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AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica PSICOLOGIA JURÍDICA Aula 5: Evolução histórica dos direitos da criança e adolescente sob a ótica da doutrina da situação irregular AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Desenvolvimento histórico dos direitos da criança e adolescente. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Um breve histórico - Da Roda dos Expostos ao Estatuto AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Origem: europeia. Finalidade: preservar o anonimato dos bebês enjeitados. Brasil século XVIII – responsabilidade das Santas Casas de Misericórdia, que detinham o monopólio da assistência à infância abandonada com auxílio das Câmaras Municipais. Tensão entre CM e SCM pela manutenção financeira do sistema. 1828 – Lei dos Municípios retira das Câmaras a responsabilidade sobre a roda, deixando a tarefa apenas às Santas Casas de Misericórdia. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica O que dizem as leis sobre a proteção da criança e do adolescente? No Brasil Colônia não havia qualquer proteção destinada à criança e ao adolescente. Nesse período, meninas órfãs eram trazidas de Portugal para se casarem com os súditos da Coroa residentes no Brasil. “Nas embarcações, além de “obrigadas a aceitar abusos sexuais (justificavam o abuso com a desculpa de que não havia mulheres) de marujos rudes e violentos”, eram deixadas de lado em caso de naufrágio.” As crianças, chamadas de “grumetes”, tinham expectativa de vida muito baixa, até por volta dos 14 anos. Por isso, utilizava-se logo toda a sua força de trabalho – realizavam a bordo todas as tarefas que normalmente seriam desempenhadas por um homem. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Período colonial A Constituição Política do Império (1824) não fazia qualquer menção à proteção ou garantia às crianças e aos adolescentes. Na vigência desse instrumento legal – Constituição Federal de 1824 – o Código Criminal de 1830 trazia a doutrina penal do menor, mantendo-se no Código Penal de 1890. Não havia proteção ou menção constitucional no que diz respeito à evolução jurídica do direito infanto-juvenil. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, em 24 de fevereiro de 1891, também não mencionava garantias de proteção à criança e ao adolescente. O Código de Menores de 1927 – primeira norma legal brasileira. Instituído pelo Decreto 17.943-A (12/10/1927) – conhecido como “Código Mello Mattos”. Nesse Código, o termo “menor”, foi utilizado para designar aqueles que se encontravam em situações de carência material ou moral, e que tinham cometido alguma infração. Fazia menção aos sujeitos menores de 18 anos, abandonados e delinquentes – o desvalido: aquele que causa a desordem, geralmente pobre, sujo e mal vestido, que precisa ser punido com o encarceramento, ainda que separadamente dos adultos. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Importante frisar que com o advento do Código de Menores a punição pela infração cometida deixa de ser vista como sanção-castigo, para assumir um caráter de sanção-educação, por meio da assistência e reeducação de comportamento, sendo dever do Estado assistir os menores desvalidos. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Constituição de 1934 – é a primeira a fazer menção, no art. 138, aos direitos da criança e do adolescente. Foi o primeiro documento a referir-se à defesa e à proteção dos direitos de todas as crianças e dos adolescentes. Entre as proteções apontadas por essa Constituição de 1934, temos: • A proteção ao trabalho de crianças e adolescentes, com repressão ao trabalho noturno de menores com idade inferior 16 anos; • Proibição de trabalho em indústrias insalubres aos menores de 18 anos; • Previsão de amparo à maternidade e à infância. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Constituição de 1937 – Getúlio Vargas – Estado Novo O Estado chamou para si a responsabilidade de assegurar as garantias da infância e da juventude, conforme artigo 127 da Constituição. Art 127 - A infância e a juventude devem ser objeto de cuidados e garantias especiais por parte do Estado, que tomará todas as medidas destinadas a assegurar-lhes condições físicas e morais de vida sã e de harmonioso desenvolvimento das suas faculdades. O abandono moral, intelectual ou físico da infância e da juventude importará falta grave dos responsáveis por sua guarda e educação, e cria ao Estado o dever de provê-las do conforto e dos cuidados indispensáveis à preservação física e moral. Aos pais miseráveis assiste o direito de invocar o auxílio e proteção do Estado para a subsistência e educação da sua prole. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica O advento do Código Penal de 1940 O Código Penal alterou o Código de Menores de 1927, determinando a responsabilidade penal aos 18 anos. Essa responsabilização teve como análise a imaturidade do menor que, até então, era sujeito apenas à pedagogia corretiva sem distinção entre delinquentes e abandonados. Em 1941, foi criado o Serviço de Assistência ao Menor (SAM), tendo como objetivo: Amparar, socialmente, os menores carentes abandonados e infratores, centralizando a execução de uma política de atendimento, de caráter corretivo-repressivo-assistencial em todo território nacional. Na verdade, o SAM foi criado, para cumprir as medidas aplicadas aos infratores pelo juiz, tornando-se mais uma administradora de instituições do que, de fato, uma política de atendimento ao infrator (Liberati, 2002, p.60). AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica O SAM funcionava de forma equivalente a um sistema penitenciário (funcionava como um sistema prisional, disfarçado de “internações” no qual na verdade eram “penas de prisão”) voltado para os menores de idade, com separação entre os adolescentes que teriam praticado ato infracional e o menor abandonado. Para o primeiro, era feita a internação em reformatórios ou em casas de correção, enquanto os abandonados eram encaminhados para aprender algum ofício. Na década de 1960 O SAM não cumpriu com o seu objetivo, por isso foi extinto pela mesma lei que criou a Fundação Nacional do Bem Estar do Menor (FUNABEM). 1964 – Golpe Militar – formular e implantar uma Política Nacional do Bem-estar do Menor (PNBEM). A PNBEM tem assim sua estrutura autoritária resguardada pela Escola Superior de Guerra. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologiajurídica As diretrizes estabelecidas pela Fundação Nacional do Bem-estar do Menor (FUNABEM) eram contrárias aos métodos aplicados pelo Serviço de Assistência a Menores (SAM). Elas visavam: • À garantia de programas direcionados à integração da criança e do adolescente na comunidade; • Valorizar a família, criando instituições que se aproximassem dos ideais da vida familiar; • Respeitar as necessidades de cada região do país. 1979 – Um novo Código de Menores foi promulgado (Lei 6.697/79). Imprimindo o mesmo cunho assistencialista e repressivo, foi direcionado ao menor em situação irregular, expressão que substituiu as expressões menor abandonado, delinquente, infrator, transviado, desvalido, exposto, centralizando todas as decisões na figura do juiz da infância, mantendo a visão conservadora, higienista e punitiva. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Não estabelecia as diferenças das situações decorrentes da conduta do jovem ou daqueles que o cercam, por diversas vezes, mantinha juntos infratores e abandonados, vitimizados por abandono e maus-tratos com autores de conduta infracional, pois, de acordo com a interpretação da lei, todos estariam em “situação irregular”. Estariam em situação irregular as crianças e os adolescentes até 18 anos que praticassem: • Atos infracionais; • As que estivessem sobre a condição de maus-tratos familiares; • Em estado de abandono pela sociedade. Na década de 1980 A busca pela democracia levou à intensa mobilização popular, institucionalizada ou não, assim como o esgotamento do modelo econômico, provocam o fim da ditadura militar e a formação da Assembleia Nacional Constituinte, originando a primeira Constituição Cidadã do Brasil. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Constituição de 1988 Maior ênfase à proteção e à garantia dos direitos da criança e do adolescente, tirando a responsabilidade plena do Estado e atribuindo-a também à família e à sociedade, conforme o art. 227 do referido Diploma Jurídico: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Constituição de 1988 A Constituição Federal reconhece, portanto, a doutrina da proteção integral, com três aspectos fundamentais, a saber: • Crianças e adolescentes adquirem a condição de sujeitos de direitos; • Infância e adolescência são reconhecidas como fases especiais do processo de desenvolvimento humano, ou seja, são reconhecidas como pessoas em desenvolvimento; • A prioridade absoluta em relação às crianças e aos adolescentes passa a ser princípio constitucional. Para dar efetividade à doutrina da proteção integral à criança e ao adolescente, entendidos enquanto sujeitos de direitos e não mais como objeto de ações estatais punitivas é aprovado o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069 em 13 de julho de 1990. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Constituição de 1988 Art. 227-§1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos: I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência materno-infantil; II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Constituição de 1988 §2º - A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência. §3º - O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII; II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à escola; AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Constituição de 1988 IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar específica; V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade; VI - estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado; VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança e ao adolescente dependente de entorpecentes e drogas afins. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Constituição de 1988 §4º - A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente. §5º - A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de estrangeiros. §6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. §7º - No atendimento dos direitos da criança e do adolescente levar-se-á em consideração o disposto no art. 204. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Constituição de 1988 §8º A lei estabelecerá: I - o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos jovens; II - o plano nacional de juventude, de duração decenal, visando à articulação das várias esferas do poder público para a execução de políticas públicas. É possível observar, por meio da breve leitura deste artigo da Constituição Federal praticamente todo o alicerce doutrinário e legislativo da Doutrina da Proteção Integral, que fundamenta o Estatuto da Criança e do Adolescente. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica 1990 – O Estatuto da Criança e do Adolescente adota o princípio da proteção integral. Esse documento legal, ECA, insere os aspectos: • Preventivos; • Protetivos; • Socioeducativos. Prioriza o atendimento às necessidades sociais da família,de modo que ela se fortaleça ou adquira condições de exercer o cuidado de seus filhos de forma digna. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/90) – nos tempos da proteção integral A Doutrina da Proteção Integral e o Estatuto da Criança e do Adolescente foram resultado de décadas de discussões e batalhas sociais dos diversos campos do conhecimento, deste processo participaram grupos heterogêneos da sociedade como: Advogados, Assistentes Sociais, Educadores, a Igreja Católica, Promotores, Psicólogos, Sociólogos etc. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Documentos Internacionais É possível apontar como marcos legais internacionais os seguintes textos jurídicos: - Regras de Beijing – Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e da Juventude 1985. - Diretrizes de Riad – Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da Delinquência Juvenil 1990. - Regras Mínimas das Nações Unidas para a Proteção dos Jovens Privados de Liberdade 1990. - Convenção sobre os Direitos da Criança ONU 1989 Dec. 99.710, de 22.11.90. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/90) – nos tempos da proteção integral Esses documentos internacionais influenciaram e impulsionaram muitas discussões que a Constituição Federal de 1988 trouxe para os direitos da infância e juventude, assim como o próprio desenvolvimento do Estatuto da Criança e do Adolescente. Fundamentalmente, foi uma resposta aos movimentos da sociedade que pendiam uma nova política de atendimento às crianças e aos adolescentes que não se baseassem no assistencialismo nem na repressão herdada da época da Funabem e ratificada pelo Código de Menores. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/90) – nos tempos da proteção integral Os Direitos da Criança e do Adolescente encontram fundamento jurídico essencial • Na convenção internacional sobre os direitos da criança; • Na constituição da república federativa do brasil; • No estatuto da criança e do adolescente; • Nas convenções internacionais de proteção aos direitos humanos. No entanto, para sua adequada compreensão, é fundamental percorrer seus princípios fundamentais. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente: Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. A Doutrina da Proteção Integral inaugura o Estatuto da Criança e do Adolescente, estabelecendo a proteção integral à criança e ao adolescente como o seu objeto. Qual o conceito de Doutrina da Proteção Integral? Reconhecer que cada fase do desenvolvimento da criança deve ser reconhecida como singular e especial com um conjunto de direitos próprios de cada fase, que crianças e adolescentes são pessoas a caminho da plenitude a ser consumada na idade adulta e que cada etapa, é, à sua maneira, um período de plenitude que deve ser compreendido, acatado e protegido pelo Direito. (Wilzon Donizete - aula de pós graduação de Direitos da Criança e do Adolescente no ISMP/RJ). AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente: Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade. • Criança – pessoa até 12 anos incompletos. • Adolescente – pessoa entre 12 e 18 anos de idade. Convenção sobre os Direitos da Criança: Criança – pessoa menor de 18 anos, salvo se a maioridade for alcançada pela lei do país. Não faz distinção entre criança e adolescente. IMPORTANTE: É possível a aplicação do Estatuto para pessoas entre 18 e 21 anos de idade. Requisitos: a) medida excepcional; b) casos expresso em lei. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente: Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Como podemos inferir, além dos direitos fundamentais, a criança e o adolescente devem receber proteção integral e todos os meios que lhes permitam o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. Assim, a legislação brasileira deixa de fazer referência ao menor em situação irregular e passa a fazer referência à criança e ao adolescente como pessoas em desenvolvimento e sujeitos de direitos. Evitar e reprimir as violações aos direitos das crianças e dos adolescentes passam a ser o objetivo principal da legislação. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente: Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos diretos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) a primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e) e juventude. Liberati (1991, p. 450) relata que, dentro da escala de preocupação, uma creche, uma escola, um posto de saúde, atendimento preventivo de gestantes, moradias e trabalhos dignos terão prioridade em relação às grandes obras de concretos. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente: Quem fiscaliza essa garantia de prioridade? O Ministério Público tem como uma de suas funções institucionais essa tarefa. Art. 127, CF. Ação Civil Pública - ECA AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão,aos seus direitos fundamentais. O que quer dizer a expressão “atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais” da lei? O Estatuto busca proteger a criança e o adolescente de qualquer forma de abuso, seja cometido pela família, pela sociedade ou indiretamente pelo próprio Estado. Negligência é uma omissão no atendimento das necessidades mínimas, tais como alimentação, saúde e educação. Esse descuido deve ser imputado a quem possua o dever legal de satisfazer tais necessidades. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Toda atribuição de responsabilidade deve ser analisada caso a caso, ou seja, depende de caso concreto. Exemplo: Se a família é responsável pela alimentação, mas se encontra em estado hipossuficiente, tal responsabilidade se desloca para a sociedade e para o Estado. Discriminação é o tratamento diferenciado e injustificado que venha prejudicar a criança ou o adolescente, em situações com a distinção em razão de cor, sexo, religião ou situação econômica. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica A exploração é o abuso da criança e do adolescente fisicamente vulneráveis. Ocorre com maior frequência no seio familiar, em que criança e adolescente começam a trabalhar antes da idade permitida, ou seja, 14 anos na condição de aprendiz, e 16 anos para o início das atividades laborais. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica A violência é o constrangimento físico ou moral, também tem os maiores índices no seio familiar. A chamada pseudoeducação, baseada em punições, castigos, sofrimentos. A crueldade é a perversidade. O cruel é violento por prazer. A tortura é crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia por força do art. 5º, XLIII, CF. A opressão é a tirania, é o abuso do poder familiar. Sanções para desrespeito deste artigo: art 24, ECA – perda e suspensão do poder familiar; artigo 38 – destituição da tutela. Além das sanções de natureza penal, Código Penal, art. 136 – crime de maus-tratos. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento. Na nova abordagem jurídica da infância e adolescência, estes não são mais objetos ou personagens secundários que devem ter seu desenvolvimento assistido somente nos casos de abandono ou infração, e sim como sujeitos de direitos. O juiz atenderá aos fins sociais a que a Lei se dirige e às exigências do bem comum, isto é, à defesa e à efetivação dos direitos da infância e da juventude. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Doutrina da Situação Irregular x Doutrina da Proteção Integral Ao longo de toda a história da humanidade, a ideologia tutelar em qualquer âmbito resultou em um sistema processual punitivo inquisitório. O tutelado sempre o tem sido em razão de alguma inferioridade (teológica, racial, cultural, biológica etc). “Colonizados, mulheres, doentes mentais, minorias sexuais, entre outros foram psiquiatrizados ou considerados inferiores e, portanto, necessitados de tutela”. (frase do Ministro da Suprema Corte Argentina e Doutrinador de Direito Penal e Criminologia, Raul Zaffaroni) AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Doutrina da Situação Irregular x Doutrina da Proteção Integral Quais as diferenças entre o código de menores e o ECA? ASPECTO CÓDIGO DE MENORES ESTATUTO (ECA) Doutrinário Situação irregular Proteção integral Caráter Filantrópico Política pública Fundamento Assistencialista Direito subjetivo Centralidade Judiciário Município Institucional Estatal Cogestão c/sociedade civil Organização Piramidal hierárquica Rede Gestão Monocrática Democrática Fonte: Tabela retirada da obra de Loberto Narciso Brancer (Organização e Gestão do Sistema de Garantia de Direitos da Infância e da Juventude – Encontros Pela Justiça na Educação Brasília, 2000 UNDESCOLA/MEC p. 126. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Atualizações Emenda Constitucional número 65 de Julho de 2010, estabelecendo a criação de um Estatuto da Juventude, para jovens de 15 a 29 anos. Constituição Federal – Redação Anterior Redação Dada Pela EC 65/2010 Capítulo VII - Da Família, da Criança, do }Adolescente e do Idoso Capítulo VII - Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso Art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Constituição Federal – Redação Anterior Redação Dada Pela EC 65/2010 § 1º - O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança e do adolescente, admitida a participação de entidades não governamentais e obedecendo os seguintes preceitos: § 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos: II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos. II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas de discriminação. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica Constituição Federal – Redação Anterior Redação Dada Pela EC 65/2010 § 3º - O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: III -garantia de acesso do trabalhador adolescente à escola; III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à escola; VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança e ao adolescente dependente de entorpecentes e drogas afins. VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de entorpecentes e drogas afins. § 8º A lei estabelecerá: I - o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos jovens; II - o plano nacional de juventude, de duração decenal, visando à articulação das várias esferas do poder público para a execução de políticas públicas. AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica O Estatuto da Juventude vem para complementar o que (para alguns) seria uma omissão do ECA, ou seja, um tratamento realmente diferenciado às peculiaridades da juventude (adolescência e jovens adultos). AULA 5: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE SOB A ÓTICA DA DOUTRINA DA SITUAÇÃO IRREGULAR Psicologia jurídica VAMOS AOS PRÓXIMOS PASSOS? A rede de proteção integral e o papel do psicólogo nas situações de violência doméstica infanto-juventil. AVANCE PARA FINALIZAR A APRESENTAÇÃO.
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