Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 A empresa e as obrigações cambiárias • NOÇÕES HISTÓRICAS • Os títulos de crédito surgiram nas épocas medievais. Cada cidade (feudo) possuía tudo para manter sua estrutura básica, inclusive moedas. • O crédito era considerado tão importante que, no início, o credor poderia, até mesmo, condenar o devedor à morte. 2 • Mais tarde, principalmente no Egito, continua a importância do pagamento das dívidas, só que o devedor era transformado em escravo. • Posteriormente, já na Idade Média, o crédito passa a ser pago através das propriedades. No início, o credor poderia tomar posse de todos os bens que quisesse do devedor, indiscriminadamente. • Atualmente, a contrapartida é mais justa, mas ainda há muito o que mudar. 3 • Voltando à Época Medieval: como cada feudo possuía a própria moeda, cada vez que os mercadores entravam nas cidades precisavam fazer o câmbio. • As pessoas já acostumadas com as mercadorias trazidas dos outros lugares pelos mercadores exigem o retorno do comércio e, assim, foi criada uma sociedade para fazer o câmbio para os comerciantes, ou seja, os BANQUEIROS. 4 • Os banqueiros inventaram um papel chamado de lettera di cambium e cada vez que os mercadores entravam em um feudo eles trocavam a lettera pela moeda local e, ao saírem, faziam o procedimento inverso. • Esse tipo de título que era usado, se parece mais com a atual nota promissória do que propriamente com a letra de câmbio. 5 • LETRA DE CÂMBIO - é uma ordem de pagamento. • NOTA PROMISSÓRIA - teve suas origens nos romanos e desenvolveu-se através dos gregos que tinham os chirographos, que eram uma casta especial, pois sabiam ler e escrever (o que não era comum na época) e tinham a permissão de emitir as notas promissórias - eram simples obrigações de dívidas formuladas por escrito. • CHEQUE - teve suas origens na Idade Média. 6 • CONCEITO • “Título de Crédito é o documento necessário para o exercício de um direito literal e autônomo, nele contido”. (Césare Vivante in Trattado di Dirritto Commerciale - Milão - 1812. • DOCUMENTO - é representado por um papel que era chamado de cartula - logo, é através da cartularidade que é possível exercer esse direito. 7 • NECESSÁRIO - é obrigatória a apresentação do documento para que o direito possa ser exercido. • LITERAL - tem que estar escrito no documento. Literalidade = vale o que está escrito. • AUTÔNOMO - não está vinculado a nada, ou seja, as obrigações nele contidas são independentes entre si. • NELE CONTIDO - o direito literal é que está contido no título de crédito. 8 • PRINCÍPIOS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO: • O título de crédito que possui todas as características é considerado um título perfeito e são a Letra de câmbio e a nota promissória. • a) Literalidade - é a subordinação do Direito ao teor específico do título - vale o que está escrito - deve estar expresso em moeda nacional, a não ser que tenha se originado de uma exportação (é um requisito do título de crédito). 9 • DUPLICATA - é especialíssima para o Direito brasileiro, pois é criação nossa e surge com o art. 219 do Código Comercial brasileiro. • Existem outros títulos de crédito: os títulos de crédito chamados impróprios, entre eles o warrant, o conhecimento de frete, ações, debêntures, etc. O nosso estudo se baseará nos títulos cambiariformes ou próprios (Letra de Câmbio, Nota Promissória, Duplicata e Cheque). 10 • b) Autonomia - significa que as obrigações cambiais são autônomas e independentes uma da outra - se divide em dois subprincípios: • b.1) abstração - significa que o título, uma vez endossado, liberta-se da causa que lhe deu origem. • b.2) inoponibilidade das exceções aos terceiros de boa fé - não posso propor nenhuma defesa contra o pagamento, ao portador de boa-fé, do título. 11 • c) Cartularidade - é a necessidade de apresentar o título para exercer o Direito Cambial (= documento necessário). 3. CLASSIFICAÇÃO • A classificação dos títulos de crédito se faz através de quatro princípios: 3.1) Quanto ao modelo: 12 • a) LIVRE - a forma não precisa observar um padrão normativamente estabelecido, ou seja, pode-se elaborar um título de crédito até mesmo em casa - ex.: nota promissória e letra de câmbio. • b) VINCULADO - o direito definiu um padrão para o preenchimento dos requisitos específicos de cada um - ex.: duplicata mercantil (nasce de uma compra e venda a prazo ou da prestação de um serviço, logo, está vinculada à nota fiscal) e cheque (uniformes, atendendo às normas de formatação do BACEN). 13 • 3.2) Quanto à estrutura: a) ORDEM DE PAGAMENTO - o saque cambial dá nascimento a três situações distintas: a de quem dá a ordem, a do destinatário da ordem de pagamento e ao beneficiário - ex.: letra de câmbio, cheque, duplicata mercantil. 14 b) PROMESSA DE PAGAMENTO - onde apenas duas situações jurídicas emergem do saque cambial: a de quem promete pagar e ao beneficiário da promessa - ex.: nota promissória. 3.3) Quanto às hipóteses de emissão (quanto à natureza dos direitos incorporados nos títulos): 15 • a) CAUSAIS - possuem causa necessária, isto é, só existem em função de um determinado negócio fundamental e esse negócio especial influencia a sua existência; sendo assim, os documentos trazem, nas declarações literais que contêm, referência ao negócio - são os títulos que somente podem ser emitidos se ocorrer o fato que a lei elegeu como causa possível para sua emissão - ex.: duplicatas, warrant, conhecimento de frete. 16 b) NÃO CAUSAIS ou ABSTRATOS - são aqueles em que os direitos incorporados no título não se ligam ou dependem do negócio que deu lugar ao nascimento do título - assim, ao portador ou qualquer obrigado não é permitido inquirir a causa do título, já que esse vale por si mesmo - podem ser criados por qualquer causa, para representar obrigação de qualquer natureza no momento do saque - ex.: letra de câmbio, nota promissória, cheque. • 17 3.4) Quanto à forma de circulação • Em relação ao ato jurídico que opera a transferência da titularidade do crédito representado pela cartula, os títulos circulam: 18 a) AO PORTADOR - são aqueles em que não é expressamente mencionado o nome do beneficiário da prestação - nessas condições, será considerada titular dos direitos incorporados no documento a pessoa que com ele se apresentar (transmissível por mera tradição). 19 • b) NOMINATIVOS - são os títulos cuja circulação se faz mediante um termo de cessão ou de transferência - esses títulos trazem , sempre, o nome da pessoa indicada como beneficiária da prestação a ser realizada. • c) À ORDEM - em tal caso, eles trazem os nomes dos beneficiários e, contendo a cláusula esclarecedora de que o direito à prestação pode ser transferido pelo beneficiário à outra pessoa - circulam mediante tradição - ex.: Pague ao Sr. F., ou à sua ordem, ...). 20 • d) NÃO À ORDEM - a clausula não à ordem retira do título uma das suas principais funções (a livre circulação), fazendo com que o crédito não seja facilmente usado pela circulação através de endosso - entretanto, o título não à ordem também pode circular, através de uma cessão, que requer um termo de transferência, assinado pelo cedente e pelo cessionário - 21 - como conseqüência da cessão, o cedente se obriga apenas com o cessionário, não em relação aos posteriores possuidores do título - circulam mediante a tradição acompanhada da cessão civil de crédito. 22 • LETRA DE CÂMBIO 1. Conceito • Entende-se por Letra de Câmbio uma ordem dada, por escrito, auma pessoa, para que pague a um beneficiário indicado, ou à ordem deste, uma determinada importância em dinheiro. 23 • A letra de câmbio é um título de crédito, dotado de literalidade e de autonomia das obrigações. Desempenha importantíssima função econômica pela ampla utilização do crédito que proporciona. 2. Diplomas legais que regulam a Letra de Câmbio, vigentes no Brasil: Decreto 2.044/1908 nas partes não derrogadas; • Decreto 57.663/1966 que introduziu no Direito brasileiro a Lei Uniforme da Convenção de Genebra de 7/06/1930, constante do Anexo I, excetuados alguns artigos do Anexo II. 24 • Tanto a lei brasileira n. 2.044, como a Lei Uniforme tratam da Letra de Câmbio e da Nota promissória - são esses títulos diferentes, se bem que tenham muitos princípios em comum - dada a existência de tais princípios, a letra de câmbio e a nota promissória são chamadas de títulos cambiários ou, simplesmente, cambiais. 25 3. Figuras intervenientes • Na letra de câmbio os intervenientes possuem, no título, funções diversas: • 3.1) SACADOR, SUBSCRITOR ou EMITENTE - é aquele que dá a ordem, aquele que cria e emite a letra, dando a ordem de pagamento - é também denominado credor. 26 3.2) SACADO ou DEVEDOR - é aquele a quem a ordem é dada, contra quem a ordem é dirigida. 3.3) TOMADOR ou BENEFICIÁRIO - é aquele a favor de quem é emitida a ordem - é aquele que porta o título e que fica no lugar do credor. • Em virtude do princípio da autonomia das obrigações cambiárias, e sendo diversas as funções exercidas na letra por cada um desses elementos, uma mesma pessoa, física ou jurídica, pode figurar no título como sacador, como sacado e mesmo como tomador. 27 • Muitas vezes o sacador é também beneficiário - neste caso o sacado aceitante pagará àquele que criou a letra de câmbio - ocorre nos contratos de alienação fiduciária, por exemplo, onde a financeira emite o título de crédito para que o sacado (a pessoa que está alienando o carro) pague a ela mesma. • Muitas vezes o sacador ocupa o lugar do sacado - A dá uma ordem para que B pague e este não dá o aceite - o beneficiário vai cobrar do sacador. 28 • Todos os que fazem parte da obrigação cambiária são coobrigados (quem emite a letra é que é o obrigado a pagar quando o sacado não paga). • A letra de câmbio é muito usada no comércio de importação e exportação. • A letra de câmbio é sempre nominativa. 29 • Enquanto não houver o aceite não há qualquer obrigação por parte do sacado se houver uma dívida entre o sacador e o sacado, o primeiro tem outras formas admitidas em Direito para buscar o cumprimento da obrigação - se o sacador pagar ao beneficiário há o direito de regresso, mas não no Direito Cambiário, ou seja, nesse caso não há o que se falar em execução. 30 • Quando houver o aceite, o sacado passa a ser coobrigado, mas o sacador também o é, e se o primeiro não pagar é ele quem assume essa responsabilidade. • Todos se obrigam na relação, ou seja, são coobrigados e a responsabilidade pelo pagamento é subsidiária e autônoma. 31 • Não confundir (o que é muito comum) SUBSIDIARIEDADE e SOLIDARIEDADE - ex.: responsabilidade solidária é aquela do pai e da mãe na criação e sustento dos filhos, ou seja, ambos são responsáveis - responsabilidade subsidiária é aquela dos padrinhos ou tutores, que na falta dos pais são responsáveis pela criação e sustento das crianças. 4. NATUREZA JURÍDICA • Documento de uma garantia formal de dívida abstrata de uma obrigação pecuniária. 32 • Em resumo, temos que criar a letra é dar a forma escrita ao título e emitir é fazer o título, já criado, entrar em circulação. Com a criação da letra de câmbio, alguém, denominado sacador, ordena a outra pessoa, chamada sacado, que pague a um terceiro, designado tomador, em certa época, uma importância determinada. • Sacador, sacado e tomador têm, na letra, posições definidas e diversas. 33 • REQUISITOS ESSENCIAIS NAS LETRAS DE CÂMBIO (art. 1o da Lei Uniforme) • A denominação “letra de câmbio”, inserta no próprio texto do título e expressa na língua empregada para a redação desse título. 34 • O mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada - na realidade a palavra mandato está mal empregada; deveria mandado, pois trata-se de uma ordem - puro e simples significa não sujeito a condição alguma. • O nome da pessoa que deve pagar (ou seja, do sacado) - pode conter ou não, mais abaixo, a sua assinatura. 35 • O nome da pessoa a quem, ou à ordem de quem a letra deve ser paga (ou seja, tomador) - não se admite ao portador. • A indicação da data em que a letra é passada - somente poderá ser considerado um título que vale por si mesmo, independente da causa que lhe deu origem, a partir da data em que foi passado. 36 • A assinatura do sacador - contendo, o título, uma ordem de pagamento, necessário é que alguém responda por esse pagamento se a pessoa a quem ele foi ordenado não o realizar - o sacador, que deve lançar sua assinatura na letra, necessita ser capaz para poder responder pela obrigação. 37 • REQUISITOS NÃO ESSENCIAIS NAS LETRAS DE CÂMBIO • Época do pagamento - a Lei Uniforme admite a existência e validade do título sem esse requisito, uma vez que, semelhantemente à lei brasileira, dispõe que “a letra em que não se indique a época do pagamento será pagável à vista”, ou seja, no ato da apresentação (art. 2º, 2). 38 • Lugar do pagamento - quando se executa uma letra, pode-se faze-lo ou no lugar do aceite ou onde deveria ser paga. • Lugar da emissão - tem por finalidade saber qual a lei a aplicar nas relações internacionais - só é permitida a ausência do lugar de emissão se constar da letra o lugar do domicílio do sacador, que é o que vem ao lado do seu nome - havendo omissão de ambos a letra não terá os efeitos da letra de câmbio. • 39 • Quantia determinada - letra de câmbio indexada - proibição somente para as cambiais vinculadas a contrato de aquisição da casa própria pelo SFH em razão de normas próprias autorizadas e aos contratos de crédito nacionais. • Os requisitos devem estar totalmente cumpridos antes da cobrança do título ou do protesto, não precisando constar do instrumento no momento do saque (art. 3o do Decreto n. 2.044 em consonância com a súmula 387 do STF) - caso contrário, o sacado pode alegar defeito formal do título. 40
Compartilhar