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Amanda Carpes - ATM 23 Psicologia Médica - Primeiro bimestre • Fases e técnicas de entrevista: Esquematicamente podemos dividir a entrevista em três fases - recepção, exploração e resolução. 1. RECEPÇÃO: Desde o primeiro contato, a comunicação (verbal e não verbal) veicula uma série de informações e impressões que são registradas (consciente ou inconscientemente), produzindo reações e estabelecendo o clima do encontro. É importante termos presente que em toda relação se estabelece vínculos cujas características e qualidades geram comportamentos e expectativas (elas podem ser funcionais ou disfuncionais, dependendo da fase e das circunstâncias). ‣ A projeção: Consiste em “colocar no outro” imagens e características ditadas por nossas expectativas. Costuma-se dar o nome de transferência às projeções do paciente na figura do profissional. Denomina-se contratransferência as projeções do profissional sobre o paciente. ‣ O estudante de medicina: Tais tipos de projeções costumam ocorrer com o estudante de medicina, as quais conferem ambiguidade do lugar que eles ocupam; uma posição de potência, já que são investidos de um saber; mas também de aprendizagem, daquelas que ainda sabem pouco de seu ofício. ‣ O paciente, em geral, está aflito e incomodado por sua doença, espera que o aluno resolva todos os seus problemas, colocando-o em uma posição de salvador. Por isso é importante que o estudante saiba identificar as vantagens em estabelecer uma postura direta e sincera com o paciente: apresentando-se claramente ao paciente como um estudante desempenhando uma tarefa de aprendizagem. As reações costumam ser positivas e raramente hostis ou negativas (características do paciente que precisam ser observadas e manejadas de forma a desobstruir a relação e favorecer o vínculo e a tarefa). ‣ Tanto em momentos hostis quanto em outras manifestações emocionais, é importante o estudante ter presente que o treinamento tem que ajudá-lo a encontrar a distância adequeada (um ponto situado a meia distância entre confundir-se com o paciente ou distanciar-se defensivamente). ‣ Evitar cristalização de atitudes estereotipadas: relação profissional eficiente, viva e humana. ‣ Padrões de relacionamento: Há uma classificação a partir da característica “interjogo de poder” na qualidade do vínculo que propõe três padrões - paternalista, mutualista e consumerista. Não existe uma dinâmica vincular correta a priori: a dinâmica deverá sempre levar em consideração as necessidades, a situação e o estado do paciente. O que é prejudicial para a �1 Amanda Carpes - ATM 23 relação é a rigidez e a estereotipia (profissional que utiliza apenas um padrão de atendimento). ‣ Paternalista: Os profissionais de saúde dominam a agenda, os objetivos e as tomadas de decisão. É o modelo de vínculo mais típico e prevalente. ‣ Mutualista: Vínculo centrado na relação; nele existe um balanceamento do poder, respeitadas as peculiaridades de cada papel. Os objetivos, a agenda e as decisões relacionadas a consulta são resultado de negociação entre paciente e profissional da saúde, os dois trabalhando em associação. Mediante tal processo, o profissional da saúde atua como conselheiro ou orientador. ‣ Consumerista: O modelo mais típico de relação de poder entre profissional da saúde e paciente está invertido, sendo o paciente quem dita a agenda e os objetivos e assume a responsabilidade pelas tomadas de decisão. Há pouca exploração psicossocial; esse tipo de vínculo redefine o encontro como uma transação de mercado. ‣ O pano de fundo: O encontro já apresenta de antemão um pano de fundo comunicacional que é determinado pelas características do paciente e do profissional bem como pelas características da natureza do atendimento, do local e das possíveis intermediações entre os dois. Características pessoais mais importantes (tanto do paciente como do profissional): roupas, características corporais (altura, peso, cor da pele, cabelo, cheiro), sexo, condição social, cultura e religião. Características ambientais: natureza do local (enfermarias, PS, consultório particular, convênio, serviço público); ambiente físico (móveis, arquitetura, cores, decoração, luminosidade, temperatura, ruídos, música). ‣ Contato inicial: Para que não haja comportamento estereotipado é importante compreender o porquê de determinadas atitudes, ajudando-nos a ser mais flexíveis e isso se aplica ao contato inicial e a toda a entrevista. Indicações e sugestões para o contato inicial: ‣ Consultar ficha ou prontuário - tanto para um paciente de primeira consulta quanto para aquele que esteja retornando. ‣ Chamar o paciente pelo nome ‣ Cumprimentar e apresentar-se ‣ Esclarecer seu papel e sua função ‣ Informar sobre o tempo que será necessário para a entrevista ‣ Manter contato visual com o paciente - olhar nos olhos do outro desperta fortes emoções, em função disso, o contato visual raramente dura mais de três segundos; a interrupção do contato �2 Amanda Carpes - ATM 23 visual diminui os níveis de estresse; esse tópico vai depender da cultura do paciente. ‣ Demonstrar interesse e respeito - evidencia uma preocupação com o bem-estar do paciente. ‣ Cuidar do conforto físico do paciente 2. EXPLORAÇÃO: Existem várias formas de conduzir a entrevista: estruturada, semiestruturada e aberta. Em cada entrevista, existem momentos em que é mais vantajoso aplicar um ou outro procedimento (tipo do paciente, tempo disponível, etc). Em um primeiro momento, é importante deixar o paciente falar abertamente para que depois possa-se focalizar algum sintoma. ‣ Aberta: Oferecemos ao entrevistado uma liberdade total para escolher os conteúdos. ‣ Dirigida/estruturada: Os conteúdos a serem explorados são totalmente predeterminados pelo profissional. ‣ Semidirigida/semiestruturada: Os conteúdos são parcialmente determinados pelo profissional, com espaço para livre narrativa do paciente. ‣ Os seguintes procedimentos e cuidados podem ser úteis para a fase exploratória: ‣ Delimitar o motivo/demanda da consulta - identificar os problemas ou as questões que o paciente deseja tratar com uma pergunta aberta (“O que o traz aqui?” “Como posso ajudá-lo?” “Pois não?”); escutar atentamente sem interromper ou dirigir as respostas. ‣ Quando há muitas demandas, deve-se negociar uma agenda e estabelecer prioridades. ‣ Os dados necessários: Estimular que a pessoa construa sua própria história da doença; Saber o suficiente para estimular com questões pertinentes que auxiliem (abertas e fechadas); Escuta atenta, proporcionando espaço para pausas e elaboração do pensamento; Esclarecer e ampliar; Questões concisas; Estabelecer ordem e sequência dos fatos; A ideia da causa (“O que achas que provocas isso?”); Sentimentos (“Sobre o que está se passando tem algo que lhe preocupa?”). ‣ Explorar o contexto familiar e a sua história do adoecimento. ‣ As perguntas são consequências do objetivo que se tem em mente; ‣ Se o foco está na doença, devemos ter um roteiro e conhecimentos que possibilitem relacionar sintomas. ‣ Quando o foco está voltado para a pessoa, é preciso ter um roteiro que ajude a enfatizar características de personalidade e vivencias significativas. ‣ Como perguntar? É importante evitar perguntas que induzam respostas ou perguntas que sejam muito amplas e acabem produzindo resposta formais. �3 Amanda Carpes - ATM 23 Devem-se evitar respostas fechadas. Perguntas sobre a vida pessoal podem despertar angústias tanto nos pacientes como nos profissionais. ‣ O adoecer sempre tem a participação de fatores físicos, psicoemocionais e sociais.Tanto o adoecimento como o modo como a pessoa vai lidar com a doença e com o tratamento depende de todos esses fatores. ‣ Deve-se evitar formalismos.‣ Cuidado: a informalidade, embora o nome assim possa sugerir, não é a perda de qualquer forma, mas uma forma de conduzir a conversa, não devendo ser confundida com a perda de referências. ‣ Técnicas: ‣ Baixa reatividade - deixar um lapso de tempo (2s) entre a intervenção do paciente e a sua, isso evita interrupções. ‣ Silêncio funcional - aceitar/criar momentos nos quais cessa a comunicação verbal, com intuito de proporcionar um tempo de meditação ao paciente. ‣ Aceitação - aceitar a legitimidade dos sentimentos e dos pontos de vista do paciente. Evitar críticas. ‣ Facilitação - adotar algumas condutas verbais ou não verbais que facilitem ao paciente prosseguir ou iniciar seu relato, sem indicar ou sugerir conteúdos. Fazer gestos de assentimento com a cabeça ou sons que carreguem significado semelhante. ‣ Empatia - expressar solidariedade emocional, um contato, um sorriso, “Compreendo como se sente”. ‣ Repetição de frases - a fim de orientar a atenção deste para determinado aspecto. ‣ Sumarização - sintetizar periodicamente as informações fornecidas pelo paciente para verificar sua compreensão e permitir que ele as corrija ou complemente. ‣ Assinalamento - tornar mais explícitas e manifestas as emoções ou condutas do paciente, podendo ser feito pela avaliação do estado de ânimo do paciente. “Estou observando que você foi ficando triste…" ‣ Legitimação - isso é expresso pela própria atitude do profissional, podendo ser complementado com uma frase do tipo “é natural sentir-se irritado com essa dor incomodando o dia todo”. 3. RESOLUÇÃO: As comunicações com paciente e familiares fazem parte da fase resoluta da entrevista. Essa fase é subdividido em duas etapas: informativa e negociadora. �4 Amanda Carpes - ATM 23 ‣ Informativa: etapa em que são fornecidas informações ao paciente (e aos familiares). ‣ É importante detectar e atender, da maneira mais apropriada, suas necessidades - responder às expectativas do paciente, que deseja ser informado sobre sua saúde; melhorar a adesão ao tratamento. ‣ É importante evitar uma série de erros nessa etapa - uso de linguagem excessivamente técnica; uso de muitos conceitos por unidade de tempo; misturar diferentes problemas sem dar uma explicação concreta para cada um; interromper o paciente quando este vai perguntar ou falar. ‣ Há fatores que favorecem a boa compreensão - investigar o que o paciente já sabe sobre sua doença, averiguando se deseja saber mais; fornecer informações compreensíveis e que despertem interesse; fornecer informações completas sobre a ação ou o tratamento proposto (modalidade, etapas de abordagem e funcionamento, benefícios e vantagens, possíveis efeitos colaterais); associar métodos visuais de fornecimento de informações; ao detectar resistências, entender as preocupações e dar mais informações; sempre buscar entender o que o paciente compreendeu; ‣ Negociadora: envolve a pactuação das condutas e orientações entre o profissional e o paciente. ‣ Reconhecer o direito do paciente de participar e opinar sobre seu problema; ‣ Procurar envolver o paciente, formulando mais sugestões do que diretrizes; ‣ Incentivar o paciente a se envolver e assumir a responsabilidade na execução dos planos; ‣ Considerar as reações e preocupações do paciente quanto aos planos e tratamentos, incluindo a aceitabilidade; ‣ Explorar as crenças do paciente, mesmo que suas opiniões tenham sido expressas de forma agressiva ou receosa; ‣ Discutir as crenças, mostrando suas incoerências, indicando suas contradições ou contrapondo informação; ‣ Tentar desenvolver técnicas de negociação e persuasão, inclusive em situações nas quais as opiniões do paciente parecem pouco justificadas; ‣ Apresentar alternativas, discutindo opções, benefícios e riscos de cada uma; ‣ Negociar um plano mutuamente aceito; �5 Amanda Carpes - ATM 23 ‣ Quando um plano for aceito, verificar se todas as preocupações foram abordadas; ‣ Indagar sobre os sistemas de apoio e discutir outros apoios disponíveis; ‣ Respeitar as últimas decisões do paciente; • Mecanismos de defesa: • Todo e qualquer acontecimento vivenciado pelo sujeito imprime em seu psiquismo um traço de memória e carrega um significado afetivo; • “Conjunto de operações cuja finalidade é reduzir, suprimir qualquer modificação suscetível de colocar em risco a integridade e a constância do indivíduo biopsicológico”. • Negação, recalque, projeção, racionalização, formação reativa. • As reações psicológicas diante de um novo estado variam imensamente e dependem de inúmeros fatores: a doença pode ser aguda ou crônica, a pessoa em questão pode ser jovem ou idosa, ter tido experiencias prévias boas ou ruins com profissionais da saúde, enfim, das circunstâncias de vida de cada um. • Cada paciente lida com a situação de doença de sua própria maneira, mas podemos observar algumas características comuns entre essas reações de ajustamento a ela: regressão, negação e depressão. • Regressão: grau de afrouxamento em suas funções e atitudes adultas; o paciente busca ajuda médica quando percebe que não pode dar conta sozinho de seu problema; isso estabelece uma relação assimétrica, em que, de um lado, existe uma pessoa em uma situação de vulnerabilidade e, de outro, alguém que detém um saber. Constitui um mecanismo importante de adaptação à doença e à internação, já que permite ao paciente aceitar ser cuidado pela equipe médica. • Negação: frequentemente percebida nas fases iniciais das doenças, é um recurso para evitar sofrimento e para não se sentir sob nenhuma ameaça. É comum que o paciente pense que os exames estão errados, não acredite ou até mesmo não ouça aquilo que lhe é dito pela equipe médica. Esses mecanismos de defesa precisam ser respeitados, pois para muitos pacientes é um mecanismo útil para enfrentar a ansiedade despertada por uma doença ou uma cirurgia iminente. Essa fase pode ser seguida por uma de raiva, quando o paciente busca evitar sua tristeza, atribuindo ao exterior a causa de seus sofrimentos. �6 Amanda Carpes - ATM 23 • Depressão: A tristeza, a desesperança e a preocupação são sentimentos esperados em qualquer paciente que enfrenta uma doença grave e uma internação e costumam ser denominadas apressadamente de “depressão”. É importante não confundir esses sentimentos com quadros depressivos. • Doenças agudas: Há forte impacto psicológico; esse paciente ocupa involuntariamente um papel, submete-se a rotinas e a normas pouco individualizadas, é afastado de suas tarefas diárias e perde o espaço íntimo de sua própria casa, além de ser a todo momento, avaliado, observado ou até mesmo vigiado. Postulou-se oito categorias de estresse psicológico a que um paciente internado está sujeito: 1. Ameaça básica à integridade narcísica; 2. Ansiedade de separação; 3.Medo de estranhos; 4. Culpa e medo de retaliação; 5. Medo da perda de controle; 6. Perda de amor e aprovação; 7. Medo de perda de, ou dano a, partes do corpo; 8. Medo da morte, da dor. As reações de cada paciente diante de todo esse estresse são denominadas reações de ajustamento, as quais apresentam sintomas e durações variados. • Cirurgias: Momentos de tristeza são comuns no pré e no pós operatório. É importante fornecer informações sobre o procedimento, sobre a recuperação e sobre os riscos do procedimento; isso tudo costuma tranquilizar o paciente. O período mais difícil do tratamento cirúrgico é o de sua permanência na UTI. O êxito na cirurgia depende não apenas da correção do processo patológico, mas também da qualidade de vida na fase pós operatória e a reintegração familiar e social. • Transplantes: O individuo nessa situação já passou por um longo tratamento médico, que, certamente, produziu profundosefeitos psicológicos nele e em sua família. Os pacientes elegíveis para um transplante devem passar por um avaliação psicossocial cuidadosa, a fim de se identificarem fatores facilitadores que contribuirão para o êxito da cirurgia. Verifica-se: sinais de estabilidade emocional, história pregressa de alcoolismo e/ou uso de drogas, um forte desejo de viver/energia para a vida, relações familiares. • Hemodiálise: esse tratamento requer uma grande adaptação e representa um estresse importante para todos os indivíduos afetados. Ocorrem dificuldades profissionais, queda de rendimentos, prejuízo da capacidade, perda do interesse sexual, medo da morte e restrições dietéticas e hídricas. Muitos pacientes se adaptam, mas sintomas depressivos podem surgir. O transplante é uma entre as várias terapias de substituição da função renal; pela possibilidade de escolha, o paciente pode se considerar responsável �7 Amanda Carpes - ATM 23 pelas consequências. Algumas pessoas tem mais sucesso do que outras, independente do tipo de tratamento, tendo em vista a personalidade dos pacientes, que influencia muito suas reações às doenças. • Oncologia: Muitas vezes o tratamento oncológico necessita de acompanhamento psiquiátrico e psicológico, devido ao impacto da notícia do diagnóstico. O período de tratamento costuma ser permeado por incertezas, o que pode estimular pacientes e familiares a repensar seus valores e o sentido de sua existência. • A morte e o morrer: A morte desperta acima de tudo, medo - medo de perder a própria vida ou de perder um ente querido. - Do ponto de vista psicanalítico, a morte desperta fantasias e correspondentes defesas contra elas (Eizirik). - Fantasia de caráter persecutório - a morte apresenta-se em forma de mulher de capa preta e foice nas mãos, pronta pra levar o moribundo ao desconhecido, evidenciando a morte como um castigo. - De uma forma geral, somos "todos imortais em nosso inconsciente; por mais que aceitemos a morte, temos a ilusão de que ela jamais ocorrerá. Quando pensamos em nossa morte, a imaginamos de fora, como espectadores e não sentimos como algo que aconteça a nós.” (Eizirik) - A psiquiatra Elizabeth Kluber-Ross delineou cinco etapas pelas quais as pessoas passam na conciliação com a morte: - Negação: paciente se recusa a aceitar a realidade; - Raiva: paciente tende a culpar alguém por sua mazela; - Barganha: “prometo…se eu me curar”; - Depressão: o paciente realiza a morte e vivencia as perdas; - Aceitação: o paciente aceita a morte. - O chamado “trabalho de luto” envolve, sendo Brown e Stoudemire, 3 etapas: - O choque e a descrença: a pessoa sente-se perdida, confusa e triste; - Preocupação com a memória da pessoa falecida: o sobrevivente ainda não aceita a morte, por vezes achando que o falecido ainda está vivo; - Resolução: renovado o interesse nas atividades cotidianas e, no lugar da dor fica a saudade. �8 Amanda Carpes - ATM 23 - A compreensão e a aceitação da morte também variam de acordo com a idade da pessoa em questão - na infância, somente entre as idades de 5 a 7 anos as crianças entenderão que a morte é irreversível, universal e que as funções vitais cessam com ela. - Os adolescentes, por sua vez, apresentam muitos comportamentos de risco, pois se preocupam mais com como vivem do que com quanto tempo viverão. O suicídio é a terceira principal causa de morte entre os adolescente com história de doença emocional, depressão, abuso de drogas e comportamento antissocial. - Na idade adulta, a morte torna-se mais presente, devido ao declínio da força e do vigor físico e, principalmente, à perda dos pais, o que traz uma nova consciência: ser a geração mais velha. - Perder um filho é antinatural e pode levar aos pais um sentimento de fracasso. Não existe em nossa cultura uma palavra que defina essa condição tão inesperada da vida. - Preparando as crianças: as crianças aprenderão a entender a morte e reagir a ela observando e vivenciando as respostas dos adultos em os quais convivem. Elas precisam de explicações adequadas, evitando termos vagos; é necessário que se observe se ela não associou magicamente a morte a um comportamento ou pensamento seu; não se exclui as crianças da cena em que amigos se encontram com as pessoas enlutadas, elas precisam ser ajudadas a enfrentar a perda; elas devem ser ajudadas a expressar e nomear seus sentimentos verbalmente ou de formas gráficas e motoras; evitar que elas assumam papeis de adultos. - Como a criança internaliza a noção de morte: - no inicio da primeira infância, até os 2 anos - a criança já se desenvolve a noção de presença e ausência, ou seja, percebe que as pessoas saem de perto dela e podem voltar. - Por volta de 4 ou 5 anos, começa a perceber que existe o nascimento, o crescimento e a morte. Ainda persiste o pensamento mágico e isso dificulta que entenda relações de causa e efeito de uma forma lógica e objetiva. - É importante possibilitar o convívio com plantas e animais, ajudando a criança a elaborar as noções com fenômenos que são um pouco distanciados da realidade humana, mas que reproduzem vínculos. - As crianças não devem ser excluídas do ritual do velório, pois também precisam iniciar um trabalho de luto. - A morte na cultura: - Malaios : transição gradual; �9 Amanda Carpes - ATM 23 - Gregos: corpos publicamente queimados como sinal de honra; - Judeus ortodoxos: juízo final, não podem cremar; - Japão: contato com os mortos por meio de um altar em casa; - Muçulmanos de Bali: rir e mostrar alegria; - Todos esses costumes e práticas ajudam a lidar com a morte e com o luto por meio de significados culturais bem compreendidos, que oferecem uma âncora estável em meio à turbulência da perda; - Esses rituais proporciona algo previsível e importante para fazer em um momento em que elas, de outro modo, poderiam sentir-se confusas e impotentes; - A morte passou de algo comum, familiar, corriqueiro ao inaceitável, conforme o tempo foi passando. A sociedade quanto mais sexual e liberal tornou-se, mais o tabu deslocou-se para morte. Isso tem acontecido por é vigente em nossa cultura a obrigação de felicidade, devendo a morte ser apagada e sem formas de expressão. - A morte, a medicina e os hospitais: - Uma grave consequência dessa forma de lidar com a morte é a objetivação e reificação do corpo dos pacientes nos hospitais; - O conceito de morte cerebral surge após o desenvolvimento da possibilidade de transplantes. A partir daí, cria-se toda uma legislação para defini-la. - Hoje associa-se a morte à perda da personalidade, ou seja, quando o cérebro para de funcionar. - A morte médica tornou-se a morte social: a perda da identidade, por meio da morte cerebral, transforma o corpo em um complexo mecânico, cujas partes podem objetivadas. Bibliografia: Psicologia Médica- abordagem integral do processo saúde-doença. Capítulos 5, 7, 18 e 20. �10
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