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Informativo STF Nº 893 Penal e Processo Penal Comentado

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INFORMATIVO 893 STF – PENAL E PROCESSO PENAL COMENTADO
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INCITAÇÃO À DISCRIMINAÇÃO RELIGIOSA E 
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
No julgamento do RHC 146303/RJ, o STF entendeu que a incitação ao ódio pú-
blico contra quaisquer denominações religiosas e seus seguidores não está protegi-
da pela cláusula constitucional que assegura a liberdade de expressão.
O argumento de liberdade de expressão não pode - nem deve - servir como 
salvo conduto à ofensa dos demais direitos. Impõe-se respeitar restrições previstas 
na própria Constituição.
Entenda o caso: 
Os ministros consideraram que as declarações de uma pastor são “islamofóbicas” e in-
citam o ódio a várias religiões. O pastor publicou na internet textos e vídeos ofensivos a 
seguidores de crenças diversas da sua, como muçulmanos, católicos, judeus, espíritas 
e umbandistas. Em algumas publicações, o réu pedia pelo fim das outras religiões e 
doutrinas, além de imputar fatos ofensivos aos devotos e sacerdotes. O crime de discri-
minação religiosa está previsto na Lei 7.716/1989, a mesma que pune o racismo. Con-
FELIPE LEAL
Graduado em Direito pela Universidade Federal da Paraíba (2003), 
mestrado em Direito Ambiental e Políticas Públicas pela Universidade 
Federal do Amapá (2012) e Doutorando em Ciências Jurídico-Criminais 
nas Universidades de Porto e de Coimbra, em Portugal (2017-2021). 
Ingressou na Polícia Federal em 2005, como Papiloscopista Policial 
Federal, adquirindo experiência na área pericial, e, desde 2006, é 
Delegado de Polícia Federal, tendo já chefiado Delegacias Especializadas 
na Repressão ao Tráfico de Drogas/PA (2006-2007), na Repressão 
aos Crimes Ambientais/AP (2008-2010) e na Repressão a Crimes 
Financeiros/PB (2011 -2012), bem como atuou como Chefe do Núcleo 
de Inteligência em Pernambuco (2013-2014). Após, foi designado 
como membro do Grupo de Inquéritos da Operação Lava Jato junto ao 
Supremo Tribunal Federal e ao Superior Tribunal de Justiça (2015-2016), 
sendo convidado a assumir a Divisão de Contrainteligência da Polícia 
Federal em Brasília (2016-2017). Na docência, é um dos responsáveis 
pela formação profissional de novos policiais, com a elaboração 
de Caderno Didático para a Academia Nacional de Polícia (ANP). Já 
elaborou Manuais de Investigações para autoridades policiais. Tutor da 
Disciplina Criminologia em Cursos de Aperfeiçoamento Profissional da 
ANP. Professor em Faculdades de Direito e em curso de pós-graduação 
da ANP. Coordenador Pedagógico da Escola Nacional de Delegados de 
Polícia Federal.
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denado, inicialmente, pela 20ª Vara Criminal da Capital (RJ), a três anos de reclusão, 
em regime aberto, além do pagamento de 36 dias-multa, o pastor teve a pena privativa 
de liberdade substituída por restritiva de direito. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro 
(TJ-RJ) apenas reduziu a quantidade de dias-multa, mantendo a condenação. Não satis-
feita, a defesa do pastor impetrou habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ), 
que rejeitou o pedido. Na decisão, o ministro Joel Ilan Paciornik escreveu que “não se 
trata apenas de defesa da própria religião, culto, crença ou ideologia, mas sim de um 
ataque ao culto alheio, que põe em risco a liberdade religiosa daqueles que professam 
fé diferente à do paciente 1.
INTEIRO TEOR
A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas e seus se-
guidores não está protegida pela cláusula constitucional que assegura a liberdade 
de expressão.
Com base nessa orientação, a Segunda Turma, por maioria, negou provimento 
a recurso ordinário em “habeas corpus”, no qual se postulava a anulação ou o tran-
camento de ação penal que condenou o recorrente pela prática do crime de racismo 
em decorrência de incitação à discriminação religiosa, na forma do art. 20, § 2º, da 
Lei 7.716/1989 (1).
De acordo com os autos, o acusado incitou o ódio e a intolerância contra diver-
sas religiões, além de ter imputado fatos criminosos e ofensivos a seus devotos e 
sacerdotes, tendo as condutas sido praticadas por meio da internet.
A Turma considerou que o exercício da liberdade religiosa e de expressão não 
é absoluto, pois deve respeitar restrições previstas na própria Constituição. Nessa 
medida, os postulados da igualdade e da dignidade pessoal dos seres humanos 
constituem limitações externas à liberdade de expressão, que não pode e não deve 
ser exercida com o propósito subalterno de veicular práticas criminosas tendentes 
a fomentar e a estimular situações de intolerância e de ódio público.
1 Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/justica/considerado-islamofobico-pastor-e-condenado-por-discrim-
inacao-religiosa-ef69l4j8hlzub83qibf4e5wyd. Acesso em 16/01/2018, às 13:01:00.
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As condutas praticadas pelo réu representam abusos graves contra os valores, 
fundamentos e princípios da Constituição Federal, indo de encontro ao que consig-
na o preâmbulo. Ele agiu contra a harmonia social e a fraternidade que os consti-
tuintes procuraram construir a partir da promulgação do texto constitucional.
Outrossim, compete ao Estado exercer o papel de pacificador da sociedade, 
para, assim, evitar uma guerra entre religiões, como acontece em outras regiões 
do mundo.
Portanto, não há falar na existência de teratologia apta a ensejar o trancamento 
da ação penal, na medida em que os fatos se enquadram na figura delitiva do art. 
20, § 2º, da Lei 7.716/1989.
Vencido o ministrto Edson Fachin, que dava parcial provimento ao recurso para 
determinar o trancamento da ação penal.
(1) Lei 7.716/1989: “Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou pre-
conceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. (...)§ 2º Se qualquer 
dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunica-
ção social ou publicação de qualquer natureza: Pena: reclusão de dois a cinco anos 
e multa”.
RHC 146303/RJ, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, 
julgamento em 6.3.2018. (RHC - 146303)
Veja como esse assunto pode ser abordado em concurso para Delegado
Questão: 
Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal, a incitação ao ódio público 
contra quaisquer denominações religiosas e seus seguidores não pode ser atribuída 
à conduta de líder espiritual ainda que responsável por propalar opiniões intole-
rantes, diante da proteção absoluta, por cláusula constitucional, da liberdade de 
expressão.
Resposta: Errado. 
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