Buscar

O Estado e os problemas contemporâneos

Prévia do material em texto

O Estado e os problemas contemporâneos 
Curso: Gestão em Saúde Pública
Atividade I
Questão 01: Explique o conceito de cidadania de Marshall e suas características. Esse conceito (e características) é aplicável de forma completa ao caso brasileiro? (valor-5pontos).
	Thomas H. Marshall demarcou, com a publicação de sua obra "Citizenship and Social Class", em 1950, as bases da discussão que ocorrerá, a partir de então, sobre a questão da cidadania. O autor divide a cidadania em três dimensões distintas e complementares entre si, quais sejam a civil, a política e a social. Tais dimensões são por ele percebidas no contexto da história britânica, na qual são consagrados os direitos civis no século XVII, os direitos políticos, no século XVIII e os direitos sociais a partir do século XIX. Os primeiros absorvem a perspectiva da liberdade individual e da igualdade formal.
	Os políticos se referem à possibilidade de participação nos negócios do governo, direta ou indiretamente. E com os direitos sociais, ancorados em uma concepção alargada de justiça, cuida-se de oferecer a todos, indistintamente, um padrão de bem-estar razoável, segundo o ponto de vista prevalecente na sociedade.
	A partir de um esquema relativamente simples, no qual as três dimensões da cidadania se sucederão mediante um desenvolvimento progressivo, linear e logicamente encadeado, Marshall evidencia que em dado contexto foi possível o reconhecimento dos direitos civis, produzindo um ambiente no qual homens livres e iguais em interação conduziram-se à reivindicação de direitos políticos.
	Liberdade individual, igualdade jurídica e participação política geraram, por seu turno, um movimento na direção de assegurar a todos um patamar adequado de dignidade e de bem-estar, sem o qual ficariam comprometidos os direitos precedentes. Observa-se que, na análise de Marshall, contextualizada sobre a experiência da Grã-Bretanha, sobressai o impulso dos direitos civis para a construção de uma sociedade político-jurídica mais igualitária.
	Exatamente por ser fixada em um contexto determinado e peculiar, a obra de Marshall oferece dificuldades de transposição para outro quadro político-social. É que poucos povos alcançaram os direitos de cidadania segundo a matriz marshalliana. Assim é que a experiência do Brasil, quando confrontada com o esquema de Marshall, revela um percurso absolutamente distinto daquele traçado pelo citado pensador [03]. Essa constatação dificulta o exame do caso brasileiro pela lente de Marshall e, por isso mesmo, impõe novas possibilidades analíticas, ainda que referenciadas por sua obra.
	Além disso, a formulação de Marshall, sendo origem do amplo debate que vem se realizando no meio-século que se lhe seguiu, tem sido visitada por diversos autores, os quais têm apontado inúmeras questões deixadas em aberto ou tratadas de maneira equivocada pelo autor. Neste campo comparecem diversos teóricos, ora a refutar a linearidade e um suposto determinismo de Marshall, ora a apresentar a questão da cidadania sob ótica mais complexa e profunda.
Questão 02: A intervenção do Estado na proteção dos indivíduos foi questionada na década dos noventa. Detalhe o tipo de reformas que foram executadas e o tipo de consequências que existiram. (valor-5pontos).
	Responsáveis por parcelas significativas do gasto público nas diversas nações – ainda que em montantes diversos, dependendo do país –, os Estados de Bem-Estar Social chegaram à década de 1990 profundamente questionados e acusados de provocarem déficits nas contas públicas, bem como de impedir o crescimento econômico. Estas convicções provocaram uma onda de Reformas do Estado, que buscavam reduzir as responsabilidades deste na proteção social, comprimindo seus gastos e deixando ao mercado a tarefa de prover, comercialmente, esquemas de proteção, tais como planos de saúde e de previdência privados, seguros de vários tipos e financiamentos imobiliários.
	As consequências destes processos foram diversas – e, novamente, distintas, em razão dos modelos de proteção existentes em cada país. Mas, indiscutivelmente, o conjunto delas resultou num aumento significativo da vulnerabilidade dos segmentos trabalhadores, em diversos países, assolados também por uma grande redução dos postos de trabalho, por causa da extensa reestruturação produtiva ocorrida na mesma época.
Questão 03: Explique o significado de descomodificação, dê um exemplo apontando quando a descomodificação se dá em um determinado regime. (valor-5pontos).
	Descomodificação da força de trabalho em diferentes níveis, onde o Estado do bem-estar Social passou a ser visto como oneroso, inflacionário, e inimigo do estado econômico. Por meio da globalização todos sofreriam e continuarias sofrendo consequências dos problemas de ordem social, entendendo-se pela diminuição dos serviços oferecidos pelo estado que ao final, gera o desemprego, portanto, o regime liberal seria o que se adaptaria ao momento político vivido pelos estados.
	Descomodificação, se dá no momento em que o indivíduo tem acesso a bens e serviços, através do Estado, de modo que não precisa comprometer sua renda para adquiri-los, e consequentemente tem aumentado o seu poder de barganha em suas negociações de emprego/renda.
Questão 04: Comente as diferenças entre programas sociais focalizados e os universalistas. (valor-5pontos). 
	Entende-se por programas sociais focalizados a eleição de um segmento específico da população como alvo de uma política ou programa social – como os mais pobres, os portadores de deficiências, os idosos, ou qualquer outro grupo delimitado segundo critérios.
	As Políticas Sociais Focalizadas têm como modelo de intervenção estatal. São fundamentadas não somente na necessidade de ajustar e tornar mais eficiente o gasto social, mas também sob o pressuposto do primado do mercado como uma maneira extrapolítica de resolver a organização social, uma forma fundada na cooperação voluntária dos indivíduos motivados pelas expectativas de obter benefícios mútuos. Substituem o regime socialdemocrático de bem-estar social, baseado em direitos sociais, na ideia de que as prestações sociais devem ser universais e que o Estado tem uma responsabilidade central no desenvolvimento e na expansão da esfera do bem-estar social enquanto esfera “desmercantilizada”.
Tem como objetivos: 
reduzir o gasto social; 
gerir eficientemente os recursos do Estado e criar uma rede de segurança social mínima para controlar a governabilidade do sistema. 
	Os destinatários são os indivíduos e/ou setores classificados como pobres estruturais. São implementadas em um contexto de "alargamento" da esfera do capital - mais mercado – e de redução da "obrigação do Estado" de garantir os direitos sociais, direitos da cidadania. São organizadas a partir de uma perspectiva financeira-contábil. Os critérios de eficiência e eficácia são aplicados na definição e na gestão das políticas sociais, alheios às suas áreas específicas ou com as necessidades e problemas próprios.
	As Políticas Focalizadas são parte da relação entre Estado, Família e Mercado para atingir o bem-estar, definida por embasamentos técnicos que orientam a construção de um mix público/privado nas áreas dos serviços sociais, reestruturando a matriz básica do público. É um enfoque que orienta a reconversão dos serviços sociais em um âmbito direto de acumulação de capital.
	As políticas universalistas têm como fundamento a igualdade entre todas as pessoas e sua premissa é atender todos (as) brasileiros (as) sem distinção alguma. Devemos reconhecer que estas políticas aumentaram o nível de renda e o acesso a serviços de grande parte da população, porém não foram capazes de superar o abismo racial e de gênero existente no país.
	Um exemplo é a política pública de ensino superior que em sua formulação oferece vagas em universidades federais, estaduais, municipais e centros tecnológicos para todos (as) brasileiros (as). Porém, quando se analisa indicadores sobre o acesso a essas vagas fica visível a dificuldade quenegros (as) e indígenas têm para se apropriar desse direito.
Referências Bibliográfica:
SANTOS, Maria Paula Gomes dos. O Estado e os problemas contemporâneos .3. ed. rev. atual. – Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília]: CAPES: UAB, 2014.

Continue navegando