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As utopias Medievais - Fichamento

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As Utopias Medievais – Hilário Franco Jr.
Fichamento História Medieval 
 Através de uma análise quantitativa observa-se que a obra é elaborada em quatro capítulos, sendo eles: a utopia da Abundância: a Cocanha; a utopia da Justiça: o Milênio; a utopia do Sexo: a Androginia e a utopia-matriz: o Paraíso, onde o autor, de modo inteligível e com uma linguagem adequada, utiliza mais de 200 autores para discutir sobre a difusão do mito, estruturada com componentes religiosos, concretos e imaginários, presente no mundo arcaico e na mentalidade medieval. O objetivo do autor é mostrar a atuação dos mitos no corpo ideológico e utópico da sociedade medieval, salientando sobre a misticidade medieval, composta por manifestações ideológicas de molde social, carregada de fontes utópicas, transmitidas pela oralidade e conservadas por uma cultura popular.
 As utopias do universo medieval apresentadas por Hilário Franco Junior, contendo cargas místicas e ideológicas, são transmitidas no intuito de contemplar os anseios coletivos pela perfeição e harmonia primordiais. A definição de utopia apresentada pro autor é superficial e breve, deixando questionamentos. São inicialmente desenvolvidos as utopias da paz, igualdade jurídica e autonomia, que revelam a inquietação da sociedade medieval em atingir o estado paradisíaco e a liberdade individual. A primeira utopia desenvolvida pelo autor, a utopia da abundância: a Cocanha, surge em um cenário de fome generalizada na Alta Idade Média, entre os séculos XII e XIII, composta por uma sociedade agrária onde os períodos de miséria manifestavam-se junto aos conflitos sociais. 
 A questão da abundância surge nesse contexto como uma ilusão coletiva e de escapismo das problemáticas sociais e políticas enfrentadas pelo homem medieval. As festividades, ligadas ao calendário agrícola, buscavam o retorno à ocasião festejada, com perspectivas religiosas, ao proporcionar comilanças que remetiam ao paraíso. A cristianização das eventualidades carregaram o caráter agrário às comemorações do Carnaval, Ano-Novo, Quaresma e Natal ao passo que coexistiam práticas pagãs e cristãs no mesmo espaço. A utopia da Fartura agrega-se a essa temática com a figura do Graal, concretizada em um vaso ou caldeirão, que oferece abundância aos medievos com a fertilidade, sabedoria e mocidade. Ligado aos hábitos agrários, a cristianização do Graal aplica-se ao prato da Santa Ceia e ao caráter sacro da hóstia. Jean Frappier menciona o Graal como “uma milagre da alimentação” (FRAPPIER, 1973), caracterizado por uma natureza não humana que enquadra-se na condição edênica. 
 As narrativas que sustentam o tema da abundância e a ânsia coletiva em alcançar a esfera edênica apresentam-se no mito do Império de Preste João que surgiu no século XII. Cenário de fartura almejado pelos medievais, localizado próximo ao Paraíso, em territórios entre a Ásia e a Etiópia, esse império continha a Árvore da Vida e a Fonte de Juventude sendo um espaço de justiça social pertencente a um rei com poderes temporais. A abundância sonhada também aponta para a ilha de Avalon, conhecida pela ilha do âmbar, que contém a árvore sagrada e a fruta da imortalidade. O país da Cocanha, cenário mencionado no título do capítulo, caracteriza-se pela sua fartura, harmonia e mocidade. Por apresentar um espaço sem desigualdades, a Cocanha entrava na temporalidade da Idade do Ouro, ganhando notoriedade na Idade Moderna.
 A utopia da justiça salienta a preocupação do homem medieval com a justiça universal em um cenário onde monarca era o juiz e concentrava toda a juricidade. O alcance da justiça social, paz e retorno ao Paraíso com o Milênio estava vinculado as temporalidades cíclica e linear, sendo caracterizado por ser um tempo da Igreja, de acordo com uma visão cristã, que buscava atingir a Idade de Ouro que antecederia o Fim dos Tempos. O chamado Milenarismo surge nos períodos de conflitos sociais dentro de uma religiosidade popular sendo sustentado pelas transmissões folclóricas. Nesse contexto de intensa influência da Igreja na formação ideológica, manifesta-se uma preocupação escatológica com o fim do universo, sentimento que perpassa o século VIII. Ao mesmo tempo em que o Milenarismo atendia os anseios coletivos por apresentar a vivência pós-apocalíptica da Idade de Ouro, era combatida pela Igreja por proporcionar uma equidade social. 
 A figura do Messias integra esse quadro de expectativa espiritual por inaugurar uma Era Messiânica de justiça, onde o papel messiânico era reunido na figura de monarcas considerados como o “Último Imperador do Universo”. Caracterizado como herói, o Messias era uma ponte entre o mundo terreno e divino, nascido de uma virgem e que futuramente passaria por desafios e retornaria da morte de forma gloriosa. Com essas descrições, numerosos indivíduos encaixaram-se na figura messiânica pela sua vivência não-humana e caráter sacro adquirido após sua morte como o Rei Artur, Carlos Magno e Preste João. A ausência de explicação da origem de algumas figuras apresentadas pelo autor com o título de heróis messiânicos como Preste João, Rei Artur, Filipe Augusto e Frederico II trouxeram questionamentos ao leitor, deixando o trecho impreciso. Simultaneamente, a presença do Anticristo no imaginário medieval como uma força anárquica advinda de Satanás representada no caos que comportava problemáticas políticas, econômicas e sociais. Ao conceituar sobre o anticristo, o autor não foi claro com suas especificações, deixando questionamentos ao leitor.
 A utopia da androgenia manifesta o contraste entre o masculino e o feminino que surgiu após a consumação do fruto proibido e do conhecimento por Adão e Eva que levou à quebra da androgenia primitiva. A consideração do figo como o fruto responsável pela divisão sexual deve-se a mitologia céltica que nomeia a figueira como a árvore do conhecimento, sendo detentora da fecundidade e coragem. O sexo reconhecido como uma prática sagrada que remetia à criação primordial e, portanto, à androginia perdida, foi considerado um “instrumento de edenização” (JUNIOR, 1992). A exposição de um panorama bíblico nesse contexto foi essencial para o entendimento de um certo grau de visão ideológica religiosa manifestada na cultura popular e erudita da Idade Média. Essa ocorrência descortina também a influência de outras origens (como a céltica) na mentalidade medieval guiada pelos dizeres religiosos que cristianizam as comemorações pagãs.
 A prática sexual como meio para alcançar o estado paradisíaco e o encontro com a androginia prevaleceu na perspectiva popular mesmo com a omissão do tema pela Igreja, responsável pela profanização do ato sexual, masculinização da figura divina e subordinação feminina. A Reforma Gregoriana integrou o matrimônio aos sete sacramentos no século XIII, acentuando as hierarquizações entre homens e mulheres, e elaborou um discurso de controle sexual, que foi revogado por tradições folclóricas que buscaram liberdade social e sexual. A utopia da androginia foi abordada com o folclore e a difusão de relatos, como a lenda da papisa Joana, da fada da fecundidade Melusina e pela história de Joana d’Arc. 
 Os vestígios da Androginia nos textos bíblicos despontam com a criação de Adão e Eva e semelhança dos mesmos com Deus, que revela certa bissexualidade do ser divino. A incorporação da feminilidade em Cristo e o culto a um deus bissexual no século XII foram influenciadas pelo laço maternal entre a Virgem Maria e Jesus, assim como a adoração da Virgem resultante de um processo de valorização da mulher. A alquimia por vincular-se a androginia e buscar o estado edênico, estabeleceu-se no Ocidente cristão. Contemplando a astrologia, misticidade e teologia, a alquimia buscava na fusão de diferentes minerais atingir a androginização humana. O possível encontro da androginia pelo alquimista e sua ligação com a filosofia, tornou-se uma ameaça, sendo proibida pela Igreja no século XIV por apresentar uma opção para chegarà Salvação.
 Sustentado pelo mito do Paraíso, a utopia-matriz foi recorrente nas manifestações utópicas medievais que considerava a Jerusalém Celeste e o Jardim do Éden como cenários de idealização. Localizado no Oriente, segundo fontes bíblicas, o Paraíso era vislumbrado em ilhas paradisíacas, onde “natureza pródiga, saúde, harmonia, imortalidade, unidade” (JUNIOR, 1992) poderiam ser encontrados. A dificuldade de encontrar esse cenário de abundância e harmonia, sonhado coletivamente na Idade Média, deve-se pela divergência entre o tempo terreno e divino. A exaltação humana em alcançar a imortalidade através do Paraíso remete a quebra do vínculo divino-humano, com a transgressão de Adão e Eva, que culminou na perda da vida eterna com o distanciamento do Paraíso e da figura divina.

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