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Aula 6 O golpe de 1964 e o Programa para estabilização e reforma economica (1964-67)

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Aula 6: O golpe de 1964 e o Programa para Estabilização e Reformas Econômicas (1964-67) 
Resende (1989) “Estabilização e Reformas: 1964-1967”. 
I. CONTEXTO HISTÓRICO 
A) QUADRO POLÍTICO: 
A1. NACIONAL - 1964: março, (13) Comício da Central, (19) Marcha da Família em SP, (24) 
Rebelião dos Marinheiros, (30) discurso de Jango no Automóvel Clube no Rio, (31) Gen. 
Mourão Filho marcha de Juiz de Fora para Rio; abril, (1º) Jango vai para o RGS e Gen. Costa e 
Silva proclama-se “comandante do Exercito Nacional”, (2) presidente da Câmara, Ranieri 
Mazzilli assume a presidência, (9) Ato Institucional no. 1 cassa 40 mandatos políticos e Jango 
vai para o Uruguai. 
(11 de abril 1964) Mal. Castelo Branco eleito pelo Congresso presidente; 
Junho Governo cassa JK e Congresso prorroga mandato de Castelo Branco por um ano, 
até 03/67; 
1965: janeiro, FMI crédito de US$ 125 mil.; maio, Lacerda pede a demissão de Campos e 
Bulhões e o fim do PAEG; outubro, eleições governadores: oposição, PSD, elege Negrão de 
Lima na Guanabara e Israel Pinheiro em Minas. 
Governo edita Ato Institucional no. 2 dissolvendo os partidos existentes; 
Novembro, fundação do ‘novos’ partidos: MDB (oposição) e ARENA (governo); 
Dezembro, candidatura de Mal. Costa e Silva à presidência; 
1966: fevereiro, Ato Institucional no. 3: eleição indireta de governadores; março, 
protestos em várias cidades e explosão bombas em Recife; julho, atentado contra Costa e Silva 
em Recife; outubro Congresso elege Costa e Silva presidente, governo cassa deputados e fecha 
o Congresso por 10 dias; novembro, encontro em Lisboa Lacerda e JK, criação da “Frente 
Ampla”; dezembro, presidente eleito Costa e Silva não endossa Carta de Intenções do Brasil 
com o FMI; 
1967: janeiro, promulgada Nova Constituição, incorporando a legislação de exceção 
dos Atos Institucionais; março, Costa e Silva toma posse; abril, Exercito derrota guerrilha na 
Serra do Caparaó; julho, Castelo Branco morre, acidente aéreo; setembro, FMI reunião anual 
no Rio. 
A2. MUNDIAL – 1964: agosto, após incidente Golfo de Tonkin, Congresso EUA concede 
poderes Presidente Johnson para ampliar ‘intervenção’ no Vietnã; outubro, Kruschev deposto 
na URSS; 
1965: abril, tropas Cuba (com Guevara) no Congo e EUA invadem a Rep. Dominicana, 
apoio do Brasil; agosto, distúrbios raciais Watts/Los Angeles, 35 mortos e 4.0000 prisões; 1966: 
maio, “Revolução Cultural” na China; junho, golpe militar Argentina, 4º governo militar na 
América do Sul; 1967: abril, ½ milhão de americanos protestam contra a Guerra Vietnã em NY; 
junho, Guerra Seis Dias, Israel ocupa Jerusalém e Colinas de Golan (Síria); julho, distúrbios 
raciais Detroit, 43 mortos e 1.300 prédios destruídos (134º distúrbio do ano nos EUA); 
outubro, Guevara morto na Bolívia; dezembro, EUA cerca de ½ milhão soldados no Vietnã. 
 
 
 
 
B) Quadro Econômico: 
Ano PIB Ind. Inf. B.C. C/C Div. Ext. 
 % % % US mi US mi US bil. 
1964 3,4 5,0 92,1 334,0 140,0 3,1 
1965 2,4 (4,7) 34,2 655,0 368,0 3,9 
1966 6,7 11,7 39,1 438,0 54,0 4,5 
1967 4,2 2,2 25,0 213,0 (237,0) 3,3 
1967 novembro, mudança na moeda de cruzeiro para cruzeiro novo (NCr$) = Cr$ 1.000,00. 
PAEG (Programa de Ação Econômica do Governo) - Roberto Campos (Min. 
Planejamento) e Octavio G. Bulhões (Min. Fazenda). 
PAEG e as Reformas Estruturais estão fundamentados num diagnóstico apresentado 
por R.Campos ao pres. Castelo Branco em abril 64, “A Crise Brasileira e as Diretrizes de 
Recuperação Econômica. 
 
A) DIAGNÓSTICO DA INFLAÇÃO NO BRASIL: 
EXPANSÃO DA DEMANDA AGREGADA VIA (Ortodoxo): 
1. DÉFICIT PÚBLICO (FINANCIAMENTO VIA EXPANSÃO DOS MEIOS DE PAGAMENTO) 
2. EXPANSÃO DO CRÉDITO 
3. AUMENTOS SALARIAIS ACIMA DA PRODUTIVIDADE 
 
INCONSISTENCIA DA POLÍTICA DISTRIBUTIVA (Heterodoxo): 
Dispêndio governamental superior ao poder de compra do setor privado. 2. 
incompatibilidade entre propensão consumir e investir (dada a política salarial). 
B) MEDIDAS PROPOSTAS: 
1. PROGRAMA DE AJUSTE FISCAL, com base em metas de aumento da receita (via 
aumento da arrecadação tributária e reajuste de tarifas públicas) e contenção de despesas 
governamentais; 
2. ORÇAMENTO MONETÁRIO, prevendo taxas decrescentes de expansão dos meios de 
pagamentos; 
3. CONTROLE DO CRÉDITO AO SETOR PRIVADO, limitado as taxas de expansão dos 
meios de pagamentos; 
4. MECANISMO DE CORREÇÃO SALARIAL. 
 
C) PRINCIPAIS POLÍTICAS, INSTRUMENTOS E METAS: 
1) Metas: 
1.1) Inflação: Estratégia Gradualista (heterodoxa) - 70% em 64; 25% em 65 e 10% em 
66; resultado: bem acima. 
1.2) M1 e Crédito Privado: 70% em 64; 30% em 65; 15% em 66; resultado: expansão 
real em 65 e 66. 
2) Pol. Fiscal: programa de ajuste com redução do Déficit Público (Caixa do Governo, 
conceito utilizado na época) mediante a redução dos gastos e ampliação receitas através da 
Reforma Tributária e do aumento das tarifas públicas (“inflação corretiva”), de modo a reduzir 
a pressão inflacionária e fortalecer a capacidade de poupança nacional. 
RESULTADO: 
CARGA TRIBUTÁRIA em % PIB 16% (1966) para 21% (1967) e DEFICIT PUBLICO em % 
PIB 4,2% (1963), 3,2% (1964), 1,6% (1965) e 1,1% (1966). 
3) Pol. Monetária: ‘orçamento monetário’ com taxas decrescentes expansão dos 
meios de pagamentos e restrição crédito ao setor privado, incluindo aumento das taxas de 
juros reais, em paralelo com a reestruturação do sistema financeiro nacional (fortalecendo e 
ajustando às necessidades de estímulo ao desenvolvimento), melhorando as formas de 
financiamento do déficit governamental (com o financiamento através de títulos públicos). 
RESULTADOS: i) CUSTOS DA ESTABILIZAÇÃO - hiato entre o produto observado e o 
produto potencial, medido pela linha de tendência do PIB baseada na taxa histórica de 7% ao 
ano, só foi eliminado em 1973 (10 anos depois, mesmo com 7 anos de crescimento acelerado 
no período 1968/73- Lara Resende); 
ii) FINANCIAMENTO DO DEFICIT ATRAVÉS DAS AUTORIDADES MONETÁRIAS – 85.7% 
(1963) para 13,6% (1966); 
4) Pol. de “Produtividade Social”: basicamente Política Salarial visando (na teoria) 
assegurar a participação trabalhadores nos benefícios do desenvolvimento econômico, 
permitindo sincronização do combate à inflação, do lado da demanda e dos custos, além de 
proteger a capacidade de poupança do país. Também eram enfatizadas as políticas: agrária, 
habitacional e educacional. 
5) Pol. Econômica Internacional: a) Câmbio e Comércio Exterior - diversificação fontes 
suprimento e incentivo às exportações, visando absorver capacidade ociosa e estimular 
desenvolvimento econômico, com relativo equilíbrio do BP; b) Consolidação da Dívida Externa 
e Restauração do Crédito Externo, visando aliviar pressões de curto prazo no BP; c) Política de 
Estímulo ao Ingresso de Capitais Externos e de Cooperação Técnica e Financeira com agências 
internacionais (FMI, Bco. Mundial, BID e Aliança para o Progresso). 
RESULTADO: Balanço de Pagamentos = inversão da tendência deficitária, com política 
de realismo cambial, incentivos às exportações e atração de capitais estrangeiros. Resultados 
do BP: (1963) saldo de US$ 300 mil. nos Atrasados Comerciais, (66) Reservas Externas acima de 
US$ 400 mil. 
 
REFORMAS ESTRUTURAIS E MUDANÇAS INSTITUCIONAIS DE 1964. 
1) REFORMA TRIBUTÁRIA 
1.1) Objetivos: aumento da arrecadação (via aumento da carga tributária) e 
racionalização do sistema tributário, com caráter centralizador e baseado em impostos 
indiretos (regressiva). 
1.2) Mecanismos: a) substituição do imposto sobre vendas e consignações (em 
cascata) pelo ICM (valor adicionado), b) criação e ampliação do sistema de incentivos 
(aplicações financeiras e investimentos em regiões e setores específicos), c) eliminação de 
tributos destituídos de funcionalidade (Lei do Selo), d) criação do ISS (municipal),e) eliminação 
de tributos sobre lucros ilusórios, f) aplicação da correção monetária sobre débitos em atraso, 
g) ampliação da base de incidência do IRPF, h) criação do Fundo de Participação dos Estados e 
Municípios para repasse às demais esferas de governo de parte dos impostos arrecadados a 
nível federal; 
2) REFORMA FINANCEIRA 
Objetivo: dotar o Sistema Financeiro de mecanismos de financiamento capazes de 
sustentar o processo de industrialização de forma não inflacionária, instituindo segmento 
privado de longo prazo. 
2.1) CORREÇÃO MONETÁRIA (criação da ORTN - Lei 4357/64, agosto 64) - 
neutralização da maior parte das distorções inflacionárias, através da aplicação da correção 
monetária em: Títulos Públicos e Privados; Aluguéis (Lei 4494/64); Serviços de Utilidade 
Pública; Impostos; Empréstimos a médio e longo prazo. 
2.2) Criação do BANCO NACIONAL DA HABITAÇÃO e Sistema Financeiro da Habitação 
– Sociedades de Crédito Imobiliário/Letras Hipotecárias (Lei 4380/64, agosto 64). 
2.3) Criação do BANCO CENTRAL (Lei 4595/64, dezembro 64) e do CMN (Conselho 
Monetário Nacional), em substituição à SUMOC, com funções normativas e reguladoras, além 
do desenho institucional do Sistema Financeiro (Lei 4728/65.) 
2.4) MERCADO DE CAPITAIS – desenvolvimento, através da criação de Bancos de 
Investimento, Crédito Direto ao Consumidor, FINAME, Incentivos Mercado de Ações. 
3) AMPLIAÇAO DO GRAU DE ABERTURA AO CAPITAL EXTERNO – Investimento Diretos 
(mudanças na legislação de remessas para o exterior) e Empréstimo (Resolução 63/BACEN) e 
Financiamentos (regulamentação da Lei 4131/62). 
4) FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - Lei 5107/66, setembro 66) - 
substituindo o antigo sistema de indenizações por tempo de serviço mais estabilidade - 8% das 
folhas de pagamentos como ônus do empregador, recursos a serem administrados pelo BNH 
(buscando garantir o financiamento da casa própria) 
5) POLÍTICA SALARIAL - implementada através da Circular 10/65 (julho 64) do 
Gabinete Civil, determinando a forma de reajuste para Administração Federal, recomendando 
também sua aplicação para Estados e Municípios, posteriormente, em 1966, nova regra foi 
estendida para dissídios do setor privado: i) restabelecer o salário médio real dos últimos 24 
meses; ii) sobre o salário médio real, incidir a taxa de produtividade; iii) acrescentar metade da 
inflação programada para o ano seguinte (resíduo inflacionário); iv) estabelecer o princípio da 
anualidade. 
Problema: subestimativa do resíduo inflacionário. Conseqüência: entre 1965 e 1967, 
queda do salário médio real na industria entre 10% e 15% dependendo do deflator, a 
participação na renda total dos 50% mais pobres reduziu-se de 17,7% para 14,9% e a dos 30% 
seguintes de 27,9% para 22,8%. 
 
CONCLUSÃO/AVALIAÇÃO – PAEG foi “um Programa de Governo que acentuava a importância 
da manutenção ou recuperação das taxas de crescimento da economia. O combate à inflação 
estava qualificado no sentido de não ameaçar o ritmo da atividade produtiva. A restrição do BP 
era diagnosticada como séria limitação ao crescimento. A manutenção da capacidade de 
poupança da economia é associada em todos os níveis ao sucesso na luta contra a inflação, 
deixando transparecer um diagnóstico heterodoxo que associa a inflação à poupança forçada. 
Os aspectos ortodoxos da experiência de estabilização pós-64 podem ser resumidos na política 
monetária e creditícia durante os dois primeiros trimestres de 1966 e na política fiscal de 1964 
a 1966, que elevou os impostos e reduziu as despesas do governo. É nítida, no período em 
questão, a relação entre as políticas fiscal, monetária e creditícia restritivas, principalmente 
esta última, e a desaceleração da atividade industrial.” (Lara Rezende).

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