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Direito Penal O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 1 www.cursoenfase.com.br Sumário 1. Desistência voluntária e arrependimento eficaz .................................................... 2 2. Arrependimento posterior ..................................................................................... 3 3. Nexo causal ............................................................................................................. 3 3.1 Concausas ......................................................................................................... 3 4. Excludentes de ilicitude .......................................................................................... 5 4.1 Estado de necessidade ...................................................................................... 6 4.2 Legítima defesa ................................................................................................. 6 Direito Penal O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 2 www.cursoenfase.com.br 1. Desistência voluntária e arrependimento eficaz CP, Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados. Dentro do artigo sob análise, estão ambos os conceitos dos institutos acima mencionados: (i) desistência voluntária: o agente DESISTE, voluntariamente, de prosseguir na execução; (ii) arrependimento eficaz: o agente, voluntariamente, IMPEDE que o resultado se produza – o agente completa os atos executórios, no entanto, pratica um contra-ato, impedindo a consumação. A doutrina indica duas frases para diferenciar tentativa de desistência voluntária: “Quero, mas não posso” (tentativa) e “Posso, mas não quero” (desistência voluntária). Caso uma terceira pessoa influencie o agente e este, efetivamente, desista, haverá, sim, desistência voluntária, embora o ato seja não espontâneo. Estar-se-á perante ato espontâneo quando a iniciativa partir do próprio agente. Importante perceber que, no arrependimento eficaz, o agente deve impedir que o resultado se produza. Exemplo: o agente presta socorro à vítima contra quem desferiu diversos disparos de arma de fogo e leva-a ao hospital, onde sua vida é salva pelos médicos. Se o agente não conseguir impedir a consumação do resultado, mas, manifestar a intenção de fazê-lo, inocorrerá a desistência voluntária. Todavia, será beneficiado por uma causa de diminuição de pena. Em contrapartida, conseguindo o agente impedir a produção do resultado, responderá, apenas, pelos atos já praticados. Exemplo: Harry aponta sua faca para Malfoy e diz: “Eu vou te matar!”. Entretanto, após dizer isso, desiste de seu intento e vai embora para casa de Hermione. No exemplo, Harry, voluntariamente, desistiu de prosseguir na execução do crime de homicídio, logrando impedir a produção do resultado. Apesar disso, responderá pela ameaça perpetrada contra Malfoy. Observação: em provas, desistência voluntária e arrependimento posterior podem aparecer denominadas como “ponte de ouro” ou “tentativa abandonada”. Direito Penal O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 3 www.cursoenfase.com.br 2. Arrependimento posterior CP, Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços. Tal qual se conclui a partir da leitura do artigo 16, o arrependimento posterior não é válido para qualquer tipo penal. Apenas, para os crimes praticados SEM VIOLÊNCIA ou GRAVE AMEAÇA à pessoa. Havendo a RESTITUIÇÃO DA COISA ou a REPARAÇÃO DO DANO até o RECEBIMENTO (≠ oferecimento) da denúncia/queixa, por ATO VOLUNTÁRIO do agente, este fará jus a uma redução de 1/3 a 2/3. Nos casos em que houver restituição parcial da coisa, de acordo com a posição do STF, ocorrerá a redução da pena aplicada. 3. Nexo causal Ligação entre conduta e resultado. Trata-se da conditio sine qua non, ou seja, a conduta sem a qual o resultado não aconteceria. O agente somente responderá pelo crime se houver lhe dado causa. CP, Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Exemplo: Richarlyson toma bastante veneno, pois quer se matar. Antes de morrer, declara-se para sua vizinha, Micalateia, que, por considerar sua ‘cantada’ muito ruim, golpeia- o, diversas vezes, com uma faca. Richarlyson, então, volta para sua residência, onde sua esposa, Vandinha Gomes, ao descobrir que ele tinha ‘cantado’ a vizinha, efetua três disparos de arma de fogo contra ele, atingindo-o. Richarlyson sai correndo para a rua, onde é atropelado por um ônibus. Ainda com vida (!), é socorrido por uma ambulância, mas, morre a caminho do hospital. Quem responde por esse crime? Dentre as várias causas possíveis, é preciso encontrar aquela sem a qual não haveria o resultado. 3.1 Concausas No ponto, fala-se das concausas, que se revelam quando há mais de uma causa influenciando o resultado. Dividem-se em absoluta (são aquelas que têm origem totalmente Direito Penal O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 4 www.cursoenfase.com.br diversa da conduta) e relativamente independentes (encontram sua origem na própria conduta praticada pelo agente).1 Exemplo: Bill e Bob, sem saberem da existência um do outro, desejam matar o professor Alexandre Medeiros, pois não gostaram das aulas por ele ministradas. Posicionam- se, cada qual em seu respectivo lugar, e, ao avistarem o professor saindo do Curso Ênfase, cada um efetua um disparo de arma de fogo, sendo que um projétil atinge a cabeça, o outro, o coração. Periciado o cadáver de Alexandre no IML, embora se constate que a causa da morte foram os ferimentos gerados pelos disparos de projéteis de arma de fogo (PAF), não se consegue identificar o tiro fatal. Como fica a responsabilização penal no caso? Descobrindo-se de quem partiu o tiro letal (ex.: Bill), o agente responderá por homicídio consumado, ao passo que o outro atirador (ex.: Bob) responderá por homicídio tentado. Caso não se descubra, ambos responderão por tentativa de homicídio. Nas concausas supervenientes relativamente independentes, uma causa nova rompe com o nexo de causalidade anterior e, por si só, provoca o resultado. Exemplo: Harry toma uma facada na cabeça, é socorrido por uma ambulância e levado ao hospital. Durante uma cirurgia, sofre uma hemorragia e vem a óbito. Nesse caso, o agente responderá pelo homicídio, porquanto a morte possui nexo de causalidade com sua conduta (desferir golpes de faca contra a vítima). Exemplo: Harry toma uma facada na cabeça, é socorrido por uma ambulância e levado ao hospital. No percurso, a ambulância cai dentro de um rio e Harrymorre afogado. Diferentemente, nesse caso, o agente responderá pela tentativa de homicídio, haja vista que a morte da vítima (afogamento após um acidente de ambulância) NÃO possui nexo de causalidade com sua conduta (desferir golpes de faca contra a vítima). CP, Art. 13, § 1º A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. Alerte-se que, quando se estiver perante concausa superveniente relativamente independente, não necessariamente, o agente responderá pelos fatos anteriores como um crime na modalidade tentada. Exemplo: Leandro Damião, com intenção de lesionar, desfere uma facada contra o pé de Emerson, o qual, prontamente, é levado ao hospital, localizado em cima de um morro. Após 1 Nota do monitor: conceitos extraídos da obra do professor Fernando Capez. Direito Penal O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 5 www.cursoenfase.com.br fortes chuvas, houve desmoronamento de terra em torno do hospital e todos os pacientes, inclusive Emerson, morreram. Na hipótese, Leandro Damião responderá pelo crime de lesão corporal. Não há que se falar que a ele deve-se imputar o crime de homicídio pelo fato de Emerson estar no hospital somente por causa dele. Leandro Damião responderá pela conduta ocorrida até a causa (desmoronamento) que, só por si, produziu o resultado (morte). Isto é, pela lesão corporal. 4. Excludentes de ilicitude Preveem-se, em número de quatro, no artigo 23 do CP: CP, Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. Não obedecidos os requisitos das excludentes, o agente responderá pelo excesso doloso ou culposo. CP, Art. 23, Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo. Questão de Concurso (Técnico Segurança e Transporte – FCC/TRF2/2012) 41. Inclui-se, dentre outras causas excludentes da ilicitude, (A) a coação irresistível. Comentário: a coação irresistível pode ser física (exclui a tipicidade) ou moral (exclui a culpabilidade). (B) a obediência hierárquica. Comentário: exclui a culpabilidade. (C) a embriaguez voluntária. Comentário: não exclui nada. (D) a emoção. Comentário: não exclui nada. (E) o estado de necessidade. Gabarito: assertiva ‘E’. Direito Penal O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 6 www.cursoenfase.com.br 4.1 Estado de necessidade Em provas, costuma-se cobrar a literalidade do artigo 24 do CP, o qual, para fins didáticos, será decomposto. CP, Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de [1] perigo atual: ameaça de lesão a bem jurídico, tais como fatores naturais (ex. tsunami, furacão), comportamentos de animais irracionais (ex. leão que ameaça atacar visitantes de zoológico) ou comportamentos humanos (ex. homem-bomba que ameaça explodir um prédio cheio de pessoas). O perigo deve ser atual de acordo com a lei, porém, a doutrina admite o perigo iminente; [2] que não provocou por sua vontade: veda-se que o indivíduo tenha provocado o perigo dolosamente; [3] nem podia de outro modo evitar: o estado de necessidade exige do agente a saída mais cômoda; [4] direito próprio ou alheio: v.g., bombeiro que quebra portas para salvar vidas de terceiros de um incêndio; [5] cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se: descobre-se a razoabilidade mediante ponderação entre o bem jurídico sacrificado e o bem jurídico salvo. Ex.: patrimônio/vida (BJ sacrificado < BJ salvo); vida/vida (BJ sacrificado = BJ salvo). Nas hipóteses em que o BJ sacrificado tem hierarquia maior que o BJ salvo, o sujeito responderá pelo crime (v.g., estado de necessidade) com uma redução de pena de 1/3 a 2/3. Para a legislação brasileira, aqui, não haverá estado de necessidade. § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços. 4.2 Legítima defesa O artigo 25 do CP, tal qual o artigo 24, será decomposto para melhor ser estudado. CP, Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, [1] usando moderadamente dos meios necessários: por meios necessários entende-se aqueles suficientes para afastar a injusta agressão. O agente não pode escolhê- Direito Penal O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 7 www.cursoenfase.com.br los. Serão assim considerados aqueles que o agente tiver à sua disposição no momento da injusta agressão. A utilização de tais meios deve ser moderada/equilibrada. [2] repele injusta agressão: agressão é conduta HUMANA. Não se classificam como tal comportamentos de animais irracionais, fatores da natureza, etc. A exceção fica por conta dos casos em que o homem usa o animal para praticar a injusta agressão, quando, então, poderá se configurar legítima defesa, e não estado de necessidade. Ressalte-se que a agressão precisa ser INJUSTA, isto é, não gozar de amparo no ordenamento jurídico. Por esse motivo, não se admite a legítima defesa real contra a legítima defesa putativa, eis que a legítima defesa putativa é albergada pelo ordenamento pátrio e, portanto, não é injusta. Questão de concurso (adaptada) (Juiz Federal – CESPE/TRF3/2011) Não se admite, por incompatibilidade teórica, a legítima defesa como justificativa da ação que repele agressão praticada em legítima defesa putativa. Comentário: Assertiva correta. Legítima defesa putativa é aquela imaginária. Ex.: Harry vê Malfoy, seu desafeto declarado, caminhando em sua direção com a mão no bolso. Pensando tratar-se de uma arma, Harry atira contra Malfoy e, depois, descobre que este, na verdade, trazia consigo um pedido escrito de desculpas. Como visto acima, não pode haver legítima defesa real contra a legítima defesa putativa, pois a agressão não é injusta. [3] atual ou iminente: legítima defesa não é revanche. Por isso, não se admite a legítima defesa para agressões passadas ou futuras (ameaças). A agressão precisa ser atual (está acontecendo) ou iminente (prestes a acontecer). Não se exige a saída mais cômoda ao agente. Isso significa que ele não é obrigado a fugir do agressor para, só se não conseguir, repelir a agressão injusta. O Direito Penal brasileiro não exige que ninguém seja covarde. [4] a direito seu ou de outrem. Observação: estado de necessidade e legítima defesa são as duas principais causas de excludentes de ilicitude no ordenamento brasileiro. Tanto que possuem dispositivos legais específicos para defini-las.
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