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1 CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS PROCESSO SELETIVO PARA PROFESSORES E PEDAGOGOS – PMM/AP/2018 PROFA. MARGARETH CHERMONT 1. As influências das teorias filosóficas e psicológicas na educação brasileira; I. TENDÊNCIA PEDAGÓGICA LIBERAL A pedagogia liberal, ao contrário do que o nome sugere, é uma manifestação do capitalismo e da sociedade de classes. Esta corrente pedagógica defende que as escolas devem preparar os indivíduos para exercerem um papel social, de acordo com aptidões individuais. Não leva em conta as diferenças sociais e culturais dos alunos e não mantém nenhuma relação com o cotidiano do aluno fora da escola. 1. TENDÊNCIA PEDAGÓGICA TRADICIONAL De acordo com esta tendência, a atuação da escola deve consistir na preparação intelectual, cultural e moral dos alunos para que eles assumam sua posição na sociedade. Se baseia na relação hierárquica do professor em relação aos alunos. SANTO AGOSTINHO (354-430) Santo Agostinho nasceu no norte da África e estudou na Itália. Foi muito influenciado pelas ideias de Platão. Agostinho procurou combinar sua fé cristã com a razão. Acreditava que compreender é uma recompensa pela fé, e que a alma humana mantinha latentes algumas verdades últimas e eternas. Agostinho era muito interessado na natureza do tempo. Achava que o tempo começou quando Deus criou o mundo — o que suscita a questão da existência de Deus antes do tempo. A resposta de Agostinho foi que Deus reside em um eterno presente, fora do tempo terrestre. Isso o levou à teoria de que ―agora‖ é tudo o que realmente existe. O passado é uma memória presente, e o futuro é uma expectativa do presente. Essa opinião lhe permitiu enfatizar que é mais importante o que as pessoas estão fazendo para Deus e não o que farão. MARTINHO LUTERO 1 Movido pela indignação e pela discordância com os costumes da Igreja de seu tempo, o monge alemão Martinho Lutero (1483-1546) foi o responsável pela reforma protestante, que originou uma das três grandes vertentes do cristianismo (ao lado do catolicismo e da Igreja Ortodoxa). O nascimento do protestantismo teve profundas implicações sociais, econômicas e políticas. Na educação, o pensamento de Lutero produziu uma reforma global do sistema de ensino alemão, que inaugurou a escola moderna. Seus reflexos se estenderam pelo Ocidente e chegam aos dias de hoje. A ideia da escola pública e para todos, organizada em três grandes ciclos (fundamental, médio e superior) e voltada para o saber útil nasce do projeto educacional de Lutero. "A distinção clara entre a esfera espiritual e as coisas do mundo propiciou um avanço para o conhecimento e o exercício funcional das coisas práticas", diz o pastor Walter Altmann, presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. 1 https://novaescola.org.br/conteudo/1407/martinho-lutero-o-autor-do-conceito-de-educacao-util 2 Instrução para fortalecer a cidade Imagem de Camponeses alemães durante a revolta do século XVI: luta por ascensão social e instrução. O luteranismo resultou no projeto de criação de um sistema de escolas públicas, depois copiado em quase toda a Alemanha. A reforma da instrução era uma das principais reivindicações das camadas mais pobres da população, insatisfeitas com as más condições de vida e com o ensino escasso e ineficaz oferecido pela Igreja. Esses foram alguns dos motivos da revolta armada dos camponeses, sangrentamente reprimida em 1525. Lutero via na educação um assunto do interesse dos governantes. "A maior força de uma cidade é ter muitos cidadãos instruídos", escreveu Lutero. Para isso, foi criado um sistema que atendia à finalidade de preparar para o trabalho e à possibilidade de prosseguir os estudos para elevação cultural. O currículo era baseado nas ciências humanas, com ênfase na história. Uma nova classe A segunda grande inquietação de Lutero tinha origem doutrinária e o atormentou durante seus anos de formação. Ele não aceitava o princípio, então dominante no cristianismo, de que a justiça divina se manifestava, no plano terreno, como um julgamento dos atos dos homens. Para Lutero, isso produzia medo e tornava praticamente impossível o sentimento espontâneo de amor a Deus. A indignação de Lutero só se dissipou quando, ao interpretar os Evangelhos, concluiu que os homens vivem por uma graça de Deus e que a justiça divina é revelada pela leitura das escrituras, de modo passivo e independentemente dos méritos ou ações de cada um durante a vida. Foi o que se tornou conhecido como doutrina da salvação pela fé. A reivindicação de liberdade para interpretar a Bíblia tornou-se não só um dos pilares da reforma protestante como o princípio fundador do projeto educacional de Lutero, que valorizou a alfabetização e o ensino de línguas - e, mais importante, pregou o acesso de todos a esse conhecimento. Os renovadores religiosos defendiam a formação de uma nova classe de homens cultos, dando origem ao conceito de utilidade social da educação. Para pensar A criação de uma rede de ensino público foi planejada pelos reformadores luteranos a pedido de governantes que perceberam a urgência de oferecer instrução ao povo. O interesse dos príncipes era fortalecer seus domínios num tempo de constantes hostilidades entre os Estados. "Lutero argumentou que o dinheiro investido em educação seria menor que o gasto com armas e traria mais benefícios", diz o pastor Altmann. JAN AMÓS COMÊNIO Quando se fala de uma escola em que as crianças são respeitadas como seres humanos dotados de inteligência, aptidões, sentimentos e limites, logo pensamos em concepções modernas de ensino. Também acreditamos que o direito de todas as pessoas - absolutamente todas - à educação é um princípio que só surgiu há algumas dezenas de anos. De fato, essas ideias se consagraram apenas no século XX, e assim mesmo não em todos os lugares do mundo. Mas elas já eram defendidas em pleno século XVII por Comênio (1592-1670), o pensador tcheco que é considerado o primeiro grande nome da moderna história da educação. 3 A obra mais importante de Comênio, Didactica Magna, marca o início da sistematização da Pedagogia e da Didática no Ocidente. A obra, à qual o autor se dedicou ao longo de sua vida, tinha grande ambição. "Comênio chama sua didática de ‗magna‘ porque ele não queria uma obra restrita, localizada", diz João Luiz Gasparin, professor do Departamento de Teoria e Prática da Educação da Universidade Estadual de Maringá. "Ela tinha de ser grande, como o mundo que estava sendo descoberto naquele momento, com a expansão do comércio e das navegações." No livro, o pensador realiza uma racionalização de todas as ações educativas, indo da teoria didática até as questões do cotidiano da sala de aula. A prática escolar, para ele, deveria imitar os processos da natureza. Nas relações entre professor e aluno, seriam consideradas as possibilidades e os interesses da criança. O professor passaria a ser visto como um profissional, não um missionário, e seria bem remunerado por isso. E a organização do tempo e do currículo levaria em conta os limites do corpo e a necessidade, tanto dos alunos quanto dos professores, de ter outras atividades. Comênio não foi o único pensador de seu tempo a combater o pedantismo literário 2 e o sadismo pedagógico3, mas ousou ser o principal teórico de um modelo de escola que deveria ensinar "tudo a todos", aí incluídos os portadores de deficiência mental e as meninas, na época alijados da educação. "Ele defendia o acesso irrestrito à escrita, à leitura e ao cálculo, para que todos pudessem ler a Bíblia e comerciar", diz Gasparin. Comênio respondia assim a duas urgências de seu tempo: o aparecimento da burguesia mercantilnas cidades europeias e o direito, reivindicado pelos protestantes, à livre interpretação dos textos religiosos, proibida pela Igreja Católica. A obra de Comênio corresponde também a outras novidades, entre elas "o despertar de uma nova concepção de criança", como diz Gasparin. "Ele a trata em seus livros com muita delicadeza, num tempo em que a escola existia sob a égide da palmatória", continua o professor. "A educação era vista e praticada como um castigo e não oferecia elementos para que depois as pessoas se situassem de forma mais ampla na sociedade. Comênio reagiu a esse quadro com uma pergunta: por que não se aprende brincando?" Comênio acreditava que, por ser dotado de razão, o homem pode entender a si e a todas as coisas. Portanto, deve se dedicar a aprender e a ensinar. Seguindo esse pensamento, Comênio conclui que o mais importante na vida não é a contemplação e sim a ação, o "fazer". No pensamento humanista do pedagogo tcheco, a instrução e o trabalho diferenciavam o homem burguês do homem feudal. Em busca da harmonia universal Comênio viveu a maior parte da vida cercado de guerras. Algumas delas, como a Guerra dos 30 Anos, envolvendo protestantes e católicos, lhe diziam respeito diretamente. Toda sua obra foi marcada profundamente por isso, uma vez que o fim último de seu pensamento era a compreensão universal, que uniria toda a humanidade. Ele perseguiu desde a juventude a unificação da totalidade do conhecimento humano, porque imaginava que ele era finito e imutável. A construção de uma enciclopédia do saber e sua adaptação às capacidades infantis é o grande tema da pedagogia de Comênio, e para sustentá-la ele criou uma base filosófica que denominou "pansofia", a 2 A pedantaria (ou o pedantismo) tende a ser associada à erudição. Os pedantes gostam de fazer citações literárias ou grandes teorias para demonstrar que são pessoas cultas e com conhecimentos. É hábito que esses indivíduos tenham menos conhecimentos daqueles que aparentam ou dizem ter; contudo, a sua atitude e a sua postura fazem com que pareça um verdadeiro sábio e em posição de ensinar os outros. 3 O sadismo pedagógico, termo cunhado pelo historiador Mario Alighiero Manacorda, expressa a violência estabelecida na relação entre professores e alunos desde os primórdios da história da pedagogia, acompanhando o processo educativo até os dias atuais. Existem muitas formas de expressão do alunado quanto a esta tensa relação, sendo que, atualmente, elas podem ser observadas, por exemplo, nas comunidades virtuais do sítio de relacionamentos Orkut. 4 procura de um princípio básico que harmonizasse todo o saber. Ao contrário de seu pensamento educacional, que suscitou interesse pela Europa afora, a pansofia não teve seguidores. A maior contribuição de Comênio para a educação dos dias de hoje é, segundo o professor Gasparin, a ideia de "trazer a realidade social para a sala de aula, fazendo uso dos meios tecnológicos mais avançados à disposição". De tão fascinado pela invenção da imprensa e pela possibilidade de disseminação de conhecimento que ela representava, Comênio criou a expressão "didacografia" para designar o método universal de ensino que ele pretendia inaugurar. Nos dias de hoje, a tecnologia da informação seria capaz de realizar essa revolução? Qual é sua opinião? Comênio (1592-1670), o pensador tcheco é considerado o primeiro grande nome da moderna história da educação. OS JESUÍTAS 4 Os jesuítas eram padres que pertenciam à Companhia de Jesus, uma ordem religiosa vinculada à Igreja Católica que tinha como objetivo a pregação do evangelho pelo mundo. Essa ordem religiosa foi criada em 1534 pelo padre Inácio de Loyola e foi oficialmente reconhecida pela Igreja a partir do papa Paulo III em 1540. A proposta dos padres jesuítas para a divulgação do cristianismo era baseada no ensino da catequese. Eles atuaram em diversas partes do mundo e destacaram-se no Brasil colonial. Na Europa, os jesuítas surgiram como parte do movimento de contrarreforma e, portanto, tinham como importante missão impedir o crescimento do protestantismo. Jesuítas no Brasil Os primeiros jesuítas que vieram ao Brasil chegaram com o primeiro governador-geral da colônia, Tomé de Sousa, em 1549. Eles eram liderados por Manuel da Nóbrega e tinham como principal missão a cristianização dos nativos e zelar pela Igreja instalada no Brasil colonial. Os jesuítas construíram locais chamados missões, onde combinavam a catequese dos nativos com a sua utilização como mão de obra para a produção de tudo o que a missão precisasse. Para que exercessem seu trabalho na colônia, inicialmente, foi necessário criar uma comunicação com os nativos, uma vez que esses falavam tupi e os jesuítas falavam português. Assim, o padre José de Anchieta desenvolveu um manual que auxiliava na comunicação dos jesuítas com os nativos. Nesse período da história brasileira, o idioma mais comum existente aqui era a Língua Geral, que mesclava elementos do português com idiomas nativos. Além disso, os jesuítas tiveram um importante papel educacional no Brasil, pois, além da catequese aos nativos, eles educavam os filhos dos colonos. Para que isso fosse possível, esses padres criaram colégios em diversas partes do Brasil, como aconteceu na cidade de Salvador e em São Paulo de Piratininga (atual cidade de São Paulo). A respeito dos colégios dos jesuítas, o historiador Ronaldo Vainfas afirma: Os colégios inacianos espalharam-se por todos os continentes, atravessando os sete mares. Formavam professores, intelectuais e missionários. Dominavam o ensino em várias universidades, como a de Coimbra, consolidando a neoescolástica, com ênfase no estudo filosófico e teológico. Outra função importante dos jesuítas foi na pacificação dos povos indígenas, pois, por meio de suas missões, conseguiram ter grande contato com esses povos. Assim, os jesuítas realizavam a catequese dos povos nativos, além de realizarem uma tentativa de aculturação ao tentar assimilar o nativo a um modo de vida europeu. 4 https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-eram-os-jesuitas.htm 5 Os jesuítas também enfrentaram inúmeros conflitos com os colonos que escravizavam indígenas durante os séculos XVI e XVII. A ação dos jesuítas em proteger os nativos da escravização levou a Coroa a determinar leis que permitiam a escravização dos indígenas somente em casos de ―guerra justa‖, ou seja, quando os nativos atacavam algum português. Sobre isso, o historiador Ronaldo Vainfas afirma: Obstáculo maior enfrentado pela Companhia foi a avidez dos colonos em escravizar os nativos. Os jesuítas resistiram em toda parte, sobretudo no século XVII, arrancando da Coroa leis proibitivas do cativeiro indígena. Os colonos, por sua vez, sempre pressionaram pelo direito de apresar os índios em ―guerra justa‖, isto é, em suposta represália a índios hostis. Com o passar do tempo, os atritos dos jesuítas não se restringiram aos colonos, pois logo entraram em conflito com a Coroa após a Guerra Guaranítica, onde jesuítas e indígenas guaranis confrontaram tropas portuguesas pelo controle da missão Sete Povos das Missões, no atual Rio Grande do Sul. Além disso, o grande poder econômico, social, educacional desses religiosos despertou a cobiça da Coroa portuguesa e, assim, em 1759, os jesuítas foram expulsos de Portugal e de todas as suas colônias. JOHANN FRIEDRICH HERBART (1776-1841) Na sequência, encontramos Johann Friedrich Herbart, pedagogo alemão que também exerceu grande influência na didática e na prática docente. Hebart (apud Haydt, 2006) atribuía grande importância à educação, considerando-a como fator determinante no desenvolvimentodo intelecto e do caráter. Destacou a educação como responsável pela formação das representações e pela forma como essas representações são combinadas nos mais elaborados processos mentais. Para Herbart (apud LIBÂNEO, 1994), a atividade educativa deve orientar o homem para querer bem, possibilitando que aprenda a comandar a si próprio. O método de ensino do professor tem a função de introduzir ideias corretas na mente dos alunos e de provocar-lhes a acumulação de ideias. Tentou formular um método único de ensino, com base nos parâmetros das leis psicológicas do conhecimento. Assim, determinou quatro passos didáticos que deveriam ser rigorosamente seguidos pelo professor: A preparação e a apresentação da matéria de forma clara e completa, às quais denominou clareza. A associação entre as ideias antigas e as novas. A sistematização dos conhecimentos, tendo em vista a generalização. A aplicação do uso dos conhecimentos adquiridos por meio de exercícios, denominado de método. Podemos dizer que o sistema pedagógico de Herbart auxiliou na organização da prática docente, trazendo alguns esclarecimentos importantes, tais como: a necessidade de estruturação e ordenação do processo de ensino, a exigência de entendimento dos assuntos estudados e não apenas a memorização. Mesmo assim, o ensino não deixava de ser entendido como repasse de ideias do professor para a cabeça do aluno, que deveria entender o que o professor transmitia, mas apenas com a finalidade de reproduzir a matéria transmitida. Com isso, a aprendizagem torna-se mecânica, automática, desprovida de mobilização da atividade mental, ou seja, da reflexão e do pensamento independente e criativo dos alunos (LIBÂNEO, 1994). As ideias pedagógicas dos pensadores Comênio, Rousseau, Pestalozzi e Herbart, bem como de outros pensadores que não mencionamos, formam as bases do pensamento pedagógico europeu, disseminando-se posteriormente por todo o mundo e definindo as concepções pedagógicas, que na atualidade são conhecidas como Pedagogia Tradicional e Pedagogia Renovada. 2. TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA PROGRESSIVISTA Nesta linha pedagógica, a finalidade da escola é retratar a vida do aluno e adequá-lo ao meio social, tendo como base a ideia de “aprender fazendo”. Ao contrário da tendência anterior, o professor não possui lugar privilegiado, e auxilia o desenvolvimento livre e espontâneo da criança. 6 JOHN DEWEY (1859-1952) Após Hebart, entre o século XIX e a primeira metade do século XX, traze- mos John Dewey (1859-1952), que se opôs à concepção defendida por Hebart – a educação para a instrução –, defendendo a educação pela ação. Para ele, ―o homem é um ser eminentemente social. Assim sendo, são as necessidades sociais que norteiam sua concepção de vida e educação‖ (HAYDT, 2006, p. 21-22). O conceito central de seus pressupostos é a experiência, a qual, para ele, é o que impulsiona e dirige o conhecimento. Então, a escola não é a preparação para a vida, é a própria vida. Por isso, deve direcionar o ensino para o crescimento da criança, possibilitando o significado do que é aprendido, bem como o desenvolvimento de habilidades para suprir as necessidades atuais da vida individual e social do aluno. O professor deverá criar situações estimuladoras para instigar, nos alunos, reações e respostas que garantam a formação de atitudes intelectuais e sentimentais adequadas. Para isso, o ensino deve ser desenvolvido pelo professor, a partir de centros de interesses diretos e práticas com significação para a vida do aluno (DEWEY apud DAMIS, 2007). Nessa perspectiva, é um grande defensor dos métodos de ensino ativos. ATENÇÃO Métodos de ensino ativos são aqueles que permitem a participação efetiva dos alunos no processo ensino- aprendizagem, propiciando-lhes a construção de novos significados. A pedagogia de Dewey trouxe aspectos inovadores, diferenciando-se especialmente pela oposição à escola tradicional. Difundiu, em sua proposta, a necessidade de a escola criar condições e meios para estimular o pensamento e a reflexão dos alunos, suscitando críticas sobre a função específica da escola na educação formal do aluno para a vida social, mas não questiona a sociedade e seus valores como estão propostos no seu tempo; sua teoria representa plenamente os ideais liberais, sem se contrapor aos valores burgueses, acabando por reforçar a adaptação do aluno à sociedade. É possível observar que a evolução dos pensamentos sobre a Didática se fundamenta em pressupostos teóricos, bem como em ideias pedagógicas que caminharam em direção à necessidade de se reverem os processos de ensino e de aprendizagem. Tais pressupostos teóricos muito contribuíram para a organização do espaço escolar, bem como para a reforma dos métodos de ensino e de sua aplicação, ao longo do desenvolvimento do ensino formal. Também merece destaque o fato de que as ideias pedagógicas expostas pelos teóricos aqui citados são fundamentadas por concepções diferentes, porém é possível visualizar um aspecto comum mencionado por todos esses teóricos: a tentativa de ampliar o ensino a uma parcela significativa da população, pois acreditavam na educação popular. Verificamos, ainda, que os estudos sobre Didática foram se fundamentando em novos pressupostos, os quais deixaram de considerar apenas aspectos filosóficos, passando a incorporar fundamentos da Psicologia, ciência que começou a vigorar no final do século XIX, contribuindo, assim, com novos pensamentos pedagógicos, os quais influenciaram o surgimento de tendências pedagógicas sobre o processo de ensino e aprendizagem. 7 As principais influências sobre Dewey foram William James e o naturalista Charles Darwin — que publicou sua teoria da evolução no ano em que Dewey nasceu. O trabalho de Darwin fez Dewey ver a consciência como parte da natureza, em vez de uma faculdade à parte. Dewey via a mente como uma ferramenta para resolver problemas, que se adapta continuamente ao meio ambiente da mesma forma que os seres desenvolvem diferentes características. Dewey acreditava que à medida que os organismos se tornam mais complexos, o mesmo acontece com sua capacidade de lidar com o meio. Em primeiro lugar há o comportamento instintivo. Depois, os hábitos se desenvolvem. Quando estes deixam de lidar propriamente com as situações, o organismo desenvolve a habilidade de raciocinar, ou pensar no que fazer. Dewey sustentou que todos os pensamentos são apenas ideias para a ação. Dessa forma um organismo adquire conhecimento sobre o mundo. MARIA MONTESSORI Idealizadora do Método, Maria Montessori (1870 - 1952) nasceu em 31 de agosto de 1870 na cidade de Chieravale, na Itália. Primeira mulher a se formar em Medicina em seu país, logo se interessou pelos mecanismos de desenvolvimento do aprendizado infantil. Também se interessou pelos estudos de Ittard sobre o Menino Selvagem (Selvagem de Aveyron) assim como pelos trabalhos de Édouard Séguin sobre a educação dos anormais. Convidada a acompanhar uma turma de crianças com deficiências mentais, utilizou-se do material de Séguin e obteve ótimos resultados. Ao testar a eficácia deste material em crianças normais ela estabeleceu o ponto de partida para a criação de seu próprio método. Em uma época em que a educação era marcada por rigidez e até mesmo castigos físicos, Montessori mudou os rumos da educação tradicional ao incentivar o desenvolvimento do potencial criativo desde a primeira infância, elaborando e aperfeiçoando técnicas de aprendizagem que procuravam inter-relacionar e harmonizar atividade, liberdade e individualidade. Em 1907 criou a primeira ―Casa dei Bambini‖ (Casa das crianças) e nos anos 1940 seu método se difundiu pelo mundo. Os princípios do Método Maria Montessori de educação são aplicáveis a todos, mesmo em casa e não havendoà disposição os materiais didáticos que fazem parte do método escolar. De acordo com ela, o centro da aprendizagem é a própria criança que, com sua curiosidade natural, explora e dá ainda mais vazão à sua necessidade de aprender, se tiver à sua disposição um ambiente adequado, variado e estimulante. As crianças devem ser livres para escolherem os materiais, os brinquedos e as ferramentas que preferirem usar em cada etapa de seu crescimento, pois, cada experiência é uma oportunidade de aprendizagem. Aqui estão algumas reflexões sobre o Método Montessori para inspirar pais, educadores e professores. 1. Ambiente e ordem Maria Montessori acreditava que as crianças aprendem melhor em um ambiente arrumado. O conselho é criar seções diferentes em uma prateleira para armazenar livros, quebra-cabeças, jogos, bonecas, carrinhos, etc, tudo separadamente. É aconselhável escolher recipientes como cestas e caixas que devem ser colocadas a uma altura facilmente alcançável pelas crianças. Também é importante ensinar a criança a arrumar cada brinquedo em seu lugar depois de tê-lo usado. Os pais devem apenas deixar à disposição os brinquedos adequados para cada idade e deixar que a criança seja livre para escolher o que quiser, mas manter a ordem e brincar com uma coisa de cada vez é muito importante. 2. Movimento e Aprendizagem De acordo com Maria Montessori, as crianças precisam se concentrar em algumas atividades que exigem o uso e o movimento das mãos. Pense na cena clássica em que uma criança aprende a empilhar cubos um em cima dos 8 outros. Nesta atividade, que parece um jogo, a criança não está apenas se divertindo, mas está aprendendo a importância da concentração e da coordenação. 3. Livre escolha Maria Montessori acreditava que a liberdade de escolha foi o mais importante processo mental do ser humano. As crianças aprendem muito mais e absorvem mais informações quando elas são deixadas livres para fazerem suas próprias escolhas. A liberdade de escolha não significa liberdade para fazer o que quiser, sem regras. Trata-se de uma liberdade que leva a criança à capacidade de escolher a coisa certa a fazer. E para a criança a coisa certa é decidir o que fazer para atender as suas próprias necessidades e dar um novo passo no seu processo de crescimento. 4. Estimular o interesse A criança aprende melhor se viver em um ambiente estimulante e cheio de objetos interessantes que atraiam a sua atenção. Mas isso não significa comprar a loja inteira de brinquedos. Crianças amam os nossos objetos do dia a dia como peneiras, panelas, colheres de pau. Fique atento a não dar objetos muito pequenos que possam ser perigosos para os ―menorzinhos‖. Se puder, ofereça vários livros diferentes, materiais para fazer novos pequenos objetos artesanais (como por exemplo o rolo do papel higiênico, potinhos de iogurte etc.), deixe ferramentas para desenhar e colorir à disposição da criança e tudo o que possa estimular a sua criatividade. Até mesmo uma música clássica ou relaxante pode ser útil durante o jogo e a aprendizagem. 5. Recompensas Maria Montessori não gostava de sistemas de ensino baseados em prêmios e punições porque ela acreditava que a melhor recompensa para a criança é ter conseguido aprender a fazer sozinha uma coisa nova, graças a sua curiosidade e a sua força de vontade. De acordo com o Método Montessori, o verdadeiro prêmio é ser capaz de atingir a meta: completar um quebra- cabeça, regar a planta sem deixar a água cair. Nisso, um alerta: deixe a criança errar e acertar sozinha. O problema atual dos pais é não conseguir manter a ansiedade e querer ajudar a criança a completar sua tarefa. Deixa a criança fazer sozinha, ela é muito mais capaz do que você supõe. 6. Atividades práticas A aprendizagem das crianças de acordo com o Método Montessori, se dá especialmente através de atividades práticas durante os anos pré-escolares. As atividades práticas ajudam o seu filho a estimular os sentidos do tato, visão e audição, essenciais para aprender a ordem, a concentração e a independência. Deixe teus filhos ajudarem a limpar a casa, a cozinharem, cuidar da horta, até mesmo a costurar, pregar um botão com uma agulha não pontiaguda. 7. Grupos com crianças de diferentes idades Na escola montessoriana as crianças estão distribuídas em diferentes classes com base na idade, mas Maria Montessori acreditava muito na formação de grupos mistos com crianças de diferentes idades porque sentia que isso era um estímulo para a aprendizagem. Por exemplo, as crianças mais jovens ficam intrigadas com o que as mais velhas fazem e pedem ajuda a estas. Por sua vez a criança mais velha fica feliz em ensinar o que ela faz e já aprendeu. Este conselho é muito importante para os pais que têm crianças de diferentes idades. As atividades que podem ser feitas dentro de um grupo misto podem incluir: desenho, jardinagem, esportes, brincadeiras de rua etc. Um dos princípios subjacentes ao método Montessori é deixar as crianças interagirem com as próprias crianças de diferentes idades, para que elas aprendam umas com as outras. 9 8. Importância do contexto É importante, de acordo com o Método Montessori, que os temas e os conceitos a serem aprendidos sejam colocados no contexto certo. Desta forma, as crianças vão entender e lembrar melhor deles. Exemplos concretos são mais fáceis de entender do que conceitos abstratos. Este princípio prega além do mais que é essencial que as crianças aprendam fazendo em vez de (tentarem) aprender simplesmente escutando a lição. 9. O papel do professor Para Maria Montessori o papel do professor é o de gerir e facilitar as atividades dos alunos. Não é uma pessoa que dá uma palestra falando sobre os tópicos que ensina, é um auxiliar no processo de aprendizagem que a criança pode alcançar sozinha. 10. Independência e autodisciplina O Método Montessori encoraja as crianças a desenvolverem a independência e autodisciplina. Com o tempo, as crianças vão aprender a reconhecer quais são as suas paixões e suas inclinações e te farão entender o estilo de aprendizagem que elas preferem. Algumas crianças gostam de leitura, enquanto outras são mais propensas a atividades práticas. Maria Montessori buscou unir, de uma forma equilibrada, todos os aspectos da aprendizagem, de modos que os princípios básicos do seu método, possam ser aplicados por todos. No entanto, na Itália, país de origem de Maria Montessori, para ser um professor montessoriano, é necessário passar por uma formação montessoriana, mas isso não impede que muitos docentes misturem ou usem o método nos aspectos em que acreditam. Muitos destes aspectos também podem aplicados em casa. O Método Montessori é genial e vai além da aprendizagem escolar, pois, viver é aprender, certo? TEORIA DE OVIDE DECROLY 5 Ovide Decroly nasceu na Bélgica em 1871 e faleceu em 1932. Era médico, mas muito ligado à educação. Consagrou seus estudos ás crianças que necessitavam de atenções educativas especiais, ou seja, crianças retardadas e anormais. O teórico propôs uma educação voltada para os interesses destas crianças, que pudesse satisfazer suas curiosidades naturais, que fossem estimuladas a pensar, colocando-as em contato com a realidade física e social. Achava que estas necessidades geram interesse, e este interesse vai a busca do conhecimento. Este método era mais dedicado às crianças do ensino fundamental. Baseado nesta teoria, Decroly propôs em 1907 um método globalizado de Centro de Interesse. Este método deve lidar com o conhecimento, a partir dos interesses das crianças em suas várias faixas etárias, de forma globalizante, possibilitando que as crianças tenham uma visão geral do objeto de conhecimento para depois chegar às particularidades e abstrações. Deve lidar também com a organizaçãodos conhecimentos selecionados nas matérias escolares, como ainda propor atividades que vão do empirismo ao abstrato. A escola deve se assemelhar a uma oficina ou laboratório onde a prática estava presente. Os alunos ativamente observavam, analisavam, manipulavam, experimentavam, confeccionavam e colecionavam materiais mais do que recebiam informações sobre eles. O teórico acreditava que a sala de aula deveria estar em toda à parte, na cozinha, no jardim, no campo, no pátio, na praça, etc. Seria uma escola com portas abertas, tipo uma oficina, onde existisse liberdade, iniciativa, responsabilidade pessoal e social, onde os alunos aprendessem e gostassem de aprender. Ele quis transformar a maneira de aprender e ensinar, e que esta transformação tivesse como principio a psicologia infantil. 5 http://questoesconcursopedagogia.com.br/mais1200questoes/ 10 O método globalizado de Centro de Interesse de Decroly foi baseado em cinco princípios psicopedagógicos: 1) Princípio da Liberdade: a criança tem o máximo de autonomia para realizar seus gostos e necessidades, assim como a busca da motivação para o conhecimento. 2) Princípio da Individualidade: a criança realiza atividades pessoais diferenciadas, mas, sem perder o seu referencial, o contato com a comunidade. 3) Princípio da Atividade: ―trabalha a tendência dominante na criança da inquietude e do movimento‖. 4) Princípio da Intuição: implica na observação e exploração das coisas, empregando os sentidos. 5) Princípio da Globalização: a criança pode apresentar dificuldades de perceber partes separadas e depois reconstruir. O principio da globalização permite o desenvolvimento da inteligência através desse modo. É importante ressaltar que as bases teóricas do método de Decroly, ainda estão muito presentes na educação de hoje, embora se encontre na escola alguns professores que apresentam dificuldades em trabalhar na sala de aula com uma visão mais globalizadora, e multidisciplinar. O que acontece muitas vezes é o professor trabalhando o conhecimento de maneira fragmentada, e o que é pior, seguindo os livros didáticos. Destaques na Teoria de Decroly: * A criança deve ser educada não para o futuro, para a vida adulta, e sim para o presente; * O método de Centro de Interesse atendia as necessidades e interesses dos alunos; * Defendia que a sala de aula está em toda parte; * Sua vida foi dedicada ao trabalho com crianças retardadas e anormais; * Acreditava na liberdade, iniciativa e responsabilidade; TEORIA DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DE JEAN PIAGET Por Hélio Teixeira Seria difícil superestimar a importância do psicólogo suíço Jean Piaget (1896 – 1980) para a pesquisa do desenvolvimento. A teoria do desenvolvimento cognitivo geralmente considerada como a mais compreensiva é a dele. Embora certos aspectos da teoria de Piaget tenham sido questionados e, em alguns casos, refutados, sua influência é imensa. Na verdade, a contribuição de sua teoria, como a de outros, é mostrada mais pela sua influência em teorias e em pesquisas posteriores do que por sua exatidão máxima. Jean Piaget aprendeu muito sobre como as crianças pensam, observando várias delas e prestando muita atenção ao que parecia ser erro no raciocínio das mesmas. Piaget ingressou, pela primeira vez, no campo do desenvolvimento cognitivo quando, enquanto trabalhava como estudante já graduado no laboratório psicométrico de Alfred Binet, ficou intrigado com as respostas erradas das crianças aos itens do teste de inteligência. Para entender a inteligência, raciocinava Piaget, a investigação deve ser dupla: (1) observar o desempenho de uma pessoa e (2) considerar também por que esta pessoa assim desempenhava, incluindo os tipos de pensamento subjacentes às ações da mesma. O raciocínio de Piaget seguia o de seu mentor Binet na primeira cláusula, mas não na segunda. Particularmente, Piaget raciocinava que os pesquisadores podiam aprender tanto sobre o desenvolvimento intelectual das crianças, a partir do exame de suas respostas incorretas aos itens dos testes, quanto sobre o exame de suas respostas corretas. 11 Pelas suas reiteradas observações de crianças, inclusive de seus próprios filhos, e especialmente mediante investigação de seus erros de raciocínio, ele concluiu que sistemas lógicos coerentes fundamentam o pensamento das crianças. Tais sistemas, acreditava ele, diferem em espécie dos sistemas lógicos que os adultos usam. Se vamos entender o desenvolvimento, devemos identificar esses sistemas e suas características diferenciais. Nas seções a seguir, primeiro consideramos alguns dos princípios gerais de Piaget sobre o desenvolvimento e, depois, observamos os estágios de desenvolvimento que ele propôs. Princípios gerais da Teoria do Desenvolvimento de Piaget Piaget acreditava que a função da inteligência é auxiliar a adaptação ao ambiente. Em sua concepção, os meios de adaptação formam um continuum que varia de meios relativamente inteligentes, tais como hábitos e reflexos, a meios, relativamente inteligentes, tais como os que exigem insight, representação mental complexa e a manipulação mental de símbolos. De acordo com seu foco na adaptação, acreditava que o desenvolvimento cognitivo acompanhava-se de respostas cada vez mais complexas ao ambiente. A seguir, Piaget propôs que, com a crescente aprendizagem e maturação, tanto a inteligência quanto suas manifestações tornam- se diferenciadas – mais altamente especializadas em vários domínios. 3. TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA NÃO DIRETIVA Esta prática baseia-se mais nos aspectos psicológicos do que nos pedagógicos ou sociais. Esta forma de ensino leva em conta a busca dos estudantes ao conhecimento, com a mediação do professor. CARL ROGERS As ideias do norte-americano Carl Rogers (1902-1987) para a educação são uma extensão da teoria que desenvolveu como psicólogo. Nos dois campos sua contribuição foi muito original, opondo-se às concepções e práticas dominantes nos consultórios e nas escolas. A terapia rogeriana se define como não-diretiva centrada no cliente (palavra que Rogers preferia ao invés de paciente), porque cabe a ele a responsabilidade pela condução e pelo sucesso do tratamento. Para Rogers, o terapeuta apenas facilita o processo. Em seu ideal de ensino, o papel do professor se assemelha ao do terapeuta e o do aluno ao do cliente. Isso quer dizer que a tarefa do professor é facilitar o aprendizado, que o aluno conduz a seu modo. A psicologia de Carl Rogers6 é uma teoria que aborda o homem como pessoa. A tendência comum em nossa época, tanto nas atividades em geral como nas várias correntes das ciências humanas, é reificar7, objetificar8 o homem. Seja nos vários aspectos da cultura de massa e industrializada da nossa sociedade, seja nas explicações causais dos fenômenos humanos, seja, ainda, mais especificamente, nas teorias psicológicas mais diversas - como a psicanálise, que descreve o homem a partir de impulsos inconscientes, ou o behaviorismo, que aborda o homem em seu caráter animal, a partir do esquema "estímulo-resposta" -, impera a tentativa de tomar o homem de um ponto de vista externo a ele mesmo. Carecemos, portanto, de um discurso que tematize o homem a partir de si mesmo. A abordagem rogeriana do homem como pessoa pretende realizar essa função. Mas em que consiste essa abordagem? Trata-se, antes de mais nada, de assumir a liberdade humana - a possibilidade de tomar decisões e ser responsável por elas. Rogers não nega a existência de toda a sorte de forças exteriores que constringem o homem, mas vê que, em todas as situações nas quais ele se encontra, sempre há, por menor que seja, um âmbito de decisão. Na decisão, é dada a oportunidade ao homem, desdesi mesmo, a partir de uma força interior 6 http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/0046a.html 7 Encarar (algo abstrato) como uma coisa material ou concreta; coisificar. 8 Atribuir ao ser humano a natureza de um objeto, tratando-o como objeto, como coisa; coisificar. 12 inerente a cada um de nós, de tornar-se, para além dessa liberdade de decidir, o que se é. Desse modo, é tomada como pressuposto fundamental a liberdade de escolher, enraizada nessa força interior que nos permite tomar decisões para crescermos e termos uma vida realizada. Por outro lado, à proporção que nos realizamos, tornamo-nos mais aptos a escolher e tomar decisões livres de coerções exteriores. Assim, a psicoterapia elaborada por Carl Rogers seguirá a tendência de olhar o homem como pessoa e, por isso, centrará seus esforços no cliente. Assim, tal tipo de terapia dependerá menos da aquisição de conhecimentos do terapeuta e mais da relação do terapeuta com o cliente e, sobretudo, do cliente consigo mesmo. Por isso, é de fundamental importância uma posição de Rogers. Ele não vê o ser humano como um ser autodestrutivo, selvagem, ou dono de pura energia sexual (libido), características que, só graças a coerções externas - da moralidade, do controle por estímulos e respostas -, poderiam ser controladas e, assim, trazer o homem à civilidade. Rogers também discorda da opinião, importada da biologia, de muitos psicólogos, que afirmam que o homem, como muitos outros seres vivos, tenderia a stasis, isto é, a um estado de equilíbrio, de satisfação de suas necessidades básicas a todo custo. Ao contrário, o que define o homem, tanto em termos gerais como individualmente, é, muito mais, o enriquecimento de suas experiências, buscando cada vez mais se complexificar, de modo a satisfazer a sua necessidade fundamental de autorrealização. Essa necessidade é a sua motivação principal, e é isso que o terapeuta fará que seja revelado para o cliente. Por meio das várias experiências, o homem vai se transformando em pessoa e adquirindo estímulos. Por isso, a cognição não é entendida atomisticamente, mas como um todo. Em outras palavras, o sujeito conhece a realidade por intermédio de seu estímulo, da sua resposta, do seu sentimento diante da coisa. Em última análise, o conhecimento em geral se articulará em torno do eu, que ganha esse caráter de totalidade uma vez que visa a uma autorrealização. Por isso, Rogers afirma também que toda percepção é dotada de significado. Por mais que seja uma percepção singular, ela se articula na percepção total do eu que a pessoa tem de si mesma. Rogers reformula a distinção freudiana entre consciente e inconsciente em termos de percepção. A percepção que o homem tem da realidade apresenta gradações segundo um continuum. Há coisas que estão no foco da nossa atenção, e notamos a figura delas. Há coisas que estão em segundo plano, no fundo da coisa principal. E há, ainda, aquelas que estão o mais longe possível da nossa atenção por acharmos que a percepção delas desestabilizaria nossa vida. É de extrema importância, portanto, a percepção que temos de nós mesmos, a percepção do nosso eu. Diferentemente de uma mera psicologia introspectiva, a referência fundamental ao eu é a referência a todas as percepções: percepções de seu organismo, de suas experiências, do modo como suas percepções se interrelacionam e se relacionam com objetos e com o seu mundo exterior. Assim, todas as experiências por que anseia o homem para sua autorrealização têm como centro o eu. Toda motivação de autorrealização é motivação para que o eu se realize. Contudo, nesse afã de autorrealização, a imagem que a pessoa tem do seu eu é distinta do eu real. A pessoa tem um eu ideal que não é o mesmo que o eu real. As discrepâncias podem assumir as mais variadas formas, mas, em geral, para tomar um exemplo da psicanálise, podemos pensar na pessoa que, em sua autoimagem, não seja possuidora de desejos sexuais de alguns tipos, mas, na realidade, os tenha. O eu ligado à autoimagem é chamado de ego ideal, ao passo que o ego real é aquele que a pessoa realmente é e o experiencia. Quando há uma concordância entre ego ideal e ego real, há um estado de congruência, mas, quando há uma discrepância entre ego ideal e ego real, há um estado de incongruência. A discrepância entre ego ideal e ego real pode gerar os mais diversos comportamentos nocivos à própria pessoa. Para dar cabo dela, é preciso que se mostre o verdadeiro e real ego àquele que é dono de um ego ideal. Só assim 13 pode a pessoa lidar com seus erros ou problemas, ou, se for caso, suas meras circunstâncias de modo a resolvê-las e dar um passo em direção a sua autorrealização. Não esclarecemos até aqui o conceito de autorrealização. Dissemos, por ora, que o homem tende à autorrealização e que o faz acrescentando sempre novas vivências e experiências. É preciso acrescentar também que a autorrealização não é nenhum estado - não há um momento autorrealizado, mas apenas um processo, uma dinâmica de autorrealização. Esse processo é também um processo de tornar-se livre, isto é, à medida que a pessoa usufrui de sua liberdade de escolha no sentido de decidir por uma vida plena, mais plenamente também ela pode tomar rumo de sua vida, de modo a escolher as novas decisões que aparecerão de modo ainda mais livre. De modo geral, no desenrolar desse desenvolvimento, há a concretização de uma universalidade por trás de cada decisão tomada, isto é, as escolhas deixam de se fragmentar e passam a concorrer para um mesmo fim de uma vida plena. 4. TENDÊNCIA LIBERAL TECNICISTA Esta tendência de ensino busca modelar o comportamento do aluno através de técnicas específicas, com o objetivo de produzir indivíduos para o mercado de trabalho, através de informações precisas, informativas e rápidas, através principalmente da pesquisa cientifica e tecnologia educacional. B.F.SKINNER Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) é o psicólogo norte-americano mais destacado do século XX e, talvez, o mais importante do mundo desde – ou ao lado de – Freud. Seu primeiro livro, The behavior of organisms (O comportamento dos organismos, 1938), constituiu-se no marco de uma nova afluência de comportamentalismo. Durante os cinquenta anos que se seguiram à publicação, suas teorias foram desenvolvidas, elaboradas, submetidas a críticas e reelaboradas. Para sua visão atenta e sua compreensão analítica, nenhum problema era demasiado amplo ou excessivamente limitado. A descoberta de uma vocação Nas graduações e pós-graduações de Educação, são comuns a existência de disciplinas que abordam as Teorias de Aprendizagem segundo Skinner. A palavra chave da teoria de Skinner é O comportamento. Para ele, a aprendizagem concentra-se na capacidade de estimular ou reprimir comportamentos, desejáveis ou indesejáveis. Na sala de aula, a repetição mecânica deve ser incentivada, pois esta leva à memorização e assim ao aprendizado. O ensino é obtido quando o que precisa ser ensinado pode ser colocado sob condições de controle e sob comportamentos observáveis. Os comportamentos são obtidos punindo o comportamento não desejado e reforçado ou incentivado o comportamento desejado com um estímulo, repetido até que ele se torne automático. Dessa forma, segundo Skinner, a aprendizagem concentra-se na aquisição de novos comportamentos. A aprendizagem ocorre através de estímulos e reforços, de modo que se torna mecanizada. De acordo com a teoria de Skinner, os alunos recebem passivamente o conhecimento do professor. Em sua visão, conhecida como Behaviorismo, os comportamentos são obtidos pelo reforço - estímulo do comportamento desejado. O papel do professor é criar ou modificarcomportamentos para que o aluno faça aquilo que o professor deseja. É Adequada para cursos técnicos, especialistas e treinamentos ou em atividades que visam ensinar conteúdo e tarefas que se apoiam na memorização e fixação dos conhecimentos, ainda hoje muito frequentes na educação. A compreensão do comportamento humano apoia-se em seu comportamento operante. De acordo com Skinner, o seu interesse está em compreender o comportamento humano, não e manipulá- lo. Em seus últimos anos, Skinner atacou a psicologia cognitivista, afirmando que a educação é um modelo que se dá do meio para o indivíduo, e não o contrário. 14 O modelo Behaviorista de Skinner, em sua unidade conhecida como Behaviorismo Radical, é ainda muito popular, crescendo anualmente em relação ao número de estudiosos. Segundo ele, os fenômenos mentais devem ser discutidos como padrões de comportamento. Todo comportamento é fruto de um condicionamento, e assim não existem habilidades inatas nos organismos. Referências: 1. http://www.uneb.br/salvador/dedc/files/2011/05/Monografia-Jenifer-Satie-Vaz-Ogasawara.pdf. MOREIRA, Marco Antônio; Teorias de Aprendizagens, EPU, São Paulo, 1995. I. TENDÊNCIAS PROGRESSISTAS: Na Pedagogia Progressista, a escola atua como mediadora entre o aluno e o meio social, entendendo as finalidades sociopolíticas da educação. Da mais ênfase ao processo de aprendizagem grupal do que aos conteúdos de ensino. 1. TENDÊNCIA LIBERTADORA Caracteriza-se pela atuação não formal. Busca contribuir para desvelar a realidade social de opressão, questionando as relações homem-natureza e homem-homem. Ao invés de conteúdos tradicionais, trabalha com ―temas-geradores‖ extraídos das realidades dos educandos. A relação entre aluno e professor horizontal, os dois se posicionando como sujeitos do ato de conhecimento. PAULO REGLUS NEVES FREIRE Paulo Freire (1921-1997) foi o mais célebre educador brasileiro, com atuação e reconhecimento internacionais. Conhecido principalmente pelo método de alfabetização de adultos que leva seu nome, ele desenvolveu um pensamento pedagógico assumidamente político. Para Freire, o objetivo maior da educação é conscientizar o aluno. Isso significa, em relação às parcelas desfavorecidas da sociedade, levá- las a entender sua situação de oprimidas e agir em favor da própria libertação. O principal livro de Freire se intitula justamente Pedagogia do Oprimido e os conceitos nele contidos baseiam boa parte do conjunto de sua obra. Ao propor uma prática de sala de aula que pudesse desenvolver a criticidade dos alunos, Freire condenava o ensino oferecido pela ampla maioria das escolas (isto é, as "escolas burguesas"), que ele qualificou de educação bancária. Nela, segundo Freire, o professor age como quem deposita conhecimento num aluno apenas receptivo, dócil. Em outras palavras, o saber é visto como uma doação dos que se julgam seus detentores. Trata-se, para Freire, de uma escola alienante, mas não menos ideologizada do que a que ele propunha para despertar a consciência dos oprimidos. "Sua tônica fundamentalmente reside em matar nos educandos a curiosidade, o espírito investigador, a criatividade", escreveu o educador. Ele dizia que, enquanto a escola conservadora procura acomodar os alunos ao mundo existente, a educação que defendia tinha a intenção de inquietá-los. Aprendizado conjunto Freire criticava a ideia de que ensinar é transmitir saber, porque para ele a missão do professor era possibilitar a criação ou a produção de conhecimentos. Mas ele não comungava da concepção de que o aluno precisa 15 apenas de que lhe sejam facilitadas as condições para o auto aprendizado. Freire previa para o professor um papel diretivo e informativo - portanto, ele não pode renunciar a exercer autoridade. Segundo o pensador pernambucano, o profissional de educação deve levar os alunos a conhecer conteúdos, mas não como verdade absoluta. Freire dizia que ninguém ensina nada a ninguém, mas as pessoas também não aprendem sozinhas. "Os homens se educam entre si mediados pelo mundo", escreveu. Isso implica um princípio fundamental para Freire: o de que o aluno, alfabetizado ou não, chega à escola levando uma cultura que não é melhor nem pior do que a do professor. Em sala de aula, os dois lados aprenderão juntos, um com o outro - e para isso é necessário que as relações sejam afetivas e democráticas, garantindo a todos a possibilidade de se expressar. "Uma das grandes inovações da pedagogia freireana é considerar que o sujeito da criação cultural não é individual, mas coletivo", diz José Eustáquio Romão, diretor do Instituto Paulo Freire, em São Paulo. A valorização da cultura do aluno é a chave para o processo de conscientização preconizado por Paulo Freire e está no âmago de seu método de alfabetização, formulado inicialmente para o ensino de adultos. Basicamente, o método propõe a identificação e catalogação das palavras-chave do vocabulário dos alunos - as chamadas palavras geradoras. Elas devem sugerir situações de vida comuns e significativas para os integrantes da comunidade em que se atua, como por exemplo "tijolo" para os operários da construção civil. Diante dos alunos, o professor mostrará lado a lado a palavra e a representação visual do objeto que ela designa. Os mecanismos de linguagem serão estudados depois do desdobramento em sílabas das palavras geradoras. O conjunto das palavras geradoras deve conter as diferentes possibilidades silábicas e permitir o estudo de todas as situações que possam ocorrer durante a leitura e a escrita. "Isso faz com que a pessoa incorpore as estruturas linguísticas do idioma materno", diz Romão. Embora a técnica de silabação seja hoje vista como ultrapassada, o uso de palavras geradoras continua sendo adotado com sucesso em programas de alfabetização em diversos países do mundo. Seres inacabados O método Paulo Freire não visa apenas tornar mais rápido e acessível o aprendizado, mas pretende habilitar o aluno a "ler o mundo", na expressão famosa do educador. "Trata-se de aprender a ler a realidade (conhecê- la) para em seguida poder reescrever essa realidade (transformá-la)", dizia Freire. A alfabetização é, para o educador, um modo de os desfavorecidos romperem o que chamou de "cultura do silêncio" e transformar a realidade, "como sujeitos da própria história". No conjunto do pensamento de Paulo Freire encontra-se a ideia de que tudo está em permanente transformação e interação. Por isso, não há futuro a priori, como ele gostava de repetir no fim da vida, como crítica aos intelectuais de esquerda que consideravam a emancipação das classes desfavorecidas como uma inevitabilidade histórica. Esse ponto de vista implica a concepção do ser humano como "histórico e inacabado" e consequentemente sempre pronto a aprender. No caso particular dos professores, isso se reflete na necessidade de formação rigorosa e permanente. Freire dizia, numa frase famosa, que "o mundo não é, o mundo está sendo". Três etapas rumo à conscientização Embora o trabalho de alfabetização de adultos desenvolvido por Paulo Freire tenha passado para a história como um "método", a palavra não é a mais adequada para definir o trabalho do educador, cuja obra se caracteriza mais por uma reflexão sobre o significado da educação. "Toda a obra de Paulo Freire é uma concepção de educação embutida numa concepção de mundo", diz José Eustáquio Romão. Mesmo assim, distinguem-se na teoria do educador pernambucano três momentos claros de aprendizagem. O primeiro é aquele em que o educador se inteira daquilo que o aluno conhece, não apenas para poder avançar no ensino de conteúdos, mas, principalmente para trazer a cultura do educando para dentro da sala de aula. O segundo momento é o de exploração das questões relativas aostemas em discussão - o que permite que o aluno construa o caminho do senso comum para uma visão crítica da realidade. No terceiro, finalmente, volta-se do abstrato para o concreto, na chamada etapa de problematização: o conteúdo em questão apresenta-se "dissecado", o que deve 16 sugerir ações para superar impasses. Para Paulo Freire, esse procedimento serve ao objetivo final do ensino, que é a conscientização do aluno. Biografia Paulo Freire nasceu em 1921 em Recife, numa família de classe média. Com o agravamento da crise econômica mundial iniciada em 1929 e a morte de seu pai, quando tinha 13 anos, Freire passou a enfrentar dificuldades econômicas. Formou-se em direito, mas não seguiu carreira, encaminhando a vida profissional para o magistério. Suas ideias pedagógicas se formaram da observação da cultura dos alunos - em particular o uso da linguagem - e do papel elitista da escola. Em 1963, em Angicos (RN), chefiou um programa que alfabetizou 300 pessoas em um mês. No ano seguinte, o golpe militar o surpreendeu em Brasília, onde coordenava o Plano Nacional de Alfabetização do presidente João Goulart. Freire passou 70 dias na prisão antes de se exilar. Em 1968, no Chile, escreveu seu livro mais conhecido, Pedagogia do Oprimido. Também deu aulas nos Estados Unidos e na Suíça e organizou planos de alfabetização em países africanos. Com a anistia, em 1979, voltou ao Brasil, integrando-se à vida universitária. Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores e, entre 1989 e 1991, foi secretário municipal de Educação de São Paulo. Freire foi casado duas vezes e teve cinco filhos. Foi nomeado doutor honoris causa de 28 universidades em vários países e teve obras traduzidas em mais de 20 idiomas. Morreu em 1997, de enfarte. Para pensar Um conceito a que Paulo Freire deu a máxima importância, e que nem sempre é abordado pelos teóricos, é o de coerência. Para ele, não é possível adotar diretrizes pedagógicas de modo consequente sem que elas orientem a prática, até em seus aspectos mais corriqueiros. "As qualidades e virtudes são construídas por nós no esforço que nos impomos para diminuir a distância entre o que dizemos e fazemos", escreveu o educador. "Como, na verdade, posso eu continuar falando no respeito à dignidade do educando se o ironizo, se o discrimino, se o inibo com minha arrogância?" Você, professor, tem a preocupação de agir na escola de acordo com os princípios em que acredita? E costuma analisar as próprias atitudes sob esse ponto de vista? MOACIR GADOTTI Moacir Gadotti nasceu em Rodeio, Santa Catarina, em 1 de outubro de 1941, é um dos mais respeitados educadores brasileiros. É licenciado em Pedagogia (1967) e em Filosofia (1971). Fez Mestrado em Filosofia da Educação na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP, 1973), Doutorado em Ciências da Educação na Universidade de Genebra (Suíça, 1977) e Livre Docência na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP, 1986). Em 1991 prestou concurso para Professor Titular na Universidade de São Paulo. Foi professor de História e Filosofia da Educação em cursos de graduação e pós-graduação em Educação e Filosofia de diversas instituições, entre elas a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a Universidade Estadual de Campinas e a Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Desde 1988 é professor na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, atualmente está aposentado por esta Universidade, após 46 anos de magistério, mas continua dando aula e orientação na pós-graduação. Foi assessor técnico da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (1983-1984) e Chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura de São Paulo (1989-1990), na gestão de Paulo Freire. Atualmente é diretor do Instituto Paulo Freire que ele ajudou a fundar em 1992, esse Instituto desenvolve inúmeros projetos de educação popular. Trabalhou na redação da Carta da Terra – tratado internacional que contém 17 princípios éticos para a vida no século XXI, e defende o uso dessa Carta nas escolas e universidades, para Moacir a Carta da Terra Internacional é um documento é uma ferramenta essencial para a transformação do mundo em um lugar justo e pacífico. Autor de muitos livros, inclusive em parceria com Paulo Freire, com quem estudou nos anos 70, na Suíça. OBRAS Entre os livros publicados destacam-se: A educação contra a educação (1981), Pensamento pedagógico brasileiro (1987), Convite à leitura de Paulo Freire (1988), Escola cidadã (1992), História das ideias pedagógicas (1993), Pedagogia da Práxis (1995), Paulo Freire: uma biobibliografia (1996), Perspectivas Atuais da Educação (2000) e Pedagogia da Terra (2000). Um legado de esperança (2001). Em suas obras desenvolve uma proposta educacional cujos eixos são a formação crítica do educador e a construção da Escola Cidadã, numa perspectiva dialética integradora da educação e orientada pelo paradigma da planetariedade. Entre temas tratados por Gadotti estão: EDUCAÇÃO TRADICIONAL Para ele ―A educação tradicional e a nova têm em comum a concepção da educação como processo de desenvolvimento individual.‖ E ainda mais: ―Todavia, o traço mais original da educação desse século é o deslocamento de enfoque do individual para o social, para o político e para o ideológico‖. Destaca: ―não há idade para se educar, de que a educação se estende pela vida e que ela não é neutra‖. EDUCAÇÃO INTERNACIONALIZADA Gadotti apresenta a Educação Internacionalizada sobre a chancelaria da Unesco, que não é nova, data de 1899 e foi fundada em Bruxelas. "No final do século XX, o fenômeno da globalização deu novo impulso à ideia de uma educação igual para todos, agora não como princípio de justiça social, mas apenas como parâmetro curricular comum." NOVAS TECNOLOGIAS Gadotti crê ser possível a utilização ostensiva da Internet para a Educação a Distância para atingir este objetivo, percebe ainda que um grande problema para a difusão desta nova cultura de formação se deve a uma outra cultura: a da utilização do papel, a interferência burocrática do estado e também as ideologias mercadológicas. Moacir destaca a importância da escola, das metodologias e das mídias não apenas para processos mnemônicos (memorização), mas para a formação do pensamento crítico. PARADIGMAS HOLONÔMICOS Apresentam-se os paradigmas Holonômicos9. Caracterizam-se em especial pela proposta de uma nova relação entre produção e ser humano, principalmente representado pelo pensamento de Edgar Morin. Aqui o foco do saber não está institucionalizado, mas voltado para dentro do próprio ser humano valorizando seus aspectos subjetivos, cotidianos e ocasionais. Destacam-se categorias como: ―decisão, projeto, ruído, ambiguidade, finitude, escolha, síntese, vínculo e totalidade‖. Aqui Gadotti apresenta novamente a filologia da palavra holonômico, detenhamo-nos: 9 Relativo à holonomia, característica de um sistema cujos vínculos são expressos por um número finito de equações. Princípio holonôomico é um termo que representa um princípio segundo o qual cada elemento psíquico reproduz a totalidade de todo o psiquismo. 18 Etimologicamente, holos, em grego, significa todo e os novos paradigmas procuram centrar-se na totalidade. Mais do que a ideologia, seria a utopia que teria essa força para resgatar a totalidade do real, totalidade perdida. Para os defensores desses novos paradigmas, os paradigmas clássicos - identificados no positivismo e no marxismo - seriam marcados pela ideologia e lidariam com categorias redutoras da totalidade. Ao contrário, os paradigmas holonômicos pretendem restaurar a totalidade do sujeito, valorizando a sua iniciativa e a sua criatividade, valorizando o micro, a complementaridade,a convergência e a complexidade. Para eles, os paradigmas clássicos sustentam o sonho milenarista de uma sociedade plena, sem arestas, em que nada perturbaria um consenso sem fricções. Ao aceitar como fundamento da educação uma antropologia que concebe o homem como um ser essencialmente contraditorial, os paradigmas holonômicos pretendem manter, sem pretender superar, todos os elementos da complexidade da vida. 2. TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTÁRIA Focada na margem de liberdade do sistema, visa gerar nos alunos princípios educativos libertários e autogestionários. O conhecimento advém das experiências vividas pelo grupo, principalmente as de participação crítica. Não há relação de poder entre aluno e professor, e este se coloca como orientador e catalisador do grupo para uma reflexão comum. CELESTIN FREINET Célestin Freinet (1896-1966), crítico da escola tradicional e das escolas novas, foi criador, na França, do movimento da escola moderna. Seu objetivo básico era desenvolver uma escola popular. Na sua concepção, a sociedade é plena de contradições que refletem os interesses antagônicos das classes sociais que nela existem, sendo que tais contradições penetram em todos os aspectos da vida social, inclusive na escola. Para ele, a relação direta do homem com o mundo físico e social é feita através do trabalho (atividade coletiva) e liberdade é aquilo que decidimos em conjunto. Em suas concepções educacionais dirige pesadas críticas à escola tradicional, que considera inimiga do ―tatear experimental‖, fechada, contrária à descoberta, ao interesse e ao prazer da criança. Analisou de forma crítica o autoritarismo da escola tradicional, expresso nas regras rígidas da organização do trabalho, no conteúdo determinado de forma arbitrária, compartimentados e defasados em relação à realidade social e ao progresso das ciências. Mas, critica também as propostas da Escola Nova, particularmente Decroly e Montessori, questionando seus métodos, pela definição de materiais, locais e condições especiais para a realização do trabalho pedagógico. Para Freinet as mudanças necessárias e profundas na educação deveriam ser feitas pela base, ou seja, pelos próprios professores. O movimento pedagógico fundado por ele caracteriza-se por sua dimensão social, evidenciada pela defesa de uma escola centrada na criança, que é vista não como um indivíduo isolado, mas, fazendo parte de uma comunidade. Atribui grande ênfase ao trabalho: as atividades manuais têm tanta importância quanto as intelectuais, a disciplina e a autoridade resultam do trabalho organizado. Questiona as tarefas escolares (repetitivas e enfadonhas) opostas aos jogos (atividades lúdicas, recreio), apontando como essa dualidade presente na escola, reproduz a dicotomia trabalho/prazer, gerada pela sociedade capitalista industrial. A escola por ele concebida é vista como elemento ativo de mudança social e é também popular por não marginalizar as crianças das classes menos favorecidas. 19 Propõe o trabalho/jogo como atividade fundamental. Freinet elabora toda uma pedagogia, com técnicas construídas com base na experimentação e documentação, que dão à criança instrumentos para aprofundar seu conhecimento e desenvolver sua ação. ―O desejo de conhecer mais e melhor nasceria de uma situação de trabalho concreta e problematizadora.‖ O trabalho de que trata aí não se limita ao manual, pois o trabalho é um todo, como o homem é um todo. Embora adaptado à criança, o trabalho deve ser uma atividade verdadeira e não um trabalho para brincar, assim como a organização escolar não deve ser uma caricatura da sociedade.‖ O trabalho de que trata aí não se limita ao manual, pois o trabalho é um todo, como o homem é um todo. Embora adaptado à criança, o trabalho deve ser uma atividade verdadeira e não um trabalho para brincar, assim como a organização escolar não deve ser uma caricatura da sociedade‖. Dá grande importância à participação e integração entre famílias/comunidade e escola, defendendo o ponto de vista de que ―se se respeita a palavra da criança, necessariamente há mudanças‖. Técnicas empregadas na Pedagogia de Freinet Freinet construiu com seus alunos diversas práticas pedagógicas que tinham como objetivo aproximar a escola da vida. As aulas-passeio atendiam a esta finalidade. Em vez de discutir temas desvinculados da vida da comunidade, Freinet saía com seus alunos passeando pelas proximidades, fazendo observações e descobertas sobre aspectos da natureza, da vida social, econômica e cultural da região. Debates eram realizados e registrados no Livro da Vida. Não só os alunos tinham a oportunidade de realizar observações sobre fatos relevantes, como conceitos e conteúdos se organizavam. Isto requeria uma série de habilidades que iam sendo desenvolvidas: atenção, observação, análise, síntese, capacidade de organização de ideias, poder de argumentação, habilidades de expressão oral e escrita. Gradativamente Freinet criou a imprensa escolar. Esta criação possibilitou a construção de textos mais próximos dos interesses dos alunos. Através da imprensa escolar, os alunos elaboravam jornais cuja leitura era compartilhada por amigos e familiares. A correspondência interescolar abriu ainda mais estas fronteiras. Os alunos enviavam fotos, desenhos, cartas, jornais para colegas distantes. Foi assim que as crianças da montanha passaram a conhecer o mar, a pesca e os costumes de comunidades que viviam em aldeias marítimas. E estes, ficavam sabendo das colheitas, da vida dos pastores, dos tecelões, das histórias das comunidades do interior. Freinet desenvolveu a educação pelo trabalho. Seus alunos lidavam com impressoras, tipos de impressão, com teares, ateliers de artes, com a horta e até com a organização de encanamentos que levavam água da aldeia até a escola. A livre expressão é muito valorizada na Pedagogia Freinet. Nos ateliers de arte os alunos tinham oportunidade de exercitar a criatividade exprimindo seus sentimentos, suas emoções, suas impressões, suas reflexões. Os suportes para a livre expressão eram variados: a palavra oral e escrita, a música, a pintura, o teatro. Freinet se utilizava de diferentes recursos: máquinas fotográficas, projetor de diapositivos, câmeras, toca-discos. Outra técnica criada por Freinet foram às fichas autocorretivas para trabalho individual. Seus alunos, também, faziam trabalhos agrícolas, de marcenaria, de jardinagem e horta. No centro da Pedagogia Freinet estavam os princípios da cooperação, solidariedade e autonomia. São criações de Freinet: Aula-Passeio; Biblioteca; Cantos de Atividades; Complexos de Interesse; Correspondência Interescolar; Estudo do Meio; Fichário Autocorretivo; Fichário Escolar Cooperativo; Imprensa na Escola; Jornal Escolar; Jornal Mural; Livro da Vida; Planos de Trabalho e Texto Livre. 20 A Escola centralizada na criança A escola tradicional estava baseada na matéria a ensinar e nos programas que definiam esta matéria hierarquizando-a. A escola do futuro girará à volta da criança, membro da comunidade. ―A própria criança constrói a sua personalidade com a nossa ajuda‖. Trata-se de uma verdadeira correção pedagógica racional, eficiente e humana, que deve permitir à criança enfrentar com o máximo de realização, o seu destino de homem. A criança deve ter a possibilidade de escolher o seu caminho consoante as suas aptidões, gostos e necessidades. A escola do futuro deverá preparar os jovens para uma vida profissional, enfim para a realidade que as espera ―lá fora‖. A Educação pelo trabalho A educação pelo trabalho é mais do que uma vulgar educação pelo trabalho manual, mais do que uma pré- aprendizagem prematura. Ela é assente na tradição, mas prudentemente impregnada pela ciência e a mecânica contemporânea, o ponto de partida de uma culturacujo centro será o trabalho. Essa ideia de educação pelo trabalho não significa que tenhamos que andar na escola, a tratar de plantas, animais, a trabalhar de pedreiro e ferreiro. Para muitos essa concepção de trabalho é menos prezante, pois reservamos para os outros as tarefas de pensamento. O trabalho é um todo, pode haver um bom senso, inteligência. O homem através da especulação filosófica constrói um muro. O objetivo da educação pelo trabalho é essencialmente a integração do mesmo, evitar o mecanismo que é embustecedor, tentar restabelecer uma interdependência entre as diversas funções. Por um lado a atividade física, por outro a afetividade e o pensamento. Objetivos Gerais Impõe-se, portanto uma readaptação da nossa escola pública a fim de oferecer às crianças do séc. XX uma educação que responda às necessidades individuais, sociais, intelectuais, técnicas e morais da vida do povo no tempo da eletricidade, da aviação, do cinema, da rádio… A escola do povo não poderá existir sem a sociedade popular. A escola nunca está na vanguarda do progresso social. Pode estar em teoria, o que nunca é suficiente, mas na prática o seu desenvolvimento está demasiadamente condicionado pelo meio familiar, social e político para que se possa conceber para ela uma hipotética libertação autônoma. A escola, pelo contrário, acompanha sempre com um atraso mais ou menos lamentável as conquistas sociais. Primeira Etapa Educativa Trabalhar eficazmente graças a utensílios e a uma técnica apropriada para se instruir, se enriquecer, se aperfeiçoar, subir e crescer. Grandes Etapas Educativas Consideramos: 1º O período de Pré-ensino, do nascimento até por volta dos dois anos. 2º As reservas de infância e os jardins de infância, dos dois aos quatro anos. 3º A escola maternal e infantil, dos quatro aos sete anos. 4º A escola primária, dos sete aos catorze anos. Seus Prós e Contras Vemos que Freinet considera a aquisição do conhecimento como fundamental, mas, essa aquisição deve ser garantida de forma significativa. 21 Podemos afirmar que Freinet é um dos pedagogos contemporâneos que mais contribuições oferece àqueles que atualmente estão preocupados com a construção de uma escola ativa, dinâmica, historicamente inserida em um contexto social e cultural. Logicamente em termos de nossa realidade atual, podemos levantar questionamentos a algumas de suas concepções, tais como: uma visão otimista demais do poder de transformação exercido pela escola, a identificação da dimensão social aos fatores de classe, deixando de fora os aspectos discriminativos relativos a questões de cor e sexo, da proposta do professor ser o ―escriba‖ dos alunos, quando as investigações mais atuais da psicolinguística nos levam para outra direção. Turmas numerosas Embora seja desejável que o número de alunos das turmas não ultrapasse a média de 30 ou 35, não é impossível trabalhar a Pedagogia Freinet em turmas com número mais elevado de alunos. No seu tempo, Freinet também lidava com turmas numerosas e heterogêneas. Havia na mesma classe alunos que sabiam ler, outros que ainda não sabiam, enfim, o tom daquela época eram turmas multisseriadas, nas escolas rurais. Isto não impediu o bom trabalho desenvolvido por Freinet. O pedagogo francês sabia como organizar seus alunos em grupos de acordo com seus interesses. Havia momentos em que todos participavam das mesmas atividades e, em outros momentos, Freinet dedicava atenção especial a pequenos grupos atendendo-os em suas especificidades. O trabalho diversificado, o apoio dos colegas mais experientes aos outros com menos experiência, é a tônica da Pedagogia Freinet. A Avaliação ―Professores e pais, no entanto, apoiam essa prática porque nas atuais condições da escola, com crianças que não tem desejo de trabalhar, as notas e as classificações são ainda o meio mais eficaz de sancionar e estimular. Se bem que este meio tenha uma contrapartida sumamente perigosa: como se trata de dar notas com um mínimo de erro, recorre-se, em Pedagogia, a tudo o que é mensurável. Um exercício, um cálculo, um problema, a repetição de um curso, tudo isso pode supor, efetivamente, uma nota aceitável. Mas a compreensão, as funções da inteligência, a criação, a invenção, o sentido artístico, científico, histórico, não se podem mensurar. Ficam então reduzidos ao mínimo, na escola, e são abolidos da competição‖. (Célestin Freinet) Célestin Freinet acreditava que a avaliação deveria ser contínua e significativa, ou seja, não deveria existir apenas aquela semana de provas, como é a realidade (infelizmente) de muitas escolas. Os alunos que frequentavam a escola de Freinet, assim como outros alunos da França, eram avaliados de tempos em tempos por inspetores escolares. Na época, essa inspeção era muito rígida, porém, o resultado dos seus alunos não poderia ser diferente. Como eram avaliados o tempo todo, eles não apresentavam dificuldade alguma nos resultados que obtiam. Para Célestin Freinet facilitar essa avaliação contínua e significativa, ele desenvolveu as fichas de auto-correção. Cada aluno usando dessas fichas tem a chance de fazer sua própria correção, percebendo exatamente onde errou e porque errou, no final desse processo o aluno estará se auto-avaliando. Essa auto-correção deve ser complementada e concluída nos encontros semanais dirigidos pelo educador da sala, é aberto espaço para discussão sobre as dificuldades e os avanços de cada um sobre cada tema abordado durante as aulas. Esse tipo de avaliação contínua e significativa deve ser participativa e transparente, não sendo apenas de responsabilidade do educador, mas de cada aluno, tornando-se assim responsável pelo se próprio progresso. Livros Didáticos Freinet escreveu um artigo intitulado ―Abaixo os manuais escolares‖ que, à época, revolucionou as ideias sobre os pesados compêndios escolares que serviam de apoio à educação de crianças e adolescentes. 22 Para Freinet, manuais daquele tipo, enciclopédicos, não tinham nenhuma relação com a vida e lidavam com os conteúdos de forma fragmentada. Freinet sugeria que professores e alunos construíssem seus próprios textos e fichas de estudos. Ser Humanista Segundo Freinet Ser humanista na visão de Célestin Freinet, é a capacidade que todo educador tem de desenvolver plenamente todas as capacidades da criança. Ele procurou aprimorar todas as suas atividades, tento como concepção o bem- estar e a dignidade da criança como ser humano. Ele, foi muito além do que se refere a valores ideológicos e até mesmo religiosos, levou em conta a ―ética humana‖. Muitas das palavras ditas por Célestin Freinet ao longo da sua vida vêm de encontro com a Declaração Universal dos Direitos das Crianças da ONU. Quem estuda a Pedagogia Freinet e trabalha com ela diariamente, percebe que se trata muito mais do que uma simples ―Proposta Pedagógica‖, diria que é uma ―Filosofia de Vida‖. A criança é vista como um ser autônomo para qual é capacitada a escolher sobre orientação, quais as atividades a ser desenvolvida segundo o seu próprio interesse. É vista também, como um ser racional, capaz de desde muito cedo a opinar e criticar diante de fatos ou assuntos que lhe são expostos, é dado o direito e a oportunidade de raciocinar sobre tudo aquilo que lhe é proposto, tudo passa a ser mais significativo. O livre arbítrio também é respeitado entre as crianças, sendo respeitada nas suas escolhas e recusas, sempre analisando o motivo de tal decisão. Assim como no adulto, toda criança já possui dentro de si mesma uma consciência moral, cabe ao educador ajudar a desenvolver e a aprimorar essa moral primitiva. Quem conhece o trabalho da Pedagogia Freinet na prática, pode presenciar um dos direitos do ser humano ser respeitado e valorizado, que nada mais é, do que o direito de desenvolver a capacidade
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