Buscar

Resumo completo do livro "Geografia e Política" (Iná Elias de Castro)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

GEOGRAFIA POLÍTICA
Território, escalas de ação e instituições
Capítulo 1 - Introdução - Geografia Política Contemporânea
- O campo da geografia política
Consiste na relação entre a política, entendida como uma expressão e modo de controle dos conflitos sociais, e o território, que seria a base material e simbólica da sociedade. Ou seja, a geografia política pode ser compreendida como um conjunto de idéias políticas e acadêmicas sobre as relações da geografia com a política e vice-versa. 
- Visão determinista x visão atual
No final do século XIX, a natureza era o marco teórico para explicação da vida política. Mantinha-se a tradição do determinismo da natureza, um prolongamento da velha preocupação dos filósofos, como Montesquieu. Nesse contexto, a fluidez da vida política era explicada através de argumentos fundados em fatores estáveis, quase imóveis, como o meio físico. Por muitas décadas tentou-se mostrar como a distribuição dos continentes e oceanos, cadeias de montanhas, rios, climas e outras características da superfície da terra afetavam o modo pelo qual a humanidade dividia o mundo em Estados e Impérios e como estas unidades competiam entre si por poder e influência. Atualmente, buscamos compreender como a política, institucional e operacional, invade diferentes dimensões do mundo contemporâneo, entendendo que a política é que influencia a geografia, e não o contrário.
- Fundadores das questões e conteúdos das disciplinas
Turgot A expressão geografia política foi usada pela primeira vez em 1750 pelo filósofo francês Turgot em seu projeto de uma teoria de geografia política, redigido enquanto era estudante. Essa teoria foi apresentada como um “tratado de governo”, uma tentativa de formalização da intersecção do político e do geográfico, inspirado provavelmente em Montesquieu. Sua preocupação era demonstrar que o governo começa no estudo dos fatores geográficos da política, o que antecede à sua participação política e, sobretudo à ação. Porém, a concepção moderna da geografia política, como terminologia e área de conhecimento consolidada nas ciências sociais, data do final do século XIX, com a institucionalização da geografia e o reconhecimento da geografia política como subdisciplina formal na Alemanha. 
Ratzel Indo além do determinismo do meio natural elaborou uma teoria das relações entre a política e o espaço, introduzindo o conceito de sentido do espaço, que diz respeito a maior capacidade de certos povos de se fortalecerem a partir do seu enraizamento no território. Em seu estudo, o território ora aparece como sinônimo de ambiente e solo, ora como Estado nação e dominação; O território, portanto, é entendido como substrato, um palco para a efetivação da vida humana, sinônimo de solo/terra, sendo fundamental a todos os povos, tanto selvagens quanto civilizados. Dessa forma, fundamentado na relação de poder, território era entendido pelo Ratzel como expressão legal e moral do Estado, refletido na conjunção do solo e do povo.
Como ocorreu com as ciências sociais naquele período, o modelo de Ratzel foi fortemente inspirado na biologia e os temas por ele privilegiados respondiam à necessidade de refletir sobre os problemas de sua época. A Geografia de Ratzel constrói então uma consciência nacional e estabelece a necessidade de um “espaço vital”, que seria o espaço necessário para o desenvolvimento e o progresso de uma nação, tendo em mente que as condições de sobrevivência são limitadas e daí a busca por anexação de novos territórios. Dessa forma, o discurso do Ratzel passou a buscar uma unidade para a recém-criada nação alemã e a servir aos anseios expansionistas territoriais desta nação.
- Agenda da Geografia Política
Início do século XX Disciplina focada no território controlado pelo Estado-nação, tendo como principais escalas de análise o nacional e o global. Após a I GM, geógrafos e conhecimento produzido por eles foram mobilizados para ajudar a traçar novas fronteiras na Europa. Na II GM, a escola geopolítica alemã forneceu a justificativa intelectual para o autoritarismo do III Reich e para o expansionismo alemão. Os desdobramentos do nazismo, do fascismo e do Holocausto conduziram a disciplina ao ostracismo e seus tradicionais como fronteiras, minorias, territórios dos Estados, divisões políticas etc. passaram a ser tratados num empirismo despolitizado, abandonando suas ambições teóricas anteriores.
Segunda metade do século XX Com a chegada das décadas de 1970 e 1980 há uma renovação no interesse pela disciplina no meio acadêmico, provocado pelo fim da Guerra Fria, a desagregação da União Soviética, a globalização, as disputas de minorias oir territórios dentro das fronteiras nacionais, a expansão e o fortalecimento da democracia representativa etc, paralelamente ao enfraquecimento do Estado nacional como interlocutor institucional privilegiado nos processos de transformação contemporanea. Esse novo interesse colocou em foco novos temas e novas escalas, como a local e a regional.
- Problemas com a renovação da disciplina
A renovação se deu conservando o polêmico pluralismo temático e metodológico e aderiu novos interesse pelas questões politicas na geografia, se estabelecendo nos debates que se fundamentam no território como fonte ou estratégia de poder. Além disso, tal renovação levantou questões quanto a opção por uma variedade de temas e de métodos ou por um método único para abordar temas variados. Ao contrário dos demais ramos da geografia que obtiveram suporte teóricos de outras ciências sociais (teorias da localização da economia; modelos de ecologia urbana da sociologia; modelos da ciência política) que nem sempre serviram à geografia política. Após a crítica a Ratzel do início do século, para os críticos da geografia política continua faltando uma base teórica unificadora. Contudo, esse é, na verdade, um problema das ciências sociais em geral. A geografia política em si sempre respondeu à necessidade acadêmica de marcos metodológicos bem claros, apesar de nem sempre ter recorrido àqueles modelos abrangentes. 
- Novos suportes teórico-metodológico
John Agnew (1980) De acordo com o autor, a escala que importa é a do fenômeno. Defende a superação da polêmica entre as perspectivas da redução, que supõe que o menor nível de análise é sempre melhor, e a holista, que alegar ser o todo sempre maior que a soma das partes e que as escalas geográficas abrangentes são sempre melhores. Individualmente, produzem uma análise incompleta. 
Jean Gottmann (1950-1970) Sua questão central era elaborar uma teoria do espaço político para explicar a divisão do espaço mundial e a distribuição do poder em termos de tendência dinâmica mais do que em termos de Estados permanentes. 
Recusando toda simplificação, suas observações conduziram-no a perceber uma questão mais geral na relação entre a geografia e a política do Estado, ou seja, a recorrência do que ele chamou de sistemas de movimento, formado por tudo que se chama de circulação no espaço, e sistemas de resistência ao movimento, constituído por elementos mais abstratos que materiais e englobando um grande número de símbolos, que ele denominou iconografias. 
O processo de cercamento do mundo habitado, ou seja, da sua divisão em nações e Estados, é então explicado pela dialética existente as forças da circulação, responsáveis pelas mudanças que se impõem de fora, e a iconografia, que são as forças da resistência a essas mudanças, encontradas nos símbolos e crenças de grupos territorialmente definidos. No seu esquema sugeria que a partir do jogo dessas duas forças todo o passado e o presente da política tornavam-se mais claros.
Peter Taylor (final 1980) Posiciona-se a favor de modelos explicativos abrangentes e clama por um teoria unificadora, sugerindo que esse problema seja resolvido com a utilização da teoria do sistema-mundo de Immanuel Wallerstein. Os fenômenos político geográficos são analisados em termos dos padrões globais de acumulação do capital e do desenvolvimento desigual resultante, incorporandotemas tradicionais e novos da disciplina. Nesta perspectiva, a maior parte dos fenômenos é explicada a partir da sua localização em relação às categorias principais da divisão internacional do trabalho como centro, periferia e semiperiferia, produzidas pela economia capitalista mundial. A escala explicativa dos fenômenos é preferencialmente a global, sendo os fenômenos locais submetidos à lógica dessa escala e explicados por ela. Contudo, há ressalvas ao economicismo e funcionalismo dessa perspectiva teórica. Segundo Smith, há limitações à teoria de sistemas-mundo como estrutura para se compreender as ligações entre globalização, Estado-nação e lutas locais.
- Emergência de novas perspectivas
Superado o fantasma da associação da geografia política com o projeto nazista de poder, fundado na expansão territorial, presente nas décadas de 1950 e 1960, e a sua marginalização na vaga quantitativa dos anos 70, novas perspectivas emergiram. Com o desmonte da União Soviética e a queda do socialismo na Europa ressurgiram os problemas clássicos dos territórios, fronteiras e do Estado, recolocando na agenda da disciplina os temas relativos às nações, aos nacionalismos e aos regionalismos. Da mesma forma, os debates recentes apontam para a utilização de diferentes teorias unificadoras, compondo um pluralismo metodológico interdisciplinar, sendo mais adequado para a compreensão de problemas complexos do que modelos explicativos únicos. 
Capítulo 2 - Relações entre território e conflito: o campo da geografia política
Quanto mais complexas as sociedades nacionais, mais diferenciados são os seus interesses, devido a características como idade, gênero, escolaridade, renda, profissão, local de moradia, religião etc. Exemplos em escala local: conflitos causados por uma fábrica que polui o ar ou conflitos causados por poluição sonora produzida, por exemplo, por jovens em bailes funks ou igrejas que proclamam sua fé. Enquanto isso, os moradores querem ar limpo e silêncio. 
Mudando a escala, do bairro para a cidade, para a unidade da federação, para a região ou para o conjunto do território nacional, mudam os interesses. Portanto, quanto mais variada e complexa for a sociedade, maior será a diferença entre as necessidades dos grupos e das classes sociais e de cada território ocupado por eles. Exemplos em outras escalas: As unidades da federação disputam investimentos públicos e privados, as nações disputam condições favoráveis aos seus produtos e às suas sociedades. 
Sendo assim, as questões e os conflitos de interesses surgem das relações sociais e se territorializam, ou seja, materializam-se em disputas entre grupos e classes sociais para organizar o território da maneira mais adequada aos objetivos de cada um. Neste sentido, podemos indicar que é na relação entre a política – expressão e modo de controle dos conflitos sociais o território – base material e simbólica da sociedade – que se encontram os temas e questões da geografia política.
A política é o meio de organizar interesses em conflito para, de modo solidário, alcançar o “bem comum”. Na ausência da política impera a violência, ou seja, a barbárie.
- O contexto europeu
Foi no contexto politico-territorial do século XIX europeu que a geografia tornou-se disciplina acadêmica, e a geografia política, o seu ramo voltado para as questões relativas ao Estado: localização, posição, território, recursos, fronteiras, população, relação com outros Estados etc. 
Deve ser ressaltado que estamos tratando do Estado Moderno territorial europeu progressivamente delineado e consolidado a partir do século XVII. O Estado Moderno europeu consistiu em uma forma de organização do poder político com características que o tornam peculiar e diverso de outras formas históricas interiormente homogêneas de organização desse poder. Duas circunstâncias foram essenciais para este novo ordenamento político-social: a progressiva reunião de condições materiais e de competências organizacionais que capacitavam a centralização tanto do poder político como do controle sobre o território. Sua especificidade reside na centralidade territorial, ou seja, na sua prerrogativa institucional de definir normas e exercer coerção sobre toda a sociedade nos limites do seu território. Na atualidade, apesar das disputas territoriais, que ainda existem, persiste um pacto territorial explícito para a maioria dos países, tanto entre as potências contemporâneas como para os demais Estados, fazendo com que os problemas de domínio estatal sobre o território deixe de ser uma questão de interesse geral, resistindo como conflitos localizados.
Vale lembrar que a apropriação do conhecimento produzido pela geografia foi e tem sido estratégica tanto pra valorização e legitimação dos direitos da sociedade ao seu território como pra produzir um imaginário territorial como componente inseparável da ideologia nacionalista. 
- Significado do termo político
Três perspectivas para o conceito de política tem sido predominantes na geografia: a vertente sociológica, que parte do pressuposto da perda de centralidade do poder do Estado, vendo a politica cada vez mais deslocada para a sociedade, concebendo-a como condição das regras das disputas e solidariedades sociais; a vertente da economia política, que supõe o domínio estrutural da infraestrutura sobre a política, dominada pelas determinações do capital; e a vertente da ciência política, que busca compreender os fundamentos das ações e decisões dos atores sociais, formalizadas através do aparato legal e institucional do Estado. A última definiu a agenda temática da geografia política clássica, fortemente criticada pela geografia política contemporânea que orienta sua agenda temática pelas questões das duas primeiras.
A política deve ser compreendida então como a essência das normas socialmente instituídas para o controle das paixões (interesses, conflitos, ambições, escolhas etc), tornando-se a condição do surgimento do espaço político onde é possível a convivência entre os diferentes.
- Campo da geografia política
A política, de acordo com o dicionário, pode ser um substantivo que quer dizer a arte ou ciência de: governar, ou ainda da organização, direção e administração de nações ou Estados e a aplicação desta arte aos negócios internos e externos da nação. Em sentido estrito, a palavra política refere-se à ação institucional do Estado. Em sentido amplo, engloba os objetivos e a ação de outros atores sociais, nesta acepção se pode falar em política de uma empresa, de uma associação, de uma igreja etc. Há uma diferença fundamental na abrangência das ações entre cada uma destas acepções. A política como ação das instituições públicas é social e territorialmente abrangente, enquanto a ação de qualquer outro ator social é restrita, ou seja, afeta apenas áreas e grupos diretamente vinculados. 
A partir dessa diferenciação, podemos delimitar o campo da geografia política apontando três dimensões necessárias aos problemas considerados pertinentes a sua análise: (1) o pressuposto da política, em seu sentido restrito, como central ao controle e à definição dos limites do cotidiano das sociedades; (2) o território como materialidade e arena dos interesses e das disputas dos atores sociais; (3) o poder como um exercício resultante de relações assimétricas que se organizam no interespaço do mundo social. 
A geografia política analisa como os fenômenos políticos se territorializam e recortam espaços significativos das relações sociais, dos seus interesses, solidariedades, conflitos, controle, dominação e poder. Esses espaços podem ser identificados como fronteiras, centro, periferia, guetos, unidades políticas etc. - análise desses espaços, o recurso metodológico da escala é necessário. Para análise desses espaços, o recurso ao artifício metodológico da escala tem sido uma perspectiva adequada porque identifica o significado das escalas de ação institucional e os recortes territoriais produzidos por esta ação.
- Ratzel e a geografia política
A geografiapolítica de Ratzel tinha como tarefa demonstrar que o Estado é fundamentalmente uma realidade humana que só se completa sobre o solo do país. Em sua perspectiva, os Estados, em todos os estágios do seu desenvolvimento, são percebidos como organismos que mantém com o solo uma relação necessária e que devem ser considerados sob o ângulo geográfico. Ratzel afirma que o sentido geográfico jamais faltou aos pragmáticos homens de Estado, sendo dissimulado sob o nome de “instinto de expansão”, “vocação colonial” ou “sentido inato de poder”, acrescentando que quando se fala de instinto político sadio, pensa-se em uma avaliação correta dos fundamentos geográficos de todo poder político. Acreditava que o sentido geográfico deveria fazer parte da própria sociedade.
- Contexto da obra do Ratzel
Duas dimensões do ambiente em que ele viveu e desenvolveu sua obra: (1) ambiente político dos séculos XVIII e XIX, momento histórico de consolidação dos Estados nacionais da Europa, cujas disputas territoriais se estenderam por esses séculos. No caso da Alemanha, ocorreram prolongadas guerras e negociações até a unificação da nação germânica, em 1870 com a liderança de Bismarck; (2)ambiente filosófico da Alemanha, fortemente influenciado pelas idéias de Hegel (1821) e pelas construções teóricas da biologia, especialmente o evolucionismo de Darwin, e também da sociologia, nascida nas transformações da Revolução Industrial.
Na realidade, Estado, território e sociedade na ordem do dia das reflexões e das ações concretas das nações europeias no século XIX. As reflexões da filosofia e das recentes ciências sociais, entre elas a geografia, foram respostas às ocorrências do mundo que elas tentavam explicar. A contribuição de Ratzel foi mostrar que essas ocorrências eram especializadas e que sem o sentido geográfico as análises científicas estariam incompletas. Como Maquiavel, Ratzel separou a moral política da moral comum e colocou o patriotismo acima dos métodos requeridos para alcançar um bem maior, no caso um Estado alemão, legitimado pelo seu solo, poderoso e capaz de proteger o seu povo.
- Capitalismo x Territorialismo
A centralidade do Estado na geografia política ratzeliana deve ser também compreendida no contexto europeu de liderança na expansão do capitalismo mundial. Porém, como aponta Arrighi (1996), nessa dinâmica do sistema capitalista mundial há uma contradição recorrente entre uma “interminável” acumulação de capital (capitalismo) e uma organização relativamente estável do espaço político (territorialismo), sendo estes modos opostos de governo ou de lógicas de poder. Nesse caso, os governantes territorialistas identificam o poder com a extensão e a densidade populacional dos seus domínios, concebendo a riqueza/o capital como um meio ou um subproduto da expansão territorial, enquanto os governantes capitalistas, ao contrário, identificam o poder com a extensão do seu controle sobre os recursos escassos/valiosos e consideram as aquisições territoriais um meio e um subprodutos da acumulação do capital.
- A geografia política contemporânea
Há uma necessidade e grande dificuldade de delimitação do campo da geografia política devido a característica do tempo atual, comandada por atores individuais e institucionais que apresentam uma nova complexidade, diferente da geografia dos impérios e nações. N atualidade, uma sociedade pode existir em múltiplas escalas, da local à mundial, o que paralelamente estabelece a necessidade de territórios delimitados e estáveis da política obrigados a conviver com múltiplas espacialidades dos atores sociais. 
Podemos compreender o espaço político a partir de dois pontos: a escala territorial dos fenômenos políticos e área de ação ou de extensão de um fenômeno. Tomando as escalas dos fenômenos políticos, ao contrário da geografia política clássica - surgida em um contexto de consolidação dos Estados nacionais e nas disputas entre eles – a disciplina precisou, no final do século XX, responder aos desafios dos fenômenos em escalas múltiplas. Nesse período, a escala dos fenômenos da globalização impôs-se a todas as reflexões na maioria das ciências sociais, devido não só a novidade de questões e escalas, mas também pela opção de modelos abrangentes na maioria dos estudos. 
É possível indicar que o espaço político tem algumas características distintivas, como: é delimitado pelas regras e estratégias da política, é um espaço dos interesses e dos conflitos, da lei, do controle e da coerção legítima. Em outras palavras, uma abordagem do espaço a partir da política define um recorte onde interesses se organizam, onde as ações possuem efeitos abrangentes na sociedade e no espaço e onde existe a possibilidade do recurso à coerção, pela lei ou pela força legítima. 
Capítulo 3 – O poder e o poder político como problemas
- O poder como problema
Um conceito de poder engloba sempre a esfera da ação, ele designa uma capacidade de agir, direta ou indiretamente, sobre as coisas ou sobre as pessoas, sobre os objetos ou sobre as vontades. Sendo assim, não é possível, pensar em poder fora dos marcos estabelecidos pelos contextos temporais e espaciais das sociedades. 
O poder é considerado como a manifestação de uma possibilidade de dispor de um instrumento para se chegar a um fim, mas a possibilidade de chegar a esse fim supõe a existência de uma relação necessariamente assimétrica, ou seja, a possibilidade de que uma das partes disponha de mais meios ou de maior capacidade de obter o efeito desejado através da prerrogativa de aplicar algum tipo de sanção. O poder é, portanto, relacional e exige que existam conflitos de interesses ou valores entre duas ou mais pessoas ou um grupo. 
Além disso, é necessário que exista a adesão da vontade do outro, sendo a vontade comum um fundamento inescapável de todo exercício de poder, e por isso mesmo é nela que reside a impotência do poder, que impõe a questão do estabelecimento dos limites ao exercício do poder em relações sociais assimétricas. A impotência do poder se dá quando o detentor do poder tem todos os recursos, mas não consegue exercer o seu poder. Exemplo: Quando um escravo se recusa a obedecer o seu senhor e escolhe a morte. Neste caso, o poder do senhor se torna impotente, pois mesmo que eventualmente ele mate o escravo, é posta em ação uma sanção que não garante o exercício ou uma resolução do seu poder sobre o escravo. Por isso, um poder que precisa recorrer à violência com frequência é um poder fraco. Isso explicaria porque são gastas fortunas com marketing dos governantes, em busca da aceitação do seu poder, da construção de um querer comum.
- Três formas elementares de poder
Poder despótico ou da dominação Esse tipo de poder se dá a partir do medo e tem como instrumento de poder a coerção pela força, o apelo constante à violência. É um poder fraco que não se fundamenta na vontade do outro e por isso encontra-se sujeito à possibilidade de uma escolha trágica, que o anula. É ainda, um poder que visa o bem privado de quem o exerce.
Poder de autoridade Esse é um poder exercido como uma concessão, o que o torna uma forma legitimada pela aceitação e pelo reconhecimento daqueles que a eles se submetem. A autoridade é capaz de se fazer obedecer através da mediação da lei, da tradição ou do carisma. A desobediência supõe também sanções, mas socialmente definidas e aceitas. Tal poder é caracterizado por visar o bem daquele sobre o qual o poder se exerce (esse é o princípio, a prática é outra coisa).
Poder político Compreende, em sentido amplo, tanto a possibilidade de coerção, típica do poder despótico, quanto a autoridade, de fundamento legal, constituindo os dois pólos opostos e extremos contidos nesta modalidade. É visado o bem comum sem o recurso fundamental e exclusivo da coerção ou da transcendência da autoridade, mas podendo fazer o uso de ambos para alcançar seu objetivo. É nessa instância exclusivamente que podemos construir um espaço político verdadeiro, um lugar de deliberação mais ou menos grande e transparente. Seexerce com o consentimento coletivo mínimo, sem o qual ele tende a se dissolver. 
- O modelo Estado Moderno territorial
Língua e solo como valores identitários das sociedades, foram assimilados pelos aparatos institucionais do Estado-nação e tornaram-se patrimônio comum da nacionalidade. Ambos são parte do cimento simbólico da solidariedade nacional e ajudam a legitimar socialmente o poder moral e o querer comum como o fundamento do poder político e o domínio do Estado, como instituição, sobre o território. Ao se identificar com o idioma e com o solo, as sociedades nacionais estabelecem as condições para a existência duradoura da polis, como apontou Arendt, reforçam a importância do enraizamento e do valor social e político do solo, como indicou Ratzel, e alimentam as iconografias de Gottman e seu poder de resistência à circulação.
Neste sentido, a estrutura de poder político-territorial do Estado, ao contrário do seu papel de portador do novo no começo da modernidade europeia, de definidor dos rumos da história do século XIX e início do XX, tornou-se um refúgio de valores simbólicos e de interesses que resistem à circulação imposta pela globalização. 
- O nacionalismo como legitimação simbólica
A história do Estado moderno e, posteriormente, a do Estado-nação podem ser contadas pela submissão dos territórios e de suas elites ao poder político centralizado do Príncipe. Se esta centralidade territorial do poder foi a fórmula inovadora para instituir uma ordem política duradoura, como anteviu Maquiavel, a sua consolidação foi alcançada mediante a unificação de um ethos identitário de base territorial. Neste sentido, com a produção social da crença numa comunidade de destino, respaldada pelo direito histórico à posse de um território. Muitas guerras foram, e continuam sendo, travadas em nome na crença nesse direito. Mesmo na atualidade, os Estados em que a submissão a um ethos nacional comum não foi completa há ameaças de rupturas, como Canadá, a Bélgica e atualmente a Escócia Além das tentativas mal sucedidas de instituir Estados nacionais na Europa oriental pela união de povos diferentes, como a Iugoslávia e a Tchecoslováquia
- Do modelo abstrato à periferia do sistema
O Estado Moderno é um modelo abstrato do ideal iluminista de racionalidade, liberdade e igualdade. Este modelo, germinado no absolutismo do século XV e consolidado nas condições históricas do Ocidente capitalista – individualista e liberal – difundiu-se pela periferia do sistema, levando consigo os ideais de progresso, de civilização e de desenvolvimento como percursos essenciais para alcançar aquilo que era apresentado como os marcos civilizatórios mais próximos daquela utopia.
Neste sentido, a reprodução do modelo europeu para a periferia do sistema e o processo de incorporação do nacionalismo, fundamento simbólico para o Estado-nação, resultaram em situações muito diferentes que confirmam a territorialidade e a historicidade desta instituição. 
Não é possível compreender essa instituição sem considerar a sua dupla dimensão fundadora: o pacto externo legitimador da soberania conferida por outros Estados e inaugurada no Tratado de Westfalia, e o pacto interno que trata-se do contrato social, legitimador da centralidade territorial de obediência às suas normas. O Estado Moderno tem, pois, evoluído, no tempo e no espaço, como resultado da interação dinâmica dessas forças, externas e internas.
A centralidade territorial do poder político só foi possível pela submissão e controle do território; a diferença está no meio utilizado: a racionalização do direito apoiada em uma burocracia administrativa impessoal, baseada em regulamentos explícitos, e uma força militar profissional permanente. 
- O papel da administração pública
Se a centralidade territorial do poder político foi o marco do nascimento do Estado Moderno, o processo paralelo de construção de uma máquina administrativa eficiente e funcional possibilitou o seu sucesso. A estrutura administrativa com um corpo qualificado de funcionários, criou uma rede conectiva, única e unitária, que modelou a estrutura organizativa da vida associada, transformando-se em autêntico aparelho de gestão do poder, sobre a sociedade e sobre o território. Este aparelho tornou-se operacional em processos cada vez mais próprios e definidos de acordo com objetivos concretos como a paz interna do país, a eliminação do conflito social e a normatização das relações de força através do exercício monopolístico do poder. 
A administração é então constituída de um conjunto de organizações que participam da execução de múltiplas tarefas de interesse geral que cabem ao Estado. Neste sentido, a função administrativa é o prolongamento da função política que compreende a função legislativa e a função governamental. Entre essas funções está a de prover políticas públicas, ou seja, a prestação de bens e serviços às coletividades e aos seus territórios como: manutenção da ordem, regulamentação do trabalho, assistência social, saúde, educação etc. Da mesma forma, é possível falar em um modelo de Estado territorial moderno como ponto de partida analítico, é possível falar numa administração pública racional como modelo de análise.
A administração pública define espaços políticos com diferentes acepções: o “espaço normado” definido por regras e normas baseadas em princípios jurídicos, com campo de ação delimitado pelo direito; o “espaço funcional” da burocracia e dos despachos administrativos; o “espaço das sedes administrativas” instaladas nos centros urbanos das capitais políticas; o “espaço atendido” provido ou desprovido quanto ao alcance da função administrativa e seu campo de ação ou área de influência. Sendo assim, no território, a atividade e a função, as sedes, a acessibilidade e provisão do serviço administrativo são centrais na relação da geografia com a administração.
- Centralismo e Federalismo
Com a retomada da história de formação e de consolidação dos Estados na Europa Ocidental, desde a Idade Média, percebe-se que todo processo se fez através de guerras, alianças, dominação e do controle de forças políticas que representavam interesses dominantes em territórios particulares. Exemplos: A unificação alemã se fez sob a hegemonia da Prússia; a formação do Estado Francês se fez com a vitória dos interesses do Norte – centralizados em Paris – sobre o Sul; a unificação espanhola se fez sob a hegemonia da aristocracia de Castela; a unificação italiana sob a hegemonia de Roma; nos Estados Unidos os interesses da classe produtora do Sul foram submetidos aos dos Ianques do Norte etc.
A história dos conflitos de interesses em territórios específicos produziu engenharias políticas adequadas, isto é, o conjunto de normas e organizações que caracterizam o sistema político e administrativo dos Estados. Essas engenharias possibilitaram acomodar conflitos e estabelecer alianças sem que o Estado perdesse a prerrogativa de centralidade política para todo território. Assim, as formas de organização política do território são importantes por revelar o processo histórico de formatação dos interesses territorializados, bem como para acomodar as suas assimetrias. 
Há dois modelos clássicos de organização: o do Estado Unitário ou centralizado, cujo melhor exemplo é a França, e aquele do Estado Federal, cujo exemplo clássico são os Estados Unidos. No Estado Unitário há um alto grau de homogeneidade interna e coesão e a administração se exerce somente a partir da capital. Todas as decisões sobre cobranças de taxas e impostos e de alocações de políticas públicas emanam do poder central, e a execução se faz por repartições da administração central nas localidades. Essa centralização não quer dizer autoritarismo, uma vez que um sistema de representação político-democrático faz chegar aos órgãos da administração pública as demandas da sociedade em diferentes partes do território nacional.
O Estado Federal, ao contrário, se funda na diversidade e na coexistência entre regiões e povos diferentes para fundar oEstado – o pacto federativo. Sociedades regionalmente diferenciadas em relação à religião, língua, etnia encontram no pacto federativo a melhor forma de acomodação dos conflitos políticos.
Deve ser ressaltado, no entanto, que há diferentes graus de centralização (unitarismo) e de descentralização (federalismo) não havendo um modelo rígido aplicável a todos os países. Além disso, não há relação entre centralização e autoritarismo ou descentralização e democracia, como o caso brasileiro comprova. A França, por exemplo, é centralizada e manteve esta condição mesmo sob as regras da democracia moderna, e da mesma forma, os Estados Unidos, são historicamente descentralizados e também democráticos. A Alemanha, no entanto, permaneceu federal, mesmo sob o regime nazista. 
- O município em debate
Em primeiro lugar, este é um recorte federativo, com importante grau de autonomia – o que significa atribuições e recursos próprios; Em segundo, é uma escala política, ou seja, um território político, por excelência, é um distrito eleitoral formal para vereadores e prefeitos e informal para todas as outras eleições; Em terceiro, é no município que todos habitamos e exercemos nossos direitos, e deveres, da cidadania, onde buscamos os serviços a que temos direito como cidadãos, onde votamos, e candidatos são votados. Também é nele que são concretizadas as política públicas.
Capítulo 4 – Espaço e representação política
Espaço geográfico é intrinsecamente político, já que é arena de conflitos; sendo assim, é arena também das normas para seu controle. Objetivo das instituições é regular os conflitos -> quando elas não conseguem atuar, ocorrem as guerras.
Organização institucional das democracias representativas foi uma resposta às demandas e às lutas das categorias organizadas da sociedade (quanto mais organizada a sociedade, maior a possibilidade de influenciar na agenda política através da representação).
Geografia se faz importante para entender como os interesses no território resultam em estratégias para obtenção de melhores respostas no sistema representativo. É importante ainda pra identificar como a organização do espaço afeta a decisão do eleitor, podendo o voto ser explicado também pelo espaço.
Dimensões geográficas dos sistemas de representação política
Os sistemas de representação política são organizados pela sociedade em seu território; ou seja, esses sistemas tem uma base social (define legalmente quem tem o direito a eleger e ser eleito) e também territorial (constituição dos distritos eleitorais, cujos recortes terão relação com o número de representantes). Tal organização resulta das disputas de interesses dominantes e organizados no território.
Os sistemas de representação política são mecanismos essenciais elaborados progressivamente nas democracias modernas, tendo como fundamento a participação popular, que atinge seu ápice no sufrágio universal (direito de voto, a todos os cidadãos legalmente responsáveis no território, em geral os adultos). 
Os sistemas eleitorais e a decisão do eleitor não podem ser dissociados na medida em que ambos afetam a organização do espaço, podendo favorecer ou dificultar o alcance do objetivo final do sistema, que é a participação política para defesa de interesses legítimos. 
Representação política
Na impossibilidade prática da democracia direta nas sociedades de massa, a idéia de constituição de uma representação política em um formato considerado eficiente e justo, é objeto permanente de discussão. 
A representação é uma relação entre os cidadãos e os seus representantes. Estes formam um corpo legislativo – no Brasil são: Congresso Nacional, as Assembléias Legislativas Estaduais e Câmaras Municipais de Vereadores – e tomam decisões autorizadas por aqueles que os elegeram, ou seja, os seus constituintes. 
O eleitor consente por antecipação com as decisões dos representantes, que por sua vez, se obriga a efetivar os valores comuns da ordem política e as concepções acerca do interesse e bem públicos do conjunto de cidadãos que o elegeu. Trata-se de uma solução para permitir que os conflitos de interesses nas sociedades fossem deslocador do interior das sociedades para a arena legal das casas legislativas, onde os representantes escolhidos teriam poder de decisão sobre o bem público, isto é, a propriedade e o interesse do conjunto da sociedade. Vale destacar que a prática democrática evoluiu pelo confronto entre os poderes estabelecidos x novas demandas que os desestabilizavam.
Logo, o corpo legislativo deve agir de acordo com as concepções particulares acerca do interesse de seus constituintes e as normas e leis elaboradas refletirão essas concepções particulares, mas dentro dos limites impostos pelo interesse geral (o bem público). Dessa forma, quanto melhor for o sistema de representação, melhor será o corpo de representantes e suas escolhas tenderão a refletir o corpo social que os elegeu. 
A geografia tem uma contribuição fundamental nesse sentido, já que incorpora o espaço como variável explicativa para as escolhas dos eleitores e composição da representação.
A escolha de determinado sistema é afetada por quatro fatores: 1. Peculiaridades das estruturas sociais e políticas da sociedade nacional; 2. Mediação subjetiva pelos responsáveis, ou seja, as preferencias do segmento da elite política que faz a escolha; 3. Princípios da ideologia escolhida; 4. A engenharia política (aparato institucional e legal) é o meio técnico que o implementa e organiza o processo eleitoral.
Dimensão espacial do sistema de representação
Com relação a geografia eleitoral, análise dos sistemas eleitorais deve considerar o papel desempenhado pela organização do espaço e seus constrangimentos, ou seja, as rugosidades. Aqui, além dos tradicionais princípios da geografia, como localização, extensão e contiguidade, acrescidos dos de forma e função, devem ser incorporados outros, como conflitos e interesses territorialmente ancorados. 
Interesse da geografia política está na dimensão espacial do sistema de representação política. Neste sentido, a geografia deve ser capaz de demonstrar que os interesses sociais são territorializados e que não apenas esta territorialidade da política afeta o sistema de representação, mas que nela reside uma parcela da própria natureza do sistema.
Comportamento eleitoral
Em situação ideal, a escolha eleitoral é a resposta dada pelos cidadãos às políticas públicas em todas as escalas territoriais, pois é a partir da sua visão de mundo que o cidadão, tornado eleitor, dá respostas, através do voto, às decisões e ações políticas. 
Em todos os campos da ciência, a explicação dos resultados eleitorais é entendida como consequência da racionalidade do eleitor, do sistema eleitoral vigente e das suas condições de vida. São então analisados diferentes fatores como: a estrutura sócio profissional da população, o ambiente cultural e religioso, as tradições políticas, a escolaridade, a faixa etária, o gênero, a etnia, a legislação eleitoral etc. A geografia eleitoral contribui para a visibilidade dos marcos espaciais desses fatores ou condições que afetam o voto e os resultados das eleições, como a localização das pessoas, a vizinhança, a densidade demográfica, as instituições, os equipamentos à disposição dos cidadãos etc . 
No caso dos sistemas eleitorais, estes fatores devem ser considerados nas razões espaciais que afetam as escolhas de determinado método de voto e do desenho dos limites das circunscrições eleitorais. A criação de distritos eleitorais destinados a favorecer um determinado partido é o exemplo mais corrente das distorções possíveis nesta prática, conhecida como gerrymandering (em alusão ao caso do governador de Massachusetts, Elbridge Gerry, que assinou um decreto de criação de distritos eleitorais que formavam no mapa um desenho parecido com uma salamandra, a fim de formar uma nova circunscrição que lhe era favorável). 
A magia do voto
Os estudos da geografia eleitoral são importantes por explorara interseção entre espaço e mistério do momento fundamental da vida política nas democracias modernas, que é o voto. O processo eleitoral trata-se de um ritual que coloca em suspensão a vida política e instala a possibilidade de renovação do contrato da sociedade com seus governantes.
Dessa forma, existem quatro efeitos que devem ser considerados com relação à possibilidade do espaço afetar o comportamento eleitoral, ou seja, a decisão do eleitor diante da urna. 
Efeito dos amigos e vizinhos - o candidato obtém mais votos no lugar de nascimento ou de residência. Efeito importante nos sistemas majoritários com distritos muito pequenos. No caso de amigos, não necessariamente vizinhos, outra possibilidade deste efeito é aquele de identidades religiosas ou étnicas (evangélicos, judeus, japoneses etc)
Efeito de proteção local – quando um tema na eleição é mais claramente sensível a uma determinada área ou região do que em outras. Em eleições nacionais as questões regionais afloram de modo bem nítido.
Efeito de campanha eleitoral – diz respeito as estratégias dos partidos e dos candidatos de selecionar temas e plataformas dirigidas a eleitores de redutos eleitorais específicos, sendo mais sensíveis em uma área do que em outras.
Efeito de vizinhança - explica porque os partidos obtêm melhores resultados nas zonas em que estão suas bases. Este efeito explica a concentração de determinado tipo de voto em áreas mais homogêneas - como bairros, comunidades rurais, municípios pequenos, onde há um segmento social dominante: classe trabalhadora, elite, etnia, religião etc.
O que importa em uma eleição (principalmente para os políticos, que buscam compreender as regras do jogo para computar votos e transformá-los em poder) - leis eleitorais, eleitores aptos a votar, voto obrigatório ou facultativo, critérios para apresentação de candidatos, normas de acesso aos meios de comunicação, mecanismos de controle dos gastos de campanha, regras de acesso ao fundo partidário, normas para divulgação de pesquisas e regras da propaganda eleitoral.
Os sistemas eleitorais
Os sistemas eleitorais são basicamente de dois tipos, com a derivação de um terceiro, cada um com diferenças decorrentes das especificidades da sociedade que o adota:
Sistemas majoritários -> votos num distrito eleitoral são convertidos em assentos parlamentares; são eleitos os partidos ou candidatos com maior volume de votos até que seja completada a representação parlamentar. Dificulta a competição eleitoral e poderia chegar a instalar uma autocracia de partido único. Permitem exercício do poder unificado em cada período legislativo. [explicação do livro]
A conta é feita a partir da maioria simples. O território é dividido em circunscrições eleitorais (distritos) e cada um elege um representante. Cada partido apresenta apenas um candidato, é eleito o que possui mais votos em cada distrito. Uma crítica feita a esse modelo é que o número de cadeiras pode ser bem superior aos votos obtidos, de maneira que partidos de bases regionais bem definidos levam vantagem sobre os territorialmente dispersos. Ex.: Reino Unido, EUA, Canadá, Índia... [explicação dos slides]
Sistemas proporcionais -> cada partido tem uma participação percentual na totalidade da representação parlamentar. Tanto a participação como o controle são proporcionais ao percentual de distribuição das preferências do corpo eleitoral, materializadas em votos. Expressa no interior do estado as contradições do corpo social. [explicação do livro]
Busca assegurar que a diversidade de opiniões de uma sociedade esteja refletida no legislativo e garantir correspondência entre os votos recebidos pelos partidos e sua representação, tendo como objetivo a equidade matemática entre votos e cadeiras dos partidos. Ex.: Bélgica (segmentação étnica e religiosa), Dinamarca e Suécia (partidos conservadores temiam o sufrágio universal), Irlanda, Espanha, Argentina, Chile, África do Sul etc.
Entretanto, alguns aspectos afetam a representação proporcional, tornando- mais complexo: fórmula eleitoral para distribuir cadeiras (coeficiente eleitoral e coeficiente partidário), magnitude dos distritos e a existência de mais de um nível para alocação de cadeiras (quanto maior a magnitude, mais proporcional é o resultado), cláusula de exclusão, possibilidade de coligações eleitorais e regras para a escolha dos candidatos da lista. São ainda feitas críticas a esse sistema, como a ênfase demasiada na idéia da representação, considerando pouco a questão fundamental da formação do governo, o que tende a produzir governos menos estáveis. É também criticada a questão da magnitude dos distritos, plurinominais, o que reduziria a conexão do eleitor com seu eleitorado, acreditando que com muitos representantes por distrito, haveria dificuldade em punir os maus representantes. [explicação dos slides][1: O coeficiente eleitoral é obtido pela divisão do número de eleitores do distrito (estado ou município) pelo número de vagas para deputado (ou para vereador). Já o coeficiente partidário indica quantas vagas cada partido vai ter. Para cada partido, divide-se o número de votos válidos que o partido obteve pelo coeficiente eleitoral .]
No caso do Brasil, o sistema eleitoral é proporcional, porém a decisão sobre o número mínimo de cadeiras no Congresso de acordo com as Unidades da Federação afeta a composição regional das bancadas. Houve uma mudança ao longo dos anos de acordo com os interesses dos governos, onde alterou-se o número mínimo de deputados por estado, aumentando o peso da representação dos estados menos populosos (benefício para as regiões Norte e Centro-Oeste).
O sistema eleitoral brasileiro é o proporcional com lista aberta, com voto pessoal único em candidatura individual. Os partidos não propõem listas, mas candidaturas individuais múltiplas, e os votos de um mesmo partido são somados para definir o quociente partidário, transferindo-se os votos que excederem o quociente eleitoral para os demais candidatos do mesmo partido. Vigente desde 1935, este formato constitui uma experiência singular, na qual as eleições proporcionais são realizadas pelo voto uninominal, havendo competição feroz entre os candidatos de um mesmo partido, típica dos sistemas majoritários. A possibilidade de transferência de votos para candidatos da mesma legenda tem sido responsável por deformações na prática brasileira da representação, frequentemente apontadas e criticadas.
Sistemas mistos -> combinação de diferentes procedimentos de conversão de votos em cadeiras, utilizando aspectos do modelo majoritário e do proporcional. Como argumento a favor, podemos dizer que esse sistema garante a representação de parlamentares eleitos em distritos uninominais, mantendo a proporcionalidade na representação partidária (sistemas mistos de superposição e de correção). 
Os diferentes sistemas eleitorais apresentam uma série de efeitos, como a fragmentação partidária (elevado número de partidos), maiorias unipartidárias (criação dos governos majoritários de um único partido, em geral associado a sistemas parlamentaristas), a desproporcionalidade entre os votos e as cadeiras e a representação das mulheres (sistema proporcional de lista aberta tendem a ser mais favoráveis à representação feminina). Sendo assim, nenhum dos sistemas é neutro ou livre de distorções, nem garante o equilíbrio perfeito. A escolha por cada um decorre do processo histórico de cada sociedade e dos grupos dominantes em dado momento da história e nos recortes territoriais.
Capítulo 5 – Estado e território no Brasil contemporâneo
Federalismo ou pacto federativo 
O pacto federativo é, por definição, um acordo de base territorial no qual grupos localizados em diferentes partes do território organizam-se em busca da harmonização entre suas demandas particulares e os interesses gerais da sociedade que eles têm por objetivo construir. Logo, tem a tarefa de preservar a diversidade, unificando e conciliando os objetivos muitas vezes opostos. Há, portanto, uma constante tensão nessepacto, cabendo aos arranjos institucionais organizar os interesses e controlar os conflitos.
O federalismo foi pensado e gradualmente elaborado como solução para definir os termos da união das ex-colônias inglesas na América, no momento da sua independência e formação do Estado americano no Século XVIII. É então originado os Estados Unidos da América a partir da confederação das treze colônias com a garantia da desconcentração espacial de uma parcela do poder político e a governabilidade democrática. 
No caso dos EUA, o sucesso da estrutura federativa apoiou-se na definição das esferas de poderes da União e dos estados, na aplicação do princípio de separação dos poderes legislativo, executivo e judiciário e na garantia dos meios para o exercício pleno das atribuições de cada uma daquelas esferas. O Congresso Nacional, por sua vez, é o órgão de expressão da vontade dos estados, ou seja, das diferentes frações socioespaciais já consolidadas no espaço norte-americano. Este pacto federativo estabeleceu uma estrutura dualista, através da qual o processo de centralização territorial do poder político, necessário a fundação do Estado, fez-se por adesão das unidades políticas, que reconheciam a soberania da União e a autonomia dos estados sobre questões previamente definidas. 
No caso do Brasil, o processo de construção de uma federação teve um movimento em sentido contrário. A República adotou a estrutura federativa como mecanismo de descentralização do poder imperial, definindo três esferas político-administrativas: a federal, a estadual e a municipal. Porém, os mecanismos do federalismo não garantiram nem a autonomia das decisões dessas esferas, nem assegurou o controle democrático da política. Neste sentido, o pacto federativo fundador do Estado republicano brasileiro permitiu, nas décadas iniciais de sua implantação, situações contraditórias, como: a) a convivência com o centralismo; b) o mandonismo local; e c) longos períodos de poder autoritário. 
Dessa forma, a história da conquista territorial deixou marcas profundas no imaginário político nacional brasileiro. A tradição unitária durante o domínio colonial e durante o Império refletiu-se fortemente na busca da unidade territorial e forjou, de certo modo, a herança de um imaginário de unidade e de identidades nacionais fundamentado na conquista territorial. 
Esta unidade territorial como fundamento da própria formação do Estado e da nação no Brasil teve consequências importantes e contraditórias. A imposição da unidade desencadeou disputas regionais de grupos que não se sentiram contemplados pela estrutura de poder no país. Ou seja, em nome da “unidade territorial”, movimentos de caráter regional foram sufocados. Paralelamente, fomentou a visão triunfante de uma unidade histórica como constitutiva de imaginário nacional, o que afetou a pouca curiosidade das ciências sociais sobre o regionalismo. Desse modo, até hoje a crença na herança colonial do “grande território que deve ser preservado como patrimônio da sociedade nacional” permanece e obscurece o papel dos atores na construção de espaços diferenciados.
Tendo em vista a perspectiva de uma identidade nacional fundada na extensão territorial, não eram valorizados os estudos sobre diferenças culturais ou identidades regionais, afinal, a extensão do território estabelecia a legitimidade da fé no destino de grande potência e a unidade linguística e religiosa fornecia as bases da legitimidade da idéia de nação, integrada ao território conquistado ao longo de uma história de alguns séculos. É possível sugerir que o peso de uma representação homogênea que os brasileiros possuem de si mesmos pode explicar os poucos estudos sobre identidades regionais, regionalismos e as diferenças territoriais.
O sistema de representação proporcional
O sistema de representação proporcional, em sua essência, reflete a composição diferenciada da sociedade mas incorpora também o território. Logo, a representação pode ser entendida de varias maneiras, cada uma delas implicando em diferentes suposições a respeito“de quem e o o que” deve ser representado. Algumas premissas devem ser estabelecidas como base da análise:
Primeira premissa: articulação das escolhas particulares associadas ao território De acordo com Edmond Burke(sec. XVIII), a representação política é representação de interesses, que são fixos, poucos, claramente definidos, na maior parte econômicos e estão associados a localidades particulares. A localidade “faz parte de” ou “participa de” tal interesse, nunca o detém. Devem ser diferenciadas também as prioridades da nação, que não se relacionam a um grupo ou localidade.
Segunda premissa: apoiada na teoria liberal dos federalistas americanos, aponta que a função do governo representativo é trazer pra dentro do Legislativo os diferentes conflitos para que eles se equilibrem e se tornem inofensivos para que prevaleça o interesse nacional. O sistema deve ainda impedir a tirania da maioria e o poder de veto da minoria com relação à defesa dos interesses individuais, corporativos ou de classe. 
“Não se pode representar cidadãos sem representar ao mesmo tempo o lugar que habitam, com suas histórias, suas atividades e suas preferências.”
Na medida em que representação verdadeiramente democrática deve garantir “impossibilidade de tirania da maioria e o poder de veto da minoria”, há debate no Brasil sobre a sub-representação de São Paulo e sobre-representação dos estados da Amazônia e do Centro-Oeste. Um problema evidente que se coloca ao sistema representativo brasileiro é o de garantir uma proporcionalidade correta em um território tão desigualmente povoado, com uma extensão territorial tão grande, com altos índices de disparidade de renda, de educação e de qualidade de vida, além de uma história politica de elitismo e de exclusão. 
sobre-representação é a situação que ocorre quando uma UF tem um número maior de representantes no Parlamento do que lhe caberia se fosse obedecida a proporção da sua população em relação à população total do país. 
sub-representação, ao contrário, é a situação em que a Unidade da Federação têm um número de representantes no Parlamento menor do que a proporção da sua população na população total do país
Problemas para a democracia brasileira: 1. Como obter proporcionalidade ideal e ao mesmo tempo controlar a tirania da maioria (Centro-Sul – economia mais rica); 2. Como garantir os direitos da minoria e ao mesmo tempo impedir fortalecimento de oligarquias históricas e seu poder de veto nas mudanças que ameaçam sua influência (áreas mais pobres).
Uma vez que o sistema proporcional vigente, tem possibilitado mudanças importantes no país, a suposição é que a heterogeneidade e os conflitos distributivos do contexto federativo brasileiro, que decorrem de uma dinâmica regional extremamente desigual, ainda dificultam o estabelecimento de mecanismos eficazes de articulação e coordenação de interesses comuns. Este problema reflete a dinâmica das transformações territoriais das últimas décadas, que têm afetado interesses de grupos historicamente dominantes. As consequências dessas mudanças são a lenta e contínua interiorização da população, a progressiva redução absoluta da população rural (e da PEA agrícola) desde a década de 70, a interiorização dos investimentos produtivos, a expansão das cidades médias, a expansão das telecomunicações etc.
O problema não está nas possíveis mazelas das desproporções do sistema representativo brasileiro, mas sim nas transformações que ele está refletindo, e mesmo propiciando. Atualmente, temos novos atores sociais e políticos em novos territórios que impõem novas demandas e se mobilizam para que estas sejam atendidas. 
Sobre a escala do município- trata-se de um recorte federativo, com importante grau de autonomia, com atribuições específicas e recursos próprios. É uma escala político-territorial por excelência, um distrito eleitoral formal para vereadores e prefeitos e informal para todas as outras eleições. É ainda o lugar do aprendizadoda democracia e da cidadania, onde as políticas públicas são executadas, onde se vota e candidatos são votados, sendo o universo municipal a expressão mais concreta das diferenças do território e da sociedade brasileira. 
Regionalismo e cultura política
O sistema representativo de base territorial permite que tanto o federalismo como os regionalismos adquiram visibilidade no arcabouço institucional e sejam incorporados às agendas politicas dos diferentes governos. 
O fundamento territorial do regionalismo encontra-se na região (dã!), sendo essa uma escala espacial que confere visibilidade e sentido a um território socialmente construído. Sua construção se faz a partir de decisões com base em racionalidades econômicas e culturais, o que permite deduzir que ela é tanto forma concreta como representação e ideologia. Enquanto representação da realidade, a região faz parte do imaginário social, mas ela é também um espaço de disputa e poder. É então contruido um conjunto de ideias e conceitos que são assimilados coletivamente como identidade, que constitui uma dimensão do regionalismo, manifestando-se como consciência regional. A permanência dos conflitos regionais evidencia a dificuldade em manifestar politicamente as diferenças regionais como questões regionais.
Uma região torna-se “questão” quando sua inserção na política e na economia nacional é conflituosa OU quando a reorganização da economia nacional se impõe sobre a economia regional, desestruturando-a. Portanto, nem toda disparidade regional resulta em uma “questão regional”. O status de questão a desloca a solução de escala, levando-a para níveis mais elevados. Neste sentido, ela deixa de ser um problema da região e dos recortes federativos ali inseridos e passa a ser um problema nacional. Ex.: Espanha e Escócia 
É preciso diferenciar este conceito de “regionalismo”, que diz respeito a mobilização política de grupos políticos dominantes de uma determinada região em defesa de interesses específicos frente a grupos políticos de outras regiões ou ao próprio Estado. É, portanto, uma forma de mobilização politica, porem motivada por interesses constituídos e organizados no território regional. Muitos destes regionalismos são expressões de questões regionais, mas eles podem ser apenas expressões de interesses regionais.
Existem duas formas de organização politica no território: aquele da administração publica, representada politicamente pelo poder central, através dos instrumentos de intervenção no espaço e aquele que resulta dos interesses que se organizam em locais específicos e que se confrontam com a tendência homogeneizadora do poder central do Estado.
As relações de poder entre as escalas local e central nem sempre são tranquilas, porém, as tensões são em geral absorvidas pelo sistema político. Muitas vezes o federalismo é usado como estratégia para reduzir estes conflitos, em outros casos, a relação entre política e território configurará um regionalismo que se produz no confronto entre interesses particulares de uma sociedade civil territorializada e os interesses gerais da sociedade política. No Brasil existem fortes regionalismos na política, porém estes se encontram mascarados pelo forte e bem construído imaginário nacional. Os principais estudos das diferenças regionais são sobre os avanços das relações de capital e produção. Porém, os interesses regionais não podem ser reduzidos a conflitos produtivos. Outro problema para o tema no país decorre das bases da sua divisão regional. O recorte federativo – estadual – muitas vezes esconde diferenças importantes para a compreensão dos espaços políticos no país. 
A cidadania como problema
A cidadania apresenta uma forte dimensão espacial e permite abordar a relação entre o território e a sociedade, o que a torna uma questão também para a geografia. Tanto os direitos como o acesso a eles emergem da relação entre território e instituições sociais e políticas que mediatizam as lógicas que presidem a diferenciação da distribuição espacial da produção de riquezas e a repartição de seus benefícios. Essas diferenças decorrem das condições institucionais inscritas no território, as quais afetam as possibilidades de exercício dos direitos. Tais condições territorialmente diferenciadas não são triviais nem decorrências diretas da logica produtiva. Sendo assim, a disponibilidade de recursos institucionais acessíveis aos espaços do cidadão é um campo de investigação que amplia perspectiva geográfica sobre a natureza dos processos que presidem o exercício dos direitos sociais e políticos.
A cidadania é constituída por um conjunto de direitos e deveres garantidos pela lei, mas que se realizam necessariamente nas práticas do cotidiano social inscritas no tempo e no espaço. Estas práticas são ancoradas no aparato institucional à disposição da sociedade através do seu território. No entanto, mesmo que a lei assegure os direitos, eles não poderão ser plenamente usufruídos sem uma forte base infra-estrutural do Estado, ou seja, é a rede institucional no território nacional que concretiza o exercício da cidadania assegurado pela lei.
Capítulo 6 – O sistema internacional contemporâneo: globalização e organizações supranacionais
A globalização como problema
Não é possível analisar o mundo sem referência ao fenômeno da globalização. De tão difundido e repetido, não é de se estranhar que o conceito nem sempre seja claro pela dificuldade de distinguir o que os componentes econômicos dos políticos, sociais e culturais.
Numa definição restrita, é possível definir a globalização como o processo que torna a extensão do planeta um espaço. Tal processo acelerou-se na década de 70 com os avanços tecnológicos aplicados à informática e às telecomunicações e a maior disponibilidade do seu uso nas muitas esferas da vida social. 
A vertente economicista tem sido a mais visível quando se trata de globalização. Tal vertente pode ser resumida em dois pólos de debate: 1. que opõem a existência ou não de uma economia global e 2. a ação ou a desaparição do Estado-nação. Na perspectiva geográfica, trata-se de visualizar as condições de surgimento de uma escala cosmopolita, global, e seus meios de interação com as tradicionais – locais, regionais, nacionais e continentais. 
Existência ou não de uma economia global (não há consenso de que ela realmente exista)
De acordo com Stephen Cohen, “a economia internacional ainda não é global”. Os mercados não são totalmente integrados, os fluxos de capital são limitados pelos regulamentos monetários e bancários, a mobilidade da mão de obra é prejudicada pelos controles da imigração e pela xenofobia e as multinacionais mantém a maior parte dos seus ativos e o centro de comando no país definido como sua ‘terra natal’. Então, esta linha de argumentação considera simplista a tese da globalização como a imposição de uma economia que submete todo o planeta e “ignora a persistência do Estado-nação e o papel importantíssimo do governo na definição da estrutura e da dinâmica da nova economia (...)”. 
Já para Castells, existe uma economia informacional “porque a produtividade e a competitividade de unidades ou agentes nessa economia (sejam empresas, regiões ou nações) dependem basicamente de sua capacidade de gerar, processar e aplicar de forma eficiente a informação baseada em conhecimento”. Ela é ainda uma economia global porque seus componentes e agentes estão organizados nesta escala. Logo, Castells é partidário da tese de que efetivamente existe uma economia global como uma nova realidade histórica, diferente de uma economia mundial “sob novas condições históricas, a produtividade é gerada e a concorrência é feita em uma rede global de interação”. 
Dimensão política essa nova economia (repolitização do capital informacional)
De acordo com Castells, há uma repolitização do capital informacional, caracterizada pela “nova forma de intervenção estatal na economia”, de maneira que “o controle do Estado sobre o tempo e o espaço vem sendo sobrepujado pelos fluxos globais de capital,de produtos, serviços, tecnologia, comunicação e informação.”
Dessa forma, há uma falta de consenso no que tange a globalização. Segundo Giddens, a idéia de globalização sugere a tese de que o mundo tornou-se único, no entanto ele acrescenta a falta de consenso sobre esse assunto, identificando dois extremos de oposição. 
De um lado estão os céticos, para os quais a economia global não é muito diferente da que existiu em períodos anteriores. Para eles, a maioria dos países obtém suas receitas muito mais das transações internas do que no comércio exterior (UE e blocos comerciais importantes). A noção de globalização seria então uma ideologia espalhada por adeptos do livre mercado que desejam demolir os sistemas de previdência social e reduzir as despesas do Estado, fazendo crer na superação de ambos pela competição entre as empresas. Esses céticos tendem a se situar na esquerda politica, sobretudo na velha esquerda, que defende a preservação do Estado nacional e sua responsabilidade sobre a proteção do trabalho e sobre as políticas do Bem-Estar.
Os radicais, ao contrário, tendem a se situar na velha direita política e afirmam não só que a globalização é real como suas consequências pode sem ser sentidas em toda parte. Para eles, o mercado global está muito mais desenvolvido do que nos anos 1960 e 1970 e é indiferente às fronteiras nacionais. As nações não são mais soberanas, e os políticos não tem mais capacidade de influenciar os acontecimentos. A Era do Estado-nação está encerrada, as nações tornaram-se ficções. Nada há a fazer contra a globalização.
Ponto de encontro entre a velha direita e a nova esquerda – A primeira afirma que todos devem se adaptar e tirar os proveitos possíveis da globalização e a segunda vislumbra os cenários de uma nova ordem social global comandados pelas redes, pelas metrópoles, pelos lugares etc.
De acordo com Giddens, nenhum dos dois compreende exatamente o que é a globalização e suas implicações mais profundas para a vida em sociedade. Ambos veem fenômenos só em termos econômicos, negligenciando os aspectos políticos, tecnológicos e culturais. Neste sentido, ele afirma que a globalização, tal como está sendo experimentada, sendo este fenômeno não só novo como também revolucionário. Desse modo, não é possível pensar o Estado-nação sem mudanças, mas ainda não surgiu outro modelo institucional que o substituísse, portanto não é possível afirmar sua superação.
Entre as forças propulsoras dessas transformações, a influência econômica é evidente (principalmente o sistema financeiro global). Entretanto, as mudanças foram moldadas pela tecnologia e pela difusão, mas também pelos governos para liberalizar e desregulamentar suas economias nacionais.
Os que perdem e os que ganham
A face mais dura das mudanças contemporâneas é percebida na dimensão econômica da globalização ou nos seus efeitos. Nesse cenário, existem os lugares que ganham (luminosos) e os que perdem (opacos) com a globalização. Enquanto os opcaos lutam para obter novas políticas distributivas, seja na escala nacional ou na global, os luminosos lutam para que essas politicas não sejam implementadas (novos ingredientes que são fermentados nos velhos regionalismos). O processo não é singular mas reúne um conjunto contraditório de processos que afetam o sistema político e o território. Cada setor das sociedades contemporâneas se apropriam dos avanços das telecomunicações para fazer avançar suas próprias condições de reprodução, seja na economia, seja na cultura, seja na política.
Rearranjos no novo cenário globalizado
O novo cenário globalizado vem impondo rearranjos nos diferentes subsistemas que compõem os sistemas sociais econômicos e políticos da atualidade. Apesar da dificuldade de classificação, será apresentado o conjunto de elementos e instituições que constituem a base material e a dinâmica decisória desse sistema.
Capital financeiro – foi o primeiro beneficiário do avanço tecnológico da microeletrônica aplicada às telecomunicações. Este é o capital que comprimiu o tempo e o espaço, que se desterritorializa e pressiona para o fim de toda e qualquer barreira representada pelas fronteiras nacionais e regulamentos de governos. 
Capital produtivo – apresenta uma evidente vinculação com o território. Para ele, o globo nunca foi tão grande e disponível. O espaço produtivo internacionalizado propicia a libertação das pesadas normas e tributos impostos pelos governos nacionais sobre as matrizes das grandes empresas, o que torna este capital cada vez mais desnacionalizado. 
A diferença entre os dois se dá em relação às restrições normativas do espaço para a sua acumulação e reprodução. Enquanto o primeiro requer o máximo de liberdade para circular (menos normas), mesmo se ele não circula no vazio, o segundo precisa de normas claras que lhe garantam o direito de propriedade, a segurança e a aquiescência às rotinas do trabalho garantida pela disciplina da mão de obra. 
Empresa – a globalização, como efeito do novo paradigma tecnológico, atua de modo dinâmico na redefinição do tamanho das empresas, nos tipos de produtos e nas parcerias. Atualmente, a competitividade das empresas globalizadas depende da capacidade inovadora, o que requer pesados investimentos em pesquisa e desenvolvimento.
Mercado – é a instituição central do processo de globalização. Uma evidencia disso é o fato do mercado ter se tornado mundial. Mesmo com os muros das fronteiras nacionais e os protecionismos, nunca tantos produtos cruzaram oceanos e continentes. É pois no mercado, e nas expectativas de consumo que ele propicia, que se materializa a globalização.
Trabalho – é o sistema mais historicamente afetado pelas mudanças nos padrões produtivos como repercussões sociais mais visíveis. As novas regras da aceleração e da competitividade exigem menos mão-de-obra, cada vez mais qualificada. 
Estado – importante instituição do sistema para a sua base infraestrutural e para a sua a sua dinâmica decisória. As instituições estatais ainda constituem interlocutores legitimados, pois, isoladamente ou em conjunto, as normas para os fluxos de capitais e mercadorias e para as alocações no território são definidas por elas.
Território – é a arena privilegiada dos conflitos e opções colocados pela globalização. Mesmo a escala mais local tem possibilidades de articulação global. As vantagens locacionais continuam sendo importantes (acessibilidade à tecnologia), mas os conteúdos mudaram e muitos lugares perderam sua posição numa hierarquia competitiva, tanto nacional como global.
O novo sistema internacional
Novas tendências contemporâneas se impõem à organização de interesses na escala internacional. As relações econômicas ocorrem em um mundo globalizado, enquanto relações políticas ainda se dão no sistema de Estados-nações. 
Existem quatro proposições sobre a transformação da ordem internacional:
Aron – faz uma tentativa de elaborar as bases teóricas das relações internacionais. Designa as relações interestatais como o centro das relações internacionais e destaca os dois personagens desta relação: o diplomata e o soldado, que simbolizam as relações entre Estados que são conduzidos à negociação e à guerra. 
 Bobbit – busca demonstrar a importância das guerras para a história da formação do Estado Moderno, do Estado-nação e para as relações internacionais. Seus argumentos fundamentam-se nas mudanças provocadas pelos avanços tecnológicos nos arsenais de guerra, que tornam insuficientes as estratégias de uma ordem internacional baseada nas soberanias do modelo de Estados-nações e na autoridade dos tratados, convenções de Estados ou instituições internacionais formais como a ONU ou a OMC.
Kennedy – destaca que a questão das diferenças entre os Estados no domínio de recursos tecnológicos ou da possibilidade financeira de acessá-los tem sido crucial ao longo da historia. Para o autor, a força relativa das principais nações no cenário mundial nunca permanece constante, principalmente em virtude da taxa de crescimento desigual entre diferentessociedades, e das inovações tecnológicas e organizacionais que proporcionam a uma sociedade maior vantagem do que a outra.
Castells – não recupera historicamente o Estado como instituição e tem como foco a crescente diversificação e fragmentação dos interesses sociais nas sociedades contemporâneas que se organizam em redes através das quais se agregam tais interesses sob a forma de identidades (re)construídas. Assim, para Castells, as múltiplas identidades submetem ao Estado-nação suas reivindicações, exigências e desafios da sociedade civil.
A lógica dos blocos regionais
Lester Thurow: “Na atmosfera de intensa competição que existirá no século XXI, todos os participantes devem se lembrar diariamente de que participam de um jogo competitivo-cooperativo, não apenas um jogo competitivo. Todos querem ganhar, mas a cooperação também é necessária para que o jogo possa ser disputado”.
O problema da defesa e da segurança
Com o fim da Guerra Fria e da ameaça nuclear, barganha utilizada pelas superpotências no mundo pós-Segunda Guerra Mundial, alterou-se completamente a lógica da defesa e a da segurança das nações. Agora não mais restrita às grandes potencias, a proliferação nuclear tornou-se um fenômeno regional e global, e reforça a importância das estratégias institucionais para evitar, controlar e normatizar as possibilidades de confrontos armados convencionais entre as nações.
No cenário atual dos conflitos internacionais outros tipos de problemas emergem. O número de conflitos internos tem ultrapassado o enfrentamento entre os Estados e duram cada vez mais tempo. Geograficamente, houve uma mudança significativa, pois os conflitos interestatais se deslocaram do centro para a periferia do sistema internacional e do Norte para o Sul, ou seja, não são mais as potências que guerreiam entre si, mas os países periféricos. 
As organizações internacionais
Embora não exista um conceito geralmente aceito de organização internacional, a definição tem dois sentidos jurídicos: um se refere à forma como está organizada a sociedade internacional, ou seja, sua estrutura de funcionamento, e outro se refere às organizações internacionais concretas, seus estatutos, objetivos e área de atuação. Estas organizações são distintas de outras, nacionais publicas ou multinacionais privadas, em diferentes aspectos. Alguns dos seus traços distintivos podem ser assim resumidos:
Caráter interestatal – uma organização internacional é uma organização de Estados e isto supõe que os órgãos mais importantes tenham uma composição intergovernamental e são integrados por representantes dos governos dos Estados membros.
Caráter voluntário – indica que essas organizações são criadas através de tratados entre Estados que possuem interesses comuns. 
As organizações devem contar com um estatuto, uma burocracia e um sistema permanente de gestão que assegure sua continuidade, o que as diferencia por exemplo, das conferencias internacionais que podem ser muito efêmeras.
A definição consensual de uma vontade autônoma que possibilita expressar uma vontade juridicamente distinta daquela dos Estados membros, em matéria de sua competência.
A definição de competência própria apenas nas matérias definidas pelo tratado instituinte, diferente daquelas dos Estados, cujas competências são abrangentes.
A constituição de um fórum de negociação e cooperação internacional permite a estas instituições alcançar o objetivo de satisfazer os interesses comuns dos Estados membros.
No debate inconcluso em termos das relações interestatais é possível aceitar:
Mesmo se a riqueza é uma condição necessária para a guerra não é possível deduzir que essa leva necessariamente a ela; 
O fato de o mundo ainda encontrar-se dividido em territórios estatais que possuem o monopólio da violência legítima e que são diferentes em relação aos recursos disponíveis, define as condições da organização do sistema internacional na atualidade;
O debate reflete as incertezas e o leque de possibilidades do confronto atual entre as forças da circulação e as iconografias, como foi estabelecido conceitualmente por Gottmann.

Continue navegando

Outros materiais