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FACULDADES DOCTUM CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: CIÊNCIA POLÍTICA PROF. PE. SERAFIM MAGALHÃES JR. O PENSAMENTO POLÍTICO NA IDADE MODERNA NICOLAU MAQUIAVEL ( 1469 – 1527 ) A POLÍTICA COMO CATEGORIA AUTÔNOMA UNIDADE I: O PENSAMENTO POLÍTICO DE MAQUIAVEL A) CONTEXTO SOCIO-CULTURAL > Momento histórico = Renascimento Séc. XVI = mudanças sócio-culturais na Europa sobretudo no norte da Itália. > crises políticas e religiosas ( luxo da igreja ) > ameaças externas e > ausência de unidade nacional. + As Cidades-Estado ou Repúblicas dirigidas por Monarcas, com poder ilegítimo. + A Nova Imagem do Mundo causada pelas: > Descoberta do Novo Mundo ( América) > Revolução Copérnicana (1473-1543) Sistema Heliocêntrico ( o Sol está em repouso e os planetas giram ao seu redor). > Galileu Galilei (1564-1642) confirmou a teoria de Copérnico + Mudança na Cultura: ( Antropocentrismo) + A Crise dos Valores Morais se agravara entre os monarcas e na Igreja. + A Nova Realidade Política de Florença e de toda a Itália. Maquiavel está inserido neste contexto sócio-cultural Quem foi MAQUIAVEL ? > Nasceu em FLORENÇA (1469 – 1527) FLORENÇA era uma República, governada pela Família Médici ( muito poder político e dinheiro). A República estava em profunda CRISE POLITICA FLORENÇA: Berço do Renascimento, iniciado pela Família dos Médici. Cidade natal de: Nicolau Maquiavel Américo Vespúcio Michelangelo Dante Alighieri Galileu Galilei Bottitelli Giotto FLORENÇA Construída no Século V, e tem como marca a construção do Batistério de San Giovanni FLORENÇA - Catedral de Santa Maria Del Fiori ( 150 de construção) PONTE VECCHIO sobre o Rio Arno ( mais antiga da cidade) F L O R E N Ç A FAMÍLIA: Pai: Bernardo de Niccolò Machiavelli. Doutor em Leis ( Advogado), homem ativo e com vocação para os estudos. Leitor dos Clássicos como Tito Lívio (historiador romano), Aristóteles e Demóstenes. Mãe: mulher muito religiosa, de cultura literária e de alma poética. Maquiavel herdou da família a instrução literária da época. Infância: > Aos 7 anos iniciou os estudos de Latim, mas não aprendeu grego. > Aos 9 anos presenciou um fato trágico na Catedral de Florença Florença Em 1478, durante uma Missa na Catedral, estavam o Monarca Lourenço de Médici ( O Magnífico)e seu irmão Juliano de Médici. Quatro homens da poderosa família dos Pazzi, inimiga dos Médici, invadem a Catedral e apunhalam ( assassinam) o Juliano, enquanto o Lourenço refugia-se na Sacristia com ferimentos leves. Este atentado provocou grande tumulto em Florença. Os quatro homens foram presos, enforcados e esquartejados pela multidão. FLORENÇA A FAMÍLIA MÉDICI. A Família ganhou fama quando abriu um Banco Familiar, tornando-se uma família de banqueiros e comerciantes muito ricos. Patrocinava construções da Igreja Católica e dos rei da França e da Inglaterra. Na Itália conseguiram prestígio e poder político, tornando-se a família mais rica de toda a Europa. Dos mais influentes na política, destaca-se o Monarca Lourenço de Médici. Além de príncipes, princesas, duques, destacaram-se também três papas da família Médici. Lourenço de Médici – O Magnífico ( 1449 – 1492) governava Florença quando nasceu Maquiavel. Foi um político, banqueiro e poeta influente e dominou a vida política, social e cultural de Florença. Construiu bibliotecas em Florença, patrocinou artistas e literatos como o pintor Michelangelo e o poeta e humanista Ângelo Poliziano. O Governo dos Médici: ( de 1434 a 1737 ) > Em 1434, assumiram o poder político em Florença. > Governava usando o sistema de rodízio nos cargos, colocando sempre no poder membros da aristocracia local amigos dos Médici. > A cidade vivia em crise política, financeira e comercial. Muitas casas bancárias se transferiram para outras praças, em especial Lion, na França. > Mesmo com um fraco exército, a cidade se envolvia em freqüentes guerras. > Em 1469, neste ambiente tumultuado, nascia Maquiavel. CRISE POLÍTICA NA FAMÍLIA MÉDICI: > Em 1494, perdem o poder na República de Florença com a invasão da Itália pelo rei Carlos VIII da França. ( ficam 18 anos afastados). > Em 1500, Maquiavel casou-se com Marietta de Ludovico Corsini, tendo dela 6 filhos, sendo 4 homem e duas mulheres. > Em 1512, voltam ao poder em Florença com a eleição papal do Cardeal João de Médici ( Papa Leão X ). > Prisão de presos políticos, considerados inimigos do Papa. Maquiavel: Vida adulta > Em 1498 (com 29 anos) dois fatos marcantes: 1º) Maquiavel entra para a vida política de Florença. Convidado a ser o 2º Secretário da República de Florença, para cuidar dos assuntos diplomáticos (fazendo muitas viagens pela Itália) e das questões bélicas. Organizou um exército para defender a cidade com (cidadãos) homens convidados, e não com mercenários. Ganhou fama por desempenhar bem as funções diplomáticas e as relações com as demais repúblicas. 2º) Presenciou outro fato trágico na cidade de Florença, a morte do frei Jerônimo SAVONAROLA Quem foi Frei Jerônimo SAVONAROLA ? > Líder religioso com grande prestígio político. > Pregador famoso por seus discursos contra os maus costumes do povo e o luxo de alguns bispos e do Papa. > Pregador autoritário, legalista e se proclamava santo. > Convocava o povo para rezar, fazer penitência, jejuns e aos jovens que entrassem para o convento em busca de santidade. > Seu radicalismo o levou a ser excomungado da Igreja, preso, enforcado e queimado na fogueira. Praça da Senhoria Execução de Savonarola Maquiavel, convidado a ser Chanceler de Veneza, conheceu CÉSAR BÓRGIA ( 1476-1507 ). Quem foi César Bórgia ? > Filho do Papa Alexandre VI. > Político influente ( era duque e nomeado Cardeal aos 17 anos. > Recebeu do pai várias Províncias Foi governador da Romanha. Ficou conhecido como a figura mais ‘terrível’ de toda a Itália. > Temperamento autoritário, decidido, e grande poder de fazer trapaças e traições. César Borgia recebeu do pai a missão de: > Reconstituir o Estado Papal e assegurar a estabilidade da região central da Itália. > Principal conselheiro do pai à frente dos negócios da Igreja. > Invadir territórios para expandir o poder político da Igreja. Quando queria invadir Florença, Maquiavel o convenceu de voltar atrás. A Família Bórgia > Natural da região de Valencia ( Espanha ) > Destacou-se na Renascença italiana através do poder político de vários membros. + Papa Calisto III (Afonso Bórgia, tio de Rodrigo Borgia; Pontificou de 1455 - 1458) + Papa Alexandre VI ( RodrigoBorgia ) ( pontificou de 1492 a 1503 ; pai de César Bórgia e Lucrecia Bórgia, filhos tidos quando era Chanceler do Vaticano, antes de ser papa ) + São Francisco de Bórgia Influências sobre a vida de Maquiavel. 1º] Da Família > formação intelectual 2º] Da Política > seu empenho diplomático 3º] De César Bórgia > conhecimento profundo do modo como os duques, monarcas, e até membros da Igreja faziam política. Vendo a política de César Bórgia, Maquiavel percebeu como os políticos agiam. > possuídos pela astúcia política, > obstinação em perseguir objetivos sem se importar com os meios. > capacidade de aliar a sorte à prudência permanente. CRISE NA VIDA POLÍTICA DE MAQUIAVEL > Em 1512, foi acusado de ser amigo dos inimigos do Papa. Ele foi cassado, torturado e preso por 22 dias. Estava com 43 anos e 14 anos de vida política. > Incluído na lista de presos políticos que receberam anistia do próprio Papa Leão X, Maquiavel foi solto. Pena política: = condenado a um confinamento de um ano fora de Florença. = multa de 100 mil Florins-ouro. = proibido de entrar no Palazzo Vecchio, onde morava a Família Médici. > Entristecido pela inatividade política, Maquiavel foi morar numa fazenda ( bosque) nos arredores de Florença. > O ostracismo político o levou à escrita de obras políticas. Obras: - ‘O PRÍNCIPE’ = principal obra política. Com esta recebeu o título de “Pai da Política Moderna”. - Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio ( 59 a. C –17 d. C) historiador romano) ‘O PRÍNCIPE’ Escrito em 1513, mas publicado somente em 1531, cinco anos após sua morte. Obras de Maquiavel: 1518 = A Mandrágora Peça teatral 1519 = A Arte da Guerra 1525 = História da Florença Em 1527 – com 58 anos, perdida a esperança de voltar à vida política, cai doente e é desenganado pelo médico e amigos. Morreu em 21 de junho de 1527. > Sepultado no túmulo da família na Basílica de Santa Croce, em Florença. > HOJE, os restos mortais estão no Panteão de Florença e no epitáfio está escrito: ‘TANTO NOMINI NULLUM PAR ELOGIUM’ ‘NENHUM ELOGIO ESTÁ À ALTURA DE TÃO ELEVADO NOME’ Basílica Santa Croce - depósito dos restos mortais de Maquiavel B) Problemas Políticos vistos por Maquiavel. a) Derrotas constantes dos monarcas sem exércitos nacionais ( tinham exércitos de mercenários ( pagos) b) Sentiu as constantes ameaças para a República de Florença. Presenciou a derrota de Florença para o Rei Carlos VIII da França. Organizou um exército de cidadãos para Florença. c) Florença dominava pequenas cidades e territórios, e sofria com o ódio destas cidades que sempre se rebelavam. Isto o levou a escrever no Príncipe, “Como Tratar Povos Conquistados”. d) Se a Itália está desunida, é preciso lutar pela unificação política da Itália. C) Intenção de Maquiavel com a obra ‘O Príncipe’ 1) A amargura e descrença com relação à condição humana. O que é o ser humano ? Maquiavel, entristecido pelo abandono político, vê os homens em crise . 2) Observando a realidade italiana da época, procura encontrar um processo político que criasse um Estado permanente, pois todos os conhecidos estavam em crise. Pretende formar um Estado Moderno baseado na soberania do povo. 3) Quer habilitar os governantes a realizarem a unificação da Itália. 4) Os governantes medievais governavam com base na ‘ética religiosa’ ( chamada de ética paternalista cristã). Na Idade Média o Estado usava da tradição moral e religiosa para governar. Toda a cosmovisão era religiosa. O Estado não tinha autonomia, por depender das normas morais e religiosas. 5) Na obra ‘O Príncipe’, Maquiavel faz o Estado (governantes) tomarem consciência da autonomia da esfera política. Maquiavel deu ao Estado a significação de Poder Central Soberano, legislador e capaz de decidir, sem compartilhar esse poder com ninguém ( sobretudo com a Igreja). D) O que é o Estado para Maquiavel ? 1º) É um Poder Político. 2º) É um Poder Central. 3º) É um Poder Soberano, Autônomo. 4º) É um Poder que Legisla de forma laica. 5º) É um Poder Político desvinculado da Ética. UNIDADE II A CONCEPÇÃPO POLÍTICA DE MAQUIAVEL 1º) Distinção Fundamental a ) O Mito do Maquiavelismo b) O Pensamento Político de Maquiavel A) O MITO DO MAQUIAVELISMO “Maquiavelismo” e “Maquiavélico” no curso da história receberam conotações diferentes. Os conceitos receberam dois sentidos: 1º) Sentido ético: >Maquiavélico é o sujeito ‘mau’, que planeja uma política falsa, sem preocupação com as conseqüências da ação. > Maquiavélico é o sujeito que procura tirar vantagem da desgraça alheia. > Maquiavélico é o sujeito que justifica a violência a qualquer preço. Maquiavel foi compreendido assim porque ele afirma que “em determinadas circunstâncias a violência pode acontecer.” Ex: quando um novo príncipe conquista o poder ou luta para não perdê-lo, como fez César Borgia. Dizer que alguém é maquiavélico foi sempre entendido como uma grave ofensa. Maquiavel ficou marcado com esse sentido negativo, de mau sujeito, devido à má compreensão de sua filosofia política. O mito do Maquiavelismo surge após a morte de Maquiavel. Maquiavel usou a figura de César Borgia como modelo de “príncipe novo”, como exemplo a ser seguido pelos que desejam sucesso na vida política. O padrão vigente na época era o do príncipe bom e caridoso, capaz de agir eticamente e de, por isso, alcançar a conservação de seus domínios da forma mais suave possível. Maquiavel não está dizendo que o duque deva ser seguido por todos, como regra geral, e nem que seja um modelo impossível de ser atingido. 2º) Sentido psicológico-crítico. Neste segundo sentido, ser maquiavélico é ser um sujeito crítico, astuto, inteligente, pensador profundo. > Ser maquiavélico é ser capaz de fazer profunda análise crítico-política, de compreender a realidade sócio-política e o contexto social de uma época. > Ser maquiavélico é ser capaz de organizar a ação política, de ver mais longe, de estar na frente do seu tempo, de ser lúcido e lógico na argumentação. B) O Pensamento Político de Maquiavel. a) Maquiavel está preocupado com uma questão que incomodou os filósofos no século XIV e XV. É possível o homem intervir na história ? Até que ponto pode o homem MUDAR a história? Para resolver a questão, é preciso OBSERVAR O MODO como os homens governam de fato. Maquiavel faz um paralelo entre a política medieval e a política moderna. Política medieval: buscava-se fazer um bom governo. Política moderna: a política é a lógica da força e é impossível governar sem fazer uso da violência. Maquiavel afirma que o soberano pode se encontrar em situação de ter que aplicar métodos extremamente cruéis e desumanos. “Quando são necessários remédios extremos para males extremos, ele deve adotar tais remédiosextremos, e de qualquer forma, evitar o meio-termo, que é o caminho do compromisso, que de nada serve; ao contrário, é sempre e somente de extremo dano”. Para Maquiavel, o homem não é bom nem mau, mas de fato, tende a ser mau. Conseqüentemente, o político não deve confiar no aspecto positivo do homem, e sim constatar seu aspecto negativo e agir em conseqüência disso. b) O conceito de política de Maquiavel é contextual. Ele está refletindo sobre aquele momento político da Itália: > o problema da unificação da Itália. > o problema da conquista e manutenção do poder. > o problema de quais atributos o príncipe deve ter para permanecer no poder ( virtú e fortuna). c) Maquiavel pensa a política como algo ‘artificial’, isto é, algo que não está dado, acabado. A política tem que ser construída. Ela é fruto da ação do homem. d) A política não é distribuição de recursos, pois assim ela seria busca de sobrevivência. > a política se dá no campo da vida. A vida não está pronta, constrói-se. > Maquiavel coloca a política no campo do desejo. O que é o desejo? Desejo é a aspiração do que ainda não está. É aspirar o que ainda não existe. e) A Política não é a satisfação de interesses. “O homem tem sede de tudo alcançar”. f) Política é a construção do espaço da liberdade. É a construção do diferente. > política é olhar para o mundo e criar uma ordem social diferente. > política é “apagar” o real e pensar o que ainda não está. O homem mata a possibilidade de liberdade quando ele se reconhece acabado. > política é a arte de tornar possível o aparentemente impossível. > Corrupção é retração da liberdade. O príncipe que transforma o espaço de liberdade em interesses, é um tirano. Para Maquiavel, ao agir o homem dá um movimento à história. Não basta o homem reconhecer-se profundamente motivado pela vontade política. Ele tem que perceber as circunstâncias, a realidade circundante, a história, os dilemas e os conflitos. Para Maquiavel, tanto em política, como no pensamento político é preciso ir diretamente à verdade efetiva da coisa, sem perder-se nas fantasias vãs de filósofos e moralistas; O adjetivo “efetivo” é criação de Maquiavel, e significa “mais do que real”, isto é, a verdade, além de em si mesma, também em seus efeitos. QUAIS OS ATRIBUTOS DO PRÍNCIPE VIRTÚ e FORTUNA Energia Sorte (boa ou má ) Força , habilidade Acaso, ocasião Coragem Oportunidade Decisão, capacidade Momento propício Empenho São as circunstâncias Vontade dirigida para nas quais o homem um objetivo está inserido, ou seja, É a vontade a história. infinitamente política que os indivíduos possuem. Discernir: Virtú = palavra italiana, vem do latim VIR = HOMEM Virtus = latim = virtude, no sentido bíblico de virtude cristã. A virtude cristã pressupõe força moral. É um compromisso ético e religioso em vista de um fim sobrenatural. Virtú e Fortuna são qualidades do príncipe. Todo governante deve possuí-las, pois só muito raramente consegue a vitória ou decisão correta e o objetivo é alcançado. VIRTÚ: é a qualidade primeira do príncipe. > O homem de virtú é capaz de tomar decisões, possui objetivos traçados, sem se apegar a um código moral ( isto é, seguir regras fixas) ou se aprisionar em escrúpulos. > O homem de virtú é capaz de realizar grandes obras. É a qualidade que todo governante deve ter. > Virtú é a capacidade do ator político de agir de maneira adequada no momento adequado. Contudo, não deve ser confundida com prudência. O conceito de “virtú” defendido por Maquiavel, distante das virtudes cristãs e da prudência ( da ética de Aristóteles) não fundamentava uma leitura da política com uma busca de fins independentes dos meios. Maquiavel nunca disse que “OS FINS JUSTIFICAM OS MEIOS”. Ele pretende mostrar que a política constitui uma esfera da existência humana que, estando relacionada com várias outras, não pode ser confundida nem com a ética nem com a religião. A Política é uma dimensão AUTONOMA, mas não de forma absoluta, com o também não é a Ética. A FORTUNA ( deusa romana = designava o ‘acaso’) >deusa da roda, ela retira dos homens tudo aquilo que conquistaram, quando decidem mudar o curso das coisas sem aviso prévio. Fortuna Virilis = adorada pelos homens Fortuna Muliebris = adorada pelas mulheres Fortuna presidia todos os acontecimentos, distribuindo segundo sua cega vontade, os bens e os males. > Era a deusa da sorte boa ou sorte má. Invocada nos momentos de perigo ou incerteza. Fortuna é sempre apresentada careca, com um tufo de cabelos ( por onde se podia apanhá-la) segurando uma cornucópia e um timão ( para guiar a vida dos homens ) FORTUNA: tem um duplo sentido 1º) Significa Sorte ( boa ou má). É a oportunidade, o momento propício no correr do tempo ou na seqüência dos dias. É o curso da história, o acaso. Fortuna é o momento certo, já antecipadamente calculado pelo príncipe. A fortuna favorece quem tem virtú, conforme o ditado: “ a sorte ajuda os audaciosos” 2º) Significa certeza do êxito, garantida pela perspicácia e pela prontidão do príncipe. É o momento exato do golpe ou bote da serpente para vitimar o inimigo. Relação dinâmica entre Liberdade e Sorte. Muitos humanistas contemporâneos de Maquiavel acreditavam no “destino” dos acontecimentos, e que é inútil se esforçar para impor-lhe uma barreira, sendo melhor deixar-se guiar por ele. Maquiavel afirma que “metade das coisas humanas dependem da sorte, a outra metade da virtude e da liberdade”. Maquiavel usou de uma imagem que marcou muito os pensadores do seu tempo. Para Maquiavel a “sorte” é como a deusa ‘Fortuna’. Ela é uma mulher.... ...porque a sorte é mulher. E, querendo mantê-la sob domínio, é necessário bater-lhe e espancá-la. O que se vê é que ela deixa-se mais vencer por estes ( = temperamentos impetuosos) do que por aqueles que procedem friamente. E sempre, como mulher, é amiga do jovens, porque são menos respeitosos, mais ferozes e a dominam com mais audácia”. A Fortuna aparece sempre como uma força que não pode ser inteiramente dominada pelos homens. Num mundo sujeito a movimentos constantes, ela representa o elemento de imponderabilidade das coisas humanas. Dessa Força (Fortuna) conhecemos apenas os efeitos e o fato de que pode sempre se manifestar, mas nunca suas vontades e o momento em que vai lançar seus fios. Maquiavel não está dizendo para cairmos no fatalismo, no desespero e na irracionalidade. Como não sabemos os caminhos da deusa, devemos viver sempre na esperança de que ele vai nos orientar para o bem. HOMO POLITICUS Maquiavel criou o modelo do governantebem- sucedido, chamado homo politicus. > Ele criou o modelo teórico, calcado na realidade por ele vivida, e baseado no comportamento efetivo dos homens, e não na norma ou ideal. > Para Maquiavel todas os defeitos humanos medo, hipocrisia, estão na base da ambição, ação política do mentira, Homo Politicus. traição, covardia, má-fé, assassinatos) O Estado ou Principado do Homo Politicus deve ter boas leis e boas armas. As Armas: devem ser usadas por milícias ou exércitos nacionais e nunca por forças mercenárias que são interesseiras e traidoras ao sabor da derrota ou da vitória e das circunstâncias. As Leis: servem para manter a disciplina. HOMO POLITICUS Objetivos Qualidades Atividades Conquistar e Estado Príncipe Guerra manter o Boas Leis Virtú Leis da guerra poder Boas Armas Fortuna Disciplina O PRÍNCIPE NOVO Qual deve ser o comportamento de um príncipe que ocupa um novo território? Qual deve ser o comportamento do político no governo? a) Não basta gozar dos benefícios de uma conquista. b) É necessário conhecer o funcionamento do poder em suas várias circunstâncias para se obter sucesso. ...”ganhar uma batalha não é o mesmo que administrar uma cidade”. Para ensinar o príncipe a governar, Maquiavel parte de duas proposições de conteúdo diferente. 1º) Maquiavel possui total confiança no fato de que as coisas humanas se repetem, e por isso, o estudo do passado e dos acontecimentos recentes é um instrumento poderoso para os que exercem o poder, ou desejam conquistá-lo. Maquiavel ensina a usar o passado como guia, pois é a melhor forma de evitar os erros que arruinou muitos poderosos. “...muitos governantes preferem confiar no seu próprio julgamento a aprender com o passado”. 2º) A segunda proposição à qual deve estar atento o príncipe é a crença de que “a natureza humana se mantém ao longo do tempo, mas é má”. Muitos autores medievais defendiam a natureza humana como voltada para a procura do bem. Maquiavel afirma que “os homens são ingratos, volúveis, simuladores e dissimuladores, inimigos dos perigos e ávidos de ganho...” Maquiavel não quer dizer que todos os homens sejam ruins e ajam sempre com maldade. Ele está afirmando que não podemos agir na suposição de que os homens corresponderão às nossas expectativas, e por isso, devemos sempre estar precavidos contra a manifestação de sua natureza má. Maquiavel tomou a figura de César Borgia para explicar como o novo príncipe deve agir. Ele mostra que César Borgia foi um mestre na arte de dissimulação de seus pensamentos e de sua natureza mais íntima. Maquiavel elogiou César Borgia afirmando: “ele é um modelo para todos os que pela sorte ou pela força dos outros chegou ao poder”. Espelhando-se na figura poderosa de César Borgia, Maquiavel mostra: O duque, mesmo com toda a sua habilidade para lidar com situações extremas, depois da morte de seu pai (Papa Alexandre VI), foi derrubado pelas mesmas forças que lhe deram o poder. Ele foi tragado pela força da contingência ( ficou doente), e esse erro foi fatal. O duque soube aproveitar a ocasião que lhe foi oferecida pela sorte para galgar os degraus do poder. Para Maquiavel, ‘não existe poder que possa durar para sempre’. “Tudo o que existe no mundo tem limites em sua duração”. Uma Moral para a Política. Distinção Fundamental: 1º] A Moral Religiosa antes de Maquiavel 2º] A Moral Autônoma depois de Maquiavel 1º] A Moral Religiosa antes de Maquiavel: > A Moral do Bom Governo. + Significa que o monarca tinha que ser possuidor de um conjunto de virtudes cristãs ( bondade, justiça, honestidade, etc...) devendo ser o primeiro a dar exemplo de conduta moral. + Significa que sendo um homem bom, ético, ele será amado pelos súditos. + Significa que deverá ter uma religião ( Cristã) de preferência ( ser amigo da Igreja ). + Significa que não há separação entre Ética e Política. São dimensões interdependentes. 2º) A Moral Autônoma depois de Maquiavel: +Significa saber que a Ética e a Política são categorias autônomas. São separadas, mas se relacionam. + Significa saber se para o príncipe “é melhor ser amado ou temido”. + Significa saber qual animal deveria ser imitado pelos príncipes. + Significa conhecer a “verdade efetiva das coisas” e não perder tempo imaginando repúblicas e monarquias que nunca existiram. Maquiavel retoma na história do pensamento político, o modo realista de pensar a política ( já presente em Aristóteles) , mas esquecida pelos medievais. O que é totalmente NOVO em Maquiavel ? A interrogação sobre a relação entre Ética e Política. Maquiavel foi criticado por ter supostamente afirmado que o governante pode fazer tudo o que for necessário para atingir o poder e para conservá- lo. Seria dizer que o poder tem um fim em si mesmo, que não depende de nada, além do desejo de conquistá-lo e da habilidade em mantê-lo para se legitimar. A preocupação central de Maquiavel é: Saber se o governante pode agir sempre em conformidade com os princípios éticos cristãos aceitos em seu tempo e esperar atingir seus objetivos, ou Se deve aprender a seguir outros caminhos, quando confrontado com situações difíceis. Maquiavel está perguntando se a Ética é suficiente para nos mostrar como agir na política em todas as situações. Maquiavel mostra que NÃO, pois Savonarola era um homem profundamente ético e teve um trágico fim. Maquiavel está refletindo sobre como os valores éticos são vividos na esfera da política. Ele não despreza a ética, apenas a trata como um campo independente, mas convivendo com a Política. Maquiavel ensina ao governante que se ele seguir a ética religiosa como ensina os manuais de moral, ele acabará na ruína, como Savonarola. Para Maquiavel, os governados cobram ética dos governantes, mas não vivem conforme os princípios da ética cristã. Ele toma o exemplo do Amor ao Próximo: nem todos seguem o princípio do amor para resolver todos os seus problemas e em todas as situações. Se o governante não pode esperar que todos vivam o princípio do amor ao próximo, então é preferível ser temido do que amado pelos governados. .... “o temor é o melhor caminho para os que não querem perder o poder”. ... “os homens dissimulam com freqüência seus desejos, mas nunca agem contra seus interesses”. ... “os homens esquecem mais rápido a morte do pai do que a perda do patrimônio”. > Ao preferir que o príncipe seja temido, Maquiavel não está escolhendo o caminho da violência, mas sim evitando uma forma de agir que pode obrigar o governante a ser ainda mais violento, quando se vir diante da necessidade de garantir seus domínios. > Um governo fraco pode ser muito mais nocivo do que um governo forte, se não souber administrar o uso da força. A concepção política de Maquiavel foi considerada subversiva em sua época, pois acreditava que a religião cristã ( a moral dos valores religiosos) enfraquece os homens e os leva a agir de forma falsa sobretudo na política. > Para Maquiavel, se não podemos ser virtuosos o tempo todo, também não podemos deixar passar a idéia de que somos viciosos. > Se um príncipe não pode ter todas as qualidade (fé, prudência, bondade, etc...) deve ao menos cuidar para queseus governados acreditem que ele as possui. E mesmo se alguém perceber que o príncipe é um enganador, ele sempre encontrará outros dispostos a serem enganados, pois ... “os homens são tão simples e obedecem tão bem às necessidades presentes, que aquele que engana encontra sempre quem se deixará enganar.” Os homens não possuem um padrão seguro de julgamento. Maquiavel nos ensina a perceber que existe uma diferença entre “SER” e “PARECER”. Na arena política nada é transparente, pois todos nela comparecem portando múltiplos desejos e defendendo vários interesses. O príncipe sai beneficiado por isso, pois ele finge virtudes que não possui, mas afirma com tão naturalidade que possui, possibilitando a muitos defendê-lo quando é atacado por seus inimigos. Mas o príncipe precisa se cuidar, pois querer enganar a todos o tempo todo é um jogo perigoso, que resulta no descontentamento de muitos que aproveitarão a primeira oportunidade para destruir o seu poder. Para Maquiavel o Jogo Político se faz com duas armas principais: AS LEIS e A FORÇA. As Leis = são próprias do homem A Força = é própria da besta ( dos animais) A política nunca é feita por uma só destas armas. Quem quiser governar com sucesso terá que se EQUILIBRAR entre o “SER” e o “PARECER”. Significa: terá que respeitar as leis e os contratos, mas terá que recorrer à força quando os mecanismos de persuasão derivados da aplicação da lei não se mostrarem suficientes. UNIDADE III - MAQUIAVEL REPUBLICANO Maquiavel tem preferência pelo regime republicano. .... “o que assegura às repúblicas mais vida e uma saúde mais vigorosa e mais duradoura do que aquela das monarquias é o fato de poder, dada a variedade e a diferença do gênio de seus cidadãos, se acomodar melhor e mais facilmente às mudanças do tempo do que aquele regime”. Mesmo considerando que o regime republicano prioriza a liberdade dos cidadãos e a superioridade do governo livre sobre todos os outros regimes, Maquiavel adverte que nem sempre o governo republicano poder ser considerado a melhor escolha. > Para se construir uma verdadeira república, Maquiavel considera que o governante tem que se desvincular do poder institucional e secular da Igreja. > Não seremos livres se a Igreja nos governa. > Não seremos livres se a moral da Igreja nos governa. Maquiavel concebe o regime republicano capaz de orientar os cidadãos a se interessarem pelos problemas e negócios de sua cidade. Maquiavel separa o cristão contemplativo da Idade Média com o cidadão ativo da Idade Moderna. Para Maquiavel, Roma foi a verdadeira república do passado, embora não seja o único modelo a ser seguido, é o exemplo mais claro do que o povo pode alcançar quando decide tomar seu destino em mãos. A POLÍTICA A PARTIR DE MAQUIAVEL 1º) Ele é responsável pela autonomia da ciência política desligada das preocupações > predominantemente filosóficas da política normativa dos gregos e > desvinculada da fé e da moral cristã. 2º) A política não se refere às utopias e abstrações, mas ao jogo efetivo das forças em circunstâncias concretas. O bom político é aquele que consegue identificar as forças do conflito para nele atuar com eficácia. 3º) A moral é compreendida como um conjunto de regras e valores que serve para regular as condutas individuais; >ela não serve para a ação política enquanto decide o destino dos cidadãos de uma comunidade. >Por esse motivo, “O Príncipe” foi considerado “livro do diabo”, anticristão e imoral. O Concílio de Trento o condenou em 1557. Daí nasceram os conceitos de “maquiavelismo” e “maquiavélico”. Maquiavelismo = algo oculto e planejado sem a preocupação moral, visando apenas o interesse próprio. 4º) O Realismo Político. Maquiavel foi o primeiro a abandonar a relação entre o ‘dever ser’ e o ‘ser’, entre o comportamento ideal ou normativo e o comportamento real. Necessário se ater à “verdade efetiva das coisas”. > Investigou a realidade como esta se apresenta e não como seria desejado se apresentar. > Ele tem uma visão política prática e psicológica, baseado na realidade nua e crua. > Por ter feito pela primeira vez uma investigação do comportamento efetivo dos homens, ele recebeu como condenação o título de cruel e demoníaco, como se fosse ele próprio o autor da crueldade e má- fé dos homens, e principalmente dos governantes. ANÁLISE DA OBRA ‘O PRÍNCIPE’ O pequeno e mais conhecido livro de Maquiavel foi apresentado ao longo dos séculos de várias formas: 1] TRATADO DE CIÊNCIA POLÍTICA 2] PRIMEIRO MANUAL DA ARTE DA POLÍTICA 3] MANUAL DO ABSOLUTISMO 4] LIVRO DO DIABO, ANTICRISTÃO E IMORAL 5] SÁTIRA OU RETRATO DA ÉPOCA 1º] TRATADO DE CIÊNCIA POLÍTICA Afirmar que o “O Príncipe” é um Tratado de Ciência Política é uma classificação ambiciosa. O que é um Tratado ? É um estudo que abrange grandes temas em questão. “O Príncipe” trata apenas de uma forma de governo: como conquistar e manter o principado (monarquia) e quais as razões de sua perda. Maquiavel é um demarcador de fronteiras: a política ANTES e DEPOIS de Maquiavel. ANTES: a política era obrigatoriamente ética. DEPOIS: a política é autônoma, separada da ética. Significado da Política separada da Ética. > Significa que a política deve tratar da vida concreta, da realidade social vivida, cujo eixo de ação ou estrutura de poder está no Estado. > Significa que a política não é divina ou sagrada. A política é histórica. > Significa que tanto no passado como hoje os homens são interesseiros e ambiciosos, só fugindo do mal pela força da lei e da punição. 2º] PRIMEIRO MANUAL DE ARTE DA POLÍTICA “O Príncipe” também foi qualificado de MANUAL. O que é um Manual? Um livro a ser usado com freqüente consulta. Muitos pensadores atribuíram ao livro o titulo de Manual por ter sido usado como um “VADE MECUM” = livro de leitura freqüente como fazia Napoleão Bonaparte. ARTE da Política = significa prática, exercício, profissão, o ‘fazer política’. Arte é práxis = prática. O livro foi considerado um MODELO para o governante fazer política, uma cartilha com indicações. 3º] MANUAL DO ABSOLUTISMO Manual = livro para consulta freqüente do Absolutismo = governo autocrático Auto = EU Kratós = PODER Absolutismo é o poder de um déspota, do tirano, poder totalitário. Maquiavel nunca foi defensor do Absolutismo e sim do governo republicano. Na sua obra “Discorsi” ele é um defensor do governo republicano. Ele mostrou o comportamento autoritário de muitos monarcas que usam as armas para ter poder. 4]LIVRO DO DIABO, ANTICRISTÃO E IMORAL O termo diabo (grego) > diá = separação (latim) > diabolu = chefe dos demônios Qualificar o livro de diabólico significa que ele causa divisão entre as pessoas e sobretudo divisão na arte de fazer política. No contexto sócio-cultural de Maquiavel, muitos governantes preferiam o modelo medievalde fazer política, que une a ética (princípios cristãos) com a política. Em 1557 = A Igreja Católica condenou o livro. Em 1572 = A Igreja Luterana condenou o livro, ‘ dando o título de’ imoral’. 5º] SÁTIRA OU RETRATO DA ÉPOCA Muitos pensadores vincularam “O Príncipe” a outra obra de Maquiavel, “A Mandrágora” ( peça teatral mostrando sua visão da sociedade e costumes de Florença). > Será uma Sátira? Gênero literário muito usado na época. Satirizar é empregar o humor, o cômico, o ridículo na desmoralização do indivíduo. Satirizar é usar o humor para veicular idéias, costumes, convenções, criticar regimes políticos, instituições com intenção de reformas ou destruição de aspectos da sociedade. No século XVII surgiu o provérbio deJean De Santeuil ( 1630 – 1690). “PELO RISO OS COSTUMES SÃO CORRIGIDOS” OBJETIVO DA OBRA “O PRÍNCIPE” No prefácio da obra, Maquiavel escreve seu objetivo: Três objetivos bem definidos: 1º] Objetivo Ocasional = oferta como pedido de emprego a Lourenço de Médici. Ele que voltar à atividade político-diplomática. 2º] Objetivo Genérico = guia ou receituário para conquistar e manter o poder. 3º] Objetivo Final = sugestão e guia para a unificação da Itália. Especialistas em Maquiavel afirmam que os dois últimos objetivos estavam em sua mente, não só quando escreveu o livro, mas durante o seu retiro nos arredores de Florença, em San Casciano. Maquiavel não seguiu nenhuma corrente filosófica de pensamento para escrever sua obra. Mas, do nada, nada se cria. Maquiavel tem como ponto de referência duas teorias, duas evidências históricas: 1ª] O Passado Histórico. Ele releu a vida dos grandes governantes da história da Antiguidades Clássica até o seu tempo. 2ª] O Passado Recente. Ele presenciou fatos da política da Europa. O Passado e o Presente se unem para dar originalidade ao novo pensamento político. Para Maquiavel, o interesse próprio, o desejo de conquista, a fama, o sucesso, dominaram os homens através dos tempos, sobretudo os conquistadores e governantes. Ele mostra que os mais altos gestos de grandeza da alma e os mais baixos gestos de maldade humana encontram-se registrados na história desde a Antiguidade Clássica até os nossos dias. UNIDADE IV – O PENSAMENTO LIBERAL A) CONTEXTO SÓCIO-CULTURAL > Momento histórico = Renascimento + Mudanças sócio-culturais abalaram as sociedades da Europa Ocidental. + As idéias de Maquiavel ganham fama e críticas. + Surgimento do pensamento liberal + Transição do Feudalismo para o Capitalismo B) THOMAS HOBBES E O ESTADO ABSOLUTO ( 1588 - 1679 ) A) Dados Biográficos: Nasceu em Malmesbury em 1588. Nasceu prematuramente devido o medo da mãe ao receber a notícia da chegada da “Invencível Armada”. > Na sua autobiografia ele conta que o medo é seu irmão gêmeo. > Este trauma o acompanhou por toda a vida. Ele construiu sua teoria política sobre o absolutismo tendo como raízes sobretudo o terror pelas guerras que ensangüentaram sua época. MALMESBURY > Aprendeu muito cedo e bem o grego e o latim, sendo que com 15 anos traduziu “Medéia” de Eurípides, do grego para o latim, em versos. > Estudou na Universidade de Oxford, e quando terminou os estudos em 1608, tornou-se preceptor na poderosa casa dos Cavendish, condes de Devonshire. > Em 1646 foi preceptor de Carlos Stuart ( o futuro Carlos II), durante a ditadura de Cromwel em Londres. > Em 1666, na Inglaterra, queimaram seus livros por considerarem-no um ateu e herético e após a sua morte (com 91 anos), queimaram seus livros em praça pública. > Em vida, teve dois grandes inimigos: 1º) A Igreja Anglicana 2º) A Universidade de Oxford. > Considerado o homem que fez a ruptura com a Idade Média. > Viajou muito pela Europa, e em Florença conheceu Galileu Galilei de quem ficou amigo. O período político-cultural de Hobbes está marcado por uma grande divisão política instituída por dois grupos políticos: 1º) Os Monarquistas: Defendiam a monarquia absoluta afirmando que sua legitimidade vem diretamente de Deus. 2º) Os Parlamentaristas: Afirmavam que a soberania devia ser compartilhada entre o Rei e o Povo. HOBBES, além de condicionado, foi um defensor das duas doutrinas mais marcantes de sua época: a) Mecanicismo Científico > doutrina que considera a natureza e tudo o que nela existe como um mecanismo, ou como um conjunto de mecanismos. Pretende tudo explicar de forma mecânica, científica, através da força e movimento dos corpos. b) Absolutismo Político: É a teoria elaborada por Hobbes cujos princípios fazem oposição à teoria liberal e democrática. Princípios do Absolutismo: 1] A Indivisibilidade do poder soberano, que deve concentrar-se em uma única instituição, seja essa instituição representada por um homem, seja por uma assembléia. 2] O dever de obediência dos súditos 3] A supremacia do Estado sobre a lei. 4] Proibição de qualquer tipo de rebelião 5] Fusão das autoridades política e religiosa Publicou muitas obras. A mais importante “O Leviatã” ( 1651 -em inglês ) Depois de Maquiavel, Hobbes é o filósofo político de maior renome. > Possuem idéias comuns, mas uma grande diferença em investigar a instauração da política no mundo. Ponto de Partida: ‘O QUE EXISTIA ANTES DOS HOMENS INSTAURAREM A ORDEM POLÍTICA’ ? Resposta: O ESTADO DE NATUREZA. Iº] O QUE É O ESTADO DE NATUREZA? 1º] Um Estado Imaginário 2º] Uma Hipótese lógica 3º] Um pensamento de uma realidade CONTRATO ESTADO DE NATUREZA SOCIEDADE CIVIL IIº) O QUE É O HOMEM EM SITUAÇÃO DE ESTADO DE NATUREZA ? A) É uma situação de conflito permanente No estado de natureza o homem vive em situação de violenta paixão ( não é paixão afetiva) sem freio, sem limites. VALE TUDO. Vivendo nesta situação o homem se reconhece carente, sem recursos, em constante busca. É um Estado de Anarquia. 2º] É uma situação de delírio. Todos vivem delirando. Não há referência de limites. Não há nenhuma mediação, nem leis. É uma situação anterior a qualquer sociabilidade. 3º] É uma situação a-histórica Mesmo sendo a-histórica ela é possível de existir no mundo. É uma situação eminentemente potencial. O homem tem a posse de tudo aquilo que desejar manter pela força, até que alguém tome. 4º] É uma situação de guerra permanente. Não é necessária sua realização, basta a ameaça de guerra, que o homem já se percebe em guerra. É uma luta de todos contra todos. Potência versus potência resulta em impotência. Nesta situação o homem só consegue sobreviver, e não em viver. Não há política no estado de natureza. O estado de natureza não descreve o homem primitivo, ou o homem anteriormente a qualquer organização social, mas sim como o homem se comportaria, dada a natureza humana, caso se suspendesse a obrigação de cumprir as leis e contratos imposta pela sociedade. Teríamos uma guerra de todos contra todos . O CONTRATOSOCIAL. Teoria Contratualista Teoria elaborada por Hobbes: “A reunião dos homens em sociedade não é um evento natural ou instintivo, mas resultado de um pacto, um contrato original que põe fim ao estado de natureza.” III) COMO O HOMEM PODE ( OU PÔDE) SAIR DO ESTADO DE NATUREZA ? A) O HOMEM FAZ UM CONTRATO O homem faz um ‘Pacto Social’. É desse contrato que nasce a política. Ela nasce do medo da morte. A Política é garantia de vida. Ela não é administração de recursos. É a política que possibilita ao homem a vida: mais política = mais vida; menos política = mais morte. B) O CONTRATO É FEITO ATRAVÉS DAS LEIS. A lei impede o homem de matar. É necessário que o homem entregue sua potência individualista para a autoridade pública, ou seja, para um soberano ( ou para um indivíduo, uma Assembléia, ou um Parlamento) IV) O QUE É O HOMEM PARA THOMAS HOBBES ? A) O homem é uma maquina natural, submetida ao estrito encadeamento de causas e efeitos. Todo ato humano é visto de forma radicalmente determinista. B) O homem é um ser de propriedades, e a primeira e a mais importante é o DESEJO. É o desejo que leva o homem a deliberar e agir. Os homens são potências movidas pelo desejo. C) O homem é mau. HOMO LUPUS HOMO. O HOMEM É UM LOBO PARA O HOMEM. A natureza humana é basicamente animal, apetitiva. Segundo a psicologia hobbesiana, os homens são naturalmente inimigos entre si, o que deriva da igualdade com que a natureza os criou. Todas as motivações humanas, inclusive a compaixão, são manifestações dissimuladas de egoísmo. Na psicologia Hobbesiana, basta que dois homens, com a mesma capacidade, almejem simultaneamente algo que não pode ser desfrutado em comum, para que se esforcem para destruir e subjugar um ao outro. O HOMEM = ANIMAL + RACIONAL > Como se formam os pensamentos ? >O que distingue o raciocínio das outras formas de pensamento? 1º] Hobbes reduz as operações mentais a um puro cálculo aritmético. 2º] Raciocinar é computar, ou seja, subtrair, somar, calcular. 3º] Todas as formas do saber, especialmente as ciências físicas, se baseiam no cálculo. Hobbes é considerado pelos atuais programadores de inteligência artificial o seu longínquo precursor. > Hobbes analisa a natureza humana em uma perspectiva mecanicista. O homem é como uma máquina que age sozinha. Os homens são essencialmente iguais. O mecanicismo dominava as discussões na Física daquela época. O problema central era como entender a natureza dos corpos e de seus movimentos. THOMAS HOBBES DIFUNDIU A TESE SOBRE O EGOISMO E O INDIVIDUALISMO NO CAMPO ECONÔMICO. V) O “L E V I A T Ô a) É um monstro de um antiga lenda fenícia, lenda que também está na Bíblia (Livro de Jó ) simbolizando uma força maldosa, à qual ninguém resiste. b) É um deus mortal, uma figura diabólica ( diá = separação) que tudo separa. Daqui surge o antigo provérbio: “Dividir pra governar” Hobbes utiliza da figura do Leviatã para explicar o que é o Estado Político = Sociedade Civil Após o Contrato, o Leviatã é o Estado Político. LIVRO – O LEVIATà O QUE É O ESTADO ? = LEVIATà O Estado ( em latim = Civitas ) só tem direitos. a) O Estado não pode ser contestado pelos que o instituíram. b) O Estado é juiz de paz e de defesa dos súditos. c) O Estado é juiz das doutrinas que convém serem ensinadas. D) O Estado tem o direito de editar regras ( legislar). E) O Estado tem o direito de ser ministro da justiça em todas as suas formas. F) O Estado tem o direito de decidir sobre a guerra e a paz. g) O Estado tem o direito de escolher todos os conselheiros e ministros. h) O Estado tem o direito de retribuir e castigar. i) O Estado tem o direito de atribuir honras e hierarquias. J) O Estado tem o direito de administrar a sua liberdade. Todos estão submissos ao Estado. K) O Estado tem o direito de intervir nas questões religiosas. A fé pode ser imposta. Não é qualquer religião que serve para o homem. L) O Estado nasce do instinto selvagem do homem, pois o homem é um um lobo, um animal apetitivo. O Poder para ser eficaz deve ser exercido de forma absoluta. Para Hobbes o Estado dever ser repressivo, pois o homem é mau, egoísta, apetitivo e desejoso. O Estado Soberano é um Deus Mortal. É uma entidade digna de veneração. > O homem não é como sustentava Aristóteles, um animal naturalmente social ( como a abelha ou a formiga). > O homem só cumpre a lei e respeita a segurança alheia somente quanto atemorizado pela força exercida pelo Estado. > Quanto mais forte o Estado, menores serão as transgressões. Definição de Estado e Soberania para Hobbes: “ É um indivíduo de cujos atos cada membro de uma grande multidão, com base em pactos recíprocos, se considera autor, para que esse indivíduo possa usar a força e os meios de todos do modo que julgar mais vantajoso para a paz e a defesa comum”. “ aquele que desempenha esse papel é chamado de soberano, e se diz que tem poder soberano; todos os outros são súditos’. O DIREITO NATURAL DE CADA UM DE GOVERNAR A SI MESMO É DELEGADO AO SOBERANO, QUE MEDIANTE TAL ATO TEM TODAS AS SUAS AÇÕES LEGITIMADAS. COMENTÁRIO CRÍTICO SOBRE A CONCEPÇÃO POLÍTICA DE HOBBES. 1) Hobbes é considerado o precursor do Estado Totalitário. 2) Considerado o “pai” das idéias do Estado Liberal. O primeiro filósofo ideólogo do Capitalismo. 3) Hobbes é um moralista, crítico e pessimista quanto ao ser do homem. 4) Considerado um conselheiro de tiranos ( como Hitler, Mussolini, Stalin, etc) 5) Para alguns, Hobbes não é nem totalitarista, nem liberal, mas o defensor da unidade do Estado. No século XX, alguns filósofos vêem em Hobbes a presença de pensamentos divergentes. 1º] Norberto BOBBIO: afirma a vertente Absolutista do pensamento de Hobbes. 2º] CB. MACPHERSON: afirma a vertente Liberal do pensamento de Hobbes, ao mostrar o seu individualismo possessivo. Hobbes é o “pai” da teoria contratualista. É o protagonista de uma tradição formada principalmente por: > JOHN LOCKE ( 1632 – 1704 ) > JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712 –1778) > IMMANUEL KANT ( 1724 – 1804 ) O que é a Teoria contratualista. > Chamada também de contratualismo jusnaturalita: > compreende a origem da sociedade e a base do poder político como frutos de um ‘contrato’: um acordo tácito ou formal divulgado em meio à maioria dos habitantes de um dado local, de modo que tal acordo põe fimao “estado natural” e inaugura o “estado social e político – a esfera da civilização. JOHN LOCKE ( 1632 – 1704 ) = O ESTADO LIBERAL = II] Dados Biográficos. > Nasceu em Wrington, arredores de Bristol em 29 agosto de 1632. Sua casa ficava ao lado da Igreja de Wrington > A família era de comerciantes burgueses de área rural. Pai: advogado rural. Mãe: considerada a mulher mais linda do vilarejo. Igreja de Wrington Depois do nascimento de Locke a família mudou-se para uma fazenda em Bristol. Em 1642, Locke com dez anos, viu iniciar a Guerra Civil. A Guerra foi o fim de uma longa disputa entre o Rei Carlos I e o Parlamento Inglês. O Rei aumentava os impostos sem consultar o Parlamento. Governava com autoritarismo, pois acreditava no Direito Divino dos Reis, segundo o qual o monarca recebia sua autoridade diretamente de Deus, e não podia ser contestado por ninguém, nem pelo Parlamento. Em 1649, Locke com 17 anos, estudava em Westminster School e presenciou o julgamento e a execução do Rei Carlos I. A família de Locke apoiou os Parlamentaristas. Esta foi a Iª revolução vitoriosa da história européia moderna. Em 1649 com a morte do Rei inicia-se a Ditadura Oliver Cromwell ( até 1660) e restabelece a ordem política no país. Rei Carlos I (1625-1649) WHITEHALL Praça do Julgamento e Execução do Rei Carlos I Em 1652 ( com 20 anos) estudou Filosofia na Universidade de Oxford, e Em 1658 ( com 26 anos) recebeu o título de “Master of Arts” tornando-se imediatamente professor de grego e retórica. > Insatisfeito com a filosofia aristotélica que recebeu em Oxford afirmou que ela era : “um peripatetismo recheado de palavras obscuras e de pesquisas inúteis”. Isto o levou a estudar: - Medicina ( era chamado de “Doutor Locke”), - Anatomia, Fisiologia, Física, Astronomia, História, Teologia, além das línguas (latim, Hebraico, Árabe) Durante a ditadura Cromwell ( 1649 – 1660), muitos costumes mudaram na Inglaterra. Os ingleses se tornaram puritanos e o fanatismo religioso dominou o país. Os puritanos reprimiam qualquer manifestação de alegria, chegando a proibir a Festa de Natal, na qual se comia muita torta e a confraternização era de longas gargalhadas. Cansados de tanto fanatismo, os ingleses convidaram Carlos II para assumir o poder. Ele governou de 1660 até 1685. O fanatismo religioso e o puritanismo dominava a Inglaterra Eles viviam um fervor emocional impensado Puritanos na Festa de Natal Nos Estados Unidos Pregação para os índios Cherokee Durante a ditadura Cromwell, Locke preferiu estudar Medicina. A Medicina se tornava sempre mais experimental ( o que contribui para Locke se tornar um Empirista) e muitas descobertas motivavam os estudantes, como a descoberta da circulação do sangue pelo Dr. William Harvey em 1578. Dr. Harvey mostra ao Rei Carlo I o coração de um veado e prova a circulação do sangue nas veias. > Em 1666 (com 34 anos) torna-se médico da família do Lorde Ashley Cooper, chanceler da Inglaterra e Conde de Shaftesbury. > Em 1668 ( com 36 anos) foi nomeado membro da prestigiosa Royal Society de Londres, da qual Hobbes não fora admitido por causa da sua filosofia pessimista sobre o homem. > Em 1672 (com 40 anos) entrou para a vida política como secretário do Conde de Shaftesbury. > Nas suas horas de lazer, gostava de escrever cartas às mulheres descomprometidas, mas jamais se casou. As mulheres sempre respondiam suas cartas: trecho de uma das cartas: Prezado senhor, Não pode imaginar com que prazer e satisfação li sua polida e tão obsequiosa carta... Lamento saber que se desviou de seu caminho e arrependo-me com tristeza de ter sido a causa, pois asseguro-lhe que minhas orações eram para que tivesse uma boa viagem... a carta termina: “De sua cordial amiga...” Locke respondeu uma semana mais tarde: “Que meus retornos não sejam tão rápidos quanto os seus deve a uma impossibilidade de encontrar aquele êxtase em que sua excelente carta de início me colocou, para o qual o espaço de uma semana é brevíssimo para recuperar-me”. Muitos historiadores concluíram que Locke era um apaixonado pelas mulheres ( que ele chamava de ladies) e viveu a vida em prolongados flertes até conhecer Damaris Cudworth (1659-1708) de 24 anos). Em 1682, conheceu Damaris Cudworth, de 24 anos, filha de um professor de Cambridge. Locke se apaixonou por ela, e dizia ser a mulher mais inteligente que conhecera. > Tanto quanto Locke, Damaris era de caráter explosivo. “Amor por semelhança”. Em 1683, Locke descobriu estar sendo vigiado por espiões do Rei Carlos II, e refugiou-se na Holanda. Mais tarde soube que Damaris se casara com Sir Francis Masham ( um viúvo). Em 1688, Locke volta para Londres e continua seus encontros “amigáveis” com Damaris. Em 1689, Damaris convida Locke para morar com em sua casa de campo, e lá viveram um ménage à trois. A vida na casa de Lady Damaris Cudworth Masham. > Longas conversas com Damaris. > O marido viajava para Londres e aceitava a amizade de Locke com Damaris. > 28 de outubro de 1704 – Locke morre nos braços de Damaris. > 1704 – Damaris abandona o marido. > 1708 – Damaris morre. Hoje: os três estão enterrados lado a lado na igreja de High Lever. Em 1688, no reinado de Guilherme de Orange Maria Stuart Locke participou intensamente da vida política de Londres. Foi ministro daAgricultura e Comércio Ficou amigo de Newton ( “Pai” da Física ) A Revolução Gloriosa De 1685-1688 reinou Jaime II ( irmão de Carlos II) O Parlamento inglês fez um acordo secreto com o príncipe da Holanda, chamado Guilherme de Orange, de lhe entregar o poder. As tropas abandonaram o Rei Jaime II e apoiaram o novo rei. Este fato histórico ficou conhecido como Revolução Gloriosa por não ter havido derramamento de sangue. Desembarque de Guilherme de Orange em Torquay, sul da Inglaterra apoiado pelas tropas inglesas. Principais obras: > Ensaio sobre o intelecto humano. > Epístola sobre a tolerância. > A racionalidade do Cristianismo. > Pensamentos sobre a educação. > Obra Política: “Dois Tratados Sobre o Governo Civil” ENSAIO SOBRE O INTELECTO HUMANO ( sua obra-prima de 1690 ) “Não aprendemos com a razão, aprendemos com a experiência” DOIS TRATADO SOBRE O GOVERNO CIVIL ( de 1690 ) Locke foi o único grande filósofo a se tornar Ministro de Estado, embora sua Filosofia fosse revolucionária. > Ele deu inspiração filosófica a dois grandes eventos históricos: A) Declaração de Independência dos Estados Unidos. B) Revolução Francesa. I] Contexto Sócio-político > Na Inglaterra – Intensa atividade comercial. II) Contexto Filosófico: Momento de idéias novas A) Racionalismo : afirma a possibilidade de se conhecer pela razão natural. B) Empirismo: afirma a possibilidade de se conhecer pela experiência sensível. Locke é defensor do Empirismo Crítico. “Todos os conhecimentos provêm da experiência, mas também da capacidade reflexiva do homem”. A) Os Racionalistas: Acreditavam na existência de idéias inatas. “São aquelas que estão na mente humana por força de uma intuição intelectual”. > São aquelas que possibilitam o conhecimento filosófico, o conhecimento da verdade. São elas que captam realidades extramentais, de ordem não física. B) Os Empiristas: ( T. Hobbes e J. Locke) Acreditavam que todo conhecimento nasce da experiência sensível. É partindo dos fatos que elaboramos verdades gerais, de caráter científico. FILOSOFIA POLÍTICA DE JOHN LOCKE I] O Que é o Estado de Natureza ? A) É uma situação de absoluta paz e harmonia. Contrariando Hobbes – estado de guerra contínua B) É uma situação onde o homem é LIVRE e vive em harmonia com a natureza, ou seja, sem tirania. “TODOS SOMOS LIVRES E IGUAIS”. Significa: cada sujeito é um rei. Ninguém limita a liberdade do outro. C) É uma situação de potencialidades realizadas; ninguém vive na miséria nem em guerra. É um local onde o imaginário é realidade. “NO PRINCÍPIO TUDO ERA AMÉRICA”. Locke faz referência ao continente americano, onde os índios viviam em harmonia com a natureza, sem destruí-la, e onde não existiam miseráveis como na Europa. D) É um período histórico primitivo. Não é uma hipótese lógica como afirma Hobbes. O estado de natureza existiu de forma concreta. Exemplo: os índios da América, especialmente do Brasil. II) Como é a vida no Estado de Natureza ? 1) O homem se governa pela lei da razão. A razão é a base da lei da natureza. 2) O homem tem direitos naturais e quando faz o contrato social, ele não perde esses direitos. No contrato, o homem apenas delega à autoridade constituída a defesa dos seus direitos. “A liberdade, enquanto direito natural, não se entrega para ninguém”. “A liberdade natural do homem é ser livre de qualquer poder superior na terra e não se sujeitar à vontade ou autoridade legislativa do homem, mas ter apenas a lei da natureza para regê-lo. A liberdade do homem, na sociedade, é não se submeter a nenhum outro poder legislativo, senão o estabelecido mediante assentimento no país, nem ao domínio de qualquer vontade, ou restrição de qualquer lei, senão daquela que o legislativo promulgar, segundo a confiança nele depositado”. 3) No estado de natureza não há política. Se os homens se guiam pela razão, porque teriam que construir a política. MAS, nem todos se governam pela razão e, sim pelas PAIXÕES e pelas EMOÇÕES. A estes a política deve combater. Eles são os TRANSFUGAS da razão. Eles são uma ameaça à situação de harmonia do estado de natureza. 4) No estado de natureza vive-se uma insegurança potencial. É a situação do indivíduo que está desfrutando da harmonia do estado de natureza e, chega alguém e ameaça invadir o seu mundo. Para vencer a insegurança potencial, o homem precisa sair do estado de natureza através do Contrato. Pelo contrato se constrói a política. III) A CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA. 1] A política nasce da situação de insegurança potencial. 2] Nasce com um objetivo bem definido: vencer a insegurança potencial. 3] Nasce marcada pela coerção: o homem foi forçado a deixar o estado de natureza. Foi coagido. 4] Na construção da política deve-se destruir as paixões transformando-as em interesses. 5] Qual a função da política? A) Normatizar a ação do indivíduo B) Distribuir recursos. IV) Concepção de Homem em Locke. 1) O homem é essencialmente bom. 2) O sujeito é cada indivíduo isolado, vivendo em sociedade. Locke fundamenta o individualismo filosófico. 3) O sujeito é racional e movido por paixões. O homem deve ter paixões calmas e transformá-las em interesses. 4) O sujeito deve mover-se por interesses. São os interesses que nos fazem operantes e agentes do progresso. 5) O sujeito é um construtor de propriedades. Mas o significam essas propriedade? PROPRIEDADES: 1º] VIDA 2º] LIBERDADE > Liberdade de pensamento e > Liberdade de ação. 3º] BENS MATERIAIS São características inerentes ao indivíduo. Para Locke, todos os indivíduos tem DIREITO > à Vida > à Liberdade ( significa livre iniciativa)> ao trabalho > à propriedade privada > à família > aos bens de consumo ESTE MODELO DE VIDA ELE CHAMA DE LIBERALISMO. LOCKE É O “PAI” DO LIBERALISMO FILOSÓFICO-POLÍTICO. V) O CONTRATO: Trata-se de dois contratos ou duas dimensões de um único contrato. 1º Contrato = 1º momento O contrato tem a função de aperfeiçoar o estado de natureza. É o momento da situação zero. O homem só pode contar ( e só conta) com os seus próprios recursos naturais, com suas próprias potencialidades. Ex: quando os puritanos irlandeses desembarcaram do navio May-Flower chegando dos Estados Unidos. “Vamos construir uma NOVA Inglaterra”. NAVIO MAY FLOWER No primeiro momento do contrato devemos buscar a paz e a harmonia que existia no estado de natureza. > Deve-se procurar normatizar e garantir os direitos naturais. > Sendo os homens por natureza LIVRE E IGUAIS, no contrato, todos tomam consciência da necessidade de construir a política. 2º Contrato – 2º Momento – Momento do TRUST = CONFIANÇA Todos os homens entregam a um outro (à autoridade) o DIREITO de representá-los na conduta social para que não haja guerras. Confio ao outro (o Estado Político) o direito de representar-me diante das ameaças do Trânsfugas da Razão ( aqueles que só agem pelas paixões e não querem construir a política = analfabeto político, políticos corruptos). A função do Estado é normatizar para garantir o estado de natureza. > O Estado deve ser uma REPÚBLICA. Res = coisa publica = de todos > O Estado não pode ser autoritário. Os dirigentes devem ser trocados todas as vezes que interferirem nos: a) direitos naturais ( alimentação, habitação, escolha da religião, pois a fé não pode ser imposta, contrariando Hobbes ...) e b) na propriedade ( vida, liberdade e bens materiais) Locke teorizou o Constitucionalismo Liberal. A sociedade e o Estado nascem do direito natural, que é racional e o governo tem sim o poder legislativo e executivo, mas continua sempre sujeito ao juízo do povo. Locke saiu vencedor, pois em 1688 a Inglaterra assumiu um governo constitucional liberal. A Monarquia deixou de se fundamentar no Direito Divino, embora alguns monarcas para se perpetuarem no poder, continuavam defendendo tal tese. JEAN-JACQUES ROUSSEAU ( 1712 – 1778 ) I) Contexto Sócio-Cultural do século XVIII ( Século do Iluminismo ) Paris ( França em 1712) > Guerras religiosas entre católicos e calvinistas. > Sua família era calvinista e se refugia na Suíça (Genebra) quando nasceu a criança. Paris no Século XVIII Genebra ( Suíça) > República independente e capital do Calvinismo ( deu segurança à família de Rousseau). > Pai: Isaac = relogioeiro, violinista e mestre de dança. > Mãe: Suzanne = morre no parto (e quase também a criança). Pai e filho viviam das lembranças da mãe. O pai descuidou-se da educação do filho e o entregou ao “Tio Bernard”. Ainda pequeno aprende o gosto pela leitura de romances e mais tarde os Clássicos, sobretudo John Locke que muito o influenciou. > Com 10 anos foi coroinha do pastor Lambercier onde aprendeu o > rigorismo do Calvinismo e as > injustiças da educação das crianças, ( fato que mais tarde fará nascer a grande obra de pedagogia “Emílio”). > Toda a sua infância foi de “déu em déu”, aqui e ali, até a vida adulta. Teve uma vida conturbada e solitária. > Com 15 anos, converte-se ao Catolicismo, foge para Annecy e vai morar com a Madame de Warens que foi para ele: a) mãe ( a quem chama de “maman”), b) amiga que o leva para ser batizado e aprende a ler os filósofos clássicos, c) amante, a partir dos 21 anos. > Madame de Warens o leva para Turim (Itália) para ser secretário de várias madames, emprego do qual não se sai bem, e volta para Annecy. > Entra para o coro da Catedral e cultiva grande amor pela música e faz suas primeiras composições. ROUSSEAU E MADAME DE WARENS Rousseau e Madame de Warens SECRETÁRIO DE DAMAS ITALIANAS Com 19 anos ( 1731) vai para Paris. Estuda latim e música. Seu sonho é se tornar um músico famoso. Em 1733 (21 anos) volta para a casa da Madame de Warens, a quem chama de “maman” e inicia um belo romance, fazendo-se sua amante. > Em 1742, volta para Paris ( Cidade Luz) pensando em se tornar famoso como músico, e ganha a vida como copista de música. Fracassa como músico mas faz amizade com os filósofos: Condillac (1715-1780) e com Dennis Diderot (1713 - 1784). Rousseau sofre da síndrome do plebeu, isto é, não ter uma morada definitiva, viver de “déu em déu’. Em 1749, a vida melhora. Ganha dinheiro com a opereta “O Adivinho da Aldeia”, onde é apresentada no Palácio Real. Em 1761, para aplacar tantas desavenças, volta à fé calvinista e casa-se com Thérèse Levasseur, antiga criada do quarto com quem teve cinco filhos ( todos entregues às creches após o parto) Em 1757 escreve: > “Emílio” ( obra de pedagogia, na qual retrata sua própria vida) > “O CONTRATO SOCIAL” ( obra de Filosofia Política. Em 1764 escreve: > “ As Confissões” ( de quase mil páginas) > “ Dicionário de Música” “ E M Í L I O” ==== ROUSSEAU DEU INÍCIO À PEDAGOGIA MODERNA O CONTRATO SOCIAL Em 1762, suspeito de hostilidade contra o regime francês, foi obrigado a fugir da França, refugiando-se na Inglaterra, onde recebeu ajuda do filósofo David Hume. Mas como era de difícil relacionamento, rompeu com David Hume e volta para a França. Acaba também sua amizade com os filósofos Diderot e d’Alembert. Terminou a vida na miséria e solidão. Participou ativamente dos preparativos da Revolução Francesa, mas não viu seus resultados. Contam que o rei Luis XVI, na Bastilha, teria dito: “Sem Rousseau e Voltaire a Revolução não teria acontecido”. No fim da vida, menos deprimido, escreve: “Devaneios de um Caminhante Solitário” Suas obras foram condenadas pelas autoridades. Escreveu em francês o que Locke dissera em inglês. Panteão de Paris Tumba de Rousseau PREOCUPAÇÕES POLÍTICAS: 1º) ORIGEM E CONSTITUIÇÃO DO ESTADO 2º) CRÍTICA À TEORIA POLÍTICA DE HOBBES I] CONCEPÇÃO POLÍTICA DE ROUSSEAU. A) O ESTADO DE NATUREZA. 1º) Um estado de inocência: Inspirado no Livro do Gênesis ( Bíblia), compara o Estado de Natureza com o Paraíso, onde a humanidade vive uma situação de inocência ameaçada. Nas situações de ameaça, o homem
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