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Gestão de Crédito Análise Financeira para Apuração de Risco de Crédito Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Iraci de Oliveira Motta Rapp Prof. José Felipe Ferreira de Souza Revisão Textual: Profa. Esp. Vera Lidia de Sá Cicaroni 5 • Análise de Crédito de Pessoas Jurídicas Esta unidade tem como principal foco o estudo da “Análise Financeira para a Apuração de Risco de Crédito” para pessoas jurídicas. Dessa forma, você irá estudar, ou rever, o conteúdo das demonstrações contábeis, principalmente o balanço patrimonial e a demonstração de resultado de exercício. Além disso, faz parte desta unidade a preparação do balanço para apuração de indicadores financeiros, que consiste na sua estruturação em subgrupos. Após conhecer os subgrupos do balanço, você estudará ou, se você já estudou, irá rever a apuração e o significado dos principais indicadores financeiros: estrutura, liquidez e rentabilidade. Ressaltamos que o foco, nesta unidade, é a utilização de indicadores financeiros com a finalidade de apurar risco de crédito de empresas. Assim, você deve dar atenção, principalmente, para os conceitos e a finalidade dos indicadores, para fins de análise financeira. Um importante índice, para o qual você deve atentar, é o retorno sobre o ativo, principalmente o cálculo com a seguinte fórmula: margem de lucro vezes o giro do ativo. Ressalta-se que um dos objetivos dos gestores financeiros é maximizar a rentabilidade do ativo, através da melhor combinação entre margem de lucro e giro do ativo. Na Unidade V – Análise Financeira para Apuração de Risco de Crédito – veremos a importância das demonstrações contábeis para a análise financeira, principalmente para fins de concessão de crédito. Dessa forma, estudaremos o significado e o cálculo dos principais índices financeiros utilizados em análise de crédito para pessoa jurídica. Leia com atenção o conteúdo teórico, pois ele faz parte dos estudos, bem como faça todas as atividades propostas. Análise Financeira para Apuração de Risco de Crédito 6 Unidade: Análise Financeira para Apuração de Risco de Crédito Contextualização A contabilidade tem como função coletar dados financeiros, já os gestores financeiros efetuam análises e interpretação dessas informações para fins de tomada de decisões. São interessados nos relatórios contábeis, dentre outros: sócios/acionistas da empresa, administradores, instituições financeiras, fornecedores, concorrentes, governo, sindicatos, etc. Assim, os interessados na análise financeira de demonstrações contábeis podem ser usuários internos à empresa, como os administradores, ou externos, como instituições financeiras e fornecedores. Dessa forma, é fundamental, para os gestores financeiros das empresas, gestores de crédito e analistas, conhecer as demonstrações contábeis e, por sua vez, a análise financeira com base em indicadores econômico-financeiros extraídos das demonstrações. A análise das demonstrações contábeis é uma das principais ferramentas utilizadas pelos bancos para concessão de crédito para empresas. Além disso, empresas também utilizam a análise de balanços para decisão de vendas a prazo para outras empresas. O mercado de trabalho apresenta muitas oportunidades para os profissionais que detêm conhecimento das técnicas de análise financeira com base em demonstrações contábeis. 7 5 Análise de Crédito de Pessoas Jurídicas 5. 1. Introdução Vimos, na unidade anterior, a metodologia de análise de crédito com base no estudo dos “C’s” do crédito: Caráter, Capacidade, Condições, Capital e Conglomerado. Nesta unidade, iremos estudar as ferramentas de análise relacionadas com o “C” capital, para pessoas jurídicas, que consiste em apurar a situação econômico-financeira de uma empresa, tomando por base as suas demonstrações contábeis. A análise das demonstrações contábeis, também conhecida como análise de balanços, é um procedimento muito utilizado pelos analistas e gestores financeiros na gestão empresarial. Esse assunto compõe uma disciplina que pode fazer parte dos cursos de Administração, Ciências Contábeis, Gestão Financeira e Economia. Assim, caro(a) aluno(o), caso você já tenha estudado esta disciplina em outro curso, terá a oportunidade de revê-la; todavia lembramos que o enfoque nesta unidade recai na análise financeira com base nos indicadores, com a finalidade de apurar o risco de crédito de uma empresa. Você já deve ter ouvido falar que há diversos interessados na análise das demonstrações contábeis para fins de acompanhamento de uma empresa, tais como: sócios ou acionistas, administradores, empregados, investidores e emprestadores em geral etc. As instituições financeiras assim como fornecedores de uma empresa são interessados na análise das demonstrações contábeis para subsidiar decisão na concessão de crédito. 5. 2. Demonstrações Contábeis Conforme já citado anteriormente, as sociedades anônimas de capital aberto, que são grandes empresas, são obrigadas a publicar as seguintes demonstrações contábeis: Balanço Patrimonial (BP); Demonstração do Resultado do Exercício (DRE); Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC); Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA) ou Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) e Demonstração de Valor Adicionado (DVA). Além disso, os demonstrativos são acompanhados de notas explicativas, parecer de auditoria e relatório de administração. As demais empresas, normalmente, disponibilizam apenas o Balanço Patrimonial e a Demonstração do Resultado do Exercício. Nesta unidade, vamos focar nas técnicas de análise desses principais demonstrativos contábeis. 5. 2. 1. Balanço Patrimonial Vamos rever alguns conceitos contábeis! O patrimônio de uma empresa é o conjunto de bens, direitos e obrigações. Os bens e direitos estão contabilizados no ativo, enquanto as obrigações perante terceiros, no passivo. Já, no patrimônio líquido, está contabilizado o capital dos sócios, também denominado de recursos próprios. 8 Unidade: Análise Financeira para Apuração de Risco de Crédito Para fins de análise, é importante que você conheça a terminologia para os valores do balanço patrimonial: o ativo corresponde ao investimento total, no qual estão aplicados os recursos; o passivo e o patrimônio líquido são as fontes (origens) de recursos. Estrutura do Balanço Patrimonial Conforme Lei 6.404/76, reformulada pela Lei 11.638/07 e Lei 11.941/09, que dispõe sobre normas contábeis brasileiras, as contas do balanço devem ser classificadas em Ativo Circulante, Ativo Não Circulante, Passivo Circulante, Passivo Não Circulante e Patrimônio Líquido. Vamos conhecer melhor cada grupamento, pois eles serão utilizados para cálculo dos indicadores financeiros. Estrutura do Balanço Patrimonial Ativo Circulante Estão contabilizadas as contas que representam bens e direitos que se realizam até o término do exercício social seguinte, isto é, em curto prazo, ou seja, normalmente em até um ano. São valores que estão em constante circulação. Por exemplo: conta caixa, bancos (conta corrente), aplicações financeiras, estoques, valores a receber de clientes e títulos e contas a receber em geral etc. 9 Ativo Não Circulante São contabilizados os bens e direitos que não estão em circulação, ou seja, que se realizam após o término do exercício seguinte (normalmente após um ano) ou estão permanentemente na empresa. O Ativo Não Circulante está subdividido em 04 subgrupos: a) Ativo Realizável a Longo Prazo: estão contabilizados valores resgatáveis a longo prazo, como aplicações financeiras de longo prazo, títulos e valores a receber de longo prazo, empréstimos a receber de empresas do grupo ou de diretores ou administradores. b) Investimentos: são contabilizadas participações em outras empresase bens e direitos não usados nas atividades da empresa. Lembre-se de que, quando uma empresa participa e controla outras sociedades, constitui grupo empresarial. c) Ativo Imobilizado: são contabilizados os recursos aplicados em bens destinados à manutenção das atividades da empresa, tais como: máquinas, equipamentos, parque fabril, veículos, móveis e utensílios etc. São bens que não estão à venda, pois são responsáveis pela produção e geração de receita operacional da empresa. d) Intangível: são registrados os valores de bens intangíveis, como marcas e patentes, direitos sobre recursos florestais e minerais, gastos com o desenvolvimento de novos produtos etc. Os subgrupos Investimentos, Ativo Imobilizado e Intangível formam um outro subgrupo denominado Ativo Permanente, que será utilizado para cálculo de indicadores financeiros. Dentro do Ativo Não Circulante, os dois subgrupos mais comuns são o Realizável a Longo Prazo e o Ativo Imobilizado. Passivo Circulante Estão contabilizadas as contas que representam obrigações que vencem em curto prazo, ou seja, até o término do exercício social seguinte (normalmente até um ano), e estão em constante circulação. Por exemplo: empréstimos a pagar de curto prazo, salários a pagar, impostos a pagar, fornecedores e outras contas a pagar de curto prazo etc. Passivo Não Circulante São registradas as obrigações, cujo vencimento ocorre após o término do exercício social seguinte (normalmente superior a um ano), ou seja, em longo prazo. Exemplos: empréstimos de longo prazo, impostos parcelados e outras contas a pagar de longo prazo. Patrimônio Líquido (PL) Estão contabilizados o capital integralizado pelos sócios, os lucros ou prejuízos acumulados. Por exemplo: capital social, reservas de capital, reservas de lucros, prejuízos acumulados etc. 10 Unidade: Análise Financeira para Apuração de Risco de Crédito Apresentamos, a seguir, o balanço estruturado, com os principais grupamentos, para fins de apuração de indicadores financeiros. Balanço estruturado para fins de análise 5. 2. 2. Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) É um demonstrativo contábil no qual estão registradas as receitas, os custos dos produtos vendidos e as despesas de um determinado período, evidenciando a composição do resultado da empresa. Apresentamos, a seguir, exemplo de DRE padronizada com os principais grupamentos de contas, com a finalidade de facilitar a análise. Exemplo de Demonstração de Resultado do Exercício sintética 11 Vimos estruturação do Balanço Patrimonial e da Demonstração do Resultado do Exercício, com as principais contas, conforme as normas contábeis. Todavia muitas empresas, principalmente as que não possuem contabilidade organizada, apresentam demonstrações contábeis em formatos diferentes, não obedecendo a critérios da boa técnica contábil ou, ainda, números que não são fidedignos. 5. 3. Análise financeira das demonstrações contábeis A análise financeira é um procedimento técnico que consiste em reestruturar o balanço patrimonial e a demonstração de resultado, a fim de padronizá-los, extraindo indicadores, com o objetivo de formar opinião sobre a situação econômico-financeira da empresa. Os analistas devem utilizar demonstrativos contábeis de mais de um exercício social, a fim de analisar a evolução dos números. São técnicas de análise de demonstrações: a análise vertical e a horizontal. Análise Vertical: é uma metodologia que verifica a participação percentual de cada conta em relação a determinado total. Apresentamos, a seguir, o balanço patrimonial da Empresa Exemplo Indústria e Comércio S.A, com o cálculo da participação de cada conta em relação ao total do ativo, bem como em relação ao total do passivo, do exercício social de 200x. Análise vertical do balanço patrimonial – Empresa Exemplo S.A. No exemplo, o ativo total representa 100%, e a participação de cada grupo ou conta é calculada da seguinte forma: Participação do Ativo Circulante = 5.467/9.111 x 100 = 60,00%. Participação da conta Caixa/Bancos = 184/9.111 x 100 = 2,02%. 12 Unidade: Análise Financeira para Apuração de Risco de Crédito Dessa forma, o cálculo é feito tomando o valor do grupo ou conta pelo total que representa o 100%. Cabe destacar que, nesta disciplina, o foco é a análise, em vez da operacionalização de cálculos, visto que estes são feitos por sistemas, nas áreas de análise de crédito dos bancos ou empresas. Analisando os cálculos, observa-se que, em 2007, o Ativo Circulante representava 60% do Ativo Total e o Ativo Não Circulante, 40%. E, assim, pode ser analisada a representatividade de cada conta em relação ao total. Análise Horizontal: tem a finalidade de evidenciar a evolução que cada conta sofreu de um exercício para outro. Trata-se de uma análise de tendência, e, necessariamente, deve contar com, pelo menos, dois exercícios sociais. Uma forma para efetuar análise horizontal é transformar os valores dos demonstrativos contábeis do primeiro exercício social sob análise em números-índices. Isto é, no primeiro ano, todos os valores são considerados iguais a 100 e os valores dos anos seguintes são calculados através de regra de três. Exemplo com base no ativo de 2007 e 2008 O ano de 2007 será o ano base, todos os valores iguais a 100, e, conforme exemplo, vamos calcular o ano de 2008. Exemplo do cálculo Ativo circulante de 2007: 5.467, corresponde a 100; Ativo circulante de 2008: 5.062, corresponde ao “X”; Cálculo: “X” multiplicado por 5.467 = 100 multiplicado por 5.062 ; “ X ” vezes 5.467 = 5.062 vezes 100 “ X ” = 506.200 : 5.467 “ X “ = 92,6 ou 93 13 A seguir, veja os cálculos do ano de 2008. O ativo circulante de 2007 foi igual a 100 e, em 2008, correspondeu a 93, observando-se redução de 7% no seu valor. Já o ativo total de 2008 aumentou de 100 para 125, ou seja, apresentou acréscimo de 25%. Análise horizontal A análise horizontal e a vertical devem ser utilizadas conjuntamente. Por exemplo, pode-se analisar a evolução (análise horizontal) dos percentuais calculados na análise vertical. 5. 3. 1. Análise através de índices financeiros Outra técnica de análise é a apuração de indicadores financeiros e econômicos utilizando demonstrações contábeis. Os indicadores evidenciam a situação da empresa em termos de segurança oferecida aos capitais de terceiros, liquidez e rentabilidade. Existem diversas fórmulas para calcular indicadores, todavia, neste curso, iremos estudar os principais. Os indicadores podem ser classificados em três grandes grupos: • índices de estrutura; • índices de liquidez; • índices de rentabilidade. Índices de estrutura (ou de endividamento) Estes índices mostram a política de obtenção dos recursos e sua aplicação. Os recursos utilizados pela empresa podem ser capitais próprios ou capitais de terceiros. Os capitais próprios estão contabilizados no patrimônio líquido e os de terceiros no passivo circulante e no exigível a longo prazo. Principais índices de estrutura: • Participação de capitais de terceiros (PCT); • Composição do endividamento (CE); • Endividamento geral sobre ativo total (EG); • Imobilização do Patrimônio Líquido (IPL). 14 Unidade: Análise Financeira para Apuração de Risco de Crédito Participação de capitais de terceiros (PCT): Este índice indica a relação entre as fontes de recursos utilizadas, ou seja, evidencia o quanto a empresa usa de capitais de terceiros (passivo circulante e exigível a longo prazo) em relação ao capital próprio (patrimônio líquido). Fórmula: PCT = (Passivo Circulante + Exigível a Longo Prazo) x 100 Patrimônio Líquido Vamos, então, calcular o índice, com base nos dados do balanço patrimonial da empresa ExemploS.A, transcrito com os principais grupos de contas: Cálculo: PCT = (2.568 + 3.175) x 100 = 170,52% 3.368 Os capitais de terceiros representam 170,52 % dos capitais próprios. Ou, ainda, para cada $ 1,00 de capital próprio, a empresa recorre a $ 1,70 de terceiros. Quanto maior esse índice, pior. Uma análise financeira deve ser feita com base em mais de um exercício social, para se observar a evolução dos índices. Composição do endividamento (CE) Este índice evidencia quanto, do total das dívidas, está concentrado no curto prazo. Lembre- se: as dívidas de curto prazo estão contabilizadas no passivo circulante. O total das dívidas é a soma do passivo circulante e do exigível a longo prazo. Fórmula: CE = Passivo Circulante x 100 (Passivo Circulante + Exigível a Longo Prazo) 15 Cálculo: CE = 2.568 x 100 = 44,72% (2.568 + 3.175) A empresa Exemplo S.A tem 44,72% das suas obrigações concentradas no curto prazo. Ou seja, das dívidas totais, 44,72% vence no curto prazo e o restante, no longo prazo. Quanto maior o índice, pior. Endividamento geral (EG) sobre ativo total Este índice mostra o grau de endividamento total em relação ao ativo, ou seja, evidencia a proporção de capitais de terceiros (passivo circulante + exigível a longo prazo) que está financiando os ativos. Lembre-se de que já vimos o índice (PCT) que mede a participação dos capitais de terceiros em relação ao capital próprio (Patrimônio Líquido). Agora vamos conhecer o que a mede em relação ao ativo total. Fórmula: EG = Passivo Circulante + Exigível a Longo Prazo x 100 Ativo total Cálculo: EG = (2.568 + 3.175) x 100 = 63,03% 9.111 O cálculo releva que 63,03% dos ativos estão sendo financiados por capitais de terceiros e o restante, pelos capitais próprios. Quanto maior o índice, pior. Imobilização do Patrimônio Líquido (IPL) Este índice evidencia quanto do capital próprio (Patrimônio Líquido) está aplicado no ativo permanente da empresa. Lembre-se: o ativo permanente, que pode ser denominado também de ativo fixo, é composto pelos subgrupos imobilizado, investimentos e intangível, que são bens e direitos que não estão à venda. Fórmula: IPL = Ativo Permanente x 100 Patrimônio Líquido 16 Unidade: Análise Financeira para Apuração de Risco de Crédito Cálculo: IPL = 3.069 x 100 = 91,12% 3.368 Esse resultado indica que 91,12% do capital próprio está aplicado no ativo permanente e o restante, no ativo circulante e realizável a longo prazo. Cabe ressaltar que, em termos de boa estrutura patrimonial de uma empresa, o ativo permanente deve ser financiado, principalmente, com recursos próprios (Patrimônio Líquido) ou, parte, com linhas de crédito de longo prazo. Quando esse índice é superior a 100%, significa que a empresa está com o capital próprio totalmente imobilizado e, além disso, está utilizando recursos de terceiros para financiar o ativo permanente. Quanto maior o índice de imobilização, pior. Índices de liquidez (ou de capacidade de pagamento) Os índices de liquidez evidenciam a capacidade da empresa para pagar suas dívidas. Os principais são: liquidez corrente, liquidez seca e liquidez geral. Liquidez Corrente (AC) Esse índice indica quanto a empresa possui em dinheiro, em bens e direitos a realizar no curto prazo (ativo circulante) para pagar as dívidas de curto prazo (passivo circulante). Fórmula: AC = Ativo Circulante Passivo Circulante Para exemplo do cálculo, transcrevemos, a seguir, o balanço patrimonial da empresa Exemplo S.A. : Cálculo: AC = 5.467 = 2,13 2.568 17 O resultado indica que a empresa dispõe de R$ 2,13 em dinheiro, bens e direitos a realizar no curto prazo para cada R$ 1,00 de dívida de curto prazo. Índice maior que um significa que os valores do ativo circulante são maiores do que os do passivo circulante (dívidas), indicando uma situação favorável. Quanto maior o índice, melhor. Liquidez Seca (LS) O índice de liquidez seca indica a capacidade financeira de curto prazo, excluindo os estoques, ou seja, revela a dependência das vendas dos estoques, para pagar as dívidas de curto prazo. Fórmula: LS = Ativo Circulante - Estoques Passivo Circulante Cálculo: LS = 5.467 – 1.211 = 1,66 2.568 Obs.: valor dos estoques: 1.211, conforme balanço A empresa dispõe de R$ 1,66 para cada R$ 1,00 de dívida de curto prazo, sem considerar os estoques, ou seja, ela não tem dependência da venda dos estoques para ter capacidade de pagar as suas dívidas de curto prazo. Quando o índice de liquidez seca for menor que um, a empresa tem dependência de venda dos estoques. Quanto maior o índice, melhor. Liquidez Geral (LG) Este indicador indica a capacidade de pagamento de todas as dívidas da empresa. Fórmula: LG = Ativo Circulante + Realizável a Longo Prazo Passivo Circulante + Exigível a Longo Prazo Cálculo: LG = 5.467 + 575 = 1,05 2.568 + 3.175 18 Unidade: Análise Financeira para Apuração de Risco de Crédito O cálculo indica que a empresa possui R$ 1,05 em dinheiro, bens e direitos a realizar a curto e a longo prazo para pagar as dívidas totais (também de curto e longo prazo). Quanto maior o índice, melhor. Índices de Rentabilidade (ou de lucratividade ou, ainda, de retorno) Os índices de rentabilidade têm objetivo de medir o desempenho da empresa em termos de retorno. Os principais índices são: Margem líquida de lucro sobre as vendas (ML); Rentabilidade do Ativo (RA); Rentabilidade do Patrimônio Líquido (RPL); e Giro do Ativo (GA). Quanto maiores os índices de rentabilidade, melhor. Margem líquida de lucro sobre as vendas (ML) ou Retorno sobre as vendas. Este índice mede a lucratividade das vendas, ou seja, fornece o percentual de rentabilidade das receitas. A margem de lucro é calculada sobre as receitas líquidas, isto é, após as deduções das devoluções, abatimentos e impostos sobre as vendas. Fórmula: ML = Lucro Líquido x 100 Vendas Com base na demonstração de resultado da empresa Exemplo S.A, vamos calcular os índices de retorno, iniciando pelo da margem líquida: Exemplo de cálculo: ML = 1.495 x 100 = 12,46% 12.000 A empresa obteve margem líquida de lucro de 12,46% sobre as vendas. 19 Giro do ativo (GA) ou rotação do Ativo Mede a quantidade de vezes que o ativo total ou investimento total girou no período ou, ainda, é uma relação entre o volume de vendas e o valor do ativo. Lembre-se de que, no ativo, estão contabilizados os bens e direitos que produzem e geram receitas (vendas). Fórmula: GA = Vendas Ativo Transcrevemos, novamente, a seguir, o balanço patrimonial de forma sintética, o qual, juntamente com a demonstração de resultado, será utilizado para cálculo dos índices. Cálculo: GA = 12.000 = 1,317 9.111 A empresa girou 1,3 vez o seu ativo no período. Rentabilidade do Ativo (RA) ou retorno do investimento Indica a taxa de retorno que a empresa está obtendo sobre o ativo ou investimentos totais. Fórmula: RA = Lucro Líquido x 100 Ativo Exemplo: RA = 1.495 x 100 = 16,41% 9.111 A empresa obteve retorno de 16,41% sobre o valor do ativo total. 20 Unidade: Análise Financeira para Apuração de Risco de Crédito A rentabilidade do Ativo também pode ser calculada através da fórmula: margem vezes giro do ativo. Exemplo, conforme já calculado: margem líquida de 12,46% e giro do ativo de 1,317 vez. Rentabilidadedo ativo (RA) = 12,46% x 1,317 = 16,41%. Fórmula: RA = margem líquida x giro do ativo Mais um exemplo: em 2008, uma empresa obteve margem líquida de 10% ao ano e girou o ativo em 2 vezes. Qual a rentabilidade sobre o seu ativo em 2008. Cálculo: RA = margem x giro RA = 10% x 2 = 20% Conforme calculado, a rentabilidade do ativo, em 2008, foi de 20%. Já, em 2009, a mesma empresa obteve margem de 15%, porém o giro do ativo foi de 1,5 vez. Qual a sua rentabilidade em 2009? Cálculo: RA = 15% x 1,5 = 22,5% A rentabilidade do ativo, em 2009, foi de 22,5%. Ou seja, o retorno foi maior do que em 2008, pois o aumento da margem compensou a queda do giro do ativo. Assim, a rentabilidade do ativo é o resultado da lucratividade das vendas e do seu volume. Quanto mais a empresa vender, maior será o giro do ativo. Dessa forma, o aumento do giro e/ ou o aumento da margem de lucro acarretam elevação da rentabilidade do ativo. Cabe destacar que uma forma de aumentar o volume das vendas é reduzir preço, todavia essa estratégia acarreta redução da margem de lucro. Daí surge o grande dilema na gestão financeira: aumentar as vendas e auferir margem de lucro que não prejudique a rentabilidade final do ativo, ou vice-versa. Os gestores financeiros têm como objetivo maximizar o retorno do investimento (ou rentabilidade do ativo) por meio da melhor combinação entre margem de lucro e giro do ativo (volume de vendas). Rentabilidade do Patrimônio Líquido (RPL) ou retorno do PL Mostra a taxa de retorno que os sócios estão obtendo sobre o capital próprio investido na empresa. 21 Fórmula: RPL = Lucro Líquido x 100 Patrimônio Líquido Cálculo: RPL = 1.495 x 100 = 44,39% 3.368 Os sócios obtiveram retorno de 44,39% sobre o capital próprio. Quanto maior o retorno, melhor. Ressalta-se que os sócios requerem retorno que compense o risco do negócio. Nesta unidade vimos como apurar e interpretar alguns indicadores econômico-financeiros. Lembramos que existem diversos outros e fórmulas diferentes de cálculos. Não é necessário utilizar um número muito grande de indicadores para obter uma conclusão sobre a situação econômico-financeira de um cliente, todavia é importante ressaltar que um índice isoladamente não permite avaliação de uma empresa. 22 Unidade: Análise Financeira para Apuração de Risco de Crédito Material Complementar A análise das demonstrações contábeis é bastante complexa e existem diversos livros que tratam do assunto. Vamos à indicação de três livros que tratam da padronização de demonstrações contábeis para análise e extração de indicadores econômico-financeiros: MARION, José Carlos. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 5. Ed. São Paulo: Atlas, 2010. MATARAZZO, Dante Carmine. Análise financeira de balanços: abordagem gerencial. 7. Ed. São Paulo: Atlas, 2010. SILVA, José Pereira da. Análise financeira das empresas. 9ª. Ed. São Paulo: Atlas, 2008. 23 Referências MATARAZZO, Dante Carmine. Análise financeira de balanços: abordagem gerencial. 7. Ed. São Paulo: Atlas, 2010. MONTOTO, Eugênio. Contabilidade geral esquematizada. São Paulo: Saraiva, 2011. RIBEIRO, Osni Moura. Contabilidade Intermediária. 2ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2009. SANTOS, José Odálio dos. Análise de Crédito : empresas e pessoas físicas. 2ª Ed. São Paulo: Atlas, 2006. SILVA, José Pereira da. Gestão e análise de risco de crédito. 6ª. Ed. São Paulo: Atlas, 2008. ______. Gestão e análise de risco de crédito. 2ª. Ed. São Paulo: Atlas, 1998. ______. Análise financeira das empresas. 9ª. Ed. São Paulo: Atlas, 2008 24 Unidade: Análise Financeira para Apuração de Risco de Crédito Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000
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