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' .t-,..1iú-.r.di:.i:;,f rdír5,,itf-tl* )^: i-i'' ".-..-,.,. ,,;.,,:i--..:-- j , r,\ I dffi, ir Li, : r: lN u/rïe1*rií1tÍc, í .M At tn 0 ÇL ANíLAlovoç19 /- / ll ^ /lVa; -Vcv",lb, lú ^,út,t t, i IPsrÍodo irrj-"- r 11 3'-8 INTRODUÇÃO OCÂMPOEÂ.ABORDAGEM ÂÌ\I'IROPOIóGrcOS í, t,o,p t-Arn í tr,te O homem nunca parou de interrogar-se sobre si mesmo. lìm todas as sociedades existiram homens que obseryava;n homcns. I'louvo.âté alguns que eram teóricos e forjaram, como diz l.óvi-Strauss. modelos elaborados "em casa". A rcflcxão do homem sobrc o homem e sua sociedade, e a elaboração dc um sabcr são, portanto, ião antigos quanto a humanidade, c sc dcrant tanto na Ásia como na ÁÍrica, na América, na Oceania ou na Europa. Mas o projeto de fundar uma ciência do homem - uma sntrcpologie - é, ao contrário, muito rÈccnte. De íeto, Bpenos no final do século XVIII é que começa a se constituir um saber cienlÍ- lico (ou pretensâmente científico) que toma o homem como objeto de conhecimento, e não mais a naturezs; aPcnas nessa época é que o esPírito científico pènsa' pela ptimeira vez, em aplicar ao póprio homem os métodos até então utilizados na área física ou da biologia. Isso constitui um evento considerável na história do pensamenlo do homem sobre o homem. Um evento do qual talvez ainda hojc não estejamos medindo todas as conse- Eau-.È-l-cà/lÈ R$ '4 r'fJ t{ o c^MPO E ^ ^tsORD^GEM ^NTROPOIiGI@S (l(ierìcius. lìssc pensamento tinha sido até entâo mitológico, rrrtíslico, tcológico, filosófico, mas nunca científico no q.ue <lizir rcspcito ao homent em si. Trata-se, desta vez, de fazer passlr oslc últirno do cstauto de sujeito do conhecimento ao dc objcto da ciôncia. Finâlme[te, a antropologia, ou mais precisnnrcntc, o projcto antropológico que se esboça nessa dpoca nrLrito tardia na História - não podia existir o con- ccito dc homem'enquanto regiões da humanidade perÌnane- ciam inexploradas - surge em uma região muito pequena clo mundo: a Europa. Isso trará, evidentemente, como vere- mos mais adiante, conseqüênciâs importantes. l)nrn qtrc essc projeto alcance suas primeiras realiza- çòes, para que o novo saber comece a adquirir um início de legitimidade entre outras disciplinas científicas, será pre- ciso esperar a segunda metade do século XlX, durante o qual a antropologia se atribui objetos empíricos autônomos: as sociedades então ditas "primitivas", ou seja, exteriores às área.s de civilização européias ou norte-americânas. A ciên- cia, áò íenoi iui ào*o é concebida na época, süpõe uma dualidade radical entre o observador e seu objeto. Enquanto que a separação (sem a quaÌ não há experimentação possÍ- vel) entre o sujeito observante e o objcto obscrvado é obtidn na íísica (como na biologia, botânicn, ou zoologia) pcla natureza suficientemente diversa dos dois termos prcscntes, na história, pela distância no tempo que septrrÌ o historildor da sociedade estudada, ela consistirá na antropologin, ncssn épocn - c por muito tempo - em umn distílncil dcfiniti- vamente geográfica. As sociedades estudadas pelos primeiros antropólogos são sociedades longínquus às quais são atribuí- das as seguintes características: sociedades de dimensões res- tritas; que tiveram poucos contatos com os grupos vizinhos; cuja tecnologia é pouco desenvolvida em relação à nossa;.e nas quáis há uma menor especialização das atividades e funções sociais. São também qualificadas de "simples"; em conseqiiência. elas irão permitir a compreensão, como numa AP?EìIIIER ANTROPOLOGIÀ 15 situação de laboratório, da organização "complexa" rJc nos- sas próprias sociedades. lir* A antropologia acaba, portanto' de atribuir-sc um obje- to que lhe é próprio: o estúdo das populações que não per- tencem à civilização ocidental. Serão necessárias ainda algu- mas décadas para elaborar ferramentas de investigação que permitam â coletâ direta no campo das observações e infor- mações. Mas logo após ter firmado seus próprios métodos de pesquisa - no início do século XX - a antropologia percebe que o objeto empírico que tinha escolhido (as sg- ciedades ;'primitivas") está desaparecendo; pois o próprio universo dàs "selvagens" não é de forma alguma poupado pela evolução sotial. Ela se vô, portanto, confrontada a uma crise de identidade. Muito rapidamente, uma questão se co- loca, a qual, como veremos neste livro, permanece desde seu nascimento; o fim do "selvagem" ou, como diz Paul Mercier (1966), será quc n "mortc do primitivo" há de causar a mortc taqueles quc haviam sc dado como tarefa o scu estudo? A cssâ pcÍguntíl vórios tipos de resposta pu- <lcrnm c potlcnr aindtt scr clados Detcnhamo-nos em três dclcs. l) O nntropólogo accita' por assim dizet, sua morte, c volta para o ânrbito das outras ciências humanas' Ele rcsolvc a qucstão da autonomia ptoblemática de sua disci- plina rccncontrando, especialmente a sociologia,. e notada- mcntc o quc ó chumltlo <lc "sociologia conìparÍrda", 2) Ele sai em busca de uma outra área de investigação: o camponôs, este selvagem de dentro, objeto ideâl de seu estrrdo, particularmente bem adequado, já que Íoi deixado de lado ielos outros ramos das ciências do homemr l.  p€squisâ etnográfica cujo obieto peltence à mesrna sociedade-que o observaàor- foi, de inícìo, qualificada pelo nolne de lolklore' Foi Yan Gennep que elaborou os métodos próprios desse campo de estudo empe' 't' iìIÌ ' i '-'lt. .,:larrio .-. - . ..:.:,, rijidâiic <ic sua prática, rãoi.i;!,,r .,,i:.r . r Jirjcto ern1,írico constituído (o seivagem, / o_ camponôs), rnas atravós dc uma abordagem epistemoló- ì Sica constituinte. Essa é a tsrccira via que começaremos a\ esooçar nas paglnas quc sc scgucm, c quc scrá desenvolvida / no conjunto dcstc trabalho. O objcto túrico da antropole. I eia nao está ligâdo, na pcrspctiva na qual começam-os a nos situar a partir dc agorrt, { unl cspaço geogrófico, cultu_ ral ou histórico prrticuhr. lDoir n onrropologia nío é senão uÍn certo olhar, um ccrto cn[o<1uc <;uc consistc cm: ' a) o estudo do honrcnr inlcìro; lrJ o estudo do holncnr cm toíld., as scrcicdadcs, sob lodcs Bs latitudcs em lodos os scus cstüdos c cm ío</cs asépocas. ,ìr O ESTUDO DO IIOMEM TNTEIRO Só pode ser considcrada como lntropológico uma abor- dagem integrativa que objetive levar em mnsideração as múltiplas dimensões do ser humano em sociedade. Certa- mgnte, o acúmulo dos dados colhidos a partir de observa- ções diretas, bem como o aperfeiçoamento das técnicas de investigaçãô, conduzem necessariamente a uma especializâ- çõo do sober. Porém, uma daa vocações moiores de no6oa abordagem consiste em não parcelar o homem mas, ao con- trário, em tentar r€lacionar campos de investigação freqüen- temente separados- Ora, existem cinco áreas principais da antropologia, que nenhum pesquisador pode, evidentemente, dominar hoje em dia, mas às quais ele deve estar sensibili nhandosc em explorar exclusivamenle (mss de uma forrna magistral) as tradições populares con4nes.B, a disl-ôncia social e cultural quJ ""p"o oobjcto do sujeito, substituindo nesse çâ60 â distâscia 8eo8Ìáfic{ da Ârltro.pologia'exótica'. , .- ,. . qur l;È j_i ;iri:c ártas ffàntênì relaçóes d,.stt,eítas entfc::,- A antropologia biológica (designada antigamente sob o nome de antropologia física) consiste nc estudo das varia- @s dos câracteres biológicos do homem no espaço e no tempo, Sua problemática é a das relações entre o pâtrim& nio genético e o meio (geográfico, ecológim, social), ela analisa as particularidades morfológicas e fisiológicas liga- das a um meio ambiente, bem como a evolução destas par- ticularidades. O que deve, especialmente, a cultura a este patrimônio, mas tarnbém, o que esse patrimônio (que se transforma) deve à culhrra? Assim, o antropólogo biologis- ta levará em cgnsideração os fatores atlturais que influen-ciam o cerscimênto e I maturação do,indivÍduo. Ele ee per- guntará, por exemplo: por que o desenvolvimento psicomotor dn criança lfricrna é mais adiantado do que o da criança cunrpéil? lÌ.ssu partc da arìtropologia, longe de consistir apenas no cstudo dns formas dc crânios, mensurâções do esqueleto, ttnrnnlìo, pcso, cor da pele, anatomia comparada as raças c dos scxos, intcrcssa-sc em especial - desde 6s gn95 JQ -pcla gcnéticu das populoçõcs, que permite discernir o que diz rcspcito so inoto c ao adquirido, sendo que um e outro estão intcragindo continuamente. Ela tem, a meu ver, um papel particularmcnte importante a exercer para que não sejam Ìompidal oB rcloçõ€8 cntre ss pesquiras das ciênciag da vida e as das ciências humanas. A anlropologia pÉ-hìstóríca é o estudo do homem atra- vés dos vestígios materiais enterrados no solo (ossadas, mas também quaisquer marcâs da atividade humana). Seu pro-jeto, que se liga à arquealogia, rrisa reconstituir as socieda- des desaparccidas, tanto em suas técnicas e organizaÉes sociais, quanto em suas produções culturais e ârtísticas. NG. tamos gue e*;e ramo da antropologia trabalha com uma .abordagem idêntica às da antropologia histórica e da qntro- t9t8 O CAMPO E ^ ÁIORDAGEM AÌ.TROFOTóOICOS pologia social e cultural de que tratâremos mais adiante' O historiador é antes de tudo um hisloriógralo, isto é, um pesqrrisador que trabâlha a paltir do acesso direto aos lextos. O especialista em pré-história recolhe, pessoa/rrenle, objctos no solo. Ele realiza urn trabalho de campo, como o realizado na antropologia social na qual se beneÍicia de depoimentos vivos.z ,! antropolo[ia lìngüística. A linguagem é, com toda evidência, parte do patrimônio cultural de uma sociedade. É através dela que os indivíduos que compôem uma socie- dade se expressam e expressam seus valores, suas preocupa- çõcs, sor.rs pcnsaÍncntos. Apcnns o cstudo da língua permite compreender: . como os homens pensam o que vivem € o que sen- tem, isto é, suas categorias psicoafetivas e psicocognitivas (etnolingüística): r como eles expressam o universo e o social (estudo da Ìiteratura, não apenas escrita, mas também de tradição oral)i . como, finalmente, eles interpretam seus próprios saber e saber-fazer (área das chamadas etnociências). A antropologia lingúística, que é uma disciplina que se situa no encontÍo de várias outras,l não diz respeito ape- nas, e de longe. ao estudo dos dialetos (dialetologia). Ela 2. Foi notadamente graças a pesquisadores como Paul Rivet e André l-croi-Courhsn (1964) que a ! iculnção entte ss árcas d! ântropologiâ físi rn, blol(iglcr r: sdclu'cttlturrl trttrtct íttl rontpldn ntt lìtançn. M[l oonlloui sempre amcâçsds dc ÍupluÍa dcvido a um movimcnto dc erpccializaçõo Íacilmente compreensívcl. Assim, colocando-se do ponto de vista da antro_ pologia social, Edmund Leach (1980) fala da'desagradável obrigação de Íazer ménage à l.ois com os aeprcsentantes da arqueologia pr€-hislóricâ e da antropologia física', comparandoa à coabitação dos psicólogos e dos especialistâs da observação de ratos em laboratório. 3. Foi o antropólogo Edwdrd Sapir (1967) quem, além de introduzir o estudo da linguagem entre os matetiais antropológicos, começou tâmbém a mostrar que um estudo antropológico da língua (a lín8ua como objeto de pesquisa inscrevendo-se na cultura) condtrzia a um estudo lingüístico da culturo (a lingua como modelo de coohecimento da cultura). APRENDB AIITROPOIICIA sc intcrcssa também pclas imensas áreas abertas pclts trovas tócnicrs ntodcrnrts tlc comunicação (mass nreúlio c cullur;l do uudiovisull). A onlrolnlogíu psícológíca- Aos três prirnciros pólos clc pcsquisrr qttc fttrttm mcncionndos, e quc siio habittral- nÌcntc os titticos ctxtsitlcrntlos como constitutivos (oom rì onlr()pololir socinl c tt cttltttrttl, tltts tlunis falarcmos a sc- guir) tlo ctrnrpo gloltnl tltr trttlropologia, ftzcrrtos qucstiio pcssoalmcnlc tlc ttcrcsccttlnr tlln (lttinto pólo: o dl rntropo- logia psicológicn, quc coltsistc ttrt cslttrlo dos proccssos c do funcionamento do psiqrrisnlo lttttrtttttrl. I)c ftto, o nntropó- logo é em primcira instíìncir cottÍr<tlttntlo niio n conjuntos sociais, e sim a indivíduos. Otr scjl, sollÌcntc ntrÍÌvós dos comportamentos - conscicntcs c inconscicnlcs - dos scrcs humanos paÍicdlares podemos nprccntlcr css[ totrli(lIld0 scnl a qual não é antropologia. Ê n raziio Pcltl qtltÌl n tlimcnsão psicológica (e também psicopatológico) é nbsoltt(umcntc in- dissociável do campo do qual procurnnlos nqtti tlnr conta Ela é parte integrante dele' A antropolôgía socia! e cu\ural (ou elnología) nos dc' terá por muito mais tempo. Apenas nessa írel tcmos tlgttma competência, e este livro tratará esscncialmentc dcla. Àssim sendo, toda vez que utilizarmos a Partir dc ngora o tcrmo antropologia mais genericamente; estaremos nos refcrindo à antropologia social e cultural (ou etnologia), mas pro- curaremos nunca esquecer quc ela é aPenas um dos aspcctos da antropologia. Um dos aspectos cuia abrangêncin é consi- dcrdvcl, id quc diz rcspcito u ludo quc collstltul ullltt Boclc dade: seus modos de produção econômica, suaÈ técnicas, sua organizaçáo política e jurídica, seus sistemâs di Parcn' tesco, seus sistemas de conhecimento, suas crcnçÍÌs rcligio sas, sua língüa, sua Psicologia, suas criações artísticas. lsso posto, esclareçâmos desdc .iá quc a antropologin consiste menos no levantamento sistcmático tlcsscs ttspcctos do que em mostrâr a maneirâ ptrrticulÍÌr coÌÌl ÍÌ qoÍrl cslrio relacionados entre si c atravds da qtlrl aparct:t: n t:slxrifici 20 O C,\t{pO E ^ ^BORDÁcEra ÂìaTR@OLóCrG dade de uma sociedade. É precisamente esse ponto de vistada totalidade, e o fato de que o antropólogo procura com- preender, como diz lévistrauss, aquilo que os iomens .,não pensam habitualmente em fixar na pedra ou no papcl,, (nos_ sos gestos, nossas trocas simbólicas, os mcnorcs dctalhes dos nossos comportamentos), que faz dcssa abordagcm um trâta_ mento fundamentalmcntc difcrcntc dos utilizados sctorial_ mente pelos geógrafos, csonomistrìs, luristas, sociólogos, psi_ cólogos... o Es't'uDo DO OMIìM tÌM s(JA t)tv[RstD^DtÌ A antropologil nio ó n1rcnls o cslurlo tlc ttrrlo rlrrc conr_ põc uma socicdarlc. Iìla ó o cstudo dc trxlls rs so,cictlldcs hunranas (a nossa irrclusivc.), ou scjn, rlls culturus dt hunrl- nidudc conro rrm todo ctnnsults tlivcrsirlnrk:s lrlskrrir.:ls t: gcogróficas. -Visando constituir os "rn;rrivos" du lturntrrirlrtrlc crn suas diferenças significativts, clu, inicialmcrrtc privilcgiou claramente as áreas dc civilização cxtcriorcs À nossa. Mrs a antropologia não podcria scr dcfinida por um objcto cmp! rico qualquer (e, em especial, pelo tipo de sociedaJe ao qual ela a princípio se dedicou preferencialmente ou mesmo ex- clusivamente). Se seu campo de observação consistisse no estudo das sociedades preservadas do contato com o Oci- dente, ela se encontraria hoje, como já comentamos. sem obieto. . Ocorrc, porém, que se a cspecificidadc da contribuição dos antroÉlogos em relação aos outros pesquisadores em ciências humanas não pode ser confundida com a natureza 4. Os ân(ropólogos comcçâmm ã sc dcdicar âo estudo da.s socicdades industriais avançadas apcnas mui{o recenteÍncnte. Âs primeiras pesquises lrataram primeiro, como vimos, dos ãspc€Ios 'tradicionais. das socicàades 'não tradicionais' (as comunidadcs camponesãs er_rropéias), cm scguida, dos grupos margìnais. e finalmente, há alguns anos up"nas na Franç"a, do selor urbâno APRENDIF AìI:IROI'OI,oõIA 2I das primeiras sociedades estudãdas (as sociedadr:s extra€uro- péias), ela é a meu ver indissociavelmente ligada so modo de conhecimento que foi elaborado a parlìr do estudo dessas sociedades: a observação dìreta, por impregnação lenta e contínua de grupos humanos minúsculos com os quais man_ temos uma relação pessoal-Além disso, apenas a distância em relação a nossa socie- dade (mas uma distância que fazlÒm que nos tornemos ex_ tremamente próximos daquilo que é longínquo) nos permite fazer estâ descoberta: aquilo que tomáyamos por natural em nós mesmos é, de fato, culturâl; aquilo que era evidente é infinitamcnte problemático. Disso decorre a necessidade, na formação antropológica, daquilo que não hesitarei em chamar dc "cstranhamenlo" Qlepaysement), a perplexidade provo- cfl(la pclo cncorúro das culturas que são para nós as mais distllrtcs, c cujo encontro vai levar a uma modificação do ollnr ql.a sc tinha sobrc si mesmo. De fato, presos a uma tirricn crrllrrnr. sonros niro apcnas ccgos à dos outros, mas nríopcs tlullrdo sc trrÌtü (la nossa. A experiência da alteri- tlnrlc (c n cltltorlçÍo dcssn cxpcriôncia) leva-nos a ver aqr.silo(lr.rc lclì tcrÍurnos consclltritlo inraginar, dada a nossa difi- cultltrlc cnt Íixur rrosst rÌtcnçlo no quc nos é habitual, fami- linr, cotirlitno, c tluc considcrrmos "cyidcnte',. Aos poucos, notalllos (luc o tÌÌcnor dos rrossos conìporÌamcntos (gcstos, nrÍmicas, posturls, rcaçÕcs afctivas) Dão tcnÌ rcalmcntc nada de "natural". Conrcçanros, cntõo, a nos surprcendcr com aquilo que diz rcspcito a nós nrcsrnos, a nos cspiar. O co nhccirÌrcnto (nntropológico) rln nosso cul(uro l)ns$ÍÌ iucvilrì" velmente pelo conhccinrcn to.dâs outrss culturos; c dcvemos especialmente reconhecer que somos uma cultura possível entre tantas outras, mas não a única. Aquilo que, de fato, caractcriza a unidadc do homem, de que a antropologia, como já o disscmoi è voltaremos a dizer, faz tanta questão, é sua aptidão praticamente infinita para inventar modos de vida e foimàì de òrgãnização social extremamente diversos. E, a meu ver, apenas a nossa disci- ^r'llÌ:Nrn,rr ÀN tlÌ(trol,(xìl^o c^MPo *l ^ ^ÍlonD^ct';M ^N lìÌol\)l,lxll(,os plinl permitc notar. cotÌt o nÌrrior proxinli(lndc possível, que essas formas de comportlrncnto c dc vida cm sociedade que tomávamos totlí,s r:spott t tt ttctllÌì cÍì lc por inatas (nossas maneiras dc andar, tl<trrttit, tttls cncotìtrar, nos cmocionar' comemorar os cvctìtos tls lrttssil cxistOncia . ') são, na reali- dade, o produtr.r tlc cscttlhrts ctrltttrais. Otr seja, aquilo que os seres lìurniìno$ tôttt crt ctttntnt é sua capacidade para sc r[ílercncíur tttts dos tuttros, para elaborar costumes, lín- guas, nro<los rle corrhccimcnto, ilrstituições, jogos profunda- nrcntc tlivcrsos: pois se há algo nalural nessa espécie parti- ctrlar qtrc ú a espécic htrnrana. é sua aptidão à variação cullurul. O projcto antropológico consiste, portanto, no reconhe- cinrcnto. conhecimento, iuntamente com a compreensão de rrrna htrrnanidade plural. Isso supõe ao mesmo tempo a rup- ruríÌ com a figura da monotonia do duplo, do igual, do idôntico. e com a exclusão num irtedutível "alhures". As socicrlirtlcs rncis difcrenles da nossa, que consideramos espon- tlnearrrente como indifercnciadas, são na realidade tão dife' rentes entre si quanto o são da nossa. E, mais ainda, elas são para cada uma delas muito raramente homogêneas (como scria de se esperar) mas, pelo contrário, extremamente diver- sificadas, participando ao mesmo temPo de uma comum humanidade. A abordagem antropológica provoca, assim, uma ver- --dadeira revolução epistemológica, que começa por uma re- voltrçiio do olhrr. F.la implica um desccntramento rndical, ums ruptura com a idéia de que existe um "centro do mundo", e, correlativamente, uma ampliação do saberi e 5. VeÍemos quc a anlropologia supóe não âpenas esse desmembramen' to léclalemenl) do saber, que se exptessa no relativismo (de um icrn de Léíy) ou no celicismo (de um Montâigne), ligados ao questionamento da cullurâ à quÂl sc perlence. mas lambém uma novo pesquisa e vma teaotls' !ìtuição òeste saber. Mas nesse ponto coloca-se uma questãoi será que â antropologi é o discurso do Ocidente (e somente dele) sobre a alteridade? Evidentemenle, o europeu não Íoi o único â interessâr-se pelos hábilos c pelâs inslitUiçõ€s do não+uropeu. A ÌecípÍoca também é verdadeira. unÌfl rnutttçi-to tlc si lttcsttltt. Cttttlo csctcvc lìogcl lÌnrilidc em suu /rll(,,,ri.t tlr tlnlrtl (iirlr: "lì.tr sott tnil ltossÍvciri cttt nrimi nttts tttltt ltosstt rttu tcsigtlnr lÌ (ltlcrcr lll)cllllli tttrl rlclcs"'  dcscoltcrltt tlrr lllt:r'irlntlt: ó tt tlc tttttn rcltlçtttt qltr: ttot; pcrnritc tlcixlr dc itlcrrtillclr Íl()!{5tl l)c(ltlcllll lttttvítlcitt dc iruntanitlutlc coln tr lttttttltlt itltltlc, tr cttrrcltttivrttttctltc tlcixtlt' clc rcjcitnr o prcstttttitltt "sclvngcrtt" [ttrtt tk: ltt'ts tncstttos Confrontaclos à nrtrltipÌicitltrclc, a 2riori crrlgrnítitrn, tltts cttl- turas, sonìos aos poucos lcvados n l'oÌÌìl)0r colÌì n nlrttltlltllcttt comum que opera senìPrc a nflturlÌlizüçlio tlo socinl (cotno se nossos comPortamentos estivessem insi:rit<ts ctrr rtírs tlcstlc o nascimento, e não fossem adquiridos no colìtllto colÌì ll cultura na qual nascemos). A rompet igualntctttc cottt '': humanismo clásslco que também consistc nl iclcntificnçiio do suieito.o*.lt r..ao, e do cultura cont a ttr':'"ir cttltttrn De fato, a filosofia clássica (á'ntológica com São'fontÍs' re flexiva com Descartes, criticista com Kânt, históricn com Hegel), mesmo sendo Íilosofia social, bem como as grandcs reÌigiões, nunca se cleram como objetivo o de pcnsar rr tlifc- como atestam .noladâmente os relatos de viagens realizadas no Europa ãesd. u tdua" Média, por viajântes Yindos da Ásia E os índios Flathcld ã" qu"rn no, Íala Lévi'strauss eram tão curiosos do qrrr: orrvinnr rlizcr dos bran"os que lomaÍam um dia a iniciativa de organizar cxpcdições 0 tirn j. "n"ont.a-lot Poderíamos multiplicai os exemplos lsso não impcJc oue a consliluição de um saber de vocação cienlÍÍicá sobre a llleÍìdtrdt ...p.e tenhu sé desenvolvido a parlir da cultura errropéia [slâ claboro(r rrrn orienlalismo, um americonismo, lm oÍricanìsmo, unl occnrìirilÌÍ1' clì' ouüntu otrc rtuncl ouvittros Íulor rlc unt'europclsnltt' (lllc lt'llü it ,:oltill tuído como campo dc saber teórico a partir da Ásia d:r ÁÍricn orr rlrr Oceânia. lsso posto, as condições de produção hislóricrs gcogrÁÍicrrs $ocilis c cultutais da antropoÌogia conslituem um aspecto quc scrirr ri[oroÍrrrÌr(:rrl(' antianlropológico perder de visla, mts que nÃo dcvcrrr ocrrltnr n vocnçito (evidentemcnie próblemática) de nossa disciplina qtrc visrr strpcnrr l ìrrrrlrr tibilidade das cultutas. Como cs(rcve Lévi_Slrrìusr: 'NIio sc lttrttr nltttttts de elevar-se acima dos valores píóprios da socicdudc otr do grrrpo tlo observador. e sim dc scus nétoLlos da pcìtsonrc !o" é prcciso rrlcrrnçttt tttlltt formulação válida, não rp'rn; s prìr! unr otrservtrdor horÌt:sto |: ol)jl'livo' mas pâra todos os observadorcs poYsívcis'. : r.tsiyi url,;. , , , ,t';.. ìì , ilr{iLrç(}cs do rntrndo, J , ur,oamentu arrtropológico, por suo vcz, consitlcruque, assim como uma civilização adulta dcvc accitar quc seus membros se tornem adultos, ela devc igualmcntc acciìar a diversidade das culturas, também adultas.istamos, evidcn_ temente, no direito de nos perguntar como a humanidadc pôde permanécer por tanto tempo cega para consigo mesma, amputando.parte de si própria e fazenão, de tudã que não eram suas ideologias dominantes sucessivas, um objeto dc exclusão. DesconÍiemos porém do pensamento _ que seriu o cúmulo em se tratando de antropologia _ de que estumos finalmente mais "lúcidos", mais ,,consciente.',, 1nái, ..1irr".,,, mais "adultos", como acabamos de escrever, do que "- u-a época da qual seria errôneo pensar que está defi;itivamente encerrada. Pois essa transgresìão de uma das tendências de. minantes de nossa sociedade - o expansionismo ocidental sob todas as suas íormas econômicas, políticas, intelectuais - deve ser sempre retomada. O que sigìifica de forma algu- mâ que _o antropólogo esteja destinado, seja levado por ãl-gumacrise de identidade, ao adotar ípso lacto a lógica das outras sociedades e a censurar a sua. procuraremãs, pelo contrário, mostrar nesse livro que a dúvida. u ".íti"á d"si mesmo só são cientificamente fundamentadas se forem acompanhadas da interpelação crítica dos de outrem. DIFICULDADES . Se os antropólogos estão hoje convencidos de que uma das características maiores de sua prática reside no confron- to pessoal com a alteridade, isto é, conyencidos do fato deque os fenômenos sociais que estudamos são fenômenos que observamos em seres humanos, com os quais estivemos ìi_ vendo; se eles são também unânimes "* p"nru. que há uni_ dade da família humana, a família dos aìtropólógos é, por. in,.,:ii-ii.,riì.lo:, aos irrLs ioiag'is, !rJS !'ií'u{iaììiesj a s. ,ú,ijJi:rrj, e de forma geral a todos aqueles que têm o direito de saber o que verdadeiramente fazem os antropólogos) dessa unida- dc múltipla, desses materiais e dessa experiência. l) A primeira dificuldade se manifesta, como sempre, no nível das palavras. Mas ela é, também aqui, particular- rncntc rcvcladora da juventude de nossa disciplina,6 que não scndcl, como a física, uma ciência constituída, continua não tcrrdo ninda optado definitivamente pela sua própria desig- ntrçïto. Elrtologia ou antropologia? No primeiro caso (que corrcspontlc à tradigão terminológica dos Íranceses), insiste- sc srrbrc n pluraridade irredutível das etnias, isto é, das cultu- nrs, No scgundq (que é mais usado nos países anglo.saxô rricos), sobrc a unidade do gênero humano. E optando-se por rntropololiia, dcvc-sc falar (com os autores britânicos) em tu ropol<tgia sociul - cuio objeto privilegiado é o estudo dss i|lstituiça)cs - ou (com os autores americanos) de antro- polollirt cullural -- rluc consiste mais no estudo dos com- porlrnrcntos.? 6, l,c ìbrcrn(ìn (lúd n llDlropologia só começou a ser ensinada nas uni" vcrsidltlcr hí nlgrrnrlls décodas. Ns Cr6-Brclsnha a partir de 1908 (Frazer am LiycrD )l), c nr l:rnnçrt Í pôrlir dc 194J (Griaule na Sorbonne, seSuido por Lcroi.Corrrhnn). 7. Itoro ql|c o lcilor quc llõo lcnhe ncnhuma ÍamiÌiâridsde com e$er conccitos possn locÍrlizrr-sc, vnlc a pcna especificar bem o signiÍicado dclsr: pnlnvrnl, llslIbclcçrmos, como llviStrauss, que ! ctnografia, a clnologlI t r rnlropologln conrlllúcrÍ oc troa rl{)rncnloa dc uma ntclmt abordngcm. ^ dho$olia é ü colcta dircta, e o mais minr.rciosa possívcl, doo Íenômcnos qtrc obscrvrnros, por üms impreSnação duradoura e codtÍnus c um pÍo.ccsso quc sc rcnlizn pot aproximsçóes sucessivas. Esses fenômenos podcnr scr ÍccolhidoJ tonrsndcsc notas, mas lambém por 8rav6ção sonora, fotogrÍlicü ou cincnratogrÁfica. A etnologia consiste em um primeiro nível dc sbslraçõor rnnlisnnrlo os mâteriâis colhidos, íazer aparecer a lógica cspccífica dr socicdadc quc ae estuda. A onltopoloçio, Íin[lrnente, consistc em um scgundo nívcl dc inteligibilidade: construir modelos qúc pcrmitsm comparar ss sociedadcs cntrr si. Como escreve l-évi-StÈüss, 'seu objetivo é alcançar, além da imagcm conscienle e remprc difeÉnte que os homens formam dc scu devir, um invcntdrio das Possibilid&des inconscientes' que não eristem em número ilimitado'. ^I'ÊENDE? AÌÍTNOPOT'CI'io c^Mt(, Í: ^ ^rìoÍtD^cEM ^NTÍìoPoÍóCtlCOS 2) A scgunda dificuldadc <Iiz rcspeito ao grau de cien- tiIicidaclc rluc convém atribuir.r\ {Ìntropologin. O homem cstá cm condiçõcs dc cstutlar cicntiIicarnentc o homcm, isto é, turn obictcl quc é dc Ìtìcsnì nltlurcza quc o sujcito? E nossa prÍtica sc cncotìtnt novltÌtcntc rlividida entrc os quc pcnsam, com lìarlclilfc-lìrown (196tÌ), quc as socicdade são sistemrs rrclrrrrris t1r.rc rlsvcrrt scr cstutlados scgtrndo os métodos com- plovados pcllìs ci0ncirs tla natureza,s c os que pensam, com Ilvans-l)ritchard (1969), quc é preciso tratar as sociedades niìo conro sistcmas orgânicos, mas como sistenias sih-bólicos. l)iìra cslcs tiltimos, longe de ser uma "ciência natural da socicdadc" ( lìadclifÍe-Brown), a antropologia deve antes ser considerada como rma "ârte" (Evans-Pritchard). l, Unìa terceira dificuldade provém da relação ambígua que a antropologia mantóm desde sua gênese com a História. Estreitamente vinculadas nos séculos XVIII e XIX, as duas práticas vão rapidamente se emançipar uma da outra no século XX, procurando ao mesmo tempo se reencontrar pe- riodicamente. As rupturas maniÍestas se devem essencialmente a ântropólogos. Evans-Pritchard: "O conhecimento da his- tória das sociedades não é de nenhuma utilidade quando se procura compreender o funcionamento das instituições". lvíais categórico ainda, Leach escreve: "4 geração de antro- pólogos à qual pertenço tira seu orgulho de sempre ter-se recusado a tomar a História em consideração". Convém também lembrar aqui a dislinção agora famosa de Lévi. Struuss opondo us "socicdutlcs frias", isto é, "próximas <1o grau zero dc temperatura histórica", que são menos "socie- 8. Ao nrotlclo orgônico dos Íuncionalistas inglescs, Lévi-strauss subsli- tuiu, como vercmos, um modelo lingüístico, e mostroü que trabalhando no ponto dc encontro da natureza (o inslo) e da cultura (tudo o que não é hcícditariâmente progrrrmado e deve ser inventado pelos homens onde s nature2s nõo programou nada), a ôntropologis deve aspirar a tornar,se úma ciência nqtursl: 'A entropologia pertence às ciênciâs humanÂs, seu nome o proclama suficienteÍÌren(ci müs sc se Ìesigna cm fazer seu purgalótio .ntrc âs ciêncìüs sociris, é poÍqúe nõo desespera dc despcrtar cn(re es ciências narurâis na horo do julSâmenlo finol' (Lévi-Strauss, l97j). dades sem história", do que "socieCades quo não qucrcrrì tcr estórias" (únicos objetos da antropologia clássicâ) I nossÍìs pràfrias .o"iedrdes qualificadas de "sociedades qucntcs" Essa preocupação de separação entre as abordagcns histórica e antroiológica está longe, como veremos' dc scr unani-., e a hiiterià recente da ãntroPologia testem-unhâ iu.bet'ut deseio de coabitação entre as duas disciplinas' Aqui, no Nordeste do Brasil, onde começo a escrever este livìo, desde 1933, um âutor como Gilberto Freyre' empe- "nr"ã"-t. em comPreender a formação da sociedade brasi- ilira, mosnou o pioveito que a antropologia podia tirar do conhecimento histórico. 4) Uma quarta dificuldade provóm- do fato de que nossa orática oscila sem parar, e isso desde seu nascimento' 1.i,. I p*q"it"'que se pode qualificar de fundamental,e aquilo que é designado sob o termo de "antropologla aPlr- cada". Começaremos examinando o segundo termo da-alter- nativa aqui colocada e que continua dìvidindo Profunda- *an," or'patquitàores. Durkheim considerava que a socio- lãgia não'valeria sequeÌ uma hora de dedicação se ela não puï.rt" t., útil, e múitos antropólogos compartilham sua opi- nião. Murgu.", Mead, por exemplo, estudando o.comPorta- mento do; adolescentes das ilhas Samoa (1969)' pensava que seus estudos deveriam permitir a instauÍação de uma J;.1.da1. melhor, e, mais ãspecificamente a aplicação- de um0 pedâgogi0 mcnos ÍrustrBntc à sociedade americana Ho;c ;;;i"; ;"Ëg;t nossos consideram que B 'ntropologi' dcvc .oio"ur-..';a serviço da revolução" (segundo especialmcntc i"un Copunt, 1975i. o pesquisador torna-se' entío' unì nìi- íii""ti it. ;'antropólogo Ìevolucionário" ' contribttindo nrr construção de uma "antropologia da libe*ação" Ntttttcxtsos "".ìuiràao..t ainda reivindicam a qullidude dc cspccialisttrs' ã.-Ëo"t.f ft";-., participando em esPccirl dos prollrnrttls tlc desenvolvimento e das dccisõcs polÍlìcns rcltrcionacltrs À r:ln úãruiao a"tt". programas QtlerÍrnros sinr plcstrtc tt lc obrt:tvrtt o cÁl!Ípo E ^ À!o&D^cEd ^ì{TROpOIóCÌCqS A??EIIDEE Àì.TROPOLOCTA aqui que a "antropologia aplicada"e não é uma grande novi- dade. É por ela que, com a colonização, a antro]rologia teve início.ro Foi com ela, inclusive, quc se dcu o início da Antro pologia, durantea colonização. No cxtrcmo oposto das eti_ tudes "engajadas" das quais acabamos dc falar, encontrâmos a posiçâo determinada dc um Claude Lévi-strauss quc, após tcr lembrado quc o sabcr cicntífico sobrc o homcm ainda se encontrava num cstígio cxtrcnì{Ìtncntc primitivo em rclação ao sabcr sobrc u nattrrczrr. cscrcvc: "Suporrdo (luc nossus ci0rrcirrs trnr dil possnrn scr colocarlns n scrviço du rrçiìo príticu, clas nÍo tênr, no momcnto, rrrdn ou rlrrusc rntln t oÍcrcccr. O vcrdurlciro mcio dc pcrnrilir sua cxistêtrciu, é dnr ntrrito rr clts, nrnr sobrctudo nÍo lhcs pcdir.nudu". . . Á.s dual stitudcs quc ìubu,nu" dc cittr .,. lì rntropo- logi:i "pura" ou a antropologia .,diluÍdu,' como <_liz aindn Lévi-Strauss - encontram na rcalidadc suas primciras for- mulações desde os primórdios da confrontaçãà do curopcu com o "selvagem". Desde o século XVI, de fato, começa a se implantar aquilo o que alguns chamariam de ..arquétiios,, do.discurso etnológico, que podem ser ilustrados pela. po_ sições respectivas de um fean de Lery e de um Sahalln. Jeande Lery foi um huguenote* francês que pe.*un""Ju alium tempo no Brasil entre os Tupinambás. Longe de procurar con- vcnccÌ-scus hóspcdcs dn supcrioridadc ds culturu curopéis e da religião reformada, ele os interroga e, sobretudo, se inter_ roga. Sahagun foi um franciscano espanhol que alguns anos mais tarde realizou uma verdadeira investigação nã Mé*i*. 9. Sobre a antropologiâ aplicada, cf. R. Bâstide, 197t, 10. A mâioriâ dos entropólogos ingleses, especialmente, reslizou susspesquisss a pedido dss âdministrações: Os Níers de Evans-pritchard fo.am encomcndados pelo govemo brÍânico, Fodes estüdou os Tallensi a pedidodo govetno dâ Costs do Ouro. Nadel foi conselheiro ao gor"Ào ão Sudão, etc. . PÍg(estante. íN.T.) Perfeitamente à vontade entre os astecas, ele estava lá en- quanto missionário a fim de converter a População que es- tuda.rl O fato da diversidade das ideologias suc€ssivamente defendidas (a converúo religiosa, ã "revolução", a ajuda ao "Terceiro Mundo", as estratégias daquilo que é hoie cha- mado "desenvolvimento" ou ainda "mudança social") não altera nada quanto ao âmago do Problema, que é o seguinte: o antropólogo deve contribuir, enquanto antropólogo, para n transÍormBção das sociedades que ele estuda? litr rcsponderia, no que me diz respeito, da seguinte forma: nossa abordagem, que consiste antes em nos sufpre' cntlcr con aquilo que nos é mais lamiliar (aquilo que vive- nros co(idiannnrürtc na sociedade na qual nâscemos) e €m toÍrror rnsis fanriliar rquilo que nos é estranho (os compor' tonrcÍllos. u$ cnctìços, os costúmes das sociedades que não sÍo ns nossns, nras nus quais poderíamos ter nascido), está tlirclurncntc confrontuda hojc a um movimento de homoge- rrcizrçrìo, ro nlcu vcr, scm PÍcccdcnte na História: o desen- volvirucuto dc untu forma dc cultura industrial-urbana e de unru Íormu dc pnsanrcnto quc é a do racionalismo social' liu pudc, no tlccorrcr dc minhas estadias sucessivas entre os llcrÍrcrcs tlo Múdio Âtlas c cntre os Baulés da Costa do MrrrÍirn, pclccbcr rcalntcnlc o fascínio que exerce este mo- dclo, pcrtrrrbando complctamcnte os modos de vida (a ma- rrcira,lc ec alirncntâr, de se vestir, de se distrair, de se en- contror, dc pcttEüru c lcvtndo a novos comportamentos que não dccorrcm tlc trma cscolha). ll. Esstr duplo abortlagcm da rclãçâo ao ouiro pode muito bem..ser rcalizsds por um irnico Pcsquisador. Assim Malinowski chcgando às ilhas TrobriÍÌnd' (lÍÍd- Í.anc-, tc6J) rc deixa litcralmente levar p€la cultuta que dcscobrc c qüc o cncrnlã. Mtrs vário6 anos dcpois (trtrd_ Írsnc'' 1968) participn do quc cho-o'uma cxPcriência controlada' do descnvolvirneÍlto' ' tZ'. As -utoçõ.. d. comportamcntos geradas por cssa Íorma de civili_ zrrcão mundialisla podcm ramMm evidenlemenle s€Í encontradas nas no6sa5 .io.ius cultutas nrmis e utbanas. Em comPcnssção' pareccrn-mc bastanle iru.u, "q,ri, no Nordeóle do Brasil' onde coÍnf r r€di8ir estc livio' ì l0 o c^MFo E Á ^aoRD^cEM rtNTROnOlóCIG A questão que está hoje colocadâ para qualquer antro- pólogo é a seguinte: há uma possibilidade em minha socie- dade (qualquer que seia) permitindo-lhe o acesso a um está- gio de sociedade industrial (ou pós-industrial) sem conflito dramático, sem risco de despersonalização? Minha convicção é de que o antropólogo, para aiudar os atores sociais á responder a essa qucstão, não deve, pelo menos enquanto antropólogo, trnbalhar para a transformação das sociedades que estuda. Caso contrório, seria conveniente, de fato, que se conveÌtcssc enì economists, agrônomo, mé- dico, político. a nio scr quc clc ncja motivndo por nlguma concepção messiânict tJn unlroJxtlogin. Âuxilinr uml dctcr- minada ctrltura nn cxplicitnçiio p0nì clI mcsnìrt dc sun pró- pria diferença C umn coisn; orgnrriznr JxrlÍticl, cconônricn c socialmente a cvoluçuo dcssn difcrcnçt d umn outrfl coist. Ou sejo, a participnçõo do lntroyúlogo nuquilo quc é holc a vanguarda do uni icolonillisruo c dn lutn porr os diÍcltos humanos e das minorias étnicts é, tr mcu vcr, unltt consc- qiiência de nossa proÍissío, mos nío é a nossa profissõo propriamentc ditl. Somos, por outro lndo, diretamente confrontados a uma dupla urgência ì qunl tcmos o dever de responder. a) Urgência de preservação dos patrímônios cuhurais locaís ameaçados (e a respeito disso a etnologia está desde o seu nascimento lutando contra o tempo pore que e tr8ns. criçâo dos arquivos orais e visuais possa ser realizada a tempo, enquanto os últimos depositários das tradiFes ainda estão vivos) e, sobretudo, de restitiição aos habitantes das diversas regiões nas quais trabalhamos, de seu próprio saber e saber-fazer. Isso supõe uma ruptura com a concepção assi- métrica da pesquisa, baseada na captação de informa@s.' Não há, de fato, antropologia sem tÍoca, isto é, sem itine- rário no decorÌer do qual as partes envolvidas chegam a se ^PRE'I{DE r ^NTÍÌOÍ{J!,OõI^ ll convencer reciProcâmente da necessidade dc trão dcixar se perrler formas de pensamento e atividade únicas' b) ur&ência de análíse das mutações culturais impostas pelo desenvolvimento extÍemamente rápido cie lodas as so- "i"d"d"a "ontarnporâneas, que não são mais "sociedades tra- dicionais", e sim sociedades que estão passando por um de- senvolvimento tecnológico absolutamente inédito, por muta' ções de suas relações sociais, por movimentos de migração interna, e por um processo de urbanização acelerado' Através da especifìcidade de sua abordagem, nossa disciplina dwe' não fàrnccer rcsPostas no lugar dos interessados, e sim for- nrulrr tlttcstõcs com "les' elaborar com eles uma reflexão rncional (c niio ntuis mágica) sobre os problemas colocldgs rrcln crisc nttrntlinJ - tluc é lambém ttma crise de identidade ' ,,rt ,titt,ln :,,,1,í, ,, piurnristtto cttltttral, isto é' o cncontro dc lÍnguls, técnicns, tncntulidodcs' Dtrr suma, a pcsquisa an- tropolãgicn, qtrc niit.r ó dc fornttr llgttmtt, conro Podemos noiur, untu uiiui,tucl, tls luxo' scm lluncs sc srtbstituir aos nroictos c às dccisões rlos próprios llorcs socinis' tcnr hojc .o-o "o.oção -ìo, o de propor não soluçõcs mas instnt- mentos de investigação que poderão scr utilizâdos em espe- cial para reâgir ao choque da aculturâção, isto é' ao risco de um desenvolvimento conflituoso levando à violôncia ne- gadora das particularidades econômicas' sociais, culturais dc um povo. 5) Uma quinta dificuldade diz respeito, finalmente'.à n0turczn dcsl8 obra que dcve apr€sent0r, em um número de páginas reduzido, um camPo de pesquisa imenso' cuio dcscn' tol-"i-.nto recente é extremamente especializado' No final do século XlX, um único pesquisador podia, no limite' do- minar o campo global da antropologia (Boas fez pesquisas em antropoloÈia social, cultural, lingüística, pré-histórica' e também mais recentemente o caso deKtôeber, provavel- mente o último antropólogo que explorou uma áÌea tão extensa). Não é' evidentemente, o câso hoje em dia. O antroPólogo considera aSora - com razão - que I I Ì i t ì I I I l, , t, ír^14fit Í ^ ^ttrllrürltra lNTlú,ttÌrlcl(tÌt d co tlxllflnlc rl)cltxi (l(ìlllto (lc utrrrr IrrrlItln (lli(.llll it I I,Ir.ll llltÌll lÍrcfl TrroÍ\:)rrrlt^ i Eu qucria finalmcnte acrcsccntar quc cste livro dirigc-se ao mais amplo público possÍvcl. Niio àquclcs que tôm por profissão a antropologiu - tluvido quc cncontrcm nclc um grande interesse - mÍìs n totlos <;r.rc, crn algum nìonìcnto de sua vida (profissional, nrns tnnrbónr pcssonl), possnm scr levados a utilizat o modo dc conhccirncnto tÍo csroclcrÍstico da antropologia. Esta é a rszão pcla qunl, cntrq o inconvc- niente de utilizar uma linguagcnr técniclr 0 o tlc rdotar uma linguagem menos especializada, optei voluntnriamcntc pela segunda. Pois a antropologia, quc ó a ciência do homcm por excelência, pertence a todo o mundo. Ela diz rcspcito a todos nós. Írcfl rcstritr tt dc suu gcogrdÍicn dclinritadn. llrl rrrn lrorlrrrrlo irrrlxrssÍvcl, dcntro rlc rrnr lcxto dc di-Itrllôorn lilo tcnltllllt, (lflt conlll, rÌlcsmo dc unra fornra par-tlrrl, tl, ,lc*rrr:c r rln rirl'r:zrr dos cnlnpos "b"rto* p;ì;;nï;;p()krglrr. Mrrllo rrr1lirr rrr0dcslÌrrrclllc, lcntci colocar um certo rrrirrrcro rlc rcÍcr0nciln, dt:íinir nlguns conccitos " p"rti;;;; rlrrris o lcitor lxxlcrí, cspcnr, intcrcssar_sc em ir msis adiante. Vcr-tò"rÍ quc cstc livro cnminha em espiral. As preocu-p1çix-s rluc cstiio no ccntro dc qualquer "Uo.a"g"a ".rtãpológicÍr c quc acnbom db scr mencionadas serão -retomadas, mrs tlc divcrsos pontos de vista- Eu lembraÍ€i ern prineiro logar quais -foram as principais etapas da constituição denossn disciplina e como, através dessa história da "ntropo_logia, foram sc colocando grogressivamente as questões oue contin-uam nos interessando até hoje. Em seguidì, esboça;i os pólos teóricos - a meu ver cinco _ em volta dos quais oscilam o pensamento e a prática antropológica. feria 'sido, de Íato, surpreendente, se, procurando Ja, conta da plurari- dade, a antropologia permanecesse monolítica. ela g ao con- trário claramente plural- Veremos no decorrer deste livroque existem perspectivas mmplementares, mas também rnu_ tuamente exclusivas, entre as quais é precirc escolher. E, em vez de Íingir ter adotado o ponto de "i.t" d" Si;ur,,.'u."de pretender uma neutralidade, que nas ciências humanas é um engodo, esforçando-me ao mcsmo tcmpo p8rü apÌescntsr com- o máximo de objetividade o p€nsamen(o àos outros, não dissimu.larei as minhas púprias opçõcs. Finalmente, em umaúltima parte, os principais eixos anteÍiorÍnente examinados serão, em um movimento por assim dizer rctÍoativo, reava_ llados com o objetivo de deÍinir aquilo que constitui, I meu ver, a especificidade da anhopologia. lJ..A -€ntÌopologia d€s técDicss, s antlopologis econômica, polÍtic_a, a :ll::p"t:FT do p€rÊnr€sco, das organizações "".aa,, , "ri,.Ëïüir-JriÍro5€. arlis(ice. a antropologis dos sistcmas dc comunic{fF.s..'.
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