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2014 AuditoriA e ControlAdoriA Prof. Luciano Fernandes Prof. Valdecir Knuth Copyright © UNIASSELVI 2014 Elaboração: Prof. Luciano Fernandes Prof. Valdecir Knuth Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 657.45 F363a Fernandes, Luciano Auditoria e controladoria / Luciano Fernandes, Valdecir Knuth. Indaial : Uniasselvi, 2014. 291 p. : il ISBN 978-85-7830-861-2 1. Auditoria 2. Controladoria I. Centro Universitário Leonardo da Vinci III ApresentAção Caro(a) acadêmico(a)! Diz o provérbio chinês que “podemos escolher o que semear, mas somos obrigados a colher aquilo que plantamos”. Plantamos para você a semente do conhecimento na disciplina de Auditoria e Controladoria e, você poderá, ao fim da Unidade 3, colher os melhores frutos que conseguir. Tenha certeza de uma coisa! Você está se preparando para uma das profissões mais valorizadas nos tempos atuais. Esta área de Auditoria e Controladoria é uma das principais e mais atuantes em atividade nas organizações, pois além da sua visão holística de todos os processos de negócio, possui competências e habilidades multidisciplinares para atuar no ponto nevrálgico que mais impacta na eficiência e eficácia das organizações, o processo de gestão. A Auditoria vem experimentando no campo profissional uma expressiva evolução nos últimos anos e possibilita um aumento substancial de conhecimentos que envolvem, direta ou indiretamente, a contabilidade e os demais setores de uma empresa. Para tanto, iniciaremos a Unidade 1 com o estudo do surgimento e evolução da auditoria, seus principais conceitos e os aspectos que envolvem a profissão de auditor. Conheceremos a importância das normas específicas da auditoria, bem como as formas de se encaminhar um trabalho nesta área de acordo com a realidade da organização que será auditada. Finalizando, conheceremos a fase final do trabalho do auditor, que é a comunicação dos resultados, transmitidos por meio de diversos tipos de relatórios e modelos de recomendações. Na Unidade 2 abordaremos a controladoria e sua relação com o processo de gestão das organizações, considerando que a visão holística proporcionada pela controladoria requer conhecimento sistêmico, observando a empresa como sistema aberto e dinâmico. Também estamos levando a você a avaliação e uso dos procedimentos da auditoria no sistema de controle interno. Além disso, estudaremos a importância dos controles internos e da gestão da informação para a controladoria e, ainda, os princípios relacionados à governança corporativa. Para finalizar, na Unidade 3 trataremos os conceitos básicos de controladoria, com o seu processo natural e evolutivo, a sua estrutura conceitual à luz da ciência, as funções que a controladoria deve exercer e as atribuições e o perfil do profissional controller. Ainda apresentaremos a estrutura organizacional, discutindo a controladoria como órgão formal do sistema empresa, dotado de objetivos e missão, e como a ciência se materializa nas organizações através das funções de controladoria. Bons estudos! Prof. Luciano Fernandes e Prof. Valdecir Knuth IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII sumário UNIDADE 1: AUDITORIA GERAL .................................................................................................. 1 TÓPICO 1: ORIGENS DA AUDITORIA ......................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 3 2 ELEMENTOS HISTÓRICOS DA AUDITORIA NO MUNDO ................................................ 3 3 AUDITORIA NO BRASIL ............................................................................................................... 5 4 CONCEITUAÇÃO ............................................................................................................................. 7 5 O AUDITOR E A AUDITORIA....................................................................................................... 8 5.1 A PROFISSÃO ............................................................................................................................ 8 5.2 QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL ................................................................................... 9 5.3 RESPONSABILIDADE SOCIAL DO AUDITOR .......................................................... 10 5.4 ÉTICA PROFISSIONAL ......................................................................................................... 11 5.5 RELAÇÕES HUMANAS E O AUDITOR ......................................................................... 13 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 15 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 16 TÓPICO 2: NORMAS DE AUDITORIA .......................................................................................... 19 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 19 2 NORMAS DE AUDITORIA GERALMENTE ACEITAS ........................................................... 19 3 INTRODUÇÃO ÀS NORMAS PROFISSIONAIS DE AUDITORIA NO BRASIL .............. 19 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 49 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 50 TÓPICO 3: RELATÓRIOS DO AUDITOR E MODELOS DE RECOMENDAÇÕES .............. 53 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 53 2 TIPOS DE RELATÓRIOS .................................................................................................................53 3 DISTRIBUIÇÃO DO RELATÓRIO ................................................................................................ 55 4 ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO ................................................................................................. 55 5 MODELOS DE RECOMENDAÇÕES PARA RELATÓRIO DA AUDITORIA ..................... 60 5.1 DISPONIBILIDADES (CAIXA, BANCOS E APLICAÇÕES) ................................... 60 5.1.1 Boletins de caixa ................................................................................................................... 60 5.1.1.1 Inexistência de boletins auxiliares de caixa ......................................................... 62 5.1.2 Saldos bancários ................................................................................................................... 62 5.1.2.1 Saldos de aplicação financeira ............................................................................... 63 5.2 CONTAS A RECEBER ............................................................................................................ 63 5.2.1. Relatório das contas a receber ........................................................................................... 63 5.3 ADIANTAMENTOS E OUTROS CRÉDITOS ................................................................ 64 5.4 ATIVO IMOBILIZADO .......................................................................................................... 65 5.5 CONTAS A PAGAR ................................................................................................................. 67 5.6 DESPESAS .................................................................................................................................. 68 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 69 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 71 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 73 VIII UNIDADE 2: CONTROLES INTERNOS ......................................................................................... 77 TÓPICO 1: ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA ................................................ 79 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 79 2 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS DE SISTEMA ................................................................... 79 3 A EMPRESA COMO SISTEMA ABERTO E DINÂMICO ........................................................ 84 4 OS SUBSISTEMAS DO SISTEMA-EMPRESA ........................................................................... 88 5 FUNÇÃO CONTROLADORIA INSERIDA NO SISTEMA DE GESTÃO ............................ 96 5.1 PROCESSO DECISÓRIO ....................................................................................................... 98 5.2 MODELO DE GESTÃO E O PROCESSO DE GESTÃO............................................... 101 5.2.1 Planejamento ........................................................................................................................ 106 5.2.1.1 Processo de planejamento ...................................................................................... 107 5.2.1.2 Planejamento estratégico ........................................................................................ 111 5.2.1.3 Planejamento tático ................................................................................................. 134 5.2.1.4 Planejamento operacional ...................................................................................... 134 5.2.1.5 Estudo de caso: orçamento empresarial da empresa Controlatudo Ltda. ...... 138 5.2.2 Execução ................................................................................................................................ 150 5.2.3 Controle ................................................................................................................................. 151 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 157 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 158 TÓPICO 2: CONTROLES INTERNOS ............................................................................................. 161 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 161 2 ELEMENTOS DO CONTROLE INTERNO .................................................................................. 161 3 AVALIAÇÃO DO CONTROLE INTERNO .................................................................................. 165 3.1 UTILIZAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS DE AUDITORIA NA AVALIAÇÃO DOS CONTROLES INTERNOS ...................................................... 167 3.1.1 Aplicação de questionários dirigidos ............................................................................... 168 3.1.2 Montagem de planilhas de controle.................................................................................. 169 3.1.3 Fluxogramação dos procedimentos das atividades ........................................................ 171 4 A MUDANÇA NOS ENFOQUES DOS CONTROLES GERENCIAIS ................................... 173 5 O AUDITOR E AS PREVENÇÕES CONTRA FRAUDE ............................................................ 173 6 CONTROLE INTERNO EM PROCESSAMENTO DE DADOS .............................................. 178 6.1 SEGURANÇA DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÕES................................................ 181 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 185 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 187 TÓPICO 3: GOVERNANÇA CORPORATIVA ............................................................................... 191 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 191 2 CONCEITO DE ACCOUNTABILITY E SUA RELAÇÃO COM A CONTROLADORIA ..... 192 3 TEORIA DA AGÊNCIA .................................................................................................................... 195 3.1 PROBLEMAS DE AGÊNCIA ................................................................................................ 197 3.2 CUSTOS DE AGÊNCIA .......................................................................................................... 198 3.3 ASSIMETRIA DE INFORMAÇÕES ................................................................................... 198 4 GOVERNANÇA CORPORATIVA ................................................................................................. 201 4.1 GOVERNANÇA CORPORATIVA NO BRASIL ............................................................ 203 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 205 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 208 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 210 IX UNIDADE 3: CONTROLADORIA ................................................................................................... 213 TÓPICO 1: ASPECTOS HISTÓRICOS DA CONTROLADORIA .............................................. 215 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................. 215 2 EVOLUÇÃO DA CONTABILIDADE E O SURGIMENTO DA CONTROLADORIA ........ 216 3 DESENVOLVIMENTO DA CONTABILIDADE GERENCIAL E A CONTROLADORIA .................................................................................................................. 218 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 222 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 223 TÓPICO 2: ESTRUTURA CONCEITUAL DA CONTROLADORIA ......................................... 227 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 227 2 ESTRUTURA CONCEITUAL BÁSICA DE CONTROLADORIA ........................................... 228 3 DEFINIÇÃO E OBJETO DA CONTROLADORIA ..................................................................... 230 3.1 DEFINIÇÃO DA CONTROLADORIA ............................................................................ 230 3.2 OBJETO DA CONTROLADORIA ...................................................................................... 233 4 A CONTROLADORIA E O RELACIONAMENTO COM AS ÁREAS AFINS ..................... 235 5 SUBDIVISÕES DA CONTROLADORIA ..................................................................................... 237 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 238 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 239 TÓPICO 3: ESTRUTURA FUNCIONAL DA CONTROLADORIA ........................................... 243 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 243 2 ATIVIDADES E FUNÇÕES DA CONTROLADORIA ............................................................... 244 3 O PROFISSIONAL CONTROLLER NAS ORGANIZAÇÕES .................................................. 250 3.1 PERFIL DA FUNÇÃO ............................................................................................................ 252 3.2 ATRIBUIÇÕES DO CONTROLLER .................................................................................... 255 4 RELAÇÃO ENTRE CONTROLADORIA VERSUS CONTROLE INTERNO ........................ 256 5 RELAÇÃO ENTRE CONTROLADORIA VERSUS AUDITORIA INTERNA E FUNÇÃO DE CONTROLE INTERNO .................................................................. 258 6 FUNÇÕES DE CONTROLADORIA E TESOURARIA .............................................................. 260 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 261 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 263 TÓPICO 4: ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DA CONTROLADORIA ............................. 267 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 267 2 A UNIDADE ORGANIZACIONAL CHAMADA CONTROLADORIA .............................. 268 3 MISSÃO E OBJETIVOS DA CONTROLADORIA ..................................................................... 270 4 POSICIONAMENTO NA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL ............................................. 273 5 ORGANIZAÇÃO INTERNA DA CONTROLADORIA ............................................................ 275 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 277 RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 279 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 280 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 283 X 1 UNIDADE 1 AUDITORIA GERAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Esta unidade tem por objetivos: • conhecer a origem e evolução da auditoria, seus principais conceitos e os aspectos que envolvem a profissão de auditor; • compreender como as normas de auditoria estão estruturadas e a impor- tância deste conhecimento para o trabalho do auditor; • conhecer como são elaborados os relatórios e emitidas as opiniões que consistem no trabalho final do auditor; • identificar os principais tipos de relatórios (opiniões do auditor); • identificar os principais tipos de recomendações que o auditor pode emitir no relatório de recomendações e ajustes; • compreender como os relatórios de recomendações do auditor podem contribuir para a melhoria na qualidade do sistema de controle interno da empresa. Esta Unidade está dividida em três tópicos e no final de cada um deles, você encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado. TÓPICO 1 – ORIGENS DA AUDITORIA TÓPICO 2 – NORMAS DE AUDITORIA TÓPICO 3 – RELATÓRIOS DO AUDITOR E MODELOS DE RECOMENDAÇÕES 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ORIGENS DA AUDITORIA 1 INTRODUÇÃO Para uma melhor compreensão da auditoria, neste primeiro tópico vamos conhecer a sua origem e evolução, seus principais conceitos e os aspectos que envolvem a sua profissão. Conheceremos a importância da qualificação profissional, bem como a responsabilidade social e ética do auditor perante o auditado e a sociedade. 2 ELEMENTOS HISTÓRICOS DA AUDITORIA NO MUNDO Tem-se a impressão de que a auditoria é uma área de surgimento recente e que foi criada apenas com a internacionalização da economia a partir da 2ª Guerra Mundial. Mas não é bem assim. Conforme Krieck (2011), praticamente a auditoria surgiu com a contabilidade. Ao realizar a contagem (contabilização) de determinado patrimônio, também se fazia a sua conferência, cuja prática era um sinal claro de controle patrimonial, que pode ser entendido como uma forma de auditoria. Assim, a auditoria existe há mais de 4.000 anos, desde a antiga Babilônia, embora que somente em 1314 foi criado o cargo de auditor, na Inglaterra. (KRIECK, 2011). Ainda segundo o autor, no final do século XIII, na Europa, a auditoria era desenvolvida através de trabalhos executados por associações profissionais: os Conselhos Londrinos, o Tribunal de Contas em Paris ou, ainda, o Collegio dei Raxonati e a Academia dei Ragionieri, na Itália. Mas foi com o advento do comércio marítimo que, no final do século XV, surgiu a necessidade de prestação de contas das receitas e dos gastos das expedições marítimas às Américas, Índia e Ásia (expedições em forma de joint ventures financiadas pelos reis, príncipes, empresários e banqueiros de Portugal, da Espanha, da França, da Inglaterra e da Holanda), com o objetivo de haver maior controle e evitar possíveis desvios de recursos financeiros. UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 4 As atividades de auditoria foram se desenvolvendo e tornaram-se mais complexas em função da própria complexidade produtiva e comercial que o mundo vivenciava a partir da Revolução Industrial (1756, na Inglaterra). Foi com a expansão do capitalismo que surgiram as primeiras fábricas com o uso intensivo de capital fora da jurisdição geográfica dos proprietários, o que provocou a necessidade de delegação de funções, atividades e atribuições de responsabilidades a pessoas que controlavam ou comandavam grupos de trabalho em outras cidades. E paraevitar que qualquer tipo de desvio de recursos pudesse ocorrer por motivos de fraudes ou erros, criaram-se controles que auxiliavam os auditores na execução do seu trabalho. (KRIECK, 2011). A partir da expansão industrial e comercial ocorrida no início do século XX, surgiram as grandes corporações americanas (Ford, DuPont) e houve uma rápida expansão do mercado de capitais nos Estados Unidos. A auditoria teve um avanço em 1929, quando ocorreu o crash da Bolsa nos Estados Unidos devido à grande depressão econômica. Neste período foi criado o Comitê Maycom, com a finalidade de instituir regras de auditoria para as empresas que tivessem ações negociadas em bolsa, tornando obrigatória a auditoria contábil, independente da publicação das demonstrações contábeis. FONTE: Adaptado de: <www.administradores.com.br/informe-se/.../auditoria...e.../4267/>. Aces- so em: 7 fev. 2013. Com o Pós-Guerra, a partir de 1959 a Accounting Principles Board (APB) – Junta de Princípios Contábeis passou a executar as pesquisas contábeis, emitindo mais de 30 pronunciamentos até 1973 com o intuito de padronizar a harmonização contábil e de auditoria naquela época. (KRIECK, 2011). Em 1° de junho de 1973 foi criada a Financial Accounting Standards Board (FASB) – Junta de Normas de Contabilidade Financeira, com o objetivo de determinar e aperfeiçoar os procedimentos, conceitos e normas contábeis. Esta Junta criou vários pronunciamentos FASB para consolidar a harmonização das informações contábeis das empresas multinacionais, pois com a Europa destruída no período da 2ª Guerra Mundial, as empresas norte-americanas tiveram seu auge na internacionalização da economia. (KRIECK, 2011). TÓPICO 1 | ORIGENS DA AUDITORIA 5 Em 1909 surgiu a primeira empresa de auditoria, a Mc-Auliffe Davis Bell & Co, mais tarde denominada Arthur Andersen. A segunda empresa que foi criada era a Price Waterhouse, incorporando a W.B. Peat Com a contextualização dos principais fatos que contribuíram para o crescimento da auditoria, é possível conhecer um pouco mais sobre a história da auditoria no mundo e, a partir disso, compreender o desenvolvimento da auditoria no Brasil. 3 AUDITORIA NO BRASIL Em síntese, podemos elucidar os seguintes fatores que contribuíram para o fortalecimento da auditoria quanto à origem, evolução e organização da profissão: • Grandes companhias inglesas de comércio e navegação. Com o advento da marinha mercantil, grandes operações comerciais foram realizadas e, por conseguinte, havia a necessidade de maiores controles. • A necessidade de credibilidade nos registros contábeis. Devido ao advento do comércio internacional, houve a necessidade da oferta do crédito, que, por consequência, era apenas concedido para as empresas devidamente controladas e auditadas. • Tributação do Imposto de Renda na Inglaterra, pois o governo inglês necessitava de maiores controles sobre o erário público. • Desenvolveu-se com o aparecimento das grandes empresas, com operações mais complexas e necessidade de maior volume de controles. • Empresas formadas por capitais de muitas pessoas. Poderiam ocorrer conflitos de interesses, e para evitar que uma minoria da sociedade de capital fosse prejudicada, a auditoria tornou-se necessária. • Criação do cargo de auditor em contas públicas na Inglaterra, a partir de 1314, devido à necessidade do controle do governo. • Desenvolvimento da prática sistematizada nos séculos XIX e XX, em função da Revolução Industrial e expansão econômica do pós-guerra. • Surgimento do Guia Profissional de New York e do Guia Comercial inglês em 1786. • Aparecimento das primeiras associações de contadores na Inglaterra de 1854 a 1867, e da Sociedade dos Contadores da Inglaterra em 1879. • Aparecimento das primeiras associações de contadores nos Estados Unidos, de1874 a 1882, da American Accounting Association (AAA) em 1916 e da American Institute of Certified Public Accountants (AICPA) em 1886. • Criação do Instituto Holandês de Contadores Públicos, em 1894. FONTE: Floriani (2011) ATENCAO A Auditoria no Brasil teve cunho relevante em função do surgimento das grandes corporações econômicas a partir da década de 50. UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 6 & Co e a Touche, Faller & C, mais tarde Arthur Andersen S/C, já mantinha um escritório no Rio de Janeiro, que tinha o objetivo de fiscalizar os demonstrativos contábeis desde 21 de outubro de 1909. (FLORIANI, 2011). Em 1985, o Banco Central do Brasil emitiu a Resolução nº 1.007 - Normas Gerais de Auditoria, com o auxílio do atual Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON) e do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). (FLORIANI, 2011). FONTE: Adaptado de: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfkmQAB/auditoria-governanca- -corporativa-online>. Acesso em: 6 fev. 2013. As bolsas de valores de Rio de Janeiro e de São Paulo iniciaram suas atividades em 1876 e 1890, respectivamente. E no período pós-guerra foram fundados, em 1957, o Instituto dos Contadores Públicos do Brasil (ICPB), em 1968, o Instituto dos Auditores Independentes (IBAI) e, em 1971, o Instituto Brasileiro de Contadores, atual Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON), com a fusão do ICPB e do IBAI. (FLORIANI, 2011). Em 1972, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) pronunciou-se a respeito dos princípios a serem seguidos sobre os procedimentos do trabalho do auditor, definindo as normas relativas à pessoa do auditor, à execução dos trabalhos e ao parecer da auditoria, pois ainda não haviam sido divulgadas normas que orientassem essas condutas. (FLORIANI, 2011). Em 1976, ocorreu a normatização das práticas e dos relatórios contábeis com a Lei n◦ 6.404, das Sociedades por Ações, que harmonizou no âmbito nacional as atividades da contabilidade frente às empresas e assim determinou padrões de registro e de controle para viabilizar as atividades da auditoria. (FLORIANI, 2011). Ainda em 1976 foi criada a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), com a responsabilidade de normatizar as normas contábeis e os trabalhos de auditoria das empresas de capital aberto, além de exercer as funções de fiscalização (semelhante à SEC dos Estados Unidos), pois com o advento da Lei das S.A´s isso se tornou necessário (FLORIANI, 2011). FONTE: Disponível em: <www.administradores.com.br/informe-se/.../auditoria...e.../4267/>. Acesso em: 7 fev. 2013. Segundo Almeida (2010, p. 4): Nas últimas décadas, instalaram-se no Brasil diversas empresas com associações internacionais e auditoria externa. Esse fato ocorreu em função da necessidade legal, principalmente nos Estados Unidos da América e da Europa, de os investimentos no exterior serem TÓPICO 1 | ORIGENS DA AUDITORIA 7 A apuração da falta de registros que deveriam ter sido feitos, por exemplo, é uma das formas de comprovar que inexiste exatidão nas demonstrações contábeis, principal objetivo da auditoria. 4 CONCEITUAÇÃO Vimos nos itens anteriores a origem e a evolução da auditoria. Agora vamos estudar o que vem a ser a auditoria propriamente dita. Para Crepaldi (2009, p. 3), “de forma bastante simples, pode-se definir auditoria como o levantamento, estudo e avaliação sistemática das transações, procedimentos, operações, rotinas e das demonstrações financeiras de uma entidade”. Em outras palavras, podemos dizer que auditoria é a técnica utilizada para verificar e confirmar a veracidade das informações e dos registros contábeis, principal meio de que se vale a Contabilidade para alcançar seu fim, que é o de apresentar a situação da saúde econômica e financeira da empresa. Com isto não queremos simplesmente afirmar que a ação da auditoria se limita em verificar aquilo que está registrado nos livros contábeis, pois a auditoria tem uma finalidade mais ampla e ela poderá também apurar o que foi omitido nos registros.As provas extracontábeis podem ser o testemunho de pessoas ligadas à empresa e que possam confirmar as ações ilícitas que os gestores ou inclusive os próprios funcionários da empresa tenham tomado. Quer um exemplo de uma ação ilícita e que não tenha registro contábil? É o caso dos juros das duplicatas pagas em atraso e cuja cobrança é feita no caixa da empresa em dinheiro. Pode-se colocar um carimbo de “PAGO” na duplicata sem mencionar o valor dos juros e como não fica registrado o valor, o próprio funcionário pode fraudar a empresa ficando com parte deste dinheiro. Mas há meios de a auditoria detectar isso, que veremos mais adiante. auditados. Essas empresas praticamente iniciaram a auditoria no Brasil e trouxeram todo um conjunto de técnicas de auditoria, que posteriormente foram aperfeiçoadas. Assim, o Brasil passou a assumir importantes compromissos junto às empresas no que se refere a órgãos fiscalizadores em contabilidade e auditoria. FONTE: Disponível em: <www.learned.com.br/download.php?pasta=_upl/file...aidc...>. Acesso em: 7 fev. 2013. Para Attie (2010, p. 5), “a auditoria é uma especialização contábil voltada a testar a eficiência e a eficácia do controle patrimonial implantado, com o objetivo de expressar uma opinião sobre determinado dado”. O autor afirma que a “auditoria das demonstrações contábeis visa as informações contidas UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 8 nessas afirmações, assim é evidente que todos os itens, formas e métodos que as influenciam também estarão sendo examinados”. (ATTIE, 2010, p. 5). Desta forma, conforme Almeida (2010, p. 34), “os procedimentos de auditoria representam um conjunto de técnicas que o auditor utiliza para colher as evidências sobre as informações das demonstrações financeiras”. Assim, entende-se que o auditor deve executar procedimentos pautados de acordo com a sua qualificação profissional e emitir opiniões sobre as demonstrações contábeis à medida que investigar as evidências necessárias para a sua execução. 5 O AUDITOR E A AUDITORIA A partir de agora vamos compreender um pouco mais sobre a regulamentação do trabalho de contabilidade, que é a formação específica para o profissional de auditoria. E como tal, é um trabalho realizado por profissionais devidamente capacitados e que possuem formação técnica para o desempenho da sua função com competência e acurácia. 5.1 A PROFISSÃO A profissão de auditor não está regulamentada, então cabe ao contador, profissional de contabilidade formado pelos cursos de graduação em Ciências Contábeis, a atribuição ao direito de executar os serviços de auditoria. Esta prerrogativa para o desempenho das atividades de auditoria é privativa dos contadores, sendo vedada aos técnicos em contabilidade ou outros profissionais de categoria diversa. A legislação que estabelece as normas referentes à competência profissional do auditor é o Decreto-Lei nº 9.295, de 27 de maio de 1946, com alterações de acordo com a Lei nº 12.249, de 11 de junho de 2010. (BRASIL, 2013). É preciso salientar que as companhias abertas devem ser auditadas por auditor independente registrado na Comissão de Valores Mobiliários para o exercício da auditoria independente, como está conceituada nas Leis nos 6.404/76 e 6.385/76, o qual fica subordinado às instruções da CVM, que disciplina e fiscaliza o mercado de capitais e legislações posteriores. Segundo Attie (2010, p. 7), “a origem do termo auditor em português, muito embora perfeitamente representado pela origem latina (aquele que ouve, ouvinte), na realidade provém da palavra inglesa to audit (examinar, ajustar, corrigir, certificar) [...]”. TÓPICO 1 | ORIGENS DA AUDITORIA 9 5.2 QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL O profissional de auditoria tem a incumbência de realizar atividades de acompanhamento, ajustes, correção e certificação dos registros contábeis e procedimentos contábeis adotados pela empresa e assim validar os mesmos perante os stakeholders. NOTA Stakeholders: que significa, nas palavras de Gruel, Santos e Knuth (2010 p.114), “grupos ou indivíduos cujos interesses são afetados pelas medidas que a organização toma”. Assim como outras profissões, a qualificação profissional exigida de um auditor é a de uma pessoa com devida escolaridade, experiência necessária nessa função e conhecimentos em contabilidade e finanças, auditoria, ciências do comportamento, comunicações, sistemas e equipamentos de informática, economia, aspectos legais de negócios, métodos quantitativos, processo administrativo e atividades gerenciais. E ainda, atualmente, conhecimento em áreas não muito familiares para o auditor, tais como: processos informatizados da produção de bens e serviços, tecnologia de produção, automatização e robotização, práticas comerciais e de negócios, fatores motivacionais, entre outros. Isso tudo para facilitar as atividades do auditor, que deve ter preparo para assumir atividades em qualquer ramo empresarial. Desde o início dos estudos na universidade, o contador se relaciona com os problemas das áreas de seu exercício profissional e, portanto, necessita conhecer auditoria, sistemas de informações e de controles internos. Através de cursos específicos, o auditor recebe orientações para identificar- se com os propósitos dos serviços e da profissão. E assim familiarizar-se com todas as nuances da profissão. A profissão de auditor impõe aos que a ela se dedicam um trabalho estruturado com base nos seguintes princípios básicos: UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 10 Capacidade técnica para rapidamente identificar possíveis problemas na empresa. Apego a estritas normas morais e éticas para assegurar a melhor qualidade das atividades da auditoria. Independência de julgamento que lhe permite expressar-se com liberdade, ou seja, não ficar “preso” a situações que comprometam a idoneidade do auditor em nenhuma situação. 5.3 RESPONSABILIDADE SOCIAL DO AUDITOR Todo o trabalho do auditor possui reflexo no relatório final de auditoria. O que basicamente caracteriza a responsabilidade da auditoria é a emissão do parecer (opinião) sobre as demonstrações contábeis examinadas. É evidente que a simples emissão de um parecer, com relação à situação de uma determinada empresa, implica necessariamente num comprometimento que deve estar pautado em evidências implícitas da regularidade da situação examinada e da confiabilidade nos demonstrativos que foram utilizados como base para as pesquisas das evidências do auditor. Com base nisso, se estabelece que a responsabilidade do auditor contábil é abrangente e tem em seu plano de trabalho áreas ilimitadas a serem investigadas, principalmente nos dias atuais, em que se divulga que para cada empresa existe uma forma de “hipoteca social”, cuja responsabilidade perante a sociedade precisa ser cumprida. Entende-se então que a responsabilidade do trabalho do auditor independente está voltada ao envolvimento de interesses dos sócios e acionistas da empresa para que sejam protegidos e vigiados. Mas, atenção para o fato de que o auditor independente não é apenas um profissional liberal prestando serviços à diretoria de uma empresa. Ele está a serviço da verdade contábil e patrimonial e por isso deve zelar pelos interesses múltiplos e intrincados na dinâmica patrimonial, na proteção das informações da empresa. Prosseguindo, há outros interesses em jogo. De um lado, encontram-se os interesses dos controladores, geralmente representados pelos diretores em exercício. De outro lado, os interesses dos clientes, fornecedores, financiadores e todos aqueles que para transacionar com a empresa precisam conhecer o potencial de seu patrimônio, para se certificarem do mínimo de risco aceitável dentro da normalidade dos negócios. TÓPICO 1 | ORIGENS DA AUDITORIA 11 5.4 ÉTICA PROFISSIONAL A ética,em sua expressão filosófica, começou com a filosofia no século VI a.C., na Grécia. Vejamos alguns cuidados necessários ao desempenho de uma auditoria: a) Realizar as avaliações nos locais onde os trabalhos estão sendo executados. b) Verificar e comprovar as evidências antes de qualquer conclusão. O auditor não deve basear-se em opiniões ou informações recebidas de quaisquer pessoas. Deve apenas utilizar-se dessas informações para aprofundar evidências em casos de fraudes que ocorram nas empresas. c) Constatar as evidências como verdadeiras após a verificação de mais de uma pessoa integrante da equipe. É importante elaborar o relatório da auditoria em conjunto com a equipe, não se esquecendo de revisá-lo antes da entrega final. d) Registrar as deficiências à medida que forem sendo encontradas, para que, no relatório de auditoria, possam ser relatadas com exatidão de detalhe. e) Condições adversas que sejam encontradas durante a auditoria e que requeiram atenção especial devem conter relatórios prontos para corrigi-las e serem comunicadas de imediato aos diretores da entidade. Geralmente se encontram anormalidades nas empresas e, nesse caso, transmiti-las de imediato para os diretores. f) Registrar as evidências objetivas de tal modo que não permitam dúvidas de interpretação. Termos como alguns, muitos, poucos, diversos etc. devem ser evitados. g) Não fazer comentários sobre as evidências descobertas, mantendo-se o sigilo profissional. Entretanto, se necessário, fazê-los por códigos secretos. h) Evitar opiniões de terceiros sobre como o serviço deve ser feito. i) Não interromper a auditoria. Caso seja necessário, os elementos que estão sendo examinados devem ficar blindados, fechados ou lacrados. j) Não esquecer que o objetivo não é somente localizar irregularidades, mas também destacar aspectos positivos encontrados durante a auditoria. k) Saber distinguir os aspectos vitais das evidências. l) Ficar atento a ações contrárias à auditoria por parte da entidade auditada, como a ausência de pessoas-chave alegando doença, o prolongamento do tempo de almoço e outras atitudes que possam dificultar os trabalhos de auditoria. m) Utilizar de canais de comunicação adequados e transparentes, exceto para assuntos sigilosos. ATENCAO IMPORTANT E Ética é conceituada como o ramo da filosofia que estuda o que é moralmente bom ou mal, certo ou errado. UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 12 No uso popular, o termo ética diz respeito aos princípios de conduta que orientam o indivíduo ou grupo de indivíduos, o que na realidade é definido por moral. A ética ou moralidade das pessoas ou grupos sociais não consiste simplesmente naquilo que elas fazem costumeiramente, mas naquilo que elas pensam o que é correto fazer, ou são obrigadas a isso. Tomemos, por exemplo, o caso do auditor contábil, que está incumbido de auditar as contas da empresa de um parente seu. Esse auditor estará agindo de acordo com suas crenças e podendo dizer sim ou não para esta tarefa. Mas o comportamento esperado do auditor é que o mesmo recuse o serviço. De acordo com a ética, esse auditor deverá solicitar a sua exclusão da tarefa a ele incumbida comunicando as razões ao gerente de auditoria. O seu gerente, sob o enfoque da ética profissional, deverá substituí-lo, mostrando à sociedade que a empresa de auditoria está agindo de acordo com os procedimentos éticos. No caso do auditor aceitar a tarefa de auditar as contas de seu parente, este tipo de atitude pode ser contraditório às opiniões de outros indivíduos, chamamos isso de dilema. O dilema implica que a ação de determinado indivíduo ou um grupo social contrariou aquilo que determinada sociedade acredita ser o comportamento adequado para aquela situação. Vejamos o caso da história de Robin Hood: analisando as suas ações como saqueador, elas apresentam enorme ausência moral. Se analisarmos os motivos que o levaram a agir daquela maneira (o sofrimento do povo em consequência da tirania de um soberano), tal comportamento pode ser moralmente aceito. Sabemos que a humanidade está em constante transformação. O comportamento humano muda ao longo da vida das pessoas, e estas alterações são em decorrência da evolução tecnológica ou ascensão ao poder de pessoas com novas formas de pensamento. A ética geral se constitui de normas pelas quais o indivíduo estabelece uma conduta pessoal adequada. A ética profissional nada mais é que uma divisão especial da ética geral e dela o profissional recebe normas específicas de conduta UNI A moral é a aprovação do comportamento humano, através dos princípios de conduta ética. Seria como dizer: a prática da teoria. A moral são as atitudes dos indivíduos e a ética é a ciência que estuda esses comportamentos. TÓPICO 1 | ORIGENS DA AUDITORIA 13 5.5 RELAÇÕES HUMANAS E O AUDITOR em questões que refletem responsabilidade para com a sociedade, com os clientes e com outros membros de sua profissão, assim como com a própria pessoa. A profissão de auditor se autoimpôs um código de ética bastante rígido. Conforme Attie (2010), os princípios éticos que regem a profissão do auditor independente são os seguintes: Independência, integridade e objetividade: deve manter sua integridade e objetividade e, quando exercer a auditoria, ser independente daqueles a quem presta serviços. Competência e padrões técnicos: deve observar os padrões técnicos profissionais e esforçar-se continuamente para tornar-se mais competente e melhorar a qualidade de seus serviços. Responsabilidade perante o auditado: deve ser justo e honesto com seus auditados e servi-los o melhor que puder, cuidando de defender profissionalmente os interesses desses clientes, de forma condizente com as responsabilidades que tem para com o público. Responsabilidade perante os colegas: deve conduzir-se de maneira a promover a cooperação e o bom relacionamento entre os membros de sua profissão. Outras responsabilidades e práticas: deve conduzir-se de modo a elevar o nível de sua profissão e sua capacidade de servir ao público. O auditor, em seu trabalho, deverá ter sempre em mente que nas relações humanas (em seu significado mais amplo, o estabelecimento e/ou a manutenção de contato entre pessoas), quer seja dentro de sua própria empresa ou departamento como fora dele quando se dirige à empresa que o contratou, poderão ou não estar presentes atitudes que vão de acordo com os princípios éticos. Na ausência dessas atitudes, o que resulta é um clima de ressentimento, resistência, incompreensão, falta de colaboração e iniciativa. Enfim, uma atmosfera que não conduz a um aproveitamento positivo na relação que se estabelece. Isso prejudicará a condução de seu plano de trabalho, trará um consequente mal-estar, além de péssima imagem que deixará perante o auditado. No caso de o auditor manifestar a prática de relações humanas assentada no princípio do reconhecimento dos seres humanos dotados de uma personalidade própria que merece ser respeitada, ele, auditor, conseguirá conduzir o seu trabalho e terá a cooperação daqueles que estão dentro deste contexto. UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 14 O auditor deverá sempre reconhecer que cada um de seus colegas, chefe e subordinado, mais do que simples executor de uma tarefa, é um ser humano e como tal deve ser tratado. A relação humana é condição básica para um resultado positivo do trabalho do auditor. Em síntese, presume-se uma atitude que envolve uma compreensão mútua e sincera dos sentimentos e anseios que todo ser humano leva consigo. Sentimentos e anseios estes que deverão estar presentes em todo trabalho do auditor, qualquer que seja o nível de formação intelectual das pessoas com as quais irá tratar. 15 Chegamos ao final do tópico 1. Faremos uma revisão do que estudamos até agora. • A auditoria existehá mais de 4.000 anos, desde a antiga Babilônia, embora que somente em 1314 foi criado o cargo de auditor, na Inglaterra. • A prática sistematizada da auditoria começou a desenvolver-se nos séculos XIX e XX, em função da Revolução Industrial e da expansão econômica do pós-guerra. • A auditoria no Brasil teve cunho relevante em função do surgimento das grandes corporações econômicas, a partir da década de 50. • Em 1976 ocorreu a normatização das práticas e dos relatórios contábeis com a Lei n◦ 6.404, das Sociedades por Ações, que harmonizou no âmbito nacional as atividades da contabilidade frente às empresas e assim determinou padrões de registro e de controle para viabilizar as atividades da auditoria. • Pode-se conceituar auditoria como um controle gerencial que funciona por meio de medição e avaliação da eficiência e eficácia dos controles da empresa. E não é só isso, também a auditoria deve ser entendida como a atividade de assessoramento à administração para medir o desempenho das atribuições definidas para cada área da empresa, mediante a aplicação das diretrizes políticas e objetivos determinados. • A ética profissional nada mais é que uma divisão especial da ética geral, e dela o profissional recebe normas específicas de conduta em questões que refletem responsabilidade para com a sociedade, com os clientes e com outros membros de sua profissão, assim como com a própria pessoa. RESUMO DO TÓPICO 1 16 1 Assinale a alternativa CORRETA: Devido ao advento do comércio internacional, houve a necessidade da oferta do crédito, que, por consequência, era apenas concedido somente a determinadas empresas com: a) ( ) Contabilidade implantada. b) ( ) Uma situação econômica viável. c) ( ) Devidamente controladas e auditadas. d) ( ) Determinados procedimentos contábeis, porque a auditoria ainda não existia. 2 Assinale a alternativa CORRETA: Em 1976, foi criada a Lei n◦ 6.404, das Sociedades por Ações, que normatizou as práticas e os relatórios contábeis. Qual a consequência desta lei para a auditoria? a) ( ) Normatizou a profissão do auditor. b) ( ) Harmonizou no âmbito nacional as atividades da contabilidade frente às empresas e assim determinou padrões de registro e de controle para viabilizar as atividades da auditoria. c) ( ) Fez com que o Conselho Federal de Contabilidade se pronunciasse a respeito dos princípios a serem seguidos sobre os procedimentos do trabalho do auditor. d) ( ) Permitiu que surgisse a primeira empresa de auditoria no país. 3 Assinale a alternativa CORRETA: A auditoria pode ser conceituada da seguinte forma: a) ( ) Como um controle gerencial que funciona por meio de medição e avaliação da eficiência e eficácia dos controles da empresa. Além disso, pode ser entendida como uma atividade de assessoramento à administração para medir o desempenho das atribuições definidas para cada área da empresa, mediante a aplicação das diretrizes políticas e objetivos determinados. b) ( ) É um ramo da ciência usado no estudo da verificação de relatórios analíticos da contabilidade. c) ( ) É uma área da contabilidade que apenas se preocupa em apurar fraudes nas empresas. d) ( ) É uma área da economia que presta serviços de controle. AUTOATIVIDADE 17 4 Assinale a alternativa CORRETA: Existem alguns princípios éticos que regem a profissão do auditor independente. Dentre eles podemos citar o seguinte: a) ( ) Atender às exigências do auditado quanto ao resultado da auditoria. b) ( ) Evitar emitir pareceres contrários à empresa auditada para terceiros. c) ( ) Independência, integridade e objetividade. d) ( ) Interpretar e decidir suas próprias normas nos encaminhamentos dos serviços de auditoria. 5 Assinale a alternativa CORRETA: A auditoria precisa de alguns cuidados no desempenho de sua função. Um deles é o seguinte: a) ( ) Condições adversas que sejam encontradas durante a auditoria e que requeiram atenção especial devem conter relatórios prontos para fazer denúncias. b) ( ) Realizar as avaliações fora dos locais onde os trabalhos estão sendo executados. c) ( ) Registrar as deficiências à medida que forem sendo encontradas, para que no relatório de auditoria possam ser relatadas com exatidão de detalhe. d) ( ) Ouvir opiniões de terceiros sobre como o serviço deve ser feito. 18 19 TÓPICO 2 NORMAS DE AUDITORIA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO As normas de auditoria têm a função principal de serem instrumentos de padronização dos exames, com a finalidade de evitar distorções nas análises. Desta forma, determinam as condições básicas que devem ser observadas pelo auditor no exercício da sua profissão. A forma como estas normas estão estruturadas e a profundidade com que são determinadas é o que vamos estudar neste tópico. 2 NORMAS DE AUDITORIA GERALMENTE ACEITAS Segundo Crepaldi (2009, p. 208), “essas normas determinam a estrutura dentro da qual o auditor decide sobre o que é necessário à elaboração de um exame de demonstrações financeiras, à realização do exame e à redação do relatório”. Então, Normas de Auditoria são instrumentos de padronização dos exames de auditoria, de forma que não ocorram distorções em determinados tipos de análises. É inadequado cada auditor proceder as suas análises de acordo com suas próprias interpretações. 3 INTRODUÇÃO ÀS NORMAS PROFISSIONAIS DE AUDITORIA NO BRASIL No exercício de suas funções, o auditor deve observar determinadas normas profissionais estabelecidas e aprovadas pelas entidades responsáveis pela regulamentação e fiscalização da atividade. No Brasil, estas entidades responsáveis são: • Conselho Federal de Contabilidade (CFC). • Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON). • Comissão de Valores Mobiliários (CVM). • Banco Central do Brasil (BACEN). • Superintendência de Seguros Privados (SUSEP). UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 20 • Instituto dos Auditores Internos do Brasil (AUDIBRA). • Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Além disso, Crepaldi (2009, p. 55) coloca que “[...] muitos auditores estão sujeitos aos regulamentos do American Institute of Certified Public Accountants (AICPA), que exerce considerável autoridade sobre seus membros e sobre a profissão de auditor independente”. As normas profissionais representam as condições mínimas necessárias a serem observadas pelos auditores no desenvolvimento de seus serviços, e são dividi das em três partes: • Normas relativas à pessoa do auditor. • Normas relativas à execução do trabalho. • Normas relativas ao parecer do auditor externo independente. a) Normas profissionais de auditoria relativas à pessoa do auditor Estas normas dizem respeito à natureza pessoal e às qualificações do auditor, estabelecendo as normas éticas e morais que, conforme Almeida (2010, p. 16), são as seguintes: • a auditoria deve ser executada por pessoa legalmente habilitada, perante o CRC; • o auditor deve ser independente em todos os seus assuntos relacionados com seu trabalho; • o auditor deve aplicar o máximo de cuidado e zelo na realização do seu exame e na exposição de suas conclusões. IMPORTANT E Estas normas estabelecem as atitudes profissionais do auditor, a obrigatoriedade de ter registro em um órgão de classe devidamente reconhecido para o desempenho do exercício da sua profissão. Também é necessário não estar “preso” a relações de parentesco ou amizade, pois isso não garante a integridade do trabalho executado, sendo que o auditor deve zelar por toda a qualidade das informações analisadas e auditadas. TÓPICO 2 | NORMAS DE AUDITORIA 21 As normas relativas à pessoa do auditor estão subdivididas em duas categorias, que são as seguintes: ● Normas profissionais do auditor externo independente: foram regulamentadas pelo Conselho Federal de Contabilidadeem 17 de dezembro de 1997, pela Resolução CFC nº 821/97, que aprovou a NBC P 1 - Normas Profissionais de Auditor Independente. ● Normas profissionais do auditor interno: foram regulamentadas pelo Conselho Federal de Contabilidade em 24 de março de 1995, pela Resolução CFC nº 781/95, que aprovou a NBC P 3 - Normas Profissionais do Auditor Interno. Essa resolução elencou as seguintes normas relativas à pessoa do auditor interno: • competência técnico-profissional; • autonomia profissional; • responsabilidade do auditor interno na execução dos trabalhos; • relacionamento com profissionais de outras áreas; • sigilo; • cooperação com o auditor independente. FONTE: Disponível em: <http://www.apcontabilidade.com.br/artigos/auditoria.htm>. Acesso em: 7 fev. 2013. b) Normas profissionais de auditoria relativas à execução do trabalho Tais normas foram regulamentadas pelo Conselho Federal de Contabilidade em 17 de dezembro de 1997, pela Resolução CFC nº 820/97, que aprovou a NBC T 11 - Normas de Auditoria Independente das Demonstrações Contábeis. Essa resolução elencou as seguintes normas de execução dos trabalhos: • planejamento da auditoria; • relevância; • risco de auditoria; • supervisão e controle de qualidade; • estudo e avaliação do sistema contábil e de controles internos; • aplicação dos procedimentos de auditoria; • documentação da auditoria; • continuidade normal das atividades da entidade; • amostragem; • processamento eletrônico de dados (PED); • estimativas contábeis; • transações com partes relacionadas; • transações e eventos subsequentes; • carta de responsabilidade da administração; • contingências. UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 22 As normas do trabalho no campo determinam o que podemos chamar de mecanismo de execução do exame. Almeida (2010, p. 16-17) define-as como “normas relativas à execução do trabalho” e as descreve da seguinte forma: o trabalho deve ser adequadamente planejado; quando executado por contabilistas-assistentes, estes devem ser convenientemente supervisionados pelo auditor responsável; o auditor deve estudar e avaliar o sistema contábil e o controle interno da empresa, como base para determinar a confiança que neles pode depositar, como fixar a natureza, a extensão e a profundidade dos procedimentos de auditoria a serem aplicados; os procedimentos de auditoria devem ser estendidos e aprofundados até a obtenção dos elementos comprobatórios necessários para fundamentar o parecer do auditor. (ALMEIDA, 2010, p. 16-17). Estes mecanismos de execução do trabalho é que determinam a profundidade do exame de auditoria a ser realizado e estabelecem os elementos comprobatórios para que o auditor possa fundamentar sua opinião no relatório final de auditoria. c) Normas relativas ao parecer do auditor externo independente As normas do parecer têm a premissa de determinar a profundidade dos exames a serem realizados, a natureza da auditoria realizada, dentre outros. Podemos dizer que estas normas determinam o alcance da opinião formulada e devem atender aos seguintes requisitos: o parecer deve esclarecer: (1) se o exame foi efetuado de acordo com as normas de auditoria geralmente aceitas; (2) se as demonstrações contábeis examinadas foram preparadas de acordo com os princípios fundamentais de contabilidade; (3) se os referidos princípios foram aplicados, no exercício examinado, com uniformidade em relação ao exercício anterior; salvo declaração em contrário, entende-se que o auditor considera satisfatórios os elementos contidos nas demonstrações contábeis examinadas e nas exposições informativas constantes das notas que as acompanham; o parecer deve expressar a opinião do auditor sobre as demonstrações contábeis tomadas em conjunto. Quando não se puder expressar opinião sem ressalvas sobre todos os elementos contidos nas demonstrações contábeis e nas notas informativas, devem ser declaradas as razões que motivaram esse fato. Em todos os casos, o parecer deve conter indicação precisa da natureza do exame e do grau de responsabilidade assumida pelo auditor. (ALMEIDA, 2010, p. 17). Neste sentido, as normas do parecer dos auditores independentes estabelecem que esses pareceres (opiniões dos auditores) devem expressar a situação econômica e financeira da empresa e salvaguardar o interesse dos investidores. A seguir, apresentamos a síntese de alguns pontos da Resolução n◦ 1.203/2009, que trata dos objetivos gerais do auditor independente e a condução da auditoria em conformidade com normas de auditoria. TÓPICO 2 | NORMAS DE AUDITORIA 23 RESOLUÇÃO CFC Nº. 1.203/09 Aprova a NBC TA 200 – Objetivos Gerais do Auditor Independente e a Condução da Auditoria em Conformidade com Normas de Auditoria. O CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, no exercício de suas atribuições legais e regimentais, CONSIDERANDO o processo de convergência das Normas Brasileiras de Contabilidade aos padrões internacionais; CONSIDERANDO que o Conselho Federal de Contabilidade é membro associado da IFAC – Federação Internacional de Contadores; CONSIDERANDO a Política de Tradução e Reprodução de Normas, emitida pela IFAC em dezembro de 2008; CONSIDERANDO que a IFAC, como parte do serviço ao interesse público, recomenda que seus membros e associados realizem a tradução das suas normas internacionais e demais publicações; CONSIDERANDO que mediante acordo firmado entre as partes, a IFAC autorizou, no Brasil, como tradutores das suas normas e publicações, o Conselho Federal de Contabilidade e o IBRACON – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil; CONSIDERANDO que a IFAC, conforme cessão de direitos firmada, outorgou aos órgãos tradutores os direitos de realizar a tradução, publicação e distribuição das normas internacionais impressas e em formato eletrônico, RESOLVE: Art. 1º Aprovar a NBC TA 200 – “Objetivos Gerais do Auditor Independente e a Condução da Auditoria em Conformidade com Normas de Auditoria”, elaborada de acordo com a sua equivalente internacional ISA 200. Art. 2º Esta Resolução entra em vigor nos exercícios iniciados em ou após 1º de janeiro de 2010. Art. 3º Aplicam-se as normas atualmente vigentes para os trabalhos de auditoria de exercícios iniciados antes de 1º de janeiro de 2010. Art. 4º Observado o disposto no artigo anterior, ficam revogadas, a partir de 1º de janeiro de 2010, as Resoluções CFC nºs. 820/97, 830/98, 836/99, 953/03, 981/03, 1.012/05, 1.022/05, 1.024/05, 1.029/05, 1.035/05, 1.036/05, 1.037/05, 1.038/05, 1.039/05, 1.040/05 e 1.054/05, publicadas no D.O.U., Seção I, de 21/1/98, 21/12/98, 2/3/99, 3/2/03, 11/11/03, 25/1/05, 22/4/05, 9/5/05, 6/7/05, 22/9/05, 22/9/05, 22/9/05, 22/9/05, 22/9/05, 22/9/05 e 8/11/05, respectivamente. Brasília, 27 de novembro de 2009. UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 24 O trabalho do auditor apresentado no parecer do auditor independente é a parte em que o público poderá conhecer e avaliar a competência do seu trabalho e a sua responsabilidade legal assumida sobre o conteúdo exposto. Chama-se “função de certificar” a responsabilidade que os auditores têm em atestar a fidelidade e fidedignidade dos relatórios contábeis. Pode-se dizer que o parecer é um atestado fundamentado nos conhecimentos especializados de contabilidade e auditoria em conformidade com as normas de auditoria. O parecer padrão, geralmente, possui três parágrafos, nos quais deverão declarar que foram adotados os princípios fundamentais de contabilidade, se esses princípios foram aplicados uniformemente, se a divulgação foi realizada de forma correta, e qual é o grau de responsabilidade assumido pelo auditor em relação às demonstrações contábeis. O Parecer do Auditor Independente é o documento elaborado pelo auditor para expressar, de forma clara e objetiva, obedecendo às características estabelecidas em normasespecíficas de auditoria, sua opinião sobre as demonstrações contábeis auditadas. Mediante o parecer, o auditor assume responsabilidade de ordem técnico-profissional, inclusive publicamente. Normalmente, o parecer é enviado aos acionistas, cotistas ou sócios, ao conselho de administração ou à diretoria da entidade, ou outro órgão equivalente. Contadora Maria Clara Cavalcante Bugarim Presidente Ata CFC nº. 931 Fonte: Disponível em: <http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?codgo=2009/001203>. Acesso em: 22 set. 2012. DICAS Para a leitura completa da Resolução CFC nº 1.203/09, acesse o link: <http:// www.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?codigo=2009/001203>. TÓPICO 2 | NORMAS DE AUDITORIA 25 No parecer devem constar o nome da entidade auditada, a identificação das demonstrações contábeis sobre as quais o auditor expressa a sua opinião e as datas e períodos a que correspondem. O contador responsável pelos trabalhos deve ter seu número de registro no Conselho Regional de Contabilidade, assinar e datar o parecer. Se a auditoria foi realizada por empresa especializada, o nome e o número de registro cadastral no Conselho Regional de Contabilidade também devem constar do parecer. A data do parecer deve corresponder ao dia do encerramento dos trabalhos de auditoria na entidade. ATENCAO Os principais tipos de pareceres de auditor independente são classificados em: ● Opinião não modificada. − Opinião sem ressalva. ● Opinião modificada. − Opinião com ressalva. − Opinião adversa. − Abstenção de opinião. Veremos a seguir cada tipo de opinião, separadamente. d) Relatório/parecer do auditor independente com opinião sem ressalva É o tipo de parecer usado quando o auditor não tem dúvidas das demonstrações financeiras auditadas. O primeiro e o segundo parágrafo destinam-se à apresentação do escopo do parecer. É o momento em que o auditor informa o objetivo e o tipo de exame que foi realizado pelo auditor. No terceiro parágrafo, o auditor expressa sua opinião sobre o trabalho auditado. Salienta- se que, para emitir o parecer sem ressalva, o auditor deve estar certo de que as demonstrações contábeis foram elaboradas conforme as normas de contabilidade e legislação em vigor. Por isso, o parecer deve estar alicerçado em alguns critérios, entre os quais: a) A observância dos princípios contábeis geralmente aceitos. b) A aplicação de testes dos registros contábeis ao invés de uma verificação completa. c) Os erros de pouca relevância devem ser desconsiderados. UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 26 d) O nível de segurança do sistema de controle interno deve ser o suficiente para o auditor estabelecer confiança nas informações contábeis auditadas. e) Os livros e registros da empresa auditada devem ter suas informações relacionadas nas demonstrações contábeis. Franco e Marra (2001, p. 534) apresentam um modelo de relatório/parecer do auditor independente com opinião sem ressalva, que demonstraremos a seguir: RELATÓRIO DO AUDITOR INDEPENDENTE Destinatário (1) Examinamos os balanços patrimoniais da Empresa ABC, levantados em 31 de dezembro de 19X1 e de 19X0, e as respectivas demonstrações do resultado, das mutações do patrimônio líquido e das origens e aplicações de recursos correspondentes aos exercícios findos naquelas datas, elaborados sob a responsabilidade de sua administração. Nossa responsabilidade é a de expressar uma opinião sobre essas demonstrações contábeis. (2) Nossos exames foram conduzidos de acordo com as normas de auditoria e compreenderam: (a) o planejamento dos trabalhos, considerando a relevância dos saldos, o volume de transações e o sistema contábil e os controles internos da entidade; (b) a constatação, com base em testes, das evidências e dos registros que suportam os valores e as informações contábeis divulgados; e (c) a avaliação das práticas e das estimativas contábeis mais representativas adotadas pela administração da entidade, bem como da apresentação das demonstrações contábeis tomadas em conjunto. (3) Em nossa opinião, as demonstrações contábeis acima referidas representam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira da Empresa ABC em 31 de dezembro de 19X1 e de 19X0, o resultado de suas operações, as mutações de seu patrimônio líquido e as origens e aplicações de seus recursos referentes aos exercícios findos naquelas datas, de acordo com os Princípios Fundamentais de Contabilidade. Local e data Assinatura Nome do auditor-responsável técnico Contador nº de registro no CRC Nome da empresa de auditoria Nº de registro cadastral no CRC (FRANCO E MARRA, 2001, p. 534) TÓPICO 2 | NORMAS DE AUDITORIA 27 No relatório do auditor independente com opinião sem ressalva não se encontra nenhum tipo de evidência que constate irregularidade, portanto pode ser considerado “parecer limpo”. e) Relatório/parecer do auditor independente com opinião com ressalva A opinião com ressalva ocorre quando o auditor observa algum tipo de discordância ou restrição na extensão de seus exames de auditoria, mas que não requeiram parecer adverso ou abstenção de opinião. A única diferença entre a opinião com ressalva e a opinião sem ressalva é a utilização das expressões “exceto por”, “exceto quanto” ou “com exceção de” quando se refere ao assunto objeto da ressalva. Ressaltando esse aspecto, Franco e Marra (2001, p. 538) citam a Resolução 820/97 do Conselho Federal de Contabilidade – CFC que define o parecer com ressalva da seguinte forma: 11.3.4.1 – O parecer com ressalva é emitido quando o auditor conclui que o efeito de qualquer discordância ou restrição na extensão de um trabalho não é tal magnitude que requeira parecer adverso ou abstenção de opinião. 11.3.4.2 – O parecer com ressalva deve obedecer ao modelo do parecer sem ressalva, com a utilização das expressões ‘exceto por’, ‘exceto quanto’ ou ‘com exceção de’ referindo-se aos efeitos do assunto objeto da ressalva. As circunstâncias que geram uma opinião com ressalva, segundo Floriani (2006, p. 78-79) (grifo do autor), são as seguintes: a.1. Quebra de consistência - Essa situação surge quando o cliente não emprega consistentemente os princípios contábeis e isto tem consequências materiais para as demonstrações financeiras; a.2. Inobservância de princípios contábeis - Essa decorre da aplicação, pelo cliente, de princípios contábeis que não têm aceitação geral ou que diferem daqueles promulgados por entidades normativas; a.3. Divulgação inadequada - Deve-se incluir nas demonstrações financeiras, ou em notas às mesmas, todas as informações necessárias a uma apresentação fidedigna. De outra forma, não se pode considerar fidedigna uma demonstração financeira e o auditor tem de emitir parecer com ressalva. a.4. Limitação de escopo - Se, por qualquer motivo, o auditor foi impedido de aplicar todos os procedimentos ou de reunir todas as evidências consideradas necessárias, talvez seja o caso de emitir parecer com ressalva; a.5. Contingências ou incerteza material - Nas atividades de negócios surgem muitas situações cujo desfecho é imprevisível, exemplo: processos legais, resultado de renegociação de contrato e apelação contra glosa no imposto; a.6. Registros contábeis incompletos ou inadequados - Uma circunstância intimamente relacionada com a deficiência de controles e a de registros contábeis incompletos ou inadequados. Para melhor compreensão, apresentaremos a seguir alguns exemplos de parágrafos com opinião com ressalva, contendo as diversas expressões utilizadas. UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 28 Exemplo 1: (a) O terreno e os edifícios da fábrica da companhia foram dados em 2XX2 em garantia de financiamento a longo prazo. (b) Em nossa opinião, exceto pela falta de divulgação da informação mencionadano parágrafo anterior, as demonstrações contábeis acima referidas representam etc., etc., etc. (c) Conforme mencionado na nota explicativa nº X, a companhia mudou no exercício social de 2XX2 o método de avaliar seus estoques. Neste caso, tanto a redação do parágrafo de alcance como o de opinião precisa ser modificada, para justificar a causa da limitação de alcance e a ressalva de opinião. Por exemplo, quando o auditor não tem condições ou é impedido pela administração de acompanhar o levantamento de estoque, ou de fazer a circularização dos créditos, ele dirá, no parágrafo explicativo dos trabalhos executados, que seu exame: “foi efetuado de acordo com as normas brasileiras de auditoria geralmente aceitas, exceto quanto ao acompanhamento do inventário, ou quanto à circularização dos créditos...”, ou, simplesmente, “salvo quanto ao descrito no parágrafo seguinte...”. Exemplo 2: (2) Exceto quanto ao mencionado no parágrafo 3, nosso exame foi conduzido de acordo com as normas de auditoria e compreendeu: etc., etc., (conforme padrão deste parágrafo no parecer sem ressalva). (3) Pelo fato de termos sido contratados pela empresa ABC S.A. após 31 de dezembro de 2XX2, não acompanhamos o inventário físico dos estoques naquela data, registrados no balanço patrimonial pela importância de R$ 700.000,00, nem foi possível satisfazer-mo nos sobre a existência dos estoques por meio de procedimentos alternativos de auditoria. O valor dos estoques em 31 de dezembro de 2XX2 contribui significativamente para a determinação do resultado das operações, das mutações do patrimônio líquido do exercício findo em 31 de dezembro de 2XX3. Como consequência, não estamos em condições de emitir, e por isso não emitimos opinião sobre as demonstrações do resultado, das mutações do patrimônio líquido correspondentes ao exercício findo em 31 de dezembro de 2XX3. (4) Em nossa opinião, o balanço patrimonial representa adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira da empresa ABC S.A. em 31 de dezembro de 2XX3, de acordo com os princípios fundamentais de contabilidade. (5) Não examinamos, nem foram examinadas por outros auditores independentes, as demonstrações contábeis do exercício findo em 31 de dezembro de 2XX1, cujos valores são apresentados para fins comparativos, e consequentemente não emitimos opinião sobre elas. TÓPICO 2 | NORMAS DE AUDITORIA 29 Exemplo 3: a) A companhia está, atualmente, contestando certas incorreções no cálculo do Imposto de Renda que a Secretaria da Receita Federal arbitrou para os exercícios sociais de 2XX3 e 2XX2 no valor de R$ 500.000,00, excluídos de juros e correção monetária. O ponto de discórdia refere-se a decisões conflitantes emanadas da Secretaria da Receita Federal, sobre as quais poderão ampliar- se as discussões. Como consequência é impossível determinar, nesta ocasião, o montante da dívida da companhia, se alguma ou nenhuma provisão foi constituída para atender a esse passivo contingente. b) Em nossa opinião, sujeitas a quaisquer ajustes nas demonstrações contábeis que possam advir da solução final da dívida de responsabilidade da empresa, relativo ao Imposto de Renda de exercícios anteriores, conforme exposto no parágrafo anterior (ou na nota explicativa), as demonstrações contábeis etc., etc., etc. Agora podemos observar, a seguir, um modelo de relatório/parecer do auditor independente com opinião com ressalva completo, proposto por Araújo (1998, p. 195-196). RELATÓRIO DO AUDITOR INDEPENDENTE COM OPINIÃO COM RESSALVA Destinatário (Parágrafo do escopo) Examinamos os balanços patrimoniais da Empresa Vou Passar, levantados em 31 de dezembro de 19X1 e 19X0, e as respectivas demonstrações do resultado, das mutações do patrimônio líquido e das origens e aplicações de recursos correspondentes aos exercícios findos naquelas datas, elaboradas sob a responsabilidade de sua administração. Nossa responsabilidade é a de expressar uma opinião sobre essas demonstrações contábeis. (Parágrafo das normas e procedimentos) (2) Nossos exames foram conduzidos de acordo com as normas de auditoria, e compreenderam: (a) o planejamento dos trabalhos, considerando a relevância dos saldos, o volume de transações e o sistema contábil e de controles internos da entidade; (b) a constatação, com base em testes, das evidências e dos registros que suportam os valores e as informações contábeis divulgadas; e (c) a avaliação das práticas e das estimativas contábeis mais representativas adotadas pela administração da entidade, bem como da apresentação das demonstrações contábeis tomadas em conjunto. UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 30 (Parágrafo da ressalva) (3) De acordo com suas instruções, não solicitamos a nenhum cliente que confirmasse seus saldos relativos ao contas a receber. Como consequência, não podemos expressar opinião sobre o saldo de Duplicatas a Receber no montante de R$ 200.000,00, que representa 5% do total do Patrimônio Líquido da Companhia e 10% do seu resultado. (Parágrafo da opinião) Em nossa opinião, exceto quanto ao fato mencionado no parágrafo anterior, as demonstrações contábeis acima referidas representam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira da Empresa Vou Passar em 31 de dezembro de 19X1 e de 19X0, o resultado de suas operações, as mutações de seu patrimônio líquido e as origens e aplicações de seus recursos referentes aos exercícios findos naquelas datas, de acordo com os Princípios Fundamentais de Contabilidade. Local e data Assinatura Nome do auditor – responsável técnico N. de registro no CRC Nome da empresa de auditoria N. de registro no CRC A NBC TA 705, aprovada pela Resolução CFC nº. 1.232/09, estabelece modificações na opinião do auditor independente, definindo no item 7 o seguinte: O auditor deve expressar uma opinião com ressalva quando: (a) ele, tendo obtido evidência de auditoria apropriada e suficiente, conclui que as distorções, individualmente ou em conjunto, são relevantes, mas não generalizadas nas demonstrações contábeis; ou (b) ele não consegue obter evidência apropriada e suficiente de auditoria para suportar sua opinião, mas ele conclui que os possíveis efeitos de distorções não detectadas, se houver, sobre as demonstrações contábeis, poderiam ser relevantes, mas não generalizados. (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2013). Vejamos dois exemplos de relatório do auditor independente com opinião com ressalva, conforme a NBC TA 705. Exemplo 1: Relatório do auditor independente com opinião com ressalva devido a distorção relevante nas demonstrações contábeis. As circunstâncias incluem o seguinte: TÓPICO 2 | NORMAS DE AUDITORIA 31 • auditoria do conjunto completo de demonstrações contábeis para fins gerais elaboradas pela administração da entidade de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil; • os termos do trabalho de auditoria refletem a descrição da responsabilidade da administração sobre as demonstrações contábeis na NBC TA 210; • os estoques estão superavaliados. A distorção é considerada relevante, mas não generalizada para as demonstrações contábeis. RELATÓRIO DOS AUDITORES INDEPENDENTES SOBRE AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS (1) [Destinatário apropriado] (2) Examinamos as demonstrações contábeis da Companhia ABC, que compreendem o balanço patrimonial em 31 de dezembro de 20X1(3) e as respectivas demonstrações do resultado, das mutações do patrimônio líquido e dos fluxos de caixa (4) para o exercício findo naquela data, assim como o resumo das principais práticas contábeis e demais notas explicativas. Responsabilidade da administração (5) da Companhia sobre as demonstrações contábeis A administração da Companhia é responsável pela elaboração e adequada apresentaçãodessas demonstrações contábeis de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil e pelos controles internos que ela determinou como necessários para permitir a elaboração de demonstrações contábeis livres de distorção relevante, independentemente se causada por fraude ou erro. Responsabilidade dos auditores independentes (6) Nossa responsabilidade é a de expressar uma opinião sobre essas demonstrações contábeis com base em nossa auditoria, conduzida de acordo com as normas brasileiras e internacionais de auditoria. Essas normas requerem o cumprimento de exigências éticas pelos auditores e que a auditoria seja planejada e executada com o objetivo de obter segurança razoável de que as demonstrações contábeis estão livres de distorção relevante. Uma auditoria envolve a execução de procedimentos selecionados para obtenção de evidência a respeito dos valores e divulgações apresentados nas demonstrações contábeis. Os procedimentos selecionados dependem do julgamento do auditor, incluindo a avaliação dos riscos de distorção relevante nas demonstrações contábeis, independentemente se causada por fraude ou erro. Nessa avaliação de riscos, o auditor considera os controles internos relevantes para a elaboração e adequada apresentação das demonstrações contábeis da Companhia para planejar os procedimentos de auditoria que são apropriados nas circunstâncias, mas não para fins de expressar uma opinião sobre a eficácia desses controles internos da Companhia (7). Uma auditoria inclui, também, a avaliação da adequação das práticas contábeis utilizadas e a razoabilidade das estimativas contábeis feitas pela administração, bem como a avaliação da apresentação das demonstrações contábeis tomadas em conjunto. UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 32 Acreditamos que a evidência de auditoria obtida é suficiente e apropriada para fundamentar nossa opinião com ressalva. Base para opinião com ressalva Os estoques da Companhia estão apresentados no balanço patrimonial por $ xxx. A administração não avaliou os estoques pelo menor valor entre o custo e o valor líquido de realização, mas somente pelo custo, o que representa um desvio em relação às práticas contábeis adotadas no Brasil. Os registros da Companhia indicam que se a administração tivesse avaliado os estoques pelo menor valor entre o custo e o valor líquido de realização, teria sido necessária uma provisão de $ xxx para reduzir os estoques ao valor líquido de realização. Consequentemente, o lucro líquido e o patrimônio líquido teriam sido reduzidos em $ xxx e $ xxx, respectivamente, após os efeitos tributários. Opinião com ressalva Em nossa opinião, exceto pelos efeitos do assunto descrito no parágrafo Base para opinião com ressalva, as demonstrações contábeis acima referidas apresentam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira da Companhia ABC em 31 de dezembro de 20X1, o desempenho de suas operações e os seus fluxos de caixa para o exercício findo naquela data, de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil. [Local (localidade do escritório de auditoria que emitiu o relatório)] [Data do relatório do auditor independente] [Nome do auditor independente (pessoa física ou jurídica)] [Nome do profissional (sócio ou responsável técnico, no caso de o auditor ser pessoa jurídica)] [Números de registro no CRC da firma de auditoria e do profissional que assina o relatório] [Assinatura do auditor independente] (1) Título no plural em decorrência do uso mais frequente pelas firmas (pessoa jurídica), todavia deve ser adaptado às circunstâncias de auditor pessoa física. (2) No caso do relatório cobrir outros aspectos legais e regulatórios, seria necessário um subtítulo para especificar que essa primeira parte do relatório refere-se às demonstrações contábeis e após a opinião sobre elas e eventuais parágrafos de ênfase e de outros assuntos, seria incluso outro subtítulo. (3) Embora a Estrutura Conceitual para Elaboração e Apresentação de Demonstrações Contábeis utilizada no Brasil determine a apresentação de demonstrações contábeis de forma comparativa e a Lei das Sociedades Anônimas fale em apresentação dos valores correspondentes do exercício anterior, não existe nenhuma determinação legal que estabeleça que o relatório do auditor independente deva incluir também opinião sobre o ano anterior, portanto, esta e as demais Normas de auditoria que tratam da emissão de relatório adotam integralmente o modelo internacional em que o relatório cobre somente o ano corrente. (4) No caso de também incluir demonstrações consolidadas, adaptar o texto, TÓPICO 2 | NORMAS DE AUDITORIA 33 inclusive no que tange à inclusão da expressão “e controladas”. De forma similar, caso o exame inclua outras demonstrações (exemplo Demonstração do Valor Adicionado), este parágrafo e o da opinião também devem ser adaptados. (5) Ou outro termo que seja apropriado no contexto da estrutura legal específica. Para relatórios emitidos no Brasil sobre entidades brasileiras deve ser utilizada essa expressão. (6) Adaptar no caso de auditor pessoa física ou firma individual. (7) Nas circunstâncias em que o auditor também tem a responsabilidade de expressar uma opinião sobre a eficácia dos controles internos em conjunto com a auditoria das demonstrações contábeis, a redação dessa sentença seria como segue: “Nessas avaliações de risco, o auditor considera os controles internos relevantes para a elaboração e adequada apresentação das demonstrações contábeis da entidade para planejar procedimentos de auditoria que são apropriados nas circunstâncias”. Relatório do auditor independente com opinião com ressalva devido à impossibilidade do auditor em obter evidência apropriada e suficiente de auditoria. As circunstâncias incluem o seguinte: • auditoria do conjunto completo de demonstrações contábeis para fins gerais elaboradas pela administração da entidade de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil; • os termos do trabalho de auditoria refletem a descrição da responsabilidade da administração sobre as demonstrações contábeis na NBC TA 210; • o auditor não conseguiu obter evidência de auditoria apropriada e suficiente sobre um investimento em uma coligada estrangeira. Os possíveis efeitos da impossibilidade de obter evidência de auditoria apropriada e suficiente são considerados relevantes, mas não generalizados nas demonstrações contábeis. RELATÓRIO DOS AUDITORES INDEPENDENTES SOBRE AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS (1) [Destinatário apropriado] (2) Examinamos as demonstrações contábeis da Companhia ABC, que compreendem o balanço patrimonial em 31 de dezembro de 20X1(3) e as respectivas demonstrações do resultado, das mutações do patrimônio líquido e dos fluxos de caixa (4) para o exercício findo naquela data, assim como o resumo das principais práticas contábeis e demais notas explicativas. FONTE: Item A 23 da NBC TA 705, aprovada pela Resolução CFC nº. 1.232/09. Disponível em: <http:// www.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2009/001232>. Acesso em: 22 set. 2012. Exemplo 2: UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 34 Responsabilidade da administração (5) da Companhia sobre as demonstrações contábeis A administração da Companhia é responsável pela elaboração e adequada apresentação dessas demonstrações contábeis de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil e pelos controles internos que ela determinou como necessários para permitir a elaboração de demonstrações contábeis livres de distorção relevante, independentemente se causada por fraude ou erro. Responsabilidade dos auditores independentes (6) Nossa responsabilidade é a de expressar uma opinião sobre essas demonstrações contábeis com base em nossa auditoria, conduzida de acordo com as normas brasileiras e internacionais de auditoria.Essas normas requerem o cumprimento de exigências éticas pelo auditor e que a auditoria seja planejada e executada com o objetivo de obter segurança razoável de que as demonstrações contábeis estão livres de distorção relevante. Uma auditoria envolve a execução de procedimentos selecionados para obtenção de evidência a respeito dos valores e divulgações apresentados nas demonstrações contábeis. Os procedimentos selecionados dependem do julgamento do auditor, incluindo a avaliação dos riscos de distorção relevante nas demonstrações contábeis, independentemente se causada por fraude ou erro. Nessa avaliação de riscos, o auditor considera os controles internos relevantes para a elaboração e adequada apresentação das demonstrações contábeis da Companhia para planejar os procedimentos de auditoria que são apropriados nas circunstâncias, mas não para fins de expressar uma opinião sobre a eficácia desses controles internos da Companhia (7). Uma auditoria inclui, também, a avaliação da adequação das práticas contábeis utilizadas e a razoabilidade das estimativas contábeis feitas pela administração, bem como a avaliação da apresentação das demonstrações contábeis tomadas em conjunto. Acreditamos que a evidência de auditoria obtida é suficiente e apropriada para fundamentar nossa opinião com ressalva. Base para opinião com ressalva O investimento da Companhia ABC na Empresa XYZ, uma coligada estrangeira adquirida durante o exercício e contabilizada pelo método de equivalência patrimonial, está registrado por $ xxx no balanço patrimonial em 31 de dezembro de 20X1, e a participação da Companhia ABC no lucro líquido da Empresa XYZ de $ xxx está incluído no resultado do exercício findo em 31 de dezembro de 20X1 da Companhia ABC. Não nos foi possível obter evidência de auditoria apropriada e suficiente sobre o valor contábil do investimento da Companhia ABC na Empresa XYZ em 31 de dezembro de 20X1 e da participação dela no lucro líquido da investida XYZ em razão de não termos tido acesso às informações contábeis, à administração e aos auditores da Empresa XYZ. Consequentemente, não nos foi possível determinar se havia necessidade de ajustar esses valores. TÓPICO 2 | NORMAS DE AUDITORIA 35 Opinião com ressalva Em nossa opinião, exceto pelos possíveis efeitos do assunto descrito no parágrafo Base para opinião com ressalva, as demonstrações contábeis acima referidas apresentam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira da Companhia ABC em 31 de dezembro de 20X1, o desempenho de suas operações e os seus fluxos de caixa para o exercício findo naquela data, de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil. [Local (localidade do escritório de auditoria que emitiu o relatório)] [Data do relatório do auditor independente] [Nome do auditor independente (pessoa física ou jurídica)] [Nome do profissional (sócio ou responsável técnico, no caso de o auditor ser pessoa jurídica)] [Números de registro no CRC da firma de auditoria e do profissional que assina o relatório] [Assinatura do auditor independente] (1) Título no plural em decorrência do uso mais frequente pelas firmas (pessoa jurídica), todavia deve ser adaptado às circunstâncias de auditor pessoa física. (2) No caso do relatório cobrir outros aspectos legais e regulatórios, seria necessário um subtítulo para especificar que essa primeira parte do relatório refere-se às demonstrações contábeis e após a opinião sobre elas e eventuais parágrafos de ênfase e de outros assuntos, seria incluso outro subtítulo. (3) Embora a Estrutura Conceitual para Elaboração e Apresentação de Demonstrações Contábeis utilizada no Brasil determine a apresentação de demonstrações contábeis de forma comparativa e a Lei das Sociedades Anônimas fale em apresentação dos valores correspondentes do exercício anterior, não existe nenhuma determinação legal que estabeleça que o relatório do auditor independente deva incluir também opinião sobre o ano anterior, portanto, esta e as demais Normas de auditoria que tratam da emissão de relatório adotam integralmente o modelo internacional em que o relatório cobre somente o ano corrente. (4) No caso de também incluir demonstrações consolidadas, adaptar o texto, inclusive no que tange à inclusão da expressão “e controladas”. De forma similar, caso o exame inclua outras demonstrações (exemplo Demonstração do Valor Adicionado), este parágrafo e o da opinião também devem ser adaptados. (5) Ou outro termo que seja apropriado no contexto da estrutura legal específica. Para relatórios emitidos no Brasil sobre entidades brasileiras deve ser utilizada essa expressão. (6) Adaptar no caso de auditor pessoa física ou firma individual. (7) Nas circunstâncias em que o auditor também tem a responsabilidade de expressar uma opinião sobre a eficácia dos controles internos em conjunto com a auditoria das demonstrações contábeis, a redação dessa sentença seria como segue: “Nessas avaliações de risco, o auditor considera os controles internos relevantes para a elaboração e adequada apresentação das demonstrações contábeis da entidade para planejar procedimentos de auditoria que são apropriados nas circunstâncias”. FONTE: Itens A23 e 24 da NBC TA 705, aprovada pela Resolução CFC nº. 1.232/09. Disponível em: <http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2009/001232>. Acesso em: 22 set. 2012. UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 36 Na opinião do auditor independente com ressalva há diversas menções sobre o que pode caracterizar as ressalvas nos relatórios contábeis. Essas ressalvas devem estar evidentes para a visualização do público. c) Relatório do auditor independente com opinião adversa Este tipo de opinião é emitido quando as demonstrações financeiras apresentam inconsistências em conformidade com os princípios contábeis geralmente aceitos. Neste caso, o auditor deve descrever de forma clara e consistente todos os motivos que o levaram a tomar essa decisão e as consequências para as demonstrações financeiras. Dentre alguns fatores que resultam na emissão da opinião adversa, podemos citar, conforme Floriani (2006, p. 79), a inobservância dos princípios contábeis e a divulgação inadequada. A Resolução nº 820/97, do CFC, define como emitir uma opinião adversa da seguinte forma: 11.3.5.1 - No parecer adverso, o auditor emite opinião de que as demonstrações contábeis não estão adequadamente representadas, nas datas e períodos indicados, de acordo com as disposições contidas no item 11.1.1.1. 11.3.5.2 - O auditor deve emitir parecer adverso quando verificar que as demonstrações contábeis estão incorretas ou incompletas, em tal magnitude que impossibilite a emissão do parecer com ressalva. (FRANCO; MARRA, 2001, p. 565). Vejamos um exemplo de parágrafos com opinião adversa: (a) No exercício 2XX2, a companhia deixou de contabilizar em regime de competência o valor de R$ 850.000,00 relativos a juros sobre empréstimos, que foram reconhecidos neste exercício. Os juros devidos no exercício de 2XX3, no valor de R$ 1.200.000,00, não foram contabilizados pela companhia neste exercício. (b) A companhia procedeu à contabilização da amortização do ativo referido, que, se calculada à taxa máxima permitida pela legislação do Imposto de Renda relativo ao exercício de 2XX3, seria de R$ 720.000,00. (c) As atividades industriais não estão proporcionando resultados suficientes para a cobertura dos custos e despesas incorridas, principalmente dos encargos financeiros, e para a amortização do ativo diferido. Para a continuidade das atividades da companhia é necessário aporte de recursos na forma de capital próprio. (d) Em nossa opinião, em decorrência do mencionado nos parágrafos (a) e (b) e sujeito aos possíveis efeitos relacionados ao disposto no parágrafo (c), as demonstrações financeiras acimareferidas, tomadas em conjunto, não representam adequadamente a posição etc. TÓPICO 2 | NORMAS DE AUDITORIA 37 Araújo (1998) recomenda que nos parágrafos intermediários sejam explicadas todas as razões ponderáveis que levaram o auditor a emitir o parecer adverso, e apresenta um modelo a ser seguido. Modelo de relatório/parecer do auditor independente com opinião adversa, conforme Araújo (1998, p.197-198). Relatório/parecer do auditor independente com opinião adversa Destinatário (Parágrafo do escopo) Examinamos os balanços patrimoniais da Empresa Vou Passar, levantados em 31 de dezembro de 19X1 e 19X0, e as respectivas demonstrações do resultado, das mutações do patrimônio líquido e das origens e aplicações de recursos correspondentes aos exercícios findos naquelas datas, elaboradas sob a responsabilidade de sua administração. Nossa responsabilidade é a de expressar uma opinião sobre essas demonstrações contábeis. (Parágrafo das normas e procedimentos) (2) Nossos exames foram conduzidos de acordo com as normas de auditoria, e compreenderam: (a) o planejamento dos trabalhos, considerando a relevância dos saldos, o volume de transações e o sistema contábil e de controles internos da entidade; (b) a constatação, com base em testes, das evidências e dos registros que suportam os valores e as informações contábeis divulgadas; e (c) a avaliação das práticas e das estimativas contábeis mais representativas adotadas pela administração da entidade, bem como da apresentação das demonstrações contábeis tomadas em conjunto. (Parágrafo das ressalvas) 3. No exercício de 19X1, a Companhia deixou de contabilizar depreciações do Ativo Imobilizado no montante aproximado de R$ 400.000,00. Destarte, também não foi contabilizada a correção monetária correspondente, que envolve o valor aproximado de R$ 200.000,00, ocasionando uma superavaliação no resultado do exercício de 60%. 4. No exercício de 19X0, a Companhia deixou de contabilizar pelo princípio da Competência de Exercício o valor de R$ 550.000,00 relativos a juros sobre empréstimos, que foram reconhecidos neste exercício. Os juros devidos no exercício de 19X1, no valor de R$ 850.000,00, não foram contabilizados pela Companhia. Tais fatos também acarretaram superavaliação de 30% no resultado do exercício. 5. A Companhia não procedeu à contabilização da amortização do ativo diferido, que, se calculada a taxa mínima permitida pela legislação do Imposto de Renda relativo ao exercício de 19X1, seria de R$ 300.000,00. Consequentemente, também não foi reconhecida a correção monetária sobre essa amortização no valor aproximado de R$ 150.000,00, ocasionando uma superavaliação de 45% no resultado do exercício. UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 38 6. As atividades industriais não estão proporcionando resultados suficientes para a cobertura dos custos e despesas incorridas, principalmente dos encargos financeiros, e para a amortização do ativo deferido. (Parágrafo da opinião) Em nossa opinião, em face dos fatos mencionados nos parágrafos 3 a 6, as demonstrações contábeis acima referidas não representam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira da Empresa Vou Passar em 31 de dezembro de 19X1 e de 19X0, o resultado de suas operações, as mutações de seu patrimônio líquido e as origens e aplicações de seus recursos referentes aos exercícios findos naquelas datas, de acordo com os Princípios Fundamentais de Contabilidade. Local e data Assinatura Nome do auditor – responsável técnico N. de registro no CRC Nome da empresa de auditoria N. de registro no CRC Relatório do auditor independente com opinião adversa devido à distorção relevante nas demonstrações contábeis. As circunstâncias incluem o seguinte: • auditoria de demonstrações contábeis consolidadas para fins gerais elaboradas pela administração da entidade de acordo com as normas internacionais de contabilidade; • os termos do trabalho de auditoria refletem a descrição da responsabilidade da administração sobre as demonstrações contábeis na NBC TA 210; • as demonstrações contábeis apresentam distorções relevantes devido à não consolidação de uma subsidiária. A distorção é considerada relevante e generalizada nas demonstrações contábeis. Os efeitos da distorção sobre as demonstrações contábeis não foram determinados por não ser viável. RELATÓRIO DOS AUDITORES INDEPENDENTES SOBRE AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS (1) [Destinatário apropriado] (2) O item 8 da NBC TA 705, aprovada pela Resolução CFC nº. 1.232/09, que estabelece modificações na opinião do auditor independente, define o seguinte: O auditor deve expressar uma opinião adversa quando, tendo obtido evidência de auditoria apropriada e suficiente, conclui que as distorções, individualmente ou em conjunto, são relevantes e generalizadas para as demonstrações contábeis. (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2012). A seguir, demonstraremos um exemplo de relatório/parecer com opinião adversa, conforme a NBC TA 705. TÓPICO 2 | NORMAS DE AUDITORIA 39 Examinamos as demonstrações contábeis consolidadas da Companhia ABC e suas subsidiárias, que compreendem o balanço patrimonial consolidado em 31 de dezembro de 20X1(3) e as respectivas demonstrações do resultado, das mutações do patrimônio líquido e dos fluxos de caixa (4) para o exercício findo naquela data, assim como o resumo das principais práticas contábeis e demais notas explicativas. Responsabilidade da administração (5) da Companhia sobre as demonstrações contábeis consolidadas A administração da Companhia é responsável pela elaboração e adequada apresentação dessas demonstrações contábeis consolidadas de acordo com as normas internacionais de relatório financeiro e pelos controles internos que ela determinou como necessários para permitir a elaboração de demonstrações contábeis consolidadas livres de distorção relevante, independentemente se causada por fraude ou erro. Responsabilidade dos auditores independentes (6) Nossa responsabilidade é a de expressar uma opinião sobre essas demonstrações contábeis consolidadas com base em nossa auditoria, conduzida de acordo com as normas brasileiras e internacionais de auditoria. Essas normas requerem o cumprimento de exigências éticas pelo auditor e que a auditoria seja planejada e executada com o objetivo de obter segurança razoável de que as demonstrações contábeis consolidadas estão livres de distorção relevante. Uma auditoria envolve a execução de procedimentos selecionados para obtenção de evidência a respeito dos valores e divulgações apresentados nas demonstrações contábeis consolidadas. Os procedimentos selecionados dependem do julgamento do auditor, incluindo a avaliação dos riscos de distorção relevante nas demonstrações contábeis, independentemente se causada por fraude ou erro. Nessa avaliação de riscos, o auditor considera os controles internos relevantes para a elaboração e adequada apresentação das demonstrações contábeis consolidadas da Companhia para planejar os procedimentos de auditoria que são apropriados nas circunstâncias, mas não para fins de expressar uma opinião sobre a eficácia desses controles internos da Companhia (7). Uma auditoria inclui, também, a avaliação da adequação das práticas contábeis utilizadas e a razoabilidade das estimativas contábeis feitas pela administração, bem como a avaliação da apresentação das demonstrações contábeis consolidadas tomadas em conjunto. Acreditamos que a evidência de auditoria obtida é suficiente e apropriada para fundamentar nossa opinião adversa. Base para opinião adversa Conforme explicado na Nota X, a Companhia não consolidou as demonstrações contábeis da controlada XYZ, que foi adquirida durante 20X1, devido não ter sido possível determinar os valores justos de certos ativos epassivos relevantes dessa controlada na data da aquisição. Esse investimento, portanto, está contabilizado com base no custo. De acordo UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 40 com as normas internacionais de relatório financeiro, a controlada deveria ter sido consolidada. Se a controlada XYZ tivesse sido consolidada, muitos elementos nas demonstrações contábeis teriam sido afetados de forma relevante. Os efeitos da não consolidação sobre as demonstrações contábeis não foram determinados. Opinião adversa Em nossa opinião, devido à importância do assunto discutido no parágrafo Base para opinião adversa, as demonstrações contábeis consolidadas não apresentam adequadamente a posição patrimonial e financeira consolidada da Companhia ABC e suas controladas em 31 de dezembro de 20X1, o desempenho consolidado das suas operações e os fluxos de caixa consolidados para o exercício findo em 31 de dezembro de 20X1, de acordo com as normas internacionais de relatório financeiro. [Local (localidade do escritório de auditoria que emitiu o relatório)] [Data do relatório do auditor independente] [Nome do auditor independente (pessoa física ou jurídica)] [Nome do profissional (sócio ou responsável técnico, no caso de o auditor ser pessoa jurídica)] [Números de registro no CRC da firma de auditoria e do profissional que assina o relatório] [Assinatura do auditor independente] (1) Título no plural em decorrência do uso mais frequente pelas firmas (pessoa jurídica), todavia deve ser adaptado às circunstâncias de auditor pessoa física. (2) No caso do relatório cobrir outros aspectos legais e regulatórios, seria necessário um subtítulo para especificar que essa primeira parte do relatório refere-se às demonstrações contábeis e, após a opinião sobre elas e eventuais parágrafos de ênfase e de outros assuntos, seria incluso outro subtítulo. (3) Embora a Estrutura Conceitual para Elaboração e Apresentação de Demonstrações Contábeis utilizada no Brasil determine a apresentação de demonstrações contábeis de forma comparativa e a Lei das Sociedades Anônimas fale em apresentação dos valores correspondentes do exercício anterior, não existe nenhuma determinação legal que estabeleça que o relatório do auditor independente deva incluir também opinião sobre o ano anterior, portanto, esta e as demais Normas de auditoria que tratam da emissão de relatório adotam integralmente o modelo internacional em que o relatório cobre somente o ano corrente. (4) Adaptar este parágrafo e o da opinião caso sejam inclusas outras demonstrações. (5) Ou outro termo que seja apropriado no contexto da estrutura legal específica. Para relatórios emitidos no Brasil sobre entidades brasileiras deve ser utilizada essa expressão. TÓPICO 2 | NORMAS DE AUDITORIA 41 (6) Adaptar no caso de auditor pessoa física ou firma individual. (7) Nas circunstâncias em que o auditor também tem a responsabilidade de expressar uma opinião sobre a eficácia dos controles internos em conjunto com a auditoria das demonstrações contábeis, a redação dessa sentença seria como segue: “Nessas avaliações de risco, o auditor considera os controles internos relevantes para a elaboração e adequada apresentação das demonstrações contábeis da entidade para planejar procedimentos de auditoria que são apropriados nas circunstâncias”. FONTE: Itens A23 e 24 da NBC TA 705, aprovada pela Resolução CFC nº. 1.232/09. Disponível em: <http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2009/001232>. Acesso em: 22 set. 2012. A opinião adversa se confunde com a opinião com ressalva, a diferença é que na opinião adversa apenas ocorrem algumas inconsistências ao cumprimento de normas contábeis ou legais, porém nada que prejudique a interpretação do relatório. Estes problemas podem ser corrigidos mediante aplicação de medidas corretivas no sistema de controle interno da empresa. c) Relatório do auditor independente com abstenção de opinião O Relatório/parecer do auditor independente com abstenção de opinião é uma declaração de que o auditor não deseja emitir nenhum tipo de parecer. Ao optar pela abstenção de opinião, o auditor deve especificar os motivos que o levaram a essa decisão. Para Attie (2010, p. 80-81): 1. O parecer com abstenção de opinião é aquele em que o auditor deixa de emitir opinião sobre as demonstrações contábeis, por não ter obtido fundamentação suficiente para fundamentá-la. 2. A abstenção de opinião em relação às demonstrações contábeis tomadas em conjunto não elimina a responsabilidade do auditor de mencionar, no parecer, qualquer desvio relevante que possa influenciar a decisão do usuário dessas demonstrações. A seguir, apresentaremos um exemplo de parágrafo com abstenção de opinião: a) De acordo com instruções recebidas da administração da Cia ABC, não estivemos presentes à contagem física do inventário realizado em 31 de dezembro de 2XX3. Como consequência, não podemos expressar opinião com respeito a esse inventário, que monta a R$ 1.543.650,00. b) Em virtude do inventário de 31 de dezembro de 2XX3 ter a importância substancial na determinação da posição patrimonial e financeira e do resultado das operações da Cia. ABC, não podemos expressar opinião sobre as demonstrações financeiras anexas, tomadas em conjunto. UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 42 Em Araújo (1998, p. 199-200) encontramos um modelo completo desse tipo de parecer, que demonstramos a seguir: RELATÓRIO/PARECER DO AUDITOR INDEPENDENTE COM ABSTENÇÃO DE OPINIÃO Destinatário (Parágrafo do escopo) Fomos contratados para examinar os balanços patrimoniais da Empresa Vou Passar, levantados em 31 de dezembro de 19X1 e 19X0, e as respectivas demonstrações do resultado, das mutações do patrimônio líquido e das origens e aplicações de recursos correspondentes aos exercícios findos naquelas datas, elaboradas sob a responsabilidade de sua administração. Nossa responsabilidade é a de expressar uma opinião sobre essas demonstrações contábeis. (Parágrafo das normas e procedimentos) (2) Excetuando o fato mencionado no próximo parágrafo, nossos exames foram conduzidos de acordo com as normas de auditoria e compreenderam: (a) o planejamento dos trabalhos, considerando a relevância dos saldos, o volume de transações e o sistema contábil e de controles internos da entidade; (b) a constatação, com base em testes, das evidências e dos registros que suportam os valores e as informações contábeis divulgadas; e (c) a avaliação das práticas e das estimativas contábeis mais representativas adotadas pela administração da entidade, bem como da apresentação das demonstrações contábeis tomadas em conjunto. (Parágrafo da ressalva) De acordo com instruções recebidas da administração da Companhia Vou Passar, não estivemos presentes à contagem física dos estoques realizada em 31 de dezembro de 19X1. Bem como não foi possível a adoção de procedimentos alternativos de modo a possibilitar a verificação da existência desse ativo na data do balanço. Como consequência, não podemos expressar qualquer opinião com respeito a esse inventário, que monta a R$ 1.500.000,00, representando 90% do total do ativo da Companhia. (Parágrafo da opinião) Em virtude de o saldo dos estoques de 31 de dezembro de 19X1 ter importância substancial na determinação da posição patrimonial e financeira e do resultado das operações da Companhia Vou Passar, não podemos expressar opinião sobre suas demonstrações financeiras tomadas em conjunto. Local e data Assinatura Nome do auditor – responsável técnico N. de registro no CRC Nome da empresa de auditoria N. de registro no CRC TÓPICO 2 | NORMAS DE AUDITORIA 43 A NBC TA 705, aprovada pela Resolução CFC nº 1.232/09, que estabelece modificações quanto à abstenção de opinião do auditor independente, define o seguinte: 9. O auditordeve abster-se de expressar uma opinião quando não consegue obter evidência de auditoria apropriada e suficiente para suportar sua opinião e ele conclui que os possíveis efeitos de distorções não detectadas, se houver, sobre as demonstrações contábeis, poderiam ser relevantes e generalizados. 10. O auditor deve abster-se de expressar uma opinião quando, em circunstâncias extremamente raras envolvendo diversas incertezas, o auditor conclui que, independentemente de ter obtido evidência de auditoria apropriada e suficiente sobre cada uma das incertezas, não é possível expressar uma opinião sobre as demonstrações contábeis devido à possível interação das incertezas e seu possível efeito cumulativo sobre essas demonstrações contábeis. Consequência da impossibilidade de obter evidência de auditoria apropriada e suficiente devido a uma limitação imposta pela administração depois da aceitação do trabalho pelo auditor 11. Se, depois de aceitar o trabalho, o auditor tomar conhecimento de que a administração impôs uma limitação ao alcance da auditoria que tem, segundo ele, probabilidade de resultar na necessidade de expressar uma opinião com ressalva ou abster-se de expressar uma opinião sobre as demonstrações contábeis, o auditor deve solicitar que a administração retire a limitação. 12. No caso de a administração se recusar a retirar a limitação mencionada no item 11, o auditor deve comunicar o assunto aos responsáveis pela governança, a menos que todos aqueles responsáveis pela governança estejam envolvidos na administração da entidade (NCB TA 260, item 13), assim como determinar se é possível executar procedimentos alternativos para obter evidência de auditoria apropriada e suficiente. 13. Se o auditor não conseguir obter evidência apropriada e suficiente de auditoria, o auditor deve determinar as implicações como segue: (a) se ele concluir que os possíveis efeitos de distorções não detectadas, se houver, sobre as demonstrações contábeis poderiam ser relevantes, mas não generalizados, o auditor deve emitir uma opinião com ressalva; ou (b) se ele concluir que os possíveis efeitos de distorções não detectadas, se houver, sobre as demonstrações contábeis poderiam ser relevantes e generalizados de modo que uma ressalva na opinião seria não adequada para comunicar a gravidade da situação, o auditor deve (ver itens A13 e A14): (i) renunciar ao trabalho de auditoria, quando praticável e possível de acordo com as leis ou regulamentos aplicáveis; ou (ii) se a renúncia ao trabalho de auditoria antes da emissão do seu relatório de auditoria independente não for viável ou possível, abster-se de expressar uma opinião sobre as demonstrações contábeis. 14. Se o auditor renunciar conforme previsto no item 13(b)(i), antes da renúncia ele deve comunicar aos responsáveis pela governança quaisquer assuntos relativos a distorções identificadas durante a auditoria que dariam origem a uma opinião modificada (ver item A15). (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2012). A seguir, demonstramos dois exemplos de relatório/parecer com abstenção de opinião conforme a NBC TA 705. UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 44 Exemplo 1: Relatório do auditor independente com abstenção de opinião devido à impossibilidade de obter evidência de auditoria apropriada e suficiente sobre um único elemento das demonstrações contábeis. As circunstâncias incluem o seguinte: • auditoria do conjunto completo de demonstrações contábeis para fins gerais elaboradas pela administração da entidade de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil; • os termos do trabalho de auditoria refletem a descrição da responsabilidade da administração pelas demonstrações contábeis na NBC TA 210; • o auditor não teve condições de obter evidência de auditoria apropriada e suficiente sobre um único elemento (extremamente relevante) das demonstrações contábeis, ou seja, o auditor também não conseguiu obter evidência de auditoria apropriada e suficiente sobre as informações financeiras de um investimento conjunto que representa mais de 90% do patrimônio líquido da empresa. Os possíveis efeitos dessa impossibilidade de obter evidência de auditoria apropriada e suficiente são considerados relevantes e generalizados para as demonstrações contábeis. RELATÓRIO DOS AUDITORES INDEPENDENTES SOBRE AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS (1) [Destinatário apropriado] (2) Fomos contratados para examinar as demonstrações contábeis da Companhia ABC, que compreendem o balanço patrimonial em 31 de dezembro de 20X1(3) e as respectivas demonstrações (4) do resultado, das mutações do patrimônio líquido e dos fluxos de caixa para o exercício findo naquela data, assim como o resumo das principais práticas contábeis e demais notas explicativas. Responsabilidade da administração (5) da Companhia sobre as demonstrações contábeis A administração da Companhia é responsável pela elaboração e adequada apresentação dessas demonstrações contábeis de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil e pelos controles internos que ela determinou como necessários para permitir a elaboração de demonstrações contábeis livres de distorção relevante, independentemente se causada por fraude ou erro. Responsabilidade dos auditores independentes (6) Nossa responsabilidade é a de expressar uma opinião sobre essas demonstrações contábeis com base em nossa auditoria, conduzida de acordo com as normas brasileiras e internacionais de auditoria. Em decorrência do assunto descrito no parágrafo Base para abstenção de opinião, não TÓPICO 2 | NORMAS DE AUDITORIA 45 nos foi possível obter evidência de auditoria apropriada e suficiente para fundamentar nossa opinião de auditoria. Base para abstenção de opinião O investimento da empresa no empreendimento XYZ (localizado no País X e cujo controle é mantido de forma compartilhada) está registrado por $ xxx no balanço patrimonial da Companhia ABC, que representa mais de 90% do seu patrimônio líquido em 31 de dezembro de 20X1. Não nos foi permitido o acesso à administração e aos auditores da XYZ, incluindo a documentação de auditoria do auditor da XYZ. Consequentemente, não nos foi possível determinar se havia necessidade de ajustes em relação à participação proporcional da Companhia nos ativos da XYZ, que ela controla em conjunto, assim como sua participação proporcional nos passivos da XYZ pelos quais ela é responsável em conjunto, e sua participação proporcional nas receitas, despesas e nos elementos componentes das demonstrações das mutações do patrimônio líquido e dos fluxos de caixa do exercício findo naquela data. Abstenção de opinião Devido à relevância do assunto descrito no parágrafo Base para abstenção de opinião, não nos foi possível obter evidência de auditoria apropriada e suficiente para fundamentar nossa opinião de auditoria. Consequentemente, não expressamos uma opinião sobre as demonstrações contábeis acima referidas. [Local (localidade de escritório de auditoria que emitiu o relatório)] [Data do relatório do auditor independente] [Nome do auditor independente (pessoa física ou jurídica)] [Nome do profissional (sócio ou responsável técnico, no caso de o auditor ser pessoa jurídica)] [Números de registro no CRC da firma de auditoria e do profissional que assina o relatório] [Assinatura do auditor independente] (1) Título no plural em decorrência do uso mais frequente pelas firmas (pessoa jurídica), todavia deve ser adaptado às circunstâncias de auditor pessoa física. (2) No caso do relatório cobrir outros aspectos legais e regulatórios, seria necessário um subtítulo para especificar que essa primeira parte do relatório refere-se às demonstrações contábeis e após a opinião sobre elas e eventuais parágrafos de ênfase e de outros assuntos, seria incluso outro subtítulo. (3) Embora a Estrutura Conceitual paraElaboração e Apresentação de Demonstrações Contábeis utilizada no Brasil determine a apresentação de demonstrações contábeis de forma comparativa e a Lei das Sociedades Anônimas fale em apresentação dos valores correspondentes do exercício anterior, não existe nenhuma determinação legal que estabeleça que o relatório do auditor independente deva incluir também opinião sobre o UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 46 ano anterior, portanto, esta e as demais Normas de auditoria que tratam da emissão de relatório adotam integralmente o modelo internacional em que o relatório cobre somente o ano corrente. (4) No caso de também incluir demonstrações consolidadas, adaptar o texto, inclusive no que tange à inclusão da expressão “e controladas”. De forma similar, caso o exame inclua outras demonstrações (exemplo Demonstração do Valor Adicionado), este parágrafo também deve ser adaptado. (5) Ou outro termo que seja apropriado no contexto da estrutura legal específica. Para relatórios emitidos no Brasil sobre entidades brasileiras deve ser utilizada essa expressão. (6) Adaptar no caso de auditor pessoa física ou firma individual. Exemplo 2: Relatório do auditor independente com abstenção de opinião devido à impossibilidade de obter evidência de auditoria apropriada e suficiente sobre diversos elementos das demonstrações contábeis. As circunstâncias incluem o seguinte: • auditoria do conjunto completo de demonstrações contábeis para fins gerais elaboradas pela administração da entidade de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil; • os termos do trabalho de auditoria refletem a descrição da responsabilidade da administração pelas demonstrações contábeis na NBC TA 210; • o auditor não teve condições de obter evidência de auditoria apropriada e suficiente sobre diversos elementos das demonstrações contábeis, ou seja, o auditor não teve condições de obter evidência de auditoria apropriada e suficiente sobre os estoques e as contas a receber da entidade. Os possíveis efeitos dessa impossibilidade de obter evidência de auditoria apropriada e suficiente são considerados relevantes e generalizados para as demonstrações contábeis. RELATÓRIO DOS AUDITORES INDEPENDENTES SOBRE AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS (1) [Destinatário apropriado] (2) Fomos contratados para examinar as demonstrações contábeis da Companhia ABC, que compreendem o balanço patrimonial em 31 de dezembro de 20X1 e as respectivas demonstrações (3) do resultado, das FONTE: Itens A23 e 24 da NBC TA 705, aprovada pela Resolução CFC nº. 1.232/09. Disponível em: <http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2009/001232>. Acesso em: 22 set. 2012. TÓPICO 2 | NORMAS DE AUDITORIA 47 mutações do patrimônio líquido e dos fluxos de caixa para o exercício findo naquela data, assim como o resumo das principais práticas contábeis e demais notas explicativas. Responsabilidade da administração (4) da Companhia sobre as demonstrações contábeis A administração da Companhia é responsável pela elaboração e adequada apresentação dessas demonstrações contábeis de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil e pelos controles internos que ela determinou como necessários para permitir a elaboração de demonstrações contábeis livres de distorção relevante, independentemente se causada por fraude ou erro. Responsabilidade dos auditores independentes (5) Nossa responsabilidade é a de expressar uma opinião sobre essas demonstrações contábeis com base em nossa auditoria, conduzida de acordo com as normas brasileiras e internacionais de auditoria. Em decorrência do assunto descrito no parágrafo Base para abstenção de opinião, não nos foi possível obter evidência de auditoria apropriada e suficiente para fundamentar nossa opinião de auditoria. Base para abstenção de opinião Fomos nomeados auditores da Companhia ABC após 31 de dezembro de 20X1 e, portanto, não acompanhamos a contagem física dos estoques no início e no final do exercício. Não foi possível nos satisfazer por meios alternativos quanto às quantidades em estoque em 31 de dezembro de 20X0 e 20X1 que estão registradas no balanço patrimonial por $ xxx e $ xxx, respectivamente. Adicionalmente, a introdução do novo sistema informatizado de contas a receber em setembro de 20X1 resultou em diversos erros no saldo das contas a receber. Na data do nosso relatório de auditoria, a administração ainda estava no processo de sanar as deficiências do sistema e de corrigir os erros. Não conseguimos confirmar ou verificar por meios alternativos as contas a receber incluídas no balanço patrimonial no valor total de $ xxx em 31 de dezembro de 20X1. Em decorrência desses assuntos, não foi possível determinar se teria havido necessidade de efetuar ajustes em relação aos estoques registrados ou não registrados e no saldo de contas a receber, assim como nos elementos componentes das demonstrações do resultado, das mutações do patrimônio líquido e dos fluxos de caixa. Abstenção de opinião Devido à relevância dos assuntos descritos no parágrafo Base para abstenção de opinião, não nos foi possível obter evidência de auditoria UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 48 apropriada e suficiente para fundamentar nossa opinião de auditoria. Consequentemente, não expressamos opinião sobre as demonstrações contábeis acima referidas. [Local (localidade do escritório de auditoria que emitiu o relatório)] [Data do relatório do auditor independente] [Nome do auditor independente (pessoa física ou jurídica)] [Nome do profissional (sócio ou responsável técnico, no caso de o auditor ser pessoa jurídica)] [Números de registro no CRC da firma de auditoria e do profissional que assina o relatório] [Assinatura do auditor independente] (1) Título no plural em decorrência do uso mais frequente pelas firmas (pessoa jurídica), todavia deve ser adaptado às circunstâncias de auditor pessoa física. (2) No caso do relatório cobrir outros aspectos legais e regulatórios, seria necessário um subtítulo para especificar que essa primeira parte do relatório refere-se às demonstrações contábeis e após a opinião sobre elas e eventuais parágrafos de ênfase e de outros assuntos, seria incluso outro subtítulo. (3) No caso de também incluir demonstrações consolidadas, adaptar o texto, inclusive no que tange à inclusão da expressão “e controladas”. De forma similar, caso o exame inclua outras demonstrações (exemplo Demonstração do Valor Adicionado), este parágrafo também deve ser adaptado. (4) Ou outro termo que seja apropriado no contexto da estrutura legal específica. Para relatórios emitidos no Brasil sobre entidades brasileiras deve ser utilizada essa expressão. (5) Adaptar no caso de auditor pessoa física ou firma individual. FONTE: Itens A23 e 24 da NBC TA 705, aprovada pela Resolução CFC nº. 1.232/09. Disponível em: <http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codigo=2009/001232>. Acesso em: 22 set. 2012. Observa-se que o parecer com abstenção de opinião requer maior atenção por parte do analista, porque neste tipo de parecer devem ser apresentadas as evidências que de fato demonstram irregularidades da empresa. Irregularidades com base no não cumprimento das normas contábeis e legais vigentes. 49 RESUMO DO TÓPICO 2 Chegamos ao final do Tópico 2. Faremos uma revisão do que estudamos até agora. • Normas de Auditoria são instrumentos de padronização dos exames de auditoria de forma que não ocorram distorções em determinados tipos de análises. • O relatório/parecer do(s) auditor(es) independente(s) é o trabalho final do auditor e tem a função de apresentar o resultado final do relatório. • O Parecer é o documento elaborado pelo auditor para expressar, de forma clara e objetiva, obedecendo às características estabelecidas em normas específicas de auditoria, sua opinião sobreas demonstrações contábeis auditadas. Mediante o parecer, o auditor assume responsabilidade de ordem técnico-profissional, inclusive de ordem pública. • Os pareceres do(s) auditor(es) independente(s) podem ser classificados em opinião sem ressalva, opinião com ressalva, opinião adversa e opinião com abstenção de opinião. • A opinião sem ressalva é usada quando o auditor não tem dúvidas das demonstrações financeiras auditadas. O auditor deve estar certo de que as demonstrações contábeis foram elaboradas conforme as normas de contabilidade e legislação em vigor. • A opinião com ressalva ocorre quando o auditor observa algum tipo de discordância ou restrição na extensão de seus exames de auditoria, mas que não requeiram parecer adverso ou abstenção de opinião. • A opinião adversa é emitida quando as demonstrações financeiras apresentam inconsistências em conformidade com os princípios contábeis geralmente aceitos. Neste caso, o auditor deve descrever de forma clara e consistente todos os motivos que o levaram a tomar essa decisão e as consequências para as demonstrações financeiras. • Abstenção de opinião é uma declaração de que o auditor não deseja emitir nenhum tipo de parecer. Ao optar pela abstenção de opinião, o auditor deve especificar os motivos que o levaram a essa decisão. 50 AUTOATIVIDADE 1 Assinale a alternativa CORRETA: Ao que se chama “função de certificar” os auditores estão atestando a fidelidade e fidedignidade dos relatórios contábeis. Esse assunto aborda o(a): a) ( ) Relatório do balanço patrimonial. b) ( ) Parecer do(s) auditor(es) independente(s). c) ( ) Relatório de notas explicativas. d) ( ) Carta de recomendação. 2 Assinale a alternativa CORRETA: É o tipo de opinião usada quando o auditor não tem dúvidas das demonstrações financeiras auditadas. Esse assunto está relacionado com: a) ( ) Opinião com ressalvas. b) ( ) Opinião adversa. c) ( ) Opinião sem ressalvas. d) ( ) Abstenção de opinião. 3 Assinale a alternativa CORRETA: Quando se utiliza expressões “exceto por”, “exceto quanto” ou “com exceção de”, trata-se de uma: a) ( ) Opinião com ressalvas. b) ( ) Opinião adversa. c) ( ) Opinião sem ressalvas. d) ( ) Abstenção de opinião. 4 Assinale a alternativa CORRETA: Ao se utilizar expressões do tipo: a) No exercício de 2XX3, a companhia deixou de contabilizar depreciações do imobilizado, no montante aproximado de R$ 450.000,00. Em nossa opinião, essa prática não está de acordo com os princípios fundamentais da contabilidade, aplicados no Brasil. b) Em nossa opinião, exceto quanto à falta de contabilização de depreciações do imobilizado, comentado no parágrafo (a), as demonstrações contábeis etc., etc., etc. 51 Estamos nos referindo à: a) ( ) Opinião com ressalvas. b) ( ) Opinião adversa. c) ( ) Opinião sem ressalvas. d) ( ) Abstenção de opinião. 5 Assinale a alternativa CORRETA: Ao se utilizar expressões do tipo: - De acordo com instruções recebidas da administração da Cia ABC, não estivemos presentes à contagem física do inventário realizado em 31 de dezembro de 2XX3. Como consequência, não podemos expressar opinião com respeito a esse inventário, que monta a R$ 1.543.650,00. - Em virtude do inventário de 31 de dezembro de 2XX3 ter a importância substancial na determinação da posição patrimonial e financeira e do resultado das operações da Cia. ABC, não podemos expressar opinião sobre as demonstrações financeiras anexas, tomadas em conjunto. Estamos nos referindo à: a) ( ) Opinião com ressalvas. b) ( ) Opinião adversa. c) ( ) Opinião sem ressalvas. d) ( ) Abstenção de opinião. 52 53 TÓPICO 3 RELATÓRIOS DO AUDITOR E MODELOS DE RECOMENDAÇÕES UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Neste último tópico da Unidade 3 conheceremos os relatórios de auditoria, os quais representam a fase principal do trabalho do auditor, que é a comunicação dos resultados obtidos. É por intermédio do relatório que o auditor mostra à direção da empresa e aos envolvidos na execução das tarefas o que foi examinado e o que pode ser melhorado. Um relatório mal elaborado pode permitir a contestação do auditado ou uma avaliação negativa do trabalho efetuado por parte da direção da empresa, desacreditando do valor da auditoria e do próprio profissional. 2 TIPOS DE RELATÓRIOS O conteúdo do relatório de auditoria deve contemplar as necessidades da empresa. Para isso, o auditor deve estabelecer um sistema de emissão de relatórios que seja adequado à situação constatada ao término do trabalho de auditoria. Os relatórios emitidos por auditores independentes variam de amplitude, forma e conteúdo, de acordo com a natureza do exame executado, alcance dos procedimentos efetuados, dos fins a que se destinam os relatórios e, principalmente, de acordo com as conclusões a que chegou o auditor em decorrência de seu exame dos registros e respectivas demonstrações contábeis. (FRANCO; MARRA, 2001, p. 528). Assim sendo, podemos classificar os relatórios em quatro tipos principais: a) Relatórios finais sintéticos O relatório sintético é elaborado de forma rápida e sucinta, com a finalidade de informar a alta direção da empresa sobre o que precisa ser melhorado ou necessita correção no sistema de controle interno. 54 UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL Esse tipo de relatório exige bastante cuidado na sua elaboração, pois deve ter a propriedade de informar os fatos com poucas palavras e da forma mais abrangente possível, sem que a omissão de um pequeno detalhe prejudique o objetivo principal. b) Relatórios finais analíticos São relatórios que contêm todas as informações e detalhes, de modo a permitir a solução dos problemas encontrados na auditoria. No entanto, os fatos de menor relevância podem ser apresentados nos próprios papéis de trabalho ou relacionados à parte, quando houver necessidade. Nesse tipo de relatório, geralmente se recomendam correções em itens específicos auditados, como cálculo do estoque e cálculos dos itens não reconhecidos no imobilizado. É importante considerar que o relatório analítico é uma ferramenta de comunicação que o auditor possui para se relacionar com todos os setores envolvidos nos trabalhos realizados. Por isso, deve ser elaborado com clareza e objetividade. FONTE: Adaptado de: <http://www.portaldeauditoria.com.br/tematica/relatorio-auditoria_tipos- -relatorios.htm>. Acesso em: 13 fev. 2013. c) Relatórios especiais O relatório especial ou confidencial é solicitado exclusivamente pelo diretor da empresa, com interesse específico em um determinado assunto. Por exemplo, um relatório especial sobre a auditoria de estoques e expedições feita com o objetivo de identificar possíveis desvios do estoque da empresa. Determinados estoques podem sair da empresa com o aval do pessoal da expedição sem o devido registro ou emissão de nota fiscal de saída do produto. Podemos dizer que os relatórios especiais reportam informações confidenciais de forma bastante reservada. d) Relatórios parciais O relatório parcial é elaborado quando se detecta algum problema, durante a auditoria, que deve ser levado ao conhecimento da gerência ou direção da empresa para a imediata correção. Esse tipo de problema é bastante comum durante os exames. A finalidade do relatório parcial é atender a necessidade de solucionar o problema de imediato, podendo ser apresentado em uma folha de papel de trabalho devidamente identificada. Além disso, esse tipo de relatório é utilizado pelo auditor para comunicar alguma dificuldade ou qualquer tipo de ocorrência que interfira diretamente no seu trabalho. TÓPICO 3 | RELATÓRIOS DO AUDITOR E MODELOS DE RECOMENDAÇÕES 55 Isso geralmente ocorre quando se identifica uma possível falha operacional. Por exemplo, registroincorreto de baixa de juros de duplicatas a pagar ou de descontos de duplicatas a receber. Isso pode ocorrer em função de problemas com o sistema de informática e um relatório parcial pode contribuir para a identificação das falhas e as correções necessárias. 3 DISTRIBUIÇÃO DO RELATÓRIO Os relatórios são distribuídos conforme o tipo de auditoria realizada e a estrutura organizacional da empresa. Em geral, é encaminhado ao diretor geral ou gerente geral, ao gerente responsável pelas atividades sujeitas à auditoria e à pessoa diretamente ligada às atividades que estão sendo examinadas. Para cada nível da estrutura organizacional da empresa deve ser enviado um relatório apontando as falhas identificadas. Vejamos um exemplo de falhas apontadas em um exame realizado no setor de almoxarifado, sobre a entrada de mercadorias: 1) Falta de ordem de compra relacionada à nota fiscal de entrada. 2) Inexistência de transparência referente à finalidade da mercadoria – uso/ consumo ou industrialização –, considerando que as bases de cálculo do ICMS mudam conforme o tipo de finalidade. 3) Falta de checagem da Nomenclatura Comum do Mercosul – NCM ou da classificação de mercadorias. Isso pode gerar diferenças de alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI. Essas falhas são descritas no relatório que será enviado ao responsável pelo setor de almoxarifado, ao responsável pela contabilidade da empresa, ao responsável pelo setor de custos e, em última instância, ao diretor financeiro da empresa. 4 ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO O relatório deve ser elaborado com coerência, dando ênfase aos aspectos principais do resultado da auditoria. O conteúdo básico deve expressar com clareza os objetivos, os resultados dos exames, as conclusões e as recomendações. 56 UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL Conforme Almeida (1996, p. 398 - 399), o relatório deve conter: − nome da empresa auditada; − período da auditoria; − realização do exame de acordo com as normas de auditoria geralmente aceitas, visando à emissão de um parecer sobre as demonstrações contábeis; este exame, portanto, não necessariamente revela todos os problemas. Esse parágrafo é importante devido ao fato de que a empresa espera normalmente que todas as suas falhas sejam reveladas no relatório do auditor. − procedimento em vigor ou situação constatada; − influências ou consequências; − sugestões ou recomendações. Primeiramente, deve-se fazer um esboço do relatório. Comece listando os itens que devem ser incluídos no relatório por ordem de importância. Geralmente, os principais itens são listados no início do relatório. Depois, faça uma revisão do esboço e certifique-se de que foram incluídos todos os pontos importantes, se foram realmente eliminados os pontos sem relevância e se os assuntos estão organizados de forma coerente. Os pontos de relatório deverão ter sempre, obrigatoriamente, títulos escritos apenas em letras maiúsculas, chamando a ideia principal do comentário. Almeida (1996, p. 399) contribui com exemplos de pontos de relatório sobre a auditoria nas contas contábeis caixa e bancos e contas a receber: IMPORTANT E IMPORTANT E • Os objetivos devem apresentar as áreas que foram auditadas, os tipos de exames de auditoria que foram realizados e o período em que foi realizado. • Os resultados dos exames devem apresentar os problemas identificados, os detalhes destes problemas e os procedimentos operacionais que não estão sendo seguidos. • Na conclusão deverá constar a opinião do auditor referente aos resultados identificados na auditoria. • Nas recomendações são apresentadas sugestões para adaptação e melhoria dos procedimentos no sistema de controle interno da empresa. Para melhor escrever um relatório, lembre-se dos 3 “C”s (claro, conciso e correto). • Claro: evite interpretações erradas. • Conciso: priorize o que for importante e elimine palavras desnecessárias. • Correto: informações corretas e bem redigidas. TÓPICO 3 | RELATÓRIOS DO AUDITOR E MODELOS DE RECOMENDAÇÕES 57 CAIXA E BANCOS Existia, em 31 de dezembro de 19X1, na conta corrente do Banco do Brasil S.A., um saldo de R$ 10.000.000,00 sem ser movimentado nos últimos quatro meses. Caso esse numerário tivesse sido aplicado a uma taxa de 5% ao mês, para o período de tempo referente à sua não utilização, a empresa teria tido um rendimento adicional de R$ 2.000.000,00. Recomendamos que sejam acompanhadas as folgas de caixa, no sentido de que os recursos em excesso às necessidades normais sejam devidamente aplicados. Notamos, durante nosso teste das reconciliações bancárias, a existência de avisos de débitos antigos lançados pelo banco, mas não registrados pela empresa. Como consequência, as transações não estão sendo contabilizadas em seu período de competência. Recomendamos que sejam tomadas medidas mais rigorosas junto à rede bancária para obtenção desses avisos de débitos. (ALMEIDA, 1996, p. 399) CONTAS A RECEBER As fichas individuais de clientes, mantidas pelo Departamento de Crédito e Cobrança, não fazem referência aos documentos que originam o recebimento das duplicatas. Esse procedimento acarreta uma demora desnecessária na procura de documentos, principalmente pelas áreas de análise de contas e auditoria interna. Recomendamos que a empresa passe a incluir, nas referidas fichas, o código de identificação dos comprovantes de recebimentos. O somatório dos saldos do razão analítico de duplicatas a receber não é confrontado periodicamente com a respectiva conta do razão geral. Consequentemente, eventuais erros de registros não serão detectados em tempo hábil. Citamos, como exemplo, o fato de existir em 31 de dezembro de 19X1 uma diferença de R$ 4.231.144,00 entre os controles analítico e geral. Recomendamos que o departamento de contabilidade cheque mensalmente o razão analítico com o razão geral, analisando eventuais divergências. (ALMEIDA, 1996, p. 399). Nos dois exemplos apresentados pelo autor foram apontados os problemas e as recomendações. É assim que o auditor deverá proceder com todas as demais contas contábeis auditadas. Todavia, existem alguns aspectos que devem ser considerados na elaboração do relatório de auditoria, entre os quais destacamos os seguintes: • Dialogar sobre os pontos que irão constar no relatório com o responsável pelo setor auditado. É importante que o responsável pelo setor fique ciente das incorreções, pois, dessa forma, poderão ser previamente ajustadas. Há situações em que essas incorreções não são aceitas tranquilamente pelo auditado. Nesses casos em que há discordância, o auditor deve verificar se realmente houve a incorreção, mantendo a posição com firmeza se tiver certeza da existência do erro. Se o auditor apontar algum erro de maneira inconsistente, isso poderá afetar a credibilidade de outros pontos importantes da auditoria. • Existência de dúvidas sobre o relato de determinado assunto. No caso de haver dúvidas sobre o relato ou não de determinado assunto, sugere-se trocar ideias com um colega auditor ou com seu gerente de auditoria. 58 UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL Vejamos dois exemplos de fatos ocorridos, nos quais o auditor constatou a existência de irregularidades que precisam ser apuradas para encontrar a origem dos problemas. Exemplo 1: Não foram identificados juros de duplicatas em atraso de clientes durante o período auditado. Este fato ocorreu porque o responsável pelo setor de cobrança cobrava os juros por fora, geralmente valor de juros menores que as taxas adotadas pela empresa, para facilitar a liberação de crédito do cliente inadimplente com a empresa, mas com a condição de que esses juros fossem pagos separadamente do valor da duplicata, em forma de cheque ao portador. No entanto, o responsável pelo setor de cobrança alega que houve dificuldadespara cobrança do valor principal e, por isso, não se cobrava juros. Há, portanto, suspeita de desvio de recursos financeiros. O auditor pode identificar essa situação mediante encaminhamento de uma carta de circularização diretamente ao cliente que efetuou o pagamento das duplicatas, solicitando a identificação do período em atraso, do pagamento do valor principal e dos juros. Mas, se mesmo assim a situação não ficar esclarecida e comprovada, o auditor pode recomendar que os recebimentos sejam efetivados somente mediante depósito bancário. Exemplo 2 – Um diretor ou gerente tem autonomia para dar exclusividade à contratação de determinados serviços. Isso pode facilitar a ocorrência de desvios de recursos financeiros, uma vez que facilita a existência de acordos entre a empresa contratada com exclusividade e o responsável pela contratação. Em troca da exclusividade, a empresa contratada remete um determinado percentual do valor cobrado ao responsável da empresa que o contratou. O auditor poderá identificar esse tipo de problema solicitando a cotação de pelo menos três fornecedores do serviço e questionando as razões da contratação do mesmo fornecedor durante longo período. Contudo, dificilmente isso se aplica em fornecedores de matérias-primas que detêm o know-how específico do produto, pois não há concorrência no mercado. • Iniciar o relatório na empresa auditada. O auditor pode iniciar o relatório e escrever os principais pontos observados durante o processo da auditoria, pois o assunto estará recente e haverá maior facilidade em escrevê-lo. Em alguns casos, o auditor realiza trabalhos em outras empresas e só depois de algum tempo faz o relatório, fato que prejudica a sua qualidade, podendo haver esquecimento de detalhes importantes. • Documento solicitado e não entregue. Quando o auditor solicita determinado documento, mas não o recebe, não use a expressão “não existe tal documento”, em vez disso, utilize “não foi apresentado tal documento”. Isso evita constrangimento caso o documento venha a ser apresentado pelo responsável do setor posteriormente. TÓPICO 3 | RELATÓRIOS DO AUDITOR E MODELOS DE RECOMENDAÇÕES 59 Da mesma forma, os tiques no papel de trabalho devem evidenciar com clareza a falta da apresentação de documentos que comprovam determinadas operações da empresa. Isso porque são os papéis de trabalho que evidenciam a transparência entre as informações contidas na contabilidade e as observações apontadas pelo auditor. • Descrever, detalhar, qualificar e identificar as incorreções. Há necessidade de apresentar com clareza todas as informações no relatório de auditoria, porque o auditado deverá estar munido de todas as informações antes de emitir qualquer comentário sobre o mesmo. Exemplo 1: Não foi tomado crédito do ICMS referente à NF nº 10 do fornecedor Y. Recomendamos que seja feita uma análise referente ao produto que permite o crédito do respectivo imposto. Exemplo 2: Não foi tomado crédito do ICMS referente à NF nº 10 do fornecedor Y no valor de R$ 1.700,00. Recomendamos que se realize uma análise referente ao produto que permite o crédito do respectivo imposto, porque, após computados todos os custos do estoque, torna-se difícil recalcular todos os custos com data retroativa ao fechamento contábil, não se cumprindo a materialidade (informações apresentadas com determinado padrão) na contabilidade. Podemos observar que no exemplo 2, as informações são mais detalhadas quando comparadas ao exemplo 1, o que permite ao auditado agilidade na identificação e correção das irregularidades indicadas pelo auditor, que, por sua vez, realiza um trabalho mais acurado e com maior eficiência. IMPORTANT E Existem erros que devem ser evitados pelo profissional de auditoria. Mencionamos, a seguir, algumas observações que foram feitas nas revisões dos relatórios: a) Apontar o fato sem maiores comentários e/ou apresentar as evidências e recomendar a regularização sem expor qualquer fundamento técnico ou legal. b) A expressão “recomendamos analisar e regularizar” deve ser evitada, levando em consideração os seguintes aspectos: • Se não houver o processo de análise, não haverá a regularização, porque não se pode afirmar que isto é necessário. • O auditor deve ter cuidados em relação à análise, pois este procedimento lhe permitirá identificar possíveis distorções ou divergências no relatório de auditoria. c) Da mesma forma, existem diferenças nos registros contábeis e que requerem análise dos procedimentos que estão causando estas diferenças. Em algumas situações há limitações, como falta de documentos, entre outras, para fazer análise e, nesse caso, então, recomenda- se a regularização sem a análise. 60 UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 5 MODELOS DE RECOMENDAÇÕES PARA RELATÓRIO DA AUDITORIA Nesta etapa do Tópico 3 apresentaremos recomendações para o relatório de auditoria, de acordo com as contas contábeis auditadas em um balanço patrimonial, demonstrando assim, de forma objetiva, como se aplicam as recomendações para as contas contábeis. 5.1 DISPONIBILIDADES (CAIXA, BANCOS E APLICAÇÕES) Iniciaremos com as contas de disponibilidades, por serem contas contábeis de liquidez imediata e que operacionalizam os recursos em dinheiro da empresa. 5.1.1 Boletins de caixa Com relação às análises efetuadas nos boletins e documentos de caixa, é possível encontrar algumas incorreções, como: − Falta de assinatura do responsável pelo caixa. − Falta de evidências de conferência dos boletins de caixa. − Ausência de composição dos valores que compõem o saldo do caixa (dinheiro, cheque, vales e outros). − Falta de carimbo de liquidação em documentos pagos pelo caixa. Para aperfeiçoar o sistema de controle interno referente a boletins de caixa, pode-se recomendar o seguinte: • Devem contar assinaturas do responsável e do conferente de caixa. • Devem constar no boletim de caixa as informações referentes a valores em dinheiro, em cheques, em vales e outros valores que seja necessário constar. • Manter controles referentes aos boletins de caixa nas áreas da empresa em que se realizam recebimentos e pagamentos em espécie, evitando-se erros ou fraudes. • Sempre colocar nos documentos quitados um carimbo com a expressão pago, para evitar cobrança em duplicidade. TÓPICO 3 | RELATÓRIOS DO AUDITOR E MODELOS DE RECOMENDAÇÕES 61 Os boletins de caixa devem estar com os seus saldos em conformidade com o saldo contábil de caixa. Se ocorrerem divergências de saldos, recomenda- se realizar a conciliação das divergências ocorridas. Para um controle de caixa eficiente é importante tomar alguns cuidados, que são os seguintes: • Necessidade de implantação de rotina para anulação dos documentos pagos: todos os documentos quitados devem ter um carimbo com a expressão “pago”, para evitar pagamentos em duplicidade. • Necessidade de aperfeiçoamento da rotina: as atividades referentes à tesouraria devem ser submetidas a uma conferência por pessoa independente ao departamento, para assegurar-se de que estejam de acordo com os princípios da contabilidade. • Falta de aposição de vistos de preparação e revisão nos boletins de caixa: os boletins de caixa devem ter visto e assinatura da pessoa responsável pela sua elaboração e pelo seu conferente. • Possibilidade de implantação de fundos fixos de caixa: a empresa deve implantar um limite para o fundo fixo de caixa e utilizá-lo apenas para pagamentos de pequenos valores, os quais devem ser realizados em espécie. Esta prática evita o trânsito de valores relevantes no caixa da empresa, uma vez que devem ser pagos via depósito bancário, transferência eletrônica de disponibilidade ou boleto bancário. • Necessidade de melhor qualificação dos documentos pagos por caixa: os documentos que constam nosboletins de caixa devem apresentar a finalidade do gasto. Este procedimento melhora a qualidade da informação registrada, pois existem pagamentos, como recibos de táxi, em que é necessário identificar a finalidade da utilização. • Conferência física do caixa: para a realização da conferência física do caixa, recomenda-se que uma pessoa alheia ao departamento faça a contagem do numerário existente e dos documentos que constam no caixa, para verificar a existência de todos os fundos existentes. A inexistência de qualquer valor demonstra falta ou falha no controle interno. • Necessidade de maior restrição no uso de senhas para pagamentos escriturais: a empresa deverá implantar procedimentos de senhas apenas para pessoas que tenham responsabilidade quanto aos pagamentos da empresa, evitando-se que outras pessoas tenham acesso a esse sistema. Faz-se necessário esclarecer que a 62 UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL pessoa que realiza os pagamentos não é a mesma que faz a conferência desses mesmos pagamentos. E a pessoa que faz a conferência não tem as senhas de acesso aos pagamentos, assegurando-se a eficácia do sistema de controle interno. 5.1.1.1 Inexistência de boletins auxiliares de caixa Se o auditor verificar que a empresa não adota o procedimento da escrituração de boletins auxiliares de caixa, ele deve recomendar a adoção imediata, para que se facilite a identificação das informações nos boletins auxiliares de caixa com o saldo contábil. Os boletins auxiliares de caixa também poderão ser utilizados para as conciliações bancárias, divergências na conta caixa e composição dos saldos do caixa. 5.1.2 Saldos bancários Se o auditor constatar que determinada conta bancária encontra-se sem movimentação há algum tempo e a contabilidade informar que essa conta está encerrada com saldo contábil apresentando um determinado valor, então o saldo está incorreto e necessita de análise para verificar o que ocorreu, pois se a conta bancária não é mais movimentada, o saldo contábil também deveria ser zero. Recomenda-se solicitar extratos bancários dessa conta e realizar a reconciliação da conta bancária a fim de verificar se as movimentações ou saldos remanescentes são procedentes. Se houver inexistência de qualquer valor, o saldo deve ser ajustado, conforme autorização da presidência ou da diretoria da empresa. Para as conciliações bancárias, recomenda-se apresentar apenas a relação dos cheques a compensar no referido período auditado, tirando-se os cheques já compensados, o que facilita a análise do relatório contábil. TÓPICO 3 | RELATÓRIOS DO AUDITOR E MODELOS DE RECOMENDAÇÕES 63 5.1.2.1 Saldos de aplicação financeira Havendo conta contábil de aplicação financeira e esta apresentar saldo, mas o contador da empresa informar que o saldo inexiste, recomenda-se solicitar os extratos das aplicações financeiras junto às instituições financeiras e realizar as devidas reconciliações das contas. Qualquer valor que se apure e que não estiver em concordância com o extrato bancário deve ser ajustado contabilmente, mediante autorização da diretoria ou presidência. 5.2 CONTAS A RECEBER É no grupo de contas contábeis contas a receber que se operam as transações comerciais (estoques clientes) e também possuem reflexo no numerário da empresa. Por isso, o relatório de auditoria sobre este grupo de contas deve constar se ocorreram eventuais irregularidades. 5.2.1. Relatório das contas a receber Quando o auditor observar que no setor de contas a receber o relatório das duplicatas em aberto contém informações, como: nome do cliente, número do cadastro do cliente, datas de emissão e vencimento das duplicatas e valores dessas duplicatas em aberto, não há possibilidade de confrontar este relatório financeiro com o saldo contábil. Desta forma, o auditor deve recomendar a implantação imediata de conciliações contábeis ao final de cada mês, para evitar o acúmulo de erros não solucionados, colocando em dúvida a veracidade e a segurança do sistema de controle interno. Se a empresa não tiver instituído um sistema informatizado de contas a receber integrado com o faturamento, poderá ter problemas em manter os registros individuais de cada cliente e também não conseguir fazer as análises mensais, que podem estar assim denominadas: − composição dos saldos por títulos em aberto; − número dos títulos, valores e vencimentos; e − faixas de vencimentos (vencidos e a vencer). Implementar normas de procedimento de cobrança das duplicatas a receber em atraso, para que a entidade tome as providências necessárias para a cobrança dos títulos vencidos. 64 UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL 5.3 ADIANTAMENTOS E OUTROS CRÉDITOS Na contabilidade existem contas recebíveis que não estão relacionadas às cobranças comerciais, mas fazem parte de um grupo de ativos que a empresa tem direito na contrapartida do recebimento de alguma mercadoria ou ressarcimento de algum adiantamento realizado. Vejamos algumas situações: a) Adiantamento a fornecedores Determinados fornecedores podem requerer da empresa um pagamento adiantado de algum fornecimento de mercadoria. Muitas vezes, esse adiantamento serve para o fornecedor dar continuidade ao processo industrial do produto solicitado pelo comprador. Desta forma, a empresa possui um direito de recebimento da mercadoria do fornecedor e, para a empresa não perder algum tipo de recurso, recomenda-se a elaboração de uma lista de adiantamento a fornecedores e acompanhar o recebimento da mercadoria, evitando-se, assim, pagamento em duplicidade. b) Adiantamento salarial Pode acontecer de a empresa efetivar adiantamento de salário aos funcionários. Essa é uma conta que também merece cuidados, para evitar que o funcionário receba recursos em duplicidade, o que pode ocasionar prejuízos para a empresa, de acordo com a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). É importante ter cuidado para não confundir esses adiantamentos de salários com empréstimos a empregados, pois os empréstimos sofrerão tributação de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Recomenda-se realizar apuração do adiantamento de salário em um relatório específico e efetivar os descontos no primeiro momento em que for possível. c) IRRF – Imposto de Renda Retido na Fonte a recuperar No momento da apuração do IRPJ (Imposto de Renda da Pessoa Jurídica), a empresa deve descontar o IRRF (Imposto de Renda Retido na Fonte) referente às suas operações financeiras, evitando o reconhecimento do IRRF (descontado no momento do resgate da aplicação financeira) como despesa financeira. TÓPICO 3 | RELATÓRIOS DO AUDITOR E MODELOS DE RECOMENDAÇÕES 65 O auditor deve recomendar que a empresa exija do banco um relatório de todas as operações de aplicações financeiras. E, assim, identificar todos os descontos realizados a título de Imposto de Renda na Fonte, em função dos resgates das aplicações financeiras realizadas. d) Pendências antigas de adiantamentos de viagens Muitas vezes, a empresa realiza adiantamentos de viagens aos funcionários, porém podem ocorrer situações em que o funcionário, no retorno da viagem, não presta contas das despesas e dos valores recebidos. Recomenda-se que a empresa adote procedimentos de prestação de contas, no máximo, em até 30 dias da data da viagem realizada pelo seu funcionário. Isso quer dizer que em um espaço de 30 dias o adiantamento de viagem estará eliminado desta conta. Se o auditor observar que existem pendências de longa data, deverá proceder a recomendação imediata para que haja a prestação de contas desses recursos. A não existência de prestação de contas do adiantamento de viagem implica em considerá-lo como valor de adiantamento salarial, o que pode trazer problemas para a empresa em relação ao desconto do respectivo valor do saláriodo funcionário. e) Estoques Se a empresa apresentar problemas no sistema de controle de estoques quanto à geração de informações sobre requisições de materiais, entradas de mercadorias, cálculo do custo do estoque, poderá ter sérios problemas quanto à veracidade das informações contábeis. Pois há um grande risco do setor contábil não obter informações sobre a posição do estoque ao final de cada mês. Recomenda-se que a empresa contate o fornecedor do sistema de controle do estoque para proceder todos os ajustes necessários. 5.4 ATIVO IMOBILIZADO Outro grupo de contas que requer devida importância para controle na empresa é o ativo imobilizado, pois nas contas do imobilizado encontram-se os valores registrados para as atividades operacionais da empresa. 66 UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL A seguir, veremos alguns aspectos a serem observados na auditoria. a) Controles patrimoniais sobre ativo fixo De acordo com os aspectos legais, a empresa necessita manter um controle do ativo imobilizado para comprovar a existência dos bens, assim como evidenciar os custos com depreciação, visto que a depreciação possui alguns limites aceitos pela legislação fiscal (Decreto nº 3.000/99 – Regulamento do Imposto de Renda). Vejamos algumas observações a serem feitas no momento de auditar o ativo imobilizado: • Cada bem da empresa deve ser identificado com plaquetas numéricas. • Os bens devem ter fácil localização nos seus respectivos departamentos (para melhor identificar os gastos com depreciação desses bens nos departamentos). • Os bens deverão ser devidamente evidenciados para confrontar com os relatórios patrimoniais e facilitar qualquer ajuste que se faça necessário. b) Ativo permanente – imobilização de despesas operacionais É importante que o auditor observe se algumas despesas operacionais podem ser imobilizadas, ou seja, notas fiscais de prestação de serviços em alguns momentos podem estar relacionadas com a montagem ou a calibragem de máquinas ou equipamentos. Algumas vezes, a falta de treinamento do pessoal envolvido no registro da nota fiscal de entrada referente a esse tipo de serviço contribui para o registro equivocado em conta contábil que não condiz com a atividade proposta. Recomenda-se que o auditor identifique em um razão contábil de serviços prestados na área industrial se esse tipo de serviço é efetivamente uma despesa ou se está relacionado com algum bem que deva ser imobilizado. c) Ativo imobilizado – inventário físico A empresa precisa manter um inventário físico do ativo imobilizado, para comprovar a existência física dos bens e facilitar a sua localização e a identificação do seu estado de conservação, tornando-se, desta forma, uma importante ferramenta para o aprimoramento do sistema de controle interno. TÓPICO 3 | RELATÓRIOS DO AUDITOR E MODELOS DE RECOMENDAÇÕES 67 5.5 CONTAS A PAGAR Igualmente às contas do ativo, a empresa deve adotar os mesmos procedimentos nas contas dos passivos, pois é nas contas dos passivos que a empresa realiza as operações financeiras com o seu caixa. Vejamos quais os principais pontos a serem observados no momento da auditoria desta conta: a) Relatório de contas a pagar A empresa deve emitir um relatório dos títulos a pagar, ao final de cada mês, com as seguintes informações: − nome do fornecedor; − número da nota fiscal emitida; − número do documento bancário que se refere à nota fiscal; − data da emissão da nota fiscal; − data de vencimento da nota fiscal; − o valor referente à nota fiscal. Esse relatório é importante para facilitar a conciliação das contas a pagar com a contabilidade, evitando-se, assim, pagamentos em duplicidade. b) Fornecedor – pagamento antecipado A antecipação de pagamentos a fornecedores requer alguns cuidados, pois, em alguns casos, alguns fornecedores demoram a reembolsar o valor para a empresa, ocasionando falta de recursos financeiros no caixa. Caso a empresa não tenha esse tipo de inventário, o auditor deve recomendar o levantamento de todos os bens e seus respectivos documentos para implantar esse controle. d) Sistema de controle patrimonial ainda não se encontra devidamente estruturado Se a empresa estiver em fase de implantação de um sistema de controle do ativo imobilizado e do inventário físico, o auditor pode acompanhar as atividades para contribuir com a eficaz implantação do sistema de controle patrimonial. 68 UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL É salutar que a empresa adote um sistema em que a conta de adiantamento ao fornecedor esteja vinculada ao código do respectivo fornecedor e possibilite que no momento da entrada da mercadoria seja possível visualizar se já foi realizado algum adiantamento. Além disso, o setor de contas a pagar precisa de informações para evitar pagamentos em duplicidade. c) Fornecedores – ausência de posição financeira A empresa deve adotar os procedimentos de emissão de relatórios sobre a posição financeira do fornecedor em determinado período. Isso facilita a conciliação do setor de contas a pagar com a contabilidade. Esse tipo de relatório também auxilia a empresa na realização de análises do aging dos títulos em aberto, permitindo identificar duplicatas vencidas há mais de 60 dias, o que fundamenta a solicitação de esclarecimento às pessoas envolvidas no setor de contas a pagar sobre os motivos desses atrasos, seguido do encaminhamento das correções devidas. d) Divergências entre a contabilidade e o controle do saldo de fornecedores Quando existirem divergências entre os valores constantes na conta de fornecedores e os saldos na contabilidade, estes setores serão comunicados para as devidas correções. Podem ocorrer situações em que a contabilidade registrou a baixa de determinado valor pago para o fornecedor, porém o setor de contas a pagar não possui o devido registro da baixa, ocasionado por falha no sistema. Isso possibilita pagamento em duplicidade, que poderá ser descoberto apenas com a conciliação contábil e contas a pagar. As distorções existentes entre as informações da contabilidade e do setor de contas a pagar influenciam negativamente a análise dos indicadores de liquidez da empresa. 5.6 DESPESAS É importante que a empresa auditada mantenha em seus registros contábeis os dados constantes na nota fiscal de despesa, tais como: número, razão social e valores. Em uma eventual fiscalização, as despesas que não possuem comprovante legal dos pagamentos efetivados podem ser glosadas pela fiscalização, gerando multas e juros que poderiam ser evitados. A exigência das notas fiscais ou cupons fiscais para o pagamento das despesas assegura o correto registro e evita problemas futuros. Para um melhor controle dos registros das despesas, recomenda-se a aplicação de alguns procedimentos, como: a implantação de requisições de compras, autorizações por alçadas progressivas, evidências das necessidades das TÓPICO 3 | RELATÓRIOS DO AUDITOR E MODELOS DE RECOMENDAÇÕES 69 despesas existentes e um orçamento para apurar se existem abusos nos gastos de algumas despesas incorridas. Com o orçamento é possível acompanhar as despesas previstas com as efetivamente realizadas, identificar as suas variações e buscar esclarecimentos junto ao responsável que autorizou determinada despesa. Isso não quer dizer que não devam existir as despesas, porém é bom evitar alguns procedimentos inidôneos que possam provocar desvios dos recursos financeiros da empresa. LEITURA COMPLEMENTAR FRAUDES CONTÁBEIS E INTERNAS INTRODUÇÃO E PANORAMA GERAL Nesta seção enfrentarei o assunto das fraudes internas e/ou contábeis em termos gerais e com uma finalidade informativa básica. Na área reservada se encontra uma seção mais detalhada e completa sobre o assunto. Por fraudes internas se entende normalmente umconjunto muito amplo de atos ilícitos sofridos pelas empresas e perpetrados por funcionários, clientes ou fornecedores da mesma, ou seja, por pessoas que já mantêm um relacionamento estável e, normalmente, de confiança com a empresa. Existem poucos e fragmentários dados estatísticos sobre a situação das fraudes internas no Brasil. Segundo algumas fontes, os números principais seriam os seguintes: · 43,5% das perdas são por apropriação indébita, 30,4% por corrupção, 21,7% por roubos ou 4,4% por outros tipos de fraudes. · 81,2% dos fraudadores têm segundo grau ou mais. · 34,3% das fraudes causam perdas de 1 a 10.000 R$, 44,8% causam perdas de 10 mil a 100 mil R$ e 20,9% causam perdas acima de 100 mil R$. · Em média as empresas fraudadas perdem de 7% a 10% do faturamento global. · Cerca de 85% do valor das perdas por fraudes em empresas é devido a fraudes cometidas por funcionários ou colaboradores permanentes. · Estimativa de 6% do PIB (ou 70 bilhões de R$) perdidos em fraudes pelas empresas brasileiras em 2001. Para termos uma ideia melhor, porém, podemos utilizar também as várias estatísticas e estimativas que existem para os EUA: 70 UNIDADE 1 | AUDITORIA GERAL · Prejuízo anual na casa de USD 200 bilhões (segundo outras fontes, seriam USD 600 bilhões) relacionado a fraudes internas (ou seja, algo perto de 2,5% do PIB do país). · Aproximadamente 80% das empresas perdem entre 0,5% e 2% sobre o faturamento devido a fraudes internas. · 69% das empresas têm suspeitas de que existam desonestidades ou já experimentaram algum problema de fraude interna. · Desonestidade de diretores, funcionários e colaboradores foi a causa principal em mais de 50% dos casos de falência de bancos nos últimos anos. · Um terço das falências de empresas é atribuído a fraudes internas. · Somente 30% das perdas no varejo são devidas a ladrões, os funcionários roubam 70%. Em muitos casos a detecção deste tipo de fraudes é bastante complicada, por enfrentar poderosos interesses de funcionários em posições-chave. Existem casos famosos, como as recentes fraudes bilionárias que quebraram várias gigantescas multinacionais americanas e europeias e que foram realizadas através de maquiagens dos balanços, falsidades nos dados contábeis e aproveitamento malicioso de estruturas societárias internacionais e/ ou offshore. É opinião comum de muitos analistas que o hábito de atrelar boa parte da remuneração de determinados funcionários aos resultados de balanço apresentados seja um importante fator de fomento destas fraudes. Na seção deste site intitulada "Fraudes e Corrupção no Setor Público", tratamos ainda do problema específico das fraudes nas repartições públicas e nas entidades administradas pelo Estado, que, por sua natureza, têm muitas semelhanças com as fraudes internas nas empresas. Vale também salientar que, em todos os casos, a existência de um sistema bem implantado de boas práticas de Governança Corporativa resulta em uma incidência consistentemente menor de fraudes internas e corrupção e, sobretudo, na criação de um ambiente muito pouco propício a estes fenômenos. Este ponto é de tal importância que praticamente todos os especialistas em prevenção de fraudes, inclusive eu, o consideram um dos passos fundamentais a ser implementado em qualquer plano de prevenção. Na área reservada do site se encontram ainda recomendações das entidades especializadas, roteiro completo de medidas antifraudes para empresas e corporações, cases e outro material relevante no combate às fraudes internas. FONTE: MONITOR DAS FRAUDES. Fraudes Contábeis e Internas: introdução e panorama geral. Disponível em: <http://www.fraudes.org/showpage1.asp?pg=168>. Acesso em: 27 nov. 2012. 71 RESUMO DO TÓPICO 3 Chegamos ao final do Tópico 3. Faremos uma revisão do que estudamos até agora. • Podemos dividir os relatórios de auditoria em quatro tipos principais: Relatórios Finais Sintéticos, Relatórios Finais Analíticos, Relatórios Especiais e Relatórios Parciais. • O relatório deve ser elaborado com coerência, dando ênfase aos aspectos principais do resultado da auditoria. • O conteúdo básico deve expressar com clareza os objetivos, os resultados dos exames, as conclusões e as recomendações. • Os relatórios são distribuídos conforme o tipo de auditoria realizada e a estrutura organizacional da empresa. • Na conta disponibilidades (caixa, bancos e aplicações), vimos que nos boletins e documentos de caixa é possível encontrar algumas incorreções e recomendar melhorias para o controle interno. • Para um controle de caixa eficiente é importante tomar alguns cuidados, tais como: necessidade de implantação de rotina para anulação dos documentos pagos, necessidade de aperfeiçoamento da rotina, falta de aposição de vistos de preparação e revisão nos boletins de caixa, possibilidade de implantação de fundos fixos de caixa, necessidade de melhor qualificação dos documentos pagos pelo caixa, conferência física do caixa, necessidade de maior restrição no uso de senhas para pagamentos escriturais. • Em contas a receber, vimos a importância de um sistema informatizado integrado com o faturamento, a fim de evitar problemas para manter os registros individuais de cada cliente e possibilitar que sejam feitas as análises mensais. • Em adiantamentos e outros créditos, vimos observações e recomendações nas contas de adiantamento a fornecedores, adiantamento salarial, IRRF (Imposto de Renda Retido na Fonte) a recuperar, pendências antigas de adiantamentos de viagens e estoques. • Para o ativo imobilizado é importante o auditor fazer observações e recomendações em controles patrimoniais sobre ativo fixo, imobilização de despesas operacionais do ativo permanente, inventário físico do ativo imobilizado e quando o sistema de controle patrimonial ainda não se encontra devidamente estruturado. 72 • Observações e recomendações no contas a pagar nas seguintes situações: em relatório de contas a pagar, pagamento antecipado a fornecedor, fornecedores – ausência de posição financeira e quando há divergências entre a contabilidade e o controle do saldo de fornecedores. • É importante a empresa auditada manter em seus registros contábeis os dados constantes na nota fiscal de despesa, tais como: número, razão social e valores, a fim de evitar problemas com a fiscalização. • Para um melhor controle dos registros das despesas, recomenda-se a aplicação de alguns procedimentos, como: a implantação de requisições de compras, autorizações por alçadas progressivas, evidências das necessidades das despesas existentes e um orçamento para apurar se existem abusos nos gastos de algumas despesas incorridas. 73 1 O relatório sintético é elaborado de forma rápida e sucinta, com a finalidade de informar a alta direção da empresa sobre o que precisa ser melhorado ou necessita correção no sistema de controle interno. Estamos fazendo uma abordagem sobre: Assinale a alternativa CORRETA: ( ) Relatórios especiais. ( ) Relatórios finais analíticos. ( ) Relatórios parciais. ( ) Relatórios finais sintéticos. 2 Nesse tipo de relatório, geralmente se recomendam correções em itens específicos auditados, como cálculo do estoque e cálculos dos itens não reconhecidos no imobilizado. Estamos fazendo uma abordagem sobre: Assinale a alternativa CORRETA: ( ) Relatórios especiais. ( ) Relatórios finais analíticos. ( ) Relatórios parciais. ( ) Relatórios finais sintéticos. 3 É solicitado exclusivamente pelo diretor da empresa com interesse específico em um determinado assunto. Estamos fazendo uma abordagem sobre: Assinale a alternativa CORRETA: ( ) Relatórios especiais. ( ) Relatórios finais analíticos. ( ) Relatórios parciais. ( ) Relatórios finais sintéticos. 4 É elaborado quandose detecta algum problema, durante a auditoria, que deve ser levado ao conhecimento da gerência ou direção da empresa para a imediata correção. Estamos fazendo uma abordagem sobre: Assinale a alternativa CORRETA: ( ) Relatórios especiais. ( ) Relatórios finais analíticos. ( ) Relatórios parciais. ( ) Relatórios finais sintéticos. AUTOATIVIDADE 74 5 É importante que o responsável pelo setor fique ciente das incorreções, pois, dessa forma, poderão ser previamente ajustadas. Há situações em que essas incorreções não são aceitas tranquilamente pelo auditado. Estamos fazendo uma abordagem sobre: Assinale a alternativa CORRETA: ( ) Existência de dúvidas sobre o relato de determinado assunto. ( ) Relatórios finais analíticos. ( ) Dialogar sobre os pontos que irão constar no relatório com o responsável pelo setor auditado. ( ) Documento solicitado e não entregue. 6 Falta de evidências de conferência dos boletins de caixa. Este é um problema encontrado nos pontos de relatório de auditoria denominado: Assinale a alternativa CORRETA: ( ) Boletins de caixa. ( ) Contas a receber ( ) Fornecedores. ( ) Saldos bancários. 7 Se o auditor constatar que determinada conta bancária encontra-se sem movimentação há algum tempo e a contabilidade informar que essa conta está encerrada com saldo contábil apresentando um determinado valor, então o saldo está incorreto e necessita de análise para verificar o que ocorreu, pois, se a conta bancária não é mais movimentada, o saldo contábil também deveria ser zero. Este é um problema encontrado nos pontos de relatório de auditoria denominado. Assinale a alternativa CORRETA: ( ) Boletins de caixa. ( ) Contas a receber ( ) Fornecedores. ( ) Saldos bancários. 8 Recomenda-se apresentar apenas a relação dos cheques a compensar no referido período auditado, tirando os cheques já compensados, o que facilita a análise deste relatório contábil. Esta é uma recomendação encontrada nos pontos de relatório de auditoria denominado. Assinale a alternativa CORRETA: ( ) Possibilidade de implantação de fundos fixos de caixa. ( ) Necessidade de melhor qualificação dos documentos pagos por caixa. 75 ( ) Conciliações bancárias. ( ) Contas a receber. 9 É uma conta que merece cuidados, para evitar que o funcionário receba recursos em duplicidade, o que pode ocasionar prejuízos para a empresa, de acordo com a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho. Esta é uma situação encontrada nos pontos de relatório de auditoria denominado. Assinale a alternativa CORRETA: ( ) Ativo imobilizado. ( ) Adiantamento salarial. ( ) Conciliações bancárias. ( ) IRRF a recuperar. 10 A não existência de prestação de contas do adiantamento de viagem implica em considerá-lo como adiantamento salarial, o que pode trazer problemas para a empresa em relação ao desconto do respectivo valor do salário do funcionário. Este é um problema encontrado nos pontos de relatório de auditoria denominado. Assinale a alternativa CORRETA: ( ) Pendências antigas de adiantamento de viagem. ( ) Ativo imobilizado. ( ) Estoques. ( ) IRRF a recuperar. 11 A empresa precisa manter um inventário físico do ativo imobilizado para comprovar a existência física dos bens e facilitar a sua localização e a identificação do seu estado de conservação, tornando-se, desta forma, uma importante ferramenta para o aprimoramento do sistema de controle interno. Caso a empresa não tenha esse tipo de inventário, o auditor deve recomendar o levantamento de todos os bens e seus respectivos documentos para implantar esse controle. Esta é uma situação encontrada nos pontos de relatório de auditoria denominado. Assinale a alternativa CORRETA: ( ) Contas a pagar. ( ) Despesas. ( ) Estoques. ( ) Ativo imobilizado – inventário físico. 76 77 UNIDADE 2 CONTROLES INTERNOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você será capaz de: • conhecer o conceito do enfoque sistêmico e as características do sistema- -empresa, funcionamento dos subsistemas e sua importância para a con- troladoria; • compreender o modelo de gestão das empresas e o funcionamento inte- grado do processo gestão; • conhecer o que são controles internos, sua finalidade e composição das estruturas de modelos aplicáveis; • avaliar a importância dos controles internos para uma empresa; • conhecer alguns aspectos importantes desta área para o trabalho da auditoria; • entender o processo de avaliação do controle interno e utilização dos pro- cedimentos de auditoria neste processo; • compreender os conceitos de accountability e os problemas de agência ge- radora de custos na organização; • entender os conceitos de governança corporativa e sua aplicabilidade pela controladoria. Esta unidade está dividida em três tópicos e no final de cada um deles você encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado. TÓPICO 1 – ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA TÓPICO 2 – CONTROLES INTERNOS TÓPICO 3 – GOVERNANÇA CORPORATIVA 78 79 TÓPICO 1 ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO 2 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS DE SISTEMA Como foi estudada na unidade anterior, a controladoria tem por objeto de estudo as organizações, ou seja, o modelo organizacional como um todo relativo ao modelo de gestão, de decisão, de informação, de mensuração e o modelo de identificação e acumulação. Contudo, a controladoria tem como responsabilidade atuar no processo de gestão, que é uma parte do modelo de gestão da empresa. A eficácia do processo de controle envolve a coordenação das atividades deste processo para que se atinjam os resultados esperados. Para que os resultados esperados sejam atingidos envolve ações e reações do ambiente interno e externo à empresa, com a complexidade de suas interações a todo o momento com o uso dos recursos humanos, materiais, financeiros. Pode-se entender de que a empresa não pode ser vista apenas como áreas, pessoas e recursos que somados formam uma organização estática. Neste contexto, é preciso considerar como um sistema, dividido em partes e cujas partes interagem a todo o momento, cada uma cumprindo sua missão para que juntas atinjam com eficácia o objetivo maior da organização como um todo. À ideia de sistema, dá-se o nome de enfoque sistêmico e este será o objeto de discussão neste tópico, analisando a empresa como um sistema. O enfoque sistêmico ou visão sistêmica, segundo Padoveze (1988, p. 29), refere-se a “uma postura mental de ver as coisas partindo-se de uma visão holística, de um conjunto ou totalidade”. No contexto de Bio (1985, p. 27), para o enfoque sistêmico afirma que “os conceitos de sistema proporcionam uma série de raciocínios que levam à compreensão da complexidade da empresa moderna como um todo”. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 80 A compreensão do todo (visão global) sem perder o foco em suas interações que ocorrem entre as partes e a eficácia do objetivo do sistema, espera-se juntar às partes do todo para entender o objetivo comum do sistema. Indiscutível o fato de que vivemos numa sociedade cada vez mais interligada em redes sociais, mudando o comportamento de relacionamento e convívio. Essas mudanças de comportamento vêm progressivamente tornando mais complexas as relações empresariais pelas mudanças globais a que estas estão condicionadas. Quando se fala de complexidade indica-se que deve existir uma relação de variáveis que influenciam nas decisões em uma determinada situação. Assim sendo, “Quanto maior o número de problemas e variáveis, mais complexa é a situação”. (MAXIMIANO, 2004, p. 354). Compreender o todo e saber como tratar determinada complexidade é a base que sustenta um pensamentoou enfoque sistêmico. Conforme Maximiano (2004, p. 315), o enfoque ou pensamento sistêmico é a ferramenta que lida com a complexidade: ● Visualizar a interação de componentes que se agregam em totalidades ou conjuntos complexos. ● Entender a multiplicidade e interdependência das causas e variáveis dos problemas complexos. ● Criar soluções dos problemas complexos. Neste contexto, como problema relaciona-se a complexidade dos negócios e como a controladoria deve atuar no processo de gestão das empresas. Controlar o desempenho das empresas, todavia implica estabelecer uma relação sistêmica que possibilite comparar as partes e compreender o todo, atribuindo uma visão holística de processos, atividades e funções que somente a controladoria pode proporcionar. Você sabia que a nossa visão de realidade é construída através de modelos mentais, normalmente chamados de paradigmas? Já dizia Descartes que nós não descrevemos o mundo que vemos, nós vemos o mundo que descrevemos! ATENCAO TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 81 FIGURA 1 – CARACTERIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO BÁSICO DE UM SISTEMA FONTE: Padoveze (2004) Pode-se considerar como exemplo de sistemas: (I) carro, (II) corpo humano, (III) computador, (IV) uma empresa, (V) entre outros. Supondo como exemplo o sistema carro, contém vários subsistemas como o subsistema hidráulico, elétrico, motor, chassi, carroceria, roda. Todos esses subsistemas possuem partes menores e estas também se dividem em partes menores, daí o conceito de sistemas. Voltando ao sistema carros e seus subsistemas, tem-se que cada parte está interligada com a outra, e seu todo forma o carro cujo objetivo é comum a todos os subsistemas, a locomoção. Para compreensão de como identificar um sistema, devem-se analisar suas características que basicamente são quatro: (I) elementos, (II) relações entre elementos, (III) objetivo comum e (IV) meio-ambiente. FIGURA 2 – CARACTERÍSTICA DE UM SISTEMA Elementos: Motor, carroceria, elétrica, pneus etc. Relação entre os elementos: Motor é acionado por uma partida elétrica e precisa de combustível para funcionar etc. Objetivo comum: Locomoção Meio ambiente: Estrada, pessoas, ar etc. FONTE: O autor Um biólogo alemão, Von Bertalanffy (1977, p. 84), desenvolveu uma teoria conhecida como teoria dos sistemas, e explica que “sistema pode ser definido como um complexo de elementos em interação”. Sendo um conjunto de elementos inter-relacionados com objetivos comuns, possuem características iguais não se importando a que se aplica. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 82 Conforme Peleias (2002, p. 6), considerando que um sistema pode ser de dois tipos: Abertos: compreende um conjunto de partes em constante interação (ressaltando um aspecto fundamental sobre as ideias de sistemas, a interdependência entre seus componentes) e constituem um todo orientado para determinados fins e em permanente interação com o meio externo, influenciando e por este sendo influenciado. Fechados: são os que não mantêm relação com o entorno, não dependem de insumos externos para sua manutenção e não realizam e nem fornecem saídas para esse ambiente, de tal forma que nenhum material neles entre ou sai. Desta forma, todo sistema capaz de interagir com seu ambiente denomina- se sistema aberto, enquanto um sistema que não consegue interagir com seu ambiente denomina-se sistema fechado. Por exemplo, “um relógio, que possui vários sistemas (componentes), cujo objetivo é marcar o tempo independente do que ocorra à sua volta, trata-se de um sistema fechado, pois não interage com seu ambiente”. (FERNANDES, 2010, p. 18). Neste contexto, Peleias (2002, p. 6) lembra muito bem, que: apesar dos estudiosos da teoria de sistema usar o relógio ou máquinas como exemplo de sistemas fechados, de certa forma existe algum tipo de interação com o ambiente, pois o relógio precisa de corda ou alguma fonte de energia externa para funcionar e as máquinas necessitam de combustível ou energia elétrica para que possam entrar em movimento. Trazendo a teoria de sistemas para o contexto empresarial, tem-se em Bio (1985, p. 18) sua definição de que: Sistema aberto pode ser compreendido como um conjunto de partes em constante interação (o que ressalta um dos aspectos fundamentais da ideia de sistemas: a independência das partes), construindo um todo orientado para determinados fins e em permanente relação de interdependência com o ambiente externo (ou seja, influenciando e sendo influenciado pelo ambiente externo). O sistema aberto estaria relacionado com as entradas em um sistema que após processados deveriam gerar um produto de saída e que está em constante interação com seu ambiente, conforme se demonstra na figura a seguir: IMPORTANT E O meio ambiente pode ser compreendido como o que está fora do sistema, ou seja, não está sob do sistema. Contudo, a troca com o meio ambiente ocorre o tempo todo e isto deixa claro que esta interação influencia e pode ser influenciado. TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 83 FIGURA 3 – FUNCIONAMENTO DO SISTEMA FONTE: O autor Conforme se pode visualizar na figura acima, um sistema sempre será organizado considerando três partes, sendo entradas, processamento e saída, podendo assim representar qualquer sistema aberto. Imagine como exemplo uma fábrica, em que um determinado sistema de produção os insumos são agregados à mão de obra direta (entradas do sistema) e cujo processo de elaboração (processamento) resultará em um produto acabado (saída). As entradas do sistema de produção poderão interagir com compras, fornecedores, estoques enquanto as saídas do sistema poderão interagir com vendas, clientes, financeiro, entre outros. Desta forma, o sistema de produção está inserido em um ambiente maior e sua interação é constante e dinâmica. Para melhor caracterizar o sistema-empresa, veja a figura a seguir e suas características básicas que identificam um sistema. FIGURA 4 – CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA-EMPRESA SISTEMA-EMPRESA Elementos: Setor de Compras, estoque, financeiro, venda. Relação entre os elementos: Só existe estoque se existir uma compra. Só tem contas a receber no financeiro se houver uma venda. Objetivo comum: Satisfazer as necessidades dos clientes com um determinado produto ou serviço, gerando lucratividade à empresa. Meio ambiente: Fornecedores, clientes, governo, mercado financeiro. FONTE: O autor UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 84 Pelas análises discutidas pode-se concluir que definitivamente o sistema- empresa é um sistema aberto, eis que se refere a um conjunto de elementos que se relaciona dinamicamente entre si e com seu ambiente, constituindo uma ação (atividade) que produzirá um produto para atingir um objetivo (resultado da ação). 3 A EMPRESA COMO SISTEMA ABERTO E DINÂMICO Um sistema aberto é caracterizado pela constante interação com seu ambiente, cuja execução de atividades ou um conjunto de atividades tem como objetivo comum atingir o fim proposto pelo sistema. Mosimann e Fisch (1999, p. 21) afirmam que “os sistemas abertos absorvem ‘inputs’, os quais são introduzidos no sistema, e, depois de transformados, traduzem-se por ‘outputs’”. Conforme se observa os “inputs” se referem aos recursos econômicos (materiais, humanos, tecnológicos, informação) que após processados resultam nos produtos e serviços que são destinados ao mercado consumidor. Importante comentar que durante o processamento a empresa agrega valor econômico pelo esforço gerado das atividades e funções das diversas áreas da empresa, interagindo de forma organizada e coordenada para que atinja seu objetivo final de produzir bens e serviços demandados pelo mercado. Aliás, essa característica é fundamental porque se refere ao próprio conceito de sistemas,atingir um objetivo comum. O conceito de agregação de valor compreende que para a empresa possa atingir seus resultados e garantir a continuidade, suas saídas (outputs) deverão ser maiores que suas entradas (inputs), ou seja, a empresa terá um adicional agregado que possibilitará repor os recursos necessários para dar continuidade a suas operações. TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 85 FIGURA 5 – FUNCIONAMENTO DE UM SISTEMA ABERTO FONTE: O autor Segundo Mosimann e Fisch (1999, p. 21), os diversos componentes do sistema estão em constante movimento na busca do cumprimento dos objetivos e “o objetivo fundamental, o mais importante e permanente é a missão”. Neste contexto, Padoveze (2003, p. 14) afirma que “a eficiência empresarial é componente de sua missão”, conforme se pode observar na figura a seguir. FIGURA 6 – EFICIÊNCIA FONTE: O autor Ainda conforme Padoveze (2003, p. 14), “podemos definir eficiência como a relação existente entre o resultado obtido e os recursos consumidos.” Assim, a eficiência de um sistema pode ser medida pelo nível de recursos que foram consumidos para atingir seu objetivo. Já a eficácia indica em que nível um determinado objetivo é atingido, o que indica que dificilmente um sistema atingirá a eficácia se não houver eficiência. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 86 Imagine que todos os dias quando vamos trabalhar, normalmente seguimos a mesma rotina, pois o nosso trabalho é sistêmico e temos um objetivo a cumprir. Contudo, fazemos o que fazemos porque temos que fazer e não paramos para imaginar os reflexos que sua atividade causa nas atividades próximas e que dependem das suas. Esse é o modelo mental construído, pois não descrevemos o mundo que vemos, nós vemos o mundo que descrevemos! Como um simples colaborador quer seja um operário ou mesmo um vendedor, não importa a função, a compreensão das inter-relações não é relativamente importante. Agora, como controller você deve reconhecer todas as interações que ocorrem nos diversos subsistemas do sistema-empresa. Deve compreender que uma empresa não é um punhado de pessoas, máquinas e disponibilidades financeiras que existem na empresa para serem consumidos e transformados em produtos para um mercado consumir. O controller deve então possuir uma compreensão sistêmica do todo da sua empresa, percebendo as mudanças do ambiente inserido, influenciando e sendo influenciada, e desta forma com o uso eficiente dos recursos agregando valor aos insumos adquiridos. Mosimann e Fisch (1999, p. 19) conceituam: Empresa é um grupamento humano hierarquizado que põe em ação meios intelectuais, físicos e financeiros, para extrair, transformar, transportar, distribuir riquezas ou produzir serviços, conforme objetivos definidos por uma direção, individual ou de colegiado, fazendo intervir em diversos graus, motivação de benefício e de utilidade social. A interação sistêmica decorre da utilização de recursos (físicos, humanos, materiais e financeiros) que são utilizados como entrada no sistema-empresa e processamento resulta na saída de produtos ou serviços, conforme se pode observar na figura a seguir. TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 87 FIGURA 7 – EMPRESA COMO UM SISTEMA ABERTO FONTE: Padoveze (2004) A figura representa o ambiente da empresa com as entradas, processamento e saídas do sistema que representa o ambiente interno que é visto sob a ótica de um sistema aberto interagindo com diversas entidades do ambiente externo. Referente a este ambiente externo, Catelli (2001) denominou de ambiente próximo e ambiente remoto. O ambiente próximo refere-se às entidades cuja proximidade afeta diretamente o seu ambiente, como fornecedores e clientes e o ambiente externo refere-se às entidades que direta ou indiretamente influenciam seu ambiente. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 88 FIGURA 8 – VISÃO SISTÊMICA DA EMPRESA FONTE: Catelli (2001, p. 39) Como exemplo, podemos dizer que a empresa executa uma atividade de comprar matéria-prima, está interagindo com seu ambiente buscando com o fornecedor satisfazer sua necessidade. Esta, por sua vez ao chegar à empresa, é estocada e no momento adequado é requisitado para a produção e depois de pronto é estocado como produto acabado. A empresa interage no ambiente próximo com seu cliente e as atividades relacionadas à venda do produto são requisitadas e “neste momento o produto é vendido e os serviços de apoio (faturamento, tesouraria etc.) são acionados para que a mercadoria seja liberada para transporte”. (FERNANDES, 2010, p. 20). 4 OS SUBSISTEMAS DO SISTEMA-EMPRESA Os aspectos relacionados ao estudo das organizações sob a ótica de sistema consideram a empresa como um sistema-empresa inserido em um grande sistema, que é identificado como o seu ambiente de negócios. Partindo deste pressuposto e à luz da teoria de sistemas, a empresa pode ser dividida em subsistemas, que segundo Peleias (2002, p. 7), podem ser TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 89 considerados sob duas categorias: “(I) divisão em função da especialização e (II) divisão em função da dinâmica ambiental”. A divisão em função da especialização estuda a empresa em relação às atividades operacionais realizadas, que quanto ao seu objetivo são agrupadas em funções como, por exemplo: produção, finanças, vendas, compras, recursos humanos, marketing, entre outros. A divisão em função da dinâmica ambiental estuda a empresa partindo do pressuposto da sua interação com o seu meio ambiente, sofrendo pressões externas percebidas como ameaças e oportunidades conforme se observa na figura a seguir. FIGURA 9 – A EMPRESA COMO UM SISTEMA ABERTO FONTE: Adaptado de: Peleias (2002, p. 6) As pressões exercidas pelo meio ambiente em que a empresa está inserida, relativa ao uso de recursos naturais, mudanças de legislação, concorrência, problemas econômicos, mudanças das condições sociais e políticas, bem como inovações tecnológicas criam necessidades de rápida percepção e mudança contínua para as condições ideais de crescimento a fim de garantir a continuidade e sobrevivência da organização. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 90 Essa divisão em função da dinâmica ambiental refere-se então ao que denominamos de sistema-empresa. Segundo Peleias (2002, p. 7), são seis subsistemas que formam o sistema- empresa assim definidos: “(I) Subsistema Institucional, (II) Subsistema de Gestão (III) Subsistema de Organização, (IV) Subsistema Psicossociopolítico-Cultural, (V) Subsistema de Produção, Físico-Operacional ou Físico e (VI) Subsistema de Informação”, conforme ilustramos a seguir. FIGURA 10 – VISÃO SISTÊMICA DA EMPRESA FONTE: Adaptado de: Catelli (2001) A seguir, explicam-se os objetivos de cada um destes subsistemas que compõe o sistema-empresa: ● Subsistema institucional Quando uma ou mais pessoas com uma expectativa visionária de adentrar em um negócio que acreditam ser promissor, investem recursos dando início à sociedade empresarial. Essa sociedade nasce e cresce baseada nas crenças e TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 91 FIGURA 11 – SUBSISTEMA INSTITUCIONAL FONTE: Adaptado de: Peleias (2002, p. 7) Portanto, este subsistema é composto por um conjunto de crenças e valores que foram incorporadas de seus proprietários, e que orientam os demais subsistemas. Conforme Peleias (2002), as crenças e valores direcionam ao alcance dos objetivos propostos, ou seja, cumprir sua missão. Para isto deve formalizar a forma de administração tais como: (I) nível de participação das pessoas, (II) grau de independência dos gestores, (III) filosofia gerencial, (IV) avaliação e desempenho etc. ● Subsistema de gestão Neste subsistema define como a empresa deve ser administrada, baseada na definição do modelode gestão que está alinhada com o subsistema institucional, e do subsistema de produção é que as decisões são tomadas. Caracteriza a orientação ao processo de gestão (planejamento, execução e controle). princípios de seus proprietários, que norteiam todas as ações da empresa e se tornam as diretrizes que orientam os demais subsistemas e suas inter-relações com o seu ambiente. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 92 FIGURA 12 – SUBSISTEMA DE GESTÃO FONTE: Adaptado de: Peleias (2002, p. 8) Portanto, o subsistema de gestão é composto pelo processo de gestão (planejamento, controle e execução) que são embasados no sistema institucional e no modelo de gestão, pois as decisões são orientadas baseadas nas crenças e valores com foco na eficácia e eficiência dos resultados. Qualquer direção serve quando não sabemos onde queremos chegar! O futuro é incerto, mas reduzir a incerteza significa planejar hoje as variáveis estratégicas que podem interferir no resultado desejado no futuro. Desta forma, “o subsistema de gestão, como forma de conduzir a empresa a uma situação desejada futura, define o modelo de processo de gestão organizacional quanto ao planejamento das atividades, técnicas e métodos de execução e os mecanismos de controle”. (PELEIAS, 2002, p. 8). ● Subsistema organizacional ou formal Este subsistema tem como foco evidenciar a estrutura organizacional com suas atividades orientadas para consecução do cumprimento da missão. A atuação da gestão na tomada de decisão é orientada pelas limitações impostas aos instrumentos reguladores como políticas, normas e procedimentos definidos pelo modelo de gestão. TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 93 FIGURA 13 – SUBSISTEMA DE ORGANIZAÇÃO FONTE: Adaptado de: Peleias (2002, p. 9) O subsistema de organização é influenciado pelo modelo de gestão e pelo subsistema de produção. Quanto ao modelo de gestão orienta o estilo gerencial, da formação de estrutura organizacional como a definição dos papéis e funções das áreas, sua atuação (centralizado ou descentralizado) com a definição do nível de delegação de autoridade e responsabilidades com a finalidade de garantir que atividades sejam executadas e cumpram seus objetivos. Ainda a esse respeito, quanto ao subsistema de produção representa todas as operações da empresa baseadas em suas inter-relações com o ambiente próximo e remoto. Para que as atividades tenham êxito também são necessárias “definição, identificação e aquisição de materiais, equipamento, instrumentos e outros recursos necessários à execução das atividades”. (PELEIAS, 2002, p. 9). Conforme Arantes (1994, p. 93), afirma que no “subsistema de organização” tem-se a: especificação das funções (papéis e responsabilidades) necessárias para realizar a tarefa empresarial, o agrupamento dessas funções em unidades organizacionais (departamentos, setores...), a fixação das relações de autoridade entre essas unidades e a designação das pessoas para a execução dessas funções. Portanto, tem-se um importante subsistema que define toda a estrutura de funcionamento da empresa quanto ao aspecto funcional e unidade organizacional e a forma de autonomia das pessoas que executam as atividades relativas a estas funções e a essas unidades organizacionais. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 94 ● Subsistema psicossociopolítico-cultural Este subsistema orienta o comportamento das pessoas na organização baseado no subsistema institucional e modelo de gestão e define as competências humanas e técnicas necessárias ao cumprimento dos objetivos organizacionais. Como a empresa é formada por pessoas, deve existir uma sinergia que faça uma inter-relação com os objetivos da empresa. Dentre as competências humanas, a liderança e o conhecimento multidisciplinar permitem a tomada de decisão e ainda a motivação que permite envolver as pessoas, em torno de um objetivo comum. As competências técnicas impactam diretamente na qualidade com que as decisões são tomadas e por consequência necessitam de capacitação permanente. A capacidade de comunicar, de expressar também deve ser visto como uma necessidade desse subsistema, pois pessoas devem saber o que se espera deles enquanto avaliados seus desempenhos. FIGURA 14 – SUBSISTEMA PSICOSSOCIOPOLÍTICO-CULTURAL FONTE: Adaptado de: Peleias (2002, p. 10) Portanto, o subsistema psicossociopolítico-cultural é fortemente impactado pelo subsistema institucional e está interligado aos demais subsistemas através da sinergia criada (clima organizacional) que orienta padrões de comportamento na execução das atividades na busca no cumprimento dos objetivos organizacionais. ● Subsistema de produção, físico-operacional ou físico Neste subsistema, um conjunto de elementos físicos é utilizado pelas pessoas na execução de suas atividades com o objetivo de transformar os elementos físicos em produtos TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 95 ou serviços, ou seja, evidencia a capacidade de materializar o planejado, tornando-o aquilo que era abstrato em algo real. Neste subsistema, apenas, os elementos físicos fazem parte excluindo-se as pessoas. FIGURA 15 – SUBSISTEMA DE PRODUÇÃO, FÍSICO-OPERACIONAL OU FÍSICO FONTE: Peleias (2002, p. 11) AMBIENTE REMOTO: Governo, sociedade, outros ambientes (países, segmentos, etc.). Econômicas, sociais, tecnológicas, políticas, ecológicas,VARIÁVEIS: regulamentadoras e outras. AMBIENTE PRÓXIMO Entidades Fornecedoras Materiais Recursos Humanos Tecnologia Informação Recursos Financeiro R EC U R SO S Empresas Compras Suprimentos Produção Venda Contabilidade Controladoria Finanças PR O D U T O S SE R V I O S Ç Distribuidor Produtos Serviços Pessoas qualificadas Dinheiro Informações Tecnologia Pr od ut os e Se rv iço s C on su m id or fin al Concorrentes Conforme Peleias (2002, p. 11), o subsistema de produção: É o modus operandi das áreas de responsabilidade componentes da organização, nas quais devem ser avaliadas as várias técnicas e métodos para a execução das atividades em função dos objetivos a serem atingidos e sua consequente adaptação ou modificação. Considera que todas as áreas de responsabilidade produzem bens e serviços, sendo possível caracterizar os respectivos sistemas de produção. Portanto, em relação ao subsistema de produção importa saber que as operações da empresa como um todo executando suas atividades, considerando as influências externas e interagindo, com o fim maior de atingir seu objetivo de produzir os bens e serviços demandados. Para que isto ocorra sinergicamente, a estrutura deve atender em nível funcional e organizacional os níveis de atividades na geração dos produtos, interações e inter-relações com fornecedores, clientes e o sistema de produção, correta interpretação e predição de eventos de origem externa que afete a eficácia dos resultados esperados e ainda que as atividades empresariais ao utilizarem os recursos consumidos agreguem valor aos produtos com ganho operacional. ● Subsistema de informação Este subsistema tem como função subsidiar os demais sistemas, coletando e processando dados que deverão gerar informações para atender a todos os usuários em nível gerencial e operacional. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 96 A inter-relação deste sistema implica que uma informação de uma área pode ser um dado para outra. Por exemplo, a matéria-prima gerou informação para o setor de controle de estoque e essa informação gerou um dado no setor de compras para processar a necessidade de comprar esta matéria-prima. FIGURA 16 – SUBSISTEMA DE INFORMAÇÃO FONTE: Adaptado de: Peleias (2002, p. 112) O subsistema de informação alimenta o subsistema de gestão, pois há necessidadede informação que minimize as incertezas decorrentes de decisões relacionadas ao planejamento, e por consequência as correções dos desvios que podem ocorrer na etapa de controle e alinhamento dos parâmetros de execução. Segundo Catelli (2001, p. 56-57), explica que “é constituído de atividades de obtenção, processamento e geração de informações necessárias à execução e controle das atividades empresariais, para que a empresa alcance seus propósitos. Requer um conhecimento adequado da realidade, obtido por meio das informações geradas pelo subsistema de informação”. O objetivo então é que este sistema gere informações úteis e confiáveis, para que se atinja a eficácia dos resultados com o menor impacto em termos de correção de desvios. 5 FUNÇÃO CONTROLADORIA INSERIDA NO SISTEMA DE GESTÃO Na era da informação, imaginar que o principal gestor da informação (controller) dentro de uma organização, que organiza e distribui informação, não esteja inserido no processo de gestão é algo praticamente inconcebível. ENTRADA SA DAÍPROCESSAMENTO Processamento de dados Dados Geração e distribuição de informações Nível gerencial Nível operacional TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 97 Desta forma, o controller deve conhecer o funcionamento e inter-relacionamento de todo o sistema de gestão para que possa extrair a essência da empresa, e baseado nesta, contribuir proativamente com sua matéria-prima principal: a informação estruturada e qualificada para o gestor na tomada de decisão. FIGURA 17 – INTERLIGAÇÕES SISTÊMICAS FONTE: Adaptado de Catelli (2001) IMPORTANT E “Processo de gestão é o processo orientado que permite de forma ordenada o modelo de gestão da empresa de forma que crie um adequado fluxo para o processo de tomada de decisão em todos os planos empresariais e níveis hierárquicos.” (PADOVEZE, 2003, p. 27). MACROAMBIENTE ENTIDADES E VARIÁVEIS AMBIENTAIS SISTEMA-EMPRESA SUBSISTEMA INSTITUCIONAL MODELO DE GESTÃO SUBSISTEMA DE GESTÃO SUBSISTEMA ORGANIZACIONAL SUBSISTEMA ÇÃDE INFORMA O SUBSISTEMA PSICOSSOCIOPOLÍTICO CULTURAL SUBSISTEMA DE PRODUÇÃO, FÍSICO- OPERACIONAL OU FÍSICAO Observam-se todos os subsistemas do sistema-empresa que foram estudados anteriormente. Contudo, observe como ideia central as interações entre os sistemas e as variáveis e entidades do ambiente da empresa. Desta forma, pode-se perceber que as interações das entidades e variáveis ambientais decorrem primeiramente com o subsistema institucional para depois orientar os demais subsistemas do sistema-empresa. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 98 Nosso foco, porém, reporta-se ao estudo do sistema de gestão e suas interligações. Pela análise da figura, pode inferir que o subsistema institucional faz o relacionamento com o ambiente externo e o modelo de gestão estabelece através das filosofias gerenciais as orientações para o subsistema de gestão quanto às diretrizes de planejamento, execução e controle das operações da empresa. O modelo de gestão interliga com o subsistema institucional definindo um conjunto de normas, princípios e regras que orientam o comportamento dos demais subsistemas deixando claro para toda a organização qual deve ser a missão. Toda empresa tem um modelo de gestão que pode ser formal ou estar implícito na forma de comportamento tolerado, porém sempre existirá uma orientação para um padrão comportamento. O controller deve, como responsável pelo processo de gestão, perceber todas as mudanças advindas do modelo institucional que influenciem o modelo de gestão formal ou não, principalmente o subsistema de gestão produto resultante do modelo de gestão. Porém, em sendo sua responsabilidade e apenas participando do processo decisório, cabe no âmbito de sua função, direcionar os gestores, que são quem de fato tomam as decisões, para a eficácia dos resultados econômicos, garantindo os pressupostos de continuidade e cumprimento da missão. 5.1 PROCESSO DECISÓRIO Compreender o papel da controladoria no processo decisório da empresa é de suma importância, visto que são necessárias tomadas de decisões em todo o processo de gestão, desde o planejamento estratégico, operacional, financeiro, execução, ação e controle. Na figura a seguir, demonstra-se visualmente o funcionamento do processo decisório nas organizações e veremos como a controladoria deve atuar no âmbito destas questões, contudo, não nos aprofundaremos na técnica que será objeto de estudo um pouco mais à frente. TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 99 FIGURA 18 – PROCESSO DE DECISÃO ORGANIZACIONAL FONTE: Schmidt (2002, p. 28) A missão da controladoria é zelar pela sobrevivência e continuidade da organização, que somente é possível se a organização como um todo conseguir cumprir a sua missão. Baseado nesse pressuposto, a missão da organização, como já foi visto anteriormente, tem sua origem nas crenças e valores de seus proprietários que perpetuam na empresa normalmente, pela explicitação de sua missão. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 100 Também já foi visto que as crenças e valores da organização fazem parte do subsistema institucional do sistema-empresa que orientam os demais subsistemas ao cumprimento dos objetivos da organização. Para o bom andamento das atividades de um controller é necessário que a organização tenha explícito, segundo Schmidt (2002, p. 28), alguns fatores: “(I) negócio, (II) crenças e valores, (III) missão e (IV) visão”. O negócio explicita onde a empresa atua e principalmente indica o principal benefício esperado pelo cliente. Neste contexto, baseado nos conceitos sistêmicos cabe ao controller conhecer o negócio em que a empresa está inserido, mas sem a miopia estratégica que muitas vezes levam o controller a entender como negócio apenas os seus produtos e serviços oferecidos, esquecendo que na amplitude de seu negócio pode perceber novas oportunidades ou mesmo antecipar ameaças quando seu olhar voltar para fora da empresa. O entendimento das crenças e valores leva o controller a compreender o que seus proprietários ou investidores esperam em forma de comportamento dos gestores em relação aos clientes, fornecedores, colaboradores, enfim todos os elos da relação do sistema-empresa. “Vale ressaltar que as crenças e valores levam ao entendimento real da missão da empresa, e falta de explicitação pode conduzir seus gestores tomar decisões estratégicas conflitantes.” (SCHMIDT, 2002, p. 30). Cabe ainda ao controller, identificar e comparar de forma a evidenciar a fidedignidade da missão baseado em cenários ambientais que indiquem a missão que representa o real motivo da existência da organização. Desta forma, o controller, tendo a clara percepção da missão poderá gerar as informações que permitam a eficácia no cumprimento dos objetivos da organização. Por fim, a visão indica o que a empresa deseja em termos de futuro. Para a controladoria, compreender e ter explícita a visão é como ligar um farol bem alto e sinalizar o que a empresa deseja conquistar no futuro de médio a longo prazo, e isto implica objetivos e metas que poderão ser avaliados pela controladoria quanto à sua eficácia considerando as variáveis ambientais. Depois das discussões em torno dos principais fatores que devem ser explicitados, para que o controller consiga desenvolver suas atividades, que conforme SCHMIDT (2002, p. 32) “servirá de fundamento para a modelagem do processo decisório dos gestores. Uma vez idealizado o processo, é possível a construção do plano de gestão integrado, que será consubstanciado no plano estratégico, no plano de desenvolvimento operacional e financeiro para a entidade”. O planejamento estratégico visa explicitar os grandes objetivos da empresa a longo prazo, orientando ações no presentes para alcançaros objetivos e assim garantir a continuidade e cumprimento da missão. TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 101 “O planejamento operacional será fundamentado no planejamento estratégico e buscará identificar as oportunidades de mercados com novos produtos e serviços, além das novas oportunidades de mercado.” (SCHMIDT, 2002, p. 33). O planejamento financeiro tem como objetivo prever as ações de curto prazo com relação às operações da empresa, ligadas às atividades cotidianas. “A controladoria, em relação ao processo decisório, deverá garantir que as decisões correspondam fidedignamente às ações, não permitindo que nenhuma informação gerada por uma decisão seja corrompida.” (SCHMIDT, 2002, p. 34). Por fim, a controladoria deve manter o controle das ações que foram tomadas pelos gestores, implementando um processo de avaliação de desempenho que possibilite checar a aderência e cumprimento a missão. Este sistema de avaliação de desempenho que deverá ser implementado pela controladoria, segundo Schmidt (2002, p. 34) deverá: • controlar as atividades operacionais da empresa; • alimentar os sistemas de incentivo dos funcionários; • conduzir as estratégias competitivas; • identificar problemas que necessitem a intervenção dos gestores; • verificar se a missão da empresa está sendo atingida (esta resume todas as demais). Assim a controladoria, ao desenvolver um sistema de avaliação de desempenho, poderá comparar os objetivos e metas em aderência à missão e por consequência garantir a continuidade da empresa. 5.2 MODELO DE GESTÃO E O PROCESSO DE GESTÃO O modelo de gestão pode ser compreendido como “a matriz do subsistema de gestão, que é traduzido na empresa dentro de um processo orientado que permita a ordenação de sua administração para o fluxo do processo de tomada de decisão em todos os planos empresariais e níveis hierárquicos, denominado de processo de gestão” (PADOVEZE, 2003, p. 27), ou seja, trata-se de um modelo que baseado nas crenças e valores que são incorporados na missão da empresa e define um modelo teórico de gestão empresarial que se incorpora na empresa através de um processo de auxílio decisório no processo de gestão em todas as suas etapas, concebido para atingir os objetivos organizacionais alinhados com a missão. A capacidade de responder às mudanças do ambiente externo depende da velocidade com que são implementadas as mudanças no modelo de gestão. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 102 As pressões exercidas pelo ambiente externo são motivadas pelos mais diversos interesses dos agentes externos. O elo que aciona o botão da mudança organizacional começa com a capacidade de percepção da nova realidade, que passa a mudar seu comportamento gerencial e implica mudanças em suas crenças e valores, influenciando, portanto, o modelo de gestão e novas ações organizacionais surgem para adaptar-se ao novo modelo. FIGURA 19 – AS INFLUÊNCIAS AMBIENTAIS NA EFICÁCIA ORGANIZACIONAL FONTE: Nascimento; Reginato (2006, p. 46) A ação organizacional é motivada por pessoas que associadas a tecnologias que as permitam executar suas tarefas acabam por gerar os produtos e serviços. O princípio consiste em atingir os objetivos. O conjunto sinérgico de ações como um todo leva a empresa ao cumprimento da sua missão que se traduz na eficácia organizacional. Neste contexto, segundo Schmidt (2002, p. 34), “O modelo de gestão tem seu input na identificação das crenças e dos valores dos controladores da entidade; esses vetores geram a missão, e esta fundamenta a concepção teórica do modelo que será operacionalizada nos três modelos.” Conforme se pode observar na figura a seguir. TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 103 FIGURA 20 – SUBDIVISÃO DO MODELO DE GESTÃO FONTE: Schmidt (2002, p. 35) Refere-se a um modelo abstrato que conduz a um comportamento que pode, por exemplo, impactar na existência ou não de atividades de planejamento e de controle, define em que nível existe autonomia aos gestores, as avaliações de desempenho, filosofia gerencial, entre outras. O modelo de gestão absorve a cultura empresarial traduzindo a forma de comportamento decisório relativo no processo de gestão, em que “Todo esse processo é motivado pelo processo de gestão da empresa, que está implícito ou explícito no comportamento individual e conjunto das pessoas e que se reflete nas decisões de planejamento, de execução de atividades e de controle de resultados.” (NASCIMENTO; REGINATO, 2006, p. 37). Para a controladoria importa conhecer quais os aspectos das decisões tomadas pelos gestores para atingir os resultados propostos. Basicamente, o modelo de gestão é consubstanciado em três submodelos que suportam o processo decisório sendo: (I) modelo de decisão, (II) modelo de mensuração e (III) modelo de informação. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 104 No modelo de decisão, a controladoria precisa conhecer como as decisões são tomadas pelos gestores, pois em qualquer etapa de um processo, seja ele qual for, deverá existir uma preparação (planejamento) que depois será colocado em prática (execução) para que se atinja seu fim proposto e assim deverá ser constatada sua eficácia (controle). No modelo de mensuração, a controladoria precisa levar em consideração as características dos gestores para adequar a melhor forma de mensurar as informações. Conforme Padoveze (2003, p. 31), “No âmbito da Controladoria, este modelo prima por ser um modelo de avaliação econômica, e dentro das nossas premissas o modelo de mensuração deve ter como referência básica a avaliação em termos de resultados e valor da empresa”. A mensuração dos eventos econômicos pode gerar na controladoria dificuldades de mensurar as informações, como, por exemplo, a compra de um bem qualquer que pode ser considerado no momento da saída como custo histórico menos as depreciações, em caso de continuidade ou usar critérios mais subjetivos como valor de liquidação (forçar a venda) no caso de descontinuidade. Desta forma, a controladoria deve proporcionar ao gestor, informações com base no conhecimento de suas características, as várias possibilidades de mensurações, que lhe permita decidir entre as alternativas possíveis, a que lhe conduza a uma decisão coerente na busca dos resultados. No modelo de informação, a controladoria por este modelo com base nos modelos de mensuração e de decisão, consubstanciada na necessidade de informação dos gestores, transformar os dados gerados em informações adequadas e compreensíveis para que atinja missão da organização. Neste contexto, podemos inferir que a controladoria é responsável pelo gerenciamento do sistema de informações mensurando as várias informações em nível de entendimento adequado à sua tomada de decisão. Pode-se usar como exemplo, o seguinte caso! Imagine se a controladoria não gerasse a informação adequada ao seu usuário. A controladoria envia ao supervisor de produção os relatórios do fluxo de caixa da empresa. Veja que em uma simples análise vimos que a informação não é útil à sua tomada de decisão, pois não decide nas atividades de função financeira e sim nas atividades da função de produção, logo no modelo de mensuração e de decisão não foram analisadas as características dos gestores que receberam as informações e, portanto, o modelo de informação neste não é adequado. Você pode perceber que em momento algum o controller toma a decisão, apenas conduz, segundo sua análise, as características do gestor, um modelo de decisão e mensuração que gere um modelo de informação que permita avaliar as várias alternativas para sua tomada de decisão. Vamos, agora, verificar todas as etapas do processo de gestão numa visão analítica construída por Padoveze (2003). TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 105 FI G UR A 2 1 – P R O C E SS O D E G E ST Ã O : V IS Ã O A N A LÍ T IC A FO N T E : P ad o ve ze ( 2 0 0 3, p . 2 9 ) UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 106 Como se pode observar o processo de gestão também é um processo, eis que as entradas geram procedimentos que deverão resultar em alguma decisão. Em todas essas fases em que são tomadas decisões, a controladoria tem como suporte o sistema de informações que possibilita ao gestor tomar sua decisão de forma mais adequada com vistas para o cumprimento da missão. Perceba que ao cumprir a missão, a empresa atingiu seu maior objetivo. Contudo, “o objetivo de cada área não pode estar dissociado do objetivo maior, ou seja, do objetivo da empresa. Assim, cada área da empresa tem um processo de gestão, também denominado de processo decisório, pois é em cada etapa desse processo que as decisões são tomadas”. O processo de gestão é a base mestra que sustenta todo o sistema-empresa, eis que baseado no modelo de gestão deve orientar decisões, assegurando o cumprimento da missão. (FERNANDES, 2010). Complementando a ideia, Catelli (2001, p. 58-59) ainda diz que: o processo de gestão deve (i) possibilitar identificar, avaliar e selecionar a melhor alternativa; (ii) permear as atividades empresariais através das fases de planejamento, execução e controle; (iii) ser adequadamente suportado pelo sistema de informações que possibilite tomada de decisão nessas fases. Com base no que se discutiu a respeito do modelo de gestão e processo de gestão, pode inferir que modelo de gestão se constitui de um padrão abstrato que forma um conjunto de normas, princípios e conceitos oriundos das crenças e valores que se traduz em realidade (materialização) dentro da organização através do processo de gestão (planejamento, execução e controle) orientando de forma explícita ou implícita o comportamento das ações organizacionais para cumprimento da missão. Agora que você aprendeu como a gestão ocorre dentro das organizações, vamos detalhar o processo de gestão em suas fases de planejamento, execução e controle. 5.2.1 Planejamento Se você perguntar a várias pessoas de idade, religião, sexo e classe social diferentes sobre o que seria planejamento, com certeza encontraria respostas simples como “se preparar para o futuro ou concretizar um algo que deseja no futuro” ou resposta mais complexas e técnicas. Na realidade, independente de qual resposta, todas levam a um caminho ou conceito que seria prever situações desejadas futuras antecipando ações no presente que levem à sua eficácia. Seria lógico e muito racional imaginar que nada, absolutamente nada, se comporta de maneira linear, assim sempre existe a probabilidade que ocorra algo de inesperado, desviando-se do seu planejamento, contudo, ações corretivas podem levá-lo novamente ao curso de seu planejamento. Você já parou para pensar na sua vida acadêmica? O que você fará quando se formar? O que você estará fazendo em termos acadêmicos daqui a 5 ou 10 anos? Planejar é ter foco em um objetivo e saber o que quer, onde e quando chegar. TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 107 5.2.1.1 Processo de planejamento O planejamento envolve a definição de objetivos e de quais estratégias serão utilizadas para alcançar tais objetivos. Os gestores precisam definir os planos a partir das alternativas possíveis, e escolher quais ações futuras serão operacionalizadas, bem como as necessidades de recursos que devem ser disponibilizados, buscando alcance dos objetivos a que se propõe. (FERNANDES, 2010, p. 45). O papel da controladoria neste contexto é criar e consolidar os planos formalizados pela empresa, mas não lhe compete decidir sobre uma ação que venha a definir o curso de determinado evento futuro. A esse respeito, cabe ao gestor tomar a decisão e a controladoria auxiliá-lo nesta decisão com informações e alternativas possíveis que orientem cumprir seus objetivos. Independente do porte da empresa, o planejamento é a ferramenta que possibilita de forma sistemática e coerente avaliar metas e objetivo, sendo assim um facilitador para que se atinjam os resultados planejados. Segundo Nakagawa (1994, p. 48), “o planejamento é o ato de tomar decisões antecipando-se à ocorrência de eventos reais, envolvendo a escolha de uma entre as várias alternativas de ações possíveis, formuladas no contexto dos diversos cenários futuros prováveis”. Padoveze (2003, p. 28) define muito bem o conceito, fazendo uma ligação entre o que se quer e o que se espera, dizendo que “Planejamento é a definição de um plano para ligar uma situação desejada com a situação atual”. Parafraseando a conhecida estória do escritor Lewis Caroll chamado Alice no País das Maravilhas, existe um momento em que a Alice pergunta ao gato que caminho deveria tomar e o gato fala que a resposta dependeria de onde ela gostaria de ir, contudo, Alice confusa, responde que não tem um destino certo e neste momento o gato responde que então qualquer caminho serve. Este pequeno trecho desta famosa estória, representa muito bem o contexto do planejamento, pois nossas ações de planejamento dependem de onde queremos chegar, ou seja, quais nossos objetivos. Isso implica que tomar o caminho correto, passa por criar cenários que possibilitem orientar a estrada a seguir e cumprir o objetivo final que é chegar ao destino. Caro(a) acadêmico(a)! Essa visão lúdica, logicamente, foi apenas para ilustrar como o planejamento é uma etapa importante no processo de gestão das empresas, pois tomar o caminho correto implica o cumprimento da missão. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 108 FIGURA 22 – PROCESSO DE GESTÃO EMPRESARIAL FONTE: Adaptado de Santos (2005, p. 41) Conforme figura, você pode observar o alinhamento com o conceito de Padoveze, contudo, a preocupação nesta linha de ligação entre a situação desejada e a situação atual, implica o monitoramento do ambiente, cujos cenários possíveis devem ser analisados e os riscos e incertezas minimizados para uma boa tomada de decisão. As variáveis ambientais como já foram vistos impactam no modelo de gestão alterando o comportamento das ações organizacionais quanto ao processo de gestão. QUADRO 1 – ELEMENTOS DO SISTEMA DE PLANEJAMENTO Variáveis de Entrada (input) Processo Saída (output) • Responsáveis pelo plano • Objetivos do plano • Diretrizes organizatórias • Informações sobre planejamento • Formulação de objetivo • Constatação e análise do problema • Busca de alternativas • Prognóstico e avaliação das alternativas • Ato decisório Planos FONTE: Lunkes; Schorrenberger (2009, p. 43) Conforme se pode constatar o planejamento visto sob a ótica de um sistema de planejamento, infere entradas neste, os elementos referentes aos responsáveis pelo plano, objetivos, diretrizes e informações que subsidiem o esforço para preparar o plano e além de prover os recursos necessários para realizar o planejamento. TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 109 Para que o planejamento tenha sucesso será importante que a controladoria envolva e obtenha a participação de todos os gestores da empresa, sendo o elo sinérgico entre as áreas, ou seja, a controladoria, “terá a responsabilidade de fazer com que exista um plano e que este seja apoiado por todos os níveis decisórios da entidade”. (SANTOS; SCHIMIDT, 2007, p. 61). O processo de que planejamento envolve os planos, a execução e o controle, pois não haveria sentido de a empresa se planejar se não controlar a execução dos planos. O planejamento é um processo que produz um ou mais resultados futuros desejáveis, que ocorrem através da execução de ações que estão definidas no plano. Sua finalidade é evitar que ações inadequadas sejam realizadas,de forma a minimizar a probabilidade de que ocorram insucessos nos planos. (NAKAGAWA, 1994, p. 51). Preparar um planejamento envolve determinar o horizonte de tempo que se busca como meta a ser perseguida. Normalmente, são preparados planejamentos de longo, médio e curto prazo, podendo ser subdivididos em três níveis: (I) o planejamento estratégico, (II) o planejamento tático, e (III) planejamento operacional, diferenciando suas características conforme quadro a seguir. Neste contexto, a importância da controladoria no processo de planejamento é fundamental, visto tratar-se de uma das suas atribuições. Esta constatação pode ser percebida conforme Mosimann e Fisch (1999, p. 115) que dizem o seguinte: O processo de planejamento da Controladoria está voltado tanto à participação no processo de planejamento da organização como para o planejamento de suas próprias atividades, e, portanto, para a criação de um ferramental de planejamento e controle econômico, que inclui: sistema de informações econômico-financeiras, sistema de padrões, sistema contábil, modelos de decisão, mensuração e informação do sistema, que sirva tanto para a aferição da eficiência e eficácia das diferentes áreas da empresa, como para aferição de seu próprio desempenho. Perceba que nas atividades de planejamento a controladoria além de participar do processo como um coordenador que atue sinergicamente com as áreas e tenha visão geral do processo de elaboração dos planos, como também está voltado para o planejamento da sua própria área e por conta deste, necessita de ferramentas que possibilitem cumprir sua missão. ESTUDOS FU TUROS Com relação às ferramentas ou artefatos, como de fato costumamos chamar e que a controladoria utiliza, veremos na Unidade 3 deste Caderno de Estudos. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 110 QUADRO 2 – CARACTERÍSTICAS DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO, TÁTICO E OPERACIONAL Nível de planejamento Estratégico Tático Operacional Horizonte de tempo • Longo prazo (de cinco ou mais anos). • Médio prazo (de um a cinco anos). • Curto prazo (geral- mente de um ano ou menos). Objetivos ou metas • Qualitativos. • Potenciais de sucesso. • Parâmetros de lucro. • Qualitativos e quantitativos. • Objetivos de produtos. • Capacidade de pagamento. • Quantitativos. • Objetivos de venda e produção. • Lucro por produto. Variáveis e alternativas • Estratégias para produtos e marketing. • At i v i d a d e d e negócio. • Posicionamento es- tratégico. • Programa de produção quantitativo e qualitativo. • Projetos de investimento e programas de financiamento. • Desenvolvimento de pessoal. • Plano de vendas, compra de matéri- as-primas. • Planos de desen- volvimento das ativ- idades. • Planejamento de ca- pacidade e utilização de pessoal. Caracterís- ticas específicas • Relativo à organ- ização como um todo. • Define para onde a organização vai. • Avalia o ambiente esperado. • Desenvolve es - tratégias para al- cançar os objetivos pretendidos. • Relativo à função. • Orienta o planejamento operacional. • Avalia o desempenho de gerentes. • Define metas para al- cançar os objetivos pre- tendidos. • Relativo à execução. • Define operações do dia a dia. • Avalia o desem- penho de unidade de responsabilidade específica. • Desenvolve metas visando alcançar os objetivos pretendidos. FONTE: Lunkes; Schnorrenberg (2009, p. 44) O planejamento estratégico tem característica de um plano de longo prazo e associa um processo de criação de valor analisando potencialidade de mercados e produtos novos, e fixar uma linha estratégica de investimentos. O planejamento tático tem como característica uma abrangência de médio prazo e desdobra-se do planejamento estratégico com a finalidade de preparar os projetos de investimentos, necessidade de financiamentos e seu objetivo é subsidiar o planejamento operacional. O planejamento operacional tem como característica uma abrangência de curto prazo e seu objetivo é detalhar o planejamento tático transformando-o em informações compreensíveis para as operações diárias da empresa. Esse detalhamento também tem como finalidade dirimir em níveis de detalhamento por área de responsabilidade os recursos que serão utilizados para cumprir as metas de curto prazo e por consequência os objetivos ao longo do tempo. Desta forma, cabe à controladoria compreender como funciona a dinâmica estratégica da empresa e seu ambiente de competição e simulando cenários TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 111 possíveis com informações e tendências econômicas e financeiras, participando ativamente na elaboração do planejamento estratégico da empresa e coordenando o planejamento das áreas para obter a visão do todo, analisando a viabilidade econômica e propondo orientações aos gestores quanto à tomada de decisão. 5.2.1.2 Planejamento estratégico O planejamento estratégico é uma atividade gerencial, envolvida no processo de gestão em que a alta administração define os grandes objetivos, denominados de objetivos estratégicos, e define as ações necessárias e definição dos recursos necessários para que se atinjam esses objetivos. Nakagawa (1994, p. 51) o define como políticas, diretrizes e objetivos estratégicos, pois entende que: O planejamento estratégico é um processo lógico e sistemático que se preocupa com os efeitos futuros das decisões tomadas no presente e se inicia, muitas vezes, com avaliação da situação atual da empresa comparada com desempenhos passados, fazendo-se a partir daí projeções que levam em conta cenários alternativos mais prováveis no futuro. Oliveira, Perez Jr. e Silva (2002, p. 39) conceituam planejamento estratégico como “um conjunto de objetivos, finalidades, metas, diretrizes fundamentais e planos para atingir esses objetivos, coordenado de forma a definir em que atividade se encontra a empresa, que tipo de empresa ela é ou deseja ser”. O conceito do autor desperta para um sistema com regras que orientam a empresa de forma ordenada. Na verdade está se falando de um autoconhecimento corporativo! Como se diz no livro “Arte da Guerra”, se conhecemos o nosso inimigo e a nós mesmos, não há o que temer, agora se nós conhecemos, mas não conhecemos nosso inimigo, para cada vitória acabaremos sofrendo uma derrota, por fim, se não conhecemos a nós mesmos e nem nosso inimigo, sucumbiremos em todas as batalhas. (LUNDELL, 1997). Conhecer a nós mesmos (a empresa) e nosso inimigo (concorrente) nos parece estrategicamente importante que se conheça o negócio em que a empresa está inserida. Mas por que seria estratégico então que todos entendam o negócio da empresa? Para responder a essa pergunta precisa-se entender o conceito de negócio que segundo Vasconcelos Filho e Pagnoncelli (2001, p. 53) pode ser “o entendimento do principal benefício esperado pelo cliente”. No entendimento dos autores durante a elaboração do planejamento estratégico ocorre muita dificuldade de identificar onde a empresa atua ou deve atuar, e costuma-se confundir negócio com a missão ou com seu slogan. Neste contexto, o negócio é o primeiro passo para a elaboração do planejamento estratégico de uma empresa. Desta forma é preciso compreender que o cliente compra um “benefício” e a empresa vende “produto ou serviço” e normalmente ocorre uma espécie de miopia estratégica em que os gestores confundem negócio com o produto que ela produz e isto delimita o campo estratégico da empresa. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 112 Assim vamos compreender as etapas necessárias para executar as atividades de planejamento estratégico, conforme figura a seguir. FIGURA 23 – ETAPAS DE ELABORAÇÃO DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO FONTE: Adaptado de: Lunkes; Schonorrenberger (2009, p. 51) Lembre-se! A miopia estratégicadelimita o negócio da empresa. ATENCAO TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 113 ● CRENÇAS, VALORES, PROPÓSITOS E PRINCÍPIOS O processo de desenvolvimento do planejamento estratégico inicial é baseado nas filosofias da empresa (crenças, valores, propósitos e princípios). As crenças representam o credo, aquilo que de fato a empresa acredita. Os valores representam orientações de caráter comportamental e atitudes que devem se seguidas. O propósito busca responder quais as necessidades que a empresa busca atender, ou seja, o que se propõe a fazer. Os princípios são linhas mestras que indicam a conduta da empresa considerando o que é ético em seu negócio definindo decisões e orientando comportamento. ● NEGÓCIO O primeiro passo é compreender o negócio da empresa, baseado no conjunto de suas filosofias que orienta todo o processo do planejamento estratégico. Como foi exposto anteriormente, o negócio é o principal benefício esperado pelo cliente. Ao comprar um produto, o cliente percebe algum valor que considera como benefício e justifica sua aquisição. Com certeza, você deve ter imaginado que a NIKE vende tênis. Pois bem, a NIKE não vende calçados esportivos e sim a NIKE vende “ATITUDE”. Isso mesmo, a ideia que a NIKE vende é de atitude como forma de lazer, moda e principalmente “status”. A produção de calçados é 100% terceirizada e seu foco é em desenvolvimento e marketing e com isso lança diariamente dois modelos de tênis. (VANSCONCELOS FILHO; PAGNONCELLI, 2001). IMPORTANT E IMPORTANT E Pense rápido! O que a empresa NIKE vende? A empresa Chocolates Copenhagen está em que negócio? De chocolates? UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 114 Se pensou dessa forma, ela seria uma excelente concorrente das empresas de chocolate Nestlé, Garoto ou Lacta. Na realidade a Chocolates Copenhagen está no negócio de “PRESENTES”. Surpreso! Com essa visão de negócio ela pode praticar preços superiores e vende chocolates com belas embalagens em locais estratégicos como shoppings. (VANSCONCELOS FILHO; PAGNONCELLI, 2001). Por incrível que pareça todas essas maravilhas foram inventadas pela empresa “XEROX”. Isso mesmo! Mas tal façanha somente foi possível de acontecer porque a XEROX não teve MIOPIA ESTRATÉGICA, pois, mesmo sendo uma referência em fotocopiadoras, a visão estratégica de seus executivos a definiram como uma empresa no negócio de “AUTOMAÇÃO DE ESCRITÓRIOS”. (VANSCONCELOS FILHO; PAGNONCELLI, 2001). Se uma seguradora pensar que estrategicamente está no negócio de “Vender Seguro” com certeza não conhece seus inimigos e nem a si mesma e sucumbirá. O negócio de uma seguradora é vender TRANQUILIDADE! Esse é o principal benefício esperado pelo cliente ao contratar uma apólice de seguro, ou seja, quer ter a garantia de que contratou uma solução para um eventual sinistro e que não precisará se preocupar com nada. (VANSCONCELOS FILHO; PAGNONCELLI, 2001). FIGURA 24 – COMPARATIVO ENTRE NEGÓCIO MÍOPE E NEGÓCIO ESTRATÉGICO Empresa Negócio Miope Negócio Estratégico NIKE Tênis Atitude FEDEX Encomendas Paz de espirito Mont Blanc Canetas A arte de escrever BMW Automóveis Prazer em dirigir Harley-Davidson Motocicleta Estilo de vida Xerox Copiadora Digitalização de documentos Kopenhagen Chocolate Presentes Balas Peccin Balas Doce prazer Danone Iogurte Saúde Amil Assistência médica Saúde Biobras Insulina Saúde GNC Vitaminas Saúde Revlon Cosméticos Beleza C&A Roupas Moda IMPORTANT E Agora responda quem inventou o fax, o computador pessoal, o menu, o ícone, o mouse? TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 115 FONTE: Vasconcelos Filho; Pagnoncelli (2001, p. 58) Arezzo Sapatos Modas Micheletto Parafusos Solução em fixação Revista Exame Negócios Ideias Editora Campus Publicações Informação Arroz Tio João Arroz Soluções em alimentos A definição do negócio segregada do produto é fundamental para o sucesso da empresa e a controladoria deve orientar os executivos durante o processo de elaboração do planejamento estratégico para que miopias estratégicas não interfiram na definição do negócio. ● MISSÃO Oliveira, Perez Jr. e Silva (2002, p. 41) explicam que: Determinar a missão de uma entidade é a primeira e talvez mais crítica etapa da elaboração do Planejamento Estratégico, uma vez que ela atua como referência na orientação de todo o processo de planejamento empresarial e decisório em seu sentido mais amplo. A missão escrita deve proporcionar uma visão explícita da natureza do negócio da empresa e de seu âmbito e forma de atuação. A missão é o principal e duradouro objetivo da empresa que orienta o comportamento da empresa direcionando para o cumprimento dos objetivos individuais de cada processo ou atividade. Desta forma, questiona-se ser estratégico que todos conheçam a missão da empresa? Essa com certeza é a etapa mais importante do planejamento, pois ao tomar ciência da missão da empresa todas as ações são direcionadas com o propósito de chegar ao objetivo. Para compreender o que de fato é a missão, imagine que Jesus Cristo veio ao mundo com um objetivo! Qual seria? Ele veio com a missão de “Salvar a Humanidade”. Você se lembra daquela nave Enterprise, do seriado Jornada nas Estrelas, cuja missão era explorar o desconhecido, novos mundos e formas de vida e novas civilizações, indo aonde o homem jamais foi. Imagine a missão da empresa Disney, “Alegrar as pessoas”, neste sentido, os funcionários são tratados e de fato se sentem como parte de um elenco e os clientes como plateia. (VANSCONCELOS FILHO; PAGNONCELLI, 2001). Perceba que a missão da empresa deve ser a “razão de sua existência” ou como muitos dizem a carteira de identidade. Mas para que haja sinergia para com toda a empresa é necessário explicitá-la para que uma consciência coletiva, leve ao mesmo caminho. Neste contexto, a missão deve assegurar a um propósito único para a organização, estabelecendo uma orientação geral, conduzindo as ações UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 116 individuais e coletivas quando deixa claro que se trata da razão de sua existência em seu negócio. À controladoria cabe definir qual o propósito da organização para ajudar na elaboração da missão, logo deve responder a algumas questões, entre outras: (I) Qual é o nosso negócio? (II) Quem é o cliente? (III) O que os clientes valorizam? (IV) Como nosso negócio deve evoluir? Desta forma, a controladoria deve orientar os executivos quando da elaboração da missão com a qual deve sempre estar direcionada ao mercado e nunca aos produtos, pois produtos tornam-se obsoletos e desnecessários aos clientes ao longo do tempo. ● VISÃO Nesta etapa, seguindo suas filosofias e sua missão, a empresa prepara- se para fazer um diagnóstico, que indica um futuro desejável em que deseja ser vista ou reconhecida. Esta representação alimenta o desejo de um sonho que se tornará realidade no futuro que chamamos de “VISÃO”, cuja finalidade é orientar os esforços individuais e coletivos para atingir o que se espera em termos de reconhecimento em um determinado período de tempo. A VISÃO representa em termos reais o que a organização quer ser e para isto cria uma espécie de modelo mental que descreve o que e como a organização quer realizar de forma clara e objetiva em determinado período de sua existência. Baseia-se em um desafio estratégico, nas observações e desejo mentais de seus idealizadores com espírito empreendedor e visionário que tem característica de perdurar indefinidamente. Veja que a percepção visionária do fundador Walt Disney definiu a Visão de seu empreendimento dizendo que seu sonho era “Criar um mundo onde todos possam se sentir crianças”. No caso da 3M em que sua missão foi definida como “Ser reconhecida como a empresa mais criativa do mundo.” Criou uma sinergia positiva para o surgimentode novas ideias. O resultado foi que a 3M atua em 200 países e que ¼ da população do mundo tem algum contato com pelo menos um dos seus mais de 70 mil itens de produto, com uma equipe de mais de 75.000 funcionários, sendo que destes 6.000 são pesquisadores. Como senão bastasse seu espírito de inovação, consegue lançar no mercado 50 novos produtos por mês. Seu maior reflexo vem no crescimento sustentável na capacidade de renovação de seus produtos, sendo que 30% do seu faturamento provém de produtos com menos de 4 anos e 10% com menos de um ano. (VANSCONCELOS FILHO; PAGNONCELLI, 2001). Apesar de a visão indicar o seu desejo em termos de futuro, esta inclui elaboração de cenários para ações presentes, contudo não pode ser confundida com a missão, conforme se resume a seguir. TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 117 QUADRO 3 – DIFERENÇAS ENTRE MISSÃO E VISÃO MISSÃO VISÃO Inclui o negócio. É o que se sonha no negócio. Indica a partida. Indica onde queremos chegar. Identifica quem somos. Projeta quem desejamos ser. Direciona a empresa. Cria sinergias na empresa. Orientadora. Inspiradora. Foco do presente para o futuro. Focalizado no futuro. FONTE: Adaptado de: Vasconcelos Filho; Pagnoncelli (2001, p. 225) Conforme se observa no quadro anterior, a missão relaciona-se muito mais com o contexto de compreensão da empresa no momento atual (o que eu sou, o que eu quero e como me oriento), enquanto a visão se relaciona muito mais com a empresa no momento futuro (quem eu serei, onde e como quero chegar). ● ANÁLISE DO AMBIENTE Partindo do princípio estudado sobre o sistema empresa, a análise do ambiente pode ser entendida como um conjunto de públicos relevantes que formam uma grande rede de entidades interligadas cada qual com seu objetivo determinado afetando a empresa em seus aspectos de planejamento e controle de suas operações, conforme podemos visualizar na figura a seguir. FIGUIRA 25 – PÚBLICOS RELEVANTES DA EMPRESA FONTE: Vasconcelos Filho; Pagnoncelli (2001, p. 201) Para que a empresa consiga elaborar seus produtos e serviços, utilizam- se recursos humanos, fiscos e financeiros que podem ser os colaboradores que trabalham na produção, comercialização ou administração, fornecedores da matéria-prima, financiadores e investidores, entre outros. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 118 Conforme Nascimento e Reginato (2006, p. 130), “o objetivo de uma organização é estruturar suas transações com o ambiente para proteger e, se possível, ampliar seu domínio, de forma a aumentar sua capacidade de geração de valor para seus clientes, acionistas, cotista, empregados e para a sociedade na qual ela atua”. Desta forma, toda empresa tem seu crescimento com criação de valor agregado, sempre quando estabelece uma relação estruturada das suas transações com outras entidades, para obter vantagens e máximo de recursos possíveis para suprir as necessidades de seus públicos relevantes. Uma das etapas do planejamento estratégico é analisar o ambiente através da utilização de métodos que permitam identificar e monitorar todas as variáveis ambientais que podem influenciar no desempenho da organização. O ambiente pode ser definido como ambiente interno e ambiente externo que possibilita identificar as oportunidades e ameaças, forças e fraquezas. A seguir demonstra-se no quadro a decomposição estrutural dos fatores internos e externos e seus significados. QUADRO 4 – CLASSIFICAÇÃO DOS FATORES INTERNOS E EXTERNOS FATORES INTERNOS Pontos fortes ou forças Vantagens internas materializadas por características ou qualidades da organização em relação aos objetivos. Pontos fracos ou fraquezas Desvantagens internas mater ia l izadas por características ou qualidades da organização em relação aos objetivos. FATORES EXTERNOS Oportunidades Situações externas do ambiente com aspectos potencialmente positivos que envolvem a organização que possa trazer benefício atual ou futuro. Ameaças Situações externas do ambiente com aspectos potencialmente negativos que envolvem a organização que possa trazer incerteza atual ou futura. FONTE: Adaptado de: Vasconcelos Filho; Pagnoncelli (2001, p. 210) IMPORTANT E Você deve ter muita atenção quando realizar a análise ambiental da empresa, pois as oportunidades e ameaças, forças e fraquezas influenciam diretamente no cumprimento da missão. TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 119 Acadêmico(a)! É importante compreender que forças pressionam o ambiente e obrigam as empresas a mudarem sua forma de operar, agir, decidir e, muitas vezes, elas não conseguem influenciar. Em algumas delas é possível influenciar o ambiente em outras independem da empresa e as pressões forçam sua mudança, pois não há controle sobre essas variáveis. O ambiente externo à empresa se subdivide, segundo Catelli (2001), denominando de ambiente próximo e ambiente remoto. Contudo, Nascimento e Reginato (2006) os denominam de ambiente específico e ambiente geral. Em relação ao ambiente remoto ou geral, essas forças representam variáveis ambientais que podem ser de diversas naturezas, como por exemplo: (I) econômica, (II) social, (III) política, (IV) legal e (V) tecnológica, entre outras. A variável econômica: as condições econômicas que cercam as organizações melhoram e declinam à medida que elas reagem às situações que lhes afetam. Entre os fatores que compõem, estão: crescimento do produto interno bruto; taxa de inflação; distribuição de renda; taxa interna de juros; taxa de desemprego; política cambial; balança de pagamentos etc. A variável social: no campo social do ambiente, encontram-se as variáveis relacionadas à população. A maioria delas pode ser medida diretamente através de um recenseamento. Há, contudo, limites para o nível de informações que este procedimento deve proporcionar. Alguns comportamentos da população são mais difíceis de serem previstos, requerendo-se inferências para suas previsões, como, por exemplo, mudanças de hábitos e preferências. Os principais exemplos dessas variáveis ambientais são: mercado de trabalho; mudanças culturais; educação; expectativa de vida; forças demográficas etc. A variável política: as condições políticas ambientais representam as atitudes do poder público frente aos vários segmentos econômicos e às condições políticas gerais do país. As principais variáveis são: regime de governo; planos e objetivo de governo; política energética; prioridades governamentais; política externa etc. A variável legal: esse componente ambiental consiste na legislação aprovada. Ele descreve regras ou leis que todos os membros devem seguir. Assim, as organizações precisam conviver com leis federais, estaduais ou municipais, que estabelecem várias condições para suas operações. A variável tecnológica: o componente tecnológico do ambiente inclui novas abordagens à produção de bens e serviços e novas tecnologias envolvendo a administração e o processamento de informações. A perspectiva de uma contínua e rápida mudança tecnológica oferece grandes oportunidades, ao mesmo tempo em que pode ameaçar o negócio, pois uma tecnologia nova desencadeia forças que, por sua vez, provocam mudanças nos valores das pessoas. (NASCIMENTO e REGINATO, 2006, p. 131 e 132). Referente ao ambiente próximo ou específico tem os componentes como fornecedores, clientes, competidores e reguladores e são importante em termos de gestão operacional (utilização de recursos), uma vez que pela sua proximidade e relacionamento direto com a empresa, são forças que podem influenciar e ser influenciado afetando os resultados da empresa. Fornecedores: como fornecedores dos insumos de produção, as empresas podem exercer pressões pela escassez que muitas matérias-primas apresentam. Quando existe um grau de dependência excessiva dosfornecedores de insumos, dos quais a empresa depende para sua sobrevivência, independente do relacionamento existirá pouca ou nenhuma influência nesse ambiente. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 120 Clientes: os clientes consomem os produtos que são elaborados e as pressões exercidas são as mais preocupantes. As influências exercidas dependem do relacionamento com a empresa e as principais causas podem ser a concentração ou domínio do cliente na composição da carteira de clientes que podem influenciar negociações de preços e prazos, substituição de produtos similares etc. Competidores: a empresa deve estar atenta à influência à alta competição em seu mercado e manter estratégias que a mantenha sempre um passo à frente de seu concorrente. Reguladores: a empresa pode ser influenciada com maior ou menor intensidade dependendo do tipo de sua atuação, cujo aspecto regulatório pode ser mais específico como é o caso do setor de alimentícios, medicamentos, entre outros. Para que a controladoria consiga orientar adequadamente os executivos em relação ao processo de planejamento estratégico, sugerem-se algumas etapas a serem seguidas. 1ª etapa: definir a abrangência do ambiente a ser analisado. Definir os limites da empresa onde deve atuar considerando inicialmente a identificação do seu negócio, da sua missão e das filosofias (crenças, valores, princípios e propósitos). Caro(a) acadêmico(a)! Imagine que você está em um quarto de um hotel e fixando seu olhar para uma janela à sua frente, você pode ver uma linda paisagem, contudo, devido à janela o seu campo de visão é limitado por ela. Se você olha para a janela usando um binóculo, conseguirá enxergar muito mais além, porém mesmo assim ainda dentro da limitação imposta pela janela. O que queremos dizer com isto? Esta analogia foi feita para explicar que o seu campo de visão é o negócio, pois existe um limite de fronteiras à sua volta imposto pela janela. Com o binóculo foi possível enxergar mais adiante em seu horizonte, porém dentro dos limites imposto pela janela, e este foco direcionado para o horizonte trata-se da missão e das filosofias. 2a etapa: nesta etapa compete definir o ponto pretendido no horizonte que se pretende alcançar ao analisar o ambiente. Como na analogia apresentada na etapa anterior, ao regular o binóculo, você pode definir o alcance que deseja IMPORTANT E O negócio impõe limites moldurando e delimitando o ambiente, enquanto a missão e as filosofias orientam a análise do ambiente. TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 121 enxergar no horizonte, e que deseja enxergar, e a este horizonte denominamos de limite de tempo do planejamento estratégico. Para fixar seu horizonte é necessário refletir e responder sobre algumas questões como, por exemplo: Quem é mesmo nosso cliente? Quais são nossos concorrentes? Quais são nossos públicos relevantes? Como funciona a cadeia de agregação de valor? Quais são as nossas competências competitivas? Quem poderia ser a concorrente de uma grande e conhecida empresa de esponjas de aço? Quando o mercado inovou com as panelas de teflon, essa empresa começou a concorrência das próprias panelas, pois as esponjas sintéticas começaram a tomar conta do mercado por conta destas panelas. Logicamente, que também existem outras concorrentes como, por exemplo, as máquinas de lavar. Outra curiosidade seria imaginar quem poderia ser a concorrente de uma grande empresa de Fast Food? Se analisarmos estrategicamente, poderíamos concluir que um concorrente a eliminar seria o pipoqueiro que vende sua guloseima próxima à loja. Mas por quê? Você já imaginou que este pipoqueiro está disputando com você o estômago do seu cliente? Um concorrente pode ser qualquer entidade (física ou jurídica) que seu cliente possa comparar com a sua empresa. Estrategicamente, quem conseguir liderar a cadeia de valor terá condições de impor o direcionamento mais adequado. Para isto é preciso ter a correta percepção do seu posicionamento na cadeia de valor e responder a algumas questões como: Podemos e devemos mudar? Ou devemos sair? Com o avanço da internet, cada vez mais acessível a um número maior de pessoas e com maior qualidade na velocidade de transmissão de dados e voz, percebe-se que as pessoas têm preferido assistir a filmes ou vídeos diretamente pela internet em vez de alugar nas locadoras ou ir ao cinema. Perceba que nos tempos atuais ser ou ter uma videolocadora tornou seu posicionamento muito questionável, pois possivelmente não conseguirá se manter na sua cadeia de valor. Quando uma empresa nasce, ela ganha a personalidade e principais características de seu fundador que se materializa através das filosofias que a empresa absorve. Contudo, o sucesso de seu empreendimento deu certo porque ele era muito bom em algo, mas quando a empresa começa a crescer ele precisa atribuir responsabilidades, pois mais hábil que possa ser sua forma de empreender, jamais ele poderá ser bom em tudo. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 122 Competência competitiva é identificada quando existe uma habilidade que seja determinante em seu negócio ou uma qualidade percebida pelo seu cliente que o atraia e o torne fiel à sua empresa. Você pode imaginar a competência competitiva da Fedex? A Fedex, através de sua principal competência a “LOGÍSTICA”, consegue fidelizar clientes em todo o mundo, criando um benefício que agrega valor para seu cliente, o da entrega certa e no momento certo. Veja a figura a seguir e compare as especialidades de cada atleta. FIGURA 26 – DIFERENCIAL COMPETITIVO DE CADA ATLETA FONTE: Vasconcelos Filho; Pagnoncelli (2001, p. 205) Neste exemplo, perceba que cada jogador de futebol teve seu momento de sucesso ao longo de suas carreiras, contudo, cada um tinha características que os diferenciavam em suas habilidades. Numa empresa não pode ser diferente, existe uma qualidade ou habilidade que se sobressai e, muitas vezes, está adormecida, imperceptível ao olhar de seus gestores. Quando se identificam várias habilidades pode ser um problema, pois ainda não se descobriu sua verdadeira competência. 3a etapa: identificar qual cenário de referência. IMPORTANT E Lembre-se de que ninguém pode ser competente em tudo! Existe algo que se destaca. A controladoria deve perceber quais são as competências competitivas da empresa. TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 123 FIGURA 27 – MATRIZ SWOT (FOFA) FONTE: Disponível em: <http://www.administradores.com.br>. Acesso em: 10 nov. 2011. Uma análise do ambiente requer estabelecer simulações de possíveis cenários e selecionar o mais adequado para se tornar referência no planejamento estratégico da empresa. Neste contexto, é possível observar as principais tendências que poderão ocorrer com seus públicos relevantes como clientes, fornecedores etc., baseados em fatores como a globalização da concorrência, mídias digitais, valor do capital intelectual, qualidade de vida, padronização e inovação tecnológica, entre outras. Alguns modelos surgiram para contribuir com o mapeamento do ambiente externo da empresa, como, por exemplo, as cinco forças competitivas desenvolvidas por Michel Porter (1993). O modelo mais conhecido e normalmente utilizado é a analise de SWOT conforme se representa a seguir. A análise SWOT é uma ferramenta que, segundo Nascimento e Reginato (2009, p. 144), é: [...] conhecido no meio profissional e acadêmico brasileiro como a forma e análise usada para o mapeamento das condições ambientais externas, no que se refere à identificação de potenciais ameaças e oportunidades, e para a avaliação do ambiente interno da organização, onde se buscam identificar os pontos fortes e fracos, sendo o produto dessas análises a base para que a empresa avalie e escolha a estratégia mais compatívelcom as condições observadas. A palavra de origem inglesa (SWOT) tem em seu significado na tradução como Streghts (forças), Weaknesses (fraquezas), Opportunities (oportunidades) UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 124 e Threats (ameaças). Como se pode observar na figura, o modelo baseia-se no mapeamento do ambiente externo e interno da organização. Para explicar melhor o que o UNI quis dizer vamos ver um exemplo de como isso pode acontecer! Uma empresa de desenvolvimento de software está planejando adentrar no mercado de gestão pública e possui uma tecnologia de desenvolvimento em plataforma Dot.net e Java. A empresa ao mapear o ambiente e identificar uma grande tendência para o uso do software livre Linux e como não há custos de aquisição de licenças de uso, o software de gestão tende a custar muito menos em relação aos softwares com outras plataformas de desenvolvimento. Desta forma, a empresa percebeu que se trata de uma potencial ameaça que pode inviabilizar a estratégia de entrar no mercado de gestão pública, contudo, sob outra ótica, começa a perceber que pode ter uma grande oportunidade ao desenvolver nesta plataforma e assim ganhar o mercado com maior facilidade em relação aos seus concorrentes. Depois de efetuado o levantamento do ambiente, com a identificação das ameaças e oportunidades, forças e fraquezas será possível então definir os objetivos e as estratégias da empresa. ● OBJETIVOS Para tornar realidade sua visão, cumprindo a missão organizacional no ambiente em que está inserida, uma empresa precisa ter algo que seja motivador e desafiador ao mesmo tempo, estamos falando de objetivos. Objetivos podem ser entendidos como a eficácia atingida pela empresa, em um prazo determinado, que lhe possibilite perseguir e tornar realidade a sua visão. “O planejamento estratégico emerge de um processo de tradução das informações existentes em planos para atender as metas e objetivos organizacionais”. (PADOVEZE, 2003, p. 97). Uma definição de objetivos torna-se clara às ações que a empresa busca atingir em termos de resultados e orientam o processo decisório. As pessoas da organização são desafiadas e motivadas a atingir os resultados, dando um sentido explicativo e explícito para o que fazem e o que a empresa espera deles. DICAS Caro(a) acadêmico(a)! É importante comentar que é muito provável acontecer durante o mapeamento do ambiente, de que ao identificar uma ameaça, esta poderá ser também identificada como uma oportunidade e assim como, ao identificar uma oportunidade, poderá, sob determinado ponto de vista, se transformar em ameaça. TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 125 Para que se defina adequadamente um objetivo existem algumas características que devem ser percebidas: ● Ser desafiadora e ao mesmo tempo viável: todo objetivo deve ser instigado, torná- lo algo que o torne sempre desafiador, porém quando se sabe que não é possível cumpri-lo as pessoas se desmotivam desde o início. Muitas vezes, a empresa confunde falta de comprometimento com objetivos inatingíveis, e se esquecem de que seres humanos precisam de motivação para atingir seus objetivos. ● Sempre deve ter um prazo definido: a definição de um objetivo pressupõe que para atingir sua eficácia se tenha um prazo determinado, ou seja, deverá ter um fim ao que se propôs. ● Precisa ser mensurável: mensurar não se trata de um objetivo. Uma vez que um objetivo tem um prazo determinado, sabe-se que é necessário mensurar para identificar a eficácia do objetivo naquele prazo determinado. ● Precisa ser coerente entre si: um objetivo precisa ser coerente com o fim a que foi proposto, ou seja, deve existir um sentido, que explique sua relação entre a situação atual e a situação desejada. Resumindo, caro(a) acadêmico(a), um objetivo antes de qualquer coisa precisa ser tão impactante de forma a ser desafiador, porém não tão desafiador que o torne inviável de atingi-lo, portanto, deve consistir de prazos possíveis, medir a sua eficácia e ter coerência com o que se propõe atingir. Todos esses elementos caracterizam os objetivos, porém o grande desafio é fazer com que a organização tenha a motivação para atingi-los. DICAS Durante a elaboração do planejamento estratégico, normalmente existe uma tendência das pessoas envolvidas em criar muitos objetivos, pois ao vislumbrar a possibilidade de controle, sente num primeiro momento a necessidade de controlar tudo. Porém, lembre-se de que quando participar da elaboração dos objetivos da empresa, que quando se tem CEM objetivos (com “C”) ficamos SEM objetivos (com “S”). UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 126 Apresentam-se as etapas para elaboração dos objetivos estratégicos sugeridas por Vasconcelos Filho e Pagnoncelli (2001): 1ª etapa – definição do horizonte dos objetivos. Lembre que análise do ambiente, de forma lúdica comparou a vista da janela como sendo o ambiente a ser explorado e com um binóculo definimos o alcance, ou seja, o horizonte de análise, portanto foi neste horizonte que os objetivos devem ser inseridos, não necessariamente no mesmo tempo e espaço. 2ª etapa – escolhas dos temas. Os objetivos devem ser específicos e para auxiliar neste processo é necessário estabelecer temas importantes que estejam relacionados com a empresa, e criar objetivos específicos. Algumas sugestões de temas como crescimento, produtividade, inovação, qualidade, participação de mercado, criatividade, resultado econômico e financeiro, entre outros, não indicam que há um padrão na definição dos objetivos, cada uma deve identificar e planejar aqueles que tenham mais relevância no seu negócio. Se analisarmos, por exemplo, um supermercado, talvez alguns temas importantes poderiam ter crescimento e resultado econômico-financeiro, agora, se pensarmos em uma empresa automobilística talvez alguns temas importantes que entrariam na pauta seriam a participação de mercado, solidez, inovação, produtividade, entre outras. 3ª etapa – definição dos indicadores de desempenho. Depois de selecionar os temas dos objetivos, com base nestes, é possível determinar os indicadores de desempenho que serão utilizados para avaliar o atingimento dos objetivos. Por exemplo, poderíamos ter como objetivo crescimento, participação de mercado, qualidade, inovação, resultado econômico- financeiro, entre outros. Vamos a alguns exemplos: QUADRO 5 – SUGESTÃO DE INDICADORES DE DESEMPENHO POR TEMA DE OBJETIVO ES- TRATÉGICO Tema (Objetivo) Indicador – Como poderá ser medido? Crescimento Faturamento em R$ ou unidades produzidas. Participação de mercado Faturamento da empresa em relação ao faturamento do setor. Qualidade Níveis de satisfação da equipe, do cliente, por certificação ISO ou premiações de qualidade. Inovação % do faturamento aplicado em P&D; quantidade de novos produtos/ano; novas patentes/ano etc. TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 127 Resultado Econômico- Financeiro Lucro líquido/Receita líquida. Lucro líquido/Patrimônio líquido. Receita líquida/Patrimônio líquido. Geração de caixa – folga de caixa. EVA etc. FONTE: Adaptado de: Vasconcelos Filho; Pagnoncelli (2001, p. 268-283) Os indicadores utilizados neste quadro são apenas sugestões e muitos outros poderiam ser facilmente incluídos e dependo do negócio, seriam muito mais relevantes que estes aqui enumerados. Contudo, o importante é que ao definir os temas dos objetivos, deve-se sempre pensar em temas relevantes e se concentrar nos principais, visto que em várias frentes você estará implicando maiores esforços (recursos materiais e humanos) para atingi-los. Por outro lado, pense na integração entre os objetivos, imaginando que um complementa o outro na busca do maior. Não adianta a empresa crescer em faturamento, se não houver crescimento sustentadocom um adequado fluxo de caixa, níveis de qualidade e produtividade que suportem a demanda. 4ª etapa – preenchimento do painel de controle de objetivos. Uma organização visual consolidando as informações dos objetivos para acompanhamento e controle identificando os temas, os indicadores de desempenho dentro do horizonte em que foram definidos é uma boa sugestão. DICAS Você lembra o estudo na Unidade 1 referente à teoria de sistemas? Pois bem, lembre-se de que o conhecimento da visão sistêmica será um instrumento útil para o controller em todo o desempenho de suas funções. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 128 FONTE: Adaptado de: Vasconcelos Filho; Pagnoncelli (2001, p. 274) Esta última etapa refere-se à organização dos objetivos, ordenando-os por tema e estes por vez por indicadores de desempenho em que são dispostas as metas que devem ser alcançadas ao longo do horizonte do planejamento estratégico, considerando como referência o ano-base que indica o ponto de partida. ● ESTRATÉGIAS No nosso dia a dia sempre nos deparamos com situações que nos inspiram adotar alguma estratégia para superar algo ou levar vantagem em relação a alguém. Quando se fala em “levar vantagem” não se coloca no sentido pejorativo de causar prejuízo ou algo imoral, mas sim no sentido percepção de tomar uma ação proativa que o leve a superar determinada situação desfavorável. Para deixar clara esta situação, imagine uma situação rotineira em que você esteja dirigindo seu carro a caminho do trabalho, porém em determinada altura, ocorre um acidente e a estrada está interrompida por este motivo. Como você sabe que existem caminhos alternativos para chegar ao mesmo objetivo (seu local de trabalho), você elabora uma estratégia de mudança de percurso, a ação de redirecionamento o levará ao seu destino. Conforme a enciclopédia Wikipédia, a palavra estratégia vem do grego antigo stratègós que teve origem na junção das palavras stratos que significa “exército” e ago, que significa “liderança” ou “comando” assim ficando conhecida como “a arte do general”, visto que durante as guerras, os generais definiam a melhor formação das suas tropas militares para enfrentar seus inimigos. FIGURA 28 – MODELO DE CONTROLE DO PAINEL DOS OBJETIVOS PAINEL DE CONTROLE DOS OBJETIVOS Temas Indicadores deDesempenho Atual Resultados Planejados Ano Base 1º. Ano 2º. Ano ......... 10º. Ano Crescimento Faturamento Participação de mercado Faturamento / Faturamento do setor Produtivi- dade Faturamento / Funcionário Qualidade Satisfação do cliente interno Satisfação do cliente externo Inovação % Faturamento em P&D Resultado Econômico- -Financeiro LL/PL LL/RL EVA MVA ROI TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 129 Durante os séculos, essa tinha a função da estratégia, contudo, com a globalização da economia, o aumento acirrado da competitividade entre as empresas, que queriam ampliar seus domínios e transformou o ambiente empresarial numa verdadeira “guerra” pelo cliente. A partir daí o termo estratégia passou a ser assunto no mundo empresarial. A estratégia corporativa pode ser definida como “caminhos escolhidos para posicionar e reposicionar a empresa em seu ambiente”, (NASCIMENTO; REGINATO, 2006, p. 136), cujo conceito espelha muito bem que uma empresa com estratégia possui capacidade para perceber e adequar-se às mudanças de seu ambiente para garantir sua sobrevivência em longo prazo e cumprimento de sua missão. Atualmente, qualquer empresa, independente de seu porte necessita de uma estratégia para sobreviver nesta guerra comercial, pois o único modo de conseguir a sua sobrevivência é ser diferente se seu concorrente, ou seja, deve ter uma estratégia que o leve a ter um diferencial competitivo denominado de vantagem competitiva, assim seu cliente percebe um valor (vantagem) ao comprar o produto da empresa. A estratégia competitiva das empresas, segundo Padoveze (2003, p. 93), pode ser definida como “[...] cursos de ação específicos que são desenvolvidos para criar vantagens competitivas sustentáveis e produtos particulares ou mercados identificados [...]” e ainda afirma que as estratégias devem estar relacionadas em nível estratégico, ou seja, envolvido no processo do planejamento estratégico da empresa, pois “[...] elas se relacionam com as ações a respeito de produtos e mercados, que devem ser implementadas para encontrar os objetivos mais específicos (isto é, no menor nível) da organização”. Mas como uma empresa consegue ter vantagem competitiva? A esse respeito Padoveze (2003, p. 93) relata que “A vantagem competitiva é distinta e idealmente sustentável sobre os competidores ou concorrentes. É mais do que uma ideia de uma estratégia competitiva, que pode ou não ser distintamente comprovada”. Porter (1993) afirma que existem cinco forças competitivas nos negócios que determinam a lucratividade das empresas em longo prazo, conforme se demonstra na figura a seguir. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 130 Estas cinco forças são responsáveis pela determinação da vantagem competitiva. A ameaça de novos produtos ou serviços semelhantes pode influenciar a queda dos preços em relação ao apetite de risco, o poder de barganha dos compradores pode determinar a redução dos preços, o poder de barganha dos fornecedores pode aumentar os custos dos insumos de produção, a ameaça de novas empresas pode ocorrer em virtude da percepção de ganhos superiores às expectativas no mercado e por fim a própria concorrência que influencia a queda dos preços e os investimentos de novos produtos. (FERNANDES, 2010, p. 116). Porter (1993) afirma que existem basicamente dois tipos de estratégias competitivas e conduz a estratégias genéricas. FIGURA 29 – AS CINCO FORÇAS COMPETITIVAS QUE DETERMINAM A COMPETIÇÃO NA INDÚSTRIA FONTE: Adaptado de: Porter (1993) TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 131 FIGURA 30 – ESTRATÉGIAS GENÉRICAS FONTE: Adaptado de: Porter (1993) O tipo de estratégia que é adotado pela empresa na figura demonstrada, tem características conforme o quadro a seguir. QUADRO 6 – AS ESTRATÉGIAS GENÉRICAS CONCEITUADAS Liderança em custos Os esforços são direcionados para um baixo custo em relação à concorrência. A sua liderança em custo é medida pela sua habilidade em determinar os preços do mercado e relativamente obter maiores retornos pelo volume de produtos vendidos. Hansen e Mowen (2001) relatam que o objetivo é proporcionar ao cliente um benefício igual ou maior com um custo menor que o de seus concorrentes. Em relação ao menor custo Porter (1993) explica que uma empresa ao produzir um produto similar ao seu concorrente deverá ter processos de desenvolvimento, produção e comercialização muito mais eficientes que lhe proporcione dispor ao cliente seu produto a um preço menor. Diferenciação Os esforços são direcionados para a criação de algum valor que seja percebido pelo cliente como algo único e que esteja disposto a pagar pelo valor em virtude do seu custo de aquisição satisfazer suas necessidades. A esse respeito Porter (1993) define que diferenciação é a capacidade de proporcionar ao comprador um valor excepcional e superior, em termos de qualidade de produto, características especiais ou serviços de assistência. Hansen e Mowen (2001) afirmam que a adoção dessa estratégia visa criar para o cliente um beneficio que seja perceptível em aumento de valor (realização) por ele recebido e que seus concorrentes não oferecem da mesma forma. Enfoque Uma estratégia com enfoque em custos ou com enfoque na diferenciação implica que a empresa está observando as ameaças e oportunidades do mercado e sua estratégia será direcionada conforme a estratégia mais adequada, que na visão de Hansen e Mowen (2001) envolveuma definição focada em cliente ou segmento de um mercado em que se deseja competir. FONTE: O autor UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 132 Desta forma, para que a empresa consiga sobreviver no seu ambiente, será preciso desenvolver estratégias competitivas que o conduzam a decidir o que fazer ou não, em que prioridade para atingir os objetivos que levam a concretizar a visão, respeitando seus princípios e cumprir sua missão. ● PLANO DE AÇÃO E METAS Como foi visto, o detalhamento dos objetivos estratégicos passou pela definição das estratégias adotadas para cada objetivo e nesta última etapa deverão ser detalhadas as ações que devem ser realizadas para cada estratégia, atribuindo metas, ou seja, prazos de conclusão das ações para em tempo, conseguir atingir o objetivo previsto. Desta forma, o plano de ação é a etapa mais importante do planejamento estratégico, pois consiste na materialização da estratégia, ou seja, torna real a intenção ou desejo de fazer com o fazer (de fato acontecer) contemplando os resultados da ação. Para uma adequada organização das ações, recomenda-se que se criem planos de ação para cada objetivo estratégico e sejam definidos em algumas etapas, conforme Vasconcelos Filho e Pagnoncelli (2001): 1º PASSO – criação das forças-tarefas (FT) dos objetivos. Para o êxito das atividades, a criação de uma força-tarefa (FT) é preponderante, atribuindo a esta a responsabilidade pela elaboração e implantação do plano de ação definida para o objetivo. 2º PASSO – elaboração do cronograma do processo. Importante a definição de todas as atividades que estejam relacionadas com o planejamento estratégico sejam identificadas e programadas, como: formulação, aprovação e reuniões das forças tarefas para os planos de ação, reuniões mensais de acompanhamento, entre outras. 3º PASSO – formulação dos planos de ação. Nesta etapa é que o plano de ação começa a tomar consistência e o detalhamento da estratégia começa a ser delineado definindo: (I) resultados que são esperados, (II) quem serão os responsáveis, (III) quais os recursos adicionais são essenciais para realizar a ação e (V) qual o prazo para implantá-la. A seguir demonstra-se um exemplo de um formulário de plano de ação a ser desenvolvido. TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 133 FIGURA 31 – MODELO DE PLANO DE AÇÃO FONTE: Adaptado de: Vasconcelos Filho; Pagnoncelli (2001, p. 316-317) Observe na figura, que uma força tarefa (FT) deverá sempre ter um coordenador para mediar os trabalhos do grupo que no modelo está no campo correspondente a participantes e ainda neste contexto deve-se definir o responsável pela estratégia e por cada ação. Com relação aos resultados esperados devem compreender o que se espera que seja alcançado com esta ação, seria como se fosse o produto final entregue de uma atividade. Por exemplo, em um objetivo de crescimento cuja estratégia poderia ser “identificar potencialidade do mercado” e desta estratégia a ação de “contratar uma pesquisa de mercado” o resultado esperado seria “as informações sobre o mercado obtido”. Outro ponto importante é identificar os recursos necessários, que devem ser registrados, para a execução das ações e priorizá-las por ordem de impacto e identificar as formas de garantir os recursos necessários para a sua execução, pois a falta de comprometimento dos recursos pode inviabilizar o atingimento do objetivo estratégico. Após a aprovação formal pela diretoria de todo o plano estratégico da empresa caberá a divulgação por toda a empresa, criando a cultura em todos os níveis da organização em que assim o desejar. Há de se imaginar e atribuir os benefícios obtidos com a divulgação das estratégias da empresa em relação ao risco desta informação chegar ao conhecimento de seus concorrentes. A controladoria deve então, mediante o uso do sistema de informações, submeter à alta direção com as informações quantitativas e qualitativas necessárias relativas ao processo de planejamento estratégico, desde a fase de implantação, durante o desenvolvimento e após para o controle. Em assim sendo, para o controller é imprescindível sua participação em todas as etapas alinhada com o negócio e as estratégias para retroalimentar o sistema de informações. Depois de concluída a etapa do planejamento estratégico, demonstra-se a etapa do planejamento tático. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 134 5.2.1.3 Planejamento tático 5.2.1.4 Planejamento operacional O planejamento tático é desenvolvido com base no planejamento estratégico, mas com enfoque no curto prazo, cria planos de ação sobre determinado objetivo já citado no planejamento estratégico. Pode-se comparar como se dividíssemos o plano estratégico em partes menores e fôssemos desenhando as ações a ser tomadas dentro de pequenos espaços de tempo, por exemplo, um ano. Os planos táticos são subdivididos em números de planos operacionais que se fizer necessário para que tenha um controle administrativo adequado para estes planos, sendo, por exemplo, o planejamento tático de marketing pode subdividir-se em planejamento operacional de produtos, de distribuição e de promoção etc. (FERNANDES, 2010, p. 48). O resultado desta etapa dará subsídio para a elaboração da etapa do planejamento operacional. O planejamento operacional é o plano decorrente do planejamento tático e representa os resultados que são indicados como medidas para serem alcançadas, e devem responder perguntas como: • Quais os recursos necessários para o seu desenvolvimento e implantação? • Que procedimentos mínimos precisam ser adotados? • Quais serão os produtos ou resultados esperados? • Em que os resultados serão atingidos? • Quem serão os responsáveis pela execução e pela implantação? Esse nível de detalhamento tem como objetivo atribuir responsabilidades no plano operacional e assim garantir a eficácia dos planos táticos e estratégicos. FIGURA 32 – PLANEJAMENTO E CONTROLE FONTE: O autor TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 135 Na figura apresentada, observa-se que o planejamento operacional é responsável pelos componentes físicos enquanto o orçamento pelos componentes financeiros. O planejamento em todas as suas fases apresenta informações importantíssimas em termos físicos, e pode ser como o instrumento mestre de gestão de qualquer empresa, porém, estabelecer bases orçamentárias para um eficiente uso de recursos financeiros, demonstra claramente como, quanto e onde os recursos estão sendo eficazes no cumprimento dos objetivos estratégicos da empresa. Verifique que entre o planejamento e o controle o limite está entre o orçamento e a sua execução. Ao orçamento também denominamos de planejamento orçamentário ou planejamento financeiro. Desta forma, o orçamento em toda a sua amplitude pressupõe alguns procedimentos básicos em termos de gerenciamento dos recursos, como: • definir metas específicas; • executar os planos para atingir as metas; • comparar periodicamente os resultados com as metas estabelecidas; • tomar medidas corretivas em relação aos desvios das metas estabelecidas. Neste contexto, volta-se a discutir o processo de gestão nas fases de planejamento, execução e controle. Destas, somente a primeira “definir metas específicas”, pois as demais fazem parte das fases seguintes e nelas abordadas. Lunkes (2009, p. 14) define o orçamento como “O processo orçamentário envolve a elaboração de planos detalhados e objetivos de lucros, previsão das despesas dentro da estrutura dos planos e políticas existentes e fixação de padrões definidos de atuação para indivíduos com responsabilidade de supervisão”. O conjunto de todas as peças orçamentárias denomina-se de orçamento geral e seus detalhamentos, são importantes para as projeções das operações da empresa. UNIDADE 2 | CONTROLESINTERNOS 136 FIGURA 33 – FLUXO ORÇAMENTÁRIO FONTE: Adaptado de: Padoveze (2003, p. 204) TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 137 O orçamento geral divide-se em duas partes: o orçamento operacional e o orçamento financeiro. No orçamento operacional, consideram-se as peças orçamentárias referentes às operações da empresa propriamente ditas como: orçamento de vendas, orçamento de estoques, produção, compras, materiais, custo dos produtos vendidos e orçamento de despesas departamentais. No orçamento financeiro, consideram-se as peças orçamentárias referentes aos reflexos econômico-financeiros das atividades operacionais, de investimento e de financiamento nas operações que resultam em: orçamento de investimentos, despesas financeiras, receitas financeiras, financiamento e caixa. A consolidação dessas peças orçamentárias do orçamento operacional e orçamento financeiro resultam na projeção dos demonstrativos contábeis constituídos pela projeção da demonstração de resultados e projeção do balanço patrimonial. O subsistema orçamentário que compõe o sistema planejamento operacional possui um fluxo de orçamentação inter-relacionado e interligado com efeitos econômicos e financeiros durante todo o processo operacional da empresa que demandam níveis de investimentos e financiamentos resultantes destas operações. O ponto inicial do fluxo de orçamentação é o planejamento de vendas e há as seguintes formas: 1º Com base nas tendências do ambiente analisado durante o planejamento estratégico e utilizando técnicas de previsão qualitativas e quantitativas estimam- se as projeções unitárias de vendas que resultaram no orçamento de vendas. 2º Estimadas as previsões de vendas, busca-se estimar a produção necessária para suportar a demanda prevista, assim dá início à previsão de produção para, com base nos níveis mínimos de estoques iniciais e finais de período, estimar a produção desejada. 3º Identificada a produção desejada e sabendo que a capacidade de produção é adequada, há a identificação do consumo de materiais necessários para produzir a quantidade estimada e de acordo com os custos dos materiais há no orçamento de compras o orçamento previsto de gastos com fornecedores dos insumos necessários para a produção. 4º Ainda com base na previsão de produção pode-se projetar o orçamento da mão de obra direta baseado nos padrões de tempo e custo. 5º Os custos indiretos de produção também devem ser estimados fixando padrões e assim definir os valores de orçamento de custos indiretos de fabricação. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 138 6º O orçamento de despesas departamentais envolve os departamentos das áreas que envolvem as despesas de administração e despesas comerciais. 7º Conforme necessidades de investimento em capital de giro e em ativo fixo estimam-se os valores de investimentos e o fluxo de caixa operacional previsto indicará a necessidade de obtenção de recursos de terceiro implicando em pagamento de juros. 8º Algumas operações podem gerar receitas, como o caso de clientes que pagam seus títulos com atraso, e estas receitas são estimadas e acrescidas para fins de orçamento de caixa. 9º Por fim, para finalizar o fluxo de orçamentação consolidam-se todas as peças nas projeções dos demonstrativos contábeis considerando os reflexos econômicos totalizados na projeção da demonstração de resultado e os reflexos financeiros na projeção do balanço patrimonial. O orçamento de vendas é a principal peça orçamentária, pois ela indica os níveis de atividades que serão consumidos nos demais orçamentos. ATENCAO IMPORTANT E Vamos agora analisar um estudo de caso para compreensão correta do fluxo de orçamentação. 5.2.1.5 Estudo de caso: orçamento empresarial da empresa Controlatudo Ltda. A empresa Controlatudo Ltda. está reavaliando seu planejamento e o controller é o principal agente responsável, participando ativamente nas revisões do planejamento estratégico e ainda precisa coletar as informações necessárias para preparar o orçamento para ano de 20x1. Com este propósito, o orçamento é planejado com periodicidade trimestral com projeção anual, logo, o controller fará estimativas de quatro trimestres para um ciclo orçamentário. TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 139 Vamos ajudar o controller a preparar a sua previsão de vendas? ATENCAO a) Orçamento de vendas Depois de efetuar previsões estatísticas e realizar reuniões com a equipe de vendas, simulando com base nas premissas de mercado, obteve consenso e estimaram um volume de vendas de 50.000 unidades no primeiro trimestre do ano, e para os trimestres seguintes haverá um aumento na ordem de 20% de unidades vendidas a cada trimestre, mas utilizando como base de vendas o primeiro. A empresa projeta praticar um preço de venda de R$ 50,00 por unidade e o controller estimou impostos sobre as vendas na ordem de 22%. TABELA 1 – ORÇAMENTO DE VENDAS Descrição TRIM01 TRIM02 TRIM03 TRIM04 Previsão de Vendas (em unidades) 50.000 60.000 70.000 80.000 Preço Unitário (R$) 50 50 50 50 Vendas – R$ (Total Receita Bruta) 2.500.000 3.000.000 3.500.000 4.000.000 Impostos sobre Vendas - (22%) (550.000) (660.000) (770.000) (880.000) Receita Líquida de Impostos 1.950.000 2.340.000 2.730.000 3.120.000 FONTE: O autor b) Orçamento de produção Depois de finalizar as previsões de vendas com a equipe da área comercial, o controller inicia as reuniões com a área de produção e com a área de compras da empresa para estabelecer a produção necessária e os valores orçados com a aquisição da matéria-prima. As discussões envolviam as políticas de estoques e o planejamento da produção, logo as divergências recaíram sobre os estoques finais e estoques iniciais desejados para o ano 20X1. O controller apresentou os mapas de controles de estoques dos anos anteriores e estimou que para suportar os níveis de vendas previstos para o próximo ano, será necessário manter níveis de estoques em torno de 5% do volume de vendas orçados do período seguinte. O estoque inicial de 20X1 será de 2.500 unidades, visto que o estoque final do TRIM04 de 20X0 foi apurado baseado no volume de vendas do TRIM01 de 20X1 (50.000 X 5%). As estimativas de estoque final para o TRIM01 de 20x2 será de 4.500 unidades (90.000 x 5%). UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 140 TABELA 2 – ORÇAMENTO DE PRODUÇÃO Descrição – em unidades TRIM01 TRIM02 TRIM03 TRIM04 Previsão de vendas 50.000 60.000 70.000 80.000 (+) Estoque final 3.000 3.500 4.000 4.500 (=) Necessidade prevista 53.000 63.500 74.000 84.500 (-) Estoque inicial (2.500) (3.000) (3.500) (4.000) Previsão de produção (unidades) 50.500 60.500 70.500 80.500 FONTE: O autor c) Orçamento de compras de matéria-prima O controller estabeleceu a produção necessária para atender à demanda de vendas em 20X1, contudo, agora cabe ao setor de compras orçar os custos com as compras de matérias- primas. As informações de custos coletadas pelo controller indicam que para cada unidade produzida é necessário o equivalente a 2,00 kg de matéria-prima e o setor de compras estimou que o custo por kg de matéria-prima é de R$ 5,00. As políticas de estoque em relação aos níveis de estoque inicial e final se aplicam da mesma forma que no cálculo do orçamento da demanda de produção, contudo já são calculados com base nos estoques unitários transformados em quantidade de matéria-prima. Agora, vamos ajudar o controller a preparar o orçamento de produção? Agora, vamos ajudar o controller a preparar o orçamento de compras de matéria-prima? ATENCAO ATENCAO TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 141 TABELA 3 – ORÇAMENTO DE COMPRA DE MATÉRIA-PRIMA Descrição (matéria-prima – MP) TRIM01 TRIM02 TRIM03 TRIM04 Previsão de produção (unidades) 50.500 60.500 70.50080.500 Consumo MP por unidade (kg) 2 2 2 2 Necessidade de MP (kg) 101.000 121.000 141.000 161.000 Previsão preço da MP (R$) 5 5 5 5 Custos de compra com MP (R$) 505.000 605.000 705.000 805.000 FONTE: O autor d) Orçamento de custos da mão de obra direta (MOD) O controller sabe que estimativas de produção requerem certos cuidados. Entre elas, a mão de obra aplicada na elaboração dos produtos precisa ser dimensionada de forma adequada para atender à capacidade estimada de produção. O custo da mão de obra direta é estimado em custo de horas trabalhadas que representa todos os gastos necessários envolvendo colaboradores para a elaboração dos produtos. O custo baseado em uma taxa horária (R$/h) multiplicado pelo tempo gasto para produzir uma unidade indica o custo unitário do produto. Desta forma, o controller reuniu-se com os gerentes dos departamentos produtivos que são os responsáveis por elaborar o orçamento de MOD e concluíram que para cada unidade produzida são necessárias 1,5 horas de MOD. O valor da hora trabalhada estimada, considerando os encargos sociais é de R$ 10,00 por hora. TABELA 4 – ORÇAMENTO DE COMPRAS DE MÃO DE OBRA DIRETA (MOD) Descrição TRIM01 TRIM02 TRIM03 TRIM04 Previsão de produção (unidades) 50.500 60.500 70.500 80.500 MOD por unidade (horas) 1,5 1,5 1,5 1,5 Necessidade de MOD (horas) 75.750 90.750 105.750 120.750 Previsão valor hora de MOD (R$) 10 10 10 10 Custo total da MOD (R$) 757.500 907.500 1.057.500 1.207.500 FONTE: O autor Agora, vamos ajudar o controller a preparar o orçamento de compras de mão de obra direta? ATENCAO UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 142 e) Orçamento de custos indiretos de fabricação O controller reúne-se com o gerente dos departamentos produtivos para projetar o orçamento dos custos indiretos de fabricação (CIF) que são de sua responsabilidade em seus departamentos. Contudo, informações previamente preparadas pelo controller indicam que alguns custos indiretos sofrem um comportamento de variabilidade em nível de fabricação, portanto, o controller para melhorar as projeções orçamentárias classificou-as em custos variáveis e custos fixos. Para estimar os custos de CIF do ano 20X1, o controller identificou a variável que altera o comportamento de alguns custos e pôde prever que uma parte dos custos indiretos vai variar, com base nas horas orçadas de mão de obra direta da seguinte forma: ð para cada hora de MOD vai variar R$ 0,10 de materiais indiretos; ð para cada hora de MOD vai variar R$ 0,40 de mão de obra indireta; ð para cada hora de MOD vai variar R$ 0,15 de energia elétrica e; ð para cada hora de MOD vai variar R$ 0,05 de manutenção. Para exemplificar, tem-se que das 75.750 horas de MOD orçados para o TRIM01, temos que serão orçados os valores da seguinte forma: (I) materiais indiretos no valor de R$ 7.575,00 (75.750 x R$ 0,10); (II) mão de obra indireta no valor de R$ 30.300,00 (75.750 x R$ 0,40); (III) energia elétrica no valor de R$ 11.362,50 (75.750 x R$ 0,15) e (IV) manutenção no valor de R$ 3.787,50 (75.750 x R$ 0,05). IMPORTANT E Importante frisar que a variabilidade dos custos indiretos de fabricação referem- se ao seu comportamento em relação aos níveis de produção e não em relação ao volume de vendas. Agora, vamos ajudar o controller a preparar o orçamento de custo indireto de fabricação? ATENCAO TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 143 TABELA 5 – ORÇAMENTO DO CUSTO INDIRETO DE FABRICAÇÃO (CIF) Descrição TRIM01 TRIM02 TRIM03 TRIM04 Custos variáveis R$ R$ R$ R$ Material indireto 7.575,00 9.075,00 10.575,00 12.075,00 Mão de obra indireta 30.300,00 36.300,00 42.300,00 48.300,00 Energia elétrica 11.362,50 13.612,50 15.862,50 18.112,50 Manutenção 3.787,50 4.537,50 5.287,50 6.037,50 Total variável 53.025,00 63.525,00 74.025,00 84.525,00 Custos fixos R$ R$ R$ R$ Salários/Enc. Supervisão 13.425,00 13.425,00 13.425,00 13.425,00 Depreciação 9.075,00 9.075,00 9.075,00 9.075,00 Seguros 25.600,00 25.600,00 25.600,00 25.600,00 Aluguel 50.150,00 50.150,00 50.150,00 50.150,00 Total fixo 98.250,00 98.250,00 98.250,00 98.250,00 Total CIF 151.275,00 161.775,00 172.275,00 182.775,00 Horas MOD 75.750 90.750 105.750 120.750 Taxa de rateio dos CIFs Total CIF / Total Horas MOD (668.100 / 393.000) = 1,70 FONTE: O autor f) Orçamento de despesas financeiras, de vendas e administrativas Estes gastos compreendem um esforço gerado pela empresa em obter receita e são classificados nas demonstrações contábeis em contas de despesas conforme sua natureza como pessoal, telefone, energia, água, correios, viagens e estadas, jornais e revistas, café e lanches, representações, serviços de terceiros, treinamento, entre outros. As despesas que são gastas devem ter certo cuidado ao gerá-los, pois muito provavelmente não serão percebidos como valor pelo cliente, e desta forma, as atividades que originam tais despesas não agregam valor e reduzem os resultados econômicos e financeiros. Em nosso caso, o controller está atento ao orçamento e classificou as despesas em variáveis e fixas em relação ao volume de produção. A empresa estabelece sua política de comissionamento sobre as vendas R$ 2,00 e frete R$ 0,50 por unidade vendida. A base para o cálculo das despesas variáveis é baseado no número de unidades vendidas, que foram projetadas no orçamento de vendas. Com relação às despesas fixas estimam-se os valores descritos na tabela referente à previsão do orçamento. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 144 TABELA 6 – PROJEÇÃO DAS DESPESAS FIXAS E VARIÁVEIS EM 20X1 Descrição TRIM01 TRIM02 TRIM03 TRIM04 Despesas variáveis R$ R$ R$ R$ Comissão de vendas 100.000 120.000 140.000 160.000 Frete 25.000 30.000 35.000 40.000 Total variável 125.000 150.000 175.000 200.000 Despesas fixas R$ R$ R$ R$ Propaganda 35.000 35.000 35.000 35.000 Salários de vendas 55.000 55.000 55.000 55.000 Salários da administração 45.000 45.000 45.000 45.000 Depreciação 15.000 15.000 15.000 15.000 Taxas e seguros 3.000 3.000 3.000 3.000 Total fixo 153.000 153.000 153.000 153.000 Total das despesas 278.000 303.000 328.000 353.000 FONTE: O autor g) Projeção da demonstração de resultados Partindo das informações geradas por peças orçamentárias operacionais como o orçamento de vendas, de produção, de compras de materiais, de MOD, de CIF e orçamento de despesas é possível apurar o resultado econômico das operações da empresa Controlatudo Ltda. O controller precisa ainda determinar o custo dos produtos vendidos para fechar o resultado econômico que é calculado baseado na apuração do custo de uma unidade de produção. TABELA 7 – CÁLCULO DO CUSTO UNITÁRIO DO PRODUTO Elementos de custos Quantidade Custo em Reais (R$) Custo Unitário em Reais Matéria-prima 2 Kg 5,00 10,00 Mão de obra direta 1,5 horas 10,00 15,00 CIF 1,5 horas 1,70 2,55 27,55 FONTE: O autor Para calcular os Custos dos Produtos Vendidos (CPV) da empresa Controlatudo Ltda., o controller identificou o custo unitário do produto e Agora, vamos ajudar o controller a preparar o orçamento de orçamento de despesas financeiras, de vendas e administrativas? ATENCAO TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 145 TABELA 8 – CÁLCULO DO CUSTO DOS PRODUTOS VENDIDOS EM 20X1 Descrição Quantidade Vendida Custo Unitário Produto (R$) Total em R$ TRIM01 50.000 27,55 1.377.500 TRIM02 60.000 27,55 1.653.000 TRIM03 70.000 27,55 1.928.500 TRIM04 80.000 27,55 2.204.000 CPV ANUAL 7.163.000 FONTE: O autor De posse dessas informações que compõem a DRE, o controller verificou que a empresa tem como forma de tributação o lucro real sendo o Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) de 15% e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) de 9% aplicado sobre o lucro. Lembre-se de que ainda sobre o IRPJ incidirá o adicionalde 10% sobre o valor do lucro estimado deduzida a parcela de R$ 60.000,00 (20.000 x 3 meses), caso exista. TABELA 9 – PROJEÇÃO DA DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO DO EXERCÍCIO EM 20X1 TRIM01 TRIM02 TRIM03 TRIM04 R$/ANO Receita bruta total 2.500.000 3.000.000 3.500.000 4.000.000 13.000.000 (-) Impostos s/ a receita (550.000) (660.000) (770.000) (880.000) (2.860.000) (=) Receita líquida 1.950.000 2.340.000 2.730.000 3.120.000 (10.140.000) (-) CPV (1.377.500) (1.653.000) (1.928.500) (2.204.000) (7.163.000) (=) Lucro operacional bruto 572.500 687.000 801.500 916.000 2.977.000 (-) Despesas operacionais adm. e vendas (278.000) (303.000) (328.000) (353.000) (1.262.000) (-) Despesas financeiras 0 (20.000) (20.000) (+) Receitas financeiras 8.000 8.000 (=) Lucro antes do IRPJ e CSLL 294.500 364.000 473.500 571.000 1.703.000 Contribuição social – 9% (26.505) (32.760) (42.615) (51.390) (153.270) Imposto de renda – 15% (67.625) (85.000) (112.375) (136.750) (401.750) Lucro líquido 200.370 246.240 318.510 382.860 1.147.980 FONTE: O autor Agora, vamos ajudar o controller a preparar a projeção do demonstrativo de resultado? ATENCAO multiplicou pela projeção das vendas para cada trimestre do ano 20X1 e assim determinar o CPV do ano. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 146 h) Projeção do orçamento de caixa O controller precisa projetar se todas as diretrizes do orçamento poderão ser suportadas pelo fluxo de caixa da empresa Controlatudo Ltda. Para isto, identifica algumas informações necessárias para elaborar o orçamento de caixa da empresa, entre elas: O saldo final de caixa da empresa Controlatudo Ltda. em 20X0 está estimado em R$ 70.000,00, logo este deverá ser o saldo inicial para o TRIM01 de 20X1. Conforme a política de crédito da empresa, o controller identificou que das vendas projetadas no período, normalmente 70% das vendas são recebidos à vista e enquanto 30% restantes são recebidos no mês seguinte. Também identificou que das vendas do último trimestre de 20X0 estima-se receber em TRIM01 o valor de R$ 600.000,00 (R$ 2.000.000 x 0,30). Como a empresa mantém um bom relacionamento com seus clientes e possui uma análise de crédito eficiente que diminui sensivelmente os riscos de crédito, estimam-se perdas insignificantes em termos de créditos incobráveis. Os pagamentos dos fornecedores de matéria-prima foram renegociados e seus prazos foram acordados com pagamento de 60% no ato da compra e 40% para o trimestre seguinte. O saldo remanescente da conta fornecedores no fim de 20X0 estima-se que será de R$ 180.000,00 e deverá ser pago no primeiro trimestre de 20X1. Os custos de salários (mão de obra direta) são pagos dentro do período em que ocorrem, logo, sempre serão pagos dentro do trimestre. Todos os gastos referentes aos custos indiretos de fabricação, despesas administrativas e de vendas, exceto a depreciação em que não há desembolso, são pagos no mesmo período em que ocorrem. Todos os impostos são pagos no período posterior à ocorrência do fato gerador, ou seja, os pagamentos somente são efetivados no trimestre posterior. O saldo remanescente referente ao fim de 20X0 está estimado em R$ 440.000,00 para os impostos sobre venda e de R$ 175.000,00 para os impostos sobre o lucro (CSLL e IRPJ). A empresa Controlatudo Ltda. adota como política manter um saldo mínimo de caixa de R$ 300.000,00, portanto, sempre que houver excesso de caixa, a empresa faz uma aplicação financeira em múltiplos de R$ 100.000,00 e obtém uma receita financeira à taxa de juros de 2% ao trimestre com resgate sempre no período seguinte, enquanto houver necessidade de captação de recursos para suprir falta de caixa são realizadas operações de crédito com múltiplos de R$ 100.000,00 com custo financeiro de 10% ao trimestre, com pagamento sempre no período seguinte. TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 147 • Contas a receber TABELA 10 – POSIÇÃO DAS CONTAS A RECEBER Descrição TRIM01 TRIM02 TRIM03 TRIM04 20X2 (TRIM01) Vendas 20X0 (TRIM04) 600.000 Vendas TRIM01 1.750.000 750.000 Vendas TRIM02 2.100.000 900.000 Vendas TRIM03 2.450.000 1.050.000 Vendas TRIM04 2.800.000 1.200.000 Total 2.350.000 2.850.000 3.350.000 3.850.000 FONTE: O autor • Fornecedores de matéria-prima TABELA 11 – POSIÇÃO DO PAGAMENTO DE FORNECEDORES Descrição TRIM01 TRIM02 TRIM03 TRIM04 20X2 (TRIM01) Fornecedores 20X0 (TRIM04) 180.000 Fornecedores TRIM01 303.000 202.000 Fornecedores TRIM02 363.000 242.000 Fornecedores TRIM03 423.000 282.000 Fornecedores TRIM04 483.000 322.000 Total 483.000 565.000 665.000 765.000 FONTE: O autor Agora, vamos ajudar o controller a preparar o orçamento de caixa? Vamos iniciar com as informações de entrada de caixa provenientes das vendas. Ainda falta ao controller verificar como ficarão os pagamentos dos fornecedores de matéria-prima. Vamos ajudá-lo? ATENCAO ATENCAO UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 148 • Projeção do orçamento de caixa TABELA 12 – ELABORAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA (PROJEÇÃO DO ORÇAMENTO DE CAIXA) TRIM01 TRIM02 TRIM03 TRIM04 TOTAL Saldo inicial 70.000 335.225 383.820 329.885 70.000 Entradas de caixa Contas a receber 2.350.000 2.850.000 3.350.000 3.850.000 12.400.000 Outros 0 0 0 0 0 Total das entradas 2.350.000 2.850.000 3.350.000 3.850.000 12.400.000 Total em Caixa 2.420.000 3.185.225 3.733.820 4.179.885 12.470.000 Saídas de caixa Fornecedores (MP) 483.000 565.000 665.000 765.000 2.478.000 Salários (MOD) 757.500 907.500 1.057.500 1.207.500 3.930.000 CIF 151.275 161.775 172.275 182.775 668.100 Vendas e administração 278.000 303.000 328.000 353.000 1.262.000 Impostos s/vendas 440.000 550.000 660.000 770.000 2.420.000 CSSL e IRPJ 175.000 94.130 121.160 154.990 545.280 Investimento 0 0 0 0 0 Total das saídas 2.284.775 2.581.405 3.003.935 3.433.265 11.303.380 (=) Excesso ou deficiências 135.225 603.820 729.885 746.620 1.166.620 (+) Resgate aplicação 408.000 408.000 (+) Empréstimo 200.000 200.000 (-) Aplicação financeira 400.000 800.000 1.200.000 (-) Pagamento de empréstimo 220.000 220.000 (=) Saldo final 335.225 383.820 329.885 354.620 354.620 FONTE: O autor i) Projeção do balanço patrimonial O controller para consolidar as informações de projeção para o balanço patrimonial de 20X1 deverá obter os saldos estimados findo em 20X0. De posse das informações, concluiu que além das utilizadas para a elaboração das peças orçamentárias de 20X1 como, por exemplo, saldo de caixa, contas a receber e fornecedores de matéria-prima, algumas outras contas do balanço tem uma estimativa de saldo prevista para o fim de 20x0, conforme a seguir: Agora que o controller tem em mãos todas as informações de caráter financeiro, vamos ajudá-lo a elaborar o orçamento de caixa projetado? ATENCAO TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 149 TABELA 13 – PROJEÇÃO DO BALANÇO PATRIMONIAL ATIVO PASSIVO Circulante 2.363.220 Circulante 1.387.420 Caixa 363.220 Fornecedores 322.000 Aplicação financeira 800.000 Impostos a recolher 880.000 Contas a receber 1.200.000 Imp. Renda/CS a recolher 185.420 Estoque 123.975 Produtos acabados 123.975 Emp. e financiamentos Outras contas a pagar Realizável de longo prazo Exigível a longo prazo Emp. e financiamento Não Circulante 280.100 Não Circulante 1.255.900 Investimentos Patrimônio líquido 1.255.900 Participações outras empresas Capital social 1.255.900 Permanente Prejuízos acumulados Terrenos 130.000 Imóvel Veículos 180.100 Máquinas e equipamentos (-) Depreciação acumulada (30.000) Diferido Pesquisa e desenvolvimento Total do Ativo 2.643.320 Total do Passivo 2.643.320 FONTE: O autor • No ativo não circulante,no grupo Permanente a conta “Terrenos” apresenta saldo de R$ 130.000,00 e a conta veículos um saldo de R$ 180.100,00 contra uma depreciação acumulada (conta redutora do ativo) em R$ 30.000,00. • Do lado passivo não circulante, no grupo Patrimônio Líquido a conta “Capital Social” possuía um saldo de R$ 101.320,00 e foi adicionado à incorporação do lucro de R$ 1.154.580,00 de 20X1. Para consolidar todas as informações financeiras e patrimoniais, o controller deve preparar a sua consolidação. Vamos ajudá-lo a elaborar a projeção do balanço patrimonial? ATENCAO UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 150 Veja que com a projeção elaborada pelo controller possibilitará à empresa tomar várias decisões como, por exemplo: • O retorno sob o investimento de 43,68% (Lucro líquido / Ativo total) é suficiente? • A margem bruta das operações de 22,90% (Lucro bruto / Receita bruta) é adequada ou pode ser mais eficiente? É adequada para suportar os gastos fixos? • A margem líquida de 8,88% (Lucro líquido / Receita bruta) satisfaz os acionistas da empresa? • O fluxo de caixa da empresa apresenta níveis satisfatórios de reservas? • Os prazos dos clientes são adequados e suportam o financiamento das operações? Um prazo médio de clientes de 33,23 dias contra um prazo médio de pagamento de fornecedores de 44,24 dias. • O CPV do produto é adequado ou precisa ser reduzido? • Os níveis de estoques mantidos 6,23 dias em média são adequados ou precisam ser aumentados? Cabe ao controller como responsável do processo de gestão, gerar todas as informações e sugerir aos gestores da empresa Controlatudo Ltda., o que deve ser feito em termos de aprovação do orçamento da empresa. 5.2.2 Execução A fase de execução é a fase do processo de gestão, em que o que foi planejado é aplicado, ou seja, todas as implementações que estavam previstas no plano de IMPORTANT E Você deve ter percebido ao realizar o orçamento da empresa Controlatudo Ltda., que o objetivo da controladoria no processo de elaboração orçamento visa quantificar e mensurar os elementos que envolvem o processo de comprar, fabricar e vender contemplando sua consolidação em todos os níveis da organização subsidiando os gestores com informações de ordem econômica, financeira e patrimonial para a tomada de decisão. TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 151 5.2.3 Controle Na língua portuguesa, em sentido amplo, a palavra “controle” significa o ato de exercer o domínio sobre algo ou alguém, ou seja, relaciona- se com a possibilidade de exercer autoridade ou mesmo poder. Na linguagem corporativa, entretanto, podemos inferir que o controle deve ser entendido como um mecanismo para manter os padrões preestabelecidos garantindo a eficácia e eficiência das operações da organização. (FERNANDES, 2010, p. 66-67). curto prazo, são colocadas em prática. Segundo Beuren (apud SCHMIDT, 2002, p. 19), a execução “Compreende a fase em que os planos são implementados, as ações se concretizam e as transações ocorrem” e complementa ainda afirmando que “[...] é nessa fase que os recursos são consumidos e os produtos gerados [...]”, ou seja, pode inferir que é nesta fase do processo de gestão em que os esforços para comprar, produzir e vender ocorrem e, neste contexto, os gestores aderem ao que foi planejado no orçamento. Os gestores têm como referência o planejado e orçado como forma de buscar a eficiência das operações fixando suas intenções em atingir os objetivos e metas estabelecidos. Para Catelli (2001, p. 61) é justamente “Com esse propósito, o processo de gestão envolve a identificação, a simulação e a escolha de alternativas para o cumprimento das metas, bem como a implementação das ações”. A controladoria, nesta fase, cumpre parte importante de seu papel nas organizações “o de gerar eficiência” do uso dos recursos da empresa, comprovado na afirmação de Moura e Beuren (2000, p. 60), em que relata que na execução, a controladoria “[...] possui a função de fazer com que os recursos disponíveis sejam aplicados para a otimização dos resultados da empresa”, contudo, importa dizer para que não restem dúvidas que não é o controller o gestor dos recursos, ele é o gestor da informação que vai subsidiar o gestor no processo decisório para a escolha mais adequada que otimize os recursos da empresa. Borinelli (2006, p. 158) afirma que na etapa de execução, compete à controladoria: • auxiliar as diversas unidades e funções organizacionais na aplicação dos recursos planejados; • dar suporte às diversas unidades e funções organizacionais na implementação dos projetos; • coordenar os esforços dos gestores das diversas unidades e funções organizacionais na consecução dos seus respectivos objetivos e também dos objetivos da empresa como um todo; • fornecer apoio informacional sobre o andamento da implementação dos planos. Nesta fase, ainda os gestores podem tomar a decisão de ajustar o plano em virtude de fatos que venham a interferir no futuro dos resultados significativamente. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 152 FIGURA 34 – PAINEL DE CONTROLES FONTE: O autor Veja as figuras acima que representam dois painéis; de um carro e de um avião e imagine o que eles podem apresentar como semelhanças a uma organização empresarial. Numa análise superficial você diria nada? Um carro se locomove, um avião voa e uma empresa produz algo para alguém consumir. Em uma análise mais crítica e detalhada pode-se chegar a algumas conclusões que se assemelham, como por exemplo: a) Tanto no carro como no avião precisa existir um condutor que acione o equipamento e leve-o à rota desejada. Numa empresa, também, precisa-se de um condutor, um responsável que conduza a empresa para o caminho desejado. b) Observe a quantidade de instrumentos tanto no painel do carro como do avião. Para que servem estes instrumentos? QUADRO 8 – EXEMPLOS Exemplos para um carro Exemplos para um avião • Velocímetro • Velocímetro • Temperatura do motor • Altímetro • Nível de combustível • Nível de combustível • Volante • Pressão atmosférica • Sistema de frenagem • Sistema de frenagem • Sistema de câmbio • Temperatura interna FONTE: O autor TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 153 O condutor os utiliza para assegurar (tomada de decisão) que as condições atuais os permitem chegar ao destino. Em uma empresa, o condutor responsável precisa de instrumentos que possa utilizar como mecanismo para tomadas de decisão que o conduzam ao objetivo que foi planejado. O que se fez, ao comparar o painel do carro e do avião com o painel de indicadores de desempenho das empresas é mostrar ludicamente, que a empresa necessita de um condutor que traduza todos os dados do painel, processe e traduza em informações relevantes e úteis para a tomada de decisão. Mesmo com todos os instrumentos à disposição do condutor, seria possível que o carro ou o avião apresentasse uma pane qualquer que não tenha sido acusada nos instrumentos. O fato é que mesmo que exista um planejamento muito bem elaborado, não há uma certeza que de fato os eventos aconteçam exatamente como planejados. Então se precisa compreender que nunca existirá controle total, o que existe é uma razoável margem de garantia que os eventos acontecerão como planejado, pois existem riscos dos mais variados tipos no ambiente do sistema- empresa, que podem alterar o curso dos eventos. O controle tem como finalidade garantir que as atividades empresariais sejam realizadas normalmente, dentro dos parâmetros preestabelecidos, evitando desvios de qualquer natureza em relação aos objetivos. Segundo Migliavacca (2004, p. 123), “os padrões traduzem as metas em resultados e orientam as pessoas sobre os níveis (medidas) que são aceitáveis”. “Os controles podem ser mantidos em níveis suportáveisquanto aos seus custos, enquanto eficientes quanto aos objetivos”. (ANDRADE, 1999, p. 13). O sentido do controle ocorre quando há um planejamento implementado em todos os seus níveis e que seja mensurado, comparado e por fim corrigido. Não existe controle sem que haja uma ação corretiva correspondente que influencie o sistema a retornar ao seu curso normal. Este é o verdadeiro sentido do controle que interessa à Controladoria, avaliar se cada área de responsabilidade está atingindo suas metas conforme o planejamento orçamentário. ESTUDOS FU TUROS Os instrumentos que aqui se discutem são mecanismos de planejamento e de controle. Quanto ao planejamento discutimos os mecanismos utilizados e quanto ao controle será discutido na Unidade 3 deste Caderno de Estudos. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 154 Então, o controle tem como funções básicas: (I) manter o sistema empresa no rumo certo de seus objetivos; (II) possibilitar identificar e agir em situações que gerem custos desnecessários ou adicionais; o mais importante, (III) possibilitar aprendizado sobre o comportamento destas variáveis. A atribuição de responsabilidade pelo controle pode ser feita de várias formas, contudo a mais comum é por centros de responsabilidade sendo divididos por centros de receitas, custos, lucros ou investimentos ou ainda a responsabilidade pode ser atribuída a um departamento ou unidade. Lunkes e Schnorrenberger (2009, p. 76) afirmam que: [...] não há uma única forma de atribuir a responsabilidade pelo controle. Ele pode ser ordenado por unidade (departamento, variável base zero, processo e atividade etc.) e chefiado por um colaborador responsável pelas metas. Há também a função de controle ordenada por um período de tempo determinado como, por exemplo, os projetos de investimentos. A controladoria sempre esteve ligada com a função controle e em muitos momentos da história ela foi confundida com o próprio controle, mas trata-se de uma das muitas funções exercidas pela controladoria. (LUNKES; SHNORRENBERGER, 2009). Os autores afirmam ainda que “ele é apenas um dos pilares centrais da controladoria” e concorda-se com o autor, de fato o controle quando ligado ao planejamento fornece subsídios de informação que busca garantir a execução conforme o planejamento. (LUNKES; SHNORRENBERGER, 2009, p. 80). Desta forma, precisa compreender que a Controladoria tem como papel o controle de ser o elemento sinérgico que avalia os objetivos individuais (por área de responsabilidade) e compara os objetivos da organização, garantindo a eficácia do todo. Para isto utiliza-se dos diversos instrumentos como orçamento, BSC, entre outros. DICAS O controle está intimamente ligado ao planejamento eis que seu propósito é assegurar que as atividades empresariais sejam executadas de acordo com o que foi planejado. TÓPICO 1 | ENFOQUE SISTÊMICO E O SISTEMA-EMPRESA 155 Os níveis de controles segundo Lunkes e Schnorrenberger (2009) podem ser divididos em: (I) estratégico, (II) tático (III), operacional e (IV) de controles internos. “O controle estratégico pode ser compreendido como um processo que consiste em medir padrões e corrigir desempenhos da organização para garantir que os objetivos e metas definidas no plano estratégico sejam atingidos”. (FERNANDES, 2010, p. 66). Considera-se ainda, conforme Fernandes (2010, p. 66), como características do controle estratégico: a) Orientação para o longo prazo: controlar para manter a sobrevivência e geração de riqueza contínua aos seus proprietários; b) Ambiente de competição: controlar quaisquer influências internas e externas que possam vir a interferir e ameaçar os objetivos estratégicos; c) Objetivos financeiros e não financeiros: talvez a mais importante característica do controle estratégico, pois permite mensurar com base nos padrões preestabelecidos de informações físicas ou não, quaisquer alterações de natureza no ambiente da organização. Para o controle tático têm-se padrões estabelecidos através de padrões setoriais utilizado na avaliação das áreas. Envolvem, segundo Lunkes e Schnorrenberger (2009, p. 85), “projetos de investimentos, treinamento, desenvolvimento de produtos que podem demandar mais de um período”. No controle operacional ocorre o processo em que são controladas todas as atividades, quer sejam produtivas ou administrativas necessárias para o cumprimento dos objetivos e metas organizacionais. São exemplos de controles operacionais, os controles sobre vendas, produção, estoque, tesouraria, conta a pagar, contas a receber etc. (FERNANDES, 2010, p. 67). O controle está relacionado ao controle do dia a dia ocorrido em nível de execução das atividades no alcance das metas e o instrumento normalmente utilizado é o orçamento. Controles internos compreendem um sistema organizacional com procedimentos contábeis e administrativos de ordem financeira, econômica e patrimonial que visam proteger os ativos da empresa, verificar exatidão de informes financeiros, melhorar a eficiências das operações e cumprimento das exigências legais. ESTUDOS FU TUROS BSC ou Balanced Scorecard significa indicadores balanceados de desempenho. Mas na verdade, o BSC é bem mais que isso: ele é um modelo de gestão estratégico, que permite às empresas priorizarem as suas ações do dia a dia, para alcançarem objetivos traçados em seus planos estratégicos. Este assunto será objeto de estudo na Unidade 3. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 156 ESTUDOS FU TUROS Caro(a) acadêmico(a)! Devido à abrangência e importância do assunto controles internos como função da controladoria, este será objeto de estudo no próximo tópico desta unidade. 157 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, vimos que: • O enfoque sistêmico consiste numa visão que analisa as partes da empresa para compreensão do seu todo. Um sistema consiste em um conjunto de elementos em interação, em constante movimento e com objetivos em comum para atingir um objetivo maior. A essa capacidade de interagir com o meio ambiente denominado de sistema aberto, aplicado no caso às organizações, que é o sistema-empresa interagindo com vários outros sistemas em seu meio ambiente. • O sistema-empresa pode ser classificado de duas formas, como divisão em função da especialização e divisão em função da dinâmica ambiental. A primeira estuda a relação das atividades com objetivos comuns que se agrupam e são denominadas de funções. A segunda estuda a empresa em relação à sua interação com seu ambiente. Pode ser subdividido em subsistema institucional, subsistema de gestão, subsistema psicossociopolítico-cultural, subsistema de produção, físico-operacional ou físico e o subsistema de informação. • O controller é o responsável pelo processo de gestão e não atua no processo decisório, apenas participa orientando e direcionando as decisões dos gestores na eficácia dos resultados. • A missão da controladoria é zelar pela sobrevivência e continuidade da organização que só será possível se a empresa conseguir cumprir sua missão. • O modelo de gestão é uma matriz do subsistema de gestão que orienta os processos e é composto pelas crenças, valores, propósitos e filosofias que incorporados à missão definem um modelo teórico de gestão empresarial. O processo de gestão traduz e incorpora dentro da organização conceitos relativos ao planejamento, controle e execução das atividades dando direção da empresa no cumprimento de sua missão. • O planejamento envolve a definição de objetivos e de estratégias selecionando alternativas possíveis de atingi-las e o papel da controladoria é consolidar todos os planos da empresa. O próximo passo é consolidar os orçamentos operacionais segundo o fluxo orçamentário. • A fase da execução é a fase do processo de gestão em que o que foi planejado é colocado em prática. Ocontrole é a fase em que garante que as atividades sejam executadas dentro de certos parâmetros definidos segundo seus objetivos. • As medidas corretivas estão ligadas com o planejamento e controle, pois os desvios são identificados nos planos e as medidas corretivas o colocarão novamente no curso normal. 158 AUTOATIVIDADE 1 O enfoque sistêmico é visto como uma postura mental, cujos conceitos levam à compreensão da complexidade de uma organização em sua totalidade. Partindo desse pressuposto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O enfoque sistêmico trata determinada complexidade baseada na compreensão do todo. ( ) Segundo a teoria sistêmica todas as partes do todo interagem com um objetivo comum. ( ) O funcionamento de um sistema, independente qual seja a entrada, representa o objetivo do sistema. ( ) A interação entre elementos de um sistema considera-se como uma característica sistêmica. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - V - F - V. b) ( ) F - V - V - V. c) ( ) F - F - V - F. d) ( ) V - F - F - V. 2 Segundo o enfoque sistêmico, todo sistema capaz de interagir com o seu ambiente denomina-se sistema aberto. Sobre o sistema aberto, analise as seguintes sentenças: I- Tudo que estiver sob controle do sistema, pode ser considerado como ambiente. II- A interação do sistema aberto possibilita influenciar o ambiente e ser influenciado. III- A lógica sistêmica não permite que um sistema se divida em partes menores. IV- São características básicas do sistema: elementos, relação entre os elementos, objetivo comum e meio ambiente. Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças II e IV estão corretas. b) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas. c) ( ) As sentenças III e IV estão corretas. d) ( ) As sentenças I e IV estão corretas. 159 3 Um sistema caracteriza-se por entradas que após processados geram uma saída no sistema. O sistema-empresa, como sistema aberto interage com o seu ambiente. Associe os itens, utilizando o código a seguir: I- Ambiente interno. II- Ambiente remoto. III- Ambiente próximo. ( ) Clientes, acionista e fornecedor. ( ) Produção, compras e finanças. ( ) Concorrente, tecnologia e política. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) III - I - II. b) ( ) I - II - III. c) ( ) II - III - I. d) ( ) II - I - III. 4 O modelo de gestão é um modelo abstrato baseado nas crenças, valores, filosofias e propósitos que incorporado à missão, resulta em um modelo teórico de gestão materializado no processo decisório que conduz à eficiência do processo de gestão em todas as suas etapas, para atingir os objetivos organizacionais e cumprimento da missão. Associe os itens, utilizando o código a seguir: I- Modelo de decisão. II- Modelo de mensuração. III- Modelo de informação. ( ) Modelo que prima pela avaliação econômica. ( ) Modelo que define a necessidade informacional do gestor. ( ) Modelo que define como decisões são tomadas nas etapas do processo de gestão. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) II - III - I. b) ( ) I - II - III. c) ( ) III - II - I. d) ( ) II - I - III. 160 5 O planejamento é a ferramenta de fácil aprendizado que possibilita de forma coerente avaliar metas e objetivos e prever resultados planejados futuros. Partindo desse pressuposto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O processo planejamento envolve os planos, a execução e o controle, pois não há sentido em planejar se não controlar a execução dos planos. ( ) O planejamento se divide em planejamento estratégico, planejamento financeiro e planejamento operacional. ( ) O planejamento estratégico tem característica de planejamento de médio prazo e relaciona-se com a finalidade de preparar projetos de investimentos. ( ) O planejamento operacional tem característica de curto prazo e objetiva traduzir o planejamento tático em informações detalhadas, rotineiras e compreensíveis. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F - V. b) ( ) F - F - V - V. c) ( ) V - V - F - F. d) ( ) F - V - F - V. 161 TÓPICO 2 CONTROLES INTERNOS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Iniciaremos o primeiro tópico desta unidade com o estudo da auditoria nos controles internos. Esta área de controle interno vem se tornando cada vez mais imprescindível para as empresas, pela necessidade de controle e monitoramento das operações e procedimentos em praticamente todos os setores. Sem sistemas de controles, uma empresa fica à deriva de informações não confiáveis no processo decisório, podendo trazer consequências danosas para o empreendimento. Por isso, estudaremos alguns aspectos importantes desta área para o trabalho da auditoria, que compreende a avaliação do controle interno e a utilização dos procedimentos de auditoria neste processo, bem como o trabalho do auditor na detecção e prevenção de erros e fraudes e, também, a necessidade de mudança de enfoque dos controles gerenciais. 2 ELEMENTOS DO CONTROLE INTERNO No segmento empresarial, o aumento dos casos de fraude, o insucesso de muitas empresas ou atividades econômicas e os movimentos pela melhoria da qualidade das empresas visando à sobrevivência no mercado têm provocado discussões mais frequentes sobre os controles internos e a necessidade de melhores estruturas nesta área. Neste cenário, a auditoria passa a ter destaque, mas também precisa se adequar à realidade atual com qualificação e atuação condizentes com as características da operação empresarial e seus riscos. E o controle interno é fundamental, já que compreende todo plano de organização, os sistemas e políticas administrativas e a atuação eficiente dos envolvidos no processo. A responsabilidade de sua estruturação e acompanhamento cabe à direção e seus níveis gerenciais da empresa. Para Attie (2010, p. 155), “o conceito, a interpretação e a importância do controle interno envolvem imensa gama de procedimentos e práticas que, em conjunto, possibilitam a consecução de determinado fim, ou seja, controlar”. Complementando esta visão, Almeida (2010, p. 42) diz que “o controle interno representa em uma organização o conjunto de procedimentos, métodos ou rotinas UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 162 com os objetivos de proteger os ativos, produzir dados contábeis confiáveis e ajudar a administração na condução ordenada dos negócios da empresa”. Um dos objetivos principais do controle interno é garantir a confiabilidade do fluxo de informações e das várias fases do processo decisório. Em outras palavras, o controle interno deve responder a cada uma das seguintes indagações: a) Expectativa: as estimativas, os planos, orçamentos e cálculos para atender as políticas traçadas estão corretos? b) Política de delegações: os poderes e a autoridade foram corretamente delegados aos devidos níveis gerenciais? c) Implementação: a delegação de poderes e autoridade aos níveis gerenciais foi implementada corretamente? d) Observância de autoridade: o poder e autoridade delegados aos diversos níveis gerenciais continuam sendo rigorosamente observados e cumpridos? e) Pontualidade: as decisões e medidas são tomadas e encaminhadas sempre nos momentos adequados? f) Eficiência e eficácia: os atos e ações gerenciais correspondem às estimativas e aos planos traçados com o máximo de eficácia e eficiência? g) Custódia: foram corretamente baixados os ativos pertencentes à organização que deixaram de ser pelos motivos de venda, consumo, utilização, etc.? h) Exatidão, completabilidade e pontualidade: todos os demonstrativos contábeis, financeiros,gerenciais e estatísticos elaborados pelos níveis responsáveis estão corretos e publicados no prazo previsto? i) Padrões: existem critérios de avaliação e controles que estão relacionados com as atividades da empresa? (Por exemplo: dados contábeis, financeiros, desempenho, orçamento, estatística de vendas, dentre outros). TÓPICO 2 | CONTROLES INTERNOS 163 Desse modo, de acordo com a sua natureza, seria possível resumir o controle interno da seguinte forma: − Completabilidade: o objetivo é assegurar que tudo o que deveria t e r sido executado, registrado, decidido, providenciado, informado etc., de fato, foi. Assim, as informações, registros, providências etc. abrangem a totalidade dos fatos ocorridos. − Exatidão: o objetivo é assegurar que tudo foi executado, registrado, decidido, providenciado, informado etc. corretamente. Assim, a execução, a valorização e a informação se revestem da necessária e adequada exatidão. − Pontualidade: o objetivo é assegurar que tudo foi executado, registrado, decidido, providenciado, informado etc. no tempo previsto. Assim, as épocas, datas, cronogramas etc. foram rigorosamente respeitados. − Justeza: o objetivo é assegurar que tudo foi executado, registrado, decidido, providenciado, informado, etc. com a devida autorização, de acordo com as normas, políticas e estruturas da empresa. Assim, todos os atos estão adequadamente autorizados. − Econômica: o objetivo é assegurar que o controle interno está economicamente justificado dentro do conjunto de atividades da empresa. Os controles internos não podem custar mais caro do que o retorno de informações proporcionado. Para atingir resultados favoráveis com menos desperdícios, um controle interno eficiente é fundamental em todas as áreas de uma empresa, como compras, fabricação, vendas, tesouraria, etc. Um sistema de contabilidade apoiado em um controle interno ineficiente acaba se tornando inútil, pois não é possível confiar nas informações contidas nos seus relatórios, considerando que distorções na informação podem levar a conclusões errôneas e danosas para a empresa. (KRIECK, 2011). Conforme Attie (2010, p. 151), “a importância do controle interno fica patente a partir do momento em que se torna impossível conceber uma empresa que não disponha de controles que possam garantir a continuidade do fluxo de operações e informações proposto”. A administração necessita de relatórios e análises concisas que possam refletir a situação da empresa. Além disso, um bom sistema de controle interno protege a empresa contra erros e fraudes, pois as rotinas de verificação e revisão reduzem a possibilidade de que erros ou tentativas fraudulentas permaneçam encobertos por muito tempo e permitem à administração possuir maior confiança na adequação dos dados. (FLORIANI, 2011). UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 164 Existem alguns elementos básicos que, tanto no conjunto como individualmente, são fundamentais para um bom sistema de controle interno. O não funcionamento adequado de um deles pode ocasionar a ineficiência de todo o sistema. Vejamos a seguir, conforme Pagliato e Santos (2007): a) Organograma adequado: definir e delimitar a autoridade e responsabilidade dos diversos departamentos, chefes, encarregados e empregados. b) Segregação de funções: é importante que a empresa separe as funções de contabilidade das funções de contas a pagar e contas a receber. Um funcionário ou departamento não deve ter a função de controle contábil e, ao mesmo tempo, o controle das operações que geram os lançamentos contábeis. Além disso, é recomendável o rodízio entre os responsáveis de cada trabalho e retirada de férias obrigatórias. Estas ações contribuem para reduzir as oportunidades de se cometerem fraudes, além de estimularem a criação de novas ideias de sistemas. c) Políticas e procedimentos claramente definidos: determinar as instruções por escrito através de manuais de procedimentos, onde devem conter as funções de todos os setores da empresa. d) Funcionários com grau de qualificação e habilidades compatíveis com o cargo que ocupam: selecionar os funcionários com cuidado e manter uma política de recursos humanos que envolva capacitação. e) Garantia de que as normas estabelecidas e procedimentos determinados estão sendo bem executados: certificar-se por meio de constante revisão e exames feitos por auditores internos e outros meios. f) Perfeito conhecimento da importância dos controles: ter o reconhecimento da importância dos controles por parte de quem os executa de acordo com cada área de atuação. Não obstante, deve-se também atentar para as diferenças entre o controle interno contábil e o administrativo, pois há características relevantes entre as mesmas que, se não forem bem controladas, colocarão em risco a segurança dos recursos da empresa, facilitando a ocorrência de fraudes. O Controle Interno Contábil tem relação com a proteção do patrimônio e dos recursos financeiros da empresa e possui reflexos na exatidão e integridade dos registros contábeis. Almeida (2010, p. 42) exemplifica alguns controles contábeis, como: - sistemas de conferência, aprovação e autorização; TÓPICO 2 | CONTROLES INTERNOS 165 - segregação de funções (pessoas que têm acesso aos registros contábeis não podem custodiar ativos da empresa); - controles físicos sobre ativos; - auditoria interna. O Controle Interno Administrativo: tem relação com a política dos negócios da empresa, ou seja, com as boas práticas de gestão, e está caracterizado pelos objetivos e missão da empresa, que devem ser medidos de acordo com a eficiência das operações e com a própria política de negócios. Segundo Almeida (2010, p. 42-43), alguns exemplos de controles administrativos podem ser: - análises estatísticas de lucratividade por linha de produtos; - controle de qualidade; - treinamento de pessoal; - estudos de tempos e movimentos; - análise de variações entre os valores orçados e os incorridos; - controle dos compromissos assumidos, mas ainda não realizados economicamente. 3 AVALIAÇÃO DO CONTROLE INTERNO O controle interno deve passar por uma revisão periódica, com o propósito de avaliar o cumprimento do que foi determinado. Almeida (1996 p. 60) trata da avaliação do sistema de controle interno como um processo que compreende as seguintes atividades: − determinar os erros ou irregularidades que poderiam acontecer; − verificar se o sistema atual de controles detectaria de imediato esses erros ou irregularidades; − analisar as fraquezas ou falta de controle, que possibilitam a existência de erros ou irregularidades, a fim de determinar natureza, data e extensão dos procedimentos de auditoria; − emitir relatório-comentário dando sugestões para o aprimoramento do sistema de controle interno da empresa. Neste processo de avaliação há três etapas a serem seguidas, que são: a) Levantamento geral do sistema Nesta primeira etapa, o objetivo é obter informações sobre o funcionamento do sistema mediante contato com as pessoas responsáveis pelo controle e pela fluxogramação. Em geral, as confirmações são mais completas quando provêm de um nível de supervisão, geralmente acima do superior imediato do funcionário encarregado do procedimento de controle. Outra forma de obter evidências de controle é a visita aos locais de trabalho e observação UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 166 do que os empregados fazem para controlar as operações. A qualidade desse tipo de evidência melhora se, além de ser observada, for comentada com os empregados acerca de suas tarefas. No caso de entrevista com o pessoal, alguns aspectos devem ser considerados: • entrevistar a pessoa mais apropriada, pois qualquer outra não suficientemente informada pode fornecer dados errados ou incompletos; • não é interessanteque se façam determinados interrogatórios nas entrevistas rotineiras, pois as respostas recebidas pelo auditor podem não ser as mais adequadas e não trazerem determinadas informações que possam evidenciar falhas no sistema de controle interno. Após a busca de informações e evidências, o auditor deve executar um levantamento do fluxo de documentos para identificar o nível de segurança e de falhas no sistema de controle interno, confirmando o seu conhecimento sobre o sistema e documentar a análise do controle interno nos papéis de trabalho. A documentação dos controles internos está relacionada com as atividades da empresa. Dessa forma, é importante que o auditor elabore o fluxograma de atividades e deixe-o preparado para que nas próximas atividades de auditoria possa ser confrontado com as novas atividades de auditoria que serão realizadas. Assim, o auditor pode se certificar de que há padronização dos procedimentos na empresa auditada. b) Avaliação propriamente dita do sistema Após ter analisado e documentado o sistema de controle interno, faz-se uma avaliação para determinar até que ponto o sistema é confiável para o auditor. Nesta etapa, a identificação dos controles-chave do sistema constitui o aspecto de maior importância. O controle-chave, quando funciona com eficiência, tem uma contribuição significativa na geração de informações confiáveis do sistema contábil e operacional. Por isso, tem de merecer a confiança do auditor para que dê a sua opinião sobre os relatórios, demonstrações contábeis, orçamentos, fluxos de caixa, operações em geral, sistemas etc. TÓPICO 2 | CONTROLES INTERNOS 167 c) Testes de observância (cumprimento) Na terceira etapa realizam-se os testes de cumprimento das atividades da empresa. Além de formar uma opinião sobre a eficácia do sistema mediante representações verbais ou escritas feitas por funcionários ou empregados, o auditor deve constatar que o sistema funciona realmente como foi descrito. Isso corrobora com a padronização das atividades da empresa, evitando-se constantes mudanças nos padrões, o que inviabiliza a segurança do controle interno. Conforme Almeida (1996, p. 60): Os testes de observância consistem em o auditor se certificar de que o sistema de controle interno é o que realmente está sendo utilizado. Acontece com frequência que uma empresa tem um excelente sistema de controle interno descrito em seu manual de procedimentos; entretanto, na prática, a situação é totalmente diferente. Neste sentido, Crepaldi (2009, p. 306) assevera que “os testes de observância são os procedimentos empregados pelo auditor a fim de determinar que se cumpram corretamente certos procedimentos de controle interno, estabelecidos pelo sistema da empresa”. Almeida (2010, p. 52) complementa que “o auditor normalmente cumpre esse procedimento mediante a observação da execução dos trabalhos pelos funcionários e da inspeção de documentos e registros contábeis”. 3.1 UTILIZAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS DE AUDITORIA NA AVALIAÇÃO DOS CONTROLES INTERNOS Em relação à avaliação da qualidade dos controles internos, os procedimentos aplicáveis podem ser os seguintes: UNI Quando o auditor decide depositar a sua confiança em um controle é porque acredita que nele há menor risco de erros e problemas e, com isso, pode-se até reduzir a amplitude dos testes de comprovação. Quanto maior o nível de segurança do sistema de controles internos, menor é a quantidade de testes de procedimentos que o auditor realizará. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 168 3.1.1 Aplicação de questionários dirigidos Este procedimento é bastante utilizado no processo de avaliação dos controles internos pelos auditores internos ou externos, sendo basicamente estruturado na forma narrativa ou alternativa. a) Forma narrativa: neste tipo de questionário as perguntas são investigativas: o que, quem, como, por que e quando dos eventos, de modo que a resposta do entrevistado seja uma descrição completa do fato, método ou procedimento utilizado. Exemplo: • Quem é o funcionário responsável pela assinatura das autorizações de pagamento? • Quais são os documentos utilizados para validar os procedimentos das assinaturas? • Em que momento são realizadas as autorizações dos pagamentos? As principais vantagens são a possibilidade de melhor conhecer o que é feito, por quem e quando, e também pelo fato de ser preenchido pelo próprio funcionário executor do serviço sob controle. No entanto, as principais desvantagens estão no tempo de preparação do questionário e no fato de serem elaboradas com perguntas abertas, que não permitem uma visão sequencial e completa do sistema de controle interno. O entrevistado dará respostas com várias informações diferentes ao mesmo tempo, ficando demasiadamente dependente do conhecimento do entrevistador em elaborar um fluxograma com todos os procedimentos da respectiva área entrevistada. Além disso, a forma narrativa exige bons conhecimentos da técnica de entrevista e excelente capacidade de análise e síntese por parte do examinador. Desta forma, se não for bem direcionada a entrevista, pode apresentar riscos de omissões nas respostas. b) Forma alternativa: este tipo de questionário é estruturado para que as respostas dos entrevistados sejam sim, não ou não aplicável. Neste caso, as perguntas devem ser estruturadas de tal maneira que possam evidenciar a ineficiência e insuficiência do controle através de uma sequência de respostas idênticas. Exemplos de perguntas organizadas para descobrir a falha de controle mediante respostas positivas são os seguintes: TÓPICO 2 | CONTROLES INTERNOS 169 • A pessoa que emite os cheques bancários também reconcilia as contas bancárias? • O encarregado do almoxarifado preenche requisições de saída de mercadorias? • As procurações outorgadas ao funcionário sob exame são de poder ilimitado? • Os cheques são assinados por uma única pessoa? Exemplos de resposta negativa indicadora de falha de controle interno são os seguintes, conforme Lauer (2011): • Os recebimentos da empresa são totalmente efetuados através de cobrança bancária? Se não, estes são corretamente controlados e depositados a fim de resguardar os recursos da empresa e, ao mesmo tempo, aplicados ou direcionados a operações produtivas? • A empresa possui operações com muitos bancos? Se possuir, a possibilidade de centralizar tais operações em um único banco já foi avaliada, no sentido de aumentar a reciprocidade e, consequentemente, o poder de negociação junto a este? • No processo de decisão de investimentos, a empresa efetua avaliações de retorno antes de começá-los? Como são documentadas estas decisões? Quais são os recursos utilizados normalmente para financiar estes projetos (a empresa nunca poderá usar recursos de seu capital de giro para estes projetos)? Após a decisão de realizar o projeto, os gastos são acompanhados para que não excedam os orçamentos? As vantagens da aplicação deste tipo de questionário estão na possibilidade de a resposta, negativa ou positiva, indicar de imediato se há uma falha ou insuficiência dos controles internos. Também o preenchimento do questionário não exige tanta demanda de tempo e a condução da entrevista não exige tanta habilidade do entrevistador, podendo ser aplicado por vários examinadores ao mesmo tempo em diferentes setores da empresa ou, até mesmo, ser respondido sem a assistência do entrevistador. Referente às desvantagens, as principais são a falta de uma visão integral do sistema examinado e um elevado risco de omissões na sua elaboração por causa da necessidade de amplo conhecimento da estrutura de controle interno. 3.1.2 Montagem de planilhas de controle As planilhas são uma forma bastante simplificada de levantar e analisar aspectos específicos da estrutura de controleinterno, tais como a segregação de funções e a tempestividade das ações e do processo decisório da empresa, podendo se configurar em tabelas, quadros, gráficos, dentre outras formas ilustrativas de demonstração de dados. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 170 Em sua elaboração, podem ser alimentadas de dados pelo próprio funcionário executor dos trabalhos, pelos encarregados de serviço ou pelo examinador, pois não exigem amplo conhecimento de controles internos para serem formuladas, sendo de fácil preenchimento e análise. A sua utilização é prática e dinâmica, levando o usuário direto à análise dos pontos críticos apresentados. Os dados podem ser extraídos de suas fontes ou dos sistemas informatizados da empresa, envolvendo períodos curtos ou longos, ou momentos específicos, incluindo apurações de situações complexas em curto espaço de tempo. Permite avaliar os dados de várias atividades ou áreas simultaneamente de acordo com fatos, atos, cifras, quantidades, dentre outras formas. Demonstramos a seguir duas formas de planilhas de controles: a) Planilha de Segregações de Funções Fornece indicação das pessoas e suas atribuições de responsabilidades pelas funções especiais de operação. A finalidade é identificar de imediato se há pessoas com acúmulo de funções, podendo abranger todas as áreas de atuação da empresa que requerem cuidado com as segregações de funções. No quadro a seguir observamos uma demonstração simples e prática que compreende nomes de responsáveis, atividades executadas e funções definidas. Assim, sua interpretação fica facilitada, tanto como ferramenta de avaliação da estrutura informal da em presa como de verificação junto à estrutura formal definida nas diretrizes básicas ou nos organogramas. QUADRO 9 – SEGREGAÇÃO DE FUNÇÕES Executor por Função Atividade Autorização Registro Custódia Receber ou Entregar Controle ou Conferência Classificação Situação Dinheiro Recebimento Alfredo Alfredo José José José Alfredo Inaceitável Recebimento Alfredo Otávio José José Joaquim Afonso Aceitável FONTE: Krieck (2011) A situação do Quadro 1 não contempla as pequenas empresas, nas quais a segregação de funções apresenta limitação pelo reduzido número de pessoal administrativo, pois é comum que em empresas de pequeno porte muitas funções são realizadas pelas mesmas pessoas. b) Planilhas de Tempos As planilhas de tempos servem para verificar em total, lotes ou individual- mente, a tempestividade das operações realizadas com base no cronograma estabelecido ou no próprio conceito de eficiência esperado. TÓPICO 2 | CONTROLES INTERNOS 171 QUADRO 10 – TEMPOS DE EXECUÇÃO DAS ATIVIDADES Controles/Datas Atividades/Ações Autorização Efetivação do Lançamento ou Registro Fechamento do mês em operação Expedição Conferência Situação Data Progra- mada Data Efetiva Data Progra- mada Data Efetiva Data Progra- mada Data Efetiva Data Progra- mada Data Efetiva Data Progra- mada Data Efetiva Contabilização da Operação Venda 10/08 11/08 10/08 13/08 11/08 18/08 11/08 11/08 Inaceitá- vel Cobranças 11/08 18/08 Inaceitá- vel Pagamentos Recebimento de mercadorias/bens Faturamento da venda Compras Financiamento obtido Itens para análise FONTE: Krieck (2011) Quando são identificados desvios neste quadro, indicam descumprimento no cronograma de atividades e podem comprometer a eficiência no processo operacional ou decisório. Também focalizam situações que podem comprometer financeiramente a empresa, além de colocar em risco a imagem da empresa pela falta do cumprimento dos prazos ou datas das atividades. 3.1.3 Fluxogramação dos procedimentos das atividades Na revisão do controle interno é importante preparar um fluxograma para identificar os passos da entrada da mercadoria no estoque desde o ato da compra, envolvendo os processos industriais, até o ato da venda. Os principais pontos de um fluxograma devem considerar: a) produtos e processos de fabricação; b) controle sobre quantidades físicas; c) controle sobre custos; e d) determinação de estoques obsoletos. A seguir apresentaremos na Figura 1 (FLUXOGRAMA DE CONTAS A PAGAR) um fluxograma dos passos necessários do auditor para consolidar os programas de auditoria das contas do passivo. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 172 FIGURA 35 – FLUXOGRAMA DE CONTAS A PAGAR FONTE: Krieck (2011, p. 55) De acordo com o fluxograma, podemos observar alguns procedimentos que o auditor deve realizar na verificação do exame dos dados que lhe permite revelar a existência ou não de itens registrados na contabilidade. Na auditoria das contas dos passivos, devemos examinar as principais contas: • Empréstimos e financiamentos. • Fornecedores. • Debêntures. • Obrigações tributárias. • Salários e encargos sociais. • Contas e encargos a pagar. • Provisões. Além da fluxogramação dos procedimentos das atividades, o auditor deve realizar alguns tipos de levantamentos físicos. Conforme Krieck (2011), as observações do levantamento físico representam um procedimento de auditoria importante na verificação das quantidades dos estoques. O auditor não é responsável pela contagem ou supervisão do levantamento físico do estoque, a responsabilidade está na direção da empresa, bem como pela avaliação e cômputo do inventário. Para Krieck (2011), os testes de contagem do estoque são feitos com o propósito primordial de verificar a exatidão e a aceitação dos procedimentos Examinar desembolsos de Caixa e Bancos posteriores no encerramento do exercício O desembolso de Caixa e Bancos foi para pagamento de obrigação no encerramento do exercício? A obrigação foi registrada no encerramento do exercício? Constitui obrigação não registrada. Mencionar o item e continuar a pesquisa Passar para o item seguinte e prosseguir a pesquisa Passar para o item seguinte e continuar a pesquisa Sim Sim Não Não TÓPICO 2 | CONTROLES INTERNOS 173 da empresa para contagem do estoque físico, além de examiná-los. Outro ponto importante num processo de auditoria está nos estoques em poder de terceiros. De modo geral, a conta de estoques está suscetível a fraudes ou erros. Algumas vezes, os resultados da empresa podem ser modificados de forma a não reconhecer o Custo da Mercadoria Vendida (CMV), mantendo-se o valor do custo na conta do estoque (mesmo por ocasião da sua venda), com o intuito de mascarar resultados. 4 A MUDANÇA NOS ENFOQUES DOS CONTROLES GERENCIAIS Atualmente, com as mudanças da sociedade, especialmente na economia, como a globalização, desenvolvimento da área tecnológica, robótica e da informação, o mercado manifestou profundas mudanças. E as empresas precisam se adequar à realidade como forma de sobrevivência. Disto vem a necessidade de análise e revisão dos enfoques adotados e seus controles de monitoramento no campo de atuação gerencial. A tendência é a de que o gerente moderno deve obrigatoriamente exercer uma liderança capaz de considerar os fatores comportamentais, de maneira a provocar, em seus subordinados, atitudes que garantam o melhor desempenho para a empresa. Isso envolve alguns aspectos, tais como: • motivação pessoal e profissional dos envolvidos na empresa; • participação e atitude proativa para melhorar os procedimentos; • mentalidade de custo-benefício para evitar demasiados gastos no sistema de controle interno; • cultura de qualidade com o intuito de padronizar tarefas; • entendimento do conceito de lucro, retorno e manutenção do capital com vias de manutenção da continuidade do negócio; • condições adequadas de trabalho, avaliação e recompensa pelo bom desempenho com o intuito de reconhecer o esforço dos funcionários; e • estímulo erespeito à ética e profissionalismo para garantir a boa imagem da empresa no mercado. 5 O AUDITOR E AS PREVENÇÕES CONTRA FRAUDE A principal função do profissional de auditoria não é atuar na busca de fraudes ou erros. No entanto, não se pode desconsiderar que em algumas situações ainda prevalece a ideia de que a auditoria tem essa finalidade. Na verdade, não se deve esperar que o trabalho do auditor garanta a inexistência de fraudes ou erros. Todavia, a aplicação de técnicas e procedimentos UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 174 de auditoria adequados pode apresentar como resultado a identificação de alguma situação desse tipo. Segundo Franco e Marra (2001, p. 375), “[...] na maioria dos casos, os alcances, desfalques e desvios estão diretamente relacionados com o dinheiro disponível”. Com base em Attie (2010, p. 164), pode-se dizer que “bons controles internos previnem contra fraude e minimizam os riscos de erros e irregularidades, porque, por si só, não bastam para evitá-los”. Conforme Krieck (2011), há dois tipos de fraudes, considerados como: FONTE: Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAABSg0AL/monografia-audito- ria-2010>. Acesso em: 8 jan. 2013. Em geral, as fraudes são cometidas por funcionários que ocupam desde os níveis de cargos mais baixos até os mais altos dentro de uma organização. Segundo o Relatório da Pesquisa 2004 sobre a Fraude no Brasil, desenvolvido pela KPMG, o funcionário fraudador, em sua grande maioria, é homem, tem entre 26 e 40 anos, tem remuneração que varia entre R$ 1.000,00 a R$ 4.000,00 e está há mais de dois anos na empresa. De acordo com este Relatório da KPMG, o Departamento Financeiro e a área de Compras são os mais afetados pelos atos fraudulentos. As formas mais usuais de praticá-los são cheques ou documentos burlados, roubo de ativos da empresa e apresentação de falsas notas de despesas e notas fiscais “frias”. Dentro das organizações existem circunstâncias facilitadoras que propiciam a prática de fraudes. A precariedade do sistema de Controles Internos é uma delas. Assim, um forte e estruturado sistema de controles internos pode ser considerado como uma excelente ferramenta no combate às fraudes, prevenindo, detectando e evitando sua ocorrência. Para Krieck (2011), uma fraude pode ser estimulada quando ocorrem as seguintes situações na empresa: a) Desfalques: que envolvem a malversação de dinheiro ou bens e que são normalmente dissimulados através da falsificação dos registros. b) Falsificação das contas e manipulação fraudulenta: que são feitas para obter benefícios diferentes daqueles relativos aos desfalques, por exemplo, a obtenção de empréstimos bancários com base na apresentação de demonstrações contábeis falsas. TÓPICO 2 | CONTROLES INTERNOS 175 • Pressões econômicas e financeiras: inclusive achatamento salarial, pois, com salários baixos, pode gerar “revoltas” nos funcionários a tal ponto de se apossarem dos bens da empresa. • Expectativas irrealistas de desempenho: significa que, se a empresa estiver com perspectivas baixas no seu desempenho de mercado, o gestor poderia planejar essa baixa perspectiva com o intuito de ganhar bonificação indevida. • Integridade gerencial questionável: em algumas empresas existem gerentes que pregam a moralidade de forma austera, mas, vez por outra, estão envolvidos em ações fraudulentas. O autoritarismo, algumas vezes, sustenta a insegurança desse tipo de gerente ou gestor. • Sistemas de processamento de dados mal desenhados e insuficientemente documentados: também podem sinalizar indícios de “interesses” escusos por parte de algumas pessoas na empresa que não querem que as coisas funcionem. Por que será? • Controles internos fracos: em alguns casos, certos gestores “deixam” o sistema de atividades desandar com o objetivo de enfraquecer os controles internos. E quando são “pegos” com a mão na massa, dizem: Eu não sabia! • Empregados desestimulados: algumas razões do desestímulo estão relacionadas com o alto nível de exigência que as empresas fazem em relação às atividades e com as baixas remunerações. Assim, alguns, no limite do desespero, praticam atos fraudulentos para aumentarem a sua remuneração. • Alta rotatividade de pessoal: esse tipo de problema pode estar relacionado com o estilo de administração da empresa. Estilos autoritários e centralizadores de gestão desestimulam os funcionários, provocando o aumento da rotatividade. Em consequência, em alguns casos, a empresa perde o histórico das operações e do controle interno, pois novos funcionários não sabem o que o anterior fez. • Supervisão inadequada: que, muitas vezes, pode ser gerada pela falta de preparo da equipe. A supervisão pode ser a mais preparada para administrar a empresa, mas se os subordinados também não estiverem preparados tecnicamente, os supervisores não terão condições de executar o melhor de seu trabalho. • Mercado em declínio para os produtos da empresa: isso pode indicar falta de qualidade nos produtos da empresa, que, em alguns casos, é decorrente da compra de matérias-primas de péssima qualidade ao preço de primeira qualidade. Podem existir, neste caso, desvios de recursos da empresa. • Sucessivas faltas nos inventários sem tentativas de determinar as causas: quando há desvios de recursos que geram uma série de ajustes contábeis, significa que pode haver roubos de materiais da empresa. E se esses ajustes se UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 176 tornam cada vez mais constantes, significa que não há interesse de determinadas pessoas em identificar as causas e, nesse caso, talvez estejam envolvidas com estes atos fraudulentos. • Dificuldades trabalhistas pouco usuais: neste caso, pode ocorrer a falta de candidatos no mercado de trabalho, sendo que os profissionais contratados não têm compromisso com o trabalho. Razão disso pode ser a constante falta de controles internos e gestão autoritária para encobrir desfalques por parte de diretores ou gerentes. Afinal, quem iria enfrentar um diretor de uma determinada área? Certamente, os subordinados teriam medo de enfrentar a situação e se espalhariam boatos pelo setor ou departamento desestimulando o trabalho. • Tendências de deterioração na receita: os gestores podem fraudar receitas de vendas majorando os preços com o intuito de desviar os bens físicos da empresa. • Mercados novos não conhecidos: podem provocar situações de fraude de informações contábeis, pois tudo o que é novo gera investimentos e talvez alguns sejam desnecessários. • Grande número de ajustes contábeis no fechamento do exercício: denota uma série de falta de controles internos e, por consequência, desvios de recursos da empresa. • Litígios relevantes: quando há excessos de ações de indenização contra a empresa, significa que há materiais com falta de qualidade. E isso pode significar desvios de recursos financeiros a partir da compra de materiais de péssima qualidade com gastos equivalentes à aquisição de matéria-prima de primeira qualidade. • Aumento das reclamações dos clientes: corrobora com o item anterior, quando há a falta da qualidade dos produtos. • Conciliações contábeis não preparadas em tempo hábil: pode indicar a existência de cheques ou outros pagamentos ilícitos e que “se perdem” na conciliação. • Documentação perdida referente a transações e/ou ajustes contábeis: pode acontecer quando alguém envolvido no processo da fraude deseja ocultar evidências. É importante estabelecer determinados procedimentos em eventuais casos de suspeita de fraude. Como medida de segurança, deve-se encaminhar recomendações específicas à gerência sobre a quem informar e quais medidas tomar. Toda fraude detectada deve ser investigada para averiguar se medidas preventivas foram tomadas para evitar a sua reincidência. TÓPICO2 | CONTROLES INTERNOS 177 A rotina do trabalho de auditoria deve permitir que todos os sinais de alerta de erros ou fraudes sejam investigados. Neste caso, deve identificar as áreas de risco e acompanhar os controles estabelecidos para providenciar uma cobertura adequada. Além das investigações e constatações nos exames de atividades fraudulentas, também é papel do auditor fazer recomendações para fortalecer controles e reduzir as possibilidades de perdas. Nas investigações, é importante que se diga que o indício não constitui prova, mas pode levar a conclusões de fraude ou erro. A metodologia para apurar alguns indícios de fraudes é a de partir de modelos, de parâmetros básicos. Exemplos: saldo credor de caixa pode evidenciar a falta de entradas de recursos das vendas; vendas por valores inferiores aos praticados no mercado podem corresponder a fraudes tributárias com o intuito de emitir “meia-nota” e conceder um generoso desconto ao cliente; pagamento de produção pelo equivalente a dez horas quando a duração normal seria de apenas uma hora, por exemplo, o custo da hora onera uma licitação de obra pública. O exame para a detecção de possíveis fraudes deve obedecer a uma ordem, como o exemplo a seguir: • a análise dos elementos que podem caracterizar a fraude; • a composição dos modelos que caracterizam as fraudes, ou seja, de que forma se faz a fraude; • o teste da realidade com o modelo de controle interno deve ser testado pelo auditor para apurar se há indício de fraudes ou não; DICAS Para aprofundar seus conhecimentos sobre a importância da auditoria, especialmente situações de fraudes e suas consequências, ocorridas em empresas, sugerimos o filme: Enron: Os Mais Espertos da Sala. Trata-se de um documentário sobre o escândalo da empresa Enron, considerada a sétima maior companhia dos EUA, em que alguns de seus principais executivos fraudaram bilhões de dólares da empresa. FONTE: Disponível em: <http://www.interfilmes.com/filme_16173_ enron.os.mais.espertos.da.sala.html>. Acesso em: 6 jun. 2011. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 178 • a obtenção do indício da fraude, pois em algum momento é possível identificar se a empresa comete algum tipo de fraude e gera desvios de recursos da empresa; • a partida para a busca das provas indiretas pode ser realizada pelo cruzamento das informações externas à empresa com a confirmação dos saldos de fornecedores ou clientes, podendo inclusive obter indícios de fraudes com uma simples “conversa de bastidores”. A prova indireta se diferencia do indício, porque passa a confirmar parte de uma suposição da qual é elemento direto. A prova indireta pode ser obtida pelo cruzamento de informações externas à empresa com os dados internos da empresa. O indício conduz à comprovação. Se para o indício construímos modelos, para a prova indireta buscamos o suprimento teórico com fatos concretos correlatos, complementares, suplementares, análogos ou paralelos. Na prova indireta é preciso comprovar o principal para que se admita o acessório. No indício não se busca, ainda, a prova, mas caminhos, esta é a diferença. E em alguns casos os caminhos podem levar a suposições que confirmem a fraude existente na empresa. Um sistema eficaz de controles internos e monitoramento é a melhor forma para prevenir problemas. A administração é responsável por estabelecer medidas que evitem a ocorrência de fraudes, porém o auditor pode desempenhar um papel preventivo e contribuir com a gerência nesta tarefa executando atividades como: avaliar os controles internos, testando o seu correto funcionamento, encaminhar para a administração todas as irregularidades encontradas e recomendar procedimentos e ações para a melhoria dos controles internos, procedimentos contábeis e rotinas da empresa. 6 CONTROLE INTERNO EM PROCESSAMENTO DE DADOS O controle interno continua existindo com o uso dos processamentos por sistemas de informações, mas devido à realidade de cada empresa, esses sistemas são configurados de acordo com cada realidade. Em um ambiente de processamento de dados devem ser observados alguns aspectos que necessitam de especial atenção. A avaliação dos controles internos em sistemas informatizados carece de alguns cuidados. Conforme Floriani (2011), como: a) Tendência de redução do volume de papéis e de documentos nas operações realizadas. Como muitas informações permanecem no sistema, reduz-se a TÓPICO 2 | CONTROLES INTERNOS 179 quantidade de circularização do papel, e, em contrapartida, deve haver um bom sistema de cópias do sistema para evitar a perda de dados. b) Os arquivos e registros necessitam de equipamentos de computação para serem lidos. E isso pode ser um problema quando a empresa troca os sistemas por outros e não mantém um sistema “beta-teste” para que sejam lidas as informações do sistema anterior. Assim podem se perder dados relevantes. c) Há maior risco de vulnerabilidade por erro humano, manipulação não autorizada, inúmeros usuários e acessos. Isso somente pode ser evitado se forem colocados bloqueios de acesso a rotinas que determinados funcionários não estão autorizados a operar. d) Concentração de vários locais em um só sistema operacional e/ou equipamento, reduzindo-se, com isso, a segregação de funções, com possibilidades de alterações não autorizadas. Isso somente será possível se a empresa distribuir os acessos das rotinas em diversas áreas da empresa e se demais profissionais estiverem preparados para operar o sistema. e) Necessidades de conhecimentos adicionais para avaliar controles internos em ambientes e processamentos de dados, tanto de software quanto de hardware. Cada novo sistema envolve novas tecnologias e os profissionais devem estar preparados para lidar com essas mudanças tecnológicas. f) Maior dificuldade pela sua complexidade e maior ônus para efetuar alterações nos sistemas de processamento eletrônico de dados (o sistema manual é mais simples e barato). Por ser manual, pode gerar oportunidades de desvios de recursos. g) Possibilidade de oferecer maior coerência porque os sistemas informatizados sujeitam todas as transações uniformemente aos mesmos controles internos. Os sistemas integrados de gestão, embora gerem todos os resultados em um conjunto de informações, cada departamento ou área da empresa é responsável pela manutenção das suas informações. Segundo Floriani (2011), para que os controles internos sejam bem avaliados na área de processamento de dados, é necessário atender alguns objetivos, como seguem: a) Natureza organizacional: controle gerencial eficaz no controle do acesso e utilização dos recursos de informática de forma correta e idônea. Promover a eficácia na concentração de funções e responsabilidades dos usuários do sistema, para que os mesmos estejam bem preparados. b) Desenvolvimento do projeto do sistema de informática: deve haver a garantia de controle eficaz do projeto, desenvolvimento, implantação e manutenção dos sistemas computadorizados. A empresa necessita conhecer como o sistema foi UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 180 desenvolvido para entender sua operacionalização e promover o treinamento do pessoal em caso de necessidade de adequação do sistema. c) Operação: completabilidade e correção dos dados processados; segurança física dos programas, equipamentos e dos arquivos; backup, plano de recuperação de dados eficiente e testes contínuos. Esses são alguns dos itens que devem ser observados para garantir o bom funcionamento do sistema na empresa e evitar a perda das informações. d) Documentação: a alta administração é responsável pela guarda da documentação dos sistemas, dos programas e instruções oriundos dos mesmos; pelo bom funcionamento do sistema e pela qualidade dos controles internos no tocante aos sistemas de operaçõesespecíficos. Aos usuários de cada departamento cabe a responsabilidade operacional pela exatidão das operações realizadas. e) Processamento das informações: essa etapa envolve o recebimento de entradas das informações, o seu processamento de acordo com todas as rotinas previstas no fluxograma do sistema e a liberação das informações devidamente processadas aos usuários, assegurando a sua completabilidade, exatidão, autorização, existência e adequação para que sejam realizadas as trilhas de auditoria. f) Sistemas integrados: os sistemas integrados de gestão necessitam de cuidados específicos, e destacamos as seguintes necessidades para que ocorra o sucesso no projeto de implantação: − Ter apoio e envolvimento total dos mais altos níveis da administração, pois esses são responsáveis pela documentação e guarda do sistema de informação. − Existir um programa de treinamento intensivo oferecido aos usuários, para que se promova o desenvolvimento da capacidade profissional dos usuários e que atuem de forma ética na empresa. − Padronizar os métodos e processos gerenciais de controles de estoques, compras, vendas, com o intuito de harmonizar/padronizar as informações e gerar os relatórios contábeis. − Verificar a infraestrutura tecnológica para que seja atualizada e, assim, comportar as novas exigências para o processamento do sistema. − Ter capacidade de ler os dados e medidas do antigo sistema, para haver consistência e continuidade no processamento das operações, sem que ocorram perdas de dados durante a existência das operações da empresa. − Acompanhar a implantação do sistema operacional por auditoria ou consultoria especializada, para que sejam identificadas possíveis falhas e sejam procedidas as devidas correções. TÓPICO 2 | CONTROLES INTERNOS 181 − Limitar o acesso ao pessoal autorizado a operar as transações (exemplo: utilizar senhas e bloqueios a determinadas funções para evitar possíveis fraudes em sistemas); 6.1 SEGURANÇA DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÕES Considerando a natureza das informações dos sistemas informatizados e os riscos inerentes, é preciso adotar controles de segurança, pois é necessário que a política da empresa seja a de delegar a cada gerente a responsabilidade de assegurar que informações sensitivas sejam tratadas confidencialmente, que os recursos de sistemas estejam disponíveis ao pessoal autorizado, e que as informações sejam utilizadas para manter os negócios da empresa. Faz-se necessário ressaltar que os recursos de informática e os sistemas de informações da empresa deverão ser protegidos de acordo com o seu nível de confidencialidade. Segundo Krieck (2011), como parte da responsabilidade da segurança de sistemas, incluem-se: a) plano de recuperação de acidentes, em caso de desastres; b) soluções e consultorias de segurança de sistemas; c) políticas e procedimentos de segurança de sistemas; d) programa de avaliação e prevenção de riscos associados. O manual de segurança dos sistemas informatizados deve ser elaborado de forma eletrônica nos servidores da empresa, para que seja devidamente atualizado de forma rápida e que esteja disponível para rápido acesso aos usuários. O programa de segurança dos sistemas de informações da companhia deve ser administrado de modo a oferecer soluções por um custo razoável, sempre em busca das metas estabelecidas pela missão do departamento. Isso pressupõe algumas responsabilidades, conforme Krieck (2011), a saber: a) manter atualizado o manual; b) desenvolver um programa de prevenção de riscos; c) coordenar a seleção e implantação de estratégias-padrão de segurança de dados, assim como métodos e soluções de controles sobre todos os sistemas de processamentos de informações; d) coordenar a classificação das informações e implantar programas de avaliação de riscos; UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 182 e) treinar as pessoas responsáveis pela segurança de sistemas em cada localidade; f) coordenar a investigação de eventuais violações de controles de segurança; e g) reportar quaisquer ocorrências, resultados e ação corretiva à administração. Prosseguindo na visão de Krieck (2011), cada departamento ou filial também terá responsabilidades que ficarão a cargo de seus gerentes, tais como: a) identificar e assegurar a devida proteção de informações sensitivas e confidenciais; b) distribuir os procedimentos, regras de segurança e certificar-se de seu seguimento; c) certificar-se de que haja razoável segregação de funções nos sistemas de processamentos eletrônicos de informações; d) certificar-se de que a implantação e a administração da segurança dos sistemas de informações estejam sendo efetuadas de maneira eficiente e responsável; e) preparar um relatório anual que reflita o estado dos procedimentos e controles de segurança em sua área. Krieck (2011) também destaca algumas responsabilidades dos usuários: a) Escolha de senhas e mantê-las na sua confidencialidade. b) Leitura e cumprimento de regras, procedimentos e políticas relacionadas com a segurança de sistemas. c) Assinatura formal de compromisso de confidencialidade em relação ao acesso e uso de informações e recursos dos sistemas de processamento eletrônico de informações. d) Cientificar a administração sobre quaisquer tentativas de violação das normas e controles de segurança. e) Obter aprovação da gerência para o uso de quaisquer softwares de propriedade pessoal nas dependências da empresa. f) Manter e respeitar a confidencialidade de informações. g) Usar os recursos e as informações de maneira profissional e somente para promover o bom curso dos negócios. h) Revisar e verificar quaisquer mensagens eletrônicas de aviso quando do acesso aos sistemas. TÓPICO 2 | CONTROLES INTERNOS 183 Os sistemas de processamento eletrônico de informações deverão manter restritos controles de entradas, os quais deverão ser projetados a fim de estabelecer responsabilidades individuais para cada pessoa usuária do sistema. Ainda segundo Krieck (2011), como controles mínimos destacam-se: a) Identificação do usuário: por meio de código. b) Administração de identificação: de responsabilidade do gerente quanto à documentação e o cumprimento dos procedimentos sobre aprovação de acesso. c) Senhas: seguras e confidenciais, trocando-as quando desconfiar o usuário que outras pessoas também a conhecem. Os administradores de segurança de sistemas deverão revisar diariamente o acesso aos seus sistemas e informações. Para Krieck (2011), deverão ser analisados os seguintes eventos: a) falhas e tentativas negadas de acesso aos sistemas; b) falhas e tentativas negadas de senhas de acesso aos sistemas, para cada usuário; c) falhas e tentativas negadas de acesso aos sistemas por classe de função e de grupos; d) resultado das auditorias efetuadas sobre os recursos dos sistemas e seus usuários. ● Os controles adicionais de segurança referem-se a um grau maior de proteção e segurança dos recursos, cujos padrões a serem seguidos são os seguintes: a) identificação e classificação de informações confidenciais e críticas; b) implantação dos controles máximos de segurança; c) avaliação dos riscos associados a essas informações, especificação e implantação de controles adicionais. (FLORIANI, 2011): ● Os sistemas de backups são estabelecidos de duas formas: a) Off-line: cópias em meio magnético (CD, fitas, disquete) mantidas em lugares diversos que não o do sistema central. b) On-line: cópias feitas e mantidas automaticamente em rede, em outras máquinas e lugares que não o do sistema central. UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 184 ● Quanto à segurança física, devem-se observar os seguintes cuidados: a) Instalar e operar os sistemas de processamento de dados em salas com controle de ambiente,segurança e acesso, sendo que o custo e a natureza dos controles de segurança serão proporcionais ao valor do sistema e informações em questão. b) Manter as chaves e equipamentos de direcionamento de comunicações em salas ou gabinetes com proteção de acesso. c) Identificar os funcionários dos serviços de manutenção e de limpeza. d) Instalar equipamentos de incêndio e testá-los uma vez por ano. ● Quanto à segurança de comunicações, deve-se: a) Na entrada do sistema, em primeiro lugar. b) Proteger o acesso por linhas telefônicas. c) Codificação (criptografia) das informações nas redes de comunicação. ● Os usuários de microcomputadores são responsáveis e devem adotar as seguintes normas: a) Boas práticas de manutenção básica e limpeza para prevenir acidentes. b) Todos os programas devem ser legais. c) Evitar o uso, na empresa, de programas pessoais. d) Adotar procedimentos adequados contra vírus. e) Manter backups do sistema (cada usuário). Esses backups devem prever a recuperação adequada de informações em caso de acidentes. f) Aplicar o reforço de controles de segurança pessoal em todas as máquinas. g) O gerente deve fazer avaliações para determinar a necessidade de controles adicionais. h) Instituir controle de acesso para os equipamentos usados em conjunto por várias pessoas. i) Trancar os micros ao final do expediente. 185 RESUMO DO TÓPICO 2 Chegamos ao final do Tópico 1. Faremos uma revisão do que estudamos até agora. • Existem alguns elementos básicos fundamentais para um bom sistema de controle interno, que são: organograma adequado, segregação de funções, políticas e procedimentos claramente definidos, funcionários com grau de qualificação e habilidades compatíveis com o cargo que ocupam, garantia de que as normas estabelecidas e procedimentos determinados estão sendo bem executados e perfeito conhecimento da importância dos controles. • Deve-se também atentar para as diferenças entre o controle interno contábil e o administrativo. • O Controle Interno Contábil tem relação com a proteção do patrimônio e dos recursos financeiros da empresa. O Controle Interno Administrativo tem relação com a política dos negócios da empresa e está caracterizado pelos objetivos e missão da empresa, que devem ser medidos de acordo com a eficiência das operações e com a própria política de negócios. • O controle interno deve passar por uma revisão periódica, com o propósito de avaliar o cumprimento do que foi determinado e, para isso, há três etapas a serem seguidas: levantamento geral do sistema, avaliação propriamente dita do sistema e testes de observância (cumprimento). • Para a avaliação da qualidade dos controles internos, os procedimentos aplicáveis podem ser a aplicação de questionários dirigidos, a montagem de planilhas de controle e a fluxogramação dos procedimentos das atividades. • As empresas precisam se adequar à realidade como forma de sobrevivência. Disto vem a necessidade de análise e revisão dos enfoques adotados e seus controles de monitoramento no campo de atuação gerencial. A tendência é de que o gerente moderno deve obrigatoriamente exercer uma liderança capaz 186 de considerar os fatores comportamentais, de maneira a provocar, em seus subordinados, atitudes que garantam o melhor desempenho para a empresa. • Há dois tipos de fraudes: os desfalques e a falsificação das contas e manipulação fraudulenta (KRIECK, 2011). • A rotina do trabalho de auditoria deve permitir que todos os sinais de alerta de erros ou fraudes sejam investigados. Neste caso, deve identificar as áreas de risco e acompanhar os controles estabelecidos para providenciar uma cobertura adequada. Além das investigações e constatações nos exames de atividades fraudulentas, também é papel do auditor fazer recomendações para fortalecer controles e reduzir as possibilidades de perdas. • Faz-se necessário ressaltar que os recursos de informática e os sistemas de informações da empresa deverão ser protegidos de acordo com o seu nível de confidencialidade. 187 AUTOATIVIDADE 1 Complete as lacunas a seguir: A empresa auditada necessita implantar controles internos para que o auditor possa emitir sua opinião sobre a sua segurança. Desta forma, há objetivos que os controles internos necessitam atender. E um dos objetivos principais do controle interno é ________________ a ___________________ do fluxo de informações e das várias fases do _________________________. Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) garantir – confiabilidade processo decisório. b) ( ) fornecer – razoabilidade processo decisório. c) ( ) estabelecer garantia processo decisório. d) ( ) promover liquidação processo decisório. 2 Um bom sistema de controle interno deve corroborar com um bom sistema contábil, assim é possível que o auditor possa emitir opiniões baseadas nos procedimentos administrativos e que tenham respaldo nos registros contábeis. Desta forma, os sistemas contábeis e de controles precisam estar alinhados. Complete as lacunas a seguir: Verifique a seguinte situação: Um sistema de contabilidade apoiado em um __________________ ineficiente acaba se tornando __________________, pois não é possível confiar nas informações contidas nos seus relatórios, considerando que distorções na informação podem levar a conclusões _________________ e danosas para a empresa. Como base nestas informações, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) registro – errôneo acertadas. b) ( ) controle interno – eficaz equivocadas. c) ( ) Sistema contábil – útil óbvias. d) ( ) controle interno – inútil errôneas. 188 3 As boas práticas de gestão de negócios das empresas são pautadas de acordo com a política de negócios da empresa. Complete as lacunas da sentença a seguir: __________________________ tem relação com a política dos negócios da empresa, ou seja, com as boas práticas de gestão, e está caracterizado pelos objetivos e missão da empresa, que devem ser medidos de acordo com a eficiência das operações e com a própria política de negócios. Como base nestas informações, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O Controle dos Registros Contábeis e Patrimoniais. b) ( ) O relatório da Auditoria. c) ( ) O Controle Interno Administrativo. d) ( ) O Relatório de Gestão Empresarial. 4 No processo da Avaliação do Controle Interno, o auditor necessita efetuar o levantamento geral do sistema. Identifique a seguir a opção que se relaciona com o objetivo dessa etapa. Complete as lacunas da sentença a seguir: Nesta primeira etapa o objetivo é obter ____________________ sobre o funcionamento do sistema, mediante contato com as pessoas responsáveis pelo ___________________ e pela fluxogramação. Em geral, as confirmações são mais completas quando provêm de um nível de ______________________, geralmente acima do superior imediato do funcionário encarregado do procedimento de controle. Como base nestas informações, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Informações - controle - supervisão. b) ( ) relatórios – sistema - supervisão. c) ( ) informações – sistema - cargos operacionais. d) ( ) dados – controle - cargos operacionais. 5 Em algumas situações podem ocorrer fraudes nas empresas com o objetivo de lesar o erário da sociedade. Com base nessa informação, analise a seguinte frase. Envolve a malversação de dinheiro ou bens e que são normalmente dissimulados através da falsificação dos registros. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Compensação de cheques nominais. b) ( ) Registros legais. 189 c) ( ) Desfalques. d) ( ) Transferência de recursos com emissão de nota fiscal. 6 Um bom trabalho de auditoria envolve a avaliação dos sistemas informatizados da empresa. Com base nesta informação, reflita sobrea afirmativa a seguir. Necessitam de cuidados específicos e destacam-se as seguintes necessidades para que ocorra o sucesso no projeto de implantação. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Sistemas de estoques. b) ( ) Sistemas de custos. c) ( ) Sistemas de pagamentos e recebimentos. d) ( ) Sistemas integrados de gestão. 190 191 TÓPICO 3 GOVERNANÇA CORPORATIVA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Presenciamos, nas últimas décadas, escândalos de fraudes contábeis ocorridos em empresas americanas, como, por exemplo, a do setor elétrico, na empresa Enron, que arrastou consigo a empresa Arthur Andersen, uma das maiores no ramo de auditoria do mundo, acusada de corrupção e obstrução da justiça, por destruir seus papéis de trabalho, cujos documentos evidenciavam as fraudes da empresa Enron, ou como a WordCom, que contabilizou dolosamente cerca de US$ 3,8 bilhões em despesas, transformando-se em um dos maiores casos de fraude contábil da história do país. Casos como esses levantaram discussões no meio empresarial sobre como criar formas de proteção aos investidores de ações contra alguns empresários sem escrúpulos, que forjam as demonstrações contábeis, inflando os balanços e apresentando resultados irreais em relação à situação econômica e financeira da empresa. Um dos temas mais relevantes em discussão tem sido a governança corporativa, que trata da proteção dos interesses dos acionistas minoritários, que tem despertado o interesse tanto no Brasil como em diversos outros países. Tal fato verifica-se pelas iniciativas feitas pela Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA), ao criar os diferentes níveis de governança corporativa para as sociedades anônimas de capital aberto. Neste tópico, serão abordados o conceito de governança corporativa e a responsabilidade da controladoria em gerar informações que possibilitem aos investidores avaliar com clareza e transparência o desempenho futuro, quanto à evolução econômica, financeira e patrimonial da empresa. 192 UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS 2 CONCEITO DE ACCOUNTABILITY E SUA RELAÇÃO COM A CONTROLADORIA As relações de poder, desde antigamente, sempre estiveram presentes nos seres humanos, pois eles se sentem naturalmente mais seguros quando têm mais poder. A interação do sistema-empresa pressupõe uma dinâmica das relações sociais e políticas (subsistema social), em que haverá uma relação de poder. Autoridade e responsabilidade são conceitos básicos da administração, que são aproveitados dessa área do conhecimento e utilizados pela controladoria para explicar os fenômenos que ocorrem na contabilidade quanto ao reporte das informações relativas ao desempenho de cada área de responsabilidade. Em qualquer empresa sempre existirá uma estrutura organizacional e dessa sempre existirá uma relação em que de um lado haverá uma delegação de poder (autoridade) e do outro a geração da responsabilidade, formando, em todos os níveis da estrutura, a cadeia de accountability. Por isso, concorda-se com Nakagawa (1994, p. 19), quando esse explica que: “Accountability é a obrigação de se prestar contas dos resultados obtidos, em função das responsabilidades que decorrem de uma delegação de poder”. O processo que inicia a cadeia de accountability pode ser observado no quadro a seguir: IMPORTANT E Autoridade refere-se ao poder instituído pela posição ocupada em uma estrutura organizacional, que lhe confere o direito de tomar decisões e ordenar seu cumprimento face sua relação de poder. Enquanto que a responsabilidade se refere ao dever de cumprir o que foi estabelecido em prol de obter determinados resultados, em condições preestabelecidas ou previstas em normas, políticas e procedimentos da empresa. QUADRO 11 – RESPONSABILIDADE E AUTORIDADE Agente Assume a responsabilidade de Delega a autoridade Acionista majoritário Eleger o conselho de adminis- tração da entidade. Ao conselho de administração, para administrar o negócio e nomear a diretoria da entidade. TÓPICO 3 | GOVERNANÇA CORPORATIVA 193 FONTE: Perez Júnior; Pestana; Franco (1995, p. 33) Observe que os investidores (acionistas majoritários) elegem os representantes do conselho de administração, que os representarão e terão como atribuição definir as orientações estratégicas da empresa e garantir o retorno dos investimentos aplicados. O conselho de administração fará então a nomeação dos diretores executivos, que farão a administração do negócio, que, por sua vez, contratarão sua equipe de gerentes para gerenciar as atividades. Esses também farão a contratação dos seus supervisores e assistentes para executar as atividades determinadas na função em que foram contratados, conforme pode ser melhor visualizado na figura a seguir: FIGURA 36 – CADEIA DE ACCOUNTABILITY FONTE: O autor Conselho de Administração Gerir o negócio e nomear a dire- toria da entidade. À diretoria da entidade, para dirigir as atividades do negócio e contratar a gerência. Diretoria Dirigir o negócio e contratar a gerência. À gerência, para gerenciar o negócio e contratar os supervisores e assistentes. Gerência Gerenciar as atividades do negócio e contratar supervisores e assistentes. Aos supervisores e assistentes, para executar as operações do negócio. Supervisores e assistentes Executar as operações do negócio. _____________ 194 UNIDADE 2 | CONTROLES INTERNOS O que se espera em um processo de accountability é que esse reflita em uma gestão eficaz e eficiente da empresa, na execução de seus processos, de forma sinérgica ao alcance dos objetivos e missão da empresa. Dessa forma, tem- se alinhado a expectativa de todos os níveis da estrutura com a expectativa dos acionistas da empresa. Segundo Nakagawa (1994, p. 18): A responsabilidade (accountability), como se vê, corresponde sempre à obrigação de executar algo, que decorre da autoridade delegada e ela só se quita com a prestação de contas dos resultados alcançados e mensurados pela contabilidade. A autoridade é a base fundamental da delegação e a responsabilidade corresponde ao compromisso e obrigação de a pessoa escolhida desempenhá-la eficiente e eficazmente. Portanto, a essência da responsabilidade é a obrigação pela execução das atividades e prestação de contas dos resultados obtidos. A autoridade pode ser delegada, mas a responsabilidade não. Vamos exemplificar a situação! Imagine que uma empresa delegue autoridade a um gerente financeiro para que efetue negociações de prazos e valores com fornecedores das compras de materiais. O gerente, confiando em sua equipe, delega autoridade a um de seus funcionários, que se deixa corromper durante a negociação e gera prejuízos financeiros para a empresa. - Você acha que a responsabilidade é do funcionário ou do gerente? A resposta é obvia, a empresa delegou autoridade ao gerente e esse deve responder por seus atos de descuido em relação à delegação de autoridade à pessoa que causou o prejuízo à empresa. Não que o funcionário não seja também responsável, por isso, nesse caso, devem ser tomadas as devidas sanções administrativas, mas o importante é saber que mesmo que o gerente delegue autoridade, ele continua sendo corresponsável. No quadro a seguir, observa-se a responsabilidade de cada agente e quais os resultados do seu desempenho, que são reportados ao nível superior do qual recebeu autoridade delegada. IMPORTANT E A pessoa que delega autoridade a outra, acaba se tornando corresponsável pelos atos da pessoa escolhida. Por isso, é importante saber que a responsabilidade nunca poderá ser transferida, mas somente compartilhada. Portanto, pense nisto, e somente delegue algo de sua responsabilidade após uma análise muito criteriosa. TÓPICO 3 | GOVERNANÇA CORPORATIVA 195 QUADRO 12 – PRESTAÇÃO DE CONTAS