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PROFESSOR HENRIQUE NERY EMAIL: hjnery@gmail.com A concepção estrutural, ou simplesmente estruturação, também chamada de lançamento da estrutura, consiste em escolher um sistema estrutural que constitua a parte resistente do edifício. A solução estrutural adotada no projeto deve atender aos requisitos de qualidade estabelecidos nas normas técnicas, relativos à capacidade resistente, ao desempenho em serviço e à durabilidade da estrutura. Aula 1 - Professor: Henrique Nery 2 A concepção estrutural deve levar em conta a finalidade da edificação e atender, tanto quanto possível, às condições impostas pela arquitetura. O projeto arquitetônico representa, de fato, a base para a elaboração do projeto estrutural. Este deve prever o posicionamento dos elementos de forma a respeitar a distribuição dos diferentes ambientes nos diversos pavimentos. O projeto estrutural deve ainda estar em harmonia com os demais projetos, tais como: de instalações elétricas, hidráulicas, telefonia, segurança, som, televisão, ar condicionado, computador e outros, de modo a permitir a coexistência, com qualidade, de todos os sistemas. Aula 1 - Professor: Henrique Nery 3 Inúmeros são os tipos de sistemas estruturais que podem ser utilizados. Nos edifícios usuais empregam-se lajes maciças ou nervuradas, moldadas no local, pré-fabricadas ou ainda parcialmente pré-fabricadas. Em casos específicos de grandes vãos, por exemplo, pode ser aplicada protensão para melhorar o desempenho da estrutura, seja em termos de resistência, seja para controle de deformações ou de fissuração. Alternativamente, podem ser utilizadas lajes sem vigas, apoiadas diretamente sobre os pilares, com ou sem capitéis, casos em que são denominadas lajes- cogumelo, e lajes planas ou lisas, respectivamente. Aula 1 - Professor: Henrique Nery 4 A escolha do sistema estrutural depende de fatores técnicos e econômicos, dentre eles: capacidade do meio técnico para desenvolver o projeto e para executar a obra disponibilidade de materiais, mão-de-obra e equipamentos necessários para a execução. Nos casos de edifícios residenciais e comerciais, a escolha do tipo de estrutura é condicionada, essencialmente, por fatores econômicos, pois as condições técnicas para projeto e construção são de conhecimento da Engenharia de Estruturas e de Construção. Aula 1 - Professor: Henrique Nery 5 O sistema estrutural de um edifício deve ser projetado de modo que seja capaz de resistir não só às ações verticais, mas também às ações horizontais que possam provocar efeitos significativos ao longo da vida útil da construção. As ações verticais são constituídas por: peso próprio dos elementos estruturais; pesos de revestimentos e de paredes divisórias, além de outras ações permanentes; ações variáveis decorrentes da utilização, cujos valores vão depender da finalidade do edifício, e outras ações específicas, como por exemplo, o peso de equipamentos. Aula 1 - Professor: Henrique Nery 6 As ações horizontais, onde não há ocorrência de abalos sísmicos, constituem-se, basicamente, da ação do vento e do empuxo em subsolos. O percurso das ações verticais tem início nas lajes, que suportam, além de seus pesos próprios, outras ações permanentes e as ações variáveis de uso, incluindo, eventualmente, peso de paredes que se apoiem diretamente sobre elas. As lajes transmitem essas ações para as vigas, através das reações de apoio. As vigas suportam seus pesos próprios, as reações provenientes das lajes, peso de paredes e, ainda, ações de outros elementos que nelas se apoiem, como, por exemplo, as reações de apoio de outras vigas. Em geral as vigas trabalham à flexão e ao cisalhamento e transmitem as ações para os elementos verticais −pilares e paredes estruturais −através das respectivas reações. Aula 1 - Professor: Henrique Nery 7 Os pilares e as paredes estruturais recebem as reações das vigas que neles se apoiam, as quais, juntamente com o peso próprio desses elementos verticais, são transferidas para os andares inferiores e, finalmente, para o solo, através dos respectivos elementos de fundação. As ações horizontais devem igualmente ser absorvidas pela estrutura e transmitidas para o solo de fundação. No caso do vento, o caminho dessas ações tem início nas paredes externas do edifício, onde atua o vento. Aula 1 - Professor: Henrique Nery 8 Recomenda-se iniciar a localização dos pilares pelos cantos e, a partir daí, pelas áreas que geralmente são comuns a todos os pavimentos (área de elevadores e de escadas) e onde se localizam, na cobertura, a casa de máquinas e o reservatório superior. Em seguida, posicionam-se os pilares de extremidade e os internos, buscando embuti-los nas paredes ou procurando respeitar as imposições do projeto de arquitetura. Aula 1 - Professor: Henrique Nery 9 PILARES ALINHADOS – FORMANDO ESTRUTURAS APORTICADAS COM AS VIGAS Usualmente os pilares são dispostos de forma que resultem distâncias entre seus eixos da ordem de 4 m a 6 m. Distâncias muito grandes entre pilares produzem vigas com dimensões incompatíveis e acarretam maiores custos à construção (maiores seções transversais dos pilares, maiores taxas de armadura, dificuldades nas montagens da armação e das formas etc.). Por outro lado, pilares muito próximos acarretam interferência nos elementos de fundação e aumento do consumo de materiais e de mão-de-obra, afetando desfavoravelmente os custos. Aula 1 - Professor: Henrique Nery 10 A estruturação segue com o posicionamento das vigas nos diversos pavimentos. Além daquelas que ligam os pilares, formando pórticos, outras vigas podem ser necessárias, seja para dividir um painel de laje com grandes dimensões, seja para suportar uma parede divisória e evitar que ela se apoie diretamente sobre a laje. É comum, por questões estéticas e com vistas às facilidades no acabamento e ao melhor aproveitamento dos espaços, adotar larguras de vigas em função da largura das alvenarias. As alturas das vigas ficam limitadas pela necessidade de prever espaços livres para aberturas de portas e de janelas. Aula 1 - Professor: Henrique Nery 11 O pré-dimensionamento dos elementos estruturais é necessário para que se possa calcular o peso próprio da estrutura, que é a primeira parcela considerada no cálculo das ações. Aula 3 - Professor: Henrique Nery 12 Aula 3 - Professor: Henrique Nery 13 COBRIMENTO DA ARMADURA: Aula 3 - Professor: Henrique Nery 14 ALTURA ÚTIL DA LAJE: Aula 3 - Professor: Henrique Nery 15 ESPESSURA MÍNIMA: Aula 3 - Professor: Henrique Nery 16 Aula 3 - Professor: Henrique Nery 17 Aula 3 - Professor: Henrique Nery 18 Para armadura longitudinal em uma única camada, a relação entre a altura total e a altura útil é dada pela expressão: Aula 3 - Professor: Henrique Nery 19 Inicia-se o pré-dimensionamento dos pilares estimando-se sua carga, por exemplo, através do processo das áreas de influência. Este processo consiste em dividir a área total do pavimento em áreas de influência, relativas a cada pilar e, a partir daí, estimar a carga que eles irão absorver. A área de influência de cada pilar pode ser obtida dividindo-se as distâncias entre seus eixos em intervalos que variam entre 0,45le 0,55l, dependendo da posição do pilar na estrutura, conforme o seguinte critério: Aula 3 - Professor: Henrique Nery 20 0,45l: pilar de extremidade e de canto, na direção da sua menor dimensão; 0,55l: complementos dos vãos do caso anterior; 0,50l: pilar de extremidade e de canto, na direção da sua maior dimensão. No caso de edifícios com balanço, considera-se a área do balanço acrescida das respectivasáreas das lajes adjacentes, tomando-se, na direção do balanço, largura igual a 0,50l, sendo lo vão adjacente ao balanço. Aula 3 - Professor: Henrique Nery 21 Convém salientar que quanto maior for a uniformidade no alinhamento dos pilares e na distribuição dos vãos e das cargas, maior será a precisão dos resultados obtidos. Há que se salientar também que, em alguns casos, este processo pode levar a resultados muito imprecisos. Após avaliar a força nos pilares pelo processo das áreas de influência, é determinado o coeficiente de majoração da força normal (α) que leva em conta as excentricidades da carga, sendo considerados os valores: α= 1,3 →pilares internos ou de extremidade, na direção da maior dimensão; α= 1,5 →pilares de extremidade, na direção da menor dimensão; α= 1,8 →pilares de canto. Aula 3 - Professor: Henrique Nery 22 A seção abaixo do primeiro andar-tipo é estimada, então, considerando-se compressão simples com carga majorada pelo coeficiente α, utilizando-se a seguinte expressão: Aula 3 - Professor: Henrique Nery 23 A existência de caixa d’água superior, casa de máquina e outros equipamentos não pode ser ignorada no pré-dimensionamento dos pilares, devendo se estimar os carregamentos gerados por eles, os quais devem ser considerados nos pilares que os sustentam. Para as seções dos pilares inferiores, o procedimento é semelhante, devendo ser estimadas as cargas totais que esses pilares suportam. Aula 3 - Professor: Henrique Nery 24 b: 13/40 L2 L3 L4 L6 L1 h=12+4 L5 V101 V102 V103 V104V1 05 V1 06 V1 07 V1 08 V1 09 V1 10 V1 11 P2 P3 P4 P6 P11 P17 P16P15P14 P9 P8 P12 P7 P10 P5 (30/13) A A B B NE RV UR A DE A MA RR AÇ ÃO 13 117.5 12 237.5 13 352 13 382 13 152 13 13 237.5 12 237.5 13 497 13 402 13 13 34 2 13 13 60 7 13 13 30 2 13 29 2 13 13 30 2 13 29 2 13 C C Aula 3 - Professor: Henrique Nery 25 Apresenta-se a seguir um exemplo de lançamento dos elementos estruturais de um edifício residencial. Trata-se de um edifício de geometria simples em planta, de modo a exercitar todos os conceitos e recomendações apresentados até o momento. As paredes internas apresentam espessura de 15 cm e as paredes externas, de 25 cm. Deseja-se embutir todas as vigas nas alvenarias e os pilares nas alvenarias externas. Aula 3 - Professor: Henrique Nery 26 Aula 3 - Professor: Henrique Nery 27 Aula 3 - Professor: Henrique Nery 28 Aula 3 - Professor: Henrique Nery 29 Aula 3 - Professor: Henrique Nery 30 Aula 3 - Professor: Henrique Nery 31 Aula 3 - Professor: Henrique Nery 32 Aula 3 - Professor: Henrique Nery 33 Solicitações Normais Denominam-se de solicitações normais os esforços solicitantes que produzem somente tensões normais nas seções transversais das peças estruturais. Portanto, são solicitações normais o momento fletor (normal ou oblíquo) e a força normal. Uma seção de concreto armado, submetida à solicitações normais, alcança o Estado Limite Último por esmagamento do concreto comprimido ou pela deformação plástica excessiva do aço tracionado. Face à aleatoriedade no comportamento dos materiais, o estado limite último é convencional e admite-se alcançado quando: - Fibra mais comprimida do concreto: 2‰≤ εc≤ 3,5‰ - Alongamento máximo no aço:εs = 10‰. Aula 3 - Professor: Henrique Nery 34 Hipóteses de Dimensionamento A análise dos esforços resistentes de seções de vigas e pilares, submetidas às solicitações normais, no estado limite último, é feita com base nas seguintes hipóteses de cálculo: 1. As seções transversais permanecem planas após a deformação; 2. Admite-se aderência prefeita entre o aço e o concreto, de modo que, as deformações nos dois materiais sejam iguais; 3. As tensões de tração no concreto, normais à seção transversal, devem ser desprezadas, obrigatoriamente no ELU; 4. A tensão nas armaduras deve ser obtida a partir dos diagramas tensão-deformação do aço; Aula 3 - Professor: Henrique Nery 35 Hipóteses de Dimensionamento 5. Admite-se que a distribuição de tensões no concreto seja feita de acordo com o diagrama simplificado parábola-retângulo (item 8.2.10); 6. Concreto fissurado não resiste; 7. Admite-se encurtamento último do concreto: εcu = 3,5‰ (Flexão) e 2 ‰ < εcu< 3,5‰ (Compressão pura) 8. Admite-se alongamento último das armaduras: εsu = 10 ‰ ; 9. O estado limite último é caracterizado quando a distribuição das deformações na seção transversal pertencer a um dos domínios de deformação. Aula 3 - Professor: Henrique Nery 36 Aula 3 - Professor: Henrique Nery 37 Ruptura convencional por deformação plástica excessiva: − reta a: tração uniforme; − domínio 1: tração não uniforme, sem compressão; − domínio 2: flexão simples (seção subarmada) ou composta sem ruptura à compressão do concreto (εc < 3,5% e com o máximo alongamento permitido); Ruptura convencional por encurtamento limite do concreto: − domínio 3: flexão simples (seção normalmente armada) ou composta com ruptura à compressão do concreto e com escoamento do aço (εs ≥ εyd); − domínio 4: flexão simples (seção superarmada) ou composta com ruptura à compressão do concreto e aço tracionado sem escoamento (εs < εyd); − domínio 4a: flexão composta com armaduras comprimidas; − domínio 5: compressão não uniforme, sem tração; − reta b: compressão uniforme. Aula 3 - Professor: Henrique Nery 38 Domínios de Deformação - (item 17.2.2) Aula 3 - Professor: Henrique Nery 39 Domínio 1 - Tração não uniforme, sem compressão - Início - εs = 10 ‰ e εc = 10‰ (x → ∞ ; Reta a → tração uniforme) - Término - εs = 10 ‰ e εc = 0 (x1 = 0) - ELU caracterizado por εs = 10‰ - A reta de deformação gira em torno do ponto A -A seção resistente é composta pelo aço, não havendo participação do concreto que se encontra totalmente tracionado e, portanto, fissurado. Aula 3 - Professor: Henrique Nery 40 Domínio 2 - Flexão simples ou composta. - Início - εs = 10 ‰ e εc = 0 (x1 = 0) - Término - εs = 10 ‰ e εc = 3,5 ‰ (x = x2 = 0,259.d) - ELU caracterizado por εs = 10‰ ( grandes deformações ) -A reta de deformação gira em torno do ponto A -O concreto não alcança a ruptura (εc < 3,5 ‰ ) -A L.N corta a seção tranversal ( Tração e Compressão) -A seção resistente é composta pelo aço tracionado e pelo concreto comprimido. -As peças que trabalham no domínio 2 são chamadas de subarmadas. Aula 3 - Professor: Henrique Nery 41 Domínio 3 - Flexão simples (seção subarmada) ou composta. - Início - εs = 10 ‰ e εc = 3,5 ‰ (x = x2 = 0,259.d) - Término - εs = εyd e εc = 3,5 ‰ (x = x3) - ELU caracterizado por εc = 3,5‰ ( deformação de ruptura do concreto) -A reta de deformação gira em torno do ponto B -A L.N corta a seção tranversal: na froteira entre os domínios 3 e 4, sua altura (x = x3 ) é variável com o tipo de aço. -A seção resistente é composta pelo aço tracionado e pelo concreto comprimido. -A ruptura do concreto ocorre simultaneamente com o escoamento da armadura: situação ideal, pois os dois materiais atingem sua capacidade resistente máxima ( são aproveitados integralmente). -A ruína se dá com aviso ( grandes deformações). -As peças que chegam ao ELU no domínio 3 são chamadas de normalmente armadas. Aula 3 - Professor: Henrique Nery 42 Domínio 3 - Flexão simples (seção normalmente armada) ou composta. Aula 3 - Professor: Henrique Nery 43 Domínio 4a - Flexão composta com armaduras comprimidas. - Início - εs = 0 e εc = 3,5 ‰ (x = x4 = d) - Término - εs < 0 (compressão) e εc = 3,5 ‰ (x = x4a = h)- ELU caracterizado por εc = 3,5 ‰. -A reta de deformação gira em torno do ponto B. -A L.N corta a seção tranversal na região de cobrimento da armadura menos comprimida. -A seção resistente é composta pelo aço e pelo concreto comprimidos. -A ruptura é frágil, sem aviso, pois o concreto se rompe com encurtamento da armadura (não há grandes deformações no aço nem fissuração no concreto como advertência ). Aula 3 - Professor: Henrique Nery 44 Domínio 5 - Compressão não uniforme, sem tração. - Início - εs < 0 e εc = 3,5 ‰ (x = x4a = h) - Término - εs = -2 ‰ (compressão) e εc = 2 ‰ (x = x5 = +∞) Reta b → compressão uniforme - ELU caracterizado por εc = 3,5 ‰. -A reta de deformação gira em torno do ponto C, distante 3/7. h da borada mais comprimida. -A seção resistente é composta pelo aço e pelo concreto comprimidos. -Compressão simples ou composta; -A ruptura do é frágil, sem aviso, pois o concreto se rompe com encurtamento da armadura (não há grandes deformações no aço nem fissuração no concreto como advertência ). Aula 3 - Professor: Henrique Nery 45 Estádios de Flexão A seção transversal de uma viga de concreto armado submetida à flexão normal simples, passa por três níveis de deformação denominados ESTÁDIOS, que determinam o comportamento da peça até sua ruína. ESTÁDIO I (estado elástico) Características: - Concreto não fissurado na região tracionada; - O diagrama de tensões, na tração e na compressão, é linear; - O dimensionamento é feito segundo os princípios da REMA → σc = ( M/I ).y Aula 3 - Professor: Henrique Nery 46 ESTÁDIO II (estado de fissuração) Características: - Considera-se que apenas o aço passa a resistir esforços de tração; - O diagrama de tensões, na região comprimida ainda é linear; - O diagrama de tensões, na região tracionada, é não-linear; - As fissuras de tração na flexão no concreto são visíveis. Aula 3 - Professor: Henrique Nery 47 ESTÁDIO III Características: - As fissuras vão aumentando em profundidade em direção à Linha Neutra; - O diagrama de tensões, na região comprimida é não-linear; - O diagrama de tensões, na região tracionada, é não-linear; - As fissuras de tração na flexão no concreto são visíveis. Atualmente, no ELU, a peça é dimensionada no estádio III. Aula 3 - Professor: Henrique Nery 48 RESUMINDO – ESTÁDIOS DE FLEXÃO ESTÁDIO I e II – Correspondem às situações de serviço ( quando atuam as ações reais); ESTÁDIO III – Corresponde ao ELU (ações majoradas e resistências minoradas), que só ocorreria em situações extremas. O objetivo principal é projetar estruturas que resistam, de forma econômica, aos esforços sem chegar ao colapso;
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