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Resumo - Cultura e Farmacologia

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CULTURA E FARMACOLOGIA
	Os efeitos que um medicamento pode causar na fisiologia humana não dependem unicamente de suas propriedades farmacológicas. Segundo Claridge, o efeito total da droga abrange diversas outras influências, tais como a personalidade do indivíduo ao qual a droga é ministrada, a forma como esse indivíduo vê a droga, a pessoa que a ministra, e até o ambiente em que a obtém. Essas influências podem potencializar ou reduzir os efeitos da droga. Esse mecanismo está diretamente relacionado aos efeitos placebo e nocebo, e ao conceito de dependência psicológica de drogas psicotrópicas e narcóticas.
	Estendendo o modelo de Claridge, podemos chamar os efeitos físicos da droga de microcontexto, ao passo que as demais influências constituem o macrocontexto, onde o microcontexto está inserido. O macrocontexto seria então o meio social, cultural, político e econômico em que ocorre o uso da droga, incluindo valores culturais (que podem favorecer ou inibir o uso de certas drogas), atmosfera socioeconômica, publicidade em torno da droga, e os grupos sociais nos quais o uso da droga ocorre. Dessa forma, aplicamos esse modelo à questão do uso de diversos tipos de drogas, tais como psicotrópicos, drogas pesadas e drogas recreacionais.
	O efeito placebo (e sua contrapartida negativa, o efeito nocebo), é a reação positiva ou negativa de um indivíduo a uma droga, a qual não tem relação com os efeitos farmacológicos da mesma. Segundo Benson e Epstein, esse efeito, de natureza psicológica ou psicofisiológica, pode afetar praticamente qualquer sistema do corpo humano. Embora haja muitos relatos e estudos acerca do efeito placebo, ainda não se conhece seu mecanismo de funcionamento fisiológico. Entretanto, sabe-se que, para que esse efeito ocorra, é preciso existir um cenário cultural favorável. Segundo Adler e Hammett, todas as formas de terapia, nas diversas culturas, possuem duas características: a participação de todos os integrantes num sistema cognitivo comum, e a possibilidade de relacionamento com uma figura parental culturalmente legitimada (o agente de cura). Assim, o efeito placebo depende, primeiramente, de as pessoas envolvidas partilharem uma visão de mundo similar; e, em segundo lugar, da dependência emocional que se cria em relação ao agente de cura. Segundo Joyce, todas as drogas receitadas por médicos têm em si o efeito placebo, por terem um valor simbólico para quem as recebe (devido à figura do médico, como agente de cura). Estudos demonstraram que fatores como a cor da droga, o rótulo ou marca, textura e sabor, podem influenciar significativamente os efeitos da droga no paciente.
	Segundo Lader: “a dependência psicológica de drogas pode ser entendida como a necessidade que o paciente tem de sentir os efeitos psicológicos de uma droga”. Essa definição abrange tanto o efeito da droga quanto o alívio dos sintomas da abstinência.
	A influência do fator cultural e psicológico sobre a adição é tão importante quanto a questão farmacológica, existindo casos em que a farmacologia é irrelevante, como no caso de pessoas que se viciaram em placebos, ou em drogas que perdem o efeito após algum tempo de uso. Assim, deve-se sempre levar em conta o contexto social e cultural em que o uso da droga está inserido.
	Segundo Parish, num estudo realizado em Birmingam, 14,9% da amostra de pacientes haviam usado psicotrópicos regularmente durante um ano ou mais, sendo que 4,9% usavam essas drogas há cinco anos ou mais. Entretanto, Williams, do Instituto de Psiquiatria de Londres, cita estudos que demonstram que a maioria dos hipnóticos perde seus efeitos após 3 a 14 dias de uso contínuo, e não há evidências convincentes de que as benzoadizepinas sejam eficazes no tratamento da ansiedade depois de quatro meses de tratamento contínuo. Portanto, muitas pessoas utilizam psicotrópicos pelo efeito simbólico, e não pela ação farmacológica.
	Tanto a droga psicotrópica quanto a prescrição podem ser considerados símbolos rituais que possuem múltiplos significados para quem as utiliza. A droga pode significar, por exemplo, que a pessoa está doente, e que qualquer fracasso em sua vida é resultado dessa doença; e essa pessoa precisa de atenção e solidariedade. Também existe a significação do poder de cura, personalizado na figura do médico, e na droga. Há uma série de expectativas relacionadas ao uso de psicotrópicos, entre eles o de que a pessoa poderá coibir seus impulsos nocivos, e melhorar seus relacionamentos e sua interação social. Warburton denominou esse fenômeno de “o caminho químico para o sucesso”.
	A aceitação social do uso de psicotrópicos pode diminuir o estigma relacionado à dependência. Muitas vezes, a própria renovação da receita pelo médico, é interpretada como aprovação à dependência psicológica, que será mais provável à medida em que os efeitos positivos da droga forem melhores. Cada vez mais a sociedade aceita o “caminho químico para o sucesso”, o qual consiste no uso de drogas para melhorar o desempenho pessoal, profissional e social. A definição de sucesso parece incluir a ausência de qualquer ansiedade, preocupação, culpa, raiva e pesar – emoções que eram consideradas parte normal da vida humana nas gerações precedentes.
	A dependência física, ou adição, também está muito relacionada aos fatores sociais e culturais. Segundo Claridge, a distinção entre dependência química pode ser mais teórica que real, uma vez que a adição é apenas a expressão patológica do uso contínuo de drogas, sendo que todas as pessoas utilizam-se de algum tipo de reconfortante químico (como chá ou café) da mesma maneira. A visão que diversas sociedades tiveram das drogas variou muito ao longo da história. Chocolate, café e rapé, já foram considerados vícios muito perigosos na Europa. Alguns argumentam que seu uso não foi coibido nas sociedades industriais modernas não porque sejam inofensivos, mas porque não impedem seus usuários de trabalhar, como é o caso das drogas pesadas.
	A aceitação socieal é tão importante para o uso da droga, que no caso de drogas pesadas, é comum os drogaditos formarem uma subcultura marginal, com sua própria visão particular de mundo, que justifica o uso da droga. Se, por algum motivo, essa cultura se desfaz, o drogaditos podem abandonar o uso da droga com uma facilidade surpreendente. Diversos estudos realizados demonstram que as variáveis não-farmacológicas devem ser levadas em conta quando se trata do problema da drogadição.

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