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Formação Econômica do Brasil, Celso Furtado (Parte 3)

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Formação Econômica do Brasil, Celso Furtado (Parte 3)
 Pg.79 "Era mais ou menos evidente que da agricultura tropical não se podia
esperar outro milagre similar ao do açúcar. Iniciara-se uma intensa
concorrência no mercado de produtos tropicais, apoiando-se os principais
produtores - colônias francesas e inglesas - nos respectivos mercados
metropolitanos." 
Pg.79 "Em Portugal compreendeu-se claramente que a única saída estava na
descoberta de metais preciosos." 
Pg.79 "Os governantes portugueses cedo se deram conta do enorme capital que,
para a busca de minas, representavam os conhecimentos que do interior
do país tinham os homens do planalto de Piratininga. Com efeito, se estes
já não haviam descoberto o ouro em suas entradas pelos sertões, era por
falta de conhecimentos técnicos. A ajuda técnica que então receberam da
Metrópole foi decisiva." 
Pg.79 "O estado de prostração e pobreza em que se encontravam a Metrópole e
a colônia explica a extraordinária rapidez com que se desenvolveu a
economia do ouro nos primeiros decênios do século XVIII." 
Pg.80 "Na região açucareira, os imigrantes regulares limitavam-se a artesãos e
trabalhadores especializados que vinham diretamente para trabalhar nos
engenhos. Em São Vicente a imigração fora inicialmente financiada pelo
donatário com objetivos econômicos que resultariam em fracasso. Em
outras partes - no norte e no sul, principalmente - a imigração fora
financiada pelo governo português, que pretendia criar colônias de
povoamento com objetivos políticos." 
Pg.80 "A economia mineira abriu um ciclo migratório europeu totalmente novo
para a colônia." 
Pg.81 "Se bem que a base da economia mineira também seja o trabalho
escravo, por sua organização geral ela se diferencia amplamente da
economia açucareira." 
Pg.81 "[...] a forma como se organiza o trabalho permite que o escravo tenha
maior iniciativa e que circule num meio social mais complexo." 
Pg.81 "Ao estagnar-se a economia açucareira, as possibilidades de um homem
livre para elevar-se socialmente se reduziram ainda mais." 
Pg.81 "Na economia mineira, as possibilidades que tinha um homem livre com
iniciativa eram muito maiores. Se dispunha de recursos, podia organizar
uma lavra em escala grande, com cem ou mais escravos." 
Pg.82 "A natureza mesma da empresa mineira não permitia uma ligação à terra
do tipo da que prevalecia nas regiões açucareiras. O capital fixo era
reduzido, pois a vida de uma lavra era sempre algo incerto. A empresa
estava organizada de forma a poder deslocar-se em tempo relativamente
curto. Por outro lado, a elevada lucratividade do negócio induzia a
concentrar na própria mineração todos os recursos disponíveis." 
Pg.82 "A combinação desses dois fatores - incerteza e correspondente
mobilidade da empresa, alta lucratividade e correspondente
especialização - marca a organização de toda a economia mineira. Sendo
a lucratividade maior na etapa inicial da mineração, em cada região, a
excessiva concentração de recursos nos trabalhos mineratórios conduzia
sempre a grandes dificuldades de abastecimento." 
Pg.82 "A fome acompanhava sempre a riqueza nas regiões do ouro. A elevação
dos preços dos alimentos e dos animais de transporte nas regiões vizinhas
constituiu o mecanismo de irradiação dos benefícios econômicos da
mineração." 
Pg.82 "O próprio gado do Nordeste, cujo mercado definhava com a decadência
da economia açucareira, tende a deslocar-se em busca do florescente
mercado da região mineira."
Pg.82 "A quase inexistência de abastecimento local de alimentos, a grande
distância por terra que deviam percorrer todas as mercadorias importadas,
a necessidade de vencer grandes caminhadas em região montanhosa
para alcançar os locais de trabalho, tudo contribuía para que ò sistema de
transporte desempenhasse um papel básico no funcionamento da
economia. Criou-se, assim, um grande mercado para animais de carga." 
Pg.83 "A região rio-grandense, onde a criação de mulas se desenvolveu em
grande escala, foi, dessa forma, integrada no conjunto da economia
brasileira." 
Pg.83 "Desse modo, a economia mineira, através de seus efeitos indiretos,
permitiu que se articulassem às diferentes regiões do sul do país." 
Pg.83 "Ao contrário do que ocorrera no Nordeste, onde se partiu de um vazio
econômico para a formação de uma economia pecuária dependente da
açucareira, no sul do país a pecuária preexistiu à mineração." 
Pg.83 "A economia mineira abriu um novo ciclo de desenvolvimento para todas
elas. Por um lado, elevou substancialmente a rentabilidade da atividade
pecuária, induzindo a uma utilização mais ampla das terras e do rebanho.
Por outro, fez interdependentes as diferentes regiões, especializadas
umas na criação, outras na engorda e distribuição e outras constituindo os
principais mercados consumidores." 
Pg.84 "Em algumas regiões a curva de produção subiu e baixou rapidamente
provocando grandes fluxos e refluxos de população; noutras, essa curva
foi menos abrupta, tornando-se possível um desenvolvimento demográfico
mais regular e a fixação definitiva de núcleos importantes de população." 
Pg.84 "A exportação de ouro cresceu em toda a primeira metade do século e
alcançou seu ponto máximo em torno de 1760, quando atingiu cerca de
2,5 milhões de libras. Entretanto, o declínio no terceiro quartel do século
foi rápido e, já por volta de 1780, não alcançava 1 milhão de libras. O
decênio compreendido entre 1750 e 1760 constituiu o apogeu da
economia mineira, e a exportação se manteve então em torno de 2
milhões de libras." 
Pg.85 "Se bem que a renda média da economia mineira haja sido por mais baixa
do que aquela que conhecera a região do açúcar, seu mercado
apresentava potencialidades multo maiores." 
Pg.85 "[...] o desenvolvimento endógeno - isto é, com base no Seu próprio
mercado - da região mineira foi praticamente nulo. É fácil compreender
que a atividade mineratória haja absorvido todos os recursos disponíveis
na etapa inicial." 
Pg.85 "[...] o decreto de 1785 proibindo qualquer atividade manufatureira não
parece haver suscitado grande reação, sendo mais ou menos evidente
que o desenvolvimento manufatureiro havia sido praticamente nulo em
todo o período anterior de prosperidade e decadência da economia
mineira. A causa principal possivelmente foi a própria incapacidade técnica
dos imigrantes para iniciar atividades manufatureiras numa escala
ponderável." 
Pg.86 "A primeira condição para que o Brasil tivesse algum desenvolvimento
manufatureiro, na segunda metade do século XVII, teria de ser o próprio
desenvolvimento manufatureiro de Portugal." 
Pg.86 "Em realidade, se o ouro criou condições favoráveis ao desenvolvimento
endógeno da colônia, não é menos verdade que dificultou o
aproveitamento dessas condições ao entorpecer o desenvolvimento
manufatureiro da Metrópole." 
Pg.86 "O acordo de Methuen constitui um ponto de referência importante na
análise do desenvolvimento econômico de Portugal e do Brasil." 
Pg.87 "Ocorre, entretanto, que o ouro do Brasil começou a afluir exatamente
quando entra em vigor o referido acordo." 
Pg.88 "[...] se o país dispusesse de um núcleo manufatureiro, os lucros deste
teriam de ser de tal ordem que a acumulação de capital neste setor ter-se-
ia realizado rapidamente."
Pg.88 "Dessa forma, ao iniciar-se a Revolução Industrial na segunda metade do
século, Portugal poderia haver estado preparado para defender sua
produção manufatureira e, portanto, para assimilar as novas técnicas de
produção que se estavam desenvolvendo. A inexistência desse núcleo
manufatureiro, na etapa em que se transformam as técnicas de produção
noúltimo quartel do século, é que valeu a Portugal transformar-se numa
dependência agrícola da Inglaterra." 
Pg.88 "Do ponto de vista da economia europeia em seu conjunto, o ouro do
Brasil teve um efeito tanto mais positivo quanto o estímulo por ele criado
se concentrou no país melhor aparelhado para dele tirar o máximo
proveito." 
Pg.90 "Não se havendo criado nas regiões mineiras formas permanentes de
atividades econômicas - à exceção de alguma agricultura de subsistência
-, era natural que, com o declínio da produção de ouro, viesse uma rápida
e geral decadência." 
Pg.90 "[...] a decadência se processava através de uma lenta diminuição do
capital aplicado no setor minerador. A ilusão de que uma nova descoberta
poderia vir a qualquer momento induzia o empresário a persistir na lenta
destruição de seu ativo, em vez de transferir algum saldo liquidável para
outra atividade econômica." 
Pg.91 "A existência do regime de trabalho escravo impediu, no caso brasileiro,
que o colapso da produção de ouro criasse fricções sociais de maior
vulto." 
Pg.91 "[...] na mineração a rentabilidade tendia a zero e a desagregação das
empresas produtivas era total. Muitos dos antigos empresários
transformavam-se em simples faiscadores e com o tempo revertiam à
simples economia de subsistência." 
Pg.91 "Uns poucos decênios foram o suficiente para que se desarticulasse toda
a economia da mineração, decaindo os núcleos urbanos e dispersando-se
grande parte de seus elementos numa economia de subsistência,
espalhados por uma vasta região em que eram difíceis as comunicações e
isolando-se os pequenos grupos uns dos outros."

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