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4A - Penal - Parte Geral

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CADERNO DE DIREITO PENAL
Teoria Geral do Direito Penal
1	Conceito e finalidade do direito penal
1.1	Conceito
1.2	Finalidade/Missão
1.3	Classificações do direito penal
1.3.1	Direito penal objetivo e subjetivo
1.3.2	Direito Penal Substantivo e Adjetivo
1.3.3	Direito penal de emergência, simbólico e promocional
2	Fontes do Direito Penal
2.1	Conceito, Fontes Formais e Fontes Materiais
2.2	Costumes
2.3	Doutrina moderna da classificação de fontes formais
2.3.1	Lei
2.3.2	Constituição
2.3.3	Tratados internacionais de direitos humanos
2.3.4	Jurisprudência
2.3.5	Princípios
2.3.6	Complemento da norma penal em branco
3	Interpretação da Lei Penal
3.1	Interpretação quanto ao sujeito que a interpreta (origem)
3.2	Interpretação quanto ao modo
3.3	Interpretação quanto ao resultado
4	Princípios gerais (constitucionais) do direito penal
4.1	Princípios relacionados com a missão fundamental do direito penal
4.1.1	Princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos
4.1.2	Princípio da intervenção mínima
4.1.3	Princípio da insignificância.
4.2	Princípios relacionados com o fato do agente
4.2.1	Princípio da exteriorização ou materialização do fato
4.2.2	Princípio da Legalidade
4.2.3	Princípio da Ofensividade
4.3	Princípios relacionados com o agente do fato
4.3.1	Princípio da responsabilidade pessoal
4.3.2	Responsabilidade subjetiva
4.3.3	Princípio da culpabilidade
4.3.4	Princípio da igualdade
4.3.5	Princípio da presunção de inocência ou não culpa
4.4	Princípios relacionados com a pena
4.4.1	Princípio da proibição da pena indigna
4.4.2	Princípio da humanização das penas
4.4.3	Princípio da proporcionalidade
4.4.4	Princípio da pessoalidade
4.4.5	Princípio da vedação do bis in idem (ne bis in idem)
5	Espécies de Lei Penal
5.1	Lei Penal Completa
5.2	Lei Penal Incompleta
5.2.1	Norma penal em branco
5.2.2	Tipo Aberto
6	Eficácia da Lei Penal no Tempo
6.1	Tempo do Crime
6.2	Abolitio Criminis – Art. 2º, caput, do CP e a supressão da figura criminosa
6.2.1	Abolitio criminis temporária
6.2.2	Princípio da continuidade normativo-típica
6.3	Lex mitior
6.3.1	Competência para aplicação da lei penal mais benéfica
6.3.2	Lex mitior e vacatio legis
6.3.3	Crime continuado e sucessão de leis penais
6.3.4	Combinação de leis
6.4	Lei excepcional ou temporária
6.5	Tempo do crime vs. sucessão de complementos da norma penal em branco
6.6	Retroatividade de Jurisprudência mais benéfica
7	Eficácia da Lei Penal no Espaço
7.1	Importância do tema
7.2	Princípios aplicáveis no conflito de lei penal no espaço
7.3	Princípio da territorialidade
7.4	Território nacional
7.5	Lugar do crime
7.6	Extraterritorialidade
7.6.1	Crimes praticados por brasileiro no estrangeiro
7.6.2	Extraterritorialidade incondicionada configura bis in idem
8	Validade da lei penal em relação às pessoas (imunidades)
8.1	Introdução
8.2	Imunidade diplomática
8.3	Imunidades parlamentar
8.3.1	Imunidade parlamentar absoluta
8.3.2	Imunidade parlamentar Relativa ou Formal
8.3.2.1	Imunidade relativa ao foro
8.3.2.2	Imunidade relativa à prisão
8.3.2.3	Imunidade relativa ao processo
8.3.2.4	Imunidade relativa à condição de testemunha
8.3.3	Imunidades e estado de sítio
8.3.4	Imunidade e licença para exercício de cargo no Poder Executivo
8.3.5	Imunidades dos Deputados Estaduais
8.3.6	Imunidades dos Vereadores
8.3.7	Crimes dolosos contra a vida
9	Teoria Geral do Delito
10	Fato típico
10.1	Conduta
10.1.1	Teorias da conduta
10.1.1.1	Teoria causalista ou causal da ação (Von Liszt)
10.1.1.2	Teoria neokantista (de base causalista) – Rickert
10.1.1.3	Teoria finalista da ação (Hans Welzel)
10.1.1.4	Teoria social da ação (Wessels)
10.1.1.5	Teoria funcionalista moderada ou teleológica (Roxin).
10.1.1.6	Teoria funcionalista Sistêmica ou Radical (Jakobs)
10.1.2	Ausência de conduta
10.1.3	Conduta comissiva vs. Conduta omissiva
10.1.3.1	Conduta comissiva (ação)
10.1.3.2	Conduta omissiva (omissão)
10.1.3.3	Crime de conduta mista
10.2	Conduta – Crime doloso
10.2.1	Introdução e conceito
10.2.2	Teorias do dolo
10.2.3	Espécies de dolo
10.2.3.1	Dolo normativo vs. Dolo natural
10.2.3.2	Dolo direto (determinado) vs. Dolo indireto (indeterminado) e Dolo cumulativo
10.2.3.3	Dolo de Primeiro e Segundo Grau
10.2.3.4	Dolo de dano vs. Dolo de perigo
10.2.3.5	Dolo genérico vs. Dolo específico
10.2.3.6	Outros dolos: geral, de propósito, de ímpeto e do inimputável
10.2.4	Crime Preterdoloso
10.3	Conduta – Crime culposo
10.3.1	Introdução e conceito
10.3.2	Elementos do crime culposo
10.3.3	Espécies de culpa
10.3.4	Quadro comparativo: dolo direito, dolo eventual, culpa consciente e culpa inconsciente
10.4	Conduta – Erro de tipo
10.4.1	Conceito e distinções
10.4.2	Espécies de erro de tipo
10.4.2.1	Erro de tipo essencial
10.4.2.2	Erro de tipo acidental – erro sobre o objeto
10.4.2.3	Erro de tipo acidental – erro sobre a pessoa
10.4.2.4	Erro de tipo acidental – erro na execução (aberratio ictus)
10.4.2.5	Erro de tipo acidental – resultado diverso do pretendido (aberratio criminis)
10.4.2.6	Erro de tipo acidental – erro sobre o nexo causal (aberratio causae)
10.4.2.7	Erro de tipo provocado por terceiro
10.4.3	Erro de subsunção
10.4.4	Erro de tipo vs. Delito putativo por erro de tipo
10.5	Resultado
10.6	Nexo de causalidade
10.6.1	Definição e teoria da equivalência dos antecedentes
10.6.2	Concausas
10.6.2.1	Concausa absolutamente independente
10.6.2.2	Concausa relativamente independente
10.6.2.3	Causalidade simples vs. Causalidade adequada
10.6.3	Teoria da imputação objetiva
10.6.3.1	Nexo normativo
10.6.4	Relação de causalidade nos crimes omissivos
10.6.4.1	Nexo causal na omissão própria
10.6.4.2	Nexo causal na omissão imprópria
10.6.4.3	Tentativa nos crimes omissivos
10.7	Tipicidade penal
10.7.1	Doutrina clássica vs. Doutrina moderna
10.7.2	Tipicidade Conglobante (Zaffaroni)
10.7.3	Tipicidade formal: espécies
10.8	Tipicidade material (LFG)
10.8.1	Conceitos de Crime
10.8.2	Diferença entre crime, fato punível e fato punível e culpável
10.8.3	Tipicidade penal nas grandes correntes penais
10.8.3.1	Causalismo ou Naturalismo
10.8.3.2	Neokantismo
10.8.3.3	Finalismo
10.8.3.4	Funcionalismo moderado
10.8.3.5	Funcionalismo radical ou sistêmico (Jakobs)
10.8.3.6	Teoria Constitucionalista do Delito (LFG)
10.8.4	Tipicidade material
11	Ilicitude
11.1	Conceito
11.2	Antijuridicidade formal vs. Antijuridicidade material
11.3	Relação tipicidade e ilicitude
11.3.1	Teorias
11.3.2	Posição brasileira
11.4	Causas de exclusão da ilicitude
11.5	Estado de necessidade
11.5.1	Conceito e previsão legal
11.5.2	Requisitos
11.5.3	Classificação doutrinária
11.6	Legítima defesa
11.6.1	Conceito e previsão legal
11.6.2	Requisitos
11.6.3	Erro na execução
11.6.4	Classificação doutrinária
11.6.4.1	Legítima defesa sucessiva
11.6.4.2	Legítima defesa putativa
11.6.4.3	Legítima defesa subjetiva
11.6.5	Legítima defesa e estado de necessidade
11.7	Estrito cumprimento do dever legal
11.8	Exercício regular de direito
11.9	Ofendículos
11.10	Excesso nas descriminantes (ou justificantes)
11.11	Consentimento do ofendido como causa supralegal de excludente de ilicitude
11.12	Descriminantes putativas
11.12.1	Conceito
11.12.2	Hipóteses
12	Culpabilidade
12.1	Conceito e natureza jurídica
12.2	Teorias da culpabilidade
12.3	Elementos ou pressupostos da culpabilidade
12.4	Imputabilidade (ou capacidade de imputação)
12.4.1	Conceito:
12.4.2	Sistemas (critérios) de imputabilidade
12.4.3	Hipóteses de inimputabilidade
12.4.3.1	Inimputabilidade em razão de anomalia psíquica
12.4.3.2	Inimputabilidade em razão da menoridade
12.4.3.3	Inimputabilidade em razão da embriaguez
12.4.3.4	Emoção e Paixão
12.5	Potencial consciência da ilicitude
12.5.1	Erro de proibição
12.6	Exigibilidade de conduta diversa
12.6.1	Coação moral irresistível
12.6.2	Obediência hierárquica
12.6.3	Causas supralegais de inexigibilidade de conduta diversa
13	Punibilidade
13.1	Prescrição
13.1.1	Prescriçãoda pretensão punitiva em abstrato ou propriamente dita
13.1.2	Prescrição da pretensão punitiva retroativa
13.1.3	Prescrição da pretensão punitiva superveniente ou intercorrente
13.1.4	Prescrição da pretensão punitiva virtual/em perspectiva/em prognose/antecipada
13.1.5	Prescrição da pretensão executória
14	Concurso de Pessoas
14.1	Introdução
14.2	Autor
14.3	Coautor
14.4	Partícipe
14.5	Autor mediato
14.6	Requisitos do concurso de pessoas
14.7	Consequências do concurso de pessoas
14.7.1	Teorias
14.7.2	Participação de menor importância (CP, art. 29, § 1º)
14.7.3	Participação em crime menos grave ou cooperação dolosamente distinta (CP, art. 29, § 2º)
14.7.4	Circunstâncias incomunicáveis (CP, art. 30)
14.8	Questões relevantes envolvendo concurso de pessoas
15	Consumação e Tentativa
15.1	Iter criminis (caminho percorrido pelo crime)
15.2	Crime consumado
15.3	Crime tentado
15.4	Desistência voluntária e arrependimento eficaz (tentativa qualificada ou abandonada)
15.4.1	Desistência voluntária:
15.4.2	Arrependimento eficaz (resipiscência)
15.5	Arrependimento posterior
15.6	Crime impossível
16	Teoria Geral da Pena
16.1	Noções gerais
16.2	Princípios norteadores da pena
16.3	Tipos de pena
17	Aplicação da pena
17.1	Cálculo da pena (primeira etapa)
17.1.1	Primeira fase – Fixação da pena-base
17.1.2	Segunda fase – Fixação da pena intermediária (circunstâncias atenuantes/agravantes)
17.1.2.1	Agravante da reincidência
17.1.2.2	Circunstâncias atenuantes pela idade
17.1.2.3	Atenuante da confissão espontânea
17.1.2.4	Atenuantes inominadas
17.1.3	Terceira fase – Fixação da pena definitiva (causas de aumento/redução de pena)
17.2	Fixação do regime inicial de cumprimento de pena (segunda etapa)
17.3	Penas substitutivas (terceira etapa)
17.3.1	Penas restritivas de direitos
17.3.2	Pena de multa
17.3.3	Suspensão condicional da execução da pena (sursis)
18	Concurso de crimes
18.1	Concurso material (ou real) de crimes
18.2	Concurso formal (ou ideal) de crimes
18.3	Crime continuado
18.3.1	Crime continuado genérico
18.3.2	Crime continuado específico
18.4	Quadro comparativo do concurso de crimes
19	Medida de Segurança
20	Reabilitação
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Conceito e finalidade do direito penal
Conceito
Sob o aspecto formal: direito penal é um conjunto de normas que qualifica certos comportamentos humanos como infrações penais, define os seus agentes e fixa as sanções a serem-lhes aplicadas.
Sob o enfoque sociológico: o direito penal é mais um instrumento de controle social de comportamentos desviados, visando assegurar a necessária disciplina social.
O direito penal é o ramo do direito que traz a consequência jurídica mais drástica de todas, qual seja, a privação da liberdade.
Por isso, ele é orientado pelo princípio da intervenção mínima.
Finalidade/Missão
Missão
Mediata:
Controle social
Limite ao poder punitivo estatal: evitar intervenções arbitrárias na esfera privada.
Obs.: se de um lado o Estado controla o cidadão, impondo-lhe limites para a vida em sociedade, de outro lado é necessário também limitar seu próprio poder de controle, evitando a punição abusiva.
Imediata: a doutrina diverge no que se refere à missão imediata do direito penal.
Primeira corrente: proteger bens jurídicos (prevalece).
Segunda Corrente: assegurar o ordenamento/vigência da norma.
Classificações do direito penal
Direito penal objetivo e subjetivo
Objetivo: conjunto de leis penais em vigor no país.
Cuidado: o direito penal objetivo é expressão ou emanação do poder punitivo do Estado.
Há relação intrínseca entre o direito penal objetivo e subjetivo.
Subjetivo: direito de punir do Estado.
O Poder Punitivo do Estado não é absoluto/ilimitado/incondicionado.
Limite temporal: exemplo, prescrição.
Limite espacial: exemplo, princípio da territorialidade (CP, art. 5º. Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.)
Limite modal (quanto ao modo): exemplo: dignidade da pessoa humana.
O monopólio do direito de punir do Estado não significa autorização para punições abusivas.
O monopólio busca evitar a punição privada (justiça com as próprias mãos).
Exceção ao monopólio do direito de punir do Estado.
Há tolerância do Estado para entes não estatais punir.
Art. 57 do Estatuto do Índio (Lei 6.001/73): Será tolerada a aplicação, pelos grupos tribais, de acordo com as instituições próprias, de sanções penais ou disciplinares contra os seus membros, desde que não revistam caráter cruel ou infamante, proibida em qualquer caso a pena de morte.
Nota-se que mesmo essa possibilidade de sanção é limitada (sublinhado).
A legítima defesa não é exemplo, pois não configura sanção.
Direito Penal Substantivo e Adjetivo
Substantivo: é sinônimo de direito penal objetivo: isto é, o conjunto de leis penais em vigor no país.
Adjetivo: corresponde ao direito processual penal.
O processo penal era um acessório ao direito penal.
Com a autonomia do direito processual, essa classificação tornou-se ultrapassada.
Direito penal de emergência, simbólico e promocional
Direito penal de emergência
Utilizado para limitar ou derrogar garantias penais e processuais penais em busca do controle da alta criminalidade.
Exemplo: Lei 8.072/90 – Crimes hediondos.
Direito penal simbólico:
O Estado, na pretensão de dar rápida resposta aos anseios sociais, muitas vezes criminaliza condutas sem qualquer fundamento criminológico e de política criminal, criando uma ilusão.
Criam-se crimes sem se pensar na necessidade e consequência.
Essas normas acabam cumprindo uma função simbólica.
Direito penal promocional
Utilizado para a consecução de finalidades políticas do Estado. Assim, o Direito Penal deixa de ser subsidiário.
Acaba por ignorar o princípio da intervenção mínima.
Fontes do Direito Penal
Conceito, Fontes Formais e Fontes Materiais
Conceito: É o lugar de criação e a forma de revelação do direito penal.
Fonte Material
Lugar de criação, isto é, fonte de produção, órgão encarregado de produção do direito penal.
A Fonte Material do Direito Penal é a União:
CF, art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho.
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.
Não há exemplos práticos. O exemplo doutrinário é o Estado no qual haja uma vegetação peculiar, que merece proteção específica.
Fonte Formal
Imediata
Lei
Mediata
Costumes e Princípios Gerais de Direito
Costumes
Conceito: comportamentos uniformes e constantes pela convicção de sua obrigatoriedade.
Princípio da legalidade (reserva legal): costume não cria crime e não comina pena.
Veda-se o costume incriminador.
Costume abolicionista: costume pode revogar crimes?
O adultério não foi revogado pelo costume, pois ele deixou de ser crime por conta do princípio da intervenção mínima.
Há doutrina admitindo o costume abolicionista dando como exemplo a contravenção penal do jogo do bicho.
Três correntes sobre esse tema:
Admite-se o costume abolicionista aplicado nos casos em que a infração penal não mais contraria o interesse social.
Para essa corrente, o jogo do bicho deixou de ser infração penal.
Não existe costume abolicionista, mas quando o fato não mais contraria o interesse social, o juiz não deve aplicar a lei.
Para essa corrente, o jogo do bicho permanece apenas formalmente típico, cabendo ao Congresso revogar a infração.
Não existe costume abolicionista. Enquanto não revogada por outra lei, a norma tem plena eficácia. Essa posição está de acordo com a Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro.
Para esta corrente, o jogo do bicho permanece típico e aplicável ao caso concreto.
Esta terceira corrente é aquela queprevalece.
Finalidade do Costume no Direito Penal:
Para quem não admite o costume abolicionista, então para que serve o costume no direito penal?
Admite-se o costume interpretativo.
Exemplos:
Mulher honesta: só que a expressão saiu do Código Penal.
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
Doutrina moderna da classificação de fontes formais
	Doutrina Tradicional
	Doutrina Moderna
	Imediata
Lei
	Imediatas:
Lei
Constituição Federal
Tratados internacionais de direitos humanos
Jurisprudência
Princípios gerais de direito
Complemento da norma penal em branco própria
	Mediata
Costumes
Princípios gerais de direito
	Mediata:
Doutrina
	
	Costumes: fontes informais do direito.
Lei
Única capaz de criar crime e cominar penas.
Constituição
Não pode criar crime e cominar penas.
Porque não?
A Constituição é rígida, demandando quórum qualificado para criar e alterar crimes.
O direito penal não pode ser rígido dessa forma.
Mandados constitucionais de criminalização.
A Constituição pode fixar alguns patamares abaixo dos quais a intervenção penal se pode reduzir.
Exemplos:
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
Mandados constitucionais de criminalização implícitos.
De acordo com a maioria, ao lado das obrigações expressas de criminalização, existem obrigações implícitas.
Exemplo: a Constituição garante o direito à vida. Logo, o Poder Legislativo não pode revogar o crime de homicídio.
Tratados internacionais de direitos humanos
Duas formas de ingresso dos tratados no ordenamento jurídico brasileiro.
Status constitucional: se aprovado com quórum de emenda.
Status infraconstitucional, mas supralegal: se aprovado com quórum comum.
Obs.: há doutrina divergente afirmando que o tratado sempre ingressa com status constitucional.
Os tratados internacionais de direitos humanos não podem criar crime ou cominar pena para o direito interno, só no âmbito do direito penal internacional.
Exemplo. O crime de lavagem de dinheiro exige um crime antecedente, que pode ser vários (tráfico de drogas, crimes contra a administração, organização criminosa). Ocorre que o conceito de organização criminosa consta em um tratado (Convenção de Palermo). Assim, há 02 votos trancando a ação penal por falta de definição interna. Hoje, temos lei definindo organização criminosa (Lei 12.694/2012, art. 2º).
Os tratados vão revelar mais direito penal de garantia do que direito penal de punição.
Jurisprudência
Não cria crime e não comina pena, mas revela o direito penal.
Exemplos:
Súmula vinculante.
Art. 71 do Código penal: Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.
Condições de tempo: jurisprudência diz que são 30 dias.
Lugar: jurisprudência diz que são mesmas comarcas ou comarcas vizinhas.
Princípios
Vários são os julgados dos tribunais superiores absolvendo ou reduzindo pena com base em princípios.
Complemento da norma penal em branco
Interpretação da Lei Penal
Formas de interpretação
Quanto ao sujeito
Quanto ao modo
Quanto ao resultado
Interpretação quanto ao sujeito que a interpreta (origem)
Três modalidades:
Autêntica ou legislativa: dada pela própria lei.
Exemplo: CP, art. 327: Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
Doutrinária ou científica: feita pelos estudiosos do direito.
Pergunta: a exposição de motivos do Código Penal, é autêntica ou doutrinária? É doutrinária, uma vez que realizada pelos estudiosos que confeccionaram a lei.
Jurisprudencial: fruto das decisões reiteradas de nossos tribunais.
Pode ter caráter vinculante.
Interpretação quanto ao modo
Modalidades:
Gramatical: leva-se em conta o sentido literal das palavras.
Teleológica: indaga-se a vontade objetivada na lei.
Histórica: procura-se a origem da lei.
Sistemática: a lei interpretada com o conjunto da legislação ou com os princípios gerais do direito.
Progressiva, Adaptativa ou Evolutiva: interpretar de acordo com a realidade ou avanço da ciência.
Interpretação quanto ao resultado
Modalidades:
Declarativa: a letra da lei corresponde exatamente àquilo que o legislador quis dizer. Nada suprimindo, nada adicionando.
Extensiva: amplia-se o alcance das palavras da lei para que corresponda à vontade do texto.
Restritiva: reduz-se o alcance das palavras para que corresponde à vontade do texto.
Interpretação extensiva contra o réu. Três correntes:
Diferentemente de outros países, o Brasil não proíbe.
Essa corrente prevalece na Jurisprudência.
Aplicando-se o princípio do in dubio pro reo, só cabe interpretação extensiva em normas não incriminadoras.
Estatuto de Roma, art. 22, § 2: a previsão de um crime será estabelecida de forma precisa e não será permitido o recurso à analogia. Em caso de ambigüidade, será interpretada a favor da pessoa objeto de inquérito, acusada ou condenada.
Admite, em casos excepcionais, a interpretação extensiva contra o réu, quando a aplicação restritiva resulta em escândalo por sua notória irracionalidade.
Exemplo:
CP, art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade: I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
Arma imprópria. Arma é todo instrumento, mesmo que sem finalidade bélica, mas que serve para o ataque (interpretação extensiva).
Arma própria. Arma é somente o instrumento fabricado com finalidade bélica (interpretação restritiva).
Interpretação extensiva vs. interpretação analógica: não se pode confundir ambos os institutos. Na interpretação analógica, o significado que se busca é extraído do próprio dispositivo, levando-se em conta as expressões genéricas e abertas utilizadas pelo legislador. Exemplos:
CP, art. 121, § 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
CTB, art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência.
Analogia: 
Distinção. As hipóteses de interpretação extensiva e interpretação analógica não se confundem com a analogia.
Conceito. Na analogia, ao contrário da interpretação extensiva e da interpretação analógica, partimos do pressuposto de que não existe uma lei a ser aplicada ao caso concreto, motivo pelo qual socorre-se daquilo que o legislador previu para outra norma similar.
Analogia não é forma de interpretação, mas sim forma de integração do direito e preenchimento de lacunas.
Requisitos para que exista analogia no direito penal:
Certeza de que sua aplicação é favorável ao réu.
A existência de uma efetiva lacuna legal a ser preenchida. Assis Toledo alerta que a analogia pressupõe falha, omissão involuntária do legislador.
Exemplo. Lei 8.072/90 (Crimes Hediondos). De acordo com o STJ, o crime de associação para o tráfico não integra a listagem legal de crimes equiparados a hediondos. Impossível a analogia in malam partem com o fito de considera-locrime dessa natureza.
	Interpretação Extensiva
	Interpretação Analógica
	Analogia
	Há lei prévia criada para o caso.
	Há lei prévia criada para o caso.
	Não há lei para o caso (integração)
	Ampliação de um conceito legal (não importa no surgimento de uma nova norma). Exemplo: expressão arma.
	Depois de exemplos, a lei encerra o texto de forma genérica, permitindo alcançar outras hipóteses.
Exemplo: art. 121, § 2º, I, III e IV.
	Criação de uma nova norma a partir de outra aplicável para caso semelhante.
Exemplo: artigo 181, I: É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
A união estável é uma analogia in bonam partem.
Princípios gerais (constitucionais) do direito penal
Quatro tipos de princípios:
Princípios relacionados com a missão fundamental do direito penal
Princípios relacionados com o fato do agente
Princípios relacionados com o agente do fato
Princípios relacionados com a pena
Princípios relacionados com a missão fundamental do direito penal
Princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos
Conceito de bens jurídicos. Todos os dados que são pressupostos de um convívio pacífico entre os homens. Professor Cleber Masson: os bens jurídicos são valores ou interesses relevantes para a manutenção e o desenvolvimento do indivíduo e da coletividade, e por essa razão merecedores de tutela penal.
Conceito do princípio. Não deve haver nenhuma criminalização se esta não buscar evitar a lesão ou o perigo de lesão a um bem juridicamente determinável. Impede que o Estado utilize o direito penal para a proteção de bens ilegítimos.
Espiritualização do bem jurídico. Parcela da doutrina critica a inadequada expansão da tutela na proteção de bens jurídicos de caráter difuso ou coletivo. Argumenta-se que tais bens são formulados de modo vago e impreciso, ensejando a denominada desmaterialização, espiritualização ou liquefação do bem jurídico.
Princípio da intervenção mínima
Conceito. O direito penal só deve ser aplicado quando estritamente necessário, mantendo-se subsidiário (a sua intervenção fica condicionada ao fracasso dos demais ramos do direito) e fragmentário (observa somente os casos de relevante lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado).
Duas características:
Subsidiariedade
Fragmentariedade
Daqui decorre o princípio da insignificância.
Princípio da insignificância.
Natureza jurídica: causa supralegal de exclusão de tipicidade (material).
Requisitos (STF/STJ)
Mínima ofensividade da conduta do agente.
Nenhuma periculosidade social da ação.
Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento.
Inexpressividade da lesão jurídica provocada.
Casuística:
Agente reincidente.
Os tribunais superiores ainda não consolidaram a questão, havendo decisão nos dois sentidos.
Do ponto de vista técnico, no entanto, o princípio da insignificância também deveria se aplicar ao reincidente, caso contrário, torna-se direito penal do autor e não do fato, uma vez que o princípio da insignificância é causa de exclusão de tipicidade.
Delitos contra a administração pública
STF: aplica.
STJ: não se aplica, em razão do bem jurídico tutelado, qual seja, moralidade administrativa.
Crimes contra a fé-pública (p. ex., moeda falsa).
STF e STJ não aplicam (tratando-se de delito contra a fé-pública, é inviável a afirmação do desinteresse estatal na sua repressão).
Descaminho. Art. 334 Importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria. Admite-se, desde que:
Débito tributário com valor inferior a R$ 10.000,00.
Porque é o valor mínimo para a Procuradoria executar o débito.
Apreensão de todos os produtos objeto do crime.
Delitos previdenciários
Apesar de divergente, temos decisões não admitindo, pois o crime atinge bem-jurídico supra individual (patrimônio da previdência social).
Roubo
STF e STJ não aplicam.
Mas há julgados aplicando no furto, mesmo que qualificado.
Princípios relacionados com o fato do agente
Princípio da exteriorização ou materialização do fato
Conceito. Significa que o Estado só pode incriminar condutas humanas, isto é, fatos (ninguém pode ser castigado por seus pensamentos, desejos, cogitações ou estilo de vida). Busca impedir o direito penal do autor, no qual não se pune pelo que você faz, mas pelo que você é.
Sistemas de direito penal.
Direito Penal do Autor: punição de pessoas que não praticaram qualquer conduta.
Direito Penal do Fato: as leis penais só devem incriminar fatos causados pelo homem.
Direito Penal do Fato que considera o autor: apesar do Estado só poder incriminar fatos, consideram as condições pessoais do agente na punição (Assis Toledo, com fundamento no art. 59 do CP).
Exemplos da Lei de Contravenções Penais:
Art. 59. Entregar-se alguém habitualmente à ociosidade, sendo válido para o trabalho, sem ter renda que lhe assegure meios bastantes de subsistência, ou prover à própria subsistência mediante ocupação ilícita:
Art. 60. Mendigar, por ociosidade ou cupidez:
Princípio da Legalidade
Conceito: constitui uma real limitação ao poder estatal de interferir na esfera de liberdades individuais.
CF, art. 5º, XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;
O princípio da legalidade corresponde ao englobamento de dois princípios.
Princípio da reserva legal (não há crime sem lei).
Princípio da anterioridade (sem lei anterior).
Previsões legais:
CF, art. 5º, XXXIX.
CP, art. 1º.
Pacto de São José da Costa Rica, art. 9º.
Estatuto de Roma, art. 22.
Convênio para a Proteção de Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais, art. 7º, § 1º.
Fundamentos do princípio da legalidade:
Político: exigência de vinculação do Poder Executivo e do Poder Judiciário a leis formuladas de forma abstrata (impede o poder punitivo com base no livre arbítrio).
Democrático: respeito ao princípio da divisão dos poderes. O Poder Legislativo deve ser o responsável pela criação de crimes.
Jurídico: uma lei prévia e clara produz importante efeito intimidativo.
Contravenções penais e medidas de segurança.
Atenção: este princípio é uma conquista do indivíduo contra o poder de polícia do Estado, valendo também para as contravenções penais e (de acordo com a maioria) medidas de segurança.
Desdobramentos do princípio da legalidade.
1º. Não há crime ou pena sem lei.
Lei, em regra, é lei ordinária e, exceção, lei complementar, que pode autorizar os Estados a legislar (CF, art. 22, parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.)
Medida provisória pode versar sobre direito penal?
O princípio da legalidade exige lei na criação de crime. Medida Provisória não é lei, mas ato do Poder Executivo com força normativa. Logo, não pode versar sobre direito penal incriminador.
CF, art. 62, § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: b) direito penal, processual penal e processual civil; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
Medida provisória pode versar sobre direito penal não incriminador?
Primeira corrente: A CF/88, com a EC 32/2001, proíbe a Medida Provisória versando sobre direito penal incriminador ou não. Esta corrente prevalece entre os constitucionalistas.
Segunda corrente: A CF/88, ao proibir Medida Provisória versar sobre direito penal, alcança apenas o direito penal incriminador (não proíbe versar sobre direito penal não incriminador).
	STF e a EC 32/2001
	Antes
	Depois
	O STF, no RE 254.818-PR, discutindo as causas extintivas da punibilidade trazidas pela MP 1571/97, proclamou sua admissibilidade em favor do réu.
	O STF não julgou inconstitucional a MP 417/2008, convertida na Lei 11.706/2008, que autorizou a entrega espontânea de armas defogo afastando a ocorrência de crime.
	O STF, em duas oportunidades distintas, aplicou Medida Provisória em favor do réu.
2º. Não há crime ou pena sem lei anterior.
Trata-se do princípio da anterioridade: proíbe-se a retroatividade maléfica.
A retroatividade benéfica é uma garantia constitucional do cidadão.
3º. Não há crime ou pena sem lei escrita.
Proíbe-se o costume incriminador.
O costume interpretativo é admitido.
4º Não há crime ou pena sem lei estrita.
Proíbe a utilização da analogia incriminadora. A analogia in bonam partem é perfeitamente possível.
Exemplo: CP, art. 155, § 3º, Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.
A 2ª Turma do STF declarou a atipicidade da conduta de ligação clandestina de sinal de tv a cabo. Reputou-se que o objeto do aludido crime não seria “energia”, caracterizando analogia in malan partem. (HC 97.261-RS).
5º. Não há crime ou pena sem lei certa.
Princípio da taxatividade ou mandado de certeza.
Exige-se clareza dos tipos penais. O legislador não deve deixar margens a dúvidas.
Exemplo: Estatuto do Torcedor, art. 41-B. Promover tumulto, praticar ou incitar a violência, ou invadir local restrito aos competidores em eventos esportivos.
6º. Não há crime ou pena sem lei necessária.
Trata-se de desdobramento do princípio da intervenção mínima.
Princípio da legalidade como ponto basilar do garantismo (negativo).
O poder punitivo do Estado deve ser mínimo enquanto deve ser máxima a liberdade do cidadão.
Quanto maior forem as exigências e desdobramentos do princípio da legalidade, menor será o poder punitivo do Estado e maior será a liberdade do indivíduo.
Princípio da Ofensividade
Conceito. Para que ocorra o delito, é imprescindível a efetiva lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado.
Delitos de perigo abstrato. A partir desse princípio, passa a ser questionável a existência deles.
Duas modalidades:
Abstrato: o perigo resultado da conduta é absolutamente presumível por lei.
Concreto: o perigo resultado da conduta deve ser efetivamente comprovado.
Violação à Constituição Federal?
Primeira corrente: não violam. Trata-se de opção política que visa antecipar a proteção ao bem jurídico tutelado.
Segunda corrente: violam. Pois pune-se alguém se prova de lesão ou efetiva lesão ao bem jurídico.
STF: apesar do STF ter adotado a segunda corrente quando decidiu que porte de arma não é crime (entendimento ainda não consolidado), recentemente adotou a primeira corrente ao decidir que a embriaguez ao volante é delito de perigo abstrato (entendimento ainda não consolidado).
Princípios relacionados com o agente do fato
Princípio da responsabilidade pessoal
Duas ideias:
Proíbe o castigo penal pelo fato de outrem (não existe responsabilidade penal coletiva).
A responsabilidade penal deve ser individualizada.
Responsabilidade subjetiva
Conceito: não basta que o fato seja materialmente causado pelo agente. O agente somente pode ser responsabilizado se o fato foi querido, aceito ou previsível. Isto é, não há responsabilidade penal sem dolo ou culpa.
Duas exceções à responsabilidade subjetiva, isto é, exemplos de responsabilidade objetiva:
Actio libera in causa aplicado à embriaguez voluntária.
Denomina-se actio libera in causa a ação de quem usa deliberadamente um meio para colocar-se em estado de incapacidade física ou mental, parcial ou plena, no momento da ocorrência do fato criminoso.
Rixa qualificada.
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores. Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.
O resultado agravado deverá recair sobre todos os que dela tomam parte, inclusive sobre os desistentes e sobre aqueles que tenham sido vítimas das lesões graves.
Princípio da culpabilidade
O Estado só pode punir o agente imputável, i) com potencial consciência da ilicitude, ii) quando dele exigível conduta diversa.
Princípio da igualdade
Todos são iguais perante a lei. A igualdade aqui é material e não formal, sendo possíveis distinções justificadas.
Exemplo:
Redução de pena em razão da idade.
Estrangeiro em situação ilegal não poderia cumprir pena restritiva de direitos. O STF, aplicando o princípio da isonomia, concedeu HC em favor de estrangeiro em situação ilegal no país, substituindo sua pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
Princípio da presunção de inocência ou não culpa
Previsão Constitucional: Art. 5º, LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
Rótulo. O princípio é mais bem rotulado como princípio da presunção de inocência ou não culpa?
A Constituição Federal afirma expressamente não culpa, não mencionando presunção de inocência.
Logo, o princípio é da presunção de não culpa.
Para muitos, o princípio da presunção de não culpa é mais coerente com o sistema das prisões preventivas.
A Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) fala em presunção de inocência:
Art. 8º, § 2º, Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa.”
Por essa razão, tem-se utilizado os dois termos.
Três desdobramentos do princípio da presunção de inocência ou não culpa.
Prisão provisória só será admitida quando imprescindível
CPP, art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
A redação do dispositivo ignora o princípio da presunção de inocência ou não culpa.
Cumpre à acusação o dever de demonstrar a responsabilidade do réu, e não a este comprovar a sua inocência.
A condenação deve derivar da certeza do julgador (in dubio pro reo).
Princípios relacionados com a pena
Princípio da proibição da pena indigna
Constitui desdobramento do princípio da dignidade da pessoa humana.
Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), art. 5º, 1. Toda pessoa tem direito de que se respeite sua integridade física, psíquica e moral. 2. Ninguém deve ser submetido a torturas nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada com respeito devido à dignidade inerente ao ser humano.
Princípio da humanização das penas
Constitui desdobramento do princípio da dignidade da pessoa humana.
Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), art. 5º, 1. Toda pessoa tem direito de que se respeite sua integridade física, psíquica e moral. 2. Ninguém deve ser submetido a torturas nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada com respeito devido à dignidade inerente ao ser humano.
Princípio da proporcionalidade
Conceito: a pena deve ser proporcional à gravidade da infração penal.
Desdobramento lógico do princípio da individualização da pena.
Dois ângulos deste princípio:
Evitar excessos (hipertrofia da punição) → garantismo negativo (frear o poder punitivo do Estado).
Evitar a insuficiente intervenção estatal (impunidade) → garantismo positivo (fomentar o poder punitivo do Estado).
Exemplo: CP, art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo: (Incluído pela Lei nº 11.466, de 2007). Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
Princípio da pessoalidade
Definição: a pena não deve passar da pessoa do condenado.CF, art. 5º, XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.
O princípio admite exceções?
A pena de confisco pode passar da pessoa do condenado, exceção prevista na própria Constituição Federal.
Essa corrente não prevalece.
O princípio da pessoalidade é absoluto. O perdimento de bens não é pena, mas sim efeito da condenação.
Essa corrente prevalece.
O Pacto de São José da Costa Rica não admite nenhuma exceção: Art. 5º, § 3. A pena não pode passar da pessoa do delinquente.
Princípio da vedação do bis in idem (ne bis in idem)
Três significados do princípio:
Processual: ninguém pode ser processado duas vezes pelo mesmo crime.
Material: ninguém pode ser condenado pela segunda vez em razão do mesmo fato.
Execucional: ninguém pode ser executado duas vezes por condenações relacionadas com o mesmo fato.
Previsão expressa. O princípio não está expresso na Constituição Federal, mas há previsão expressa no Estatuto de Roma: Artigo 20. Ne bis in idem 1 - Salvo disposição em contrário do presente Estatuto, nenhuma pessoa poderá ser julgada pelo Tribunal por atos constitutivos de crimes pelos quais este já a tenha condenado ou absolvido.
O princípio, coisa julgada e litispendência.
Caso prático:
Processo A, Roubo X, em 01/03/2009 → condenação a 5 anos, no dia 20/11/2011 (ou seja, processo anterior, condenação posterior, mais maléfica)
Processo B, Roubo X, em 17/03/2009 → condenação a 4 anos no dia 05/06/2011 (ou seja, processo posterior, condenação anterior, mais benéfica)
Qual pena o condenado irá cumprir, já que a litispendência gera nulidade.
Duas correntes:
Em face do caráter normativo concreto das duas coisas julgadas, dever-se-ia aplicar, no âmbito do processo penal, aquela mais benéfica ao Réu (STF, Ministro Luiz Fux).
A ação instaurada posteriormente jamais poderia ter existido. Apenas a primeira tem validade no mundo jurídico, independentemente da pena cominada em ambos os processos (STF, Ministro Marco Aurélio, prevalecendo. HC 101.131)
Espécies de Lei Penal
Espécies de Lei Penal
Lei Penal Completa
Conceito: é aquela que dispensa complemento normativo ou valorativo.
Espécies de complemento:
Complemento normativo: dado por outra norma.
Complemento valorativo: dado pelo juiz, analisando o caso concreto.
Lei Penal Incompleta
Conceito: é aquela que depende de complemento normativo ou valorativo.
Norma penal em branco
Conceito: é aquela que depende de complemento normativo. É aquela cujo preceito primário (descrição da conduta) é indeterminado quanto ao seu conteúdo, porém determinável.
Outras denominações: norma cega.
Espécies de norma penal em branco:
Norma penal em branco própria (em sentido estrito ou heterogênea)
O complemento normativo não emana do legislador.
Exemplo: Lei de Drogas é complementada por uma portaria.
Norma penal em branco própria viola o princípio da reserva legal?
Primeira corrente: é inconstitucional, pois ofende o princípio da reserva legal. O princípio da legalidade é violado ao se permitir que o conteúdo da norma possa ser modificado por órgão diverso do Poder Judiciário.
Segunda corrente: não há ofensa ao princípio da legalidade. O legislador criou os requisitos básicos do delito. O que a autoridade administrativa pode fazer é explicitar um dos requisitos típicos.
Norma penal em branco imprópria (em sentido amplo ou homogênea).
O complemento normativo emana do legislador.
Esta norma penal em branco se divide em duas:
	Norma Penal em Branco Imprópria
	Homovitelina/Homóloga
	Heterovitelina/Heteróloga
	O complemento emana da mesma instância legislativa.
	O complemento emana de instância legislativa diversa.
	CP, 312 e 327.
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio.
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
	CP, art. 237 e CC, art. 1.521.
CP, art. 237 - Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta:
CC, Art. 1.521. Não podem casar:
Norma penal em branco ao revés (inversa ou ao avesso).
	Norma Penal em Branco
	Norma Penal em Branco ao Revés
	Preceito Primário Incompleto
	Preceito Primário Completo
	Preceito Secundário Completo
	Preceito Secundário Incompleto
Conceito: a lei penal em branco inversa é aquela em que o preceito primário é completo, mas o preceito secundário reclama complementação.
Atenção: o complemento só pode ser dado por uma lei em sentido estrito, sob pena de violação do princípio da reserva legal.
Exemplo: Lei 2.889/56, Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal: a) matar membros do grupo; Será punido: Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a.
Tipo Aberto
Conceito: lei penal incompleta que depende de complemento valorativo.
Exemplo: tipos culposos. O tipo não diz o que é negligência, imprudência ou imperícia. É o juiz que definirá diante do caso concreto.
Eficácia da Lei Penal no Tempo
Tempo do Crime
Há três teorias explicativas sobre o temo do crime:
Teoria da Atividade: considera-se praticado o crime no momento da conduta (ação/omissão).
Teoria do Resultado (evento): considera-se praticado o crime no momento do resultado.
Teoria da Ubiquidade ou Mista: considera-se praticado o crime no momento da conduta ou do resultado.
O Código Penal adotou a Teoria da Atividade.
CP, art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.
Tempo do Crime e Imputabilidade. O artigo 4º do Código Penal tem inteira aplicação não somente na fixação da lei que vai reger o caso, mas também para fixar a imputabilidade do agente.
Exemplo 1: agente menor de 18 anos no momento da conduta, mas o seu resultado se dá após ter completado 18 anos. A Lei aplicável será o ECA, e não o Código Penal.
Tempo do Crime e sucessão de leis penais no tempo. Como decorrência do princípio da legalidade, aplica-se, em regra, a lei penal vigente ao tempo da realização da conduta criminosa. Hipótese de aplicação da lei penal no tempo:
Se, ao tempo da conduta, o fato era atípico e lei posterior torna o fato típico, esta lei é irretroativa (CP, art. 1º).
Se, ao tempo da conduta, o fato era típico, e lei posterior torna a pena mais rigorosa, esta lei é irretroativa (CP, art. 1º) → ultra-atividade da lei mais benéfica.
Se, ao tempo da conduta, o fato era típico, e lei posterior torna o fato atípico, esta lei retroage (CP, art. 2º, caput).
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
Se, ao tempo da conduta, o fato era típico, e lei posterior torna a pena menos rigorosa, esta lei retroage (CP, art. 2º, parágrafo único).
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
Abolitio Criminis – Art. 2º, caput, do CP e a supressão da figura criminosa
Natureza jurídica da abolitio criminis.
Causa de extinção da punibilidade (prevalece).
CP, art. 107 - Extingue-se a punibilidade: III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso.
Causa de exclusão de tipicidade (gerando, por conseguinte, a extinção da punibilidade).
Efeitos da abolitio criminis. CP, art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessandoem virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
Cessação da execução.
Há violação da CF, art. 5º, “XXXVI: a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”?
Não viola o mandamento constitucional, pois o artigo 5º tutela garantia individual e não o direito de punir do Estado.
Cessação dos efeitos penais da sentença condenatória.
Exemplo de efeitos penais: ser considerado reincidente.
Efeitos extrapenais permanecem. Por exemplo: continua servindo como título executivo judicial.
Abolitio criminis temporária
Abolitio criminis temporária. Situação interessante surgiu com o estatuto do desarmamento ao estabelecer um prazo para que os possuidores e proprietários entregassem ou regularizassem o registro da arma. Durante esse prazo, não incidiu o tipo penal respectivo. Esse prazo foi chamado de abolitio criminis temporária.
Princípio da continuidade normativo-típica
Princípio da continuidade normativo-típico. Ocorre quando determinado tipo penal incriminador seja expressamente revogado, mas seus elementos venham a migrar para outro tipo penal já existente, ou mesmo criado por nova lei. A intenção é manter a natureza criminosa do fato, enquanto que na abolitio criminis a intenção é não mais considerar o fato criminoso.
Exemplos:
Lei 11.106/2005 migrou o rapto violento do artigo 219 do Código Penal para o artigo 148, § 1º, V, do Código Penal. Já o rapto consensual (CP, art. 220) foi abolido.
Lei 12.015/2009, que reuniu as figuras dos artigos 213 e 214 do Código Penal na figura do artigo 213.
Lex mitior
Lex mitior. Lei posterior que, de qualquer modo, favorece o réu.
Também não respeita a coisa julgada.
Competência para aplicação da lei penal mais benéfica
Duas correntes:
Primeira corrente. STF, súmula 611: Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna.
Segunda corrente.
Se a aplicação da lei mais benéfica demandar raciocínio meramente matemático, é o juiz da execução. Exemplo: lei posterior cria uma causa de diminuição de pena quando o agente é maior de 70 anos.
Se, no entanto, exigir juízo de valor, deve ser interposta a Revisão Criminal. Exemplo: lei posterior cria uma causa de diminuição do roubo quando a coisa é de pequeno valor.
A maioria não concorda com essa corrente, pois esta hipótese não está no rol taxativo da Revisão Criminal.
Lex mitior e vacatio legis
É possível retroagir lei penal mais benéfica ainda durante a sua vacatio legis? Duas correntes:
Primeira corrente. A vacatio tem como finalidade principal dar conhecimento de lei promulgada. Não faz sentido que aqueles que já se inteiraram do seu teor fiquem impedidos de lhe prestar obediência, em especial tratando-se de lei penal mais benéfica.
Segunda corrente. Lei na vacatio não tem eficácia jurídica ou social, não podendo ser aplicada. Esta corrente é a que prevalece.
Crime continuado e sucessão de leis penais
Hipótese: cinco furtos, praticados nas mesmas circunstâncias de tempo, local e modo de execução. No curso da cadeia criminosa, a pena é alterada.
No crime continuado, por uma ficção jurídica, é como se fosse um crime só.
Súmula 711 do STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.
Combinação de leis
É possível a combinação de leis para favorecer o réu? Exemplo: no tempo da conduta, havia Lei X, com pena de 1 a 4 anos e 100 dias-multa. No momento da sentença, vige a Lei Y, com pena de 2 a 8 anos e 10 dias-multa. É possível aplicar a pena privativa de liberdade da Lei X e a pena de multa da Lei Y?
Duas correntes:
Primeira corrente: não é possível, pois o juiz, assim agindo, transforma-se em legislador, criando uma terceira lei (Nelson Hungria).
O STF ainda não consolidou a questão, mas tendente para a primeira corrente.
Segunda corrente: se o juiz pode aplicar o “todo” de uma lei ou de outra para favorecer o agente, pode escolher parte de uma e de outra para o mesmo fim (Basileu Garcia, seguido pela maioria).
Lei excepcional ou temporária
CP, art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.
Definições:
Lei temporária (ou temporária em sentido estrito) é aquela que tem pré-fixado no seu texto o tempo de sua vigência.
Lei excepcional (ou temporária em sentido amplo) é aquela que atende a transitórias necessidades estatais, tais como: guerra, epidemia, calamidades etc. Perduram por todo o tempo excepcional.
Ultratividade. Ambas as leis preveem casos de ultratividade maléfica, pois, senão fosse assim, esses fatos estariam fadados a impunidade, isto é, haveria uma ineficácia preventiva em relação aos fatos cometidos na iminência de seu vencimento.
Recepção pela CF/88. O artigo 3º do Código Penal foi recepcionado pela Constituição de 1988? Duas correntes:
Primeira corrente. Zaffaroni, percebendo que a CF não traz qualquer exceção à proibição da ultratividade maléfica, ensina que o artigo 3º não foi recepcionado.
Segunda corrente. Predomina o entendimento de que a ultratividade de lei temporária ou excepcional não infringe a Constituição, pois não há duas leis em conflito no tempo. As leis temporárias e excepcionais versam sobre matérias específicas.
Frederico Marques leciona que a lei temporária não é ultrativa, mas continua em vigor, embora não aplicável.
Tempo do crime vs. sucessão de complementos da norma penal em branco
Quatro correntes sobre o tema.
Primeira corrente. A alteração do complemento da norma penal em branco deve sempre retroagir, desde que mais benéfica para o acusado (Paulo José da Costa Júnior).
Segunda corrente. A alteração do complemento da norma penal em branco, mesmo que mais benéfica, não retroage (Frederico Marques).
Terceira corrente. Só tem importância a variação do complemento da norma penal em branco quando provoca uma real modificação da figura típica, da conduta criminosa (Mirabete).
Quarta corrente. A alteração de um complemento de uma norma penal em branco homogênea, se benéfica, retroage. Quando se tratar de norma penal em branco heterogênea, se seu complemento não se revestir de excepcionalidade, retroage quando mais benéfica (Alberto Silva Franco e STF).
	Dispositivo legal
	Art. 237 do CP
	Art. 33 da Lei de Drogas
	Art. 2º, da Lei 1.521/51
	Conduta típica
	Contrair casamento com impedimentos
	Tráfico de Drogas
	Transgredir tabelas oficiais de preço.
	Espécie normativa
	Norma penal em branco homogênea
	Norma penal em branco heterogênea
	Norma penal em branco heterogênea
	Primeira corrente
	A alteração benéfica do complemento retroage
	A alteração benéfica do complemento retroage
	A alteração benéfica do complemento retroage
	Segunda corrente
	A alteração do complemento, mesmo que benéfica, não retroage
	A alteração do complemento, mesmo que benéfica, não retroage
	A alteração do complemento, mesmo que benéfica, não retroage
	Terceira corrente
	Havendo real modificação da figura abstrata, retroage
	Havendo real modificação da figura abstrata, retroage
	Não havendo modificçaõ da figura abstrata, não retroage
	Quarta corrente
	Alteração benéfica de npb homogênea, retroage
	Não se revestindo de excepcionalidade, retroage
	Revestindo-se de excepcionalidade, não retroage.
Retroatividade de Jurisprudência mais benéfica
No Brasil, a doutrina vem admitindo a retroatividade de jurisprudência mais benéfica em casos de súmula vinculante e controle concentrado de constitucionalidade.
Eficácia da Lei Penal no Espaço
Importância do tema
Na lei pena no tempo, cuida-se do problema de sucessões de lei no tempo. Na eficácia da lei penal no espaço, cuida-se do problema de crimes em vários territórios. Sabendo que um fato punível pode, eventualmente, atingir os interessesde dois ou mais estados igualmente soberanos, o estudo da lei penal no espaço visa descobrir qual é o âmbito territorial de aplicação da lei penal brasileira, bem como de que forma o Brasil se relaciona com outros países em matéria penal.
Objetiva-se saber as fronteiras de atuação da lei penal brasileira.
Princípios aplicáveis no conflito de lei penal no espaço
Quando um fato punível desperta o interesse de punir de mais de um país soberano, seis princípios são utilizados para resolver possível conflito. O Brasil adota o princípio da territorialidade como regra; e os demais princípios são aplicados nas hipóteses da extraterritorialidade da lei penal brasileira.
Princípio da territorialidade: aplica-se a lei penal do local do crime.
Não importa a nacionalidade do agente ou da vítima.
Princípio da nacionalidade ativa: aplica-se a lei penal da nacionalidade do agente.
Não importando o local do crime, a nacionalidade da vítima ou do bem jurídico atingido.
Princípio da nacionalidade passiva. Duas posições:
Aplica-se a lei penal da nacionalidade do agente apenas quando atingir um bem jurídico do seu próprio estado ou de um concidadão.
Não importando o local do crime.
Aplica-se a lei penal da nacionalidade da vítima.
Não importando a nacionalidade do agente ou o local do crime.
Princípio da defesa (ou real): aplica-se a lei da nacionalidade do bem jurídico lesado.
Não importando a nacionalidade dos envolvidos ou o local do crime.
Princípio da justiça penal universal ou cosmopolita: o agente fica sujeito à lei penal do país onde for encontrado.
Não importando a nacionalidade dos envolvidos, do bem jurídico atingido ou o local do crime.
Obs.: este princípio costuma ser aplicado em crimes previstos em tratados internacionais.
Princípio da representação: a lei penal nacional aplica-se aos crimes praticados em aeronaves ou embarcações privadas quando no estrangeiro e aí não sejam julgados.
Não importando a nacionalidade do agente.
Princípio da territorialidade
CP, “Territorialidade”, art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.
Territorialidade absoluta vs. temperada. O artigo 5º do Código Penal adotou a territorialidade temperada, pois convenções, tratados e regras internacionais podem impedir a aplicação da lei brasileira ao crime cometido no território nacional.
A lei brasileira deve respeitar as fronteiras do território nacional.
Intraterritorialidade: aplicação de lei estrangeira nos crimes cometidos no Brasil.
Na intraterritorialidade não é o juiz brasileiro quem aplica a lei estrangeira. Diversamente do que ocorre no Direito Civil, em nenhuma hipótese o juiz criminal pode aplicar a legislação penal estrangeira.
Exemplos:
Imunidade diplomática.
Tribunal Penal Internacional.
O Tribunal Penal Internacional viola o monopólio de punir do Estado? O art. 1º do Estatuo de Roma consagrou o princípio da complementariedade, isto é, o Tribunal Penal Internacional não pode intervir indevidamente nos sistemas judiciais nacionais, que continuam tendo a responsabilidade de investigar e processar os crimes cometidos em seus territórios, salvo nos casos em que os Estados se mostram incapazes ou não demonstrem efetiva vontade de punir os seus criminosos.
Estatuto de Roma, art. 1º - É criado, pelo presente instrumento, um Tribunal Penal Internacional ("o Tribunal"). O Tribunal será uma instituição permanente, com jurisdição sobre as pessoas responsáveis pelos crimes de maior gravidade com alcance internacional, de acordo com o presente Estatuto, e será complementar às jurisdições penais nacionais. A competência e o funcionamento do Tribunal reger-se-ão pelo presente Estatuto
Territorialidade, Intraterritorialidade e Extraterritorialidade
	Territorialidade
	Extraterritorialidade
	Intraterritorialidade
	Crime no Brasil
	Crime fora do Brasil
	Crime no Brasil
	Aplica-se a lei brasileira
	Aplica-se a lei brasileira
	Aplica-se a lei estrangeira
Território nacional
O território nacional é constituído pelo espaço físico (geográfico), mas também pelo território jurídico (por ficção, equiparação ou extensão).
CP, art. 5º, § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. § 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.a
Desdobramentos:
Aplica-se a lei brasileira quando os navios ou aeronaves forem públicos ou estiverem a serviço do governo brasileiro, onde quer que se encontre.
Em caso de navios ou aeronaves privados, quando em alto-mar ou no espaço aéreo correspondente, aplica-se a lei penal da bandeira que ostentem.
O conceito de liberdade em alto-mar está no art. 57 da Convenção das Nações Unidas sobre o direito do mar (1982).
Os destroços continuam ostentando a bandeira da embarcação. Isto é, são considerados extensão do território da bandeira que ostentam.
Na dúvida, aplica-se a lei da nacionalidade do agente, pois há casos em que o Código Penal não consegue resolver. Como no caso de crime cometido a bordo de embarcação binacional.
Navio privado fora do mar territorial pratica abortos. Brasileira vai até o navio e pratica o abroto. Ao regressar, a brasileira não irá responder, pois em alto-mar prevalece a regra de que a embarcação é extensão do território da bandeira que ostenta.
Embarcações e aeronaves estrangeiras em território brasileiro, desde que públicos, não serão considerados parte do nosso território (princípio da reciprocidade) e, por isso, será aplicada a lei penal da bandeira que ostentam.
Marinheiro que pratica crime a bordo de embarcação pública atracada na costa, aplica-se a lei estrangeira – caso de intraterritorialidade.
Se o crime é praticado em solo brasileiro:
Se o marinheiro estiver a serviço do governo estrangeiro, aplica-se a lei estrangeira - caso de intraterritorialidade.
Se o marinheiro não estiver a serviço do governo estrangeiro, aplica-se a lei brasileira.
Embaixadas. Quanto à territorialidade das embaixadas, mesmo havendo divergência entre alguns doutrinadores, prevalece que não fazem parte do país que representam, apesar de serem invioláveis.
Lugar do crime
Teorias do lugar do crime. É necessário verificar quando, em concreto, pode-se afirmar que um crime foi realizado no território brasileiro. Na discussão do assunto, temos três teorias:
Teoria da atividade: considera-se o lugar do crime aquele em que se desenvolveu a conduta.
Teoria do resultado: considera-se o lugar do crime aquele em que ocorreu o resultado.
Teoria da ubiquidade ou mista: considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a conduta, bem como onde se produziu ou deveria se produzir o resultado.
Código penal adota a teoria da ubiquidade.
CP, “Lugar do crime”, art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
Conduta ocorre no Brasil, resultado no exterior, aplica-se a lei brasileira.
Conduta ocorre no exterior, resultado no Brasil, aplica-se a lei brasileira.
Conduta ocorre no exterior, mas o resultado deveria se produzir no Brasil, aplica-se a lei brasileira.
Se em território brasileiro ocorrer unicamente o planejamento ou preparação do crime, não se aplica a lei brasileira, salvo quando a lei brasileira pune atos preparatórios (exemplo, quadrilha ou bando).
Princípio da passagem inocente. Quandoo navio atravessa o território nacional apenas como passagem necessária para chegar ao seu destino não se aplica o art. 5º, § 2º, do CP, isto é, não se aplica a lei brasileira.
Lei 8.617/93, art. 3º É reconhecido aos navios de todas as nacionalidades o direito de passagem inocente no mar territorial brasileiro. § 1º A passagem será considerada inocente desde que não seja prejudicial à paz, à boa ordem ou à segurança do Brasil, devendo ser contínua e rápida.
Crime a distância, crime em trânsito e crime plurilocal.
	Crime a distância (espaço máximo)
	Crime em trânsito
	Crime plurilocal
	O delito percorre territórios de dois países soberanos
	O delito percorre territórios de mais de dois países soberanos
	O delito percorre territórios do mesmo país
	Gera conflito internacional de jurisdição.
	Gera conflito internacional de jurisdição
	Gera conflito interno de competência
	CP, art. 6º
	CP, art. 6º
	CPP, art. 70: competência do juízo do local da consumação do delito.
Extraterritorialidade
Hipóteses de extraterritorialidade
Incondicionada: o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.
Crimes contra a vida ou a liberdade do Presidente da República.
Princípio da defesa ou real.
Crimes contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público.
Princípio da defesa ou real.
Crimes contra a administração pública, por quem está a seu serviço.
Princípio da defesa ou real.
Crimes de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.
Duas correntes: (i) princípio da justiça universal (prevalece); (ii) princípio da defesa ou real.
Condicionada:
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.
Crimes que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir.
Princípio da justiça universal.
Crimes praticados por brasileiro.
Princípio da nacionalidade ativa.
Crimes praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.
Princípio da representação.
Hipercondicionada: soma-se às condições das hipóteses de extraterritorialidade condicionada uma das seguintes condições:
CP, art. 7º, § 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça.
Duas correntes sobre o princípio aplicável:
Princípio da nacionalidade passiva.
Princípio da defesa ou real.
Crimes praticados por brasileiro no estrangeiro
Trata-se de contrapartida necessária à vedação de extradição do cidadão brasileiro. Caso não existisse essa hipótese de extradição, o cidadão que cometesse o delito no estrangeiro e regressasse ao território nacional teria sacramentada a sua impunidade.
Exemplo: brasileiro, nos EUA, mata mexicano, regressando em seguida ao brasil.
É caso de extraterritorialidade da lei penal brasileira? Sim (CP, art. 7º, II, d).
Qual espécie de extraterritorialidade? Condicionada.
Competência para processo e julgamento.
Em regra, justiça estadual. Só será Justiça Federal se presentes as hipóteses da CF, art. 109, IV.
Competência territorial: conforme o art. 88 do CPP, da Capital do Estado em que o agente mora ou morou no Brasil. Se nunca morou no Brasil, a competência é da capital da República.
Extraterritorialidade incondicionada configura bis in idem
CP, Pena cumprida no estrangeiro, Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.
Apesar de Francisco de Assis Toledo ensinar que o art. 8º do Código Penal impede a dupla punição, prevalece o entendimento de que tal dispositivo apenas atenua. Trata-se de hipótese excepcional em que o bis in idem serve para reforçar a soberania do Brasil.
Validade da lei penal em relação às pessoas (imunidades)
Introdução
Trata-se do estudo das famosas imunidades. Aqui o estudo será limitado às imunidades diplomáticas e parlamentares.
Imunidades em relação a Presidente, Governadores, Prefeitos etc. serão estudadas em outras disciplinas.
Imunidade vs. igualdade constitucional.
CF, art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição.
A lei penal se aplica a todos, nacionais ou estrangeiros, por igual, não existindo privilégios pessoais.
Há, no entanto, pessoas que, em virtude de suas funções ou em razão de regras internacionais, desfrutam de imunidades. Logo, longe de ser uma garantia pessoal, trata-se de necessária prerrogativa funcional, proteção ao cargo ou função desempenhada pelo seu titular.
Imunidade não é privilégio, é prerrogativa.
	Privilégio
	Prerrogativa
	Exceção da lei comum, deduzida da situação de superioridade das pessoas que a desfrutam.
	Conjunto de precauções que rodeiam a função (servem para o exercício da função).
	É subjetivo e anterior à lei.
	Objetiva e deriva da lei.
	Tem essência pessoal.
	Anexo à qualidade do órgão.
	Poder frente à lei.
	Conduto para que a lei se cumpra.
	Aristocracia das ordens sociais.
	Aristocracias das instituições governamentais.
Imunidade diplomática
Definição: são imunidades de direito público internacional.
Dela desfrutam:
Chefes de Governo ou de Estado Estrangeiro (sua família e membros de sua comitiva).
Embaixador (e sua família).
Funcionários do corpo diplomático (e sua família).
Funcionários das organizações internacionais, quando em serviço (p. ex., funcionários da ONU).
Agente consular: diferentemente do embaixador, que possui imunidade nos crimes comuns e nos crimes praticados em razão da função, o agente consular possui imunidade apenas nos crimes praticados em razão da função.
Consequência da imunidade.
Apesar de todos deverem obediência ao preceito primário da lei penal do país em que se encontram (generalidade da lei penal), os diplomatas escapam à sua consequência jurídica (punição), permanecendo sob a eficácia da lei penal do Estado a que pertence.
A imunidade não impede a investigação policial.
Natureza jurídica da imunidade diplomática.
Primeira corrente: causa pessoal de isenção de pena (prevalece).
Segunda corrente: causa impeditiva de punibilidade.
Renúncia à imunidade.
Não é admitida, uma vez que a imunidade é prerrogativa da função, abrindo mão daquilo que não lhe pertence.
Porém, o país de origem pode renunciar a imunidade de seu diplomata.
Imunidades parlamentar
Duas espécies:
Absoluta (CF, art. 53, caput) – material, real, substancial, inviolabilidade ou indenidade.
Relativas.
Imunidade parlamentar absoluta
Previsão: CF, art. 53:
CF, art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.
De acordo com o STF, a inviolabilidade exime o seu titular de qualquer tipo de responsabilidade (civil, criminal, administrativa e política).
Natureza jurídica da imunidade parlamentar absoluta.
Primeira corrente: causa excludente de crime (Pontesde Miranda).
Segunda corrente: causa que se opõe à formação do crime (Basileu Garcia).
Terceira corrente: causa pessoal de exclusão de pena (Aníbal Bruno).
Quarta corrente: causa de irresponsabilidade (Magalhães Noronha).
Quinta corrente: incapacidade pessoal penal, por razões políticas (Frederico Marques).
Sexta corrente: causa de atipicidade (LFG, STF).
Sabendo que a punição do partícipe pressupõe fato principal típico e ilícito, adotada a sexta corrente (atipicidade) o partícipe também não poderá ser punido.
A súmula 245 do STF só se aplica no caso de imunidade parlamentar relativa.
Súmula 245 do STF - A imunidade parlamentar não se estende ao co-réu sem essa prerrogativa.
Limites da imunidade parlamentar absoluta.
Deve haver nexo causal com o exercício da função parlamentar.
Nas dependências do Parlamento, presume-se o nexo causal.
Fora das dependências do Parlamento, o nexo deve ser comprovado.
O instituto da imunidade parlamentar absoluta não permite ações estranhas ao mandato, sem que haja consequências. A não se entender assim, estarão os parlamentares acima do bem e do mal, blindados, como se o mandato fosse um escudo polivalente (STF, INQ 2813).
Imunidade parlamentar Relativa ou Formal
Imunidade relativa ao foro
CF, art. 53, § 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal.
Foro natural para o julgamento de Deputados e Senadores – STF. O foro especial é somente para ações penais, não abrange ações extrapenais, nem mesmo as de improbidade administrativa.
Termo inicial do foro especial: desde a expedição do diploma (que ocorre antes da posse).
Termo final do foro especial: término do mandato.
O foro especial não permanece depois de terminado o mandato, ou seja, com o término do mandato o processo é redistribuído para o juiz de primeiro grau.
STF cancelou a súmula 394:
Cometido o crime durante o exercício funcional, prevalece a competência especial por prerrogativa de função, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados após a cessação daquele exercício. (Cancelada "ex nunc" pelos Inq 687 QO-RTJ 179/912, AP 315 QO-RTJ 180/11, AP 319 QO-DJ de 31/10/2001, Inq 656 QO-DJ de 31/10/2001, Inq 881 QO-RTJ 179/440 e AP 313 QO-RTJ 171/745).
O STF, no julgamento da Ação Penal 396, decidiu que a renúncia do Parlamentar para evitar decisão da corte colocado em pauta constitui manobra, inaceitável fraude processual, permanecendo o STF competente para análise do mérito.
Ministro Marco Aurélio discordou da maioria, entendendo a renúncia dentro do direito de ampla defesa do réu.
Imunidade relativa à prisão
CF, art. 53, § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão.
Termo inicial: desde a expedição do diploma (e não a posse).
Garantia: o parlamentar só pode ser preso em flagrante em crime inafiançável.
Prisão (em negrito, a garantia constitucional da prerrogativa).
Penal
Provisória:
Flagrante (com a Lei 12.403/2001 questiona-se se a prisão em flagrante é espécie de prisão provisória): pode ser por crime inafiançável ou afiançável.
Temporária.
Preventiva.
Observações:
Admite-se prisão decorrente de sentença condenatória transitada em julgada.
A jurisprudência estende a imunidade também para o caso de prisão civil.
No caso de flagrante em crime inafiançável, a Casa Legislativa faz um juízo político da clausula (conveniência e oportunidade).
Parlamentar que fora da função ofende terceiro fazendo referência à sua cor não pode ser preso em flagrante, por se tratar de crime de injúria qualificada pelo preconceito.
	Injúria qualificada pelo preconceito
	Crime de racismo
	CP, art. 140, § 3º
	Lei 7.716/89
	O agente atribui à vítima qualidade negativa.
	O agente segrega ou incentiva a segregação.
	Prescritível
	Imprescritível
	Afiançável
	Inafiançável
Imunidade relativa ao processo
CF, art. 53, § 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação. § 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora. § 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato.
Alcance: esta imunidade só alcança os delitos praticados após a diplomação.
Crime ocorrido antes da diplomação, o Parlamentar, desde a diplomação, terá foro especial.
Crime ocorrido após a diplomação, o Parlamentar terá: (i) foro especial e (ii) possibilidade de suspensão do processo pelo Casa Legislativa.
Garantia: a Casa Legislativa respectiva poderá sustar o andamento do processo (suspendendo a prescrição).
A imunidade não impede a instauração de Inquérito Policial, nem a realização de investigação penal (STF).
Imunidade relativa à condição de testemunha
CF, art. 53, § 6º Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações.
Exegese do dispositivo:
Os Deputados e Senadores, quando arrolados, estão obrigados a servir como testemunhas.
Os Deputados e Senadores prestam o compromisso de dizer a verdade.
Os Deputados e Senadores não estão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações.
Local, dia e hora e da audiência.
CPP, art. 221. O Presidente e o Vice-Presidente da República, os senadores e deputados federais, os ministros de Estado, os governadores de Estados e Territórios, os secretários de Estado, os prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os deputados às Assembleias Legislativas Estaduais, os membros do Poder Judiciário, os ministros e juízes dos Tribunais de Contas da União, dos Estados, do Distrito Federal, bem como os do Tribunal Marítimo serão inquiridos em local, dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz.
O Parlamentar indiciado, sujeito à investigação policial, não tem a prerrogativa que se refere o art. 221 do CPP – a prerrogativa se aplica apenas a Parlamentar testemunha.
O STF, na Ação Penal 421, retirou do Parlamentar a prerrogativa do art. 211 do CPP, pois utilizada para procrastinar intencionalmente o andamento e desfecho do feito.
Imunidades e estado de sítio
Estado de sítio. Regra: as imunidades subsistirão no estado de sítio, salvo:
CF, art. 53, § 8º As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de dois terços dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da medida.
Imunidade e licença para exercício de cargo no Poder Executivo
Em regra, o Parlamentar que se licencia para o exercício de cargo no Poder Executivo não mantém a imunidade, por constituir uma prerrogativa da função.
STF entende que o Parlamentar licenciado mantém o foro criminal no STF (HC 95.485 - Al).
Cancelamento da Súmula 4 do STF - Não perde a imunidade parlamentar o congressista nomeado Ministro de Estado. (Cancelada pelo Inq 104 RTJ-99/477 - 26/08/1981)
Imunidades dos Deputados Estaduais
CF, art. 27.§ 1º - Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas.
Princípio da simetria: os Deputados Estaduais possuem as

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