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O Serviço Social em perspectiva histórica

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O Serviço Social em 
perspectiva 
histórica 
Fundamentos Históricos, Teóricos E 
Metodológicos Do Serviço Social I 
 
Introdução 
Você sabe quais foram os fatores históricos que favoreceram o 
surgimento do Serviço Social no mundo? Em qual contexto as 
pessoas e as instituições perceberam a necessidade de ajudar os 
menos favorecidos? Será que esse auxílio se deu de maneira 
estruturada ou aconteceu naturalmente? Quais foram os principais 
atores envolvidos nesse processo? 
São essas algumas das questões que você verá na sequência! Como 
ponto de partida, é importante compreender que o Serviço Social não 
surge tal como nos dias atuais, isto é, com um caráter profissional e 
desenvolvido a partir de estudos e metodologias de ação, pautado em 
distintas técnicas e processos de aprendizagem que oferecem suporte 
para a formação profissional de um indivíduo que terá como 
competência intervir em determinada realidade. 
Você vai ver que, em sua origem, o Serviço Social estava mais ligado 
a questões de cunho religioso, e tinha como princípio fundamental a 
ajuda ao próximo, a caridade. Essa linha de raciocínio advém do 
próprio pensamento cristão, expandido ao longo dos séculos, que 
conclui ser função dos mais favorecidos ajudar aqueles que têm 
menos recursos, se observados os preceitos da Igreja Católica, 
sobretudo. 
Nesse contexto, nada é imposto como obrigação, como função, mas 
sim como uma forma de se alcançar o reino dos céus e a vida eterna, 
ao amar e ajudar o próximo, a exemplo do que fez Jesus, como você 
pode observar no trecho abaixo, em que se evidencia esse papel da 
caridade. 
Essa concepção de caridade podemos encontrar em várias passagens 
da Bíblia, e a Igreja Católica, em virtude de sua hegemonia em nossa 
sociedade, difundiu-a por meio de um discurso repetitivo e moral, 
objetivando o equilíbrio e a harmonia entre os diferentes segmentos 
sociais, evitando assim o perigo de conflitos e revoltas daqueles que 
se encontram na miséria. (DA SILVA, 2006, p. 327). 
Por conseguinte e à medida que são transformadas as relações 
sociais, decorrentes do processo de evolução da sociedade moderna, 
essa prática se estende também ao Estado, ainda que não de maneira 
institucionalizada. Nesse aspecto particular, é a adoção do sistema 
capitalista de produção o cerne das grandes questões sociais: as 
relações de trabalho – sempre desfavoráveis para os empregados – 
evidenciaram o destacado poder da burguesia sobre o proletariado e a 
necessidade iminente de intervenção sobre aquela classe, com vistas 
a assegurar seu mínimo bem-estar social. 
É nesse contexto, portanto, que se concentra a base do que viria a ser 
o Serviço Social, tal como você o conhece hoje. A partir de agora, 
você vai entender as principais características desse processo. 
1. A gênese do Serviço Social 
no mundo 
O nascimento do Serviço Social, como ação humana, deve datar 
provavelmente das primeiras sociedades organizadas; o Serviço 
Social enquanto prática profissional é um pouco mais recente, 
entretanto. 
Considerando que tem seu fundamento alicerçado no caráter social, 
coletivo e balizador das relações sociais, é coerente inferir que está 
presente nas relações humanas, possivelmente, desde os seus 
primórdios. Desde então, o desenvolvimento e o fortalecimento dessa 
prática evoluíram substancialmente não apenas como prática e ação, 
mas também como profissão e disciplina. 
Discutiremos, neste texto o percurso histórico traçado pelo Serviço 
Social desde os seus primeiros registros até sua configuração atual: 
como profissão de caráter sociopolítico, interventor e crítico. 
É claro que, para isso, precisaremos fazer um breve retorno aos fatos 
históricos a ele associados, incluindo a história da Igreja Católica e do 
sistema capitalista. Surge o Serviço Social no contexto em que a 
questão social aflora e torna-se, então, uma questão de 
caráter público. Isso significa afirmar que, ao passo que a questão 
social – emergida sobretudo da desigualdade social, da diversidade 
econômica e, até mesmo, cultural – entra na agenda pública, ela se 
torna, à medida que são evidenciados os problemas dela decorrentes, 
um problema público e, portanto, um problema de todos, um problema 
da sociedade. 
A partir desse ponto, em que informações sobre as grandes questões 
sociais começam a circular, ser difundidas e discutidas, cresce 
também a demanda para que haja uma intervenção sobre elas, de 
forma a buscar se não soluções, alternativas para minimizá-las. 
Crescem, exponencialmente e concomitantemente a isso, as 
consequências dessas desigualdades, e sua urgência contribui 
diretamente para catalisar essa busca, que encontrou, no decorrer das 
últimas décadas do século XVIII, suas primeiras ações concretas. 
Nesse contexto é que são observados os primeiros registros da 
prática institucional do Serviço Social, quando ele passa a ser 
desenvolvido por organizações – que, embora por vezes precárias ou 
sem dispor de abundantes recursos financeiros e humanos, 
apresentavam uma estrutura mínima –, e não mais por pessoas ou 
pequenos grupos que trabalhavam isoladamente (DIAS, 1989). 
Esse é o ponto em que se situa o surgimento do Serviço Social. 
Desde então, como você deve imaginar, essa instituição foi submetida 
a modificações substanciais; esse conjunto de mudanças é que 
configura, hoje, o Serviço Social como profissão, campo de saber e 
política pública. 
Cabe destacar, assim, os principais eventos históricos que marcam a 
trajetória desse campo e, na sequência, elencar os de maior destaque. 
Considerando que o Serviço Social tem sua origem a partir da 
emergência das grandes questões sociais, faz-se mister entender 
então quais foram os fatores catalisadores dessas questões, aqueles 
fatores responsáveis pelo seu desenvolvimento. Na Figura 1, você 
pode observar uma formação familiar que, provavelmente, sofreu as 
consequências das revoluções ocorridas no século XVII e XIX. 
 
 
 
A imagem retrata uma família carente, alvo das ações de caridade e 
assistência social ao final do século XVIII. 
Fonte: http://www.socialworkhistorystation.org/history/chapts/1-6.htm 
Em linhas gerais, pode-se afirmar que seu surgimento está 
intimamente ligado à luta de classes. Nesse contexto, destacam-se 
aquelas registradas na França e na Inglaterra, sobretudo: em primeiro 
plano, o feudalismo e a aristocracia, e, posteriormente, o capitalismo. 
Como observa a autora Maria Lúcia Silva Barroco, em 2009, a moral – 
numa sociedade burguesa – reflete quase que exclusivamente os 
interesses de classes, o que significa afirmar, então, que à moral 
estão diretamente associados os interesses dos grupos dominantes, 
como você pode conferir no trecho a seguir: 
Na sociedade burguesa, a moral desempenha uma função ideológica: 
ainda que não diretamente, mas através de mediações complexas, 
reproduz os interesses de classe, contribuindo para o controle social, 
através da difusão de valores que visam a adequação dos indivíduos 
ao ethos dominante. (BARROCO, 2009, p. 9). 
No primeiro caso, uma intensa batalha contra a Monarquia Francesa 
foi entravada pela classe pobre e dominada daquele país, ainda no 
século XVIII. Mais tarde, nas primeiras décadas do século XIX, a 
modernização dos meios de produção transformaria a história da 
humanidade e o modus operandi do mercado na vida moderna. 
A Revolução Francesa, com seus motivos alicerçados em uma grave 
crise fiscal e no descontentamento do povo francês sob a regência de 
Luís XVI, proclamou os princípios da Liberdade, Igualdade e 
Fraternidade, o que revelou um vultoso desejo por mudança nas 
relações sociais por aquele povo, submetido não apenas ao então Rei, 
como também ao Clero (Igreja) e à Aristocracia (nobreza): foi uma 
mensagem bastante clara a da sociedade francesapara seus 
dominantes, numa guerra que se desenrolou por aproximados dez 
anos (DA SILVA GRESPAN, 2003). 
Pouco anterior e contemporaneamente a esse evento se desenrola a 
Revolução Industrial, na Inglaterra. Marcada por uma profunda 
alteração dos meios de produção – da manufatura ao maquinário –, 
ela transformou também a vida da sociedade nesse processo e, quase 
que necessariamente, suas relações sociais. 
Uma vez que o sistema capitalista foi o grande precursor da ascensão 
da classe burguesa – tida como a classe dominante, privilegiada –, por 
consequência direta dele passou a existir, naquela sociedade, a 
classe proletária, submissa à primeira. Tendo como premissa o 
domínio da burguesia sobre o proletariado e, traçando um paralelo 
entre as exacerbadas diferenças econômicas, 
sociais e culturais que separavam as duas grandes classes, é que 
afloram os problemas sociais e se evidenciam as necessidades e 
demandas da classe proletária (KISNERMAN, 1980). 
É nesse momento histórico, protagonizado (não concomitantemente) 
pela França, Inglaterra e, pouco tempo mais tarde, por outros países 
europeus e pelos Estados Unidos, que se expandiram pelo mundo os 
novos meios de produção – sobretudo máquinas movidas a energia de 
vapor e carvão – e o sistema capitalista se fortalece e as 
desigualdades sociais se acentuam. Dessa luta de classes, desse 
conflito presente, é que nascem as primeiras ações que viriam, mais 
tarde, a ser denominadas ou configuradas como ações de Serviço 
Social. 
Você vai perceber que essas ações foram marcadas por um cunho 
caridoso, de ajuda ao próximo, aos pequenos e necessitados, 
permeadas por um caráter cristão. Destaque-se, entretanto, que essa 
lógica de ajuda ao próximo impacta diretamente no tipo de ajuda que é 
ofertada a esse indivíduo. Isso porque, ao enxergar o indivíduo como 
necessitado, carente e incapaz de superar uma situação determinada 
sem ajuda, cria-se um estereótipo tanto sobre quem recebe essa 
ajuda e até mesmo sobre quem a oferece. Essa imagem de 
benevolência – daquele que oferta auxílio aos desamparados – é o 
que marca o início do Serviço Social no mundo (KISNERMAN, 1980). 
Assim observou o escritor John Stuart Mill, ainda em 1848. 
Os que pertencem às classes inferiores são tratados como crianças 
que necessitam ser dirigidos porque não estão em condições de 
pensar e trabalhar por si próprios. Por conseguinte, têm que se 
contentar em executar docilmente o trabalho que lhe é confiado e se 
comportar atenta e respeitosamente com os membros da classe 
superior. Logo, como condição para os que assim se comportam, 
como se espera que o façam, poderão contar com a assistência que 
seus superiores lhes prestarão quando se virem duramente afetados 
pelos riscos da vida. (MILL apud KISNERMAN, 1980, p. 13). 
Note que essa observação tem lugar na história menos de uma 
década depois do final do processo da Revolução Industrial, quando 
afloram as experiências pioneiras da prática do Serviço Social. 
É importante também ressaltar que esse tipo de pensamento de ajuda 
e auxílio ao desamparado insere-se em uma lógica cristã do período, 
no qual aquele que oferece a ajuda – seja diretamente, seja 
patrocinando essa ajuda por meio de recursos financeiros – consegue 
cumprir com as prerrogativas religiosas de amor e cuidado ao próximo 
e, oxalá, ser digno do reino dos céus. 
Repare que não se faz referência, nesse momento, à justiça social, à 
redistribuição de renda ou a qualquer outra ação que visasse diminuir 
ou extinguir diferenças entre as distintas classes sociais – a ótica 
predominante é a da manutenção dessas discrepâncias sociais, 
regidas pelo contraponto, entretanto, da ajuda pontual aos 
necessitados e desamparados. 
Com isso, garante-se não somente o cumprimento dos princípios 
éticos cristãos de ajuda e caridade, mas também não se alteram as 
estruturas sociais, e mantém-se assim a hegemonia de grupos sociais 
detentores de poder, de maneira a perpetuar vantagens econômicas e 
sociais às classes superiores. Aqui, você pode observar que a ideia 
central é a manutenção do poder dos poderosos: não bastasse serem 
mais ricos, pertencentes às mais altas classes sociais e detentores de 
poderes políticos e econômicos, introduziram, ainda, a dependência 
quase que direta do pobre, do proletário a eles, para assegurar ainda 
mais a manutenção do poder (KLANOVICZ; RODRIGUES; DE 
ANDRADE, 2008). 
Cabe destacar, portanto, que a gênese do Serviço Social não estava 
pautada em ideais como empoderamento, emancipação ou 
estratégias de inclusão social, e muito longe disso, aliás! A origem 
dessas ações estava mais alinhada a dois fatores preponderantes: i) a 
manutenção do status quo; e ii) o cumprimento de preceitos religiosos 
com vistas a colher frutos dessa suposta benevolência após a morte. 
Note que a ideia de manutenção do status quo atende diretamente 
aos interesses das classes dominantes do período, que objetivam 
manter o grande povo trabalhando em seu proveito, 
e nutrir uma relação hierarquizada. Mais uma vez, a lógica social 
procura fundamentos em preceitos religiosos para justificar suas 
ações, com a argumentação de que a vontade divina era a de que 
membros do Clero e da Nobreza deveriam ser os detentores desse 
poder celestial no plano terrestre. Ao mesmo tempo, para manter as 
classes mais baixas em estado de submissão, a argumentação de que 
os mais pobres serão os detentores do reino dos céus e que terão 
maravilhas divinas após a morte encontrava guarida e força nessa 
sociedade desigual (KLANOVICZ; RODRIGUES; DE ANDRADE, 
2008). Tenha em mente que, por um longo período histórico, a 
Nobreza e o Clero valeram-se dessas ideias – herdadas do Antigo 
Regime – para assegurar seu poderio. 
D I C A D E V Í D E O 
Irmão Sol, Irmã Lua 
O filme retrata a história de São Francisco de Assis, e caracteriza sua 
percepção de que, para alcançar o reino dos céus, deveria se 
desprender dos bens materiais e começa então a andar como os 
pobres e ter uma vida mais simples. Repare como é a sociedade 
desse período, o que é valorizado e a relação entre religião e 
sociedade. 
Outro aspecto que há de ser ressaltado nessa articulação existente 
entre as classes sociais é que, no intuito de manutenção deste padrão 
social – aquele em que a classe burguesa domina a classe proletária – 
a ajuda em forma da assistência social conseguia ao mesmo tempo 
reforçar o paradigma religioso e promover rupturas em processos de 
rebeliões populares em relação às classes dominantes. Ou seja, a 
“via” da ajuda aos necessitados visava também garantir que aquelas 
classes submissas não se insurgiriam contra o poder dominante, o 
que evitaria a articulação dos grupos descontentes com o modelo de 
exploração vigente. 
Nesse momento, as paróquias passam a se organizar para abrigar 
esses indivíduos – cada qual da sua localidade – e oferecer a eles 
assistência; como contrapartida, requer seu trabalho e colaboração 
com a comunidade. 
Observe o trecho destacado, acerca da Lei dos Pobres: 
A primeira lei para os pobres foi o “Estatuto de 1601”, que visava três 
classes de indigentes: os válidos, os inválidos e as crianças. O auxílio 
deveria ser organizado numa base paroquial na qual as crianças e os 
inválidos necessitados recebiam subsídios monetários. No que diz 
respeito aos pobres válidos, como sua situação de indigência estava 
ligada, na maior parte das vezes, à inatividade, as paróquias tinham 
obrigação de os socorrer, fornecendo-lhes trabalho. Direito à 
assistência e direito ao trabalho eram, portanto, afirmados 
paralelamente. Foi, nesse contexto, que surgiram as workhouses 
(casas de trabalho), nas quais se reuniam os indigentes válidos. 
(SILVA, 2006, p. 93). 
Um importante momento de inflexão entre a preservação do status 
quo existentena sociedade feudal, na qual o modelo de servidão é 
perpetuado a partir da lógica elucidada anteriormente, ocorre a partir 
da Revolução Francesa (1789-1799). Nesse período, observa-se uma 
ruptura do modelo social, com a revolta do povo com membros da 
nobreza e do clero; as ideias iluministas de igualdade, liberdade e 
fraternidade rompem com as antigas relações de dominação, 
enraizadas na sociedade à época (DA SILVA GRESPAN, 2003). 
D I C A D E L E I T U R A 
Os Miseráveis, de Victor Hugo 
O livro indicado lhe ajudará a compreender um período em que, 
mesmo anos após a Revolução Francesa, a miséria continua a atingir 
as classes mais baixas na França. Interessante a leitura para notar o 
quão grave era o problema social, as dificuldades enfrentadas pelas 
classes naquele período e a fragilidade das instituições na resolução 
desses problemas. 
A história nos conta que a mera queda dos poderes dominantes não 
resolve o problema, haja vista que o fim da servidão do modelo 
absolutista não significa o fim da distinção de classes sociais, tanto 
que se constitui a partir daí uma classe burguesa dominante. 
Entretanto, esse processo acaba por dar fim a um regime de 
dominação e evidenciar novas possibilidades ao povo que, agora, se 
reconhece como portador de direitos iguais, e não apenas dependente 
de favores. 
Como você viu anteriormente, outro ponto fundamental para 
compreensão do papel do Serviço Social no mundo ocorre quando da 
Revolução Industrial, a partir de 1760, na Inglaterra. Esse período 
marca um processo no qual a revolução tecnológica impulsiona 
mudanças sociais diretas, isso porque o surgimento de maquinários 
propiciava o aumento do processo de produção, e substitui o perfil da 
classe trabalhadora e a dinâmica social dos territórios. 
Resumidamente, é possível inferir que a Revolução Industrial promove 
a classe dominante à detentora dos maquinários e dona dos meios de 
produção, que agora emprega pessoas para operar esses 
maquinários, do que decorrem quase que necessariamente laços de 
dependência, haja vista que os empregos passam obrigatoriamente 
pela aceitação das condições impostas pelos empregadores. 
 
 
 
Figura 2 – A exploração da mão de obra durante a Revolução 
Industrial 
Fonte: http://goo.gl/JCq6Ci 
A imagem retrata a exploração da mão de obra – inclusive – infantil 
durante a Revolução Industrial, que transfor- mou os modelos de 
produção, a vida nas cidades e as relações de trabalho do século 
XVIII. 
Nesse contexto, os postos de trabalho foram paulatinamente se 
concentrando na zona urbana, e disso decorre o êxodo rural de uma 
sociedade que era, predominantemente, agrária; então, as condições 
de trabalho – jornada, atribuições, salários – eram definidas pelo 
empregador, o que agravava ainda mais a exploração, e as 
possibilidades de alteração do status quo, mais uma vez, são 
limitadas, visto que um operário ordinário – muito dificilmente – 
conseguiria vir a ser um industrial. 
Os avanços tecnológicos trouxeram a Revolução Industrial e a 
topografia das cidades começa a mudar: desenvolvem-se os grandes 
centros urbanos, o êxodo rural cresce e começa a nascer um perfil 
urbano de homem, já que, até então, a maioria da população 
concentrava-se no campo. Neste período consolidam-se as bases do 
capitalismo atual. (BAIOCCHI; MAGALHÃES, 2004, p. 64). 
Esse momento caracterizou um período de grande migração e 
consequente crescimento dos problemas sociais nas cidades, isso 
porque a classe operária se viu refém dos detentores de produção, 
que ofereciam jornadas exaustivas de trabalho com pagamentos 
baixos, de forma que até mesmo mulheres e crianças faziam parte 
dessa dinâmica de exploração da mão de obra. 
A aparição dos bairros operários [...] e a necessidade de ajudar a seus 
habitantes, faz que em 1869 se funde, em Londres, a Charity 
Organization Society (COS), integrada por homens de “classe 
superior”, universitários de Oxford e Cambridge, dispostos a prestar 
assistência aos “atingidos pelos riscos da vida”. Aparece assim a 
Assistência Social, como forma sistemática de ajuda, destinada a 
reparar os efeitos do industrialismo crescente, proporcionando-lhes 
meios para a sua subsistência. (KISNERMAN, 1980, p. 18). 
O momento posterior à Revolução Industrial acabou por revelar, 
portanto, uma nova dinâmica social advinda da migração da 
sociedade rural para as cidades em busca do trabalho, o que fez 
crescer a população urbana de pessoas sem a capacidade plena de 
sobrevivência digna, isso porque os salários e as condições de 
trabalho oferecidas pelos burgueses não permitiam aos proletários 
subsidiar isso. 
Mais uma vez, fica muito evidente a disputa entre as classes sociais; o 
que em determinado período foi caracterizado pela relação entre 
Nobreza, Clero e povo, agora é replicado na relação entre a burguesia 
e o proletariado, de modo que tal como no período anterior, não há o 
intuito da classe dominante em encerrar esse processo, apenas 
perpetuá-lo tanto quanto fosse possível. 
No Quadro 1, você pode observar quais foram as primeiras 
instituições de Serviço Social no mundo, que surgiram na Europa e 
nos Estados Unidos nas últimas décadas do século XIX. Você pode 
perceber que, sobretudo a partir da criação da Charity Organization 
Society em Londres, houve um incremento significativo das COS pelos 
Estados Unidos, o que colaborou para o desenvolvimento do campo 
do Serviço Social naquele país. 
 
 
 
Quadro 1 – Principais instituições de Serviço Social no mundo 
Fonte: Elaborado pelos autores com base em Kisnerman (1980) e 
Alliance for Strong Families and Communities (2015). 
O capitalismo, sob a ótica da Revolução Industrial, revelou então o 
aspecto da mercantilização da mão de obra, de modo que os 
trabalhadores se viam expostos a situações de exploração e sujeição 
a uma série de exigências motivados pelo medo de perderem seus 
postos de trabalho e serem substituídos imediatamente por outras 
“peças” dentro dessa nova engrenagem. 
Obviamente, esse processo de exploração gerou ampla insatisfação 
popular, do que emergiu o debate acerca da legitimidade dessas 
ações opressoras e a suscitação de uma ação por parte do Estado 
para dirimir esses conflitos, que se afloravam e se avolumavam cada 
vez mais. 
Na Inglaterra, onde já existia um aparato institucional para 
acolhimento dos necessitados 
– estruturado na Lei dos Pobres (SILVA, 2006) –, o próprio sistema 
começa a dar sinais de esgotamento do modelo adotado, haja vista 
que as instituições religiosas que acolhiam tais indivíduos passaram a 
fazer triagens para selecionar apenas pessoas com potencial para 
trabalho – agravando assim uma série de outros problemas, por conta 
da: i) marginalização dos justamente mais necessitados; e ii) dos 
custos para a manutenção desse sistema, que começaram a onerar o 
Estado. 
O passo decisivo para estabelecer a centralidade do emprego na 
construção de um sistema de proteção social foi dado em 1834, com a 
Poor Law Amendment Act, cujo princípio básico era que a situação do 
pobre assistido deveria ser bem menos vantajosa, se comparada à do 
trabalhador assalariado. Tal lei permitiu a formação de um mercado de 
trabalho competitivo e a presença de um proletariado obrigado a 
vender a sua força de trabalho a preços baixos. (SILVA, 2006, p. 93). 
A nova resolução da Lei dos Pobres propicia o fortalecimento do 
mercado de trabalho, no sentido de possibilitar mais opções ao 
empregador; em contraponto, há agora a maior oferta de mão de obra 
disponível e a abertura de espaços para o agravamento da 
precarização e exploração desse trabalhador. 
Dessa forma, ao perceber que as diferenças sociais e a luta de 
classes podem ser tidas como propulsoras de dois grandes eventos 
históricos– a Revolução Francesa e a Revolução Industrial 
–, você vai perceber também que as disputas que geraram, embora 
tenham envolvido diferentes atores, têm o mesmo fundamento: pobres 
versus ricos, privilegiados versus marginalizados, dominantes versus 
submissos. 
No primeiro caso, a disputa pode ser resumida entre os polos Clero e 
Nobreza, de um lado, e povo explorado, de outro; no segundo, a 
disputa se polarizou entre burguesia e proletariado, como evidenciado 
anteriormente. 
O caráter transformador das relações sociais está, portanto, 
diretamente associado ao nascimento do Serviço Social, uma vez que 
surge em um contexto de visíveis diferenças sociais com o intuito 
máximo de diminuí-las ou minimizá-las. 
Entretanto, você deve observar que, no início, o Serviço Social 
consistia quase que exclusivamente de boas ações, caridade – fato 
explicado, inclusive, pela proximidade entre Estado e Igreja. No 
decorrer do último século, percebeu-se que consistia, sim, de uma 
ferramenta, de um meio de agenciar a autonomia do indivíduo, de 
enfrentar as diferenças de classe e de promover, sempre que 
possível, uma sociedade mais justa e mais igualitária. 
Também por isso você vai perceber que não apenas o Estado – 
enquanto instaurador da ordem social dominante e responsável pela 
implementação do sistema capitalista – figura como importante ator 
nos primórdios do Serviço Social. A Igreja Católica desempenhou 
papel de destaque nessa construção, sobretudo em ações pautadas 
pelo sentimento da caridade: criaram- se inúmeras instituições, dentro 
da própria Igreja, responsáveis por difundir e expandir essa prática 
tanto quanto fosse possível e, para o caso brasileiro, isso fica muito 
evidente, como você verá ao longo dessa disciplina. 
Em suma, você já aprendeu que o Serviço Social tem sua origem 
intimamente associada à instauração do sistema capitalista, à luta de 
classes, às acentuadas desigualdades sociais e a instituições 
variadas, entre as quais se destacam, com bastante vulto, o Estado, a 
Igreja e o mercado. 
D I C A D E L E I T U R A 
A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, de Max Weber 
A obra o ajudará a refletir sobre a relação entre o pensamento cristão 
e o sistema capitalista, que figuram como dois atores de muita 
relevância na gênese do Serviço Social. Busque perceber a diferença 
de pensamento entre a ética cristã no período que antecedeu a 
Revolução Industrial – como no filme Irmão Sol, Irmã Lua – e a 
retratação desse momento no final do século XIX. 
É claro que, nesse contexto, parecem os dois primeiros atores 
trabalharem contrariamente: enquanto um instaura um sistema que 
perpetua a luta de classes e as desigualdades sociais, o outro tenta 
minimizar esse conflito e oferecer aos menos favorecidos condições 
mínimas de dignidade. Mas esse aparente conflito não se perpetuou 
por muito tempo. 
Primeiramente pois, como você viu, em razão da forte proximidade 
entre Clero e Nobreza, nos séculos XVI, XVII e XVIII, existia um 
interesse bastante acentuado de manutenção do status quo e do 
poder, inclusive político, dessas classes. 
E também porque, poucas décadas mais tarde, o próprio Estado 
percebeu, sem muita demora, que a questão social emergente era 
também de seu interesse, e que sobre ela precisaria intervir; assim, 
com ações ainda tímidas, começam a aflorar as primeiras 
experiências de obras sociais – embora ainda não houvesse uma 
clareza sobre seu alcance e impactos. 
Assim, algumas ações associadas ao Serviço Social foram 
implementadas sem que houvesse, à época, o ideal de 
instrumentalização desse campo profissional. Perceba que até esse 
momento a instituição Serviço Social ainda não existe, ou não está 
inserida na estrutura da sociedade; entretanto, a prática do Serviço 
Social começa a germinar como contraponto aos problemas 
decorrentes de uma sociedade fortemente pautada pelo poder 
financeiro. 
Você vai perceber também que intrínsecas ao surgimento do Serviço 
Social estão as relações de trabalho, isso porque são essas relações 
produtos diretos do sistema capitalista. Assim tem raiz a dialética do 
capital versus trabalho. 
S A I B A M A I S 
Existem diferenças sobre o modo como a comunidade acadêmica 
entende o surgimento do Serviço Social. Para alguns autores, todo o 
processo que precedeu a institucionalização do campo de Serviço 
Social é parte integrante, descritiva e explicativa de sua história. Para 
outros, como Natálio Kisnerman, todo e qualquer evento que anteceda 
a criação das instituições destinadas especificamente para prestar 
assistência social – sobretudo na Inglaterra – é refutado como seu 
precursor e, inclusive, desconsiderado nas análises em perspectiva 
histórica que se faz do Serviço Social. 
Na Figura 3, você observa de maneira bastante clara os atores 
historicamente envolvidos no processo de surgimento, 
desenvolvimento e evolução do que hoje se denomina Serviço Social. 
Considerando que, até agora, você conhece os fatores históricos 
associados ao surgimento do Serviço Social – práxis –, é importante 
entender suas especificidades históricas enquanto instituição para, 
posteriormente, compreender sua formação enquanto campo do 
saber. Perceba, então, que todos esses elementos estão 
intrinsecamente associados: o entendimento do Serviço Social como 
instrumento de caráter sociopolítico, crítico e interventivo adotado 
hodiernamente tem suas raízes, inclusive, na instauração do sistema 
capitalista do mundo moderno. 
 
 
 
Figura 3 – Atores e o Serviço Social 
Fonte: Elaborado pelos autores. 
Ao longo dessa disciplina, portanto, você deverá analisar esses 
momentos de maneira crítica e buscar, sempre, associá-los ao 
contexto atual. Assim, você será capaz de construir um entendimento 
mais denso e completo do conceito de Serviço Social. 
Síntese 
Você visitou os principais fatos históricos que caracterizam o processo 
de surgimento do Serviço Social no mundo, e viu que, em aspectos 
gerais, ele está associado ao intento de minimizar as grandes 
questões sociais – de onde se originam as desigualdades sociais, 
econômicas e culturais. 
Assim, você aprendeu que a luta de classes tem um papel 
fundamental nesse contexto: foi a partir de sua instauração na 
sociedade que se evidenciaram as péssimas condições de vida a que 
estavam sujeitos os povos do século XVIII. 
A partir desse ponto, a Revolução Industrial e a Revolução Francesa 
surgem como os dois grandes eventos que transformaram não só a 
Europa, mas os Estados Unidos à época. Pari passu, evidenciaram-se 
as desigualdades sociais e, por consequência direta delas, a 
necessidade de intervenção na realidade da grande maioria do povo, 
que sobrevivia em circunstâncias difíceis, sem experimentar de bem-
estar e qualidade de vida. 
Assim, surgem as primeiras experiências de Serviço Social, que 
procuravam atender os necessitados e os carentes – que abrangiam 
homens, mulheres e crianças – sob a égide, sobretudo, da Igreja 
Católica, e justamente por isso foram marcadas pelo espectro da 
caridade e do amor ao próximo. Mais tarde, foram também abrangidas 
pelo Estado e algumas instituições são fundadas, tais como a Charity 
Organization Society – COS, a Women’s University Settlement, a 
Unión Nacional de Mujeres Trabajadoras e o Instituto de Formação 
para o Serviço Social. 
Referências Bibliográficas 
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Disponível em: <http://alliance1.org/centennial/ book/birth-national-
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“Venha a nós o Vosso reino”: a legitimação da Corte Medieval através 
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Antiquity And Middle Ages, n. 9, p. 133-147, 2008. 
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proteção social: do welfare ao workfare. In: BLASS, L. (Org.). Ato de 
trabalhar: imagens e representações. São Paulo: Annablume, 2006. 
 
	Introdução
	1. A gênese do Serviço Social no mundo
	DICA DE VÍDEO
	DICA DE LEITURA
	DICA DE LEITURA (1)
	SAIBA MAIS
	Síntese
	Referências Bibliográficas

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