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Práticas de Gestão em Escolas e Empresas Professor conteudista: Nonato Assis de Miranda Sumário Práticas de Gestão em Escolas e Empresas Unidade I 1 ADMINISTRAÇÃO, GESTÃO, DIREÇÃO: RESGATANDO ALGUNS CONCEITOS ...............................2 1.1 Administração ou gestão escolar? ...................................................................................................4 1.2 Direção: o que é isso? ............................................................................................................................7 1.3 Práticas de gestão .................................................................................................................................11 1.4 Gestão pedagógica ...............................................................................................................................11 1.5 Gestão administrativa ........................................................................................................................ 13 1.6 Gestão de recursos humanos .......................................................................................................... 14 1.7 Prática de gestão: algumas dicas para o futuro gestor escolar ........................................ 17 1.8 Negociação no cotidiano escolar .................................................................................................. 18 1.9 Trabalho em equipe ............................................................................................................................. 21 1.10 Como fazer reuniões produtivas? ............................................................................................... 24 Unidade II 2 PRÁTICA DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO NA EMPRESA ......................................................................... 28 2.1 Aprendizagem organizacional ......................................................................................................... 28 2.2 Gestão do conhecimento na empresa ......................................................................................... 37 2.2.1 O que deveria ser compartilhado? ................................................................................................... 40 2.2.2 Como ocorrerá o compartilhamento? ............................................................................................ 41 2.2.3 Por que as pessoas deveriam participar do compartilhamento? ........................................ 43 2.3 Estágio supervisionado ...................................................................................................................... 45 2.3.1 Estágio em ambientes escolares ....................................................................................................... 45 2.4 Estágio de gestão nas empresas .................................................................................................... 54 2.4.1 Estágio nas empresas ............................................................................................................................ 57 2.4.2 Relatório do estágio de gestão da educação nas empresas: o que deve ser contemplado? ....................................................................................................................... 57 3 CONCLUSÃO ...................................................................................................................................................... 58 1 PRÁTICAS DE GESTÃO EM ESCOLAS E EMPRESAS Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 Unidade I 5 10 15 20 25 INTRODUÇÃO Para compreendermos o que vem a ser Práticas de Gestão em Escolas e Empresas, entendemos que seja prudente ressaltar o conceito de gestão, que muitas vezes é confundido com o de administração, pois há uma semelhança muito grande entre os dois termos e nem sempre percebemos as fronteiras que separam uma dimensão da outra. A priori, podemos afirmar que o conceito de gestão escolar – relativamente recente – é de extrema importância, na medida em que desejamos uma escola que atenda às atuais exigências da vida social, ou seja, formar cidadãos com vistas a oferecer a possibilidade de apreensão de habilidades e competências que se tornaram extremamente necessárias para a inserção social das pessoas em um mercado que tem se tornado cada vez mais competitivo. Quanto à administração, podemos afirmar ser um termo abrangente que, em síntese, estuda a aplicação e coordenação de recursos – humanos, materiais, financeiros, de informação, tecnológicos – numa organização (nesse caso em específico, a escola), de modo a atingir determinados objetivos e resultados planejados com o máximo de eficiência e eficácia. No que concerne à gestão da educação na empresa, gostaríamos de ressaltar que, apesar de ser do conhecimento de todos, ou pelo menos da maioria das pessoas, o curso de pedagogia forma profissionais para atuar na docência na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental, bem como na gestão, no planejamento e na inspeção, e também 2 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 forma profissionais para atuar na gestão da educação em espaços não escolares. Grosso modo, podemos dizer que a gestão escolar pode ser classificada em três áreas, que funcionam de modo interligado, ou seja, integrado ou sistêmico: a gestão pedagógica, a gestão administrativa e a gestão de recursos humanos. A gestão da educação na empresa por sua vez tem como foco de atuação a gestão do conhecimento e a formação continuada de pessoas em ambientes corporativos, quer seja na modalidade presencial ou à distância. Frente ao exposto, o propósito dessa disciplina é mostrar para o futuro pedagogo como se dá a gestão da educação no cotidiano escolar e em espaços não escolares a partir do conhecimento de suas dimensões do ponto de vista teórico e prático. Mas não é só isso, pois buscamos também orientá-los quanto ao cumprimento do estágio supervisionado. Afinal de contas, acreditamos que, para se tornar um bom gestor, se faz necessário conhecer as rotinas administrativas, e isso será possível somente com a observação in locus. 1 ADMINISTRAÇÃO, GESTÃO, DIREÇÃO: RESGATANDO ALGUNS CONCEITOS De acordo com Libâneo (2004), a maioria dos autores que estudam as tarefas de administrar, gerir, organizar, dirigir e tomar decisões reúne todas no conceito de administração, configurando-se assim uma ciência da administração ou teoria da administração. Dessa forma, para aproximar essa discussão à nossa realidade, o professor José Carlos Libâneo afirma que as tarefas supracitadas, quando remetidas à escola, configuram a administração escolar. Para evidenciar o exposto, ele recorre a alguns autores que discutem o assunto, conforme as definições seguintes: 5 10 15 20 25 30 3 PRÁTICAS DE GESTÃO EM ESCOLAS E EMPRESAS Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M árci o - 13 /0 8/ 10 A administração escolar tem como objetivos essenciais planejar, organizar, dirigir e controlar os serviços necessários à educação. Ela inclui, portanto, no seu âmbito de ação, a organização escolar (Santos, 1996, p. 19 citado por Libâneo, 2004, p. 98). Como se vê, a administração que se dá no âmbito escolar tem uma relação muito próxima com a que ocorre na empresa, mesmo porque, em uma visão neoliberal, podemos afirmar que a escola é uma empresa, apesar das críticas que inúmeros estudiosos fazem sobre esta perspectiva de se ver a administração escolar. Ainda sobre o assunto, o autor afirma que: Em seu sentido geral, podemos afirmar que a administração é a utilização racional de recursos para a realização de fins determinados. (...) Os recursos (...) envolvem, por um lado, os elementos materiais e conceptuais que o homem coloca entre si e a natureza para dominá-la em seu proveito; por outro, os esforços despendidos pelos homens e que precisam ser coordenados com vistas a um propósito comum. (...) A administração pode ser vista, assim, tanto na teoria como na prática, como dois amplos campos que se interpenetram: a “racionalização do trabalho” e a “coordenação do esforço humano coletivo” (Paro, 1986, citado por Libâneo, 2004, p. 98). Percebe-se, então, que Libâneo procura deixar claro que outros autores, reconhecendo a especificidade das instituições educacionais, preferem atribuir maior importância à organização quando comparada à administração. Pois bem, se outros autores discutem o assunto, entendemos que seja prudente buscar mais informações sobre a administração escolar, para que possamos perceber melhor a diferença entre administração geral e administração escolar. 5 10 15 20 25 30 4 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 Mas a discussão e as dúvidas não param por aí, pois uma vez compreendida a diferença entre administração geral e administração escolar, surge uma nova dúvida: administração ou gestão? Para tentar responder a essa indagação, colocaremos nossa atenção em outros dois conceitos, importantes para analisar a prática do gestor escolar: gestão e direção. Acreditamos que de posse desses dois outros conceitos, conseguiremos compreender melhor a lógica da gestão escolar no contexto da atualidade. 1.1 Administração ou gestão escolar? Muito provavelmente vocês já devem ter percebido que o centro da organização e do processo administrativo é a tomada de decisão. Mas vocês não são as únicas pessoas que pensam assim, pois esse ponto de vista é compartilhado por vários autores que dedicam boa parte de seu tempo estudando as organizações e o processo administrativo. Sobre esse assunto, Libâneo (2004) afirma que todas as demais funções da organização – o planejamento, a estrutura organizacional, a direção, a avaliação – estão referidas ao processo eficaz de tomada de decisões. Portanto, não podemos esquecer que os processos intencionais e sistemáticos de se chegar a uma decisão e de fazê-la funcionar caracterizam a ação que denominamos gestão (Libâneo, 2004). Diante disso, podemos afirmar que a gestão nada mais é que a atividade pela qual são mobilizados meios e procedimentos para se atingir os objetivos da organização, envolvendo, basicamente, os aspectos gerenciais e técnico-administrativos. Com base no exposto, fica evidente que o termo gestão é sinônimo de administração, conforme sinaliza Libâneo (2004). 5 10 15 20 25 30 5 PRÁTICAS DE GESTÃO EM ESCOLAS E EMPRESAS Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 Não obstante, de acordo com Santos (2008), na literatura e no contexto educacional, usa-se a expressão gestão educacional no lugar de administração escolar. Mas qual é a diferença? Será que as pessoas mais jovens usam o segundo termo e as mais tradicionais, o primeiro? Talvez sim, mas não podemos generalizar. Afinal de contas, não podemos generalizar que toda pessoa que atua há mais tempo no campo educacional se valha de termos mais ultrapassados para referenciar sua prática e nem tão pouco que os mais jovens se valham de termos mais contemporâneos por estarem mais atualizados com as mudanças observadas na sociedade. Sobre o assunto, Lück (1998), citada por Santos (2008), afirma que o termo gestão tem sido utilizado, de forma equivocada, para substituir o que antes se denominava administração. As proposições antecedentes expressam uma mudança significativa na postura e orientação de dirigentes. A autora nos adverte que, consequentemente, não se deve entender que o que está ocorrendo seja uma simples substituição de terminologia das antigas noções a respeito de como conduzir uma organização de ensino. Revitalizar a visão da administração da década de 1970, orientada pela ótica da administração científica, seria ineficaz e corresponderia a fazer mera maquiagem modernizadora. Portanto, deve ficar claro para os futuros gestores o ponto de vista de Heloisa Lüke. Segundo a autora, a gestão é mais globalizada e dinâmica, envolvendo a dimensão política e social, a ação para transformações, globalizações, participação, práxis, cidadania etc. (Lüke, 1998, apud Santos, 2008). Lüke enfatiza também que a administração científica proposta por Taylor e seus seguidores não tem mais vez nas organizações em que ocorrem processos sociais caracterizados pela diversificação e pluralidade de interesses, em que as pessoas 5 10 15 20 25 30 6 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 não podem ser consideradas componentes de uma máquina manejada e controlada de fora para dentro. É importante ressaltar que não se trata de uma mera substituição de terminologia, mas, sim, do emprego de um novo conceito que se ajusta à gestão escolar no contexto da atualidade. Sobre esse assunto, Clóvis Roberto dos Santos recorre à Heloisa Lüke para justificar o emprego do termo gestão, conforme segue: A expressão gestão educacional, comumente utilizada para designar a ação dos dirigentes, surge, por conseguinte, em substituição à administração educacional (ou escolar), para representar novas ideias e estabelecer, na instituição, uma orientação transformadora, a partir da dominação da rede de relações que ocorrem, dialeticamente, no seu contexto interno e externo (...) o conceito de gestão educacional, diferentemente do de administração educacional, abrange uma série de concepções não abarcadas pelo de administração (Lüke, 1998 apud Santos, 2008, p. 35). Frente ao exposto, cremos que fica evidente a diferença e importância do emprego do termo gestão escolar. Ainda de acordo com a autora, a democratização do processo de determinação dos destinos do estabelecimento de ensino e seu projeto político-pedagógico, a compreensão da questão dinâmica e conflitivadas relações interpessoais da organização como uma entidade viva e dinâmica, demandando uma atuação de liderança, o entendimento de que a mudança dos processos pedagógicos envolve alterações nas relações sociais da organização são fatores que justificam o emprego do termo gestão escolar em detrimento de administração escolar. 5 10 15 20 25 30 7 PRÁTICAS DE GESTÃO EM ESCOLAS E EMPRESAS Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 1.2 Direção: o que é isso? E a direção? O que significa? Qual sua relação com a gestão? Será que é correto dizer diretor ou gestor educacional? Esses questionamentos são importantes e recorrentes na atualidade, mesmo porque o termo gestão, conforme sinalizado, é recente e com isso muitas pessoas ficam em dúvida sobre quando e como utilizá-lo. Para compreender a lógica da direção, podemos afirmar que quando temos uma estrutura montada com todos os recursos necessários, é hora de fazê-la funcionar. Para tanto, é preciso uma liderança segura, que motive as pessoas e garanta boas condições de trabalho. Também são necessários processos de trabalho claros e definidos. Esse esforço de fazer a estrutura movimentar-se e trabalhar de acordo com o planejado, e de orientar e liderar pessoas, constitui uma função da administração conhecida como direção. Para Libâneo (2004), a direção é um princípio e atributo da gestão mediante a qual é canalizado o trabalho conjunto das pessoas, orientando-as e integrando-as rumo aos objetivos. Portanto, segundo o autor, basicamente, a direção põe em ação o processo de tomada de decisões na organização e coordena os trabalhos, de modo que sejam executados da melhor maneira possível. O autor acrescenta ainda que a organização e os processos de gestão, incluindo a direção, assumem diferentes significados conforme a concepção que se tenha dos objetivos da educação em relação à sociedade e à formação dos alunos. Para ilustrar esse ponto de vista, caso seja adotada uma concepção técnico-científica de escola, a direção é centralizada numa pessoa, as decisões vêm de cima para baixo, bastando cumprir um plano previamente elaborado, sem a participação dos professores e os demais componentes da equipe gestora e, claro, 5 10 15 20 25 30 8 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 dos usuários da escola como um todo. Por outro lado, numa concepção democrático-participativa, o processo de tomada de decisões se dá coletivamente, participativamente. Portanto, a direção pode tanto estar centrada no indivíduo quanto no coletivo, sendo possível uma direção individualizada ou uma direção coletiva ou participativa. Atualmente, tem-se observado cada vez mais a tendência pela gestão participativa, mas nem sempre foi assim, pois, até bem pouco tempo, o modelo de direção da escola era o de diretor submisso aos órgãos centrais, e seu papel se restringia ao de guardião e administrador de determinações estabelecidas pelas instâncias superiores. Estudos mostram que a intensificação sobre a autonomia da escola se deu a partir da década de 1980, quando tomaram posse os primeiros governadores eleitos pelo voto direto. De acordo com Lüke (1998), citada por Santos (2008), o debate sobre a autonomia da escola toma corpo e possibilita modificação na terminologia e avaliação da atuação administrativa, que passa a ser denominada como gestão e, mais particularmente, gestão democrática. Com o Parecer CEE 67/98, passou-se a observar que a autonomia da escola não deve ser um discurso vazio. Ao contrário, define-se em função de prioridades, visa reverter a baixa produtividade do ensino e deve estar comprometida com a meta da redução da repetência e com a melhoria da qualidade do ensino. Ademais, a autora enfatiza que o diretor escolar é um gestor da dinâmica social, um mobilizador e orquestrador de atores, um articulador da diversidade para dar-lhe unidade e consistência na construção do ambiente educacional e promoção segura da formação de seus alunos. Atualmente, o diretor de escola é chamado a admitir seu papel político frente aos desafios exigidos pelo seu cargo. Além das atividades de administrador escolar, o diretor exerce a gestão, que abrange 5 10 15 20 25 30 9 PRÁTICAS DE GESTÃO EM ESCOLAS E EMPRESAS Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 aspectos filosóficos e políticos. Devemos considerar que esses aspectos vêm antes e acima da administração. A administração é uma das formas da gestão, pois compreende as atividades de planejamento, organização, direção, coordenação e controle. As formas mais conhecidas de gestão são: administração, cogestão e autogestão. Para ilustrar o ponto de vista de Eloísa Lüke, recorremos a um edital de concurso público para provimento do cargo de diretor de escola, realizado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo no ano de 2007. Consta do edital que os então futuros diretores de escola da Rede Pública Estadual de São Paulo precisam dominar competências e habilidades para: • compreender a natureza, a organização e o funcionamento da educação escolar, suas relações com o contexto histórico-social e com o desenvolvimento humano, bem como a gestão do sistema escolar, seus níveis e modalidades de ensino; • apropriar-se dos fundamentos e das teorias do processo de ensino e de aprendizagem; • relacionar princípios, teorias e normas legais a situações reais, interpretando e aplicando a legislação de ensino a favor da população escolar; • identificar e avaliar criticamente os impactos de diretrizes e medidas educacionais, objetivando tomada de decisão, com vistas à garantia de uma educação plena; • comunicar-se com clareza, em diferentes situações, com diferentes interlocutores, utilizando as linguagens e as tecnologias próprias; • socializar informações e conhecimentos na busca do diálogo permanente com a comunidade intra e extraescolar; • estimular a participação dos colegiados e instituições escolares, promovendo o envolvimento e a participação 5 10 15 20 25 30 10 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 efetiva de todos como fator de desenvolvimento da autonomia da escola; • compreender, valorizar e implementar o trabalho coletivo, reconhecendo e respeitando as diferenças pessoais e as contribuições de todos participantes; • incorporar à sua prática valores, atitudes e sentido de justiça, essenciais ao convívio social, solidário e ético, ao aprimoramentopessoal e à valorização da vida; • utilizar recursos tecnológicos nas atividades de gestão escolar; • promover ações de formação continuada, garantindo espaços de partilha de experiência e reflexão, especialmente no HTPC (Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo), que possibilitem seu desenvolvimento pessoal e aprimoramento profissional, bem como do grupo que lidera; • elaborar de forma participativa os planos de aplicação dos recursos físicos e financeiros vinculados à proposta pedagógica da escola; • responsabilizar-se pela administração de pessoal, de recursos materiais e financeiros e do patrimônio escolar com transparência nos procedimentos administrativos, garantindo a legalidade, a publicidade e a autenticidade das ações e dos documentos escolares; • fortalecer o vínculo com a comunidade local, buscando estabelecer com outras instituições e lideranças comunitárias parcerias que promovam o enriquecimento do trabalho da escola e da comunidade em que ela se insere. A partir do exposto, e uma vez compreendida a diferença entre administração e gestão e o papel da direção no contexto educacional, podemos afirmar que o graduando que pretende 5 10 15 20 25 30 11 PRÁTICAS DE GESTÃO EM ESCOLAS E EMPRESAS Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 ser diretor de escola precisa ter em mente que, entre outras coisas, a participação é o principal meio de se assegurar a gestão democrática da escola, possibilitando o envolvimento de profissionais e usuários no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar. 1.3 Práticas de gestão Segundo Libâneo (2004), as práticas de gestão dizem respeito a ações de natureza técnico-administrativa e de natureza pedagógico-curricular, que se constituem em meios, instrumentalidades, da ação educativa e docente. Entendemos que essas ações se dão a partir da gestão pedagógica, administrativa e dos recursos humanos. Dessa forma, apresentamos a seguir algumas considerações acerca de cada uma dessas dimensões. 1.4 Gestão pedagógica Embora seja difícil ajuizar as ações educacionais, entendemos que a gestão pedagógica seja o lado mais importante e significativo da gestão escolar. Não que as outras dimensões não sejam importantes, mas a parte pedagógica é sobre a qual deve recair a maior atenção por parte dos gestores educacionais, pois ela cuida da área educativa, propriamente dita, da escola. Grosso modo, podemos dizer que essa dimensão estabelece objetivos para o ensino, sejam gerais ou específicos. Ademais, é a partir da gestão pedagógica que se: • define as linhas de atuação, em função dos objetivos e do perfil da comunidade e dos alunos; • propõe metas a ser atingidas; • elabora os conteúdos curriculares; 5 10 15 20 25 12 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 • acompanha e avalia o rendimento das propostas pedagógicas e dos objetivos, e o cumprimento de metas; • avalia o desempenho dos alunos, do corpo docente e da equipe escolar como um todo. Portanto, suas especificidades devem estar enunciadas no regimento escolar e no projeto pedagógico da escola, também conhecido como proposta pedagógica. Além disso, parte do plano escolar inclui elementos da gestão pedagógica: objetivos gerais e específicos, metas, plano de curso, plano de aula, avaliação e treinamento da equipe escolar. Nesses termos, em primeiro lugar, gostaríamos de ressaltar que plano gestão ou plano escolar são sinônimos. Em segundo lugar, ressaltamos que se trata de um instrumento de trabalho dinâmico e flexível que: • operacionaliza as medidas previstas de forma genérica no regimento; • propõe ações para a execução da proposta pedagógica da escola em um determinado período letivo; • norteia o gerenciamento das ações escolares. No plano de gestão, a escola apresenta sua proposta de trabalho, destacando seus principais problemas e os objetivos a alcançar. Além disso, relaciona as ações específicas que pretende desenvolver, com vistas a solucionar os problemas ou a fornecer os aspectos positivos que tem a favor. Outro aspecto importante a ser destacado é que nesse documento a escola explicita também como, por quem e quando as ações serão realizadas, bem como os critérios para acompanhamento, controle e avaliação do trabalho desenvolvido. 5 10 15 20 25 30 13 PRÁTICAS DE GESTÃO EM ESCOLAS E EMPRESAS Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 Por fim, gostaríamos de ressaltar que o diretor é o grande articulador da gestão pedagógica e o primeiro responsável pelo seu sucesso. É auxiliado nessa tarefa pelo coordenador pedagógico. Em síntese, podemos dizer que a gestão pedagógica diz respeito à formulação e gestão do projeto pedagógico-curricular, do currículo, do ensino, do desenvolvimento profissional e da avaliação, ou seja, à gestão dos próprios elementos que constituem a natureza escolar (Libâneo, 2004). 1.5 Gestão administrativa Em geral, quando se pensa na figura do diretor de escola, atribui-se a ele uma figura meramente administrativa. Por outro lado, devemos ressaltar que não é bem assim, pois, conforme relação de competências e habilidades apresentadas no item que buscamos conceituar o termo direção, fica evidente que esse profissional tem uma ampla área de atuação. Claro que as exigências lá apontadas são para os diretores de escolas públicas do Estado de São Paulo, que, por sua vez, tem exigido cada vez mais de seus gestores, pois está implementando uma ampla reforma curricular dentro da lógica de mercado. Não obstante, se o futuro graduando ou graduanda em pedagogia for atuar em uma escola particular, dependendo de sua dimensão, muito provavelmente essa escola terá dois diretores: um responsável pela área administrativa e outro pela pedagógica. Mas se for atuar em uma escola de pequeno porte, acreditamos que ele ou ela será responsável tanto pela dimensão administrativa quanto pela pedagógica. Portanto, fica claro que temos que conhecer um pouco das rotinas de cada uma dessas dimensões, pois não temos clareza acerca do que o futuro nos reserva enquanto gestores, mas sabemos que as exigências serão cada vez maiores. 5 10 15 20 25 30 14 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 Vale ressaltar que apesar da dimensão administrativa não ser considerada a mais importante, entendemos que é uma área que requer trabalho e responsabilidade por parte dos diretores de escola.Afinal de contas, é a área da administração que cuida da parte física da escola, compreendendo o prédio e os equipamentos materiais que a escola possui, e da parte institucional, que diz respeito à legislação escolar, aos direitos e deveres, às atividades de secretaria. Tem pessoas que gostam de fazer esse tipo de trabalho, mas há outros que têm completa aversão e só fazem porque são obrigados e aí é que surgem os problemas, pois se não gostamos do que fazemos, fazemos mal e, portanto, somos infelizes. Grosso modo, podemos dizer que, nessa dimensão, cuidamos da legislação escolar e das normas administrativas; dos recursos físicos, materiais, didáticos e financeiros. Portanto, somos responsáveis pela direção e administração, que incluem desde as rotinas administrativas até o cotidiano da secretaria da escola. Por fim, é importante ressaltar que as especificidades da dimensão administrativa estão enunciadas no plano de gestão e no regimento da escola. 1.6 Gestão de recursos humanos Conforme mencionado anteriormente, é difícil dizer o que é mais ou menos importante dentro da gestão escolar. Acreditamos que essa avaliação depende muito das preferências de atuação de cada gestor, ou seja, se tiver uma preferência maior pela parte pedagógica, dirá que ela é mais importante, se for pela administrativa, dirá que é esta e assim por diante. Dessa forma, preferimos dizer que todas são importantes e nenhuma exclui a outra, pois o sucesso de uma dimensão depende da boa atuação da outra e vice-versa. 5 10 15 20 25 30 15 PRÁTICAS DE GESTÃO EM ESCOLAS E EMPRESAS Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 Portanto, trata-se de um trabalho de extrema importância, pois a gestão de pessoal relacionada aos alunos, equipe escolar e comunidade em geral constitui, muito provavelmente, a parte mais sensível de toda a gestão. Por que pensamos assim? Entendemos que, sem dúvida, lidar com pessoas, mais do que isso, mantê-las trabalhando satisfeitas, rendendo o máximo em suas atividades, contornar problemas e questões de relacionamento humano, faz da gestão de recursos humanos o fiel da balança - em termos de fracasso ou sucesso - de toda formulação educacional a que se pretenda dar consecução na escola. Diante disso, questionamos: afinal, o que está em jogo na gestão de recursos humanos? Podemos afirmar que muita coisa. Principalmente o que diz respeito aos direitos, deveres, atribuições - de professores, corpo técnico, pessoal administrativo, alunos, pais e comunidades –, que por sua vez devem estar previstos no regimento escolar. Sobre uma indagação bastante comum identificada no senso comum quanto ao fato dos diretores estarem ou não preparados para lidar com as pessoas, não é possível afirmar se todos estão. Entretanto, considerando as exigências que os gestores estão submetidos no contexto da atualidade, caso não estejam preparados, precisam se preparar, e logo, pois não há como administrar uma escola sem lidar com pessoas. Portanto, entendemos que se o regimento escolar for elaborado de modo equilibrado, não tolhendo demais a autonomia das pessoas envolvidas com o trabalho escolar, nem deixando lacunas e vazios sujeitos a interpretações ambíguas, a gestão de recursos humanos se tornará mais simples e mais justa. 5 10 15 20 25 30 16 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 Em síntese, podemos afirmar que a organização ora proposta para as práticas de gestão, ou seja, gestões pedagógica, administrativa e de recursos humanos, corresponde a uma formulação teórica e explicativa, pois, como se sabe, na realidade escolar, as três dimensões são indissociáveis. Portanto, devem atuar de forma integrada, com vistas a garantir a organicidade do processo educativo. Quando pensamos em escola, sabemos que é um local onde há muitas pessoas, portanto, uma boa gestão de recursos humanos se faz necessária. Mas quais seriam os desafios dos gestores para terem uma gestão bem-sucedida? Entendemos que um dos desafios na gestão de pessoas no âmbito escolar é manter um ambiente de trabalho prazeroso, que permita o crescimento organizacional e o desenvolvimento do potencial intelectual das pessoas. Independentemente da escolar ser de natureza pública ou privada, acreditamos que entre os fatores que permeiam as relações de trabalho e influenciam na satisfação das pessoas temos a motivação do próprio ser humano e o clima organizacional. O indivíduo ao ingressar no mundo do trabalho, de modo geral, é revestido de expectativas, de busca de satisfação, tanto das necessidades de pertencer a um grupo social quanto de se autorrealizar. Quando há elevada motivação, o clima se torna favorável e, como consequência, as pessoas estão satisfeitas, interessadas e colaborativas. Por outro lado, se há baixa motivação em decorrência de frustrações ou barreiras à satisfação de necessidades, o clima organizacional tende a ser desfavorável, gerando estados de depressão, desinteresse, apatia, e até de reclamações generalizadas. Sabemos que manter um ambiente agradável é uma tarefa bastante complexa, mas, enquanto gestores, precisamos dedicar 5 10 15 20 25 30 17 PRÁTICAS DE GESTÃO EM ESCOLAS E EMPRESAS Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 boa parte de nosso tempo buscando a manutenção de um quadro harmônico entre os atores. Por outro lado, se optarmos por uma gestão democrática, muito provavelmente isso não será difícil, mesmo se não tivermos como atender aos anseios das pessoas às suas necessidades. 1.7 Prática de gestão: algumas dicas para o futuro gestor escolar Em primeiro lugar, podemos adotar alguns princípios e práticas da administração empresarial na gestão educacional, conforme sugere Santos (2008). Dentre esses princípios, podemos destacar: • as escolas devem ser planejadas para se transformar em centros comunitários permanentes; • a integração escola-comunidade-família deve ser amplamente aplicada; • pais, professores e alunos devem estar satisfeitos com a escola; afinal, eles são os clientes; • não esquecer que entre a clientela há diferentes características de inteligência e, por isso, devem existir diferentes estilos de aprendizagem; • usar boas e novas técnicas de ensino que sugiram diferentes formas de aprendizagem; • não se esquecer do recurso-chave do processo de ensino- aprendizagem: o professor. Investir em sua atualização e no seu aperfeiçoamento; • planejar bem o currículo da escola, visando ao crescimento pessoal, às habilidades de vida e aprender a aprender; • a educação continuada deve ser uma constante entre os alunos e professores; • adotar critérios diferentes e eficazes de avaliação do processo educativo; lembrar-se de que o que sabemos 5 10 15 20 25 18 UnidadeI Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 hoje será obsoleto amanhã. Se pararmos de aprender, estaremos condenados à estagnação; • usar tecnologia moderna e dar a todos o direito de escolher a técnica que lhes pareça mais adequada para aprender. Acreditamos que essas dicas são muito importantes para o sucesso da gestão da escola. Mas não é só isso, acreditamos que uma gestão bem-sucedida prescinde de um líder que saiba negociar, pois somos suscetíveis a conflitos o tempo todo. Portanto, apresentamos a seguir algumas noções de negociação no cotidiano escolar. 1.8 Negociação no cotidiano escolar De acordo com Ferreira (2008), a capacidade de negociar surgiu mediada pela evolução da cognição do ser humano, conforme comprovam dados arqueológicos e antropológicos. Ademais, acrescenta o autor, a cognição foi a mediadora entre o cérebro e a cultura, funcionando como força indutora de interações das pessoas, o que favoreceu o progresso e o desenvolvimento humano. Mas em que medida devemos nos valer da negociação? Segundo Ferreira (2008), a negociação deve ser vista como um processo para superar conflitos entre pessoas que se encontram em posições divergentes e atribuem valor ao que está sendo discutido. Talvez você possa estar se questionando se este discurso não é contraditório, pois espera-se que o consenso prevaleça no contexto da gestão escolar. De fato, é o que esperamos, mas não é bem assim que as coisa acontecem. Vale dizer que, apesar de haver um discurso romântico sobre a gestão da escola, não podemos deixar de mencionar que há muitos conflitos, pois nem sempre os 5 10 15 20 25 19 PRÁTICAS DE GESTÃO EM ESCOLAS E EMPRESAS Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 interesses são os mesmo. Afinal, estamos lidando com seres humanos e, quando os interesses divergem, aí cada um assume a postura que mais lhe convém. Por exemplo, no caso das escolas públicas, é sabido que em vários momentos há paralisações ou até mesmo greves. Apesar de ser um direito constitucional, nem sempre todos aderem ao movimento, cabendo ao diretor, na maioria das vezes, negociar o conflito. Portanto, como se vê, nesse caso, o diretor ou a diretora e alguns professores estão de um lado enquanto que outros professores, e até mesmo alguns membros da direção, estão em outro. Dessa forma, a negociação deve entrar em campo. Em um processo de negociação, devemos ter em mente que há um ou mais objetivos, e estes objetivos podem ser categorizados como ideais, realistas e prioritários. Os objetivos ideais são aqueles que poderiam ser concretizados caso o lado oposto da negociação estivesse de acordo com o que é pedido. As duas partes da negociação podem oferecer resistência aos objetivos realistas de uma das partes e, por meio de negociações exaustivas, busca-se atingir um consenso sobre as prioridades de ambos os lados. Mas chegar a esse ponto não é uma tarefa fácil, pois se trata de um ambiente bastante inflamável e, segundo Ferreira (2008), é quase impossível que não ocorra a manifestação de emoções e sentimentos positivos e negativos. Para esse autor, mesmo os negociadores mais experientes têm o seu comportamento definido pela ação das emoções e sentimentos, que podem facilitar ou dificultar o relacionamento entre as partes. Quando frustrada em suas expectativas, é normal que uma pessoa manifeste forte rejeição à situação surgida e focalize os seus ressentimentos sobre o agente causador. Se a resposta emocional não for imediata, é quase certo que os sentimentos negativos permanecerão dominando a sua mente, com elevadas chances 5 10 15 20 25 30 20 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 de se extravasar de forma conflituosa, em oportunidades posteriores (Ferreira, 2008). Situações dessa natureza são comuns no cotidiano escolar, pois as dificuldades de gerir uma escola estão em uma proporção bastante similar à da atuação do professor no contexto da atualidade. Temos observado cada vez mais um processo desvalorização do papel do professor, o que por sua vez culmina em uma relação cada vez mais conflituosa tanto com os alunos quanto com a direção da escola. As negociações são difíceis, mas acontecem somente no momento em que as partes envolvidas estiverem dispostas a realizar uma troca. Portanto, ela acontece o tempo todo em torno deste princípio, de acordo com a regra de que é preciso dar poder antes de receber. O seu ponto-chave está nas concessões, e na premissa de que ambas as partes devem obter vantagens delas. Alguns termos classificam os resultados das negociações, que podem ser ganha/ganha ou perde/perde. Parte-se do princípio de que em nenhuma negociação perde/ganha há uma vitória propriamente dita. Precisa ficar claro que um dos fatores críticos de sucesso para o bom resultado de uma negociação é que ambas as partes tenham bem-definidos os objetivos realmente necessários dos que são resultados de um desejo, portanto, objetivos pessoais. Os adversários devem se perguntar o que realmente é um objetivo que guiará o objetivo comum e quais que se não obtidos não influenciariam, ou influenciariam pouco, no resultado final buscado pelo grupo. Como estamos nos referindo à escola, acreditamos que não temos adversários, mas sim pessoas momentaneamente insatisfeitas com uma dada situação que, em geral, são solucionados com uma boa negociação. 5 10 15 20 25 30 21 PRÁTICAS DE GESTÃO EM ESCOLAS E EMPRESAS Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 1.9 Trabalho em equipe O trabalho em equipe pode também ser descrito como um conjunto ou grupo de pessoas que se dedicam a realizar uma tarefa ou determinado trabalho. No caso específico das escolas, isso é de extrema importância, pois, conforme mencionado anteriormente, o sucesso de uma dimensão da gestão depende da outra. Portanto, acreditamos que o sucesso da gestão se dá a partir do trabalho compartilhado por todos os membros da unidade escolar, ou seja, direção, vice-direção ou assistente de direção, coordenação, professores, funcionários, alunos e comunidade em geral. O trabalho em equipe possibilita a troca de conhecimento e agilidade no cumprimento de metas e objetivos compartilhados. Para ilustrar esse ponto de vista, podemos nos valer dos esportes, em que times ou seleções jogam uns contra os outros. Sobre o trabalho em grupo, Borges (2004) afirma que a educação formal não é tarefa para indivíduos, mas para equipes. Portanto,isoladamente, ainda que haja competência e comprometimento, os resultados do trabalho educacional são quase sempre insignificantes. Ademais, em termos de produtividade, uma escola se distingue de outra em virtude do maior ou menor grau de sintonia entre professor e escola, entre professor e aluno, entre escola e família, entre alunos, entre professores. Quando essas relações são desafinadas, por melhor que seja o desempenho de cada indivíduo, sempre há prejuízos. Mais do que de energia, o trabalho educacional precisa de sinergia. Portanto, cuidar do crescimento das pessoas é um dos caminhos mais efetivos para a formação de uma equipe. Por maior que seja o esforço, é muito difícil constituir uma equipe quando as pessoas do grupo, em sua maioria, são egoístas, 5 10 15 20 25 30 22 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 mesquinhas, agressivas, desleais, competitivas, duras, irônicas, permissivas, autoritárias (Borges, 2004). Concordamos com esse autor que a competência individual é condição necessária para a democratização das relações, para se dar poder aos indivíduos, sem que se caia no caos, sem aumentar a confusão e sem dificultar o gerenciamento da equipe. Mas precisamos deixar claro que o talento individual, embora imprescindível, não é suficiente para que se forme uma equipe. É necessário que os talentos se unam em torno de um objetivo comum, é preciso que tenham uma visão compartilhada. O trabalho individual benfeito, mas sem um norte e não sincronizado, é pouco efetivo para a consecução das metas de uma instituição (Borges, 2004). Ademais, quando há uma única direção para as energias individuais, cria-se uma sinergia. A seguir, apresentamos algumas dicas para se trabalhar em grupo. Paciência: sabemos que nem sempre é fácil conciliar opiniões diversas, mesmo porque, conforme reza o dito popular, “cada cabeça, uma sentença”. Por isso, é importante que sejamos pacientes e pensemos antes de falar. Devemos procurar expor os nossos pontos de vista com moderação e ouvir o que os outros têm a dizer. Precisamos respeitar os colegas, mesmo que não estejamos de acordo com as opiniões deles. Aceitar as ideias dos outros: muitas vezes, é difícil aceitar ideias novas ou admitir que não temos razão, mas é importante saber reconhecer que a ideia de um colega pode ser melhor do que a nossa. Afinal de contas, mais importante do que o nosso orgulho é o objetivo comum que o grupo pretende alcançar. 5 10 15 20 25 30 23 PRÁTICAS DE GESTÃO EM ESCOLAS E EMPRESAS Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 Não criticar os colegas: podem surgir conflitos entre os colegas de grupo, mas é muito importante não deixar que isso interfira no trabalho. Devemos avaliar as ideias dos colegas, independentemente daquilo que achamos deles. Podemos criticar as ideias, mas jamais a pessoa. Saber dividir: quando trabalhamos em grupo, é importante dividir tarefas. Não devemos partir do princípio de que somos o único que sabemos realizar uma determinada tarefa. Afinal de contas, se isso fosse verdade, o trabalho não seria em grupo, mas individual. Portanto, partilhar responsabilidades e informação é fundamental para o sucesso da equipe. Por fim, gostaríamos de ressaltar que o desempenho de uma equipe depende da competência individual de seus membros e da capacidade de trabalhar bem em conjunto. É bastante frequente o exemplo de equipes de futebol com grande número de estrelas que apresentam resultados desprezíveis em campeonatos; e não é raro equipes com menor número de talentos individuais surpreenderem grandes equipes (Borges, 2004). Não podemos esquecer que uma equipe é bem mais que um conjunto de pessoas. Em nossas escolas, precisamos trabalhar em equipe, mas não podemos confundir o sentimento de equipe com o sentimento de amizade. Esse ponto de vista é ancorado na tese de que alguns gestores educacionais, na ânsia de terem equipes afinadas, muitas vezes, gastam boa parte de seu tempo promovendo encontros, reuniões, festas, comemorações que possam criar laços de amizade entre os membros de seu grupo. Concordamos com Borges (2004) que a amizade não precisa ser patrocinada pela instituição, pois o indivíduo é capaz, por si só, de escolher e de cultivar seus amigos. Portanto, vamos trabalhar em equipe, mas com sabedoria e profissionalismo. 5 10 15 20 25 30 24 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 1.10 Como fazer reuniões produtivas? Provavelmente, vocês podem estar se questionando: a prática de gestão é um receituário? A resposta é não. Mas nossa experiência na área nos permite sugerir algumas dicas aos futuros gestores educacionais. Em educação, fazemos muitas reuniões, mais do que precisamos. Acreditem! Aliás, em geral, nos reunimos semanalmente com os professores, com vistas a encontrar caminhos alternativos para a prática pedagógica. Essas reuniões são importantes, pois estão relacionadas à formação continuada dos docentes, mas nem sempre os resultados alcançados são os esperados. Sobre esse assunto, Forsyth (2004, p. 7) diz que “a reunião ideal é a de duas pessoas – com a ausência de uma”. Claro que é um exagero do autor, mas concordamos com ele que se existe alguma coisa na vida dos negócios que seja uma bênção indesejável trata-se certamente das reuniões. É notório que tanto no meio corporativo quanto no educacional se gasta muito tempo com as reuniões, e muitas delas não apresentam contribuição alguma, para dizer o mínimo (Forsyst, 2004). Frente ao exposto, o autor nos dá algumas dicas para realizarmos reuniões que, talvez, possam ser úteis a vocês, e porque não dizer a nós mesmos, pois também somos gestores educacionais. Diante disso, antes da reunião, precisamos ter em mente que para uma reunião ser bem-sucedida precisa ter propósito e conteúdo. Reuniões do tipo “acho que agora estamos todos aqui; de que vamos tratar primeiro?” não servem para nada (Forsyst, 2004). Portanto, antes de propor uma reunião, temos que verificar se ela é realmente necessária. Pode haver outras formas de lidar 5 10 15 20 25 25 PRÁTICAS DE GESTÃO EM ESCOLAS E EMPRESAS Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 com o assunto em questão. Hoje, com o avanço dos meios de comunicação, ao invés de propormos uma reunião desnecessária, talvez pudéssemos passar as informações por e-mail ou ainda nos comunicarmos por Skype. Portanto, a primeira perguntaé: a reunião realmente precisa ser convocada? Será que não se trata de uma reunião para você mesmo? Tem gente que adora fazer reuniões. Quem sabe você não é uma dessas pessoas... Portanto, quando a reunião for proposta por você, em primeiro lugar, pergunte a si próprio: é um assunto para discussão ou para consulta? Será que a informação a ser disseminada na reunião poderia circular de outra forma? Se uma conversa breve for necessária, não seria suficiente uma conversa por telefone, ou no corredor, ou mesmo na hora do almoço? Tão logo se façam essas perguntas, uma alternativa quase sempre se apresenta, e pode ser menos demorada do que uma reunião. Forstyth (2004, p. 13) faz a seguinte advertência: “lembre-se de que essa decisão afeta não apenas sua própria disponibilidade de tempo”. Ademais, uma reunião de seis pessoas por hora representa seis horas de trabalho (mais a preparação, chegar até lá e... você já entendeu o ponto de vista); essa é a maneira de refletir sobre o assunto. Naturalmente, quanto mais pessoas forem convidadas para uma reunião, mais essa situação se multiplica; e reuniões numerosas tendem, por natureza, a demorar mais do que as menores. Em vista do que foi dito, propomos abaixo algumas dicas para vocês organizarem suas reuniões. • Procure começar a reunião com uma breve explicação do problema. Veja, em seguida, se os participantes o compreenderam bem. • Questione as causas do problema. • Faça resumos com frequência do que foi discutido até então. 5 10 15 20 25 30 26 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 • Peça as soluções possíveis, buscando ter as evidências que comprovem a praticidade de cada solução. • Após o problema ter sido suficientemente discutido, faça um resumo final e proceda, então, à sua votação. • O ideal é que todas as soluções apontadas tenham responsáveis e prazos para execução. • Sempre que for conveniente, nomeie uma pessoa ou uma comissão encarregada de verificar se a decisão foi tomada corretamente e no tempo previsto. • Evite expressar suas ideias pessoais e só o faça depois que os outros tenham expressado as deles. Seu objetivo principal é dirigir e não participar calorosamente da discussão. • Seja flexível. No entanto, se você tem mais de doze pessoas em uma reunião, procure garantir que a pessoa que queira falar obtenha a sua autorização. Ela deverá levantar a mão e se pronunciar somente após sua autorização, seja pela menção ao nome ou por um aceno afirmativo com a cabeça. Outra forma é fazer uma bolinha de papel e só permitir que fale aquele que a tiver nas mãos. • Mantenha a reunião ativa, sem se desviar do tema. Garanta que seja rápida, com exposições curtas. Intervenha quando alguém falar muito ou com demasiada frequência, assim como quando saírem do tema. Reforce: “O assunto que estamos discutindo é... Por favor, não se afaste do tema”. • Procure fazer com que todos participem da reunião, porém evite perguntar diretamente a cada um a sua opinião. Outra coisa importante que deve ser pensada para uma reunião é a pauta. Na maioria dos casos, ela precisa estar escrita e ser distribuída com antecedência. Isso é básico, embora fazê-lo não seja frequente. Uma pauta clara pode controlar uma reunião de várias formas. De acordo com Forstyth (2004), a pauta deverá: 5 10 15 20 25 30 27 PRÁTICAS DE GESTÃO EM ESCOLAS E EMPRESAS Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 03 /0 8/ 10 / / 2ª r ev is ão : B ea tr iz / Co rr eç ão : M ár ci o - 10 /0 8/ 10 / / 3ª r ev is ão : B ea tr iz - C or re çã o: M ár ci o - 13 /0 8/ 10 • especificar as formalidades (será necessário registrar as ausências e suas razões, por exemplo?); • escolher e conectar-se a pontos de reuniões anteriores para manter a continuidade; • dar aos convocados a oportunidade de fazer sugestões; • especificar quem deverá liderar ou contribuir para cada item; • ajudar as pessoas a se prepararem; • ordenar os itens para discussão ou avaliação, o que pode ser feito segundo a ordem lógica dos tópicos, a dificuldade que representam (e talvez o tempo que os itens vão demandar), e a conveniência dos participantes (talvez alguém tenha que sair mais cedo e algum tópico deve ser tratado antes que isso aconteça); • lidar com assuntos administrativos, tais como: onde e quando a reunião terá lugar e, se for longa, prever intervalos e cafezinho. Outro aspecto de extrema importância para as reuniões é o horário. Afinal, toda reunião deve ter horário para início e, claro, para o término. Portanto, deve começar na hora programada, independentemente da quantidade de presentes, e terminar no horário programado. Aliás, seria prudente programá-la para terminar antes do horário programado e jamais após esse horário. Quando isso acontece, perdemos a credibilidade. Há outros aspectos que devem ser considerados na organização de uma reunião, mas acreditamos que as sugestões apresentadas são de grande valia. Ademais, vocês mesmos poderão encontrar outras dicas, até mais eficazes. 5 10 15 20 25
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