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História da América Colonial - Livro-Texto - Unidade II

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Unidade II
Unidade II
5 A ORGANIZAÇÃO DA COLONIZAÇÃO
5.1 A estrutura do Antigo Regime e as bases do Mercantilismo Colonial
A modernidade, que tem como marco temporal a queda de Constantinopla (1453) até o início da 
Revolução Francesa (1789), produziu um sistema chamado de Antigo Regime. A gestação desse aparelho 
de poder ocorreu na Europa em paralelo com as Grandes Navegações.
O poder político definido a partir de monarquias nacionais em que o rei conseguia determinar as 
diretrizes políticas, muitas vezes, sozinho, é o chamado absolutismo. Esse tipo de poder, que existia na 
Idade Média, inclusive de forma hereditária, não conseguia, na prática, se estabelecer de fato por causa 
da descentralização dos feudos.
A estruturação do domínio real é dada, na época moderna, a partir do equilíbrio do monarca com a 
nobreza; esta, durante o período medieval, é guerreira e, no processo de centralização, em boa medida, é 
conduzida pelo Rei à condição de cortesã, ou seja, sustentada e amparada pelo Estado. A burguesia, que 
em vistas da ampliação dos seus negócios, apoia o monarca que gera o controle econômico nacional e 
privilégios (como a prática de monopólios). A nobreza, mesmo com suas rendas provenientes da posse da 
terra, não era capaz de cobrir as grandes despesas com suas ostentações. Muitas vezes, na corte, buscavam 
cargos para seus filhos nas áreas administrativas, possíveis graças a favores concedidos pelo rei.
Figura 38 – As relações econômicas entre o rei e a 
burguesia eram fundamentais na época moderna
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Essa situação de equilíbrio e sustentação foi vista com pequenas variáveis em grande parte da 
Europa Ocidental. As exceções mais claras foram as cidades italianas, que procuravam a todo custo 
manter sua liberdade e um ideal republicano (o que nem sempre conseguiram), e o Sacro Império 
Romano Germânico, dividido em diversas estruturas de poder local.
Figura 39 – O Palácio de Versalhes foi o maior símbolo da domesticação da 
nobreza e gerava uma enorme ostentação de riqueza e luxo
O Absolutismo foi sustentado por uma produção intelectual que trazia fundamentação a partir de 
diversas bases. O livro de Nicolau Maquiavel, O Príncipe, foi utilizado como base da racionalidade no 
sistema de governo, capaz de legitimar ações mais profundas e, por vezes, cruéis, em busca da paz e 
tranquilidade entre os súditos. 
Nesse sentido, a moral não deveria reger as ações promovidas pelo Estado, já que, no fundo, estavam 
em jogo questões muito mais importantes. Já Thomas Hobbes, em Leviatã, defende que o poder absoluto 
do rei é necessário para garantir a paz e estabilidade social. O homem, sem o poder do Estado, é um ser 
capaz de promover grandes atrocidades contra os demais, daí permitir um contrato social que possibilite 
viver em sociedade e ser protegido pelo rei. O mais emblemático autor e defensor do absolutismo 
foi Jacques Bossuet, em A política extraída da Sagrada Escritura, que promovia o direito divino do 
soberano. Bossuet entendia que a Bíblia demonstrava o poder do rei diretamente dado por Deus. Assim, 
cabia aos homens obedecê‑lo sem restrições, pois, ao questioná‑lo ou combatê‑lo, estavam diretamente 
afrontando a ordenação divina.
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Figura 40 – Luís XIV foi o maior símbolo do Absolutismo da 
época moderna. Sua célebre frase “o Estado sou eu” 
sintetiza as relações políticas do período
A Reforma Protestante, por sua vez, contribuiu para o fortalecimento do poder absoluto do monarca 
ao fazer declinar o poder universal do papado. Mesmo nos países de relações mais imbricadas com a 
Igreja, como as monarquias ibéricas, a influência papal foi sendo atenuada e, paulatinamente, retirada 
do poder temporal (político).
A grande força real se dá na construção de um interesse coletivo capaz de angariar um exército 
real (por muitas vezes sustentado pelo auxílio da burguesia). Desse modo, a nobreza, ainda que fosse 
contrária, acabava sendo subjugada e lançada para o domínio real nas Cortes. Até mesmo nas relações 
da Igreja, o poder real poderá intervir – no caso extremo, como o inglês, o conflito com o papado fez 
com que Henrique VIII assumisse também o controle do poder religioso em seu país. 
Essa relação tumultuada entre o poder temporal e o religioso acabou por estabelecer, em grande 
medida, durante a Idade Moderna, uma enorme intolerância religiosa. Grupos dissidentes eram 
perseguidos, julgados, condenados e mortos (como comentamos anteriormente acerca da Inquisição). 
Na prática, essa relação, ao gerar uma forçada unidade religiosa, garantiu a manutenção da unidade 
política.
Outra transformação significativa aconteceu no campo cultural. Mesmo com a significativa 
participação da Igreja nas relações e nas determinações (como na teorização do direito divino), a 
fé já não era o único elemento do saber e de justificação. As críticas promovidas pelos humanistas 
do Renascimento tinham o uso da razão como forma explicativa capaz de gerar avanços. Há de 
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se ter em vista que, de qualquer forma, a época moderna ainda foi dominada pelo clericalismo. 
Quando o racionalismo se tornou a principal base de saber, com o Iluminismo do século XVIII, o 
Antigo Regime, mesmo após tentar promover reformas, desmoronou com as chamadas revoluções 
burguesas.
A sociedade moderna estava em certa transição, bastante lenta, pois ainda se mantinha 
profundamente arraigada aos valores provenientes da Idade Média – sua justificação, por exemplo, 
ainda se baseava em questões teológicas. Na prática, a estrutura estamental se sustentava, em boa 
medida, apesar do esforço burguês de encontrar sua distinção social pelo avanço econômico e pelo 
desenvolvimento do capitalismo. Alguns deles, nesse sentido, acabaram até por comprar posições de 
nobreza, ou sonhavam com a mercê régia de nomeá‑lo. Era mais uma forma real de garantir o poder 
e sustentação do monarca. 
 Observação
A sociedade estamental do período medieval era estabelecida pelo 
nascimento e justificada por suas ordens (funções). Primeiro, o clero que 
conduzia os homens a Deus. Segundo, a nobreza que guerreava. Terceiro, 
os demais que trabalhavam.
As perspectivas de avanço do comércio e do início do capitalismo na crise do feudalismo 
tiveram que enfrentar os entraves da retração causada pela crise do século XIV. Contudo, a partir 
de então, uma ampla dinâmica de rotas inéditas e terras para os europeus, inclusive em águas 
nunca antes navegadas, traziam diversos novos produtos que agitavam as feiras e mercados. 
É nesse contexto que surgiu a chamada Revolução Comercial. As relações com o Novo Mundo 
propiciaram o deslocamento do eixo econômico europeu do Mediterrâneo para o Atlântico, 
iniciando uma aceleração de acumulação capitalista e de relações que acabam por solidificar o 
capitalismo comercial na Europa. Como o próprio nome identifica, as relações de enriquecimento 
eram promovidas pelas trocas vantajosas para as nações. Ou seja, o lucro era dado pela ênfase 
comercial em um contexto em que as relações monetárias já estavam bem estabelecidas. Dessa 
maneira, não havia tanta atenção para as demais atividades produtivas: como a agricultura e a 
manufatura (até, ao menos, meados do século XVII).
A política econômica queorienta as relações do capitalismo comercial da época moderna 
foi o mercantilismo. Suas bases eram diretamente o aumento do poder do rei, fortalecendo 
suas intervenções e garantindo recursos que enriquecessem o país e o tornassem cada vez 
mais poderoso e, além disso, a prosperidade da burguesia capaz de, em suas práticas, criar 
condições para um aumento ainda mais significativo do comércio. Não era, contudo, claro aos 
contemporâneos que, caso a burguesia enriquecesse sobremaneira (o que se estava oferecendo), 
esta poderia desejar dominar a política (o que aconteceu a partir das chamadas revoluções 
burguesas do século XVIII).
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Figura 41 – Os portos europeus ganharam enorme importância na 
época moderna. As representações retratam, na sequência, Lisboa e Amsterdã
A intervenção do Estado na economia deveria garantir o acúmulo de ouro e prata. O chamado 
metalismo era a forma de demonstrar a riqueza do país e o modo de se garantir tal desenvolvimento 
era uma balança de comércio favorável. A ideia era simples: acreditava‑se em uma riqueza finita, logo, 
tudo que precisava ser feito era exportar o máximo (aumentando as receitas) e importar o mínimo 
(diminuindo os gastos). Nesse sentido, um país seria mais próspero e outro mais pobre. A pergunta era: 
como garantir, na prática, essa perspectiva?
As primeiras respostas estavam relacionadas ao controle da importação. O rei adotava 
uma prática de protecionismo, que propiciava força interna e controle dos demais países. 
Dessa maneira, as tarifas alfandegárias eram constantemente aumentadas – sobretudo, se 
o produto estrangeiro tivesse competidores no próprio país. Além disso, matérias‑primas 
eram cuidadosamente monopolizadas. Outros produtos de suma importância não podiam ser 
exportados. Claro que essa defesa não valeria nada se a Coroa não estimulasse a produção 
interna de tudo o que fosse necessário para a sobrevivência. Em caso contrário, seria inevitável 
o gasto com as importações. 
Havia ainda a fundamental política de monopólios. Era essencial privilegiar determinados grupos 
burgueses para rapidamente se enriquecer e gerar a manutenção do poder do monarca. Todavia, o preço 
não era simples: era preciso proteger as rotas e procurar impedir, ao máximo, qualquer forma de furto 
– o que muitas vezes ocorreu com piratas e corsários. Ou seja, grandes investimentos eram necessários 
na composição de uma frota de comércio e outra de defesa.
Se todos os países protegiam seus mercados, como garantir exportações? A reposta mais importante 
foi a montagem do sistema colonial. Na prática, as colônias se tornaram a peça central do mecanismo 
de desenvolvimento da época moderna.
As colônias eram estabelecidas com total domínio e submissão à metrópole, pelo menos até a sua 
crise na segunda metade do século XVIII. Para não ser confundido com o neocolonialismo dos séculos 
XIX e XX, o sistema da época moderna é chamado de Antigo Sistema Colonial.
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 Lembrete
O neocolonialismo foi resultado direto da Segunda Revolução 
Industrial, quando as potências europeias e também o Japão passam a 
disputar mercados na Ásia e África, garantindo mercado consumidor e 
matéria‑prima.
As metrópoles europeias Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Holanda eram o centro do sistema. 
Delas provinham todas as diretrizes e sustentação do domínio produzido nas colônias. Estas últimas, 
portanto, eram a periferia do sistema. A América foi o continente central, apesar da grande importância 
da África e de alguns contatos com a Ásia.
Nas palavras de Fernando Antônio Novais:
O chamado “monopólio colonial”, ou mais corretamente e usando um 
termo da época, o regime do “exclusivo” metropolitano constituía‑se, 
pois, no mecanismo por excelência do sistema, através do qual se 
processava o ajustamento da expansão colonizadora aos processos da 
economia e da sociedade européias em transição para o capitalismo 
integral (NOVAIS, 2006, p. 72).
Assim, a metrópole forçava a colônia a vender produtos por preços baixos e comprava os 
manufaturados por valores bastante elevados. A taxa de lucro também era bastante alta. Cabia às 
colônias a produção complementar para a metrópole e o desenvolvimento de relações capazes de 
gerar lucro para os países europeus. Daí o sistema não ser apenas uma estrutura de povoamento 
do Novo Mundo. Muito pelo contrário, a lógica empregada era a de fazer com que houvesse uma 
exploração sistemática de grande lucro. Era este, por exemplo, o grande sentido da colonização 
do Brasil:
Se vamos à essência da nossa formação, veremos que na realidade nos 
constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais 
tarde ouro e diamantes; depois, algodão, e em seguida café, para o comércio 
europeu (PRADO JÚNIOR, 2006, p. 31‑32).
Os produtos tropicais, nunca antes vistos na Europa, eram a garantia de um amplo mercado, mesmo 
que houvesse medidas protecionistas de outros países, como uma produção essencialmente extrovertida. 
A perspectiva, portanto, era que tais gêneros gerassem alta lucratividade e complementassem a 
tradicional estrutura produtiva da Europa.
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Rei
Burguesia
Colonização
Estado
Metropolitano
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Metró
poles
Periferia
Centro
Europa
América – África – 
Ásia
Figura 42 – O Antigo Sistema Colonial era baseado nas relações do Estado absolutista com a burguesia. 
O sistema colonial era baseado na subordinação e dominação promovida pelas metrópoles 
europeias às áreas periféricas (América, África e Ásia)
Ao mesmo tempo em que toda essa estrutura econômica passou a ser o objetivo central no Novo 
Mundo, logo nas primeiras décadas do século XVI, após a conquista promovida pelos espanhóis e a 
chegada de outros países às Índias (as especiarias foram por pouco tempo monopólio português), a 
ocupação e defesa do território seria imprescindível. 
Por fim, o sistema central de uso da mão de obra atendia aos interesses metropolitanos. A 
utilização de formas de trabalho compulsório, tanto nas colônias espanholas (com o uso dos 
nativos em forma de tributo e, em menor intensidade, o escravo africano), como na portuguesa 
(com a grande preponderância da escravidão dos negros), como ainda nas inglesas (com a 
escravidão negra no sul e a servidão temporária no norte – chamada de indentured servants), 
atendia diretamente à expectativa de lucro das metrópoles. Na prática, esse sistema gerou o 
máximo de lucro possível e ainda impediu um grande desenvolvimento dedicado apenas às 
colônias. Assim, se observa a importância do tráfico negreiro para o uso da mão de obra escrava 
africana na América:
O tráfico negreiro, isto é, o abastecimento das colônias com escravos, 
abria um novo e importante setor do comércio colonial, enquanto o 
apresamento dos indígenas era um negócio interno da colônia. Assim, os 
ganhos comerciais resultantes da preação dos aborígenes mantinham‑se 
na colônia, com os colonos empenhados nesse “gênero de vida”; a 
acumulação gerada no comércio de africanos, entretanto, fluía para a 
metrópole, realizavam‑na os mercadores metropolitanos, engajados no 
abastecimento dessa “mercadoria”. Esse talvez seja o segredo da melhor 
“adaptação” do negro à lavoura [...] escravista. Paradoxalmente, é a partir 
do tráfico negreiro que se pode entender a escravidão africana colonial, e 
não o contrário (NOVAIS, 2006, p. 105).Apesar de esta ser a tônica central, o mercantilismo se manifestou de maneira variada nos países 
europeus. O primeiro efeito prático dos produtos do Novo Mundo foi uma enxurrada de metais 
preciosos provenientes das conquistas espanholas. Algumas estimativas apontam que, no século XVI, 
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os espanhóis levaram para a Europa algo em torno de 16 e 25 mil toneladas de prata e 200 toneladas 
de ouro. O impacto seria impressionante. Na Espanha, diversos projetos puderam ser imediatamente 
levados a cabo. Milhares viram o quanto seria proveitoso ir para o Novo Mundo e logo se alistaram. 
Muitos, com recursos possíveis, pretendiam ser patrocinadores e angariar lucros. E, por fim, claro, 
as demais potências estavam enraivecidas. Contudo, toda essa prata gerou um alto preço. O metal 
era utilizado para cunhar moedas e logo produziu uma enorme quantidade de meio circulante no 
mercado. Assim, surgiu a chamada Revolução dos Preços. Alguns cálculos chegam a mensurar o 
aumento do preço em 400%.
Figura 43 – O trabalho indígena na exploração das minas gerou 
um enriquecimento enorme e rápido para os espanhóis
Assim, o mercantilismo espanhol é conhecido por ser bulionista, ou seja, era baseado em uma 
acumulação pura de metais preciosos e não precisava, necessariamente, promover todas as medidas 
restritivas para as importações.
Portugal não teve a mesma perspectiva inicial. O primeiro documento oficial, a carta de Pero 
Vaz de Caminha, mencionava que não haviam encontrado ouro ou outro metal. Seu mercantilismo 
foi razoavelmente variável: iniciou‑se comercial, com a venda de produtos tropicais, como o 
pau‑brasil e o açúcar, mas depois encontrou ouro, se tornando bulionista e, na sua decadência, 
tentou criar atividades manufatureiras para ter algum lucro vendendo para as colônias, o que 
não durou muito tempo.
Os ingleses, por sua vez, procuraram defender, ao máximo, suas produções locais. Ao mesmo tempo, 
desde o reinado de Henrique VIII e, sobretudo, no reinado de Elizabeth I, criaram uma grande marinha, 
tanto mercante como de guerra; eram capazes de comprar diversos produtos baratos e vender com 
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razoável margem de lucro pelos fretes acessíveis. Por vezes, utilizaram até mesmo corsários. Tudo para 
conseguir grande acúmulo primitivo de capital – condição que se mostrou fundamental para a Revolução 
Industrial da segunda metade do século XVIII. Assim, seu mercantilismo pode ser caracterizado como 
comercial, e, com o desenvolvimento de suas manufaturas têxteis, se torna industrial.
 Observação
Os piratas atacavam e saqueavam por conta própria e ficavam com 
todo o eventual lucro. Já os corsários, apesar de promoverem as mesmas 
atividades, eram patrocinados pela Coroa e dividiam o ganho. 
Os franceses não conseguiram ter a mesma marinha e também não detinham áreas coloniais 
capazes de promover lucros substanciais. Todavia, no reinado de Luís XIV, a política mercantilista 
foi dirigida pelo ministro Colbert. Ele foi peça fundamental para a economia da França. Suas 
ações se baseavam na produção de artigos de luxo altamente especializados que atraíam 
mercados em todo o mundo conhecido. Essa diferenciação, inclusive, gerava propostas para que 
artesãos de outros países trabalhassem na França. O resultado dessa política foi impressionante. 
Colbert conseguiu garantir renda para um Estado endividado e profundamente deficitário com 
os gastos da Corte. É por isso que o mercantilismo francês, de incentivo industrial, é chamado 
de colbertismo.
Por fim, os holandeses se empenharam nas atividades comerciais. Na prática, os burgueses calvinistas 
locais foram somados aos judeus que fugiam da perseguição religiosa imposta pela Inquisição no último 
quartel do século XVI. Traziam considerável condição econômica e, assim, possibilitaram a ampliação 
das transações mercantis na região. Criaram companhias de navegação, promovendo uma estrutura 
de investimento particular nas ações coloniais, somadas ao banco de Amsterdã e ao próprio governo. 
A partir daí, dominaram boa parte das transações comerciais por toda a Europa. Ao mesmo tempo, 
procuravam também ampliar suas atividades manufatureiras. Dessa maneira, seu mercantilismo foi 
misto: comercial e depois industrial.
É notório, portanto, que a expectativa de enriquecer o Estado era a condição básica do sistema 
colonial. Essa estrutura ficou bem constituída até o desenvolvimento industrial inglês. A partir dali, a 
lógica se situou na produção industrial e no liberalismo econômico. A política econômica deveria ser 
capaz de permitir o livre comércio, já que as relações deveriam favorecer muito mais a burguesia do 
que o poder do rei absolutista, que sofreu severos ataques das revoluções burguesas. Na verdade, todo 
o Antigo Regime ficou em xeque. É o brotar da história contemporânea.
5.2 A colonização espanhola
Após a queda das expedições de conquista, os espanhóis, já maravilhados com o ouro e a 
prata, rapidamente perceberam que podiam construir um sistema exploratório para esses minérios 
tão cobiçados. Cortés entendeu que podia criar uma estrutura simbólica de poder erguendo a 
cidade do México em cima das ruínas de Tenochtitlán. A perspectiva era de uma continuidade 
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de domínio: dos astecas para os espanhóis. Já entre os incas, Cuzco ficava em um local de difícil 
acesso, daí a construção da nova capital no litoral, Lima. As tentativas de poder paralelo inca 
também demoraram certo tempo para serem completamente extirpadas. A mesma perspectiva de 
continuidade não era vista no sul.
De qualquer forma, o sustentáculo ideológico era, como visto anteriormente, garantido pela Igreja 
e suas armas. As transformações eram inevitáveis, ainda que se pudessem encontrar, em determinados 
momentos e lugares, fortes resistências ou graves conflitos.
A governadoria, apesar de ser a instituição básica criada nos primórdios do século XVI, buscando 
atrair os conquistadores, acabava dando grande liberdade às regiões do Novo Mundo, como o poder 
de controlar as terras e os habitantes locais. Contudo, logo a Coroa passou a querer controlar, de 
modo absoluto, a criação e desenvolvimento do aparelho colonial. Assim, essa instituição foi perdendo 
importância e se transformando em pequenas unidades administrativas.
A formação político‑administrativa desenvolvida pelos espanhóis atendia, dessa maneira, aos 
interesses mercantilistas. A Coroa determinava todas as diretrizes e relações estabelecidas para a 
montagem do sistema. Na prática, o esforço espanhol consistia em simplesmente transplantar sua 
autoridade e estrutura, com os moldes da metrópole, para a colonização. Isso se manifestava, sobretudo, 
entre os dois grupos principais em que a monarquia se equilibrava. De um lado, a burguesia recebeu 
benefícios no trato mercantil, principalmente monopólios. A nobreza, de outro, ficou com as funções da 
administração.
A divisão geral do território recém‑dominado foi dada a partir de quatro Vice‑reinos. O 
primeiro, criado em 1535, era o Vice‑reino da Nova Espanha, que compreendia o México, parte 
da Mesoamérica e o oeste do território dos Estados Unidos; a capital era a Cidade do México. O 
segundo, criado em 1543, compreendia a principal área andina (áreas do Peru e da Bolívia), e a 
capital era Lima. Essas eram as áreas centrais dos antigos impérios e também as mais importantes 
da mineração. A seguir, vieram as áreasmais periféricas. O terceiro Vice‑reino, criado em 1717, era 
a Nova Granada – área andina mais ao norte (Colômbia, Equador e Panamá), e a capital era Santa 
Fé de Bogotá. O quarto era o Rio da Prata, criado em 1776, que envolvia principalmente a área 
platina (chegava a conter partes do Peru e da Bolívia, além de Paraguai, Uruguai e Argentina) e 
Buenos Aires era a capital. Já as demais áreas, Cuba, Guatemala e Venezuela, foram incorporadas 
como capitanias gerais.
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Figura 44 – A divisão política da América hispânica, 
em geral, foi baseada em grandes áreas administrativas
O membro da nobreza espanhola escolhido para ser vice‑rei, sem dúvida, se tornava a maior 
autoridade executiva do Novo Mundo e representava diretamente a Coroa. Os vice‑reis, apesar de 
receberem diversas determinações, obtinham um grande grupo de funções. Militarmente, deveriam 
garantir a defesa do território. Na justiça, presidiam a audiência geral. Na administração, recebiam as 
instruções reais e, em certa medida, distribuíam a terra e doavam porções previamente permitidas. 
Religiosamente, detinham autoridade na Igreja do Novo Mundo. Como fiscais, participavam do Tribunal 
de Contas. Contudo, a função mais importante, provavelmente, era cuidar das finanças como Presidente 
da Junta da Fazenda Colonial. Nesse sentido, a questão central era garantir a lucratividade para a Coroa, 
vista pelas relações exclusivistas e impedir, a todo custo, o contrabando – ainda mais quando piratas e 
corsários passavam a ser presença constante, sobretudo, nas águas do Caribe. 
Os capitães gerais desfrutavam de grande autoridade em seus territórios, ainda que não na mesma 
proporção dos vice‑reis. Ou seja, tal sistema, ao ser criado e posto em prática, perpetuava as forças do rei 
(tanto na política como na economia), fortalecendo o absolutismo dentro do quadro do Antigo Regime 
europeu.
Esse conjunto de funções do vice‑rei trazia a perspectiva de um grande interesse para a mais alta 
nobreza. Aliás, a Coroa nem sempre viu isso com bons olhos e, por vezes, escolheu uma “nobreza mais 
baixa” para ocupar tão grande poder. Claro que também as adversidades da viagem e de se adaptar 
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a um local inteiramente novo eram empecilhos convincentes. O cargo era temporário, apesar de que 
houve alguns que depois se tornaram vice‑reis de outras áreas da América. Quando retornavam, eram 
membros imprescindíveis do Conselho Real. As palavras do vice‑rei da Nova Espanha, de 1568‑1580, de 
Don Martín Enríquez de Almansa, para seu sucessor, são bastante significativas acerca de sua função:
Embora imaginem na Espanha que o posto de vice‑rei aqui é muito fácil, e 
que não pode haver muita coisa a fazer nessas novas terras, minha própria 
experiência e o trabalho que tive de realizar me desiludiram quanto a isso. 
Vós descobrireis o mesmo, pois o vice‑rei aqui é responsável por todos os 
deveres que na Espanha são partilhados por várias pessoas diferentes (apud 
ELLIOTT, 2012, p. 291).
As duas principais instituições criadas pela Coroa foram estabelecidas ainda no século XVI. A Casa 
de Contratação, localizada em Sevilha, ainda em 1503, ou seja, antes do processo da conquista e das 
descobertas econômicas, já possuía a função de coordenar as ações para o Novo Mundo como um 
centro administrativo e comercial, capaz de fiscalizar a exploração, controlando as entradas e saídas de 
todo o aparato utilizado, quer fossem homens, navios ou mercadorias. 
A ideia era canalizar todas as ações em um só local para impedir, ao máximo, qualquer desvio e, 
sobretudo, contrabando. No entanto, essa função administrativa, a partir de 1524, passou a ser conduzida 
pelo Conselho das Índias, que determinava as questões de todos os objetos do sistema colonial, desde 
a nomeação dos mais altos cargos, como vice‑reis e capitães‑gerais, até a criação das diretrizes de 
desenvolvimento pelas leis ou atuação ainda como última instância das causas judiciais da América. 
Contudo, na prática, era muito mais consultivo o agente da vontade do monarca. As recomendações 
podiam ou não ser aceitas pelo rei.
A partir daí, o poder passava a ser bastante disseminado em várias instituições. Até mesmo os 
mais importantes vice‑reis e capitães‑gerais podiam ser supervisionados pelos juízes de residência ou 
mesmo pelos visitadores, que chegavam ao Novo Mundo em inspeções “de surpresa” para garantir o 
cumprimento das leis e verificar eventuais enriquecimentos ilícitos.
As Audiências eram verdadeiros Tribunais de Justiça, guardiões oficiais da lei. Já no século 
XVI, dez Audiências foram criadas: Santo Domingo, em 1511, México, em 1527, Panamá, em 1538, 
Guatemala e Lima, em 1543, Guadalajara e Santa Fé de Bogotá, em 1548, Charcas, em 1559, 
Quito e Chile, em 1563. Os visitadores estavam, basicamente, espalhados pelos principais centros 
econômicos ou, ainda, por áreas de influência regional. Sua característica mais importante 
era que, diferente do vice‑rei, não tinham tempo máximo de estadia. Com isso, geravam uma 
continuidade tão significativa a ponto de influir em outras áreas da estrutura colonial. Ao mesmo 
tempo, eram temidos pelos vice‑reis por poderem acusá‑los de descumprimento de qualquer 
brecha da lei. 
Os ouvidores eram os principais funcionários das Audiências. Acabavam por adquirir certo poder 
local, ainda que leis bastante restritivas impedissem relações econômicas, tanto com a posse da terra, 
como com o trato mercantil, apesar de seus salários não serem elevados.
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Uma instância de justiça de poder muito mais local eram os cabildos, ou ayuntamientos. Eles detinham 
certa autonomia e eram formados pela elite colonial. Além disso, selecionavam uma autoridade política 
e judiciária, o alcaide, seu grande representante. Na prática, ”os cabildos, como se poderia esperar 
do padrão de governo municipal na Espanha metropolitana, eram, ou logo se tornaram, oligarquias 
constituídas pelos cidadãos mais abastados que se autoperpetuavam” (ELLIOTT, 2012, p. 295).
Ao mesmo tempo, como já comentamos, a Igreja participava do aparato de dominação, mesmo que 
o rei também determinasse as diretrizes (padroado régio). Nesse sentido, a Inquisição foi a principal 
instituição. 
Deve‑se, entretanto, relativizar a forma real do poder régio, que era garantir que suas decisões 
fossem sempre efetivamente cumpridas em um cenário tão vasto e com instituições tão amplas. Como 
aponta Elliot:
Externamente, o poder real era absoluto, tanto na Igreja quanto no Estado. 
Uma torrente de ordens eram emitidas pelo conselho das Índias em Madri, 
e esperava‑se que uma burocracia numerosa, secular e clerical, as colocasse 
em vigor. Mas na prática havia tanta manobra pelo poder entre os diferentes 
grupos [...] que as leis inoportunas, embora olhadas com deferência devido 
à fonte de que emanavam, não eram obedecidas, enquanto a própria 
autoridade era infiltrada, mediada e dispersada (ELLIOTT, 2012, p. 299).
Conselho 
da 
Inquisição
Conselho 
das 
Índias
Câmara 
das 
Índias
 • Casa de Contratação
 • Audiências
 • Vice‑Reinados
Rei
Figura 45 – A administração colonial espanhola era altamente 
centralizada nas mãos do rei, com suas determinações e diretrizes
Quanto às atividades econômicas, a mineração foi a primeira grande ação exploratória para os 
espanhóis. As principaisminas no México eram Zacatecas (1546), Guanajuato (1550) e San Luís Potosí 
(1592), que ofereciam grande quantidade de prata. A última era a única que também produzia ouro. 
Na prática, em paralelo à extração do minério, cada vez mais importantes núcleos urbanos foram 
sendo formados nessas áreas. Já na região andina, as áreas mais importantes de extração de minérios 
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foram Potosí (1545), principal mina espanhola e que se tornou símbolo da exploração colonial, além 
de Huancavelica (1563), localizada no litoral peruano, muito importante na produção de mercúrio, e 
Oruro (1606). Em Chocó, na Colômbia, os espanhóis encontraram ouro e, por ser uma área com pouca 
população nativa, utilizaram a mão de obra escrava africana.
Foram criadas rotas de transporte para abastecer ou retirar materiais das minas e o controle fiscal 
era rígido. As atividades subsidiárias, como a agricultura e o gado, ganharam importância com o declínio 
da produção dos minérios, sobretudo, na segunda metade do século XVIII.
O sistema de trabalho foi promovido a partir das encomiendas. Adotadas inicialmente no Caribe, 
também foram amplamente utilizadas no México e nos Andes. A concessão garantia terra e todo o mais 
que estivesse ali, ou seja, todos os nativos do local. O usufruto era voltado à exploração e formavam 
grandes extensões de terra. Os nativos não recebiam um salário – eram obrigados a sair de suas aldeias 
e, por um período, fazer qualquer atividade determinada.
Os encomenderos receberam uma grande oposição desde o início da conquista, pois eram poucos 
e concentravam muitíssimos recursos, além de poderes. Em alguns lugares, inclusive, conseguiram 
transformar a região em propriedade privada. Por sua vez, a maioria dos colonizadores ficava sem acesso 
à terra e mão de obra. A Coroa resolveu dissolver o sistema e sua manutenção só foi permitida em áreas 
não centrais.
A escravidão indígena também foi adotada inicialmente. Ser escravo é, apesar de tantas concepções 
diferentes na noção popular, ser propriedade de alguém. É perder qualquer direito, poder ser trocado 
ou vendido. A escravatura, apesar de altamente exploratória e, portanto, rentável aos europeus, foi 
condenada desde o início. Eram severas as críticas da Igreja católica e geravam grande resistência entre 
os indígenas, já que não era uma condição comum, causando a desagregação de comunidades e até 
ações armadas contra a colonização. Na prática, o regime de escravidão permaneceu em lugares menos 
controlados pela Coroa, como o sul da área andina – Chile, Equador e áreas amazônicas. Havia tráfico, 
venda e escritura de compra e venda indígena.
 Lembrete
Apesar das fortes críticas da Igreja Católica, e até mesmo contando 
com o apoio da Coroa, a escravidão indígena poderia ser usada para atingir 
lucro imediato e depois ser alterado.
O sistema de repartimiento, mita na área andina, ou cuatequil entre os astecas, foi o mais utilizado 
e importante. Era caracterizado pelo trabalho compulsório, temporário e planejado. Os homens se 
deslocavam para as minas e, depois de certo tempo, voltavam para as suas comunidades. Essa mobilidade 
gerava um problema: a lucratividade não era tão grande, pois logo que o indígena aprendesse as técnicas 
de mineração, acabava seu tempo e um novo grupo era iniciado. Da tradição incaica, era pago um 
salário para a subsistência. Não havia a ideia de acumulação. Inclusive, essa já tradição do repartimiento 
facilitou seu uso com os nativos – daí a Coroa ter adotado esse sistema. Contudo, a lucratividade agora 
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era gerada para fins privados e para a Coroa, ou seja, não mais para a redistribuição. A intensidade de 
trabalho e o tempo foram aumentando ao longo da dominação espanhola. No início, o compromisso 
durava 6 meses e eram convocados de 7 em 7 anos. Com o tempo, passaram a durar até 12 meses e o 
tempo de rodízio foi diminuindo. Em Potosí, o trabalho era tão duro e desgastante, que para cada duas 
semanas de trabalho, uma seria de descanso. 
Os salários, ainda que longe de uma visão de acumulação e possibilidade de ascensão social, 
aumentavam de acordo com a exigência da atividade: 3 reales eram pagos para quem transportava; 3,5 
para as minas; 3,75 para as casa de fundição.
Na prática, a exploração do trabalho era tamanha que já no século XVII houve uma crise. Boa parte 
da população indígena já havia morrido, tanto nas conquistas como na opressão dessas tarefas.
Figura 46 – A representação comum dos indígenas e sua miséria e opressão 
podem ser observadas nos detalhes e expressões – imagem do museu de Tlaxcala
Há relatos de que o repartimiento foi perdendo o sentido de ser rotativo. Muitos indígenas já 
estavam distantes há muito tempo. Essa questão prejudicava diretamente as comunidades. Há de se ter 
em vista que esse sistema só fazia sentido para áreas com grande população ameríndia. No Caribe (que 
rapidamente teve sua população nativa extinta), no Brasil e nos Estados Unidos ele não foi utilizado. 
A Coroa espanhola também o combateu, pois não era um trabalho livre e o nível exploratório gerava 
revoltas indígenas.
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Aos poucos, foi surgindo uma nova forma de trabalho: a peonagem, que utilizava como trabalhadores 
moradores das regiões, empregados tanto na mina quanto na agricultura; eles já estavam habituados 
e, eventualmente, podiam se tornar meeiros. A atividade agregava ex‑escravos, mestiços e outros, que 
recebiam um salário (em geral, dado em produtos) e não podiam sair da região. Bastante diversificado, 
esse sistema foi transitório. 
O que se viu, lentamente, foi o crescimento do trabalho assalariado; ele já era importante na segunda 
metade do século XVII e se generalizou no século XVIII, quando passou a ser preponderante. Um relatório 
do México, de 1697, apontava que a mão de obra da mineração já tinha 68% de assalariados, 18% 
repartimientos e 13% de escravos africanos. Não era um trabalho compulsório. O indígena aceitava 
voluntariamente e recebia um salário básico, o mínimo para suas necessidades mais gerais, mas que nem 
sempre era suficiente. Houve casos de uma “servidão por dívidas”, bastante comum tanto na agricultura 
(principalmente) como na mineração.
A Coroa não criou monopólio estatal na extração de minérios, exceto no caso do mercúrio 
(Huancavelica). A prática comum era a concessão a particulares que investiam na produção, mas ficavam 
com o usufruto do empreendimento. Seus deveres, por sua vez, estavam baseados em uma taxa fixa de 
produção para a Coroa – em geral o quinto (20%), mas que, em momentos de crise, chegou a décima 
(10%), e no controle rígido da produção, dos trabalhadores e dos impostos. A propriedade era mantida nas 
mãos do rei, que procurava, ao máximo, manter um rígido controle dos preços, dos canais de transporte 
e da distribuição – afinal, o grande temor era a perda (sempre constante) via contrabando. Com os 
recursos existentes, era bastante improvável impedir o completo trajeto – produção, armazenamento, 
transporte, distribuição e viagem marítima – sem nenhuma espécie de roubo.
Era a Coroa quem também fornecia e controlava a mão de obra de todas as minas (pelo menos até 
a preponderância do trabalho assalariado). O preço dos minérios, na prática, era altamente determinado 
pela Coroa. Ainda que sem influências diretas nos valores da prata e do ouro, o monopólio régio sobre o 
mercúrio, facilitado por haverapenas uma única mina na América, determinava os valores dos demais 
produtos, já que ele era elemento fundamental para a extração.
O sistema da mineração foi guia central para as demais produções estabelecidas na América hispânica, 
já que conferia o maior lucro para a metrópole. Quando a crise se instaurou, no final do século XVIII, 
a Coroa tentou promover reformas, tudo para restaurar valores de arrecadação – foram as chamadas 
reformas borbónicas.
A estrutura agrária e a sua distribuição de terra envolviam a agricultura e a pecuária. Com a 
expansão dessas atividades, os conflitos com os indígenas eram cada vez mais vistos. O sistema de 
trabalho acompanhava as relações estabelecidas com a mineração, conforme comentamos, apesar de 
certas particularidades. Os alimentos já existentes continuaram a ser cultivados, mas outros rapidamente 
encontraram ótimas condições climáticas e se propagaram criando uma significativa diversidade.
No México, a localização das duas atividades foi a região central, área indígena, mas que depois 
foi se expandindo. Já na parte andina, a agricultura se estabeleceu no litoral, região bastante distante 
do território utilizado pelos nativos (o altiplano), já que o beira‑mar era mais fácil para os espanhóis 
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aplicarem suas técnicas e, em algumas áreas, se tornava bem fértil pela presença de oásis formados por 
rios. Outra vantagem significativa era a menor quantidade de conflitos com os nativos, apesar de que tal 
perceptiva acabou se convertendo em diversas animosidades entre os próprios colonos.
As novas áreas e técnicas promovidas na Nova Espanha (México) incorporaram culturas tradicionais, 
como o milho, o feijão e a pimenta, com outras inteiramente novas, como o trigo (nas áreas mais 
temperadas). Entretanto, a nova lógica nunca antes havia sido imaginada na América: o sentido era 
extrovertido, voltado, no primeiro momento, para o abastecimento das minas. Mas, aos poucos, a 
complementaridade dessa atividade foi sobrepujada e passou a ser fonte de lucro para a metrópole, 
nos moldes propostos pelo mercantilismo moderno. Na prática, essa atividade era autossuficiente em 
termos de custo, e os colonos foram capazes de retomar técnicas indígenas de irrigação, produzindo até 
diques para um processo artificial, assim como introduzir especializações produtivas como o arado. As 
terras indígenas foram sendo expropriadas e o avanço do caráter privado, dentro da lógica do sistema, 
era inevitável. Cultivos tropicais estabeleceram‑se nas áreas litorâneas de menor presença nativa e 
atingiam o ápice dos interesses metropolitanos acerca da agricultura. Nesse sentido, o principal produto 
foi a cana‑de‑açúcar para concorrer com a produção do Caribe. 
De qualquer maneira, a grande revolução foi vista na pecuária. Em um processo extensivo, 
ela ocupava áreas muito maiores que a agricultura e modificava, em grande medida, o meio 
ambiente e as práticas culturais. Eram animais inexistentes naquele hábitat – como ovelhas, 
cavalos, vacas, mulas etc., e que não haviam encontrado nenhum tipo de predador significativo. 
Rapidamente, houve transformações nos hábitos alimentares e revolução nos transportes. A 
noção de distância como tempo para se percorrer algo foi absolutamente modificada. O vestuário 
também mudou, pela introdução do couro. Ao mesmo tempo, o uso de certos animais permitiu 
uma maior produtividade na agricultura e na mineração, como força motriz. Inevitavelmente, 
esse avanço faz com que os animais passassem a ocupar áreas indígenas agrícolas, o que 
provocou duas consequências: por um lado, conflitos e disputas; por outro, a adoção desses 
animais pelos nativos para força motriz, alimentação e vestuário. Ou seja, a colonização, além do 
processo traumático de destruição, conquista, acabou também por alterar relações culturais nas 
populações locais que não eram diretamente controladas e oprimidas pela Coroa. Claro que isso 
não diminui o quão terrível foi o processo exploratório da colonização da época moderna. A lã de 
ovelha e de carneiro foi utilizada em uma significativa produção de tecidos que se estabeleceu 
em áreas domiciliares; esse produto também era voltado para a exportação, propiciando lucro. O 
Equador foi o local em que essa perspectiva foi mais vista, apesar de ter sido também importante 
no México. 
A Coroa tentou, por inúmeras vezes, regulamentar a distribuição de terras, desde 1530. Em 1573, 
decidiu criar uma legislação separada para colonos e nativos. A ideia era preservar as comunidades 
locais e suas formas de utilização das terras. Em outras áreas, a perspectiva era de que a regulamentação 
pudesse impedir conflitos. 
Os menores lotes, pelas pequenas necessidades, ficavam nas regiões urbanas. A unidade de medida 
mais comum era a caballeria (cerca de 40 hectares, em média, mas tendia a ser um valor um pouco maior 
para a pecuária). Uma das grandes discussões era qual seria o tamanho necessário para a subsistência e 
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também para o mercado. Em geral, as famílias recebiam duas caballerias. Mesmo as grandes propriedades 
pleiteavam maiores extensões devido à agricultura rotativa e à grande extensão necessária à pecuária 
(fora áreas problemáticas, repletas de pedra ou com falta de água). De qualquer forma, a caballeria era 
a forma legal de acesso à terra, mas que não impedia a existência de ilegais, que mantinham conflitos e 
hostilidades). Na prática, os que recebiam as terras eram minorias, uma elite que procurava, de todas as 
maneiras, se perpetuar nessa condição, e quando possível, adquirir ainda maiores domínios.
No caso indígena, parte das terras era utilizada para a formação de um núcleo urbano (que, 
tradicionalmente, mantinha pequenas hortas), o núcleo da aldeia, e parte para terras comunais – como 
era a tradição. No caso específico da pecuária, aproveitavam locais não cultiváveis para pastagens ou 
florestas, distribuindo parcelas individuais para os chefes de família. Essas áreas tinham um caráter 
privado com limitações: havia a possibilidade de compra e venda, mas era fundamental não permitir que 
usurpadores comprassem e que o local deixasse de ser exclusivo da comunidade. 
As maiores extensões de terra ficavam para os pecuaristas. Assim, em pouco tempo, se tornaram um 
grupo de elevado status. Isso gerava poder local, alguns chegavam a se considerar “donos do mundo”, 
em pleno século XVIII. Nesse contexto, sobretudo no México, já estava claro o declínio dos mineiros e a 
ascensão da pecuária.
Aos poucos, os interesses dos pecuaristas geraram a perspectiva de tomada das terras indígenas, 
sobretudo se estivessem localizadas em áreas privilegiadas para a atividade. Se no século XVI os conflitos 
estavam relacionados ao uso dos indígenas como mão de obra compulsória, no século XVIII e, sobretudo, 
no século XIX, as contendas giravam em torno da questão agrária. A forma do Estado de contornar o 
problema foi gerar concessões gratuitas de caballerias para territórios mais longínquos, geralmente 
mais ao Norte – as regularização e manutenção eram dadas pelo pagamento de impostos. De qualquer 
maneira, muitos não esperavam por essa doação e partiam para apropriações ilegais, fato bastante 
comum no México.
 Não é à toa, portanto, que a questão agrária se constituiu o problema central de tal desenvolvimento. 
Sempre houve conflitos e revoltas pelas áreas mais significativas de pastos e de melhores localizações 
para o rápido escoamento e comércio. Esse processo começou na época colonial e se perpetuou durante 
a formação do Estado Nacional. Essa permanência desembocouno processo revolucionário mexicano 
do início do século XX.
Exemplo de aplicação
Reflita, nesse contexto, sobre quais foram as origens dos vetores que formaram a América Latina 
com uma estrutura fundiária concentrada e de enorme desigualdade social. 
Na área andina, a mão de obra e a política de distribuição de terras seguiu o mesmo caminho 
da Nova Espanha. As terras concedidas para a agricultura eram chamadas de mercedes de labor e as 
dedicadas à pecuária eram mercedes de estancias. Muitas mercedes eram formadas pela peônia e pela 
caballería, constituindo um amplo território. 
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De qualquer maneira, a geografia da região, o clima e o relevo impunham muitas limitações à 
agricultura. No litoral também havia problemas, como a existência de muitos desertos. Particularmente, a 
área em torno de Lima, nova capital, era bastante frutífera devido às irrigações causadas pelos oásis. Além 
disso, a cidade tinha um grande número de pessoas, o que gerava um contínuo mercado a ser abastecido. O 
mesmo ocorria no entorno de Potosí e das demais regiões mineradoras. A expansão da agricultura privada 
foi facilitada pelo declínio da população indígena – bastante explorada nas minas, como demonstramos –, 
deixando áreas livres que foram utilizadas para a agricultura. A finalidade central era abastecer as minas.
A mão de obra indígena no altiplano teve como base a criação de ovelhas (com sua rápida adaptação 
ao clima frio), que gerava a matéria‑prima fundamental para as manufaturas têxteis, conhecidas como 
obrajes e que tiveram grande importância no Equador.
Em outras áreas, a Igreja Católica obteve patrimônios e latifúndios eclesiásticos, alcançando 
considerável poder. Nessas áreas, havia produção de açúcar com mão de obra escrava negra; em outras, 
criação de gado (estâncias), ou ainda certos obrajes.
A agricultura do litoral teve como base a mão de obra escrava africana, já que quase não havia 
população nativa, privilegiando a produção de cana de açúcar e vinho. No Equador, a produção central 
foi de produtos tropicais, como o cacau. 
As áreas mais periféricas, mais distantes das minas, resultavam em grandes donos de terra que se 
tornavam encomenderos e a população foi se configurando com alto índice de mestiçagem. Esses povos 
passam a trabalhar como peonagem ou meeiros, ou com base em contratos temporários.
Nas locais de clima temperado, mais ao sul do império, como no Chile e na Argentina, criava‑se trigo. 
Esse produto agradava, particularmente, o paladar europeu e, assim, mantinha um ativo mercado. Além 
disso, também grandes senhores controlavam as terras, pois a Coroa não mantinha interesse direto ali.
No Chile, a agricultura nasceu, a partir de Santiago, na região central e a pecuária em menor escala. 
Como o norte é desértico e o sul muito frio e chuvoso, a agricultura rapidamente se expandiu para 
o sul por meio de produtos não tropicais, pois os europeus perceberam que a região tinha condições 
semelhantes ao clima do Mediterrâneo. A mão de obra mais utilizada foi a peonagem, chamada de 
inquilinato, índios ou espanhóis que não tinham encomiendas ou pequenos proprietários falidos, em 
geral, presos às fazendas, costumeiramente agrícolas (a pecuária era apenas para a subsistência).
Na Argentina, o inverso era visto. O gado era a produção comercial por excelência e a agricultura 
ocorria em menor escala. Inicialmente, a produção era criada solta em imensas áreas demarcadas. 
Os impostos só eram pagos na hora da venda. No início, o trato mercantil era dado com as áreas 
mineradoras, mas a proporção atingiu cabedais capazes de gerar certa autonomia e se unir a uma rede 
de contrabando com o sul do Brasil.
O destaque do gado foi tamanho que diversos conflitos passaram a ser vistos com as missões para 
angariar o máximo de pastos. Assim, a rentabilidade da pecuária, assim como comentamos com relação 
à agricultura, gerou o crescimento da disputa pela terra.
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A mão de obra utilizada foi a peonagem com diversas variantes, e, por vezes, com diversos abusos e 
contendas, até o século XIX. A partir daí, o trabalho assalariado predominou.
É interessante compreender, por fim, que, como buscamos demonstrar, a agricultura e a pecuária 
passaram a ganhar importância cada vez maior, capaz mesmo de gerar grande atenção da Coroa, 
justamente quando a mineração fazia o caminho inverso, diminuindo sua produção e já não conseguindo 
restaurar os valores produtivos anteriores.
O comércio colonial, por sua vez, era bastante restrito. Sevilha era o porto único de todo 
o trato comercial com as colônias. Era proibido o comércio interno. No século XVIII, Cádiz foi 
substituto de Sevilha. Apenas os portos de Havana, em Cuba, Cartagena, na Colômbia, Porto 
Belo, no Panamá, e o de Vera Cruz, no México, eram portos coloniais autorizados a desenvolver 
importação e exportação. A lógica da Coroa, mais uma vez, era facilitar o controle de todas as 
relações mercantis. 
América 
do Norte
Oceano 
Pacífico
Oceano 
Atlântico
Europa
prata 
(Zacateca)
sedas
pra
ta
pr
at
a
de Manilha
pa
ra 
Ma
nil
ha
Portobelo
ouro 
e prat
a
Lisboa Sevilha
Cadiz
alime
ntos e
 man
ufatu
ras
Veracruz
Cartagena
mercúrio
(Huancavelica)
minas de prata
(Potosi)
Lima
ouro da Colômbia 
(Buritica)
África
Mina
Porto
Figura 47 – A mineração criou complexos circuitos mercantis relacionados a sua extração, 
armazenagem e transporte para a metrópole, ainda que em um sistema de navegação anual e portos únicos
Na prática, esse trato era realizado apenas uma vez por ano, pois a navegação era promovida por um 
grande comboio, conhecido como frotas anuais. Elas viajavam pelo Atlântico com o máximo de proteção 
promovida por navios de guerra. Apenas nas Antilhas eles se dividiam para os seus portos de destino. A 
ideia central era fortalecer a defesa contra os ataques piratas, o que nem sempre era possível.
Quando a frota alcançava os portos, era estabelecida uma grande feira para o comércio dos produtos 
europeus, sobretudo manufaturados, trocados pelos metais preciosos ou frutos tropicais. Em geral, esse 
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trato mercantil durava até 40 dias. A seguir, a frota se reunia novamente em Havana e partia para a 
metrópole. Esse sistema de monopólio do trato mercantil durou até a metade do século XVIII, quando as 
reformas promovidas pelos Bourbons tentaram reconfigurar as relações coloniais, frente a um cenário 
de crise, como se verá.
Para garantir essas relações de comércio, no século XVII, especialmente no Peru, foi criado um sistema 
de repartos. Os índios eram obrigados, além de todas as questões já impostas, a comprar mercadorias 
metropolitanas, garantindo o lucro do trato mercantil. Na prática, corregidores exerciam esse comércio 
com os mais pobres, principalmente indígenas, o que se tornava sua principal fonte de renda. Alguns 
deles compravam esse cargo. Daí a exploração ser a maior possível, pois desejavam recuperar os recursos 
aplicados. Como descreve Murdo J. Macleod:
Impunham cobranças ilegais em dinheiro, em alimento ou em outros 
bens e combinavam vendas de tributo a preços ilegais com pagamentos 
secretos. Exigiam derechos (emolumentos ou subornos) para as contagens 
da população, para investimentos no cargo, para a aprovação da legislação 
do conselho e para outras funções que, por lei, deveriam ser cumpridasgratuitamente. Os corregidores encontravam cúmplices dispostos a 
concussões entre os membros índios do conselho, que cobravam ilegalmente 
por fiestas, votavam aumentos para seus próprios salários, e de várias 
maneiras usavam seus cargos para aumentar e desviar os fundos do tributo 
em benefício próprio (MACLEOD, 2012, p. 289).
Os produtos dos repartos incluíam mulas, tecidos, velas, o que, muitas vezes, eram completamente 
desnecessários aos nativos, uma vez que substituíam artigos já existentes (como a lhama no lugar da 
mula ou seus próprios tecidos).
Quanto aos impostos, além do quinto para a mineração, como já comentamos, existia imposto para 
esse comércio externo (almojarifazgo), ou mesmo para a proteção dos galeões no Atlântico (averia). 
Por fim, havia ainda a cobrança pelo trato mercantil interno e para índios de determinadas regiões 
(alcavala). Os índios, contudo, eram particularmente ainda mais taxados. Nas encomiendas, os tributos 
podiam incluir também valores em produtos ou em dinheiro, sendo que variavam bastante dependendo 
das regiões. 
Todo esse aparato e rígido controle não impediam, contudo, as possibilidades de contrabando. 
Um caso bastante exemplar era o de Buenos Aires. A cidade, fundada em 1580, cresceu e se 
fortaleceu durante a União Ibérica (1580–1564), quando Felipe II unificou as Coroas de Espanha 
e Portugal. Com isso, era nulo o Tratado de Tordesilhas e muitas relações se estabeleceram com os 
vecinos. E mais, havia a participação de um ativo trato mercantil de escravos com Angola, ou, por 
vezes, a revenda do Rio de Janeiro, além da comercialização do couro do gado que se expandia 
e ganhava fama. Diversos foram os requerimentos das Audiências e Cabildos para autorizar o 
comércio externo, o que estava relacionado, diretamente, aos contatos com os vecinos. De qualquer 
maneira, como explica Rodrigo Ceballos:
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A constituição de redes de cumplicidades no porto, permitida em grande 
medida pelas inserções lusitanas, foi o que financiou o próprio aparelho 
administrativo e militar da Coroa garantindo sua estabilidade e os direitos 
dos vecinos. A prática da extralegalidade, a fina cortina composta pelas 
(in)formalidades do Império, permitiu o fortalecimento da Coroa e da 
própria elite. Este pacto, constituído pelas ações cotidianas e o aval 
real, nos possibilita entender a consolidação dos grupos dominantes 
da região, assim como a permissividade da presença portuguesa. Isto 
não significou a ausência de conflitos ou de proibições régias, mas a 
contínua possibilidade de novas formações de redes de poder e exercícios 
de autoridade. Foi nesta malha, permitida pela dinâmica do pacto entre 
“centro” e periferias”, que os portugueses souberam atuar e negociar 
para bem conservar (CEBALLOS, 2009, p. 483).
Assim, é preciso ter em vista que, entre as determinações reais e as práticas do cotidiano, 
muitos aspectos eram reestabelecidos. Isso não acabava com a força do poder central, mas trazia, 
na realidade, as ações das áreas mais distantes e de seus interesses. É nesse sentido que podemos, 
portanto, perceber uma imbricada relação na região sulina entre portugueses e espanhóis, que 
promoveu consequências e interesses dos mais variados, como a construção dos Estados Nacionais, 
ou mesmo depois, nas disputas de interesses que culminariam no maior conflito da América do Sul, 
a guerra do Paraguai.
A sociedade refletia as diversas relações estabelecidas pela política e pela economia, dentro dos 
espaços de atuação permitidos pelo poder régio. As diferenças eram altamente visíveis e garantiam, 
em boa medida, a perpetuação de uma distinção bastante inflexível. Os chapetones ou guachupines 
eram os espanhóis que vinham para a América assumir os principais cargos da administração (como ser 
vice‑rei). Os criollos, apesar de também serem brancos, descendentes diretos de pai e mãe espanhóis, 
já que havia uma enorme preocupação com a pureza de sangue e com casamentos mestiços, estavam 
impedidos de ascender aos principais cargos da burocracia. Assim, acabavam por se empenhar nas 
atividades econômicas e, com isso, se tornaram a elite econômica local. Os mestiços, sobretudo resultado 
das relações de brancos com índios, eram bastante numerosos e estavam inseridos nas mais diversas 
atividades e relações do Novo Mundo. Por fim, os escravos negros eram numerosos em áreas específicas, 
principalmente onde os nativos estavam naturalmente mais ausentes (como na Colômbia) ou eram mais 
rapidamente mortos (como no Caribe).
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Figura 48 – A estrutura jurídica da América hispânica privilegiava, em grande medida, 
os chapetones, ainda que o criollo, não raramente, fosse seu filho ou descendente direto
5.3 Traços comparativos da colonização portuguesa 
Ainda que tenhamos uma matéria específica para o Brasil colonial, é pertinente delinearmos questões básicas 
comparativas das colonizações ibéricas, principais potências coloniais da época moderna. Elas tiveram um período 
de confluência, entre 1580–1640, quando a Coroa espanhola dominou a sua vizinha, conhecido como União Ibérica.
Uma questão inicial bastante interessante é que a Coroa portuguesa, até 1530, não se preocupou 
em criar um sistema colonial, já que a rota do périplo africano se mostrou bastante produtiva a partir de 
Vasco da Gama; para alguns historiadores, o lucro dessa viagem inicial atingiu mais de 6.000%.
As expedições promovidas naquele momento eram baseadas em ações exploratórias, sobretudo, em busca 
de ouro e prata, já que começavam a surgir as notícias desses metais nos domínios espanhóis, mas também 
policiadoras, responsáveis por tentar inibir a presença de outros países no território recém‑descoberto. 
O contato com os nativos, de início, promoveu o ciclo do pau‑brasil. Os portugueses se concentravam 
no litoral, em feitorias – fortes que garantiam relativa segurança, e utilizavam a mão de obra indígena 
de forma livre. A grande questão é que os índios no Brasil ficaram impressionados com a possibilidade de 
escambo com os europeus por produtos nunca antes vistos. Ainda que a historiografia tradicional queira 
apontar a troca por produtos irrisórios como espelhos, pentes e etc., há de se ter em vista que o principal 
interesse do ameríndio nas terras dominadas pelos portugueses eram relacionados à metalurgia, como 
machados. Uma tecnologia desconhecida para o indígena inevitavelmente gerava o trato mercantil.
Nesse sentido, ao contrário dos espanhóis, que partiram para um processo imediato de conquista, já 
que encontraram a maior riqueza cobiçada dentro da lógica mercantilista, os portugueses lidaram com 
a alteridade de uma maneira capaz de fazer ambos os lados terem benefícios, ainda que essa condição 
não tenha durado muito tempo.
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Adiciona‑se, portanto, mais um caso importante para se argumentar que a principal questão do contato 
entre europeus e ameríndios eram os interesses mercantis, muitas vezes camuflados nas ações evangelísticas.
De qualquer maneira, os portugueses logo tiveram que promover um processo sistemático de 
colonização. Próximo do fim da terceira década do século XVI, outros rivais europeus já faziam a rota pela 
África, ou mesmo circum‑navegação, e o monopólio das especiarias estava arruinado. Ao mesmo tempo, a 
presença de piratas, sobretudo, franceses, trazia o temor de também perder os territórios do Novo Mundo 
– questão aindamais forte com a criação, em pouco tempo, da França Antártica no Rio de Janeiro.
Os portugueses, com esparsos recursos e sem a mesma sorte dos espanhóis, tentaram criar um 
sistema colonial baseado na administração descentralizada para entregar os custos aos particulares. Os 
espanhóis também procuraram deixar os gastos para as ações privadas, como vimos. Mas a diferença 
central, a nosso ver, é que a riqueza gerada pela conquista e também a organização já existente de 
impérios centralizados e com atividades econômicas em pleno vigor (como a mineração) permitiu mais 
facilmente o desenvolvimento.
Na prática, os portugueses criaram as Capitanias Hereditárias em 1534, dividindo o território determinado 
pelo Tratado de Tordesilhas em quinze faixas de terras com catorze capitanias (uma delas ficava com duas 
áreas). As determinações centrais dadas aos capitães donatários eram simples: deveriam proteger e fazer o 
território ser produtivo. Ainda que por um bom tempo a historiografia tenha se preocupado em analisar tal 
estrutura com as suas semelhanças ao feudalismo, uma questão clara que divergia era a economia extrovertida, 
que se configurava dentro dos moldes do mercantilismo, elemento estruturante do Antigo Regime.
Terras pertencentes a Portugal
Oceano Atlântico
Terras pertencentes à Espanha
Figura 49 – O primeiro esforço português de colonizar com uma estrutura descentralizada
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Na prática, logo esse sistema se mostrou problemático. O capitão coordenava a estrutura da terra, 
inclusive distribuindo as sesmarias (formação básica para as grandes propriedades), mas seus recursos 
eram poucos para a enormidade de gastos. Ao mesmo tempo, algumas hostilidades indígenas também 
foram significativas, mostrando que já havia uma transformação na relação da alteridade a partir do 
momento em que o europeu desejou efetivamente dominar o território.
A Coroa, então, percebeu a necessidade de um sistema central para coordenar o desenvolvimento 
ultramarino português. Em 1549, nomeado diretamente pelo rei, foi criado o Governo Geral, que dominava 
toda a estrutura administrativa com três auxiliares centrais: ouvidor‑mor (justiça), provedor‑mor 
(finanças), capitão‑mor (defesa). Por fim, também havia poderes locais com as Câmaras Municipais, 
redutos dos interesses dos mais ricos e importantes de cada região.
Rei
Governador geral
Capitanias hereditárias e 
capitanias reais (da Coroa)
Município 
(Sede: Vila) 
Câmaras municipais
Provedor‑Mor
(Fazenda)
Ouvidor‑Mor
(Justiça)
Capitão‑Mor
(Defesa)
Figura 50 – A nova perspectiva administrativa promovida 
pelo Governo Geral garantiria a centralização
A implantação da estrutura econômica nos moldes coloniais para gerar lucro à metrópole 
lusa teve como base o que se convencionou chamar de colônia de exploração. Ou seja, como 
já comentamos, o objetivo era o lucro da metrópole e, para tal, a economia colonial se tornaria 
complementar à Coroa. Assim, a colonização de exploração era caracterizada pelo uso do latifúndio, 
pela monocultura, com mão de obra escrava africana devido ao lucro com o tráfico, e, por fim, 
extrovertida e naturalmente dependente. Dessa maneira, toda a lógica da especialização e da 
grande quantidade de um único produto era absolutamente voltada para os interesses de lucro 
metropolitano.
Os portugueses, para implantar a estrutura do açúcar, recorreram à parceria com os holandeses e 
seu ativo trato mercantil. Em troca do financiamento da produção açucareira na América (que Portugal 
já tinha experimentado nas Ilhas Atlânticas), os holandeses transportavam, refinavam e monopolizavam 
o comércio de açúcar na Europa. Assim, ainda que os lusos não ficassem com o lucro central desse 
negócio, recebiam bons valores com outros negócios paralelos, principalmente o tráfico negreiro. É 
notório, portanto, que o processo de implantação da colonização promovido pelos portugueses foi 
significativamente mais problemático que o espanhol. Não foram encontrados nem recursos e nem uma 
estrutura produtiva que interessasse para a formação do antigo sistema colonial dentro da perspectiva 
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mercantilista. Assim, os lusos tiveram que promover uma ampla relação econômica capaz de adequar‑se 
à necessidade da época moderna europeia. 
A sociedade, por sua vez, também se tornou altamente desigual, sobretudo durante o modelo central 
exploratório do açúcar, capaz de gerar uma elite branca profundamente enriquecida e uma massa de 
escravos completamente sem recursos. No entanto, as outras relações que se estabeleceram a partir do 
ouro das minas gerais (no início do século XVIII) e as atividades subsidiárias acabam por promover uma 
menor concentração de renda e uma miscigenação importante, principalmente com brancos e negros, 
ainda que o elemento indígena não possa ser desconsiderado. 
5.4 A colonização holandesa
Como comentamos, a Holanda, no início do século XVI, tinha grande trato mercantil. Em Amsterdã, 
grandes banqueiros e comerciantes promoviam negócios para as diversas regiões do globo, sobretudo, 
com as extensas possibilidades desenvolvidas pelas Grandes Navegações. As relações econômicas 
pareciam ilimitadas. Ao mesmo tempo, a região abrigou aqueles que debandavam de outros países 
por questões religiosas, mesmo com grandes cabedais financeiros – um dos grupos principais, 
nesse sentido, foi o dos judeus ibéricos. Ao mesmo tempo, boa parte dos batavos comerciantes era 
protestante calvinista. A ideia de uma ética capaz de valorizar as atividades do trabalho, acima de 
tudo como um serviço a Deus, aliada a um estilo de vida ascético, isto é, não dado aos prazeres do 
mundo e da ostentação, promovia um enorme enriquecimento e recursos propícios para o aumento 
mercantil. Diferente da Igreja Católica, que condenava o lucro e a usura, segundo alguns protestantes 
do período, o trabalho e a acumulação demonstravam a ação de Deus em suas vidas, comprovando a 
sua eleição aos céus.
Uma das parcerias importantes para os holandeses era o açúcar português, que exemplifica bem 
as relações de desenvolvimento. Como mencionamos, o financiamento da montagem dos engenhos 
gerava benefícios bastante significativos, como o monopólio do açúcar no transporte, último refino, e 
venda na Europa. Na prática, não só o lucro direto era bem‑vindo, como também a construção e uso de 
uma marinha mercante e de guerra capaz de atravessar o Atlântico trazendo os produtos em segurança 
frente aos corsários e piratas. Essa rede de transporte foi se expandindo e estava bastante relacionada 
às diversas áreas de comércio com várias regiões da Europa.
Entretanto, havia um problema político constante: a região fazia parte dos domínios 
espanhóis. Uma progressiva política particularmente opressora foi vista a partir da metade 
do século XVI, no reinado espanhol de Felipe II, que recebera vastíssimas possessões também 
na Europa, além dos domínios ultramarinos, dos Países Baixos, do Sacro Império e de várias 
regiões italianas.
Em 1580, Felipe II foi também coroado Rei de Portugal, promovendo a União Ibérica (1580‑1640) e 
o auge do Império Espanhol. Suas possessões eram gigantescas e atravessavam o mundo.
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Figura 51 – O retrato de Felipe II, rei da Espanha, 
em um dos momentos decisivos do Império
Apesar disso, em 1581, os holandeses decidiram lutar por sua independência proclamando uma 
República nos Países Baixos e unindosete províncias. A partir daí, uma grande guerra se iniciou. Como 
represália imediata, a Espanha proibiu a manutenção da parceria do comércio do açúcar. Com isso, 
procurava atingir uma das principais ações econômicas dos batavos.
A reação holandesa foi bem planejada. O país aproveitou o capital existente e fundou a Companhia 
das Índias Orientais, em 1602, e a Companhia das Índias Ocidentais, em 1621. Particularmente a 
segunda, conhecida também como WIC (sigla do nome em inglês), atingiu vultoso cabedal em torno 
de uma parceria entre o Estado recém‑criado e os grandes comerciantes. Era garantido o monopólio da 
conquista e do comércio nas principais áreas do Novo Mundo e da África. Entendeu‑se que as possessões 
de controle português eram as mais fracas do Império Habsburgo de Felipe II e, então, promoveram‑se 
as invasões.
A Holanda acabou por dominar áreas na Ásia, mas o alvo principal foi o circuito Atlântico. O país 
dominou áreas do tráfico negreiro na África e promoveu invasões no Novo Mundo. Na verdade, mesmo 
antes da criação das companhias, os holandeses, em 1599, tentaram dominar o Rio de Janeiro. Em 1624, 
a WIC enviou, sob a liderança de Jacob Willekems, 26 navios e mais de 3 mil homens para a invasão da 
Bahia, centro do Governo Geral e território relacionado ao comércio do açúcar. A conquista aconteceu, 
mas não durou muito tempo. Uma grande frota ibérica, com mais de 50 navios e milhares de homens, 
em 1625, expulsou os invasores.
No entanto, após a rearticulação de recursos, possível a partir da ação do corsário Pieter Heyn, que 
conseguiu saquear a frota anual espanhola repleta de prata, nas Antilhas, no ano de 1628, a WIC decidiu 
por uma nova invasão. Agora a ação seria promovida nas áreas diretamente produtoras do açúcar e, 
segundo alguns historiadores, menos protegidas do que a capital administrativa. Em 1630, liderados por 
Diederik van Waerdenburgh e Hendrick Lonck, mais de 50 navios holandeses dominaram Pernambuco 
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e por lá ficaram até serem expulsos em 1654. Sabendo da necessidade da mão de obra escrava para a 
produção açucareira, os holandeses também se apropriaram de áreas do outro lado do Atlântico: entre 
1638 e 1641 dominaram a Costa da Mina e Angola, principais centros do tráfico negreiro realizado pelos 
portugueses.
Figura 52 – As investidas holandesas de colonização foram fundamentalmente promovidas 
na América portuguesa, em torno da importância do açúcar
As relações promovidas na América pelos holandeses foram bastante desenvolvidas no 
governo de Maurício de Nassau, entre 1637 e 1644. O governante procurou promover uma 
relação amistosa com a população local. Assim, começou autorizando a liberdade religiosa, 
já que os holandeses eram protestantes e a região já tinha uma significativa base católica, 
além de estimular o avanço cultural com pintores, artistas, cientistas, biblioteca e observatório. 
Mais importante ainda, aliás, foi a sua relação com os senhores de engenho. Nassau permitiu 
empréstimos de grandes valores para reconstruir a estrutura do açúcar e o fornecimento de 
escravos. Por fim, na política, permitiu a participação da elite açucareira, representada pelo 
Conselho dos Escabinos. 
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Figura 53 – A representação do Conde Maurício de Nassau, grande responsável 
pelo desenvolvimento colonial holandês na América portuguesa
Rapidamente, assim, a produção de açúcar cresceu e a dominação parecia tomar vulto. Nassau chegou 
até mesmo a expandir a conquista litorânea do Nordeste até o Maranhão. Em 1640, na Europa, Portugal 
passou a lutar pela Restauração de sua autonomia e a Holanda se tornou uma parceira. Assim, a situação 
ficava confusa, pois a América portuguesa já estava há tempos com áreas dominadas pelos holandeses. 
Tudo mudou quando Nassau acabou por sair de seu cargo, no ano de 1643. A decisão era devida aos 
diversos atritos com a WIC acerca da forma de governo do território conquistado. A companhia exigia o 
pagamento imediato dos empréstimos e o administrador rebatia que ainda não era o momento. Os novos 
governantes aplicaram o desejo da WIC e provocaram um forte sentimento nativista que acabou por 
conseguir expulsar os holandeses em 1654. Estava acabada a experiência colonial na América portuguesa.
Um dos problemas centrais que contribuiu para a decadência do comércio dos holandeses foi a competição 
com os ingleses pelo domínio dos mares. Em 1651, os ingleses criaram os Atos de Navegação. Um deles protegia 
a marinha inglesa com a permissão de comércio apenas com os produtos provenientes de navios com bandeira 
da Inglaterra ou com os de países produtores. A perspectiva era retirar os holandeses desse trato mercantil. Logo 
a Guerra de Navegação (1651‑1654) foi desenvolvida. A vitória inglesa criava a força hegemônica inglesa nos 
mares (“rainha dos mares”) e contribuía para o enfraquecimento do comércio holandês.
 Saiba mais
Uma ótima análise do desenvolvimento do Brasil Holandês pode ser 
vista na obra:
MELLO, E. C. de. O Brasil Holandês. São Paulo: Penguin Classics, 2010.
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É notório, portanto, que a Holanda, na época moderna, tinha uma relação muito mais mercantil 
marítima do que propriamente o objetivo de montar uma estrutura colonial, de produção e 
povoamento. Contudo, as questões políticas acabaram por reconfigurar as necessidades e a 
colonização surgiu com base em invasões ao território dominado por portugueses. Apesar de certo 
desenvolvimento, os portugueses passaram a sofrer também com a competição inglesa no domínio 
dos mares. Sua derrota marcou a decadência desse desenvolvimento, ainda que, antes de serem 
expulsos da América portuguesa, tivessem aprendido e levado o conhecimento do açúcar para as 
áreas do Caribe. Naquele momento, contudo, também a produção do açúcar português começaria 
a declinar. 
5.5 A colonização francesa
As Grandes Navegações francesas, conforme vimos, foram iniciadas tardiamente, em boa medida, 
por causa dos problemas internos que afligiam o país. As ações de alguns exploradores garantiam 
a disputa internacional por territórios, o que acabou se concretizando, sobretudo, na América do 
Norte e no Caribe. Além disso, a ação dos corsários também foi bastante perceptível, como as ações 
do século XVIII, promovidas para saquear o ouro na América portuguesa. Em 1710, Jean Duclerc 
promoveu um primeiro ataque infrutífero no Rio de Janeiro. No ano seguinte, contudo, a mesma 
cidade foi tomada com as ações de Duguay‑Trouin. As tentativas mais importantes foram a criação 
da França Antártica, entre 1555 e 1567, no Rio de Janeiro, e, depois, da França Equinocial, entre 1612 
e 1615, no Maranhão.
A França Antártica foi a primeira tentativa francesa de criar uma estrutura colonial no Novo Mundo 
e refletia a não aceitação da divisão do Tratado de Tordesilhas. Houve diversas incursões dos franceses 
no litoral português, interferindo até mesmo no comércio de pau‑brasil, pois ele gerava importante 
matéria‑prima para a manufatura têxtil.
O rei Henrique II autorizou a ida de uma expedição de mais de 600 homens, contando com católicos, 
huguenotes (protestantes franceses), além de certos criminosos (que receberiam uma nova chance além 
do Atlântico, mas, ao mesmo tempo, seriam mão de obra básica no início dos trabalhos). A liderança 
foi de Nicolau Durand de Villegaignon. Logo conseguiram‑se contatos amistosos com os nativos, o que 
permitiu

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