Exemplo: é possível receber comunicação musical (piano) sem que o ouvinte 
seja capaz de repeti-la. Na fala, se o ouvinte não for capaz de repetir a 
mensagem, o discurso não ocorre. 
O entendimento da fala nem sempre corresponde à mensagem emanada. 
O ouvinte escolhe do que foi lhe comunicado algumas possibilidades que não 
coincidem necessariamente com a seletividade do emissor. Isso é interpretação. 
Interpretar é selecionar possibilidades comunicativas da complexidade 
discursiva. Toda interpretação é duplamente contingente, assim, precisamos de 
códigos que ambos os comunicadores tenham acesso. Os códigos precisam 
também serem interpretados e, daí, vêm códigos sobre códigos, o que torna a 
fala ainda mais complexa. Aí que se encontra o problema da interpretação 
jurídica: o que se busca na interpretação jurídica é um sentido válido de uma 
comunicação normativa, que manifesta uma relação de autoridade. Trata-se, 
portanto, de captar a mensagem normativa como um dever-ser para o agir 
humano. 
Leonardo David – 4º semestre – Hermenêutica – Cláudia Albagli – 2019.1 
 
Para interpretar temos de decodificar símbolos no seu uso, ou seja, 
conceder-lhes as regras de controle da denotação e conotação (regras 
semânticas), de controle das combinatórias possíveis (regras sintáticas) e de 
controle das funções (regras pragmáticas). 
Pode ocorrer de ter um símbolo vago, ambíguo. Por exemplo, no direito, 
há os conceitos jurídicos indeterminados, o que leva a uma discricionariedade 
na interpretação. É a partir disso que surge o que Tércio chama de poder de 
violência simbólica da língua, onde um sujeito pode se utilizar dessas margens 
para tirar vantagem. 
A desumanização da arte 
Algumas gotas de fenomenologia 
Uma mesma realidade se quebra em muitas realidades divergentes ao ser 
olhada de pontos de vista diferentes. Nesse sentido, não há uma única realidade 
autêntica, na medida em que todas aquelas realidades são equivalentes, cada 
uma delas é a autêntica segundo o ponto de vista que lhe corresponde. O que 
se pode fazer é classificar os pontos de vista e escolher entre eles o que se 
pareça mais normal ou espontâneo. 
Fala-se em uma distância espiritual entre a realidade e nós próprios. 
Nessa escala, os graus de proximidade equivalem a graus de participação 
sentimental nos fatos. Os graus de afastamento, pelo contrário, significam graus 
de libertação em que objetivamos o acontecimento real, convertendo-o em puro 
tema de contemplação. Situados num dos extremos, deparamos com um 
aspecto do mundo – pessoas, coisas, situações – que é a realidade “vivida”. Do 
outro extremo, em contrapartida, vemos tudo sob o seu aspecto de realidade 
“contemplada”. Entre esses diversos aspectos da realidade que correspondem 
vários pontos de vista, há um do qual derivam todos os restantes que todos os 
restantes pressupõem: o da realidade vivida. 
Um quadro, uma poesia onde não permanecesse resto algum das formas 
vividas seriam ininteligíveis, ou seja, não seriam nada, como nada seria um 
discurso em que cada uma das palavras tivesse sido extirpada do seu sentido 
habitual. Dessa forma, a realidade vivida corresponde a um primado peculiar que 
Leonardo David – 4º semestre – Hermenêutica – Cláudia Albagli – 2019.1 
 
nos obriga a considera-la como “a” realidade por excelência, ou seja, a realidade 
humana. 
Seis definições modernas da hermenêutica 
A hermenêutica tem sido interpretada, em uma ordem cronológica, como: 
1. Uma teoria da exegese bíblica; 
2. Uma metodologia filológica geral; 
3. Uma ciência de toda compreensão linguística; 
4. Uma base metodológica dos Geisteswissenschaften; 
5. Sistemas de interpretação, simultaneamente recolectivos e 
inconoclásticos, utilizados pelo homem para alcançar o significado 
subjacente aos mitos e símbolos. 
OBS: Cada uma delas indica uma abordagem ao problema da 
interpretação. 
A hermenêutica como teoria da exegese bíblica 
O significado mais antigo refere-se aos princípios da interpretação bíblica. 
A hermenêutica (regras, métodos ou teoria que o orientam) se diferencia 
da exegese (comentário real) enquanto metodologia da interpretação. O termo 
“hermenêutica” datadoséculo XVII, contudo as operações de exegese textual e 
as teorias da interpretação – religiosa, literária, legal – remontam à antiguidade. 
Assim, tratando a hermenêutica como uma teoria da exegese, pode-se dizer que 
o seu campo estende-se, retroativamente, aos tempos do Antigo Testamento. 
Num certo sentido, apropria teologia como intérprete histórica ad mensagem 
bíblica, já é hermenêutica. 
A natureza da hermenêutica indicada pelo exemplo da hermenêutica 
bíblica conceitua a hermenêutica como o sistema que o intérprete tem para 
encontrar o significado oculto do texto. Por exemplo, no Iluminismo, o texto 
bíblico é um receptáculo de grandes verdades morais, que encontram-se nele 
porque se moldou a um princípio interpretativo que as encontrasse. 
A hermenêutica como metodologia filológica 
Leonardo David – 4º semestre – Hermenêutica – Cláudia Albagli – 2019.1 
 
O desenvolvimento do racionalismo junto com o advento da filologia 
clássica no século XVIII teve um efeito profundo na hermenêutica bíblica. 
A hermenêutica como ciência da compreensão linguística 
Marca o começo da hermenêutica não disciplinar. Pela primeira vez a 
hermenêutica define-se a si mesma como estudo da sua própria compreensão. 
Esta concepção de hermenêutica implica uma c´ritica radical do ponto de 
vista da filologia, pois procura ultrapassar o conceito de hermenêutica como 
conjunto de regras, fazendo uma hermenêutica sistematicamente coerente, uma 
ciência que descreve as condições da compreensão, em qualquer diálogo. O 
resultado é uma hermenêutica geral, cujos princípios possam servir de base a 
todos os tipos de interpretação de texto. 
A hermenêutica como base metodológica para as 
geisteswissenschaften 
Dilthey viu na hermenêutica a disciplina central que serviria de base a 
todas as disciplinas centradas na compreensão da arte, comportamento e escrita 
do homem. Ele defendia que a interpretação das expressões essenciais da vida 
humana implica um ato de compreensão histórica, pois neste ato está em causa 
um conhecimento pessoal do que significa sermos humanos. Acreditava ser 
necessário nas ciências humanas uma crítica da razão histórica (em analogia à 
crítica da razão pura kantiana feita às ciências naturais). 
A hermenêutica como fenomenologia do Dasein e da compreensão 
existencial 
Heiddeger empreendeu um estudo fenomenológico da presença 
quotidiana do homem no mundo. A análise de Heiddeger indicou que a 
compreensão e a interpretação são modos fundantes da existência humana. 
Assim, a hermenêutica heiddegeriana do Dasein, transforma-se também em 
hermenêutica, na medida em que apresenta uma ontologia da compreensão. 
Nesse sentido, a hermenêutica é relacionada de uma só vez com as dimensões 
ontológicas da compreensão e simultaneamente com a fenomenologia 
específica de Heiddeger. 
Leonardo David – 4º semestre – Hermenêutica – Cláudia Albagli – 2019.1 
 
A hermenêutica avança ainda mais um passo entrando na sua fase 
linguística, com a afirmação de Gadamer de que “um ser que pode ser 
compreendido é linguagem, ou seja, a hermenêutica é um encontro com o ser 
através da linguagem”. 
A hermenêutica como um sistema de interpretação: recuperação de 
sentido vs. Iconoclasmo 
Para Paul Ricoeur, “por hermenêutica entendemos a teoria das regras que 
governam uma exegese, quer dizer, a interpretação de um determinado texto ou 
conjunto de sinais suscetíveis de serem considerados como texto”. A psicanálise 
e a interpretação dos sonhos é uma forma de hermenêutica, na medida em que 
o sonho é o t exto cheio de imagens simbólicas e o psicanalista usa um sistema 
interpretativo para produzi uma exegese que traga à superfície o significado 
oculto. 
Ricoeur distingue símbolos unívocos de equívocos. Os primeiros são 
signos de sentido único, como os símbolos da lógica simbólica. Os segundos 
são o verdadeiro centro da hermenêutica. 
A hermenêutica é o sistema pelo qual o significado mais fundo é revelado 
para além do conteúdo manifesto. 
Ortega y Gasset 
É um filósofo existencialista, autor do texto “algumas gotas de 
fenomenologia”. Ele procura mostrar que há diferentes interpretações para o 
mesmo fato. 
Nós no direito somos diferentes expectadores do mesmo fato. Exemplo: 
acusação, defesa, juiz e testemunhas em diferentes interpretações sobre um 
mesmo fato. Ele traz no texto a questão sobre qual é a verdade autêntica. Nós 
nunca saberemos o que de fato aconteceu, o que ocorre é uma reconstrução 
processual, na qual a “verdade autêntica” será revelada pela verossimilhança 
que melhor se enquadra na situação descrita. 
Mesmo que exista vários pontos de vista, eles partem de uma realidade 
comum: a realidade vivida, tratada como a realidade humana. Exemplo: houve 
uma morte. 
Leonardo David – 4º semestre – Hermenêutica – Cláudia Albagli – 2019.1 
 
Desafios da hermenêutica 
1. Conseguir, pelo menos, o mínimo de objetividade na interpretação. 
2. Necessidade de reconhecer a ordem jurídica como um sistema 
aberto e dinâmico 
3. Reconhecimento da pré-compreensão na interpretação geral e 
jurídica 
O indivíduo não é folha em branco. Ser humano já traz pré-compreensões, 
que são produtos dos espaços de pertencimento de cada indivíduo. A partir 
disso, o juiz precisa saber julgar um processo afastando ao máximo a sua pré-
compreensão, buscando o maior equilíbrio em sua decisão. 
4. Direito é discurso? 
Há uma linha de pós-positivismo dizendo que direito é discurso, sem, 
contudo, negar a norma. Direito = fato da vida + hipótese normativa. Ou seja, a 
relação jurídica só existe porque há um fato da vida sobre a qual incide uma 
hipótese normativa, gerando o fato jurídico. 
Quando o princípio entra na decisão judicial, aumenta mais ainda o campo 
desse discurso, na medida em que é preciso fazer a justificação fundamentada 
da aplicação deste princípio. 
O projeto de Scheiermacher de uma hermenêutica geral 
Ele afirma que a hermenêutica como arte da compreensão não existe 
como uma área geral, apenas existe uma pluralidade de hermenêuticas 
especializadas. O objetivo fundamental de Scheiermacher é construir uma 
hermenêutica geral como arte da compreensão. Essa arte é na sua essência a 
mesma, seja o texto um documento jurídico, um escrito religioso ou uma obra de 
arte. Cada texto desse tem, certamente, suas particularidades, mas implícito a 
isso, há uma unidade fundamental: os textos exprimem-se numa língua e assim 
utiliza-se a gramática para encontrar o sentido de uma frase. Afirma 
Scheiermacher que se fossem formulados os princípios de toda a compreensão 
da linguagem, certamente que incluiriam uma hermenêutica geral, que poderia 
servir de vase e de centro a toda a hermenêutica especial. Contudo, não há essa 
Leonardo David – 4º semestre – Hermenêutica – Cláudia Albagli – 2019.1 
 
hermenêutica geral, mas no lugar dela, várias hermenêuticas especiais: a 
filológica, a teológica, a jurídica. 
No diálogo, uma coisa é a operação de formular e de o transformar em 
discurso; outra, totalmente diferente, é a de compreender aquilo que é dito. 
Scheiermacher defende que a hermenêutica lida com este último aspecto. Esta 
distinção entre falar e compreender constitui a base para uma nova orientação 
em hermenêutica e abriu caminho a uma base sistemática para a hermenêutica 
na teoria da compreensão. 
E assim Scheleiermacher coloca esta questão geral como ponto de 
partida da sua hermenêutica: como é que toda ou qualquer expressão linguística, 
falada ou escrita, é compreendida? A situação de compreensão pertence a uma 
relação de diálogo. Em todas as situações desse tipo há uma pessoa que fala, 
que constrói uma frase com sentido,e há uma pessoa que ouve. O ouvinte 
recebe uma série de meras palavras e, subitamente, através de um processo 
misterioso, consegue adivinhar o seu sentido. Este processo misterioso, um 
processo de adivinhação, é o processo hermenêutico. É o verdadeiro lugar da 
hermenêutica. A hermenêutica é a arte de ouvir. Voltamo-nos agora para alguns 
princípios desta arte ou processo. 
O círculo hermenêutico 
Compreender é uma operação essencialmente referencial; 
compreendemos algo quando o comparamos com algo que já conhecemos. 
Scheleiermacher traz o conceito de círculo hermenêutico quando ele fala que um 
conceito individual tira o seu significado de um contexto no qual se situa e, 
reciprocamente, o contexto se constrói com os próprios elementos individuais 
que o compõem. Assim, por uma interação dialética entre o todo e a parte, cada 
um dá sentido ao outro. A compreensão é, portanto, circular. E por conta de o 
sentido aparecer dentro deste círculo, chama-se de círculo hermenêutico. 
O autor ainda diz que para atuar eficazmente, o círculo hermenêutico 
implica um elemento de intuição. Isso ocorre, pois há aí uma contradição lógica, 
que se baseia no questionamento de que se temos que captar o todo antes de 
poder conhecer as partes, então nunca compreenderemos nada. Contudo, é 
necessário afirmar que a lógica não valida totalmente as tarefas da 
Leonardo David – 4º semestre – Hermenêutica – Cláudia Albagli – 2019.1 
 
compreensão. Scheleiermacher considera a compreensão, em parte, como uma 
questão comparativa e, em parte, como uma questão intuitiva e divinatória. 
Há uma outra questão. O autor fala que o círculo hermenêutico propõe 
uma área de compreensão partilhada, na medida em que a comunicação é uma 
relação dialógica. Isto é, presume-se, desde o início, uma comunidade de 
sentido, partilhada por quem fala e por quem ouve. Nesse sentido, temos que 
previamente possuir, até certo ponto, um conhecimento do tema em causa. Isso 
pode ser designado como o conhecimento prévio, minimamente necessário à 
compreensão, sem o qual não podemos saltar para o círculo hermenêutico. 
Interpretação gramatical e interpretação psicológica 
No pensamento mais tardio de Schleiermacher há uma tendência 
crescente para separar a esfera da linguagem da esfera do pensamento. A 
primeira é a província da interpretação gramatical, e a segunda é da 
interpretação psicológica. A interpretação gramatical pertence ao momento da 
linguagem e Schleiermacher encarava-a como um procedimento essencialmente 
negativo, geral e mesmo limitativo, no qual se coloca a estrutura em que opera 
o pensamento. Contudo, a interpretação psicológica procura a individualidade do 
autor, o seu gênio particular. 
Ambos os aspectos da interpretação são necessários e de fato interatuam 
constantemente. Os usos individuais da língua acarretam mudanças na própria 
língua. O intérprete compreende a individualidade do autor relativamente ao 
geral, mas compreende-a também de um modo positivo, quase de um modo 
direto e intuitivo. Tal como o círculo hermenêutico envolve a parte e o todo, a 
interpretação gramatical e psicológica como uma unidade, envolve o específico 
e o geral. 
Tudo isso pressupõe que a hermenêutica tem como meta a reconstrução 
da experiência mental do autor do texto. Nesse sentido, o objetivo não é atribuir 
motivos ou causas aos sentimentos do autor (psicanálise), mas sim reconstruir 
o próprio pensamento de outra pessoa através da interpretação das suas 
expressões linguísticas. 
Leonardo David – 4º semestre – Hermenêutica – Cláudia Albagli – 2019.1 
 
A abordagem gramatical pode usar o método comparativo e proceder do 
geral para as particularidades do texto; a abordagem psicológica utiliza tanto o 
método comparativo como o divinatório. Este consiste em nos transformamos no 
outro, de modo a captar diretamente a sua individualidade. Neste momento da 
interpretação, saímos de nós próprios e nos transformamos no autor, de modo a 
podermos captar numa plena imediatez, o seu processo mental. Contudo, o 
objeto último não é compreender o autor de um ponto de vista psicológico; é 
antes ter acesso mais pleno àquilo que é significado no texto. 
O significado do projeto de Schleiermacher de uma nova 
hermenêutica 
A sua contribuição para a hermenêutica marcou uma viragem na história 
desta disciplina. A hermenêutica deixa de ser vista como um tema disciplinar 
específico do âmbito da teologia, da literatura ou do direito, passando a ser a 
arte de compreender uma expressão linguística. Aprendeu-se a importância de 
uma pré-compreensão em toda a compreensão. Scheleiermacher, e teóricos da 
hermenêutica que lhe são anteriores, apontaram para esta última concepção ao 
enunciar o princípio do círculo hermenêutico dentro do qual toda a compreensão 
ocorre. 
Dilthey: A hermenêutica como fundamento das 
Geisteswissenschaften 
Dilthey começou a ver na hermenêutica o fundamento para as 
Geisteswissenschaften – quer dizer todas as humanidades e as ciências sociais, 
todas as disciplinas que interpretam as expressões da vida interior do homem, 
quer essas expressões sejam gestos, ator históricos, leis codificadas, obras de 
arte ou de literatura. 
Dilthey tinha como objetivo apresentar métodos para alcançar uma 
interpretação objetivamente válida das expressões da vida interior. Ele 
determinou que a experiência concreta e não especulação tem que ser o único 
ponto de partida admissível para uma teoria das Geisteswissenschaften. É a 
partir da própria vida que temos que desenvolver o nosso pensamento e é para 
ela que orientamos as nossas questões. Não tentemos encontrar ideias por 
detrás da vida. O nosso pensamento não pode ir para além da própria vida. 
Leonardo David – 4º semestre – Hermenêutica – Cláudia Albagli – 2019.1 
 
A tentativa de encontrar uma base metodológica para as 
Geisteswissenschaften 
O projeto de formular uma metodologia adequada às ciências que se 
centram na compreensão das expressões humanas é primeiramente encarado 
por Dilthey no contexto de uma necessidade de abandonar a perspectiva 
reducionista e mecanicista das ciências naturais, e de encontrar uma abordagem 
adequada à plenitude dos fenômenos. 
Para Dilthey, qualquer espécie de base metafísica para descrever o que 
se passa quando compreendemos um fenômeno humano é logo de início 
recusada, pois dificilmente levaria a resultados considerados universalmente 
válidos. 
Num certo sentido, Dilthey continua o idealismo crítico de Kant mesmo 
não tendo sido um neo-kantiano, mas sim um filósofo da vida. Kant escrevera a 
Crítica da Razão Pura colocando os fundamentos epistemológicos das ciências. 
Dilthey atribuiu-se cuidadosamente a tarefa de escrever uma crítica da razão 
histórica que colocasse os fundamentos epistemológicos dos estudos 
humanísticos. 
Chegamos ao conhecimento de nós próprios não através da introspecção, 
mas sim através da história. O problema da compreensão do homem era para 
Dilthey um problema de recuperação de consciência da historicidade da nossa 
própria existência que se perdeu nas categorias estáticas da ciência. Dilthey 
defendia que a dinâmica da vida interior de um homem era um conjunto 
complexo de cognição, sentimento e vontade, e que estes fatores não podiam 
sujeitar-se às normas da causalidade e à rigidez de um pensamento mecanicista 
e quantitativo. Invocar as categorias do pensamento da Crítica da Razão Pura 
para a tarefa de compreender o homem, impõe um conjunto de categorias 
abstratas exteriores á vida, de modo algum derivadas da vida. Essas categorias 
são estáticas, intemporais, abstratas, são o oposto da própria vida. 
Então, em suma, para Dilthey, a interpretação,antes de ser um método, 
é uma condição existencial, ou seja, o ato de interpretar não se separa da 
existência. Nesse sentido, a historicidade assume o local central, onde a 
interpretação deve se fazer tomando a história como um ponto fixo, ou seja, 
Leonardo David – 4º semestre – Hermenêutica – Cláudia Albagli – 2019.1 
 
objetivando a interpretação a partir da história. Nesse sentido, Dilthey diz que a 
história traz uma racionalidade mínima para essa hermenêutica. Visa forçar o 
problema da interpretação em um objeto como um estatuto fixo, duradouro e 
objetivo. Por exemplo: discute-se a Segunda Guerra, mas não se pode discutir 
a sua ocorrência, que é um ponto fixo. Para entender o que aconteceu em um 
determinado momento, precisa-se fazer uma recomposição tomando a história 
como ponto fixo. Assim, as ciências naturais se utilizam de métodos explicativos 
e as ciências humanas utilizam os métodos compreensivos. Daí surgiu, para 
Dilthey, o método de interpretação HISTÓRICO-COMPREENSIVO, ou seja, ele 
recompõe a historicidade do que se interpreta para se compreender. 
Hermenêutica Filosófica 
Martin Heidegger 
Foi o primeiro defensor da Hermenêutica Filosófica. Heidegger contesta a 
ideia de interpretação como um método, isto é, ele contesta a metodologia, pois 
a interpretação antes de ser método é uma condição existencial. Para ele, estar 
no mundo é compreender e compreender é interpretar. Desse modo, o ato de 
interpretar não se separa da existência. Ele não compreende a hermenêutica 
como um problema de metodologia das ciências humanas: acreditava na 
compreensão como prolongamento da existência humana. O pensamento do 
ser no tempo é inseparável das línguas e linguagens, pois transformamos a 
compreensão (interpretação) em comunicação. Portanto, a linguagem não é 
apenas um instrumento de comunicação, é uma continuidade de como se ver o 
mundo. Ou seja, a interpretação é uma continuidade da forma como eu vejo o 
mundo. Por exemplo: tenho medo de algo, mas esse algo não tem um mal 
materializado, logo o medo surge como uma compreensão minha do mundo. 
Assim temos traumas, medos, etc., tudo isso à luz de como o indivíduo 
compreende o mundo). Para Heidegger, o problema da hermenêutica é o ser 
intérprete, ou seja, sai de uma questão metodológica e vai para uma questão 
existencial. Levando isso ao Direito, pode-se perceber essa questão nas 
diferentes opiniões que surgem sobre um mesmo fato, ou seja, o modo como 
interpreto é resultado do modo como compreendo o mundo e, sendo assim, será 
diferente da forma de como outra pessoa vê o mundo e, portanto, a interpretação 
dela será diferente. 
Leonardo David – 4º semestre – Hermenêutica – Cláudia Albagli – 2019.1 
 
A hermeneutica filosófica vai se preocupar menos com a relação sujeito-
objeto, e vai se preocupar mais com a relação sujeito-sujeito. Isto é, o foco está 
no sujeito (ser) interprete e no mundo que o circunda, ou seja, a forma que este 
ser interprete compreende o mundo. 
Hans Georg Gadamer 
Também faz parte da Hermenêutica Filosófica. Para Gadamer, a verdade 
não pode ser alcançada pelo método, mas somente através da dialética. Isso 
porque a interpretação não é um resultado face a um objeto, mas sim do homem 
com o seu próprio modo de ser. Ou seja, só se chega à compreensão ao 
experimentar e fazer parte do objeto, o que acontece de modo singular, variando 
de pessoa para pessoa. Portanto, a compreensão não é resultado da relação 
entre homem e objeto, mas sim do homem dentro das suas próprias conclusões. 
Nesse sentido, para Gadamer, não existe compreensão em abstrato, 
diferentemente da hermenêutica científica, pois, como dito, só se consegue 
chegar à compreensão ao experimentar e fazer parte do objeto. 
Da mesma forma, não existe interpretação objetivamente válida, na 
medida em que a interpretação varia de pessoa para pessoa, de acordo com as 
suas experiências vividas. Gadamer diz que se a interpretação se desse através 
de um método, não haveria resultados diferentes, apenas um resultado seria 
possível. Assim, por não existir uma interpretação objetivamente válida, não 
existe uma decisão correta, mas sim interpretações possíveis. Nesse sentido, 
Gadamer entende a interpretação como uma relação dialética, um permanente 
diálogo entre o intérprete e a obra, ou seja, a interpretação não é linear, mas há 
um movimento constante que vai se construindo a interpretação. 
Gadamer rompe com Dilthey, pois Dilthey vê a história como ponto 
concreto para a compreensão. Já Gadamer fala que, mesmo tendo a história, a 
pré compreensão do intérprete vai influenciar na interpretação. Nesse sentido, a 
hermenêutica e a pré-compreensão compõem o círculo hermenêutica (veja que 
Sch falava do círculo hermenêutica também, mas entre o sentido gramatical x 
sentido psicológico; Gadamer fala entre a hermenêutica (interpretação) x pré 
compreensão), onde a compreensão é vista como um processo linguístico em 
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que a gramática e a retórica são os meios pelo qual se realiza o acordo e o 
entendimento sobre a coisa/objeto. 
Então, diferentemente dos científicos que utilizam a hermenêutica como 
método pronto, os filosóficos vão usar o processo dialético, ou seja, o sujeito dá 
sentido à obra e a obra modifica o sujeito. Isto é, não existe a interpretação da 
obra pelo método, mas sim da troca de diálogo entre o intérprete e a obra. Então 
não se deve ter método interpretativo, mas sim a interpretação a partir do próprio 
objeto. “Não podemos pegar métodos na prateleira e aplicar”. 
Gadamer não diverge de Heidegger, mas vai adiante. Ele categoriza 
melhor, dando conceitos, ou seja, acaba sendo mais didático. 
De volta à Hermenêutica Científica 
Emílio Betti 
É italiano, historiador, mas se dedica uma parte grande de sua vida ao 
estudo da hermenêutica, especialmente a hermenêutica jurídica. Esta é um 
exemplo constante na obra de Betti. Mas ele em si não é da área do Direito, é 
historiador. 
Betti escreve a “Teoria da Interpretação” nos anos 60, depois do livro de 
Gadamer, fazendo uma crítica a ele. Propõe um retorno à hermenêutica 
metodológica, dizendo que a hermenêutica pode ser sim um campo de métodos 
e princípios para a interpretação, entendendo isso como o papel da 
hermenêutica. Então nesse ponto ele já se contrapõe ao pensamento de 
Gadamer e ele diz isso afirmando que, se não for dessa maneira, se tornaria 
impossível você definir qual interpretação está certa ou qual está errada. Logo, 
qual seria o papel da hermenêutica, senão refletir acerca do que é uma 
interpretação realizada de maneira correta ou não. Então, por essa razão, ele 
propõe um retorno à hermenêutica metodológica. Gadamer, por outro lado, dizia 
que a hermenêutica não serve como um auxiliar de metodologia dos estudos 
humanísticos. 
A segunda crítica de Betti a Gadamer é o fato de que, para Betti, o modo 
como Gadamer pensa a interpretação, ele relativiza, a tal ponto, o processo 
interpretativo que, na visão dele, se cairia no risco de não se ter nenhuma baliza 
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do que é certo e o que é errado. Diz ele que reconhecer a existência de uma 
subjetividade no intérprete, como Gadamer faz ao falar da pré-compreensão é 
aceitável, mas fazer disso algo que é a própria condição interpretativa, significa 
criar um critério de relativização permanente. É admitir que qualquer 
interpretação é válida. 
Na prática o que Betti tá dizendo é que, se a gente toma a visão da 
hermenêutica filosófica como a visão própria do processo interpretativo, a gente 
está abrindo uma porta paraadmitir qualquer interpretação. E isso não seria 
possível, ainda mais fazendo a conexão com o Direito. Ou seja, tem que ter um 
mínimo de razoabilidade no processo interpretativo. 
Betti ainda retorna à questão do sujeito-objeto, onde os hermeneutas 
antigos trabalhavam com esse binômio, o qual Heidegger reprimiu. Betti traz à 
tona, novamente, a questão de que, embora exista a subjetividade, o objeto a 
ser interpretado continua a ser objeto. Então ele resgata a ideia da relação 
sujeito-intérprete-objeto interpretado dizendo que o objeto a ser interpretado 
contém uma autonomia que lhe é essencial e que faz com que haja nele uma 
objetividade verificável. Da mesma maneira, trazendo para efeitos práticos, ele 
quer dizer que, embora duas pessoas sejam diferentes, a Constituição é a 
mesma, ou seja, o objeto a ser interpretado, a norma, esta não se modifica, esta 
é um objeto. Assim, se o objeto não é diferente do observador, então pra que a 
interpretação? Ou seja, já que não há essa relação sujeito-objeto, pra que 
interpretar? Está interpretando o que se não há nada diferente do próprio sujeito 
a ser interpretado? Então ele diz que é claro que há uma relação sujeito-objeto, 
porque o sujeito interpreta algo. Então esse objeto existe, assim como a relação. 
Então ele questiona um dos pressupostos da hermenêutica filosófica, que é a 
relação sujeito-objeto, mostrando que essa relação existe e é necessária para 
que se torne possível a interpretação, porque se não se considera a existência 
de um objeto a ser interpretado, está se negando a própria existência do que se 
motiva a interpretar. 
A diferença de Betti para os outros hermeneutas da linha científica (seus 
antecessores Dilthey e Schleiermacher) é porque esses outros não discutiram 
essa condição da subjetividade, e Betti traz esse debate, por uma razão de que 
ele escreveu a sua obra depois de Heidegger e Gadamer. 
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Ele reconhece essa condição da subjetividade, mas diz que, embora 
exista a subjetividade, o objeto se mantém objeto. Mais uma vez, o fato de os 
observadores serem diferentes, não muda em nada a existência do objeto a ser 
interpretado. 
Betti fala da ideia de que há, entre as partes do discurso, a necessidade 
de uma relação de coerência. Ou seja, por exemplo, em uma sentença, toda a 
sua estrutura deve ter uma relação de coerência (justificação interna). Isso se 
viu em Gadamer e volta a se ver em Betti. Se não há uma relação de coerência 
entre as partes de uma decisão, não irá se alcançar a justificação externa, que 
é a capacidade da decisão de se legitimar, que é alcançar a aceitabilidade social. 
Então Gadamer e Betti dizem que, havendo essa relação de logicidade, isso 
justifica a própria racionalidade do todo da decisão. 
A finalidade da hermenêutica de Betti é criar critérios para avaliar o que é 
certo e o que é errado. Mas ele não apresenta, ao final, nenhum método ou 
nenhum princípio que sirva ao que ele quer. Então ele afirma a necessidade de 
uma hermenêutica metodológica, critica a hermenêutica filosófica, mas não diz 
que método ou princípio é esse. Ele não dá esse passo adiante para criar, de 
fato, métodos. 
Humberto Eco 
É italiano também. É um autor contemporâneo, morreu em 2016. Se 
tornou notório como intelectual, não de uma área específica, produziu inúmeras 
obras. Autor bem plural e dentro dessa pluralidade, escreveu um livro chamado 
“interpretação e super interpretação”. Ele trabalha, no livro, a ideia da existência 
de excessos do processo interpretativo. Ele quer discutir os limites da 
interpretação, quer debater até onde é possível e até onde está havendo a super 
interpretação, que é a interpretação que foge totalmente do texto (hoje é o que 
mais temos, principalmente na mídia). Nesse sentido, ele fala do risco no 
processo interpretativo se sair da curva e produzir o que ele denomina de super 
interpretação. 
Ele fala de três conceitos: 
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• A intenção do leitor: Diz que à intenção do leitor está aberta a 
indetermináveis interpretações. Ou seja, sendo você sujeito 
humano, você está passível de fazer toda e qualquer interpretação. 
É um texto aberto a leituras indeterminadas. Exemplo: duas 
pessoas leem o mesmo texto e têm interpretações completamente 
diferentes, pois isso está condicionado à própria condição 
existencial. 
• A intenção do autor: Ele coloca a intenção do autor como a 
tentativa de reconstrução dos objetivos do autor do texto. É tentar 
recompor a intenção do autor ao escrever o livro (como se vê em 
Schleiermacher, que fala em sentido gramatical e sentido 
psicológico, na qual esta última é a tentativa de reconstrução do 
pensamento do autor). 
OBS: Qualquer dessas duas possibilidades, levaria à super interpretação. 
• A intenção da obra: Na prática, o que Eco está querendo dizer é 
que entre a intenção do autor e a intenção do leitor, está o texto, 
que é onde, de fato, nós devemos nos ater para o processo 
interpretativo. Ou seja, nem nos prendermos às possibilidades de 
várias interpretações do leitor, nem nos prendermos à tentativa de 
recomposição do pensamento do autor. Nós devemos buscar o 
texto, que é o mesmo que se discute em Betti: há um objeto, há um 
texto e é a ele que se deve se prender. 
OBS: Não nega a intenção do autor, mas não se deve se prender apenas 
a este aspecto, pois cai no risco da super interpretação. 
Eco contesta a ideia da super interpretação, dizendo que há graus de 
aceitabilidade da interpretação. Não é possível se aceitar qualquer interpretação. 
Ele fala isso dizendo que foi vítima disso em sua obra “O nome da rosa”. 
Hermenêutica jurídica 
Premissas do processo interpretativo 
Tércio Sampaio diz que a interpretação jurídica parte de dois 
pressupostos: 
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Inegabilidade dos pontos de partida: É a ideia de que, no direito, há 
sempre um ponto de partida de onde se deve começar. Em IED aprende-se o 
dogma da completude, pois houve uma concepção jurídica em que se acreditava 
que o sistema jurídico era completo. Hoje já não concebe mais a completude do 
ordenamento, mas continua afirmando a inegabilidade dos pontos de partida, 
dizendo que sempre haverá ou uma regra ou um princípio de onde se pode partir 
para a decisão de um caso concreto. Então a ideia desse pressuposto é a ideia 
de que o operador do Direito tem sempre um ponto a buscar no ordenamento 
jurídico que lhe sirva de partida para a solução. Esse pressuposto está 
diretamente relacionado com a proibição do non liquet. 
Proibição do non liquet: É uma regra contida no artigo 140 do CPC. Vai 
dizer que, ao juiz, não é dado não decidir. O juiz está obrigado a decidir. Então 
se o juiz está obrigado a decidir, ele sempre terá que encontrar um ponto de 
partida. Então, essa regra é a obrigatoriedade de que o magistrado dê uma 
decisão, mesmo que seja que o pedido é juridicamente impossível, ou que ele é 
incompetente para o caso concreto. 
Tércio fala que essas duas condicionantes juntas, são premissas para o 
processo interpretativo. A interpretação do Direito é decorrência da somatória 
desses dois elementos. 
Tércio trabalha esses dois conceitos, onde o conceito do legislador 
racional pode-se entender como o próprio conceito de intérprete. Ou seja, 
legislador racional, pois teria essa função de mediar a realidade no plano do ser 
com a linguagem normativa que é o plano do dever-ser. Isto é, o papel do 
intérprete é retirar a norma do estado de abstração e trazê-la para o caso 
concreto.Outro conceito é acerca da decibilidade dos conflitos que é a ideia da 
atividade interpretativa máxima. O direito é voltado à decisão de conflitos, é o 
seu propósito. A atividade interpretativa máxima é, portanto, a atividade de 
solucionar o conflito que ora se apresente. 
O Direito, ao ser linguagem, demanda uma uniformidade em torno de 
sentidos jurídicos, ou seja, a possibilidade de se utilizar de conceitos jurídicos, 
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passa por uma existência de uma compreensão uniforme desses conceitos. 
Precisa disso para aplicar a técnica do Direito. 
Conceitos meramente formais do Direito: São conceitos 
exclusivamente do Direito. Fora do mundo do Direito não tem significação. São 
conceitos técnicos que são necessários em qualquer espaço de profissão. 
Dentro deste conceito, ele ainda chama atenção para o “regular juris”, que são 
expressões que são capazes de sintetizar um conjunto de regras jurídicas. Por 
exemplo: quando se fala de direito de propriedade, não se está falando de 
apenas um direito, mas sim um leque de direitos que estão relacionados à 
propriedade. 
Conceitos tipológicos: São conceitos que são da linguagem comum, 
mas que estão incorporados ao Direito. São expressões que, mesmo fora do 
universo jurídico, tem significação. Uma vez incorporados na norma jurídica, 
passam a significar um direito garantido pelo ordenamento. Exemplo: a ideia de 
boa-fé, de interesses públicos, etc. Esses conceitos podem representar a 
necessidade de um juízo de valor, isto é, no momento em que se traz uma 
expressão como essa da linguagem natural, e torna linguagem jurídica, isso 
pode demandar de quem for aplicar a norma, que faça um exercício de valoração 
desse conceito. Nesse sentido, quando a norma traz essa situação que abra uma 
margem de escolha, o judiciário pode avaliar se é cabível ou não. Sempre que 
houver esses conceitos tipológicos, o modo de análise é a partir das 
especificidades da situação + os limites principiológicos. 
A hermenêutica jurídica vai ser deflagrada a partir do debate entre as 
teorias subjetivistas e as teorias objetivistas. 
Teorias subjetivistas 
São as teorias que entendem que a interpretação deve se voltar para a 
vontade do legislador. Compreendem que o papel da interpretação do Direito é 
fazer um retorno para compreender a vontade do legislador. O que seria 
identificar a vontade do legislador? É uma interpretação que faz um retorno à 
origem da norma, tentando entender os motivos do legislador para a criação 
daquele direito. Isso é de difícil possibilidade, pois muitas vezes há uma distância 
grande entre o intérprete e o legislador (distância temporal). Essa linha 
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interpretativa carrega, então, uma dificuldade natural de entender as razões do 
legislador. Nesse sentido, as teorias subjetivistas propõem essa interpretação 
através de uma análise linguística, por isso são consideradas teorias restritivas, 
que estão restritas a letra da lei. Interpretação restrita ao texto da norma, 
portanto. 
O erro que se aponta aqui é a supervalorização da figura do legislador. 
Então geralmente os métodos e a interpretação subjetivista estão relacionados 
aos regimes de caráter autoritário, onde a figura do legislador tem uma 
supervalorização. Então entende-se que há um risco nesse tipo de interpretação. 
Teorias objetivistas 
Vão entender que o papel da interpretação jurídica é ir em busca da 
vontade da lei. Entende que a lei é expressão da convicção comum da 
sociedade. Então a lei não é expressão da vontade do legislador, e sim 
expressão da vontade do povo. Traz a ideia de “espírito do povo”. Então o papel 
do intérprete é ir em busca da vontade da lei. O legislador seria apenas um 
instrumento para a realização dessa vontade. Não é a literalidade da norma, mas 
todo e qualquer método que permita associar o texto da norma com a vontade 
da própria sociedade. Então sai de uma interpretação de caráter restritivo para 
uma interpretação, ainda a partir de métodos, mas com uma outra perspectiva, 
outra metodologia. 
Essa interpretação seria ex nunc, ou seja, não retroage, diferentemente 
das teorias subjetivistas, pois é preciso pensar a norma no momento da sua 
interpretação para o futuro, e não para o passado. Dessa linha vão surgir os 
métodos axiológico (procura extrair o valor afirmado pela norma; entendimento 
de que toda norma carrega consigo algum valor que pretende ser afirmado), 
teleológico (busca identificar os fins da norma) e sociológico (ligado a uma 
interpretação que considera os aspectos sociais da aplicação da norma). 
O equívoco dessa linha interpretativa seria o fato de haver um risco de 
anarquização da atividade interpretativa, ou seja, no momento em que se prende 
a aspectos que não aqueles restritos ao texto da norma, se abre uma porta para 
qualquer tipo de interpretação. Na opinião dos críticos, seria um grande risco, 
pois permitiria uma interpretação sem baliza, sem regras.

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