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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 20 09 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VO LU M E I I SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ UNIOESTE – CASCAVEL O ESTUDO DE ASTRONOMIA NO ENSINO FUNDAMENTAL PROFESSORA PDE: VERA LUCIA ZARDO ANSOLIN PROF. ORIENTADOR: PROF. DR. BRENO LEITÃO WAICHEL TOLEDO, 2010 SUMÁRIO Apresentação..........................................................................................................05 Ato de fé ou conquista do conhecimento................................................................07 I UNIDADE: MOVIMENTOS CELESTES E TERRESTRES..................................13 Movimentos Celestes e Terrestres.........................................................................14 Astronomia de posição............................................................................................18 Uma geometria para o céu......................................................................................19 O caminho do Sol na esfera celeste: a eclíptica.....................................................22 O movimento anual do Sol visto da Terra..............................................................24 Diferenças entre dia e noite....................................................................................27 Ano solar.................................................................................................................27 Sol a pino................................................................................................................27 Características do solstício de primavera:..............................................................28 Características do solstício de verão......................................................................28 Características do equinócio de outono..................................................................28 Característica do equinócio de inverno...................................................................28 Sistemas de Coordenadas......................................................................................29 Coordenadas na esfera celeste..............................................................................30 Movimento de rotação e o dia e a noite..................................................................32 Movimento diurno da esfera celeste.......................................................................33 Movimento de translação e as estações do ano em diferentes latitudes...............35 Movimento da Lua em torno da Terra e do Sol......................................................36 Fases da Lua...........................................................................................................37 Curiosidade.............................................................................................................38 A Lua mostra a posição do Sol...............................................................................39 Origem da rotação sincronizada com a translação................................................40 Eclipses...................................................................................................................40 Um pouco de história..............................................................................................41 Como ocorrem os eclipses do Sol..........................................................................42 Duração de um eclipse solar...................................................................................43 Tipos de eclipse do sol............................................................................................43 Visibilidade de um eclipse do sol............................................................................43 Como ocorrem os eclipses da Lua.........................................................................44 Eclipse total da Lua em 21 de dezembro de 2010.................................................44 Visibilidade de um eclipse da Lua...........................................................................45 Duração de um eclipse lunar..................................................................................45 Procedimentos para observar o eclipse do Sol......................................................45 Observação sem instrumento ótico........................................................................46 Observação com telescópio ou binóculo................................................................47 II UNIDADE: ASTROS............................................................................................48 Astros......................................................................................................................49 Resolução 5A..........................................................................................................50 Resolução 6A..........................................................................................................51 Satélites...................................................................................................................52 Asteroides...............................................................................................................55 Diferenças entre os termos.....................................................................................56 Cometas..................................................................................................................58 Anéis planetários.....................................................................................................62 Planetas..................................................................................................................64 Diferenças entre estrela e planeta quando observamos o céu..............................66 Mercúrio..................................................................................................................66 Missões a Mercúrio.................................................................................................67 Vênus......................................................................................................................68 Terra........................................................................................................................70 Marte.......................................................................................................................73 Oposições de Marte até 2020.................................................................................76 Júpiter......................................................................................................................77 Saturno....................................................................................................................81 Urano.......................................................................................................................86 Netuno.....................................................................................................................90 Planetas anões........................................................................................................92 Plutão......................................................................................................................93 Ceres.......................................................................................................................95 III UNIDADE – ATIVIDADES PRÁTICAS..............................................................96 Planetário de pobre.................................................................................................97 funcionamentodo planetário.................................................................................100 Movimento diário da esfera celeste......................................................................101 A inclinação do eixo de rotação terrestre.............................................................101 ENAST – Encontro Nacional de Ensino de Astronomia. Reconhecimento do Céu........................................................................................................................102 Modelo para o Movimento Anual Aparente do Sol a partir de uma perspectiva geocêntrica............................................................................................................103 Objetivo.................................................................................................................103 Material necessário...............................................................................................103 Construção do Modelo..........................................................................................103 Exemplos para operação do modelo....................................................................107 Para a latitude 30ºS..............................................................................................108 No Equador...........................................................................................................109 No Pólo Sul...........................................................................................................110 Relógio de Sol.......................................................................................................110 A construção do relógio de sol usando garrafa pet..............................................111 Métodos da determinação da direção Norte-Sul..................................................115 Relógio de sol equatorial.......................................................................................116 Planisfério celeste rotativo....................................................................................117 Construção do planisfério celeste rotativo............................................................118 Como montar o planisfério celeste.......................................................................119 Software Sttelarium e Celestia: movimento horizontal do Sol observado aqui da Terra......................................................................................................................121 Vídeos, propostas de utilização............................................................................125 Considerações finais.............................................................................................129 Referências...........................................................................................................129 Anexos..................................................................................................................130 Anexo I “Uma breve história do Tempo................................................................137 Anexo II “Imagens da Construção do Planetário de Pobre................................. 149 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. APRESENTAÇÃO A finalidade desta produção didático-pedagógica é estabelecer um diálogo em torno dos temas “Movimentos Celestes e Terrestres” e “Astros”, com vistas a subsidiar os professores de Ciências com conteúdos de Astronomia de forma que as aulas sejam criativas e dinâmicas, despertando o interesse dos alunos. Estamos vivendo um grande desafio na educação. A ampliação de vagas e a garantia dos alunos no espaço escolar foram direcionadas por uma educação sistematizada, caracterizando a fragmentação dos conteúdos. Ao buscarmos subsídios na perspectiva histórico-cultural, podemos compreender que a sistematização dos conteúdos deve estar relacionada com o aprendizado dos conceitos científicos. Lembramos que a apropriação do conhecimento realiza-se pela intervenção intencional e sistemática do professor, desenvolvendo nos alunos a consciência pela apropriação dos conteúdos culturais elaborados pela humanidade. É importante destacar que para que o aluno adquira um conhecimento sobre Astronomia é necessário motivá-lo, oferecendo oportunidades de analisar e conhecer materiais que o levem a este conhecimento. Sendo assim, é fundamental que as aulas sejam contempladas com metodologias diversificadas, levando os alunos à descoberta dos fatos e compreendendo a importância do conteúdo para a nossa realidade. Trabalhar com o conteúdo de Astronomia não deixa de ser desafiador, pois requer uma atualização e um conhecimento constante dos conteúdos tanto por parte dos professores como dos alunos. Para que isso ocorra, acreditamos ser necessário o interesse do professor no conhecimento e atualização dos conteúdos, na vontade de ensinar e no compromisso com a qualidade da educação. Vale salientar que ao escrever esta produção didático-pedagógica buscou-se atender alguns objetivos acima mencionados, sem com isso fechar a discussão ou conclusão em torno dos temas apresentados. Compreendendo-se que sempre existirão outras leituras que emergem depois do texto construído. Acreditamos que seja por meio de contribuições como esta, que possamos melhorar nossa qualidade de ensino e de aprendizagem. Sabemos que a escola pode representar um meio para se ter um futuro melhor, contribuindo na formação da cidadania e na construção de uma sociedade 5 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. mais humana e igualitária. Neste sentido, é importante destacar que para trabalhar este assunto dever ser oferecido materiais didáticos que despertem a curiosidade e o senso crítico, levando os alunos ao diagnóstico e a conclusão de suas investigações. De acordo com Libâneo (1994), “Através da ação educativa o meio social exerce influências sobre os indivíduos e estes, ao assimilarem e recriarem essas influências, tornam-se capazes de estabelecer uma relação ativa e transformadora em relação ao meio social.” Percebemos com esta citação, que o sucesso na aprendizagem está relacionado com o interesse em aprender. Neste contexto, este material didático foi elaborado com a finalidade de proporcionar aos professores e alunos um conceito mais aprofundado sobre Astronomia, servindo de referência e estímulo na tarefa de conduzir os alunos ao conhecimento, despertando uma dimensão significativa para a educação. O material apresenta dois conteúdos. A Unidade I: “Movimentos Celestes e Terrestres” e a Unidade II: “Astros. Na Unidade III, apresentamos algumas atividades práticas que serão trabalhadas com o professores no Curso de Extensão que será proposto como implementação deste projeto. Está organizado de uma maneira que possa efetivamente auxiliar o trabalho do professor em sala de aula, atendendo ao Currículo Básico do Estado do Paraná, às Propostas Curriculares e ao Plano de Trabalho Docente dos educadores, na disciplina de Ciências. Cabe ao professor programar e adaptar os conteúdos de acordo com a realidade de seus alunos, motivando-os à busca de conceitos e à transformação do que for necessário, tendo em vista a melhoria do processo ensino-aprendizagem. 6 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. ATO DE FÉ OU CONQUISTA DO CONHECIMENTO? Um episódio na vida de Joãozinho da Maré Professor Rodolpho Caniato1 O Joãozinho de nossa história é um moleque muito pobre que mora numa favela sobre palafitas espetadas emum vasto mangue. Nosso Joãozinho só vai à escola quando sabe que vai ser distribuída merenda, uma das poucas razões que ele sente para ir à escola. Do fundo da miséria em que vive, Joãozinho pode ver bem próximo algumas das conquistas de nossa civilização em vias de desenvolvimento (para alguns). Dali de sua favela ele pode ver bem de perto uma das grandes Universidades onde se cultiva a inteligência e se conquista o conhecimento. Naturalmente esse conhecimento e a ciência ali cultivadas nada tem a ver com o Joãozinho e outros milhares de Joãozinhos pelo Brasil afora. Além de perambular por toda a cidade, de sua favela, pode ver o aeroporto internacional do Rio de Janeiro. Isso certamente é o que mais fascina os olhos de Joãozinho. Aqueles grandes pássaros de metal sobem imponentes com um ruído de rachar os céus. Joãozinho, com seu olhar curioso, acompanha aqueles pássaros de metal até que, eles desapareçam no céu. Talvez, por frequentar pouco a escola, por gostar de observar os aviões e o mundo que o rodeia, Joãozinho seja um sobrevivente de nosso sistema educacional. Joãozinho não perdeu aquela curiosidade de todas as crianças; aquela vontade de saber os “como” e os “porque”, especialmente em relação às coisas da natureza; a curiosidade e o gosto de saber que se vão extinguindo em geral, com a frequência à escola. Não há curiosidade que aguente aquela “decoreba” sobre o corpo humano, por exemplo. Sabendo por seus colegas que nesse dia haveria merenda, Joãozinho resolve ir à escola. Nesse dia, sua professora se dispunha a dar uma aula de 1 Autor dos livros: Um projeto brasileiro para O ensino de Física (Tese de doutorado); “O Céu” Editora” ,ATICA, São Paulo 1982; “Linguagens da Física”, Editora ATICA, São Paulo, 1982; “Com(ns)Ciência na Educação, Editora PAPIRUS, Campinas,1985; ”Que é Astronomia”; Editora Brasiliense, São Paulo, 1980; “A Terra em que Vivemos”, Editora Átomo & Alínea, Campinas; “(Re)Descobrindo a Astronomia”, (no prelo) Editora Átomo & Alínea, Campinas; “Innovation in Science &Technology Education(um capítulo) UNESCO Paris,1996; “A energia que recebemos do Sol”; “O Homem e a Terra”., audiovisual com texto gravado e 35 imagens; “O Sistema Solar”, roteiro e texto de filme sonoro, colorido, (10 min.)feito para o MEC em 1971; “Estrelas e Universo”, roteiro e texto de filme sonoro, colorido(10 min) feito para o MEC, 1971. 7 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. Ciências, coisa que Joãozinho gostava. A professora havia dito que nesse dia iria falar sobre coisas como o Solo, a Terra e seus movimentos, verão, inverno, etc. A professora começa por explicar que o verão é o tempo do calor, o inverno é o tempo do frio, a primavera é o tempo das flores e o outono é o tempo em que as folhas ficam amarelas e caem. Em sua favela, no Rio de Janeiro, Joãozinho conhece calor e tempo de mais calor ainda, um verdadeiro sufoco, às vezes. As flores da primavera e as folhas amarelas que caem ficam por conta de acreditar. Num clima tropical e quente como do Rio de Janeiro, Joãozinho não viu nenhum tempo de flores. As flores por aqui existem ou não, quase independentemente da época do ano, em enterros e casamentos, que passam pela Avenida Brasil, próxima à sua favela. Joãozinho, observador e curioso, resolve perguntar porque acontecem ou devem acontecer tais coisas. A professora se dispõe a dar a explicação: − Eu já disse a vocês numa aula anterior que a Terra é uma grande bola e que essa bola está rodando sobre si mesma. É sua rotação que provoca os dias e as noites. Acontece que, enquanto a Terra está girando, ela também está fazendo uma grande volta ao redor do sol. Essa volta se faz em um ano. O caminho é uma órbita alongada chamada elipse. Além dessa curva se assim tão alongada e achatada, o sol não está no centro. Isso quer dizer que, em seu movimento, a Terra as vezes passa perto, às vezes passa longe do sol. Quando passa perto é mais quente, é Verão. Quando passa mais longe do Sol recebe menos calor: é Inverno. Os olhos de Joãozinho brilhavam de curiosidades diante de um assunto novo e tão interessante. − Professora, a senhora não disse antes que a Terra é uma bola e que está girando enquanto faz a volta ao redor do Sol? − Sim, eu disse. Respondeu a professora com segurança. − Mas, se a Terra é uma bola girando todo dia perto do Sol, não deve ser verão em toda a Terra? − É Joãozinho, é isso mesmo. − Então é mesmo verão em todo lugar e inverno em todo lugar, ao mesmo tempo, professora? − Acho que é Joãozinho, vamos mudar de assunto. 8 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. A essa altura, a professora já não se sentia tão segura do que havia dito. A insistência, natural para o Joãozinho, já começava a provocar uma certa insegurança na professora. − Mas professora, insiste o garoto – enquanto a gente está ensaiando a escola de samba, na época do Natal, a gente sente o maior calor, não é mesmo? − É mesmo Joãozinho. − Então nesse tempo é verão aqui? − É Joãozinho. − E o papai noel no meio da neve com roupas de frio e botas? A gente vê nas vitrinas até as árvores de Natal com algodão. Não é para imitar a neve? (A 40º no Rio). − É Joãozinho, na terra do Papai Noel faz frio. − Então, na terra do Papai Noel, no Natal, faz frio? − Faz Joãozinho. Mas, então tem frio e calor ao mesmo tempo? Quer dizer que existe verão e inverno ao mesmo tempo? − É Joãozinho, mas vamos mudar de assunto. Você está atrapalhando a aula e eu tenho um programa a cumprir. Mas Joãozinho ainda não havia sido “domado” pela escola. Ele ainda não havia perdido o hábito e a iniciativa de fazer perguntas e querer entender as coisas. Por isso, apesar do jeito visivelmente contrariado da professora, ele insiste. − Professora, como é que pode ser verão e inverno ao mesmo tempo, em lugares diferentes, se a Terra, que é uma bola, deve estar perto ou longe do Sol? Uma das duas coisas não está errada? − Como você se atreve Joãozinho, a dizer que a sua professora está errada? Quem andou pondo essas ideias em sua cabeça? − Ninguém não, professora. Eu só tava pensando, Se tem verão e inverno ao mesmo tempo, então isso não pode acontecer porque a Terra tá perto ou tá longe do Sol. Não é mesmo, professora? A professora, já irritada com a insistência atrevida do menino, assume uma postura de autoridade científica e pontifica: 9 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. − Está nos livros que a Terra descreve uma curva que se chama elipse ao redor do Sol, que este ocupa um dos focos e portanto ela se aproxima e se afasta do Sol. Logo, deve ser por isso que existe verão e inverno. Sem se dar conta da irritação da professora, nosso Joãozinho lembra-se da sua experiência diária e acrescenta: − Professora, a melhor coisa que a gente tem aqui na favela é poder ver avião o dia inteiro. − E daí, Joãozinho? O que isso tem a ver com o verão e o inverno? − Sabe professora, eu achei que tem. A gente sabe que um avião tá chegando perto quando ele vai ficando maior. Quando ele vai ficando pequeno é porque ele tá ficando mais longe. − E o que isso tem a ver com a órbita da Terra Joãozinho? − É que eu achei que se a Terra chegasse mais perto do Sol, a gente devia ver ele maior. Quando a Terra estivesse mais longe do Sol, ele deveria aparecer menor. Não é professora? − E daí menino? − A gente vê o sol sempre do mesmo tamanho. Isso não quer dizer que ele tá sempre na mesma distancia? Então verão e inverno não acontecempor causa da distância. − Como você se atreve a contradizer sua professora? Quem anda ponde essas “minhocas” na sua cabeça? Faz quinze anos que eu sou professora, É a primeira vez que alguém quer mostrar que a professora está errada. A essa altura, já a classe se havia tumultuado. Um grupo de outros garotos já havia percebido a lógica arrasadora do que o Joãozinho dissera. Alguns continuaram indiferentes. A maioria achou mais prudente ficar do lado da “autoridade”. Outros aproveitaram a confusão para aumentá-la. A professora havia perdido o controle da classe e já não conseguia reprimir a bagunça nem com ameaças de castigo e de dar “zero” para os mais rebeldes. Em meio àquela confusão tocou o sinal para o fim da aula, “salvando” a professora de um caos maior. Não houve aparentemente nenhuma definição de vencedores e vencidos nesse confronto. Indo para casa, a professora ainda agitada e contrariada se lembrava do Joãozinho que lhe estragara a aula e também o dia. Além de pôr em dúvida o que 10 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. ela afirmara, Joãozinho dera um “mau exemplo”. Joãozinho, com seus argumentos ingênuos, mas lógicos, despertara muitos para o seu lado. − Imagine se a moda pega, pensa a professora. − O pior é que não me ocorreu qualquer argumento que pudesse “enfrentar” o questionamento do garoto. − Mas, foi assim que me ensinaram. É assim mesmo que eu também ensino, pensa a professora. Faz tantos anos que dou essa aula, sobre esse mesmo assunto... À noite, já mais calma, a professora pensa com seus botões: − Os argumentos de Joãozinho foram tão claros e ingênuos. Se o inverno e o verão fossem provocados pelo maior ou menor afastamento da Terra em relação ao Sol, deveria ser inverno ou verão em toda a Terra. Eu sempre soube que enquanto é inverno em um hemisfério é verão no outro. Então tem mesmo razão o Joãozinho. Não pode ser essa causa de calor ou frio na Terra. Também é absolutamente claro e lógico que se a Terra se aproxima e se afasta do Sol, este deveria mudar de tamanho aparente. Deveria ser maior quando mais próximo e menor quanto mais distante. − Como eu não havia pensado nisso antes? − Como posso eu ter “aprendido” coisas tão evidentemente erradas? − Como nunca me ocorreu, sequer, alguma dúvida sobre isso? − Como posso eu estar durante anos “ensinando” uma coisa que eu julgava Ciência, e que, de repente pôde ser totalmente demolida pelo raciocínio ingênuo de um garoto, sem nenhum outro conhecimento científico? Remoendo essas ideias, a professora se põe e pensar em outras tantas coisas que poderiam ser falsas e inconsistentes como as “causas” para o verão e o inverno. − Por que tantas outras crianças aceitaram sem resistência o que eu disse? Por que apenas o Joãozinho resistiu e não “engoliu” o que eu disse? No caso do verão e do inverno a inconsistência foi facilmente verificada. Era só pensar. Se “engolimos” coisas tão evidentemente erradas, como devemos estar “engolindo” coisas mais erradas, mais sérias e menos evidentes! Podemos estar tão habituados a repetir as mesmas coisas que já nem nos damos conta de que muitas dessas 11 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. coisas podem ter sido simplesmente acreditadas. Muitas dessas coisas podem ser simples “atos de fé” ou crendices que nós passamos adiante como verdades científicas ou históricas: “ATOS DE FÉ EM NOME DA CIÊNCIA” É evidente que não pretendemos nem podemos provar tudo que dizemos ou tudo que nos dizem. No entanto, o episódio do Joãozinho levantara um problema sério para a professora. Que bom que houve um Joãozinho. − Haverá sempre um Joãozinho para levantar dúvidas? − Talvez alguns outros também tenham percebido e tenham calado sabendo da reprovação ou da repressão que poderiam sofrer com uma posição de contestação ao que a professora havia dito. − E eu que ia me ofendendo com a atitude lógica e ingenuamente destemida do Joãozinho, pensa a professora. Talvez a maioria dos alunos já esteja “domada” pela escola. Sem perceber, a professora pode estar fazendo exatamente o contrário do que ela pensa ou deseja fazer. Talvez o papel da escola tenha muito a ver com a nossa passividade e com os problemas do mundo que nos rodeia. Não terá isso a ver também com outros problemas do nosso dia a dia? − Todas as crianças têm uma inata curiosidade para saber os “como” e os “porque” das coisas, especialmente da natureza. À medida que a escola vai “ensinando”, o gosto e a curiosidade se vão extinguindo, chegando frequentemente à aversão. Quantas vezes nossas escolas, não só a do Joãozinho, pensam estar tratando da Ciência por falar em coisas como átomos, órbitas, núcleos, elétrons, etc.. Não são palavras difíceis que conferem à nossa fala o caráter ou o “status” de coisa científica. Podemos falar das coisas mais rebuscadas e complicadas e,m sem querer estamos impingindo a nossos alunos, grosseiros “atos de fé”, que não são mais que uma crendice, como tantas outras. Não é à toa que se diz da escola: um lugar onde as cabecinhas entram “redondinhas” e saem quase todas “quadradinhas”. 12 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. I UNIDADE MOVIMENTOS CELESTES E TERRESTRES 13 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. MOVIMENTOS CELESTES E TERRESTRES Pessoas de todas as idades sentem-se fascinadas pelo céu estrelado desde os primórdios da humanidade. Quando olhamos para o céu em uma noite estrelada e sem Lua, temos a impressão de estar no centro de uma imensa esfera escura e crivada de estrelas em sua face interna. Os povos antigos pensavam estar realmente no centro dessa esfera. Essa ideia até hoje permanece na mente das pessoas, porém a esfera celeste; “[…] é uma esfera imaginária sobre a qual os objetos celestes parecem colados, quando vistos da Terra”. (CANALLE p. 124). Para os antigos, além dessa bola estavam as coisas divinas. Com o passar do tempo, o homem foi percebendo que isso era apenas produto de sua imaginação. Hoje sabemos que a imensidão do espaço é povoada por uma infindável multidão de corpos celestes (estrelas, planetas e seus satélites, nebulosas e outras milhares de galáxias). De acordo com Nogueira (2009) “no firmamento, os primeiros homens e mulheres, ainda na pré-história perceberam a existência de mecanismos e ciclos específicos que se refletiam em suas atividades terrenas e eram marcados pela posição das estrelas”. O homem foi aprendendo a organizar a sua vida de acordo com os períodos de claridade, que foi denominado dia e escuridão, noite. Esse processo foi lento, porém ajudou o homem a resolver seus problemas de sobrevivência e deu origem a mais antiga das ciências: A ASTRONOMIA. A observação do céu tinha um valor prático e imensurável para o povo primitivo, pois eles perceberam que a natureza, especialmente no reino vegetal tinha um comportamento cíclico. Todos os anos a vegetação voltava a repetir todos os seus aspectos: perdiam as folhas, folhas novas brotavam, flores e frutos apareciam e isso coincidentemente relacionava-se aos diferentes aspectos do céu observados nas mesmas épocas do ano. Então passaram a utilizar esse conhecimento para desenvolver a agricultura. Durante o dia, o observador tem a impressão de que o Sol aparece de um lado, move-se pela esfera celeste e, finalmente desaparece do outro lado. A região do céu que o Sol aparece é chamadalado leste e a que ele desaparece lado oeste. 14 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. À noite, as estrelas também parecem aparecer do lado leste e se deslocam pela esfera celeste até desaparecer do lado oeste. As estrelas são corpos gasosos, de forma aproximadamente esférica com altíssimas pressões e temperaturas. Elas parecem não modificar suas posições umas com relação às outras, isso levou os antigos a denominarem-nas estrelas fixas. Essa aparente “fixidez” das estrelas fez com que elas fossem, para efeito de reconhecimento, associadas em grupos puramente subjetivos chamados Constelações. Uma das definições de constelação é dada por Milone (2003, p. 12): Uma constelação corresponde a uma mera configuração projetada no céu, formada por linhas imaginárias conectando estrelas brilhantes; (grupo de estrelas). É associada a um desenho que representa um objeto, herói ou deus da sociedade humana que a concebeu. O termo constelação vem do vocábulo latino constellatio, que significa reunião de astros, muito embora as estrelas de uma constelação não estejam fisicamente reunidas em função das enormes distâncias que a separam. As 48 constelações clássicas foram catalogadas pelo grego Ptolomeu2 em 137 d.C. Parte destas constelações simboliza estórias e mitologias herdadas dos povos antigos da Mesopotâmia e Egito. Em 1929, a União Astronômica Internacional estabeleceu uma cartografia completa da esfera celeste contendo 88 constelações no total. As 40 outras, acrescentadas na era moderna foram definidas principalmente na época das grandes navegações oceânicas. Elas simbolizam essencialmente animais pertencentes às novas terras “descobertas” pelos europeus, e objetos usados na navegação da época. A maioria das constelações “recentes” situa-se no hemisfério sul do céu. No hemisfério Sul terrestre é muito comum observarmos a constelação do Cruzeiro do Sul e a constelação de Órion. O homem primitivo foi percebendo no decorrer de suas observações que alguns corpos pareciam se mover em relação às estrelas fixas. Eles denominaram esses corpos de planetas, palavra de origem grega significando errante. Movidos pela curiosidade e pelas necessidades relacionadas à sobrevivência, os antigos conseguiram reconhecer os cinco planetas visíveis a olho nu: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. 2 Filósofo Grego que propôs a Teoria Geocêntrica (séc. II). 15 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. Com o desenvolvimento da ciência, e por consequência da tecnologia, foi possível conhecer os planetas mais afastados do Sol: Urano, Netuno e o planeta anão Plutão. Algumas estrelas estão sempre acima do horizonte. São denominadas estrelas circumpolares e parecem descrever circunferências concêntricas em torno de um ponto no céu denominado pólo celeste. Ora, as estrelas do hemisfério norte parecem girar no sentido anti-horário em torno do Pólo Norte, enquanto que as do hemisfério sul parecem girar no sentido horário em torno do Pólo Sul. Isso foi interpretado pelos antigos como se o céu fosse uma imensa esfera – a esfera celeste – que girava, com um período de cerca de um dia, em torno de um eixo de rotação que passava pelos pólos de uma Terra fixa no centro do Universo. Na verdade, este movimento da esfera celeste é apenas aparente e é devido ao fato de a Terra estar em rotação. Do ponto de vista astronômico a Terra executa três movimentos periódicos: movimento de rotação (rotacional), movimento de translação e movimento de precessão. Além desses, um quarto movimento pode ser considerado que corresponde a Translação da Terra em torno do centro da nossa galáxia, a Via- Láctea. Porém este não é um movimento próprio da Terra e sim do Sol. A Terra apenas acompanha o Sol neste movimento. Segundo o professor de Astronomia Paulo A. Duarte3, a Terra executa outros tantos movimentos, dentre os quais destaca: Movimento de Rotação: movimento em torno de seu próprio eixo. Duração de 23 h 56 min 4 s. Variações: Desaceleração por causa das marés de 0,00164 s por século; Variações irregulares devido à ação das massas de ar, do núcleo e do manto de 0,60 s a 0,37 s por ano. Consequências: dias e noites, pontos cardeais, achatamento da Terra, movimento aparente do céu, direção dos ventos e das correntes marítimas. Movimento de translação: Também chamado movimento de revolução, é o movimento em torno do Sol. Leva 365 d 5 h 48 min 50 s. A Terra tem seu eixo inclinado 23º27'. O periélio, que vem de peri (à volta, perto) e hélio (Sol), é o ponto da órbita de um corpo, seja ele planeta, planetoide, asteroide ou cometa, que está mais próximo do Sol. Quando um corpo se encontra no periélio, ele tem a maior velocidade de translação de toda a sua órbita. Quando o corpo em questão estiver orbitando qualquer outra estrela que não o Sol, utiliza-se o nome genérico periastro para identificar esse ponto. A distância entre a Terra e o Sol no periélio é de aproximadamente 3 Professor de Astronomia do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Catarina. 16 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. 147,1 milhões de quilômetros. Isto ocorre uma vez por ano, próximo do dia 4 de janeiro. O Afélio (do latim "aphelium", derivado do latim "apos", que quer dizer longínquo), é o ponto da órbita em que o planeta, está mais afastado do Sol. Quando se trata de um planeta que órbita uma estrela que não o Sol, esse ponto é denominado apoastro. As órbitas de todos os planetas são sempre elípticas, tendo sempre um ponto mais afastado (afélio) e um ponto mais próximo (periélio). A distância entre a Terra e o Sol no afélio é de aproximadamente 152,1 milhões de quilômetros. Quando um astro se encontra no afélio, ele tem a menor velocidade de translação de toda a sua órbita. O planeta Terra passa no afélio no dia 4 de Julho de cada ano. São consequências desse movimento: distribuição desigual de calor e luz nos hemisférios, estações do ano, movimento aparente do Sol entre os dois trópicos, diferente duração dos dias e das noites, deslocamento do Sol na linha do horizonte, Sol da meia-noite a partir de 66º de latitude. Precessão dos equinócios: giro retrógrado (Leste para Oeste) do eixo da Terra. Dura 25.750 anos. (1º em 71,5 anos ou 50 segundos em 1 ano). A consequência desse movimento é a visão do conjunto de estrelas no céu durante a noite em diferentes épocas do ano. Exemplo: atualmente Órion é uma constelação característica do céu do nosso verão, enquanto escorpião é característica do inverno, mas daqui a 13.000 anos será o inverso. Variação da Ascensão Reta e da Declinação das Estrelas. Nutação: Ao mesmo tempo em que o eixo de rotação da Terra precessiona, ele balança, fazendo o eixo da Terra descrever uma pequena elipse, em cerca de 18 anos e 7 meses. Esse balanço é chamado de nutação. São as forças de maré da Lua e do Sol, a atração gravitacional e a distribuição não uniforme de massa da Terra, as principais responsáveis pela precessão e nutação. Deslocamento do periélio: é o deslocamento do eixo que marca a posição de mínima distância entre a Terra e o Sol. Obliquidade da eclíptica: Variação do ângulo formado entre o Plano da órbita da Terra (Plano da eclíptica) e o Plano do Equador. Esta variação vai de 22º até 24º30' e leva mais ou menos 42.000 anos. Atualmente, a inclinação diminui 47'' por século. Há 7.660 anos a inclinação era de 24º30'. Daqui a 11.490 anos a inclinação será de 22º. Essa variação é causadapela ação perturbadora do Sol e da Lua. Variação da Excentricidade da órbita: trata-se da variação da forma da órbita da Terra em volta do Sol, ora mais circular, ora mais elíptica. Sua duração é de 92.000 anos. Variação do afélio: 150 milhões de quilômetros a 157 milhões de quilômetros. Variação do periélio: 143 milhões de quilômetros a 149 milhões de quilômetros. Perturbações planetárias: movimentos irregulares e pouco previsíveis que podem ser provocados pela força gravitacional de outros planetas, principalmente Vênus e Júpiter. Movimento do Centro de Massa Terra-Lua: trata-se do giro que faz o centro de massa do sistema Terra-Lua em torno do Sol. Movimento em torno do centro de massa do sistema solar: movimento de revolução ou translação que a Terra faz em torno do centro de massa do sistema solar (centro de massa que existe entre o Sol e todos os seus planetas). 17 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. Movimento de marés: trata-se da contração e descontração do globo terrestre em razão da força gravitacional da Lua e do Sol. Rotação junto com a galáxia: a Via-Láctea gira em torno de seu centro, fazendo uma volta completa em torno de 250 milhões de anos. Assim, o Sol e todos os planetas, (inclusive a Terra) giram também em volta do centro da galáxia. Revolução junto com a galáxia: como todo o universo está em expansão, nossa galáxia também viaja no espaço. Assim, a Terra e todos os demais planetas, inclusive Lua e Sol, estão se deslocando junto com a Via-Láctea. Em função dos movimentos da Terra e da Lua se convencionaram várias unidades de medida de tempo. Desta forma, definem-se segundo, minuto, hora e dia, em termos da rotação da Terra, semana e mês, em termos do movimento orbital da Lua, e ano em função da translação da Terra em torno do Sol. ASTRONOMIA DE POSIÇÃO Todo o estudo que envolve a esfera celeste com suas aplicações é chamado de Astronomia de posição ou Astrometria. Estes estudos são aplicados para a: • Determinação de todos os movimentos da Terra. • Determinação das coordenadas de cada lugar e, portanto o levantamento dos mapas terrestres. • Medida do tempo: consiste em aferir o andamento dos relógios pela passagem de determinadas estrelas em frente a um telescópio especial. Esse equipamento é geralmente conhecido com o nome de Luneta meridiana. Esta Luneta se move sem sair do Meridiano Astronômico do Lugar. • Determinação da posição ou orientação dos navegantes. • Determinação das posições dos planetas e a partir dessas, suas órbitas. • Determinação das distâncias das estrelas mais próximas. Estas sofrem pequeníssimos deslocamentos anuais aparentes (paralaxe) em relação às mais distantes. 18 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. UMA GEOMETRIA PARA O CÉU Para estudarmos o céu, é necessário uma série de elementos geométricos que serão as referências sobre a esfera celeste. Precisamos definir o que é equador celeste, pólos celestes, zênite, nadir, meridianos, eclíptica, equinócios e solstícios. Imaginemos a Terra envolta pela esfera celeste. Supomos que a Terra é um globo transparente, com uma lâmpada no centro, e sobre a sua superfície traçamos o equador terrestre. Quando acendemos a lâmpada no seu interior, a linha que marca o equador terrestre lançará uma sombra, ou seja, “será projetada”, sobre a esfera celeste que a envolve. O equador da Terra, projetado sobre a esfera celeste, é chamado de equador celeste. Equador celeste é o círculo máximo formado pela intersecção do plano perpendicular ao eixo de rotação da Terra que passa pelo centro da Terra, isto é, ele é a projeção do equador da Terra sobre a esfera celeste. Cada uma das infinitas semicircunferências que se inicia no pólo celeste norte e finda no pólo celeste sul recebe o nome de meridiano celeste4. Os Meridianos Celestes representam as projeções dos meridianos da Terra na Esfera Celeste, sendo, então, círculos máximos perpendiculares ao Equador Celeste. A extensão do eixo de rotação da Terra irá perfurar a esfera celeste em dois pontos que chamamos de pólos celestes. A projeção do pólo norte da Terra dá origem ao pólo celeste norte, e a projeção do pólo sul da Terra dá origem ao pólo celeste sul. Para um observador em certo ponto da superfície da Terra a linha vertical que passa por ele fura a esfera celeste exatamente acima de sua cabeça num ponto chamado zênite. Esse ponto é obtido ao se traçar uma reta que passa pelo centro da Terra, passa pelo observador e se prolonga até a esfera celeste. O ponto diametralmente oposto recebe o nome de nadir. 4 É um círculo máximo da esfera celeste que contém os pólos celestes e o zênite de um ponto da Terra. 19 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. A esfera celeste gira de leste para oeste, mantendo as posições relativas das estrelas que descrevem arcos de circunferências de raios diferentes na esfera celeste. Há um ponto que não se move. Esse ponto é um dos pólos celestes (pólo celeste sul, para quem está no hemisfério Sul da Terra). No pólo celeste Sul não há nenhuma estrela visível a olho nu. Bem próximo ao pólo Norte celeste encontra-se uma estrela muito brilhante, que se chama POLARIS, estrela do pólo. Do hemisfério Sul não se pode ver essa estrela. Nas imagens abaixo, é possível observar as duas constelações citadas acima e seu movimento ao redor dos pólos. 20 Ilustração 1: http://astro.if.ufrgs.br/esf.htm Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. Enquanto a esfera celeste gira no seu movimento diurno aparente, dois pontos permanecem fixos: os pólos Sul e Norte. Esses pontos são diametralmente opostos. Segundo o professor Rodolpho Caniato, a reta imaginária que une esses dois pontos chama-se “eixo do mundo”. O movimento aparente da esfera celeste resulta do movimento real da Terra, em sentido contrário. Por essa razão, o eixo do mundo não é nada mais que o prolongamento do eixo da Terra. Os pólos celestes são as projeções dos pólos terrestres sobre a esfera do céu. O mesmo ocorre com o 21 Ilustração 2: Imagem feita através do software Sttelarium com recurso gimp por Vera Lucia Zardo Ansolin. Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. equador celeste e os paralelos celestes. Estes nada mais são do que as projeções do equador e dos paralelos terrestres sobre a esfera celeste. Na ilustração acima observe a esfera celeste que envolve o planeta Terra. O CAMINHO DO SOL NA ESFERA CELESTE – A ECLÍPTICA Observando da Terra vemos o Sol executar um movimento diário ao redor dela, mas na realidade, esse movimento é aparente. Ele é explicado pela rotação da Terra em torno do seu eixo geográfico também chamado de eixo Norte-Sul. O caminho aparente do Sol pela esfera celeste no decorrer do ano é chamado de 22 Ilustração 3: http://astro.if.ufrgs.br/esf.htm Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. eclíptica. Como o ano tem 365 ¼ dias e o círculo tem 360º o Sol parece se mover ao longo da eclíptica a uma taxa de, aproximadamente, 1º por dia. Sabemos que o eixo de rotação da Terra é inclinado em um ângulo de 23,5º em relação à eclíptica. Em consequência disso, a eclíptica está inclinada em um ângulo de 23,5º em relação ao equador celeste devido à inclinação do eixo da Terra. A eclíptica é o plano do nosso Sistema Solar. Ela é o plano onde estão as órbitas dos planetas. Eles pouco se afastam desse plano, com exceção de Mercúrio e doplaneta anão Plutão como mostra a tabela 1, considerando-se a Terra como referência: TABELA 1- Inclinação orbital dos planetas NOME DO PLANETA Inclinação do plano da órbita em relação à eclíptica (Terra como referência) Mercúrio 7º00' Vênus 3º24' Terra 0º Marte 1º51' Júpiter 1º19' Saturno 2º30' Urano 0º46' Netuno 1º47' Plutão 17º10' As órbitas dos planetas são elípticas, com o Sol em um dos focos. Com ex- ceção de Mercúrio e Plutão, os demais planetas têm órbitas aproximadamente circu- lares. As órbitas de todos os planetas encontram-se mais ou menos no mesmo pla- no. A órbita de Plutão é a que apresenta maior desvio em relação ao plano da eclíp- tica, com uma inclinação de apenas 17 graus. Todos os planetas se movem na mes- ma direção, em sentido anti-horário, olhando-se de cima do polo norte do Sol. Com exceção de Vênus e Urano, todos os demais planetas giram nesse mesmo sentido. Pelo fato da declinação do Sol variar ao longo do ano, seu movimento diurno aparente tem trajetórias diferentes ao longo do ano. 23 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. A eclíptica e o equador celeste estão inclinados em 23º5’ e, em consequência disso estes dois círculos se cruzam em dois pontos exatamente opostos durante o ano. Esses pontos chamam-se pontos equinociais ou equinócios5. Os dois momentos em que a eclíptica e o equador celeste estão mais afastados do Equador chamam-se solstícios6. Veja ilustração abaixo. MOVIMENTO ANUAL DO SOL VISTO DA TERRA Quando observamos a posição em que o Sol nasce e se põe durante alguns meses e registramos essas observações, poderemos claramente verificar como se dá o movimento do Sol durante o ano. 5 Palavra de origem latina significando “duração igual do dia e da noite”. 6 Instante de parada e inversão do movimento do sol em relação ao horizonte. 24 Ilustração 4: http://astro.if.ufrgs.br/esf.htm Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. Quando observamos de frente para o lado leste, o deslocamento do ponto em que o Sol nasce no horizonte por vários meses percebemos que após 21 de março, o Sol continuará a nascer cada vez mais deslocado para a esquerda, para o norte, até atingir um deslocamento máximo nesse sentido, por volta de 21 de junho. Nesse dia ele pára de se mover para a esquerda e começa a retornar, deslocando- se para a direita, o sul. Esse instante de parada e inversão do movimento com relação ao horizonte é denominado solstício, palavra que vem do latim, significando “Sol estático”. Após esse instante, durante cerca de 6 meses, o ponto em que o sol nasce se deslocará cada vez mais para a direita, ou seja, para o Sul, até atingir o deslocamento máximo neste outro sentido, por volta de 21 de dezembro. Nesse dia novamente ele pára, temos mais um solstício, e mais uma vez inverte o sentido do movimento no horizonte, reiniciando todo o ciclo. Temos então, dois solstícios: o solstício de junho, em que o ponto de nascimento do Sol atinge o máximo deslocamento para o norte, e o solstício de dezembro, em que o ponto de nascimento do Sol atinge o máximo de afastamento para o sul. Quando o Sol nasce bem no ponto intermediário entre os dois solstícios, bem no meio do caminho entre eles, temos um instante especial, denominado equinócio7. Os equinócios ocorrem quando o Sol está sobre o círculo do equador celeste, deslocando-se do hemisfério celeste norte para o sul, no caso do equinócio da primavera, e fazendo o caminho inverso, no equinócio de outono. Entre o início do outono austral e o fim do inverno, os “dias claros” são mais curtos do que as noites. Temos então, dois equinócios: um quando o Sol ao nascer passa por este ponto intermediário e está se deslocando para a esquerda, do sul para o norte, em 21 de março, e outro quando passa por este ponto intermediário e está se deslocando para a direita, do norte para o sul, em 23 de setembro. Somente nesses dois acontecimentos é que o Sol aparece exatamente no ponto cardeal Leste e desaparece no ponto cardeal Oeste. Quando o Sol alcança o solstício de verão temos o dia mais longo do ano, que marca o começo do verão. E, quando o Sol alcança o solstício de inverno temos a noite mais longa do ano, que marca o começo do inverno. 7 A palavra “equinócio”, de origem latina, significa noites de igual duração. 25 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. As estações do ano são inversas nos dois hemisférios. Quando começa a primavera no hemisfério Sul, em 21 de setembro, equinócio de primavera, começa o outono no hemisfério Norte e quando começa o outono no hemisfério Sul, em 21 de março, começa a primavera no hemisfério Norte, por isso, os solstícios tem nomes diferentes nos dois hemisférios. O mesmo acontece com os solstícios. Observe na figura acima, as fotografias que fizemos, através de recurso tecnológico utilizando o software Sttelarium, do movimento aparente do Sol durante o período de um ano. É possível nesta imagem verificar o deslocamento citado no parágrafo anterior. Entre um equinócio de março e outro um ano terá se passado; assim como entre dois equinócios de setembro ou entre dois solstícios de dezembro, ou ainda, 26 Ilustração 5: Imagem produzida utilizando o software Sttelarium, com recurso gimp por Vera Lucia Zardo Ansolin. Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. entre dois solstícios de junho. Portanto, foi exatamente com base na observação dos movimentos do Sol e suas consequências, como o surgimento de determinadas estrelas no céu antes de o Sol aparecer, numa época bem determinada do ano, que as mais antigas civilizações, na Mesopotâmia e no Egito, construíram os primeiros calendários. SOL A PINO... Somente na região tropical, o Sol pode ficar a pino ao meio dia (solar). Entre os trópicos isso acontece duas vezes por ano, e os dias em que isso acontece são determinados pela latitude do lugar. Para um local no equador terrestre o Sol cruza a pino o meridiano local nos dias dos equinócios. Já para os locais situados exatamente sobre um dos trópicos, o Sol cruza a pino somente uma vez, no solstício de verão. Os Trópicos de Capricórnio e de Câncer são nomeados desta maneira porque durante os solstícios, na antiguidade, o Sol se encontrava na direção dessas constelações zodiacais. Para as localidades a 23,5º do equador terrestre norte ou sul, o Sol fica a pino apenas no dia de solstício de verão, ao meio dia solar, quando o Sol passa pelo meridiano do lugar. Localidades a mais de 23,5º do equador terrestre, ao norte ou ao sul, nunca têm Sol a pino. 27 DIFERENÇAS ENTRE DIA E NOITE Quanto mais alta a latitude do local, maiores são as diferenças entre o dia e a noite, e mais perceptíveis tornam-se as mudanças ocorridas no ambiente devido a alteração do período de luz e calor no local. ANO SOLAR Ao ciclo de mudanças no local do nascer do Sol, em torno do ponto médio, chamamos Ano Solar. O Ano Solar se associa a mudanças climáticas no ambiente, uma vez que a variação do local do nascer do Sol se relaciona com variações no ciclo claro-escuro, num determinado local da Terra. Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. CARACTERÍSTICAS DO EQUINÓCIO DA PRIMAVERA • O Sol está cruzando o equador celeste de norte para sul. • É o segundo dia do ano em que o sol nasce exatamente no ponto cardeal Leste e se põe exatamente no ponto cardeal Oeste. • Todas as regiões da Terrasão igualmente iluminadas. • Novamente o Sol incide verticalmente no equador celeste. CARACTERÍSTICAS DO SOLSTÍCIO DE VERÃO • O Sol está com máximo de deslocamento para o sul do equador, por isso está mais alto nos céus austrais. • O Sol nasce e se põe com o maior afastamento para o sul, em relação aos pontos cardeais leste e oeste. • O Pólo Sul está sempre iluminado e o Pólo Norte sempre às escuras. • Dia mais longo do ano no hemisfério Sul e o mais curto no hemisfério Norte. CARACTERÍSTICAS DO EQUINÓCIO DE OUTONO • O Sol está cruzando o equador celeste de sul para norte, exatamente sobre o ponto vernal. • É um dos dois dias do ano em que o Sol nasce exatamente no ponto cardeal Leste e se põe exatamente no ponto cardeal Oeste. • Todas as regiões da Terra são igualmente iluminadas. • O Sol incide perpendicularmente no equador celeste. CARACTERÍSTICAS DO SOLSTÍCIO DE INVERNO • O Sol está com máximo deslocamento para o norte, ficando mais baixo em relação a nós. • O Sol nasce e se põe com o maior afastamento para norte, em relação aos pontos carteais leste e oeste. 28 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. • O Pólo Sul convive com uma longa noite de praticamente 6 meses (Sol sempre abaixo do horizonte), enquanto o Pólo Norte curte o espetáculo do Sol da meia-noite. • Dia mais curso do ano no hemisfério sul e o mais longo no hemisfério norte. SISTEMAS DE COORDENADAS Os sistemas de coordenadas são determinados pelas coordenadas celestes8. Os paralelos e os meridianos são linhas imaginárias, traçadas apenas sobre os mapas e o globo terrestre. Todos os pontos se cruzam em duas coordenadas: latitude e longitude. As coordenadas geográficas foram determinadas por meio de observações astronômicas e satélites geodésicos. Os paralelos e os meridianos são indicados por graus de circunferências. Um grau (1º) corresponde a uma das 360 partes iguais em que a circunferência pode ser dividida. Um grau por sua vez divide-se em 60 minutos (60') e cada minuto pode ser dividido em 60 segundos (60''). Os paralelos correspondem a linhas imaginárias Leste-Oeste paralelas ao Equador e os meridianos a linhas imaginárias Norte-Sul, passando pelos pólos, correspondentes a interseção da superfície terrestre com planos contendo o eixo de rotação terrestre. As ltitudes ou paralelos marcam a distância entre os pólos. O sistema de paralelos usa o Equador como referencial 0 (zero) e os valores dos ângulos crescem para o Norte e para o Sul até 90º, sendo cada grau subdividido em 60 minutos e cada minuto em 60 segundos. Os paralelos mais importantes são o trópico de Câncer e o Círculo Polar Ártico, ao norte, e o trópico de Capricórnio e o círculo polar Antártico, ao sul. Para distinguir as coordenadas ao norte e ao sul devem ser usadas as indicações N e S respectivamente. 8 São pares de números usados para localizar objetos sobre a esfera celeste. São similares às coordenadas de longitude e latitude que usamos sobre a superfície da Terra. 29 No Brasil, o trópico de Capricórnio passa pelos estados do Paraná e de São Paulo. Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. Longitudes ou meridianos são as linhas que partem do meridiano de Greenwich9 (0º) até 180º a oeste e a leste e convergem para os pólos. Os meridianos são usados para determinar os fusos horários ao longo do globo terrestre. O primeiro fuso encontra-se entre 7º30' a leste e a oeste de Greenwich. A cada 15º leste desse intervalo se acrescenta uma hora e a oeste se diminui uma hora. Para distinguir as coordenadas dos hemisférios terrestres ocidental e oriental devem ser usadas as notações internacionais W e E, respectivamente. Nesta figura, temos o equador, (linha imaginária) que divide a Terra em duas partes iguais: o hemisfério Norte e o Hemisfério Sul. Ao lado, as linhas paralelas ao equador, que são chamadas “paralelos”. COORDENADAS NA ESFERA CELESTE Consideremos um observador em certo ponto da superfície da Terra. A linha vertical que passa pelo observador fura a esfera celeste no ponto chamado zênite, e o ponto diametralmente oposto recebe o nome de nadir. O plano perpendicular à linha vertical, denominado de Plano do Horizonte, intercepta a esfera celeste numa circunferência chamada Linha do Horizonte. Qualquer semiplano contendo a linha vertical do observador intercepta a esfera celeste numa semicircunferência chamada de circunferência vertical. A 9 A linha imaginária ganha esse nome porque passa pelo antigo observatório da cidade de Greenwich, situada pero de Londres, no Reino Unido. 30 Ilustração 6: Pogian, Adevertir. Imagem produzida em 10 de julho de 2010. Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. circunferência vertical que passa pelo Pólo norte intercepta a linha do horizonte num ponto chamado de ponto norte geográfico (N). Já a circunferência vertical que passa pelo Pólo sul intercepta a linha do horizonte no ponto sul geográfico (S). A reta, no plano do horizonte, que passa pelos pontos N e S e pelo observador recebe o nome de linha norte-sul. A linha leste-oeste é perpendicular à linha norte-sul, sobre o plano do horizonte. Azimute (A): é o ângulo medido a partir do norte, para leste, sobre o horizonte, até a circunferência vertical que passa pelo astro cuja posição se deseja determinar. Altura (h) é o ângulo medido desde o plano do horizonte, ao longo da circunferência vertical do astro, até o astro. Um problema com este sistema de coordenadas é que, devido ao movimento aparente da esfera celeste, a posição de um astro neste sistema de coordenadas varia com o tempo. O sistema de coordenadas mais usado em Astronomia é o chamado sistema equatorial, que é fixo na esfera celeste e se move com ela. Observe ilustração abaixo. 31 Ilustração 7: http://astro.if.ufrgs.br/coord.htm Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. MOVIMENTO DE ROTAÇÃO E O DIA E A NOITE Desde a antiguidade, os seres humanos observaram a existência de fenômenos celestes que se repetiam regularmente. A alternância do dia e da noite, ou seja, do claro e do escuro sempre condicionou toda a atividade dos seres vivos sobre a Terra. Essas observações do céu, do movimento da Lua e do deslocamento das estrelas contribuíram para que eles concluíssem que todos os astros giravam em torno da Terra de Leste para Oeste. Essa maneira de entender o movimento dos astros ficou valendo durante muitos séculos e permitiu ao homem explicar muitos fenômenos como, por exemplo, os dias e as noites. Observações acumuladas durante muito tempo mostraram que essa forma de entender o movimento dos astros tinha muitas falhas, então, em meados do século XVI resgatou-se uma idéia do século III a.C. que admitia que a Terra se movimentasse. Esse modelo explicava o movimento dos astros admitindo que a Terra gira de Oeste para Leste completando uma volta em torno de si mesma em um dia, ou seja, a cada 24 horas. O movimento da Terra em torno do seu eixo imaginário que passa pelos Pólos Norte e Sul é chamado de rotação. Desse movimento resulta o dia e a noite. Com relação ao Sol, esse movimento tem um período médio de 24 horas, variável devido às irregularidades do movimento de translação da Terra. Segundo Canalle e Matsuura (2010) O período de rotação da Terra não é 24 horas como encontramos muitas vezes, mas 23h 56m 0,409053s. A duração de 24 horas é do dia solar médio, um valor médio dos dias solares verdadeirosao longo do ano (trópico). Os dias solares verdadeiros são desiguais. Para cronometrá-los teríamos que acertar nossos relógios quando o dia fosse mais curto e vice-versa. Para evitar essa inconveniência prática, criou-se o dia solar médio que é fictício e tem duração constante de 24 horas. O verdadeiro período de rotação da Terra não pode ser medido em relação ao Sol que, por sua proximidade, não permanece fixo na esfera celeste. Deve ser medido em relação às estrelas distantes. O tempo para que uma mesma estrela distante 32 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. cruze duas vezes sucessivas o meridiano do observador, é o dia sideral. Este sim, corresponde ao período de rotação da Terra no espaço. Chama-se passagem meridiana o fenômeno em que um astro em seu movimento diurno cruza o meridiano do observador. Com relação às estrelas, esse movimento é bem mais uniforme, com período de cerca de 23 h 56 min. e 4 seg. e sabe-se que ele acontece de Oeste para Leste e pode se observar, com isso, todos os astros (Sol, Lua, estrelas) girando em sentido contrário, isto é, de Leste para Oeste como é visto aqui da Terra. Esse movimento também explica a sucessão dos dias e das noites, sendo que o dia consiste em a Terra receber a luz solar em uma de suas metades enquanto que a outra fica na escuridão da sombra da própria Terra consistindo a noite. Somente nos tempos modernos com a invenção da luneta, dos telescópios, dos satélites artificiais, das viagens espaciais, foi possível comprovar o movimento de rotação da Terra. A velocidade da Terra ao realizar o movimento de rotação é de 0,5 km/s. • Indicamos o filme: Giordano Bruno, como contribuição para tal verificação. MOVIMENTO DIURNO DA ESFERA CELESTE Devido ao movimento de rotação da Terra no sentido de oeste para leste, ocorre o deslocamento aparente dos astros na esfera celeste de leste para oeste. Dependendo da posição em que estamos na Terra, os astros são observados descrevendo movimentos circulares oblíquos ou inclinados com relação ao horizonte. No Pólo Norte da Terra, os astros descrevem movimentos no sentido anti- horário ao redor do Pólo Celeste Norte, onde está a Estrela Polaris. No Pólo Sul da Terra, os astros se movem no sentido horário ao redor do Pólo Sul Celeste. 33 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. Para um observador situado entre o equador e o Pólo Sul da Terra, alguns astros estariam sempre acima do horizonte, nas proximidades do Pólo Sul celeste, e outros estariam sempre abaixo do horizonte, nas proximidades do Pólo Norte celeste. Quem mora no Pólo Sul da Terra, nunca vê a estrela polaris. Para um observador que se encontra no equador terrestre, os astros nascem no horizonte Leste, descrevem círculos perpendiculares ao horizonte e se põem no horizonte Oeste. O Pólo Sul celeste coincide com o ponto cardeal Sul, assim com o Pólo Norte celeste coincide com o ponto cardeal Norte, coincidindo também com o horizonte do local. 34 Ilustração 8: Pogian, Adevertir. Imagem produzida em 04 de julho de 2010. Ilustração 9: Pogian, Adevertir. Produzida em 06 de julho de 2010. Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. Para um observador nos Pólos da Terra os astros descrevem movimentos circulares. Nas latitudes acima de 66º 33’ 39" N ou S, ocorre o fenômeno “Sol da meia noite” em que o sol fica acima do horizonte por várias horas ou meses. MOVIMENTO DE TRANSLAÇÃO E AS ESTAÇÕES DO ANO EM DIFERENTES LATITUDES O movimento orbital da Terra em torno do Sol, que dá origem ao Ano Solar; com cerca de 365 dias e 6 horas é chamado Movimento de Translação. Esse movimento, associado ao fato de o eixo de rotação não ser perpendicular ao plano da órbita da Terra, resulta nas estações do ano. Embora a órbita da Terra em torno do Sol seja uma elipse, e não um círculo, a distância da Terra ao Sol durante o período de um ano varia somente 3%, sendo que a Terra está mais próxima do Sol em janeiro. O que resulta nas estações do ano é a inclinação do eixo de rotação da Terra com relação à órbita descrita em torno do Sol. Este ângulo de inclinação é chamado de obliquidade da eclíptica e é de 23º27'. Devido a essa inclinação, à medida que a Terra órbita em torno do Sol os raios solares incidem mais diretamente em um hemisfério ou em outro, proporcionando mais horas com luz durante o dia a um hemisfério ou a outro e, portanto aquecendo mais um hemisfério ou outro. No Equador, todas as estações são muito parecidas: todos os dias do ano o sol fica 12 horas acima do horizonte e 12 horas abaixo do horizonte. A única diferença é a altura do Sol: em aproximadamente 21/06 o Sol cruza o meridiano ao norte do zênite. Em 23/09 o sol cruza o meridiano ao Sul do 35 Ilustração 10: Pogian, Adevertir. Produzida em 04 de julho de 2010. Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. zênite, e no resto do ano ele cruza o meridiano entre esses dois pontos. Portanto, a altura do Sol ao meio-dia no equador não muda muito ao longo do ano, e por esse motivo não existe muita diferença entre inverno, verão, primavera ou outono. À medida que se afasta do Equador, as estações ficam mais acentuadas. MOVIMENTO DA LUA EM TORNO DA TERRA E DO SOL A Lua é o satélite natural da Terra, é o corpo celeste mais próximo da Terra. A distância Terra-Lua pode ser medida por radar e por laser. O valor atual de sua distância foi obtido por laser, utilizando um espelho colocado pelos astronautas na Lua. Medindo o tempo de ida e vinda de um feixe de laser disparado da Terra à Lua. Seu valor médio é de 384 000 km e varia de 356 800 km a 406 400 km. A excentricidade da órbita da Lua é de 0,0549. O diâmetro aparente médio da Lua é de 31'5'' (0,518º) de onde se deduz que o diâmetro da Lua é 3.476 quilômetros. A massa da Lua é de 1/81 da massa da Terra que é de 5 ,73332 x 1024kg. O plano orbital da Lua tem uma inclinação de 5º9' em relação à eclíptica. A Lua tem três movimentos principais: a rotação em torno de seu próprio eixo, a translação em torno da Terra e a revolução em torno do Sol junto com a Terra. Como a Lua é o corpo celeste mais próximo da Terra, ela é o que se move mais rapidamente em relação a nós, com exceção de corpos passageiros, como meteoros. À medida que a Lua viaja ao redor da Terra ao longo do mês, ela passa por um ciclo de fases, durante o qual sua forma parece variar gradualmente. 36 Ilustração 11: http://astro.if.ufrgs.br/tempo/mas.htm Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. FASES DA LUA Segundo Oliveira Filho & Saraiva10, à medida que a Lua viaja ao redor da Terra ao longo do mês, ela passa por um ciclo de fases, durante o qual sua forma parece variar gradualmente. Esse fenômeno é bem compreendido desde a Antiguidade. Acredita-se que o grego Anaxágoras (± 430 a.C.) já conhecia sua causa, e Aristóteles (384 – 322 a.C.) registrou a explicação correta do fenômeno: as fases da Lua resultam do fato de que ela não é um corpo luminoso, e sim um corpo iluminado pela luz do Sol. A face iluminada da Lua é aquela que está voltada para o Sol. A fase da lua representa o quanto dessa face está voltada também para a Terra. Durante metade do ciclo essa porção iluminada está aumentando (Lua crescente) e durante a outra metade ela está diminuindo (Lua minguante). Tradicionalmente apenas as quatro fases mais características do ciclo: Lua Nova, Quarto Crescente, Lua Cheia e Quarto Minguanterecebem nomes especiais, porém a porção iluminada da Lua, que é a sua fase, varia dia por dia. Por essa razão, os astrônomos definem a fase da Lua em termos de dias decorridos desde a Lua Nova (de 0 a 29,5) e em termos de fração iluminada (de 0% a 100%). As quatro fases principais do ciclo são: Lua Nova: A face iluminada não pode ser vista da Terra. A Lua está na mesma direção do Sol e, portanto está no céu durante o dia. A Lua aparece no céu aproximadamente 6 horas e desaparece aproximadamente 18 horas. Lua Quarto-Crescente: Metade do disco iluminado pode ser visto da Terra. Vista do hemisfério Sul da Terra, a forma da Lua lembra a letra C (vista do hemisfério Norte lembra a letra D). Lua e Sol vistos da Terra estão separados por um ângulo de 90º. A Lua está a Leste do Sol que, portanto ilumina seu lado Oeste. A Lua aparece aproximadamente meio-dia e desaparece aproximadamente meia-noite. 10 Departamento de Astronomia – Instituto de Física. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 37 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. 38 CURIOSIDADE Na fase crescente o lado iluminado da Lua é o seu lado oeste, e na fase minguante o lado iluminado é o lado leste. Isso depende de o observador estar no hemisfério norte ou sul da Terra. O que muda é a orientação da Lua em relação ao observador, pois na maioria dos lugares do hemisfério sul da Terra, a Lua passa o meridiano local ao norte do zênite, ao passo que na maioria dos lugares do hemisfério norte terrestre, a Lua passa o meridiano ao sul do zênite. Se a Lua está ao norte do zênite, o observador para vê- la, se volta para a direção norte. Nesse caso, o hemisfério oeste da Lua estará à sua esquerda, e o hemisfério leste à sua direita. Consequentemente, a Lua terá a forma de C na fase crescente e forma de D na fase minguante. Para um observador que vê a Lua estando voltado para o Sul as formas da Lua nas fases crescente e minguante ficam invertidas. Astronomia e Astrofísica Kepler de Souza Oliveira Filho e Maria de Fátima Oliveira Saraiva. Ilustração 12: Imagem feita com recurso gimp através do software Sttelarium, por Vera Lucia Zardo Ansolin. Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. Lua Cheia: Toda a face iluminada da Lua está voltada para a Terra. A Lua está visível no céu durante toda a noite, com a forma de um disco. Lua e Sol, vistos da Terra, estão em direções opostas, separados por um ângulo de 180º ou 12 horas. A Lua aparece no céu aproximadamente 18 horas e desaparece aproximadamente 6 horas do dia seguinte. Lua Quarto-Minguante: Metade do disco iluminado pode ser visto da Terra, como em Quarto-Crescente. Vista do hemisfério Sul da Terra, a forma da Lua lembra a letra D e vista do hemisfério Norte lembra a letra C. A Lua está a Oeste do Sol, que ilumina seu lado Leste. A Lua aparece no céu à zero hora (meia-noite) e desaparece às doze horas (meio-dia). A LUA MOSTRA A POSIÇÃO DO SOL11. Se durante o dia ou durante a noite, principalmente na semana que antecede e na que sucede a Lua Nova, você olhar para a Lua e ela não estiver muito 11 Disponível no endereço: <http://www.silvestre.eng.br/astronomia/> 39 Ilustração 13: Pogian, Adevertir. Produzida em 08 de julho de 2010. Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. cheia, nem toda escura, você vai poder notar as cúspides, que são aquelas pontas da parte iluminada do disco lunar,. Imagine que o limbo (bordo) iluminado do disco lunar é um arco indígena, com as cúspides sendo as extremidades. Se você ligá-las por uma linha reta você terá a corda do arco. Calcule para onde vai a flecha se for disparada por esse arco, e, curiosamente: o alvo será sempre o Sol. A realização dessa prática durante o dia, quando o Sol está visível, serve para comprovar que ela funciona, mas durante a noite ela pode nos dar uma indicação sobre a região do horizonte onde o Sol se pôs ou sobre aquela onde ele vai nascer ORIGEM DA ROTAÇÃO SINCRONIZADA COM A TRANSLAÇÃO Acredita-se que a rotação tenha acontecido como resultado das grandes forças de maré exercidas pela Terra na Lua no tempo em que a Lua era jovem e mais elástica. As deformações tipo bojos causadas na superfície da Lua pelas marés teriam freiado a sua rotação até ela ficar com o bojo sempre voltado para a Terra, e, portanto com período de rotação igual ao de translação. Essa perda de rotação teria como consequência, provocado o afastamento maior entre Lua e Terra (para conservar o momento angular). Atualmente a Lua continua afastando-se da Terra, a uma taxa de 4 cm/ano. ECLIPSES Denomina-se eclipse ao obscurecimento parcial ou total de um corpo celeste em virtude da interposição de outro. Um eclipse acontece sempre que um corpo entra na sombra de outro. A palavra eclipse vem do grego ekleipsis, que significa abandono, desmaio, desaparecimento. Assim, quando a Lua entra na sombra da Terra, acontece um eclipse lunar, e quando a Terra é atingida pela sobra da Lua, acontece um eclipse solar. Nos dois casos, eclipse lunar e eclipse solar, há um alinhamento perfeito entre os três astros: o sol, a Terra e a Lua. No eclipse solar, a Lua passa exatamente entre a Terra e o Sol; e no eclipse lunar, a Terra passa exatamente entre o Sol e a Lua. 40 Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. Somente o Sol, por ser uma estrela, emite luz. A Lua e a Terra apenas refletem parte da luz que recebem do Sol. Sendo assim, quando os três corpos estiverem alinhados, um projetará sua sombra sobre o outro. O Sol, como única fonte de luz, provoca cones de sombra na Terra e na Lua. Os eclipses são o resultado da interceptação desses cones de sombra pela Terra ou pela Lua, quando os astros assumem determinadas posições no espaço. 41 Um pouco de história Tudo indica que os primeiros fenômenos celestes que chamaram a atenção do homem primitivo, além da sucessão de dias e noites e do aparecimento dos cometas foram a ocorrência dos eclipses. Os eclipses, em particular os solares, sempre tiveram papel marcante na história e são previstos desde milhares de anos antes da era cristã. • Os antigos chineses, por exemplo, achavam que quando ocorria um eclipse um dragão estava engolindo o Sol. A população se reunia e fazia o maior barulho possível para espantá-lo. “Sempre dava certo...” • Uma lenda conta que os astrônomos Hi e Ho, em cerca de 2100 a.C., a serviço do imperador, beberam tanto que se esqueceram de predizer um eclipse e por isso foram executados. • Na Bolívia, os eclipses eram atribuídos a um puma que estaria devorando o deus Sol (Inti). Segundo a tradição, para que o puma não terminasse de devorar o Sol, as crianças e os animais deveriam fazer barulho e assim, os gritos e os choros dos inocentes espantariam o puma e o fariam ir embora. Este rito ainda é presente entre os moradores do altiplano e sempre surte o efeito desejado... • Outro mito é a morte do Sol, chamado Intijiwaña que em língua aymara é uma crença de que o Sol está enfermo a ponto de morrer. Paulo Sergio Bretones Professor UFSCar Vera Lucia Zardo Ansolin “O Estudo de Astronomia no Ensino Fundamental”. COMO OCORREM OS ECLIPSES DO SOL O eclipse solar é um fenômeno que ocorre quando a Lua se coloca em alinhamento entre o Sol e a Terra. Nessa posição, o satélite projeta sua sombra sobre o astro solar, encobrindo-o total ou parcialmente para quem o observa de algumas regiões. A órbita lunar é inclinada cerca de 5 graus em relação ao plano da órbita da Terra. Em virtude
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