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DIREITO PENAL – ROGÉRIO SANCHES Aula 01 Bibliografia: Tratado de Direito Penal – Ed. Saraiva (1vol – parte geral e 4 volumes Parte especial). 1) Curso de Direito Penal – Rogério Greco (ed. Impetus 1 vol. Parte geral e 3 volumes parte especial) 2) Curso de Direito Penal – Rogério Sanches. Ed. Jus Podivm 3) Coleção de Código Penal Cdoloomentado Juspodivm Intensivo anual: Intensivo I Intensivo II Teoria geral da norma penal Teoria geral do crime. Teoria Geral da Pena Penal Especial DIREITO PENAL Conceito: a) Sob o aspecto formal (ou estático): Direito Penal é o conjunto de normas que qualifica certos comportamentos humanos como infrações penais, define os seus agentes e fixa as sanções a serem- lhes aplicadas. b) Sob o aspecto sociológico (ou dinâmico): Direito Penal é mais um instrumento de controle social, visando assegurar a necessária disciplina para a harmônica convivência dos membros da sociedade. Atenção! A manutenção da paz social demanda a existência de normas destinadas a estabelecer diretrizes. Quando violadas as regras de conduta, surge para o Estado o dever de aplicar sanções (civis ou penais). Nessa tarefa de controle social atuam vários ramos do Direito. Quando a conduta atenta contra bens jurídicos especialmente tutelados, merece reação mais severa por parte do Estado, valendo-se do Direito Penal. O que diferencia a norma penal das demais é a espécie de conseqüência jurídica (pena privativa de liberdade). c) Sob o aspecto material: o Direito Penal refere-se a comportamentos considerados altamente reprováveis ou danosos ao organismo social, afetando bens jurídicos indispensáveis à própria conservação e progresso. (Luiz Regis Prado – caiu concurso do Paraná). Direito penal coletivo: construção típica por vezes submetida à cláusula de acessoriedade administrativa; responsabilidade do ente coletivo; relação jurídica entre conduta e bem jurídico tutelado; responsabilização por comportamentos aditivos cumulativos. O direito penal coletivo visa punir um ente coletivo (ex.empresa). Para isso, as sanções convencionais (ex. restrição da liberdade) não são idôneas para este tipo de ente. Sendo assim, mais eficaz é a aplicação de medidas administrativas (ex. multas, suspensão das atividades do ente). Tema 01 do Intensivo I: TEORIA GERAL DA NORMA PENAL: Não podemos confundir Direito Penal, Criminologia e Política Criminal: (caiu MPMG) Ciência Criminal Direito Penal Criminologia Política Criminal Analisa os fatos humanos indesejados, define quais devem ser rotulados como crime ou contravenção anunciando as penas Ciência empírica que estuda o crime e a pessoa do criminoso, da vítima e o comportamento da sociedade. Trabalha as estratégias e meios de controle social da criminalidade Ocupa-se do crime como norma. Ocupa-se do crime enquanto fato, não enquanto norma. Ocupa-se do crime enquanto valor. A criminologia e a Política Penal fazem parte da Ciência Penal. 1. Direito Penal – Missão: Na atualidade, a doutrina divide a missão do Direito Penal em duas: a) Mediata: Controle Social Limitação ao Poder de punir do Estado Obs. Se de um lado o Estado controla o cidadão, impondo-lhe limites, de outro lado é necessário também limitar seu próprio poder de controle evitando a hipertrofia da punição. b) Imediata: 1ª corrente: Proteger bens jurídicos (Funcionalismo de Roxin) 2ª corrente: Assegurar o ordenamento jurídico o funcionamento/vigência da norma (Funcionalismo de Jakobs) 2. Direito Penal - Classificação Doutrinária: (TJSC) I - Direito Penal Substantivo, Direito Penal Adjetivo. Direito Penal Substantivo Direito Penal Adjetivo Corresponde ao Direito Penal Material – Crime e Pena Corresponde ao Direito Processual Penal – Processo e Procedimento. Obs. É uma classificação existente quando o Processo Penal não era ramo autônomo do Direito, mas parte do Direito Penal II - Direito Penal Objetivo e Direito Penal Subjetivo. Direito Penal Objetivo Direito Penal Subjetivo Conjunto de Leis Penais em vigor no país Refere-se ao Direito de Punir do Estado. Se subdivide em: Positivo Negativo Capacidade de criar e executar normas penais Poder de derrogar preceitos Penais ou restringir o seu alcance. ESTADO STF Atenção! O direito de punir Estatal não é absoluto/incondicional/limitado: Quanto ao modo o Direito de punir deve respeitar direitos e garantias fundamentais. Quanto ao espaço em regra, aplica-se a lei penal aos fatos ao território nacional (art.5º CP). Quanto ao tempo o direito de punir não é eterno (prescrição). Prescrição é um limite temporal ao direito de punir. É sabido que o Direito de Punir é monopólio do Estado, ficando proibida a Justiça Privada (a justiça privada pode caracterizar exercício arbitrário das próprias razões – art.345 CP). Tem um caso que o Estado tolera a punição privada (caiu MPF oral) Cuidado! Art.57 do Estatuto do Índio tolera a punição privada. Controle de Constitucionalidade Art. 57. Será tolerada a aplicação, pelos grupos tribais, de acordo com as instituições próprias, de sanções penais ou disciplinares contra os seus membros, desde que não revistam caráter cruel ou infamante, proibida em qualquer caso a pena de morte. A legítima defesa e a ação penal privada não são punições privadas, porque a primeira não é uma punição, e a segunda trata somente de um tipo de iniciativa de ação. O Tribunal Penal Internacional não representa exceção à exclusividade do Direito de Punir do Estado. O art. 1º do Estatuto de Roma consagrou o Princípio da Complementariedade. O TPI será chamado a intervir somente se e quando a justiça repressiva e interna falhe, seja omissa ou insuficiente. Artigo 1 o O Tribunal É criado, pelo presente instrumento, um Tribunal Penal Internacional ("o Tribunal"). O Tribunal será uma instituição permanente, com jurisdição sobre as pessoas responsáveis pelos crimes de maior gravidade com alcance internacional, de acordo com o presente Estatuto, e será complementar às jurisdições penais nacionais. A competência e o funcionamento do Tribunal reger-se-ão pelo presente Estatuto. III – Direito Penal de Emergência e Direito Penal Promocional: Direito Penal de Emergência Direito Penal Promocional Atendendo a demanda de criminalização o Estado cria normas de repressão, ignorando garantias do cidadão. Finalidade: devolver o sentimento de tranquilidade para a sociedade. Ex.Lei 8072/90 O Estado, visando a consecução dos seus objetivos políticos, emprega leis penais, desconsiderando o Princípio da Intervenção Mínima. Finalidade: usar o direito penal para a transformação social. Ex. mendicância Ex. Estado se depara com muitos mendigos na rua e ao invés de melhorar suas políticas sociais, ele tipifica e pune mendicância. Essa contravenção foi revogada em 2009. IV – As velocidades do Direito Penal: Direito Penal de 1ª, 2ª e 3ª velocidade. Trabalha com o tempo que o Estado leva para punir o autor de uma infração penal, mais ou menos grave (idealizada por Silva Sanchez). A 1ª velocidade enfatiza infrações penais mais graves, punidas com penas privativas de liberdade, exigindo procedimento mais demorado, observando todas as garantias penais e processuais; A 2ª velocidade flexibiliza direitos e garantias fundamentais, possibilitando punição mais célere, mas em contrapartida, prevê penas alternativas (ex. prazo mais curto, alegação oral, menos testemunhas). A 3ª velocidade mescla as 2 anteriores. Defende a punição do criminoso com pena privativa de liberdade (1ª velocidade), permitindo, para determinados crimes, flexibilização de direitos e garantias constitucionais (2ª velocidade). Ex. Terrorismo,organizações criminosas. 1ª velocidade 2ª velocidade 3ª velocidade Penas privativas de Liberdade Procedimento Garantista Ex. CPP Penas Alternativas Procedimento flexibilizado direitos e garantias fundamentais Ex.9099/95 Penas Privativas de Liberdade. Procedimento: flexibilizado Ex: Lei 9034/95 Curiosidade! Chamam de 4ª velocidade a proteção de bens jurídicos difusos e coletivos, mas isso não é reconhecido por Silva Sanchez (conhecido como neopunitivismo). 3. Fontes do Direito Penal: Lugar de onde vem e como se exterioriza o direito penal. Fonte Material Fonte Formal a. Fonte material: é a fonte de produção da norma (órgão encarregado de criar o direito penal): é a União – art.22,I CF Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; Atenção! O § único diz que os Estados podem legislar sobre direitos específicos (ex. devastação de mata específica) quando autorizado por lei complementar. Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. b. Fonte Formal: instrumento de exteriorização do direito penal, o modo como as regras são reveladas (Fonte do conhecimento ou cognição) É tipo a “propaganda da lei”. Doutrina clássica classificava como: a) Imediata: Lei b) Mediata: Costumes e Princípios Gerais E a Constituição? E os Tratados Internacionais? E os Princípios? E a Jurisprudência (inclusive a vinculante)? E os atos administrativos (ex. uma portaria do governo federal que define o que é droga)? Fonte Formal – Divisão Clássica Fonte Formal – Doutrina Moderna Imediata – Lei Mediata – Princípios Gerais de Direito e Costumes Imediata: Lei, CF88, Tratados Internacionais de Direitos Humanos, Jurisprudência, Princípios, atos administrativos. Mediata: Doutrina E os costumes? Fonte informal do direito penal. a) Lei: Fonte formal imediata. A lei é o único instrumento normativo capaz de criar infrações penais e cominar sanções. . b) Constituição Federal: Também é fonte formal imediata. Muito embora não possa criar infrações penais ou cominar sanções, a Constituição Federal nos revela direito penal estabelecendo patamares mínimos abaixo dos quais a intervenção penal não se pode reduzir. Mas por que a Constituição não pode criar infrações penais ou cominar sanções se ela hierarquicamente é superior a lei? R. Em razão do seu processo moroso de alteração (3/5 para emenda, p.ex.). Os patamares mínimos são mandados constitucionais de criminalização. (Exs. Art.5º, XLII e XLIV) XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; O legislador não está criando o crime de racismo, mas está colocando patamares mínimos: inafiançável, reclusão, imprescritível. XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; STF reconhece mandados constitucionais de criminalização. HC 104410 (27/03/12). Pode o legislador revogar um tipo penal (ex. revogar o crime de homicídio)? R: não pode porque a Constituição protege o Direito à vida. Seria assim um mandato constitucional de criminalização implícito. Existem mandatos constitucionais implícitos? R.De acordo com a maioria da doutrina, existem mandatos constitucionais de criminalização implícitos, com a finalidade de evitar a intervenção insuficiente do Estado (imperativos de tutela). c) Tratado Internacionais de Direitos Humanos: É também uma fonte formal imediata. Podem ingressar no nosso ordenamento de duas formas: Aprovado por quórum de emenda – equivalente a Emenda constitucional (ex. Tratado sobre deficientes físicos) Aprovado por quórum comum - supralegal Não podem criar crimes ou cominar penas no direito interno. Só pode incidir na órbita internacional. Assim, os crimes previstos no Estatuto de Roma que cria crimes, só pode ser julgado no TPI. Antes da lei 12.604/2012, o STF no julgamento do HC 96.007decidiu pela proibição da utilização da definição de organização criminosa dada pela Convenção de Palerma, reafirmando que os tratados internacionais não podem criar crimes ou cominar penas para o direito interno (mas apenas para o direito internacional). d) Jurisprudência: Também são fontes formais imediatas. Revela o direito penal, podendo ter caráter vinculante. Ex. Art.71 CP. A jurisprudência coloca que são 30 dias para crime caracterizar o crime continuado. Crime continuado Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) e) Princípios: Não raras vezes os tribunais absolvem ou reduzem pena com fundamento em princípios. Ex. Princípio da Insignificância. f) Atos administrativos: Configuram fonte formal imediata quando complementam norma penal em branco. Ex. lei penal de drogas é complementada por uma portaria. Das 6 espécies de fontes imediatas, só a lei cria e comina pena. Doutrina: Classificada como fonte formal mediata. Costumes: São classificados como fontes informais do direito penal. O assunto será aprofundado no estudo do Princípio da Legalidade. (3ª aula). INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL 1) INTERPRETAÇÃO: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art71 O ato de interpretar é necessariamente feito por um sujeito que, empregando determinado modo, chega a um resultado. São 3 interpretações: quanto ao sujeito, modo e resultado. I - Interpretação quanto ao sujeito (origem): a) Interpretação autêntica (ou legislativa): é aquela fornecida pela própria lei. Art.327 CP – conceito de funcionário público. b) Interpretação Doutrinária (ou científica): é a interpretação feita pelos estudiosos. Ex. por um livro. Atenção! A exposição de motivos do CP é exemplo de interpretação doutrinária, pois nos foi dada por doutos. Já a exposição de motivos do CPP foi dada por lei; Exp Motiv. CP – interpretação doutrinária Exp. Motiv CPP- interpretação da lei. c) Interpretação Jurisprudencial: Significado dado às leis pelos Tribunais. Atenção! hoje pode ter caráter vinculante. Aula 02 II – Interpretação quanto ao modo: Pode ser: a) Gramatical, Filológica (caiu MagisRS), Literal: é a interpretação literal das palavras. b) Teleológica: perquire a intenção objetivada na lei. c) Histórica: indaga a origem da lei. (Obs: O STF utilizou a interpretação Teleológica ou histórica para Lei Maria da Penha e ação pública nas lesões corporais leves). d) Sistemática: Interpretação da lei em conjunto com a legislação em vigor e com os princípios gerais de Direito. e) Progressiva ou Evolutiva: busca o significado legal de acordo com o progresso da ciência. III – Interpretação quanto ao resultado (+ cai em concurso): a) Declarativo ou declaratória: é aquela em que a letra da lei corresponde exatamente aquilo que o legislador quis dizer (nada suprimindo, nada adicionando). b) Restritiva: a interpretação reduz o alcance da lei para corresponder a vontade do texto. c) Extensiva: (cai muito!!) amplia-se o alcance das palavras da lei para corresponder a vontade do texto. Quanto ao sujeito Quanto ao modo Quanto ao resultado 1) Autêntica 2) Doutrinária 3) Jurisprudencial a) Literal b) Teleológica c) Histórica d) Sistemática e) Progressiva Declarativa Restritiva ExtensivaA doutrina lembra, ainda, duas espécies de interpretação: Interpretação “sui generis” e Interpretação conforme a Constituição. d) Interpretação “sui generis”: Se divide em interpretação: I) Exofórica: o significado da norma interpretada não está no ordenamento normativo. Fora do ordenamento normativo. Ex. art. 20 CP – quem define o conceito de “tipo” é a doutrina, não pela lei. Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II) Endofórica: o texto normativo interpretado empresta o sentido de outros texto do próprio ordenamento normativo. Muito utilizada nas normas penais em branco. Ex. art. 237 CP – impedimentos para o casamento – essa expressão é enunciada pelo próprio CC. Art. 237 - Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta: e) Interpretação conforme a Constituição Federal: A Constituição Federal informa e conforma as normas hierarquicamente inferiores (caiu MPMG). Assume nítido relevo dentro da perspectiva do Estado Democrático de Direito essa espécie de interpretação, hipótese em que a Constituição deve informar e conformar as normas que lhe são hierarquicamente inferiores. Esta forma de interpretação é marcada pela norma legal e a Constituição. Interpretação Extensiva (aprofundando): Admite-se interpretação extensiva contra o réu? R: A doutrina é divergente em 3 correntes: 1ª c) É indiferente se a interpretação extensiva beneficia ou prejudica o réu. A tarefa do intérprete é evitar injustiças. A CF/88 não proíbe a interpretação extensiva contra o réu (defendida por Nucci e Luiz Regis Prado). 2ª c) Socorrendo-se do Princípio “in dubio pro reu” (é um Princípio de Provas que foi emprestado para a interpretação) não se admite interpretação extensiva contra o réu. Na dúvida o juiz deve interpretar em benefício do acusado. (LFG – importante para a Defensoria Pública). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art20 Adota este entendimento o Estatuto de Roma (criou o TPI) art.22.2 em que o Brasil é signatário. 2. A previsão de um crime será estabelecida de forma precisa e não será permitido o recurso à analogia. Em caso de ambigüidade, será interpretada a favor da pessoa objeto de inquérito, acusada ou condenada. 3ª c) Em regra não cabe interpretação extensiva contra o réu, salvo quando interpretação diversa resultar em um escândalo por sua notória irracionalidade (é a mais aceita) - (Zaffaroni). Ex. Art.157 CP – crime de roubo. § 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade: I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma; De acordo com a jurisprudência majoritária, a expressão “arma” deve ser interpretada de forma extensiva, abrangendo todo e qualquer instrumento, com ou sem finalidade bélica, mas capaz de servir para o ataque. Ex. faca de cozinha, lâmina de barbear, animal (pit bull) com finalidade bélica. Cuidado! Não podemos confundir interpretação extensiva com interpretação analógica. Interpretação analógica: na interpretação analógica (ou intra legem) o Código, atendendo ao Princípio da Legalidade, detalha todas as situações que quer regular e, posteriormente, permite aquilo que a elas seja semelhante, possa também ser abrangido no dispositivo (exemplos seguidos de fórmula genérica de enceramento). Exemplos: art.121 §2º,I,III e IV CP Homicídio qualificado § 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa (é um exemplo), ou por outro motivo torpe (encerramento genérico permitindo outros casos, porque legislador não consegue prever tudo); III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura (exemplos de crueldade) ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum (encerra de forma genérica permitindo o intérprete encontrar outros casos – interpretação analógica); IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido; Ex.2: art. 306 CTB Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência: (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012) Para Rogério Greco eu tenho a interpretação extensiva em sentido amplo, interpretação extensiva em sentido estrito (amplia o alcance de uma expressão) e interpretação analógica (forma casuística de encerramento genérico) Interpretação extensiva (amplo) Rogério Greco interpretação extensiva em sentido estrito (amplia o alcance de uma expressão). interpretação analógica (forma casuística de encerramento genérico). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12760.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12760.htm#art1 Atenção! A interpretação analógica não se confunde com analogia. Analogia não é forma de interpretação, mas integração, pois pressupõe lacuna. 2) ANALOGIA: Parte-se do pressuposto de que não existe uma lei a ser aplicada ao caso concreto, motivo pelo qual é possível socorrer-se de previsão legal empregada a outra situação similar. 2.1) Analogia no Direito Penal - Pressupostos: i) Certeza de que sua aplicação será favorável ao réu (analogia “in bonam partem”). ii) Existência de uma efetiva lacuna a ser preenchida (analogia pressupõe uma omissão involuntária do legislador.) Ex.1: Art.181 CP - legislador não incluiu o companheiro, até porque em 1940 isso nem era comum. Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; Ex.2: Art. 155 CP – Furto Privilegiado § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. Já o roubo não prevê o privilégio. Posso emprestar o privilégio do furto para o roubo? R: Não, porque a intenção do legislador é não beneficiar o roubo. Não foi uma omissão involuntária. Interpretação extensiva lato sensu Interpretação Extensiva (em sentido estrito) Interpretação Analógica Analogia Forma de interpretação Forma de interpretação Forma de integração do Direito. Existe norma para o caso concreto Existe norma para o caso concreto Não existe norma para o caso concreto Amplia-se o alcance da Exemplos seguidos de Cria-se nova norma a palavra encerramentos genéricos partir de outra. Obs: só quando favorável ao réu. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL Podemos estudar Princípio do Direito Penal formando 4 grupos: 1) Princípios relacionados com a missão fundamental do direito penal. 2) Princípios relacionados com o Fato do Agente. 3) Princípios relacionados com o Agente do Fato. 4) Princípios relacionados com a Pena. 1) Princípios relacionados com a missão fundamental do direito penal. A missão fundamental do Direito penal é proteger bens jurídicos: Princípio da exclusiva proteção de bens jurídicos, intervenção mínima, insignificância, adequação social. 1.1) Princípio da Exclusiva Proteção de Bens Jurídicos: Bem Jurídico: é um ente material ou imaterial haurido do contexto social, de titularidade individual ou metaindividual, reputado como essencial para a coexistência e o desenvolvimento do homem em sociedade. Impede o Direito Penal de ser utilizado para proteção de bens ilegítimos ou para outros fins. (caiu MPMG) Explique a espiritualização do bem jurídico. Percebe-se uma expansão da tutela penal para abranger bens jurídicos de caráter coletivo, ensejando a denominada espiritualização (desmaterialização, dinamização ou liquefação) do bem jurídico. Significaque o Direito Penal está cada vez mais se preocupando com questões metaindividuais, imateriais ao invés de se limitar a direitos individuais como a liberdade sexual, direito de propriedade, de um indivíduo etc. Ex. Direito Penal aplicado ao meio ambiente. 1.2) Princípio da Intervenção Mínima: Fatos podem ser humanos ou da natureza. O Direito Penal só se preocupa com os fatos humanos indesejados. fatos Humanos Natureza Desejados Indesejados O Direito penal é norteado pelo Princípio da intervenção Mínima, apresentando-se com as seguintes características. a) Subsidiariedade b) Fragmentariedade O Direito Penal só deve ser aplicado quando estritamente necessário, de modo que a sua intervenção fica condicionada ao fracasso das demais esferas de controle (caráter subsidiário), observando somente os casos de relevante lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado (caráter fragmentário). O Princípio da Insignificância é o desdobramento de qual característica da Intervenção Mínima? R: Fragmentariedade. O Princípio da Insignificância é um Princípio limitador do Direito Penal e causa de atipicidade material. Ele tem sido aceito pela jurisprudência. 1.3) Princípio da Insignificância com os Tribunais Superiores (STF/STJ). Requisitos: (cai muito) 1. Mínima ofensividade da conduta do agente 2. Ausência de Periculosidade Social da Ação 3. Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento do agente 4. Inexpressividade da lesão jurídica causada. Obs. Paulo Queiroz não encontra diferencial entre esses requisitos. São a mesma coisa. Observações: Obs.1: Tanto no STF quanto no STJ, para a aplicação do Princípio, considera- se a capacidade econômica da vítima. (STJ – Resp1.224.795). Obs.2: Tem julgados no STF e no STJ (e é o que prevalece) negando o Princípio da Insignificância para o reincidente, portador de maus antecedentes ou criminoso habitual. (STF – HC107.674; STJ Resp 1.277.340) É possível a aplicação do princípio da insignificância para réus reincidentes ou que respondam a outros inquéritos ou ações penais? Em regra NÃO. No entanto, o STF reconheceu a aplicação do princípio a um réu que praticou um furto de 16 reais, mesmo já tendo sido condenado por lesão corporal anteriormente. Entendeu-se que é possível aplicar o princípio da insignificância mesmo havendo essa condenação, porque a contumácia de infrações penais que não têm o patrimônio como bem jurídico tutelado pela norma penal (a exemplo da lesão corporal) não pode ser valorada como fator impeditivo à aplicação do princípio da insignificância. STF. 2ª Turma. HC 114723/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 26/8/2014 (Info 756). Mesmo já possuindo essa condenação, o STF concluiu que poderia ser aplicado o princípio da insignificância, considerando a chamada “teoria da reiteração não cumulativa de condutas de gêneros distintos”. O que significa isso? É possível aplicar o princípio da insignificância mesmo havendo essa condenação, porque a contumácia de infrações penais que não têm o patrimônio como bem jurídico tutelado pela norma penal (a exemplo da lesão corporal) não pode ser valorada como fator impeditivo à aplicação do princípio da insignificância. Atenção! Temos corrente entendendo que este posicionamento gera direito penal do autor, pois o que caracteriza a tipicidade no caso é a reincidência, ou seja, o que o individuo é. Obs.3: Prevalece no STJ e no STF não ser possível o princípio da insignificância no furto qualificado. Fica faltando o 3º requisito do Princípio da Insignificância, qual seja, reduzido grau de reprovabilidade do comportamento do agente Obs.4: STJ e STF não admitem o Princípio da Insignificância nos crimes contra fé pública, mais precisamente moeda falsa (STF – HC105.829) Obs.5: STF admite o Princípio da Insignificância nos crimes contra a administração pública praticados por funcionários público. O STJ não admite. No entanto, STF e STJ admitem a aplicação do Princípio da Insignificância nos crimes contra a Administração praticado por particulares. Crimes contra a Administração Pública: STF e STJ – admitem insignificância para crime praticado por particular Divergência: insignificância para crimes praticados por funcionários públicos: STJ – não admite STF- admite Obs. 6: Porte de drogas para uso próprio: STJ e STF não admitem (é o que prevalece). Obs.7: Também não admitem em nenhuma forma de tráfico. Obs.8: STJ e STF têm decisões admitindo o Princípio da Insignificância nos Crimes Ambientais (existe importante divergência sobre o assunto). Princípio da Insignificância ou Bagatela Própria Princípio da Insignificância ou Bagatela Imprópria Os fatos já nascem irrelevantes para o Direito Penal. Hipótese de atipicidade material. Ex. Subtração de caneta Bic. Embora relevante para o Direito Penal, a pena demonstra-se desnecessária. Há uma falta de interesse de punir. Ex. Perdão Judicial no homicídio culposo. Obs. O fato é típico, ilícito e culpável. Ele só não vai ser punível. (caiu Defensoria) Diferenciar o Princípio da Insignificância com o Princípio da Adequação Social. Não podemos confundir um com o outro. 1.4) Princípio da Adequação Social: (Welzel) Apesar de uma conduta se ajustar a um tipo penal, não será considerada típica se for socialmente adequada ou reconhecida (é a aceitação da conduta perante a sociedade). Ex. trânsito nas grandes cidades, transporte aéreo, usinas atômicas. É dirigida ao legislador, orientando-o na escolha de condutas a serem proibidas ou impostas, bem como a revogação de tipos penais. Por si só não revoga o tipo penal. Princípio da Insignificância. Princípio da Adequação Social. Ambos limitam o direito penal Relevância da lesão ao bem jurídico Aceitação da conduta pela sociedade 2) Princípios Relacionados com o Fato do Agente: Princípios da Exteriorização (ou materialização) do fato, Legalidade, Ofensividade (ou lesividade). 2.1) Princípio da Exteriorização (ou materialização) do fato. O Estado só pode incriminar condutas humanas voluntárias, isto é, fatos. Atenção! Veda-se Direito Penal do autor consistente na punição do indivíduo baseada em seus pensamentos, desejos e estilo de vida. Art.2º CP Lei penal no tempo Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) O nosso ordenamento penal, de forma legítima, adotou o Direito Penal Do Fato, mas que considera as circunstâncias relacionadas ao autor, especificamente quando da análise da pena. EX. A Lei 11.983/2009 extinguiu a contravenção de mendicância. Entretanto a contravenção de vadiagem ainda é considerada crime. 2.2) Princípio da Legalidade (próxima aula) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art2 2.3) Princípio da Ofensividade (ou lesividade) Exige que do fato praticado ocorra lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. Crime de dano: ocorre efetiva lesão ao bem jurídico tutelado. Crime de perigo: basta risco de lesão ao bem jurídico tutelado. Divide-se em: a) De perigo abstrato: o risco de lesão é absolutamente presumido por lei. b) De perigo concreto: o risco deve ser demonstrado. Temos doutrina entendendo que o crime de perigo abstrato é inconstitucional. Presumir prévia e abstratamente o perigo significa, em última análise, que o perigo não existe. Essa tese, no entanto, não prevalece no STF. No HC104.410, o Supremo decidiu que a criação de crimes de perigo abstrato, não significa, por si só, comportamento inconstitucional, mas pode caracterizar proteção eficiente do Estado. Ex.Jurisprudência entende em embriaguez ao volante é crime deperigo abstrato. Ex. Jurisprudência entende que porte de arma, ainda que desmuniciada, no mesmo sentido é crime de perigo abstrato. Aula 03 3) Princípios relacionados ao agente do fato: Princípio da Responsabilidade Pessoal (pessoalidade ou intranscendência da pena), Responsabilidade Subjetiva, Culpabilidade, Isonomia/Igualdade, Presunção de Inocência (ou não culpa), 3.1) Princípio da Responsabilidade Pessoal (pessoalidade ou intranscendência da pena): Proíbe-se o castigo pelo fato de outrem. Vedada a responsabilidade coletiva. São desdobramentos deste Princípio: a) Obrigatoriedade da individualização da acusação, ficando proibida a denúncia genérica, vaga ou evasiva. Promotor não pode denunciar coletivamente. Atenção! Nos crimes societários os tribunais flexibilizam essa obrigatoriedade. b) Obrigatoriedade da individualização da pena. 3.2) Princípio da Responsabilidade Subjetiva: Não basta que o fato seja materialmente causado pelo agente, ficando a sua responsabilidade condicionada à existência da voluntariedade (leia-se dolo ou culpa). Em síntese está proibida a responsabilidade penal objetiva (contraria o que o Datena defende). Já no direito civil a responsabilidade objetiva é possível. Temos a doutrina anunciando 2 casos de responsabilidade penal objetiva autorizados por lei (exceções ao Princípio da Responsabilidade Subjetiva): (caiu Polícia Civil DF) a) Embriaguez voluntária b) Rixa qualificada Na embriaguez voluntária, De acordo com a teoria da actio libera in causa, o ato transitório revestido de inconsciência (momento do crime, em que o agente se encontra embriagado) decorre de ato antecedente que foi livre na vontade (momento de ingestão da bebida ou substância análoga), transferindo-se para esse momento anterior a constatação da imputabilidade. Diz-se que se trata de hipótese de responsabilidade objetiva porque, no exato momento da conduta, o agente se encontra em estado de inconsciência. A teoria da actio libera in causa” exige não somente uma análise pretérita da imputabilidade, mas também da consciência e vontade do agente. No atropelamento de pedestre por motorista completamente bêbado, não basta descobrir se o motorista era imputável no momento em que ingeria a bebida. É imprescindível pesquisar também se nesse momento tinha consciência e vontade ou se o resultado era previsível. Ateoria da "actio libera in causa" (ação livre na sua causa), desloca o momento de aferição da imputabilidade do momento da ação ou omissão para o momento em que o indivíduo colocou-se em estado de inimputabilidade, isto é, o da ingestão do álcool. Damásio de Jesus leciona: São casos de conduta livremente desejada, mas cometida no instante em que o sujeito se encontra em estado de inimputabilidade (embriaguez, no caso), i.e., no momento da prática do fato o agente não possui capacidade de querer e entender. Houve liberdade originária (no ato de ingerir bebida alcoólica), mas não liberdade atual (no instante do cometimento do fato). O exemplo clássico de aplicação da teoria da actio libera in causa é o da embriaguez preordenada. (autor se embriaga a fim de cometer, posteriormente, uma infração penal). Entretanto, nos casos da embriaguez culposa ou voluntária, há possibilidade de dolo ou culpa apenas em relação à embriaguez em si; o sujeito bebe, embriagando-se por negligência ou imprudência, ou buscando somente a embriaguez propriamente dita; o resultado criminoso não é querido pelo agente. E é nesses casos que o alargamento da aplicação da actio libera in causa é criticado: Será sempre necessário que o elemento subjetivo do agente, que o prende ao resultado, esteja presente na fase de imputabilidade. Não basta, portanto, que o agente se tenha posto, voluntária ou imprudentemente, em estado de inimputabilidade, por embriaguez ou outro qualquer meio, para que o fato típico que ele venha a praticar se constitua em actio libera in causa. É preciso que este resultado tenha sido querido ou previsto pelo agente, como imputável, ou que ele pudesse prevê-lo como conseqüência do seu comportamento. Este último é o limite mínimo da actio libera in causa, fora do qual é o puro fortuito. Resumindo: Nos casos de embriaguez preordenada, ou dolosa (dolo eventual), é perfeitamente cabível a aplicação da teoria da actio libera in causa, pois o objetivo do agente era praticar, ou pelo menos assumiu esse risco, a infração penal. Aqui não há discussão. Porém, nos casos de embriaguem voluntária (em que o resultado futuro é imprevisível) ou culposa, mesmo diante imprevisibilidade do agente, este responde pela infração, de forma objetiva (pois não visualizou o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo). Esta é a crítica. Na rixa qualificada, o p.ú. do art.137 versa que todos os participantes (inclusive a vítima machucada) respondem pelo crime agravado, independentemente de se identificar o verdadeiro autor da lesão grave ou morte. Hoje deve ser interpretado em consonância com o princípio da responsabilidade subjetiva, ou seja, só responde por esse resultado agravador quem atuou frente a ele com dolo ou culpa. Fora disso é admitir a versari in re illicita no Direito penal, o que é vedado (segundo a qual quem realiza um ato ilícito deve responder pelas consequências que dele derivam, incluídas as fortuitas). Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos. 3.3) Princípio da Culpabilidade: Trata-se de um Postulado Limitador ao Direito de Punir: só pode o Estado impor sanção penal ao agente imputável (penalmente capaz) com potencial consciência da ilicitude (possibilidade de conhecer o caráter ilícito do comportamento), quanto dele exigível conduta diversa (podendo agir de outra forma). O Princípio da Culpabilidade basta discorrer sobre os elementos da culpabilidade. 3.4) Princípio da Isonomia/Igualdade: Art.5, caput CF – todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. A nossa isonomia não é formal, mas substancial. Deve-se tratar de forma igual o que é igual e desigualmente o que é desigual. Ex. Lei Maria da Penha. A mulher tem direito a essa proteção diferente. De fato, historicamente, a mulher está mais desamparada que o homem merecendo uma proteção especial. O STF, julgando a ADC nº19 afastou alegações de que o tratamento especialmente protetivo conferido à mulher, pela Lei 11.340/2006 violaria a isonomia. Nesse julgamento foi observado que o Princípio Constitucional é o da Isonomia Substancial. 3.5) Princípio da Presunção de Inocência (ou não culpa): Na Convenção Americana de Direitos Humanos - art.8º.2 fala do Princípio da Presunção de Inocência. Todos devem ser presumidos inocentes. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Art.5, LVII – Princípio da Presunção de não-culpa: LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; Convenção Americana de Direitos Humanos Art.5, LVII CF Princípio da Presunção de Inocência Princípio da presunção de não culpa Como trabalhar esta diferença de redação nos concursos? R. Concurso da Defensoria Pública: não trabalhar com o Princípio da Presunção de Não culpa, só Princípio da Presunção de Inocência. Demais concursos: trabalhar com os Princípios como sinônimos (Presunção de inocência ou não culpa). Desdobramentos do Princípio da Presunção de Inocência: a) Qualquer restrição à liberdade do investigado ou acusado somente se admite após a condenação definitiva. Atenção! A Prisão Provisória é cabível quando imprescindível. Vide art.312 CP: Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal (quando imprescindívelpara), ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). Rogério Greco critica a expressão “conveniência”, sendo melhor colocar “imprescindível”. b) Cumpre à acusação o dever de demonstrar a responsabilidade do réu e não a este comprovar a sua inocência. c) A condenação deve derivar da certeza do julgador (in dubio pro reo) Súmula Vinculante nº11 (do STF) tem base no Princípio de não culpa ou presunção de inocência: Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. 4) Princípios relacionados com a pena: 4.1) Princípio da Dignidade da Pessoa Humana http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 4.2) Princípio da Individualização da Pena 4.3) Princípio da Proporcionalidade 4.4) Princípio da Pessoalidade 4.5) Princípio da Vedação do Bis In Idem PRINCÍPIO DA LEGALIDADE: 1- Introdução: Faz parte dos Princípios relacionados com o fato do agente. Previsto no Art.5º,II CF II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; Esta garantia foi reforçada no art. 5º, XXXIX e repete o art.1º do CP XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; Anterioridade da Lei Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Trata-se de uma real limitação do Poder Estatal de interferir na esfera de liberdades individuais. Daí a sua inclusão na Constituição Federal e T.I.D.H (tratados Internacionais de Direitos Humanos). a) Convênio para a Proteção dos Direitos Humanos e Liberdade Fundamentais (Roma 1.950) b) Convenção Americana de Direitos Humanos. (1969) c) Estatuto de Roma (1998). O termo é Legalidade ou Reserva Legal? R. É Legalidade, pois: Legalidade = Reserva Legal + Princípio da Anterioridade 2- Princípio da Legalidade - Fundamentos: 1º) Político: Vincular o Executivo e o Judiciário às leis formuladas de forma abstrata (busca impedir o poder punitivo arbitrário). 2º) Democrático: representa o respeito ao Princípio da divisão de Poderes (de funções). Compete ao Parlamento a missão de elaborar Leis. 3º) Jurídico: lei prévia e clara produz importante efeito intimidativo. Serão analisados no intensivo II – Teoria Geral da Pena Não há crime sem lei. Exige Lei Anterior http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art1 Não há CRIME ou PENA sem lei anterior. Na verdade deveria ler: Não há INFRAÇÃO PENAL ou SANÇÃO PENAL sem lei anterior. O art.3º do CPM (Código Penal Militar), tratando das medidas de segurança, espécie de sanção penal , obedece à reserva legal, mas ignora a anterioridade da lei, sendo, nesse tanto, inconstitucional. Princípio da Legalidade - Desdobramentos: 1. Não há crime ou pena sem LEI. 2. Não há crime ou pena sem LEI ANTERIOR: Princípio da Anterioridade 3. Não há crime ou pena sem LEI ESCRITA: 4. Não há crime ou pena sem LEI CERTA: Princípio da Taxatividade ou da Determinação. 5. Não há crime ou pena sem LEI NECESSÁRIA: 1. Não há crime ou pena sem LEI. Medida Provisória pode criar crime? (isso não cai tanto) R: Não sendo lei, mas ato do executivo com força normativa, medida provisória não cria crime e não comina pena. É possível Medida Provisória versando sobre Direito Penal não incriminador? Pode extinguir punibilidade? (isso cai muito) R: Lembrando: Art.62,I,”b” CF, proíbe Medida Provisória versando sobre Direito Penal. (Matéria Incluída pela EC32/2001). § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) I - relativa a: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) b) direito penal, processual penal e processual civil; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) Mesmo com essa redação muito clara a doutrina diverge: 1ª corrente) com o advento da EC32/01, ficou claro que Medida Provisória não pode versar sobre direito penal (incriminador ou não incriminador). Essa corrente prevalece entre os constitucionalistas. 2ª corrente) a EC32/01 reforça a proibição da medida provisória versar dobre direito penal incriminador (não proibindo matéria de Direito Penal não incriminador). Sendo assim MP pode prever extinção de punibilidade. (LFG, STF) Abrange contravenção penal Abrange Medidas de Segurança http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc32.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc32.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc32.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc32.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc32.htm#art1 Visão do STF: Antes EC 32/01 Depois EC 32/01 Antes da EC32/01, o STF admitiu MP versando sobre Direito Penal não incriminador. Era a MP1571/97. Ela extinguia a punibilidade no ressarcimento nos crimes previdenciários e tributários. O STF admitiu a MP não incriminadora (nº417/08) que impedia a tipificação de determinados comportamentos relacionados com a posse de arma (afastou o crime de posse de arma). Adotou a 2ª corrente. Resoluções de quaisquer espécies podem criar crimes e cominar penas (ex. resoluções TSE, CNJ, CNMP)? R. Não sendo leis (em sentido estrito) não podem criar crimes e cominar penas. As menções à condutas criminosas indicadas nas resoluções do TSE são meras consolidações de tipos penais previamente tipificados por lei. Ex. TSE resolução nº 20360 prevê crimes e comina penas. 2. Não há crime ou pena sem LEI ANTERIOR: Princípio da Anterioridade Proíbe-se a retroatividade maléfica da lei penal. A retroatividade benéfica é garantia constitucional (vamos estudar isso depois). 3. Não há crime ou pena sem LEI ESCRITA: Proíbe-se o costume incriminador (criar crime e pena). Costume pode revogar infração penal? R. O adultério foi revogado por lei de acordo com o Princípio da Intervenção Mínima. Isso é discutido na contravenção penal do jogo do bicho/pirataria em várias correntes: 1ªc) Admite-se o costume abolicionista ou revogador da lei nos casos em que a infração penal não mais contraria o interesse social, deixando de repercutir negativamente na sociedade. Conclusão: Para esta corrente, jogo do bicho não mais deve ser punido, pois a contravenção foi formal e materialmente revogada pelo costume. 2ªc) não é possível o costume abolicionista. Entretanto, quando o fato já não é mais indesejado pelo meio social, a lei não deve ser aplicada pelo magistrado. Conclusão: jogo do bicho, apesar de formalmente contravenção, não serve para punir o autor da conduta, pois materialmente abolida. 3ªc) somente a lei pode revogar outra lei. Não existe costume abolicionista. Conclusão: jogo do bicho permanece infração penal, servindo a lei para punir os contraventores enquanto não revogada por outra lei. Atenção! STF e STJ adotaram a 3ª corrente e decidiram que o crime de violação de direitos autorais (art.184 §2º CP) / pirataria permanece vigente formal e materialmente (mas isso não é pacífico). Vide Súmula 502 STJ. Qual então a finalidade do costume no ordenamento jurídico-penal? R. Apesar de não possuir condão de criar crime ou revogar infrações penais, o costume é importantíssimo vetor de interpretação (costume secundum legem) O costume interpretativo exerce importante missãono direito penal: É “Secundum Legem” - atua dentro dos limites do tipo penal. Ex.1: mulher honesta era considerada aquela que agia com o mínimo de decência. Ex.2: Art.155 CP. O que é repouso noturno? Vai depender da localidade. Em uma cidade pequena do interior vai ser diferente de uma metrópole. § 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno. 4. Não há crime ou pena sem LEI ESTRITA: Proíbe-se a utilização da analogia para criar tipo incriminador. É diferente da analogia in bonam partem, pois esta é possível. Ex.1: Art. 155 §3º CP § 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico. A 2ª turma do STF, no julgamento do HC 97261 declarou a atipicidade da conduta do agente que subtrai sinal de TV a cabo, asseverando ser impossível a analogia incriminadora com o crime de furto de energia elétrica. Para o STF equiparar a “associação para o tráfico” a crime hediondo seria analogia in malam partem, portanto é vedada. 5. Não há crime ou pena sem LEI CERTA: Princípio da Taxatividade ou da Determinação. Exige-se dos tipos penais a clareza. Crítica ao art.288-A CP: O que significa organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão? A doutrina entende que ele viola o Princípio da taxatividade ou determinação. Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste Código: (Incluído dada pela Lei nº 12.720, de 2012) 6. Não há crime ou pena sem LEI NECESSÁRIA: É o desdobramento lógico do Princípio da Intervenção Mínima. Foi neste contexto que se revogou o adultério, a sedução. É mais apropriado outros ramos do Direito tratarem sobre isso. (Caiu no MP da Bahia) O Princípio da Legalidade é o Vetor Basilar do Garantismo. R.Princípio da Legalidade (observar os desdobramentos - CANELE) torna o Poder Punitivo do Estado mínimo na medida em que amplia/maximiza as garantias do cidadão. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12720.htm#art4 3- Legalidade Formal X Legalidade Material Legalidade Formal Legalidade Material Obediência ao Devido Processo Legislativo Conteúdo do tipo deve respeitar direitos e garantias do cidadão. Lei é VIGENTE Lei é VÁLIDA Nem sempre uma lei vigente é válida. Ex. Lei 8.072/90 (art.2º §1º) previa regime integral fechado. O STF entendeu que este dispositivo é vigente, pois obedeceu o Devido Processo Legislativo, mas não é valido porque o regime desrespeita direitos e garantias fundamentais. Aula 04 LEI PENAL: PRINCÍPIO DA LEGALIDADE, TIPO ABERTO E NORMA PENAL EM BRANCO: O Princípio da Legalidade exige edição de lei certa, precisa e determinada. 1. Classificação da Lei penal: a. Completa É aquela que dispensa complemento valorativo (dado pelo juiz) ou normativo (dado por outra norma). Ex. art.121 CP – “matar alguém” não precisa de um complemento. b. Lei Penal Incompleta (cai muito) É a norma que depende de complemento valorativo (dado pelo juiz) ou normativo (dado por outra norma). A norma depende de complemento: Valorativo: Tipo Aberto – dado pelo juiz. Normativo: Norma Penal em Branco – dado por outra norma Tipo Aberto: espécie de lei penal incompleta que depende de complemento valorativo (dado pelo juiz na análise do caso concreto). Ex. Crimes culposos: são descritos em tipos aberto, uma vez que o legislador não enuncia as formas de negligência, imprudência ou imperícia, ficando a critério do magistrado na análise do caso concreto. Homicídio culposo § 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) Pena - detenção, de um a três anos. Atenção! Para não ofender o Princípio da Legalidade a redação típica deve trazer o mínimo de determinação. Ex. Receptação culposa § 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) Excepcionalmente, o legislador descreveu a negligência em sentido amplo (negligência, imprudência ou imperícia), subtraindo do juiz, de forma legítima, a sua valoração no caso concreto. Norma Penal em Branco: espécie de lei penal incompleta que depende de complemento normativo (dado por outra norma). A norma penal em branco é dividida em várias espécies: a) Norma Penal em Branco Própria (em sentido estrito ou heterogênea) O complemento normativo não emana do legislador, mas sim de fonte normativa diversa. (≠ de lei) Ex. Portaria Ex. Portaria 344/98 do Ministério da saúde – define o que é drogas. Complementa a Lei 11.343/06. b) Norma Penal em Branco Imprópria (em sentido amplo ou homogênea): http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1950-1969/L4611.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9426.htm#art180 O complemento normativo emana do legislador (lei penal complementada por outra lei). A norma Penal em Branco se for complementada por uma lei penal ela será hom/ovitelina/homóloga. Se for complementada por uma lei extrapenal/civil ela será heterovitelina/heteróloga. Homovitelina/homóloga Heterovitelina/heteróloga Complem Lei Penal Lei Penal Complem Lei penal Lei Extrapenal Ex. Peculato (art.312CP) art.327 CP Define Funcionário Público Ex. Casar com impedimentos. Art.237 CP – Código Civil (define impedimentos do casamento) Obs. Assim, é possível haver uma norma penal em branco homogênea (imprópria) heteróloga. Perguntas de concurso: O que vem a ser norma penal em branco ao revés (ou invertida)? Norma Penal em Branco Norma Penal em Branco revés Lei Penal: a) Preceito Primário: conteúdo criminoso é incompleto. Ex. b) Preceito Secundário: sanção Penal é completa. Ex.eu sei a pena do peculato, mas não sei quem é funcionário público. Lei Penal: a) Preceito Primário: completo (determinado). b) Preceito Secundário: É incompleto. Ex. Lei 2889/56 – genocídio (faz referências às penas no CP). Ex. Lei 2889/56 Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal: Citado por 79 a) matar membros do grupo; b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo; c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial; d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo; Será punido: Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a; Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b; Com as penas do art. 270, no caso da letra c; Com as penas do art. 125, no caso da letra d; Com as penas do art. 148, no caso da letra e; NPB ao revés: o complemento refere-se à sanção, ao preceito secundário, não ao conteúdo proibitivo (preceito primário). Cuidado: o complemento deve ser necessariamente fornecido por lei. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/anotada/2645647/art-1-lei-do-genocidio-lei-2889-56 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/anotada/2645647/art-1-lei-do-genocidio-lei-2889-56 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 A norma penal em branco ao revés é sempre homogênea. 2. Princípio da Legalidade X NPB Heterogênea: Princípio da Legalidade X NPB Heterogênea complem Lei penal ≠ de lei A NPB heterogênea é constitucional? 1c) a NPB heterogênea é inconstitucional, pois impossibilitaa discussão amadurecida da sociedade a respeito do complemento. Fere o art.22, I da CF/88. (Rogério Greco- examinador MPMG; Paulo Queiroz). 2c) a NPB heterogênea é constitucional. O legislador criou um tipo com todos os seus requisitos básicos. A remissão ao executivo é absolutamente excepcional e necessária por razões de técnica legislativa. O executivo só esclarece UM requisito do tipo. (majoritária: STF, Luiz Regis Prado e Nucci) EFICÁCIA DA LEI PENAL NO TEMPO: Arts.2º,3º e 4º CP Lei excepcional ou temporária (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) Como em decorrência do Princípio da Legalidade, aplica-se em regra, a lei penal vigente ao tempo da realização do fato criminoso (tempus regit actum). Excepcionalmente, no entanto, será permitida a retroatividade da lei penal para alcançar os fatos passados, desde que benéfica ao réu. É possível a lei penal movimentar-se no tempo: Extra-atividade da Lei Penal. Ultra-atividade: a lei anterior continua vigente para os fatos praticados na sua vigência, evitando a lei posterior maléfica Retroatividade: a lei posterior alcança os fatos pretéritos, pois mais benéficas que a lei anterior. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art3 Tempo do Crime Quando no tempo um crime se considera praticado? São 03 teorias: 1) Atividade: (Adotada no CP, art.4º). Considera-se praticado no momento da ação ou omissão. 2) Resultado: considera-se praticado no momento do resultado. 3) Mista (Ubiqüidade): considera-se no momento da conduta ou do resultado. Tempo do crime Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) Pelo Princípio da Coincidência (da congruência ou da simultaneidade), todos os elementos do crime (fato típico, ilicitude e culpabilidade) devem estar presentes no momento da conduta. Ex. Momento da conduta Momento do resultado O agente era menor de 18 anos Aplica-se o ECA. O agente completou 18 anos Aplica-se CP. Sucessão de Leis no Tempo O momento do crime também é o marco inicial para saber a lei que, em regra, vai reger o caso concreto. A regra geral é a irretroatividade da lei penal, excetuada somente quando lei posterior for mais benéfica. Tempo da Conduta Lei Posterior (IR) Retroatividade 1 Fato atípico Fato típico Irretroatividade Art.1 CP 2 Fato era típico Ultratividade Aumenta a pena Irretroatividade Art.1 CP 3 Fato típico Supressão da figura criminosa Retroatividade Art.2º,caput,CP http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art4 4 Fato típico Diminui a pena Retroatividade Art.2º,§ú,CP 5 Fato típico Migra o conteúdo criminoso para outro tipo penal Princípio da continuidade normativo-típica I. Sucessão de Lei Incriminadora (“novatio legis” incriminadora) Ex. Lei 12.550/2011 Antes Depois Cola eletrônica era Fato atípico Cola Eletrônica pode caracterizar o art.311-A CP Fenômeno da Neocriminalização. Esta Lei é irretroativa Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de: (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) I - concurso público; (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) II - avaliação ou exame públicos; (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) III - processo seletivo para ingresso no ensino superior; ou (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) IV - exame ou processo seletivo previstos em lei: (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei 12.550. de 2011) II. “Novatio Legis in pejus” (“lex gravior”) Lei nova que de qualquer modo prejudica o réu. Ex. Lei 12234/2010 Antes Depois O prazo prescricional para crimes com pena inferior a 01 ano era de 02 anos. O prazo prescricional para crimes com pena inferior a 01 ano passou a ser de 03 anos. Norma irretroativa Sucessão de lei mais grave no crime continuado e no crime permanente Súmula 711 STF A LEI PENAL MAIS GRAVE APLICA-SE AO CRIME CONTINUADO OU AO CRIME PERMANENTE, SE A SUA VIGÊNCIA É ANTERIOR À CESSAÇÃO DA CONTINUIDADE OU DA PERMANÊNCIA. III. “Abolitio Criminis” Supressão da figura criminosa. É a revogação de um tipo penal pela superveniência de lei descriminalizadora. Art.2º, caput, CP. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12550.htm#art19 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12550.htm#art19 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12550.htm#art19 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12550.htm#art19 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12550.htm#art19 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12550.htm#art19 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12550.htm#art19 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12550.htm#art19 Lei penal no tempo Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Atenção! Abolitio criminis é desdobramento lógico do Princípio da Intervenção Mínima (diz onde o Direito penal deve deixar de intervir). Ex. Lei 11.106/05 Antes Depois Adultério era crime Art.240 CP Adultério não é mais crime Retroativa. Correntes acerca da natureza do Abolitio Criminis: 1c) causa extintiva da tipicidade (Flávio Monteiro de Barros) 2c) causa extintiva da punibilidade (art.107,III,CP) Aparentemente esta é a corrente adotada no CP Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; Conseqüências do Abolitio Criminis: a) Faz cessar a execução penal. Lei abolicionista não respeita coisa julgada. E o art.5, XXXVI, CRFB/88? Art.5 XXXVI CF - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; R. Este dispositivo é garantia do individuo contra o Estado e não do Estado contra o indivíduo (não pode ser barreira para o Estado me punir). b) Faz cessar os efeitos penais da condenação Os efeitos extrapenais são mantidos. Art.91 e 92 CP Efeitos genéricos e específicos Art. 91 - São efeitos da condenação: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito; b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso. § 1 o Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012) § 2 o Na hipótese do § 1 o , as medidas assecuratórias previstas na legislação processual poderão abranger bens ou valores equivalentes do investigado ou acusado para posterior decretação de perda. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012) Art. 92 - São tambémefeitos da condenação:(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - a perda de cargo, função publica ou mandato eletivo, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Publica quando a pena aplicada for superior a quatro anos; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art107 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art91 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art91 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art91 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art91 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12694.htm#art4 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12694.htm#art4 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12694.htm#art4 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art92 I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública; (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos. (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) A reincidência é um efeito penal que desaparece. IV. “Novatio Legis in Mellius” (Lex Mitior) Lei que de qualquer modo favorece o réu. Art.2º p.ú, CP. Art.2º Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Esta Lei retroage alcançando fatos decididos por sentença condenatória definitiva, ou seja, também não obedece coisa julgada. Ex. Lei 12.015 de 2009 Antes Depois Art.229CP punia a manutenção de casa de prostituição. Art. 229 - Manter, por conta própria ou de terceiro, casa de prostituição ou lugar destinado a encontros para fim libidinoso, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente: (as pessoas sendo exploradas ou voluntariamente). Art.229 CP. Pune manutenção de casa de exploração sexual. Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) (só quando há exploração/obrigação) Depois do trânsito em julgado qual é o juiz competente para aplicar a lei mais benéfica? R. Depende da fase do concurso que tiver. Se estiver na fase objetiva aplica a Súmula 611 STF Súmula 611 STF TRANSITADA EM JULGADO A SENTENÇA CONDENATÓRIA, COMPETE AO JUÍZO DAS EXECUÇÕES A APLICAÇÃO DE LEI MAIS BENIGNA. Se estiver na fase escrita: a doutrina é divergente 1ºc) o juiz da execução (Súmula 611 STF) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9268.htm#art92i http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9268.htm#art92i http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9268.htm#art92i http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9268.htm#art92i http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art92 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art92 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art92 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art92 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12015.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12015.htm#art2 2ªc) depende do caso concreto. Se de aplicação meramente matemática, é o juiz da execução; se implica juízo de valor, deve ser ajuizada revisão criminal. Espécie De aplicação meramente matemática Implica juízo de valor Juízo competente Juiz da Execução Revisão Criminal Exemplo Cria-se diminuição de pena para o roubo quando o bem subtraído não suplanta um salário mínimo. Cria-se diminuição de pena para o roubo quando houver pequeno prejuízo para a vítima. Tem que analisar a capacidade financeira da vítima (valorativo). É possível a aplicação mais benéfica durante o seu período de vacatio legis? 1ªc) o tempo de vacatio tem como finalidade principal dar conhecimento da lei promulgada. Não faz sentido, portanto, que aqueles que já se interaram do teor da lei nova fiquem impedidos de lhe prestar obediência, quanto a seus preceitos mais brandos (Alberto Silva Franco; Rogério Greco defende que essa corrente que prevalece). 2ªc) no período de vacatio a lei penal possui eficácia jurídica ou social (Damásio, Frederico Marques, Nucci; para Rogério Sanches é a que prevalece). Como proceder em caso de dúvida sobre qual é a lei mais benéfica? R. Nelson Hungria sugere que a defesa seja consultada. Para beneficiar o réu admite-se a combinação de leis penais? Ex. Momento da conduta Momento da Sentença Lei A Pena: 2 a 4 anos (+) Multa: 100 dias-multa (-) Lei B Pena: 1 a 3 anos (-) Multa: 50 dias multa (+) 1ªc) o juiz, ao conjugar critérios de uma ou outra lei, se arvora a condição de legislador, criando uma terceira lei (lex tertia) (Nelson Hungria, decisões STF) 2ªc) se o juiz pode aplicar o todo de uma lei ou de outra para favorecer o sujeito, pode escolher parte de uma e de outra para o mesmo fim (maioria da doutrina. Nucci, LFG, Damásio, decisões do STF). STF: a favor – RE596152 Contra – HC103833 STJ: a favor – HC111.306 Contra – HC 179.915 V. Princípio da Continuidade Normativo-Típica Atenção! Não se confunde com a abolitio criminis. Abolitio Criminis Princípio da Continuidade Normativa Típica Supressão da figura criminosa Supressão formal do tipo A conduta não será + punida (o fato deixa de ser punível. O fato permanece punível. A conduta criminosa migra para outro tipo penal. A intenção do legislador é não mais considerar o fato criminoso. A intenção do legislador é manter o caráter criminoso do fato. Ex. lei 12015/2009 Antes Depois Punia: Art.213 – estupro Art.214 – atentado violento ao pudor O conteúdo do atentado violento ao pudor migrou para o art.213 (estupro) O estupro (art. 213 do CP), com redação dada pela Lei n. 12.015/2009, é tipo penal misto alternativo. Logo, se o agente, no mesmo contexto fático, pratica conjunção carnal e outro ato libidinoso contra uma só vítima, pratica um só crime do art. 213 do CP. A Lei n. 12.015/2009, ao revogar o art. 214 do CP, não promoveu a descriminalização do atentado violento ao puder (não houve abolitio criminis). Ocorreu, no caso, a continuidade normativo-típica, considerando que a nova Lei inseriu a mesma conduta no art. 213. Houve, então, apenas uma mudança no local onde o delito era previsto, mantendo-se, contudo, a previsão de que essa conduta se trata de crime. É possível aplicar retroativamente a Lei n. 12.015/2009 para o agente que praticou estupro e atentado violento ao pudor, no mesmo contexto fático e contra a mesma vítima, e que havia aasido condenado pelos dois crimes(arts. 213 e 214) em concurso. Segundo entende o STJ, como a Lei n. 12.015/2009 unificou os crimes de estupro e atentado violento ao pudor em um mesmo tipo penal, deve ser reconhecida a existência de crime único na conduta do agente, caso as condutas tenham sido praticadas contra a mesma vítima e no mesmo contexto fático, devendo-se aplicar essa orientação aos delitos cometidos antes da vigência da Lei n. 12.015/2009, em face do princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1262650/RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 05/08/2014. STJ. 6ª Turma. HC 212.305/DF, Rel. Min. Marilza Maynard (Des. Conv. TJ/SE), julgado em 24/04/2014 (Info 543). NÃO, não houve abolitio criminis, mas sim continuidade normativo-típica, considerando que a Ocorreu, então, apenas uma mudança no local onde o delito era previsto, mantendo-se, contudo, a previsão de que essa conduta se trata de crime. O princípio da continuidade normativa ocorre “quando uma norma penal é revogada, mas a mesma conduta continua sendo crime no tipo penal revogador, ou seja, a infração penal continua tipificada em outro dispositivo, ainda que topologicamente ou normativamente diverso do originário.” (Min. Gilson Dipp, em voto proferido no HC 204.416/SP). 213: 1ª corrente: NÃO (trata-se de CRIME ÚNICO) 2ª corrente: SIM (CONCURSO MATERIAL) A nova redação do art. 213 prevê que é crime constranger alguém a praticar conjunção carnal OU outro ato libidinoso. O art. 213 previu alternativas: o agente pode praticar o crime mediante conjunção carnal ou outros atos libidinosos. Se praticar os dois contra a mesma vítima, no mesmo contexto, é o mesmo crime. Para essa posição, não seria possível reconhecer crime único porque há a prática de condutas diferentes, com modos de execução distintos. O objetivo do legislador ao revogar o art. 214 do CP não foi o de enfraquecer a proteção da dignidade sexual. Se a intenção fosse tornar crime único, o art. 213 teria previsto apenas a conduta como sendo constranger alguém a praticar ato libidinoso. No entanto, o legislador manteve expressas as duas condutas (conjunção carnal ou outros atos libidinosos). Logo, se o agente, no mesmo contexto fático, pratica conjunção carnal e outro ato libidinoso contra uma só vítima, pratica um só crime do art. 213 do CP (crime único). Logo, para essa corrente, se o agente, no mesmo contexto fático, pratica conjunção carnal e outro ato libidinoso independente contra uma só vítima, tais condutas configurariam dois crimes de estupro (art. 213) em concurso material. Em suma, para essa 1ª corrente, o art. 213 do CP é classificado como TIPO MISTO ALTERNATIVO. Em suma, para a 2ª corrente, o art. 213 do CP é TIPO MISTO CUMULATIVO. Aula 05 Lei Temporária/Lei Excepcional Lei temporária- (temporária em sentido estrito) – é aquela instituída por uma prazo determinado. Tem prefixado no seu texto o lapso temporal. Ex. Lei “X” com vigência até 01/01/14; Lei excepcional (temporária em sentido amplo) – Editam em função de algum evento transitório (guerra, calamidade, epidemia). Perdura enquanto persistir o estado de emergência – Ex: Lei “X” com vigência até o fim da guerra. Lei excepcional ou temporária (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) 1. Características: a) Autorevogabilidade: são leis autorevogáveis. São também chamadas de Leis Intermitentes. Consideram-se revogadas assim que encerrado o prazo fixado (lei temporária) ou cessada a situação de anormalidade (lei excepcional). b) Ultratividade: são leis ultra-ativas (alcança os fatos praticados durante a sua vigência ainda que revogadas). Atenção! Trata-se de hipótese excepcional de ultra-atividade maléfica. Ex. Lei 12.663/12 – Lei da Copa. Essa Lei traz uma parte penal em que a FIFA pediu para que fossem tipificadas determinadas condutas praticados durante a copa. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art3 DISPOSIÇÕES PENAIS Utilização indevida de Símbolos Oficiais Art. 30. Reproduzir, imitar, falsificar ou modificar indevidamente quaisquer Símbolos Oficiais de titularidade da FIFA: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano ou multa. Art. 31. Importar, exportar, vender, distribuir, oferecer ou expor à venda, ocultar ou manter em estoque Símbolos Oficiais ou produtos resultantes da reprodução, imitação, falsificação ou modificação não autorizadas de Símbolos Oficiais para fins comerciais ou de publicidade: Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses ou multa. Marketing de Emboscada por Associação Art. 32. Divulgar marcas, produtos ou serviços, com o fim de alcançar vantagem econômica ou publicitária, por meio de associação direta ou indireta com os Eventos ou Símbolos Oficiais, sem autorização da FIFA ou de pessoa por ela indicada, induzindo terceiros a acreditar que tais marcas, produtos ou serviços são aprovados, autorizados ou endossados pela FIFA: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano ou multa. Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem, sem autorização da FIFA ou de pessoa por ela indicada, vincular o uso de Ingressos, convites ou qualquer espécie de autorização de acesso aos Eventos a ações de publicidade ou atividade comerciais, com o intuito de obter vantagem econômica. Marketing de Emboscada por Intrusão Art. 33. Expor marcas, negócios, estabelecimentos, produtos, serviços ou praticar atividade promocional, não autorizados pela FIFA ou por pessoa por ela indicada, atraindo de qualquer forma a atenção pública nos locais da ocorrência dos Eventos, com o fim de obter vantagem econômica ou publicitária: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano ou multa. Art. 34. Nos crimes previstos neste Capítulo, somente se procede mediante representação da FIFA. Art. 35. Na fixação da pena de multa prevista neste Capítulo e nos arts. 41-B a 41-G da Lei n o 10.671, de 15 de maio de 2003, quando os delitos forem relacionados às Competições, o limite a que se refere o § 1 o do art. 49 do Decreto-Lei n o 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), pode ser acrescido ou reduzido em até 10 (dez) vezes, de acordo com as condições financeiras do autor da infração e da vantagem indevidamente auferida. Art. 36. Os tipos penais previstos neste Capítulo terão vigência até o dia 31 de dezembro de 2014. A doutrina observa que, por serem de curta duração, se não tivessem a característica da ultra-atividade perderiam a sua força intimidativa. Estas leis não se sujeitam aos efeitos da abolitio criminis, salvo se houver lei expressa com esse fim. 2. Constitucionalidade da Lei (Art.3º CP): 1ªc) O art.3º é de duvidosa constitucionalidade, posto que exceção à irretroatividade legal que consagra a Constituição Federal, não admite exceções, possui caráter absoluto. A extra-atividade deve ser sempre em benefício do réu (Zaffaroni, Rogério Greco). 2ªc) (Majoritária) O art.3º não viola o Princípio da irretroatividade da lei prejudicial. Não existe sucessão de leis penais. Não existe tipo versando sobre o mesmo fato sucedendo lei anterior. Não existe lei para retroagir. Item 8º da Exposição de motivos do Código Penal. 8. A precedência dada à reforma da Parte Geral do Código, à semelhança do que se tem feito em outros países, antecipa a adoção de nova política criminal e possibilita a implementação das reformas do sistema sem suscitar questões de ordem prática. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.671.htm#art41b http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.671.htm#art41b http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art49%C2%A71
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