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Resenha - O Espetáculo do Processo Penal e o Caso Escola Base

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE BARRA DO BUGRES
FACULDADE DE CIÊNCIAS EXATAS, TECNOLÓGICAS E JURÍDICAS
CURSO DE DIREITO 
	
JOÃO PAULO BOERI DE MORAES
2016/2
GUSTAVO QUEIROZ RODRIGUES
ANÁLISE E RESENHA CRÍTICA: O CASO ESCOLA BASE CONTEXTUALIZADO COM O LIVRO PROCESSO PENAL DO ESPETÁCULO
Barra do Bugres – MT
2018
ANÁLISE DO ARTIGO
O artigo “a condenação que não veio pelo judiciário” encontrado no site “Justificando”, escrito pelos autores Diego Bayer e Bel Aquino possui informações bem detalhadas e específicas do que ocorreu no caso Escola Base. Trás todo um cronograma dos fatos, explicando como ocorreu cada situação, e serão resumidos a seguir.
Em 1992, um casal (Maria e Icushiro Shimada) decide comprar um estabelecimento e tornar dele uma escola, estavam empolgados e tiveram resultados, tinham planos de investir ainda mais no local, com reformas e afins. Este Maria e Icushiro contavam com a ajuda de outro casal (Paula e Maurício) que ajudaram no capital e na administração da Escola além de que Paula, também lecionava. Com muito esforço e suor, estruturam ao longo de 02 anos o que vinha a ser a Escola base, passando de 17 alunos para 72, o negócio realmente estava rendendo e poderia ter dado certo, mas então o problema surgiu.
Assim, em março de 1994, duas mães entraram com denúncia com acusações fortíssimas (abuso sexual envolvendo menores) contra os dois casais donos além de mais um casal (Saulo e Mara) que eram pais de alunos. Esta denúncia foi apurada, mas não provou nada. O estopim então do que viria a se tornar o caso Escola Base ocorreu, pois, como nada foi encontrado na busca e apreensão feita pelo delegado, as mães “indignadas” recorreram a mídia (Rede Globo) e foram atendidas. Então o repórter que fez a matéria sabia que poderia estragar a vida dos acusados, estava ciente disto, mas ainda sim o fez, pois se não a concorrência faria. Logo, acompanhando a investigação, tinha sido feito um pedido de corpo de delito, para verificar se houve ou não lesões no ânus da criança, cujo exame comprovou que havia lesões, agora sim, todo o restante da mídia se ateve a estas informações e publicaram em vários jornais os fatos comprovados. 
Seguindo, o delegado Lemos começou a proferir várias declarações que tendiam a colocar os acusados como culpados por pedofilia. Foram vários os jornais que traziam manchetes sobre a Escola Base, classificando e os acusando de drogar alunos, tirar fotos nus das crianças e várias outras perversidades. Os réus foram presos, fotografados e expostos em toda mídia, antes mesmo de concluir as investigações sobre os fatos. Não parou por ai, conforme decorria a investigação e o delegado dava declarações à mídia cada vez mais proferia meias verdades, notícias sensacionalistas e escrachadas como “kombi era motel na escolinha do sexo”; “Perua carregava crianças para orgia” entre outras, que levou até mesmo ao delegado cometer erros, errando inicialmente o número da casa de um dos investigados, o que acabou prendendo outro indivíduo que nem sequer tinha relação com o caso. 
Com toda essa pressão da mídia, não havia nada que os acusados poderiam fazer além de se esconderem para não ser linchados, pois até suas casas foram apedrejadas. Ao longo desta semana exaustiva de ataques contra os acusados, um dos redatores finalmente se pronuncia a favor dos réus, indagando a inocência dos mesmos. Com isso, vários outros redatores começaram a pesquisar em outras fontes além do que a polícia fornecia, trazendo indagações como, o laudo inicial na criança podia indicar mais do que apenas abuso sexual, poderia ser fezes duras, vermes ou micose, a OAB também criticou o delegado de ouvir as crianças sem um psicólogo.
Quando a mídia começou a prestar atenção no lado dos acusados, que em junho de 1994 foram inocentados, já era tarde demais, pois foram demonstrados que as verdadeiras vítimas foram os réus que sofreram de ameaças, transtornos psicológicos, problemas financeiros e emocionais. Mesmo que eles tenham sido ressarcidos pela indenização da mídia, os outros problemas continuaram. 
ANÁLISE DO DOCUMENTÁRIO
Em paralelo com o Artigo acima, o Documentário: Escola Base - 20 anos depois (Caminhos da Reportagem, TV Brasil), trás um resumo do caso e também a situação em que se encontram as reais vítimas.
Os acusados foram totalmente acuados, tanto pela mídia quanto pelos próprios investigadores. As vidas dos réus foram totalmente abaladas. A mídia divulgou o local onde moravam e logo as pessoas alvejaram a casa com pedras, além de serem constantemente ameaçados. O delegado e seus agentes da lei foram totalmente inquisitivos, acusando sem nem ter provas. 20 anos depois, as marcas do passado ainda ficaram, antes o que era uma escola infantil, tornou-se agora um casa de albergado para jovens infratores. Várias crianças narravam uma história bastante semelhante (depoimentos infantis, precisa ser acompanhada de uma prova material), se tornando uma prova inválida. 
A mãe que começou a investigação fez várias especulações, mas não se provaram nenhuma, e o próprio Delegado sustentava tais especulações, sem nenhuma prova concreta. Destruiu a moral e a vida dos acusados. O Trabalho na Escola Base dos suspeitos foram totalmente destruídos. Os acusados, de tão acoados, nem podiam contar com a polícia, que apenas os agrediu psicologicamente e fisicamente, e o jornalismo sempre sensacionalista em relação a história. O TJ condenou a Rede Globo por indenização em relação ao caso da Escola Base. Cujo disseminaram mais ainda as especulações transmitidas pelo Delegado, utilizando-o como única fonte de informação, não abriram espaço a defesa dos réus. SBT também foi condenado a pagar indenização. A pergunta que o documentário nos trás ao final é “a imprensa cometeria o mesmo erro após 20 anos?” e só é preciso comentar que existem programas de TV jornalísticos de cunho criminal/ policial que temos em canais da TV aberta para sabermos que a resposta é sim.
ANÁLISE DOS CAPÍTULOS DO LIVRO 
Será feita uma análise dos três primeiros capítulos do livro Processo Penal do Espetáculo de Rubens Casara, onde trata de como o processo penal brasileiro é um espetáculo para a população, onde tem vários personagens sendo o réu, o vilão da história. Esta analise será embasada no último texto com o artigo e documentário do caso Escola Base.
Neste espetáculo, a sociedade (pessoas), atua e assiste. E a mesma, está ligada a peça, pois deseja saciar sua sede com a condenação, quer ver o sofrimento do réu condenado, torna o processo penal um método de entretenimento. Ao fazer a função de entreter, esquece as garantias fundamentais do réu, esquece a presunção de inocência, o que remete a frase “os fins justificam os meios”, transformando o processo penal em uma encenação de mocinhos versus bandidos, onde o bem vence o mal, sem nenhum aprofundamento crítico, apenas pessoas satisfeitas com a condenação de qualquer que seja o indiciado. 
	Nesta trama, todos querem exercer um bom papel, ninguém ousa ir contra a audiência que são todos manipuláveis, seja pelo delegado, juiz, ou pelas empresas que detém dos meios de comunicação da massa. A preocupação que antes deveria ser em como o fato é atribuído ao réu, muda drasticamente, pois o que importa é o fato repulsivo que supostamente o suspeito comete, não se analisando mais nada, além deste acontecimento repugnante que recai sobre o réu, a mídia e a população sufoca e pressiona os detentores da justiça para que façam algo, tornando o acusado apenas mais uma parte deste trágico espetáculo.
RESENHA 
Após abordar individualmente cada um dos temas, o artigo, documentário e capítulos do livro, correlaciona-los será mais fácil, assim a resenha a seguir será redigida de maneira sucinta e objetiva. 
O caso escola base (tanto o documentário como o artigo) se conecta diretamente com o livro de Rubens Casara, a forma como ele demonstra toda a encenação e um real espetáculo do processo penal, o livro
trás uma maneira mais ampla, e responde a pergunta do documentário sobre se situações como a da Escola Base ocorreriam nos dias de hoje, não só ocorreriam como ocorrem. Da mesma forma como o espetáculo segue e é descrito no livro, serve como uma luva para o caso Escola Base, onde foi mais um show para o público da época com vilões (os suspeitos) e os heróis (delegado e polícia), onde o diretor do espetáculo era a mídia, que a todo o momento fomentou as declarações do delegado como verdades absolutas e enquadrando os acusados como a pior escória da sociedade, agindo como se fossem os reais culpados, mas no fim, não eram. 
	A mídia enquanto diretor elaborou muito bem a peça, o delegado foi um excelente ator enquanto aparecia no meio midiático, enquanto estava no seu momento de glória, os réus, apenas aguardavam, sendo condenados por alguém que não era o judiciário. As pessoas sedentas por ‘justiça’ pelas crianças que foram (supostamente) abusadas e violentadas, foram apenas a audiência deste espetáculo, possuindo até alguns figurantes no meio, que indignados, apedrejaram a escola e a casa de alguns réus. Tudo se encaixa perfeitamente. 
Quando algum dos assistentes do diretor cogitou a inocência dos supostos vilões, foi então que a situação começou a se reverter, porém era tarde demais, quando as reais vítimas (que foram os acusados) apareceram, elas já tinham sido por demais agredidas; moralmente, fisicamente, profissionalmente e acima de tudo, psicologicamente. O diretor e seu ator principal, cujo foram os reais vilões, saíram ilesos com a justiça vinda a ser feita em prol das vítimas apenas em meados de 2011 apenas.
Em terra em que defender a presunção de inocência é igual defender bandido, é difícil sobreviver se um dia chegar a ser suspeito em um processo, mesmo que seja inocente, o espetáculo está presente para todos e qualquer um pode se tornar réu. Logo, seguir o que trás o processo penal é o mínimo a ser feito, respeitando os direitos do acusado e o condenando realmente após o trânsito em julgado.

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