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Processo legislativo para a elaboração de leis ordinárias- Batista

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Processo legislativo para a elaboração de leis ordinárias
Muitas pessoas confundem sanção e promulgação. Há grandes diferenças entre esses dois atos. A primeira é um acontecimento durante o curso do processo legislativo enquanto que a segunda é após o fim do mesmo. Além disso, a sanção pode ser um ato ou um fato. Será uma ato quando o Presidente sancionar expressamente o projeto de lei. Será um fato quando decorrerem os 15 dias a partir dos quais será considerada a sanção tácita do projeto de lei. 
Há um terceiro aspecto diferenciador: a sanção, seja ela um ato ou um fato, é um comportamento do Presidente da República. A promulgação, por sua vez, é um comportamento do Presidente em um primeiro momento, mas, passadas 48h, passa a ser do presidente do Senado. Passado um mesmo período de tempo, passa a ser do Vice-Presidente do Senado. O Presidente pode recusar-se a promulgar a lei alegando que ainda discorda dela. O presidente do Senado tem a mesma faculdade. O Vice-Presidente do Senado não tem escolha.
Estas foram as diferenças materiais entre a sanção e a promulgação, mas há diferenças substanciais que são mais importantes. Uma diferença mais relevante se relaciona com o caráter constitutivo da sanção. O advento da sanção altera a situação jurídica encontrada, ou seja, o que era projeto de lei passa a ser uma lei. A promulgação, por sua vez, tem natureza declaratória. A lei já existe, mas passa a ter sua existência atestada. 
Além disso, tanto a sanção, quanto o veto, representam uma resposta do executivo ao que o legislativo elaborou. A promulgação não é uma resposta ao Congresso, mas sim à sociedade. A destinatária da promulgação é a sociedade, tanto que o ato seguinte à promulgação é a publicação. A partir desse momento, essa lei se torna obrigatória. A última diferença é dedutível. Toda a lei é sancionada? Não. Há projetos de lei que são vetados, mas o veto é superado pelo Congresso. Porém, toda a lei passa pela promulgação.
Sobre a publicação, há quem diga que esta não tem conteúdo próprio. Essa linha doutrinária é liderada por Manoel Gonçalves Ferreira Filho e faz um paralelo entre a promulgação e a sentença. A sentença é um ato, sua publicação é apenas a ratificação do ato anterior. A promulgação seria o ato, a publicação é a ratificação do conteúdo da promulgação. Essa é a doutrina minoritária, mas é a corrente esposada por Berthier. A doutrina majoritária entende que a promulgação e a publicação são atos distintos.
Sobre o veto, é necessário que saibamos que ele pode ser total ou parcial. Se o veto for total, não há maiores problemas. O projeto de lei voltará para o Congresso e será apreciado novamente em uma sessão conjunta e bicameral. Porém, se o veto for parcial, o que deve ocorrer com a parte sancionada? Ela deve esperar a apreciação dos outros artigos ou deve ser promulgada e publicada imediatamente? Sobre isso, a nossa Constituição é omissa. Berthier fez uma análise de direito comparado e, como está prevista na Constituição argentina, acredita que a melhor saída seria que os dispositivos sancionados aguardassem a apreciação daqueles vetados. Porém, a doutrina majoritária acredita que a parte sancionada deve ser promulgada e publicada imediatamente. A parte vetada, se vier a ser aprovada novamente pelo Congresso, será promulgada na forma de uma nova lei.
	
Veto
	
Total
	Totalmente mantido
	_____
	
	
	Totalmente superado
	Lei
	
	
	Parcialmente superado
	Lei
	
	
Parcial
(nascerá a parte sancionada) 
	Totalmente mantido
	_____
	
	
	Totalmente superado
	Lei
	
	
	Parcialmente superado
	Lei
A partir disso, vemos que o processo legislativo não é um ato complexo desigual, mas sim um ato complexo duplamente desigual. Pode ser que as casas do Congresso discordem, gerando desigualdade entre as casas. Assim como pode haver discordância entre poderes executivo e legislativo.
Processo legislativo para a elaboração de leis complementares
Para começarmos o estudo da lei complementar, precisamos entender qual é a sua função. O texto constitucional já nos apresenta uma diferença entre o quórum para a aprovação da lei complementar em relação a uma lei ordinária. Enquanto que a primeira deve ser aprovada pela maioria absoluta dos congressistas, a segunda deve ser aprovada pela maioria relativa. A partir daí, vemos que a lei complementar tende a ser mais rígida e conservadora do que a ordinária.
 Além disso, devemos atentar para o fato de que as assembleias nacionais constituintes precisam priorizar determinadas matérias. O temas considerados mais importantes teriam um tratamento constitucional, enquanto que os outros teriam tratamento infraconstitucional. Mesmo quando determinados os temas constitucionais, vemos que há a priorização dos temas constitucionais entre si. Isso ocorre no momento da determinação das cláusulas pétreas, ou seja, no momento da determinação de quais matérias serão mutáveis por meio de emenda ou imutáveis. 
No momento dessas escolhas políticas do legislador constitucional, viu-se que muitos temas eram de maior relevância, mas não poderiam ficar no campo das leis ordinárias. O campo das leis ordinárias é marcado pela flexibilidade já que uma lei ordinária só precisa de maioria simples para ser aprovada e já que uma lei ordinária derroga outra anterior a ela. Nesse cenário, surge o instrumento da lei complementar. Exemplos de matérias que só podem ser tratadas por leis complementares estão presentes nos arts. 146 e 18. Quando a Constituição faz essa diferenciação, vemos que essa matéria, por mais que infraconstitucional, demanda uma espécie normativa mais rígida do que as leis ordinárias.
Além disso, vemos no art. 62 quais são as matérias que não podem ser objeto de medida provisória e os assuntos destinados às leis complementares são exemplos disso. Estas mesmas matérias não podem ser objeto de lei delegada, como vemos no art. 69. Existem matérias constitucionais pétreas, matérias constitucionais não pétreas, matérias paraconstitucionais e matérias infraconstitucionais. Vemos, a partir disso, que essas matérias, apesar de não serem constitucionais, são paraconstitucionais, ou seja, são próximas da constituição. Essa rigidez da lei complementar tem relevância no mundo infraconstitucional.
Se uma lei ordinária invadir matéria destinada a lei complementar, ela será inconstitucional no campo formal, mas ainda será inconstitucional. Outra questão um pouco mais contraditória se relaciona às leis complementares que extrapolam o seu campo. Inconstitucional certamente ela não é. Uma corrente doutrinária determina que essa matéria excedente se torna matéria de lei complementar. Porém, quem deve definir isso é a Constituição, não o legislador. A saída para essa questão é dar tratamento de lei ordinária à lei complementar que está fora do seu campo. Essa é o entendimento mais esposado.
Concluímos que a lei complementar, ao invadir o campo da lei ordinária, receberá tratamento de lei ordinária. O contrário, porém, não se aplica. As leis ordinárias que invadem o campo das leis complementares são inconstitucionais. Esse sistema também não se aplica em casos de recepção constitucional. Se uma matéria destinada pela Constituição de 88 às leis complementares estiver regulada por lei ordinária, ela será recepcionada. Só não haverá recepção em casos de incompatibilidade material. A incompatibilidade formal só importará se a norma a ser recepcionada for da constituição anterior. No Brasil, não existe a figura da desconstitucionalização. Esse instituto é muito adotado em outros países. Nestes, as normas das constituições anteriores passam a ter força de lei a partir da vigência da nova constituição.

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