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Restrições do Estado

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RESTRIÇOES DO ESTADO SOBRE A PROPRIEDADE PRIVADA
Fundamento
A propriedade é direito individual que assegura a seu titular uma série de poderes cujo conteúdo constitui objeto do direito civil, e compreende o direito de usar, gozar e dispor da coisa, de modo absoluto, exclusivo e perpétuo. Não podem, no entanto, estes poderes ser exercidos ilimitadamente, porque coexistem com os direitos alheios, de igual natureza, e porque existem interesses públicos maiores, cuja tutela incumbe ao poder público exercer, ainda que em prejuízo de interesses individuais. Entra-se aqui na esfera do poder de polícia do Estado, ponto em que o estudo da propriedade sai da órbita do direito privado e passa a constituir objeto do direito público e a submeter-se a regime jurídico derrogatório e exorbitante do direito comum.
Função Social da Propriedade
A Constituição de 1988, no art. 5º, inc. XXII, garante o direito a propriedade, mas no inc. XXIII, determina que a propriedade atenderá à sua função social.
Quanto à propriedade urbana, o art. 182 § 2º, diz que ela “cumpre a sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no Plano-Diretor”; este é obrigatório para cidades com mais de 20.000 habitantes, sendo considerado o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.
A norma se completa com o § 4º, que faculta ao Poder Público Municipal, mediante lei específica para área incluída no Plano-diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente de: 
	parcelamento ou edificação compulsórios;
	imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial urbana progressivo ao tempo;
	desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate até 10 anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.
Vale dizer que, em se tratando de propriedade urbana, o poder público municipal pode exigir do proprietário, que não esteja usando adequadamente o seu imóvel dentro das condições previstas no Plano-diretor, que faça o seu parcelamento ou edificação compulsórios.
Quanto à propriedade rural, o art. 186 estabelece que a sua função social “é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigências estabelecidos em lei, os seguintes requisitos:
I – aproveitamento racional e adequado;
II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - Observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - Exploração que favoreça o bem estar dos proprietários e dos trabalhadores.”
Não cumprindo a sua função social, o proprietário fica sujeito à desapropriação para fins de reforma agrária, prevista no art. 184; se tornar produtiva a sua propriedade, assegurando-lhe a função social, o seu titular escapa à possibilidade de desapropriação sob essa modalidade, art. 185, II. A matéria está hoje disciplinada pela Lei n.º 8.629, de 25.02.93, e pela Lei Complementar n.º 76, de 06.07.93.
A Constituição delimitou, portanto, o campo de aplicação do princípio da função social da propriedade: na área urbana, significa adequação ao Plano-diretor do Município; especialmente, visa obrigar o proprietário de terreno não construído a nele edificar ou proceder ao seu parcelamento.
Na zona rural, corresponde à idéia, já assente na doutrina jurídico-agrária, de “correta utilização econômica da terra e sua justa distribuição, de modo a atender ao bem-estar social da coletividade, mediante o aumento da produtividade e da promoção da justiça social”.
São modalidades de restrição do Estado sobre a Propriedade Privada: as limitações administrativas, a ocupação temporária, o tombamento, a requisição, a servidão administrativa, a desapropriação e o parcelamento e edificação compulsórios, cada qual afetando de modo diverso o direito à propriedade.
Limitações Administrativas
Ao contrário das limitações mo direito privado (normas referentes ao direito de vizinhança), que constituem objeto do direito civil e visam a regulamentar os direitos e obrigações recíprocas dos particulares, as limitações administrativas, impostas no interesse público, constituem objeto do direito público (administrativo), pois, embora muitas das normas legais limitadoras de direitos individuais sejam de caráter constitucional, penal e eleitoral, é à Administração Pública que cabe o exercício dessa atividade de restrição ao domínio privado, por meio do poder de polícia fundado na supremacia do interesse público sobre o particular.
Podemos indicar três traços característicos das limitações administrativas:
	impõem obrigação de não fazer ou deixar de fazer;
	visando conciliar o exercício de direito público com o direito privado, só vão até onde exija a necessidade administrativa;
	sendo condições inerentes ao direito de propriedade, não dão direito a indenização.
Analisando-se as limitações administrativas à propriedade, verifica-se, inicialmente, que elas decorrem de normas gerais e abstratas, que se dirigem a propriedades indeterminadas, com o fim de satisfazer interesses coletivos abstratamente considerados.
O interesse público a que atende a limitação pode referir-se à segurança, salubridade, estética, defesa nacional ou qualquer outro fim em que o interesse da coletividade se sobreponha ao dos particulares. Podemos citar como exemplos, as limitações que impõem a adoção de medidas técnicas para construção de imóveis, visando a sua segurança e mesma à salubridade pública; as que restringem a altura dos edifícios, por motivos de estética ou de segurança.
Sendo, as limitações administrativas, medidas impostas pelo poder de polícia do Estado, com fundamento no princípio da supremacia do interesse público, não cabe ao particular qualquer medida, administrativa ou judicial, visando impedir a incidência da limitação sobre o imóvel de sua propriedade; o Estado age imperativamente, na qualidade de poder público, e somente poderá sofrer obstáculos, quando a Administração aja com abuso de poder, extravasando os limites legais. Neste caso, cabe ao particular, além de opor-se à limitação estatal, pleitear a indenização por prejuízos dela decorrentes.
Concluindo, podemos definir as limitações, como medidas de caráter geral, impostas com fundamento no poder de polícia do Estado, gerando para os proprietários obrigações positivas ou negativas, com o fim de condicionar o exercício do direito de propriedade ao bem-estar social.
Ocupação Temporária
A ocupação temporária pode ser definida como a privação do uso e gozo de um imóvel não edificado pelo particular em favor do Estado ou de um seu preposto, por tempo limitado, em virtude de interesse público, mediante prévio ajustamento da indenização devida ao proprietário, administrativa ou jurisdicionalmente.
Para sua legitimação pressupõe-se a existência de uma obra ou serviço público, pesquisa ou prospecção de jazida, existência de construção sobre o imóvel. Só pode recair, portanto, sobre imóvel não edificado, e há divergência quanto a sua auto-executoriedade.
Tem fundamento exclusivamente constitucional, no art. 5º, XXV, da CF, e está prevista no art. 36 do Dec. Lei n.º 3.365/41.
O Decreto-lei n.º 3.365, de 21.06.1941, permite, no art. 36, “a ocupação temporária, que será indenizada, afinal, por ação própria, de terrenos não edificados, vizinhos às obras e necessários à sua realização. O expropriante prestará caução, quando exigida”.
A ocupação temporária constitui, nessa hipótese, instituto complementar da desapropriação, que só se justifica quando verificados os seguintes requisitos:
				Realização de obras públicas;
	Necessidade de ocupação de terrenos vizinhos;
	Inexistência de edificação no terreno ocupado;
	Obrigatoriedade de indenização;
Prestação de caução prévia, quando exigida.
Outro exemplo está contido na Lei n.º 3.924, de 26.07.1961, que dispõe sobre monumentos arqueológicos e pré-históricos. O art. 13 permite escavações e pesquisas, no interesse de arqueologia e da pré-história, em terrenos de propriedade particular, com exceção de áreas muradas que envolvem construções domiciliares.
A CF/88, prevê, no art. 5º, inc. XXV, a ocupação temporária da propriedade particular, em caso de perigo público iminente, mediante indenização ulterior se houver dano.
O pagamento da renda não exclui a possibilidade de o proprietário reclamar, seja administrativa, seja jurisdicionalmente, eventuais prejuízos e dano que a ocupação tenha acarretado.
Alguns doutrinadores radicam a natureza jurídica da ocupação temporária na desapropriação. Todavia, não ;e essa a melhor solução, uma vez que não implica na perda da propriedade. Sua natureza seria de um arrendamento forçado. 
Um exemplo é o da ocupação de imóvel vizinho como depósito de equipamentos, materiais e maquinários.
Requisição 
Conceitua-se requisição como um ato pelo qual o Estado, em razão de algum interesse público, impõe a alguém, de maneira unilateral, a obrigação de prestar-lhe um serviço ou ceder-lhe, transitoriamente, o uso de um bem ou serviço, obrigando-se a compor os prejuízos que, em razão da medida, o particular venha efetivamente a sofrer.
Em outras palavras, a requisição nada mais é do que a apropriação coativa de bens e serviços particulares pelo Estado, para fazer frente a um interesse público relevante, revestido, ainda, das características de necessidades coletivas urgentes e transitórias, mediante a indenização a posteriori daquele que sofreu a ação estatal.
Seu fundamento jurídico está alçado em norma de categoria constitucional que expressamente autoriza o uso da propriedade particular na iminência de perigo público (art. 5º, XXV, da CF) e na competência da União para legislar sobre requisições civis e militares em caso de perigo iminente e em tempo de guerra (art. 22, III).
A requisição pode incidir sobre bens móveis, imóveis e serviços, mas não se confunde com a desapropriação, nem com a ocupação provisória.
Não tem por objetivo a aquisição da propriedade, como a desapropriação, mas seu uso transitório, enquanto a ocupação transitória só e admitida em caso de necessidade decorrente de execução de obra pública vizinha.
A requisição caracteriza-se por ser procedimento unilateral e auto-executório, pois independe da aquiescência do particular e da prévia intervenção do Poder Judiciário; é ta,bem oneroso, porque dá direito à indenização a posteriori. Mesmo em tempo de paz, só se justifica em caso de perigo público iminente.
Tombamento
Conceito e Características
É forma de intervenção do Estado na propriedade privada, que tem por objetivo a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional, assim considerado, pela legislação ordinária, “o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico” (art. 1º, Decreto-lei 25, de 30.11.1937).
Pelo tombamento, o poder público protege determinados bens, que são considerados de valor histórico ou artístico, determinando a sua inscrição nos chamados Livros do Tombo, para fins de sua sujeição a restrições parciais; em decorrência dessa medida, o bem, ainda que pertencente a particular, passa a ser considerado bem de interesse público; daí as restriçÕes a que se sujeita o seu particular.
O tombamento é sempre uma restrição parcial, não impedindo ao particular o exercício dos direitos inerentes ao domínio, por isso, em regra, não gera direito à indenização. Para fazer jus a uma compensação pecuniária, o proprietário deverá demonstrar que sofreu algum prejuízo em razão do tombamento.
Se, para proteger o bem, o poder público tiver que impor restrição total, de tal modo a impedir o proprietário do exercício de todos os poderes inerentes ao domínio, deverá desapropriar o bem e não efetuar o tombamento, uma vez que as restriçÕes possíveis, nesta última medida, são apenas as que constam na lei, nela Não havendo previsão de qualquer imposição que restrinja integralmente o direito de propriedade.
Podemos definir o tombamento como procedimento administrativo pelo qual o Poder Público sujeita a restrições parciais os bens de qualquer natureza, cuja conservação seja de interesse público, por sua vinculação a fatos memoráveis da história ou por seu excepcional valor arqueológico ou etnológico, bibliográfico ou artístico.
Objeto
O tombamento pode atingir bens de qualquer natureza: móveis ou imóveis, materiais ou imateriais, públicos ou privados. 
Nos termos do § 2º, do art. 1º, do Decreto-lei n.º 25/37, são sujeitos ao tombamento “os monumentos naturais, bem como os sítios e paisagens que importem conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pela natureza ou agenciados pela indústria humana”. 
Modalidades
Podemos classificar o tombamento em três modalidades: 
	quanto à constituição ou procedimento: 
		de ofício – quando incide sobre bens públicos, que se processa mediante simples notificação à entidade quem pertencer ou sob cuja guarda estiver. Com a notificação, a medida começa a produzir efeitos.
	voluntário – tem por objeto bens particulares. Disciplinado pelo art. 7º, do DL 25/37, ocorre quando, primeiro, o proprietário pedir o tombamento e a coisa se revestir dos requisitos necessários para constituir parte integrante do patrimônio histórico e artístico nacional, a juízo do órgão técnico competente; ou segundo, o proprietário anuir, por escrito, à notificação que se lhe fizer para a inscrição da coisa em qualquer dos Livros do Tombo.
	Compulsório – Previsto nos arts. 8º e 9º, do DL 25/37, é feito por iniciativa do poder público, mesmo contra a vontade do proprietário.
	quanto à eficácia: provisório ou definitivo, sendo que o primeiro ocorre com a notificação do proprietário, e produz os mesmos efeitos que o definitivo, salvo quanto a transcrição no Registro de Imóveis, somente exigível para o tombamento definitivo.
	quanto aos destinatários: 
		geral – atinge todos os bens situados em um bairro ou uma cidade;
	individual – atinge um bem determinado.
Procedimento
O tombamento se efetua por meio de um procedimento, ou seja, de uma sucessão de atos preparatórios do ato final que é a inscrição do bem no Livro do Tombo. Esse procedimento varia conforme a modalidade do tombamento.
Em qualquer das modalidades tem que haver manifestação do órgão técnico, que na esfera federal, é o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional, autarquia, instituída pelo Decreto n.º 99.492, de 3.09.90.
No caso de bem público, depois da manifestação do órgão técnico, a autoridade administrativa determina a inscrição no Livro do Tombo, notificando a pessoa jurídica de direito público titular do bem ou que o tenha sob sua guarda.
Em se tratando de tombamento voluntário requerido pelo proprietário, será também ouvido o órgão técnico e, em caso de preencher os requisitos, será determinada a sua inscrição no Livro do Tombo e a transcrição no Registro de Imóveis, desde que se trata de bem imóvel.
Quando o procedimento começar por iniciativa do Poder Público, ele observará as seguintes fases:
	manifestação do órgão técnico sobre o valor do bem para fins de tombamento;
	notificação ao proprietário para anuir ao tombamento dentro do prazo de 15 dias, a contar do recebimento da notificação ou para, se quiser, impugnar e oferecer as razões dessa impugnação;
	se o proprietário anuir, por escrito, à notificação, ou não impugnar, tem-se o tombamento voluntário, com inscrição no Livro do Tombo;
	havendo a impugnação, será dada vista, no prazo de 15 dias, ao órgão que tiver tomado
a iniciativa do tombamento, a fim de sustentar suas razões;
	a seguir, o processo será remetido ao IPHAN, que proferirá decisão a respeito, no prazo de 60 dias a contar do recebimento;
	se a decisão for contrária ao proprietário, será determinada a inscrição no Livro do Tombo; se for favorável, o processo será arquivado;
	a decisão do Conselho Consultivo terá que ser apreciada pelo Ministro da Cultura, o qual poderá examinar todo o procedimento, anulando-o, se houver ilegalidade, ou revogando a decisão do órgão técnico, se contrária ao interesse público, ou, finalmente, apenas homologando;
	o tombamento somente se torna definitivo com a inscrição em um dos Livros do Tombo que, esfera federal, compreende, nos termos do art. 4º do DL 25/37: 
Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico;
Livro do Tombo das Belas Artes;
Livro do Tombo das Artes Aplicadas;
Livro do Tombo Histórico;
Embora o procedimento se encerre com inscrição no Livro do Tombo, a lei exige ainda que, em se tratando de imóveis, se faça a transcrição no Registro de Imóveis, averbando-se o tombamento ao lado da transcrição do domínio.
Efeitos
O capítulo III, do DL 25/37, dispõe sobre os efeitos do tombamento. Tais efeitos se produzem quanto à alienação, quanto ao deslocamento, quanto às transformações, quanto aos imóveis vizinhos, quanto à conservação, quanto à fiscalização. Disso resultam para o proprietário obrigações positivas (de fazer), negativas (não fazer) e de suportar (deixar fazer); para os proprietários de imóveis vizinhos, obrigações negativas (não fazer); para o IPHAN, obrigações positivar (fazer).
O proprietário do bem tombado fica sujeito às seguintes obrigações:
	positiva – fazer as obras de conservação necessárias à preservação do bem ou, se não tiver meios, comunicar a sua necessidade ao órgão competente, sob pena de incorrer em multa correspondente ao dobro da importância em que foi avaliado o dano sofrido pela coisa (art. 19);
	negativa – o proprietário não pode destruir, demolir ou mutilar as coisas tombadas nem, sem prévia autorização do IPHAN, repará-las, pintá-las ou restaurá-las, sob pena de multa de 50% do dano causado (art. 17); também não pode, em se tratando de bens móveis, retira-los do país, senão por curto prazo, para fins de intercâmbio cultural, a juízo do IPHAN (art. 14); tentada sua exportação, a coisa fica sujeita a seqüestro e o seu proprietário, às penas cominadas para o crime de contrabando e multa (art. 15).
	suportar – o proprietário fica sujeito à fiscalização do bem pelo órgão técnico competente, sob pena de multa em caso de opor obstáculos indevidos à vigilância.
Os proprietários de imóveis vizinhos também sofrem as conseqüências do tombamento previstas no art. 18, do DL 25/37, ou seja, “sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, não se poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que lhe impeça ou reduza a visibilidade nem nela colocar anúncios ou cartazes, sob pena de ser mandada destruir a obra ou retirado o objeto, impondo-se neste caso a multa de 50% do valor do mesmo objeto”.
Finalmente, ainda surgem efeitos do tombamento para o próprio IPHAN, que assume as seguintes obrigações:
	mandar executar obras de conservação do bem, quando o proprietário não puder faze-lo ou providenciar para que seja feita a desapropriação da coisa (art. 19, § 1º); não adotadas essas providências, o proprietário pode requerer que seja cancelado o tombamento (§ 2º);
	exercer permanente vigilância sobre as coisas tombadas, inspecionando-as sempre que julgar conveniente (art. 20);
	providenciar, em se tratando de bens particulares, a transcrição no registro de Imóveis e a averbação ao lado da transcrição do domínio (art. 13).
Natureza Jurídica
Quanto a natureza jurídica do tombamento, Dois aspectos merecem ser analisados: se o ato do tombamento é discricionário ou vinculado; se a restrição que resulta do tombamento constitui servidão administrativa à propriedade.
Quanto ao primeiro aspecto é entendimento quase que unânime de que o mesmo é uma ato discricionário, em razão de que diante de um caso concreto, deverá haver a verificação das razões, se estas atendem ao interesse público.
Com relação ao segundo aspecto, a doutrina não é uniforme, sendo que parte dela entendem que o tombamento constitui modalidade de servidão administrativa, porque, ao contrário da simples limitação, incide sobre imóvel determinado, causando a seu proprietário ônus maior do que o sofrido pelos demais membros da coletividade. 
Outro lado, entende que, embora o tombamento seja feito, voluntária ou compulsoriamente, mediante inscrição no Livro do Tombo, dependendo, portanto, de ato administrativo que individualize o bem tombado, não se trata de servidão, pelo fato de não haver a coisa dominante. A restrição não é imposta em benefício da coisa afetada a fim público ou de serviço público, mas ao contrário, tem por objetivo satisfazer a interesse público genérico e abstrato – o patrimônio histórico e artístico nacional.
Servidão Administrativa
Conceito
É o direito real de gozo, de natureza pública, instituído sobre imóvel de propriedade alheia, com base em lei, por entidade pública ou por seus delegados, em favor de um serviço público ou de um bem afetado a fim de utilidade pública.
Deste conceito destacamos os seguintes elementos:
	direito real de gozo;
	natureza pública;
	coisa serviente: imóvel de propriedade alheia;
	coisa dominante: um serviço público ou um bem afetado a fins de utilidade pública;
	o titular do direito real é o poder público (U, E, M, DF) ou seus delegados (pessoas jurídicas públicas ou privadas autorizadas por lei ou por contrato);
	finalidade pública;
	exigência de autorização legal;
Forma de Constituição
Podem constituir-se das seguintes formas:
	decorrem diretamente de lei, independendo a sua constituição de qualquer ato jurídico, unilateral ou bilateral. Ex.: servidão sobre as margens dos rios navegáveis e servidão ao redor dos aeroportos – coisa dominante: serviço público de policiamento das águas, e bem afetado à realização do serviço de navegação aérea;
	efetuam-se mediante acordo, precedido de ato declaratório de utilidade pública. Ex.: servidão de energia elétrica, que, depende, em cada caso, de decreto governamental e se efetivará por meio de acordo lavrado por escritura pública.
	efetuam-se por sentença judicial, quando não haja acordo ou quando seja adquiridas por usucapião.
Extinção
A servidão, quer pública ou privada, possui uma característica típica, que a sua perpetuidade.
Portanto, as servidões administrativas são perpétuas no sentido de que perduram enquanto subsiste a necessidade do poder público e a utilidade do prédio serviente. Cessada esta ou aquela, extingue-se a servidão. Por outras palavras, se a coisa dominante perder a sua função pública, a servidão desaparece.
Dessa característica, podemos resumir as seguintes causas extintivas da servidão:
	a perda da coisa gravada;
	a transformação da coisa por fato que a torne incompatível com o seu destino;
	a desafetação da coisa dominante;
	a incorporação do imóvel serviente ao patrimônio público.
Direito à Indenização 
Não cabe direito a indenização quando a servidão decorre diretamente da lei, porque o sacrifício é imposto a toda uma coletividade de imóveis que se encontram na mesma situação. Somente haverá direito à indenização se um prédio sofrer prejuízo maior, por exemplo, se tiver que ser demolido.
Quando a servidão decorre de contrato ou de decisão judicial, incidindo sobre imóveis determinado, a regra é a indenização, porque seus proprietários estão sofrendo prejuízo em benefício da coletividade. Nesses casos, a indenização terá que ser calculada em cada caso concreto, para que se demonstre o prejuízo efetivo; se este não existiu, não há o que indenizar.
Modalidades
Dentre as servidões que decorrem
diretamente da lei, temos:
	Servidão sobre terrenos marginais – compreende uma faixa de sete braças craveiras (15,4 metros) paralela aos rios navegáveis, contada a partir do ponto médio das enchentes ordinárias (Lei n.º 1507/67, art. 39; Decreto n.º 4105/68), a qual destina-se ao aproveitamento industrial das águas e energia hidráulica, bem como a utilização dos rios para navegação. Além disso, nessa faixa é tolerado o uso de ribeirinhos, principalmente os pequenos proprietários, que os cultivem, sempre que o mesmo não colidir por qualquer forma com o interesse público (CA art, 31, parágrafo único, e 11, § 2º).
	Servidão a favor de fontes de água mineral, termal ou gasosa e dos recursos hídricos – O Código da Águas Minerais (DL n.º 7841/45) instituiu determinado tipo de servidão administrativa, estabelecendo, no art. 12, que “as fontes de água mineral, termal ou gasosa, em exploração regular, poderá ser assinalado, por decreto, um perímetro de proteção, sujeito a modificações posteriores se novas circunstâncias o exigirem”.
	Servidão sobre prédios vizinhos de obras ou imóvel pertencente ao patrimônio histórico e artístico nacional – é prevista no art. 18 do DL 25/37, que proíbe, sem prévia autorização do IPHAN, que se faça, na vizinhança de coisa tombada, construção que lhe impeça ou reduza a visibilidade, bem como se coloquem anúncios ou cartazes, sob pena de ser mandada destruir a obra ou retirado o objeto.
	Servidão em torno de aeródromos e heliportos – o conteúdo da servidão diz respeito ao aproveitamento das propriedades quanto a edificaçÕes, instalações, culturas agrícolas e objetos de natureza permanente ou temporária, que possam embaraçar as manobras de aeronave ou causar interferência nos sinais de auxílio à radionavegação ou dificultas a visibilidade de auxílios visuais. Cabe indenização quando as restrições impuserem demolição ou impedirem construções de qualquer natureza.
	Servidão Militar – áreas de restrições em torno de fortificações, consolidado pelo DL 3.437/41.
	Servidão de Aqueduto – é aquela que se confere a seu titular o direito de canalizar águas pelo prédio de outrem. No direito administrativo está prevista no CA, arts. 117 a 138, prevendo a possibilidade de constituição de aqueduto para aproveitamento das águas, no interesse público, por meio de concessão por utilidade pública. 
	Servidão de Energia Elétrica – disciplina pelo Código das Águas, cujo art. 151, estabelece, para os concessionários de serviços de energia elétrica, determinados privilégios, dentre os quais o de estabelecer as servidões permanentes ou temporárias exigidas para as obras hidráulicas e para o transporte e distribuição de energia elétrica.
Desapropriação
Conceito
É o procedimento administrativo pelo qual o poder público ou seus delegados, mediante prévia declaração de necessidade pública, utilidade pública ou interesse social, impõe ao proprietário a perda de um bem, substituindo-o em seu patrimônio por justa indenização.
Destacamos os seguintes elementos do instituto:
	aspecto formal – procedimento;
	sujeito ativo – poder público ou seus delegados;
	pressupostos – necessidade pública, utilidade publica ou interesse social;
	sujeito passivo – o proprietário do bem;
	objeto – a perda de um bem;
	a reposição do patrimônio do expropriado por meio de justa indenização.
Procedimento
A desapropriação desenvolve-se por meio de uma sucessão de atos definidos em lei e que culminam com a incorporação do bem ao patrimônio público.
Esse procedimento compreende duas fases: declaratória e executória. Vejamos cada uma.
Na fase declaratória, o poder público declara a utilidade pública ou o interesse social do bem para fins de desapropriação. Essa declaração pode ser feita pelo Executivo, por meio de Decreto, e pelo Legislativo, por meio de lei, cabendo, neste caso, ao Executivo tomar as medidas necessárias à efetivação da desapropriação.
O ato declaratório seja lei ou decreto, deve indicar o sujeito ativo da desapropriação, a descrição do bem, a declaração de utilidade pública ou interesse social, a destinação específica a ser dada ao bem, o fundamento legal e os recursos orçamentários destinados ao atendimento da despesa.
A segunda fase, executória, pode ser administrativa ou judicial, e compreende os atos pelos quais o poder público promove a desapropriação, ou seja, adota as medidas necessárias à efetivação da desapropriação, pela integração do bem no patrimônio público.
Será administrativa quando houver acordo entre o expropriante e expropriado a respeito da indenização, hipótese em que se observarão as formalidades estabelecidas para a compra e venda, exigindo-se em caso de bem imóvel, escritura transcrita em Registro de Imóveis. 
Não havendo acordo, segue-se a fase judicial, iniciada pelo poder público. Iniciado o processo judicial, se as partes fizerem acordo quanto ao preço, a decisão judicial será apenas homologatória, valendo como título para transcrição no Registro de Imóveis.
No curso do processo judicial, só podem ser discutidas questões relativas ao preço ou a vício processual. Isso justifica-se porque a verificação ou não do caso de utilidade pública é poder discricionário do Estado.
Pressupostos
A Constituição Federal, indica como pressupostos da desapropriação:
	a necessidade pública – “existe necessidade pública quando a Administração está diante de um problema inadiável e premente, isto é, que não pode ser removido, nem procrastinado e, para cuja solução é indispensável incorporar, no domínio do Estado, o bem particular”;
	a utilidade pública – “há utilidade pública quando a utilização da propriedade é conveniente e vantajosa ao interesse coletivo, mas não constitui um imperativo irremovível”;
	o interesse social – “ocorre interesse social quando o Estado esteja diante dos chamados interesses sociais, isto é, daqueles diretamente atinentes à camadas mais pobres da população e à massa do povo em geral, concernentes à melhoria nas condições de vida, à mais eqüitativa distribuição da riqueza, à atenuação das desigualdades em sociedade”.
Há que se observar, contudo, que a definição de quais sejam os casos de necessidade pública, utilidade pública ou interesse social não fica a critério da Administração Pública, uma vez que as hipóteses vêm taxativamente indicadas em lei, assim, não basta no ato expropriatório, mencionar genericamente um dos três fundamentos, é necessário indicar o dispositivo legal em que se enquadra a hipótese concreta.
Objeto e sujeitos
Estabelece o art. 2º, do DL 3365, que todos os bens poderão ser desapropriados, incluindo coisas móveis e imóveis, corpóreas e incorpóreas, públicas ou privadas. 
São bens inexpropriáveis: os direitos personalíssimos, como o direito pessoal do autor, o direito à vida, à imagem, aos alimentos, etc.
Quando se trata de reforma agrária, o objeto é o imóvel rural que não atende a sua função social, definida no art. 186, da CF.
Quanto aos sujeitos, é sujeito ativo da desapropriação a pessoa à qual é deferido, nos termos da CF e legislação ordinária, o direito subjetivo de expropriar; e sujeito passivo é o expropriado, que pode ser pessoa física ou jurídica, pública ou privada. 
Indenização
Exigência que se põe como forma de buscar o equilíbrio entre o interesse público e o privado, pois o particular perde a propriedade e, como compensação, recebe o valor correspondente em dinheiro, ou em alguns casos em títulos da dívida pública. 
O direito a indenização é de natureza pública já que embasado na CF. A mesma deverá ser prévia, justa e em dinheiro. Poderá ser em títulos da dívida pública, no caso do art. 182, § 4º, III, e 184, da CF.
Para o cálculo da indenização, devem ser incluídas as seguintes parcelas:
	o valor do bem expropriado, com todas as benfeitorias que já existam no imóvel, antes do ato expropriatório;
	os lucros cessantes e danos emergentes;
	os juros compensatórios, em caso de ter havido imissão provisória
na posse, computando-se a partir dessa imissão;
	os juros moratórios também incidentes sobre a mesma base de cálculo, no montante de 6% ao ano, a partir de 1º de janeiro do exercício seguinte àquele em que o pagamento deveria ser feito, nos termos do art. 100 da CF;
	os honorários advocatícios, calculados sobre a diferença entre a oferta inicial e o valor da indenização, acrescido de juros moratórios e compensatórios;
	custas e despesas judiciais;
	correção monetária, calculada a partir do laudo de avaliação.
Natureza Jurídica
A desapropriação é forma originária de aquisição da propriedade.
Segundo Celso Antonio Bandeira de Melo “diz-se originária a forma de aquisição da propriedade quando a causa que atribui a propriedade a alguém não se vincula a nenhum título anterior, isto é, não procede, não deriva, de título precedente, portanto, não é dependente de outro. É causa autônoma, bastante por si mesma, para gerar, por força própria, o título constitutivo da propriedade”.
Sob o aspecto formal, a desapropriação é um procedimento; quanto ao conteúdo, constitui transferência compulsória da propriedade.
Imissão na Posse
Conforme conceitua Celso Antonio Bandeira de Mello “é a transferência da posse do bem objeto da expropriação para o expropriante, já no início da lide, obrigatoriamente concedida pelo juiz, se o Poder Público declarar de urgência e depositar em juízo, em favor do proprietário, importância fixada segundo critério previsto em lei”.
Está prevista no art. 15, do DL 3365, e exige os seguintes requisitos:
	que o poder expropriante alegue urgência, o que pode ser feito no próprio ato expropriatório ou, depois, a qualquer momento, no curso do processo judicial;
	que o poder expropriante faça o depósito da quantia fixada segundo critério previsto em lei;
	que a imissão seja requerida no prazo de 120 dias a contar da alegação de urgência.
Destino dos Bens Desapropriados 
Os bens desapropriados passa a integrar o patrimônio das pessoas jurídicas políticas que fizeram a desapropriação ou das pessoas públicas ou privadas que desempenham serviços públicos por delegação do poder público.
No entanto, pode ocorrer que os bens se destinem a ser transferidos a terceiros. Assim, temos a desapropriação:
	por zona – também chamada extensiva, é modalidade por utilidade pública prevista no art. 4º do DL 3365, e caracteriza-se por abranger a área contígua necessária ao desenvolvimento posterior da obra a que se destine ou as zonas que se valorizarem extraordinariamente em conseqüência da realização do serviço;
	para fins de urbanização ou reurbanização – fundamento no art. 5º, i, do DL 3365, e se enquadra como utilidade pública;
	construção ou ampliação de distritos industriais – loteamento de áreas necessárias à instalação de indústrias e atividades correlatas, bem como a revenda ou locação dos respectivos lotes para empresas previamente qualificadas;
	por interesse social – ex. reforma agrária;
	para assegurar o abastecimento da população;
	a título punitivo, quando incide sobre terras onde se cultivem plantas psicotrópicas – uma vez desapropriadas, serão destinadas ao assentamento de colonos, para o cultivo de produtos alimentícios e medicamentosos.
Desapropriação Indireta
É a que se processa sem observância do procedimento legal. Costuma ser equiparada ao esbulho e, por isso mesmo, pode ser obstada por meio de ação possessória. No entanto, se o proprietário não o impedir no momento oportuno, deixando que a Administração lhe dê uma destinação pública, não mais poderá reivindicar o imóvel, pois os bens expropriados, uma vez incorporados ao patrimônio público, não podem ser objetos de reivindicação.
A indenização para o caso de desapropriação indireta, inclui as mesmas parcelas mencionadas para a desapropriação legal.
Retrocessão
É o direito que tem o expropriado de exigir de volta o seu imóvel caso o mesmo não tenha o destino para que se desapropriou.
Cabe quando o poder público não dê ao imóvel a utilização para a qual se fez a desapropriação, estando pacífica na jurisprudência a tese de que o expropriado não pode fazer valer o seu direito quando o expropriante dê ao imóvel uma destinação pública diversa daquela mencionada no ato expropriatório, ou seja, desde que o imóvel seja utilizado para um fim público qualquer, ainda que não especificado originariamente, não ocorre o direito a retrocessão.
	
	
Curso de Direito
Direito Administrativo II – 1/2015
Profa. ROSELAINE DE ALMEIDA PÉRICO

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