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O novo rural e o novo urbano

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O “NOVO RURAL” E O “NOVO URBANO”: AS TRANSFORMAÇÕES DO 
ESPAÇO NORTE-PARANAENSE[I]. 
 
Francisco José Vigeta Castilho[ii]; Instituto de Geociências e Ciências Exatas 
(IGCE) UNESP- Rio Claro; francisco-vigeta@ig.com.br 
Yoshiya Nakagawara Ferreira, docente do Departamento de Geociências; Centro 
de Ciências Exatas (CCE); Universidade Estadual de Londrina; 
yoshiya@ldnet.com.br 
 
Introdução 
Os processos de transformação do meio rural e do meio urbano tornam-se uma 
temática de extrema importância na atualidade, principalmente nos últimos 
decênios. Isso decorre das intensas transformações ocorridas, tanto no meio rural 
quanto no urbano, levando uma maior integração desses dois ambientes. A 
relação que se verifica entre o rural e o urbano nos últimos anos é o grande ponto 
chave que envolve as pesquisas, principalmente as questões ligadas ao que tem 
sido chamado de “novo rural” e “novo urbano”. 
Para tanto enfocamos nessa pesquisa o surgimento de ruralidades e urbanidades 
sobre o espaço norte paranaense, trabalhando com pequenos municípios e com 
regiões próximas aos grandes centros urbanos. 
Esta pesquisa pretende oferecer contribuições aos estudos relacionados com o 
“novo rural” e “novo urbano”, mais precisamente das ruralidades e urbanidades 
que se encontram escassos no campo da ciência geográfica e que são de vital 
importância para mostrar as transformações do espaço no mundo contemporâneo. 
Dessa forma o obejtivo norteador desse trabalho é o de estudar a relação 
ruralidade e urbanidade no espaço norte-paranaense. 
As principais metodologias de trabalho utilizadas foram: levantamentos 
bibliográficos do tema estudado, coleta e análise de dados no IBGE, entrevistas 
com os moradores da cidade de Sertaneja e dos municípios de Prado Ferreira e 
Cambe e a utilização de estabelecimentos de indicadores de ruralidade e 
urbanidade 
 
Ruralidades: algumas abordagens teóricas 
A partir da segunda metade do século XX a agricultura brasileira passa por 
transformações intensas, o campo inicia um processo rápido de tecnificação, com 
a utilização de insumos, corretivos, defensivos e maquinários agrícolas em sua 
produção, processo que ficou conhecido como modernização agrícola. 
Toda essa modificação na agricultura trouxe influências diretas, tanto no meio 
rural como no urbano e, por conseqüência, no surgimento de ruralidades e 
urbanidades pelo território brasileiro, principalmente na região Centro Sul do país, 
mais precisamente na região Norte do Paraná, daí a importância de realizarmos 
essa breve introdução sobre a modernização agrícola no país. 
No mundo contemporâneo, a distinção entre o rural e o urbano se torna cada vez 
mais complexa, pois nem tudo que está inserido nas cidades é urbano nem tudo 
que está no meio rural é agrícola, portanto muitas vezes, várias pessoas acabam 
se equivocando ao distinguir esses dois espaços. 
As redefinições nas funções do espaço rural e urbano são de grande interesse 
para os geógrafos, dessa forma Rua (2001, p.27) coloca que: “A Geografia, ao se 
interessar pela organização do espaço e pelas práticas espaciais que condicionam 
tal organização e por elas condicionadas, percebe que novas formas, novas 
funções, novos processos e novas estruturas estão em marcha”. 
Cabe ressaltar que os estudos sobre ruralidade e urbanidade ainda estão 
escassos no campo da ciência geográfica. Faz-se necessário então que os 
geógrafos fiquem atentos para essas novas funções do espaço geográfico, que 
são de grande valia para observarmos a maior inserção do modo capitalista sobre 
a sociedade e a economia no mundo atual. 
Abramovay em seu texto Funções e medidas da ruralidade no desenvolvimento 
contemporâneo (2000), faz importantes discussões sobre a ruralidade ao afirmar 
que: 
“[...] o meio rural inclui o que no Brasil chamamos de 
‘cidades’- em proporções que variam segundo diferentes 
definições, abrindo caminho para que se enxergue a 
existência daquilo que, entre nós, é considerado uma 
contradição nos termos: cidades rurais” (ABRAMOVAY, 
2000, p.2). 
Este autor vai ainda mais longe ao colocar que “[...] que todo esforço atual está na 
procura das relações entre as regiões rurais (que não podem ser definidas como 
as que se encontram em campo aberto, fora dos limites das cidades) e as cidades 
de que dependem” (ABRAMOVAY, 2000, p.3). O mesmo autor em suas definições 
demonstra que certas cidades que são permeadas de características rurais 
(presença de ruralidade) podem ser designadas como cidades rurais, ou seja, 
fazendo parte do meio rural, redefinindo a delimitação do seu espaço, que é 
equivocadamente demarcado em vários países como o Brasil. 
As ruralidades são uma das formas complexas de modificação do espaço, fruto de 
uma expansão capitalista, e, podem ser observadas basicamente, por três 
maneiras nas cidades. Uma dessas maneiras está ligada com o modo de vida das 
pessoas como ressaltou Wanderley (2002), nos pequenos cultivos agrícolas 
praticados nas cidades, como constatou Maia (1999) trabalhando com João 
Pessoa/PB, e pela atividade eminentemente agrícola praticado por moradores 
residente no espaço urbano. Esses tipos de ruralidades foram comumente 
encontrados durante a realização desta pesquisa nas cidades do Norte do Paraná. 
 
Urbanidades: reflexões teóricas 
A sociedade urbana tem-se proliferado de maneira avassaladora, principalmente, 
a partir do século XX, com grande expansão industrial pelo mundo. Esse 
acontecimento auxiliou e muito, a expansão da sociedade urbana para além das 
cidades, isso inclui o meio rural, fator preponderante para o surgimento das 
urbanidades. Para Lefebvre (1999, p.17) 
O tecido urbano prolifera, estende-se, corrói os resíduos de 
vida agrária. Estas palavras ‘o tecido urbano’, não designam, 
de maneira restrita, o domínio edificado das cidades, mais o 
conjunto de manifestações do predomínio das cidades sobre 
o campo. Nessa acepção, uma segunda residência, uma 
rodovia, um supermercado em pleno campo, fazem parte do 
tecido urbano. 
A incorporação do rural pelo tecido urbano, acaba por transformar o meio rural, 
fazendo com que ele se torne um “Novo Rural” (GRAZIANO DA SILVA & DEL 
GROSSI, 2000), onde o campo possui novas funções, como as ocupações rurais 
não agrícolas (ORNAs). Conforme Laurenti (2000, p.6): “[...]na maioria das regiões 
o contingente de pessoas ocupadas com a agricultura ainda é majoritário, por 
outro lado, a expansão revela que o meio rural esta deixando de se identificar 
exclusivamente com as atividades agrícolas [...]”. 
Nessa passagem, Laurenti aborda a questão das transformações que o meio rural 
vem atravessando, fruto das urbanidades que surgem nesse meio. Graziano da 
Silva & Del Grossi (2000, p.37) confirmam a ampliação de atividades não agrícolas 
ligadas ao meio rural: “Em resumo, o que segurou gente no campo brasileiro não 
foram às atividades agropecuárias ‘stritu sensu’, mais sim as ocupações não 
agrícolas”. 
João Rua (2001, p.44) ao trabalhar com as urbanidades no estado do Rio de 
Janeiro cita alguns exemplos de atividades não agrícolas que ocorrem nesse 
território: 
O turismo e o veraneio, juntamente, com a crescente 
presença de múltiplos serviços e algumas indústrias, 
oferecem a população rural ‘novas’ alternativas de 
sobrevivência baseadas em estratégias de integração de 
atividades agrícolas e não agrícolas –pluriatividade- na 
composição da renda familiar. 
Outro exemplo de atividade não agrícola realizada no campo é citado por 
Graziano da Silva e Del Grossi (2000, p.166): 
O espaço rural também está sendo cada vez mais 
demandado como espaço para lazer. Na última década, 
milhares de pesque-pagues proliferam pelo interior. Nestes, 
a produção de peixes propriamente dita não é a maior fonte 
de renda, mais sim os serviços prestados nos pesqueiros, 
visando populações urbanas de rendas média e baixa.Esses tipos de urbanidades também são muito evidenciadas na mediações de 
Warta (distrito da cidade de Londrina), onde há inúmeros pesque-pagues e hotéis 
fazenda que são atrativos principalmente para a população residente nas cidades. 
 
As ruralidades e urbanidades na região Norte do Paraná 
Na região Norte do Paraná foram estudas as ruralidades e urbanidades em 
pequenos núcleos urbanos, um dos fatores para essa decisão é a escassez de 
estudos que tanto no estado do Paraná como no Brasil relacionados a está 
temática bem como os pequenos núcleos urbanos. 
Nesta investigação a temática foi analisada na cidade de Sertaneja e no município 
de Prado Ferreira. Sertaneja é um município antigo que vem em um decréscimo 
populacional acentuado desde a década de 1960 e o município de Prado Ferreira, 
recém criado (emancipado em 1995), que além do predomínio da agricultura vem 
instalando alguns ramos industriais, propicia um maior crescimento populacional e 
econômico. 
Foram realizadas pesquisas em regiões próximas a grandes centros urbanos, na 
fazenda Santa Ignês, no município de Cambe/PR, para observar e analisar o 
comportamento das urbanidades nessas localidades. Para melhor localização dos 
municípios citados, ver figura 1 abaixo. 
 
 
 
 
Figura 1: Localização dos municípios 
 
 
Prado Ferreira com uma população de 3149 habitantes, foi o primeiro município a 
ser estudado. Seguindo o que foi explanado na abordagem teórica dividimos as 
formas de surgimento das ruralidades em três indicadores, empregos, modo de 
vida e atividades agrícolas nas cidades. 
Durante as entrevistas realizadas, nessa localidade, um dos traços marcantes da 
ruralidade diz respeito às atividades exercidas pelos moradores, já que a maioria 
deles reside nas cidades e trabalham no campo, principalmente no corte da cana, 
que é uma das principais culturas do município. 
Com relação ao modo de vida o que mais nos chamou a atenção foi a forma de 
lazer praticada por alguns moradores, pois alguns estavam deitados em redes, 
prática muito típica de se observar no campo. Além de mostrar uma forma de lazer 
do homem rural, pode-se presenciar também a questão da tranqüilidade. Observa-
se nesse acontecimento que o homem do campo mesmo morando nas cidades 
leva consigo seu modo de vida, gerando a ruralidade. 
A pesquisa apontou, também, esse tipo de ruralidade, na praça central da cidade, 
onde foi encontrada toda tranqüilidade, que está cada vez mais difícil de ser 
notada em cidades de maior porte como Londrina. Nas pequenas cidades, a 
identidade cultural do tradicional caboclo do campo ainda é nitidamente 
observada, como visto em Prado Ferreira. 
Com os pequenos cultivos agrícolas encontrados na cidade de Prado Ferreira um 
fato nos chamou muita atenção, pois vem ao encontro com que foi abordado na 
teoria, principalmente no artigo de Maia (1999) “Hábitos rurais em vidas urbanas”, 
que demonstrou que tais atividades na maioria das vezes são praticadas por uma 
paixão ou necessidade do homem do campo que hoje reside na cidade. 
É o caso do Sr. Odioni Militão, que durante as entrevistas em Prado Ferreira 
demonstrou sua paixão em plantar, fazer algo ligado ao campo mesmo morando 
na cidade, como mostra em seu depoimento “[...] é mais uma paixão eu gosto 
muito do café, sempre fui criado no meio do café”. Cabe lembrar que Sr. Odioni 
em seu pequeno espaço cultiva café junto com a soja e feijão, apenas o que sobra 
ele comercializa, provando que é uma vontade em plantar esses cultivos e não 
uma necessidade. 
Já em Sertaneja, município com 6521 habitantes, os aspectos relacionados as 
ruralidades se assemelham com o que foi observado em Prado Ferreira. 
No que diz respeito aos empregos ficou evidenciado durante as entrevistas que 
grande parte da população que reside na cidade tem seu emprego ligado à 
agricultura, isso pode ser observado conforma os relatos do Sr. Joaquim Ribeiro 
da Cruz, que trabalha na lavoura com diarista, “[...] trabalho na lavoura, carpindo, 
plantando, de tratorista [...]”. 
Um dos fatores primordiais para o surgimento desse tipo de ruralidade, foi o 
avanço do capitalismo no campo, onde apenas quem detinha o capital, a 
tecnologia poderia obter uma renda da terra. Este fato expulsou os colonos, 
pequenos proprietários do campo, que se dirigiam para as cidades em busca de 
outro emprego, não encontrando mantinham seu emprego ligado à agricultura, 
principalmente como diarista. 
Com relação ao modo de vida em Sertaneja foi observado que o vocabulário 
utilizado pelos entrevistados muito se assemelha daquele homem que vive no 
campo, como nessa passagem do Sr. Irineu Toguinato que há 30 anos morava no 
campo,”[...] com quinze ano o cara era puxador de eito[...]”, quando perguntado o 
que era eito ele explicou, “de eito quem trabalha na enxada”, eito é um vocabulário 
típico do homem do campo para designar quem trabalha com enxada na roça. 
Nos pequenos cultivos, em Sertaneja, observou-se uma diferença em relação a 
Prado Ferreira.Naquela cidade haviam pouquíssimas pequenas plantações 
cultivadas na frente das residência dos moradores, que se destinava para seu 
próprio consumo. 
Isso pode ser explicado pela intensa presença de soja e trigo no município, que 
por serem mecanizadas não exige mão de obra. Com isso a população que antes 
era diaristas, e morava na cidade plantando nas área intra urbanas, foi em busca 
de novos empregos em outros centros urbanos. O censo do IBGE acusa a queda 
populacional de Sertaneja desde a década de 1960, período de entrada das 
culturas mecanizadas. 
As urbanidades foram divididas em três indicadores: empregos, modo de vida e 
modernidade (equipamentos no campo antes só observados nas cidades). Em 
Prado Ferreira foi visitada a Vila Rural Feliz, que dista cerca de 2Km da cidade, 
onde os traços da urbanidade eram constantes. 
Durante as entrevistas com as famílias, pode-se observar a forte presença da 
urbanidade, principalmente no que diz respeito aos empregos dos moradores. Um 
exemplo claro desta questão é o marido de uma moradora (Selma Inocêncio) que 
apesar de morar no campo trabalha em um ferro velho da cidade, assim tendo 
duas fontes de rendas. Com isso a família de Selma é pluriativa, ou seja, não 
retira renda apenas de trabalhos ligados com a agricultura. 
Selma também faz outro relato relevante “Tem a vizinha aqui que trabalha na 
indústria de estofado”, sendo outra evidência típica de urbanidade que pode estar 
em crescimento no município de Prado Ferreira devido a instalações de 
estabelecimentos industriais. É importante destacar que essas indústrias fogem 
dos grandes centros urbanos em busca de diminuir seus custos, assim procuram 
mão-de-obra menos qualificada e mais barata que vem do campo, aumentando o 
número de urbanidades nas áreas rurais do município. 
Com relação ao modo de vida dos moradores, nota-se uma imensa preservação 
dos costumes do homem do campo. Isso foi evidenciado na entrevista com o Sr. 
Oscar de Húngaro que mantém a tradição do homem do campo de fazer sua 
comida no forno à lenha e na panela de ferro, Sr. Oscar ainda relata que: “[...] 
temo nossa horta, temo galinha caipira, de granja, peru”, o também habitual 
costume do homem do campo de ter suas criações no fundo de casa é mantido. 
O modo de vida dos moradores rurais sofreu modificações com relação ao lazer 
das pessoas e pode ser evidenciado no depoimento de Selma “Nóis vai tudo nos 
baile na cidade mesmo[...]”. Observa-se que os moradores não realizam nenhuma 
festa tradicional do campo, como festas juninas, por exemplo, há apenas lazeres 
urbanos inseridos no modo de vida das pessoas. 
As urbanidades no que diz respeito as modernidade, que adentra cada vez mais 
ao campo, como a utilização de equipamentos domésticos e de serviços há muito 
tempo deixou de ser exclusivo do morador da cidade. 
As principais modernidades observadas no meiorural ferreirense foram, energia 
elétrica, aparelhos de T.V, automóveis, muitas vias de transportes pavimentadas 
fazendo lembrar as cidades. 
No estudo das urbanidades na região Norte do Paraná optou-se por trabalhar 
outras áreas mais afastadas dos pequenos núcleos urbanos. Foram estudas áreas 
próximas aos grandes centros regionais como Londrina para observar como o 
surgimento das urbanidades se comporta com uma maior influência do meio 
urbano. O local estudado foi a fazenda Santa Ignês localizada no município de 
Cambe e a cerca de 22Km de Londrina. 
O estudo apontou que os empregos são influenciados pela proximidades dos 
maiores centros urbanos, prova disso é o relato de Maria Madalena, filha do Sr. 
Joaquim Nascimento empregado da fazenda“[...] aqui não tinha serviço ia ficar 
parada, ai eu fui pra cidade trabalhar”. Esse fato deve-se principalmente a 
ausência de empregos no campo, principalmente após a substituição do trabalho 
humano pelas máquinas, como as cidades oferecem mais empregos os residentes 
do campo essas realizam a migração pendular. 
Com o modo de vida, ficou claro que as pessoas ainda mantêm costumes típicos 
do homem do campo, mas muitos desses costumes já foram modificados. Um 
exemplo disso se relaciona com o lazer. Maria Madalena prefere as diversões da 
cidade às diversões típicas do meio rural. Quando perguntada para onde ela vai 
quando quer se divertir ela respondeu: “eu vou pra Bela Vista do Paraíso ou 
Londrina ficar na avenida”. 
Em outra famíla entrevistada,a do Sr. João Batista ,ficou evidenciada a mudança 
de hábito do homem do campo. O Sr. João Batista costuma realizar suas compras 
toda na cidade, compra porco, frango, verduras, eles não criam animais nem 
cultivam hortaliças um costume típico do antigo homem do campo. A maior 
facilidade e proximidade fazem com que eles comprem esses produtos nas 
cidades que quando chegam ao meio rural também pode ser considerados uma 
urbanidade. 
Com relação aos costumes do homem do campo que foram mantidos ,ficou nítida 
a tranqüilidade,como pode ser comprovado pelo relato do Sr. Joaquim “[...] aqui 
na fazenda eu fico deitado ando aqui tudo e eu vou para a represa ver os peixes 
pular”. 
Na fazenda Santa Ignês foram observados muitos equipamentos modernos que 
lembram o espaço urbano, como os equipamentos domésticos(forno 
microondas,cozinhas planejadas), as antenas parabólicas e equipamentos para o 
serviço(automóvel, máquinas para ordenhar) e etc. O Sr. Joaquim fez uma 
importante ressalva com relação à entrada da modernidade no campo, “o campo 
está a mesma coisa da cidade, de primeiro, o campo era mais difícil para 
trabalhar, hoje está tudo mais fácil [...]”. É importante destacar que com a entrada 
da modernidade no campo tudo fica mais fácil sim, mas as máquinas substituem o 
trabalho humano e muitas famílias ficam desempregadas migram para as cidades 
inchando-as, aumentando assim os problemas sócio-ambientais urbanos. 
A maior influencia da proximidade de um grande centro urbano ficou clara nas três 
maneiras de urbanidades observadas. No emprego de Maria Madalena, que 
possibilitou esta a morar no campo e trabalhar nas cidades, nas compras de 
produtos antes tipicamente vistos no campo do Sr. João Batista, e na grande 
quantidade de equipamentos modernos que nada fazem lembrar as rústicas 
residências do meio rural do passado. 
 
Considerações finais 
Ficou claro com a realização dessa pesquisa que as ruralidades e urbanidades, 
acontecimentos típicos do mundo contemporâneo, “caminham” juntos. À medida 
que o tecido urbano, juntamente com a modernidade, avança o meio rural, faz 
com que atividades agrícolas fiquem escassas e muitos moradores acabam por 
realizar novas atividades não agrícolas voltadas para a população da cidade, 
como o turismo rural ou acabam migrando para as cidades, levando seus 
costumes e, muitas vezes, acabam retornando ao campo para trabalhar como 
diarista. 
Nesse trabalho, ficou evidenciado como o meio urbano e o meio rural são 
dinâmicos, um modifica o outro. À medida que o rural avança sobre o urbano, 
criam-se as ruralidades nas cidades e, como observado na região Norte do 
Paraná. O urbano leva suas características para o campo e ao mesmo tempo o 
campo recria suas característica no interior das cidades. É o rural e o urbano cada 
vez mais híbridos. Neste contexto cabe uma questão para reflexão: futuramente 
será cada vez mais difícil diferenciar esses dois espaços? 
 
Bibliografia: 
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MAIA, Doralice Sátyro. Hábitos rurais em vidas urbanas. In: DAMIANI, Amélia 
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Estudos de Geografia Fluminense. Rio de Janeiro: UERJ, 2001, 209p. 
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pacto pelo desenvolvimento rural. Disponível em, http: 
//www.clacso.Edu.ar/libros/rural, acessado em 3/12/03. 
 
 
 
 
 [i] Trabalho de Conclusão de Curso de Bacharelado em Geografia 
[ii] Mestrando do Programa de Pós Graduação em Geografia-área de concentração em 
Organização do Espaço-Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Campus de Rio 
Claro.

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