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História da América Meridional

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EaD
1
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDIONALUNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ
VICE-REITORIA DE GRADUAÇÃO – VRG
COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – CEaD
Coleção Educação a Distância
Série Livro-Texto
Ijuí, Rio Grande do Sul, Brasil
2010
Ivo dos Santos Canabarro
HISTÓRIA DA
AMÉRICA MERIDIONAL
EaD Ivo do s Sa ntos Can abarro
2
 2010, Editora Unijuí
Rua do Comércio, 1364
98700-000 - Ijuí - RS - Brasil
Fone: (0__55) 3332-0217
Fax: (0__55) 3332-0216
E-mail: editora@unijui.edu.br
www.editoraunijui.com.br
Editor: Gilmar Antonio Bedin
Editor-adjunto: Joel Corso
Capa: Elias Ricardo Schüssler
Designer Educacional: Jociane Dal Molin Berbaum
Responsabilidade Editorial, Gráfica e Administrativa:
Editora Unijuí da Universidade Regional do Noroeste
do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí; Ijuí, RS, Brasil)
Catalogação na Publicação:
Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí
C212h Canabarro, Ivo dos Santos.
História da América Meridional / Ivo dos Santos
Canabarro. – Ijuí : Ed. Unijuí, 2010. – 62 p. – (Coleção
educação a distância. Série livro-texto).
ISBN 978-85-7429-881-8
1. História. 2.America Meridional. 3. America Meri-
dional – Formação histórica. I. Título. II. Série.
CDU : 98
 98(=4)
EaD
3
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDIONAL
SumárioSumárioSumárioSumário
CONHECENDO O PROFESSOR.................................................................................................5
APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................7
UNIDADE 1 – DA AMÉRICA COLONIAL AO ESTADO OLIGÁRQUICO.............................9
Seção 1.1 – A América Pré-Colombiana .................................................................................... 10
1.1.1 – Os Astecas ............................................................................................................. 11
1.1.2 – Os Maias ............................................................................................................... 13
1.1.3 – Os Incas ................................................................................................................. 15
Seção 1.2 – A América Após a Chegada de Colombo .............................................................. 17
Seção 1.3 – Dimensões da Organização da Sociedade Colonial ........................................... 21
Seção 1.4 – O Fim do Sistema Colonial .................................................................................... 26
UNIDADE 2 – DA FORMAÇÃO DO ESTADO NACIONAL
 AOS CONFLITOS DO SÉCULO 19 .................................................................. 29
Seção 2.1 – A Fase de Instabilidade Político-Administrativa ................................................. 30
Seção 2.2 – A Fase de Estabilidade Política e Econômica ...................................................... 31
Seção 2.3 – Exemplo de Estado Oligárquico: a Argentina .................................................... 34
2.3.1 – Rosas: o caudilho dos caudilhos ........................................................................ 35
2.3.2 – O Processo de Imigração e Industrialização. ................................................... 37
Seção 2.4 – O Paraguai no Século 19........................................................................................ 38
2.4.1 – A Guerra Contra o Paraguai. .............................................................................. 41
UNIDADE 3 – A AMÉRICA MERIDIONAL NO SÉCULO 20 .............................................. 45
Seção 3.1 – O Estado Oligárquico em seu Apogeu e Crise no Século 20............................ 46
Seção 3.2 – A Era do Populismo ................................................................................................. 52
Seção 3.3 – Aspectos das Ditaduras Militares na América Latina ........................................ 55
Seção 3.4 – As Ditaduras Militares na Argentina ................................................................... 55
Seção 3.5 – A Ditadura de Stroessner no Paraguai (1954-1989) .......................................... 57
Seção 3.6 – A Ditadura no Uruguai ........................................................................................... 59
SAIBA MAIS .................................................................................................................................. 61
EaD Ivo do s Sa ntos Can abarro
4
EaD
5
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDIONAL
Conhecendo o ProfessorConhecendo o ProfessorConhecendo o ProfessorConhecendo o Professor
Ivo dos Santos Canabarro
Gosto muito de trabalhar com fotografias, sou fascinado pe-
los elementos visuais, acredito que eles nos possibilitam o conhe-
cimento de outras realidades. Comecei a pesquisar os arquivos fo-
tográficos no curso de Graduação em História que cursei na Unijuí,
pois naquele período fui bolsista de iniciação científica do CNPq.
Depois, no Mestrado, realizado na UFRGS, continuei a utilizar as
fotografias, aliadas aos depoimentos orais. Após concluir o
Mestrado comecei a trabalhar na Unijuí no curso de História.
O trabalho como professor no curso de História sempre este-
ve aliado às atividades de pesquisa, pois considero importante que
o professor não trabalhe apenas com o saber já produzido, mas
que ele também tenha a capacidade de produzir novos conheci-
mentos. Foi nesta perspectiva que fiz o curso de Doutorado na
Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro, e na Univer-
sidade de Paris III, na França. A minha tese de Doutorado é um
estudo sobre a cultura fotográfica na Região Noroeste do Rio Grande
do Sul.
Fazer pesquisas é um desafio constante, pois a cada momen-
to descobrimos coisas novas que nos fazem repensar os conheci-
mentos produzidos. Neste sentido, considero que trabalhar com as
teorias da História é uma possibilidade de pensar o ofício do histo-
riador, que além de dar aulas deve desafiar-se a fazer pesquisas.
Atualmente participo de um grupo de pesquisa intitulado História
e Cultura Visual, que agrega pesquisadores de imagens de todo o
Brasil. A minha pesquisa chama-se “A História pela fotografia”,
que já venho desenvolvendo há alguns anos, mas sempre encontro
questões novas para pesquisar.
EaD
7
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDIONAL
ApresentaçãoApresentaçãoApresentaçãoApresentação
Este componente curricular tem como objetivo estudar a for-
mação histórica das sociedades na América Meridional compre-
endendo dimensões que vão desde o processo de ocupação até a
contemporaneidade. Os estudos sobre a América Meridional es-
tão direcionados para as diversas formas de ocupação e coloniza-
ção deste espaço, o que se verificou a partir da chegada dos espa-
nhóis.
Salientamos, porém, que foi uma ocupação em um lugar no
qual já havia uma população nativa, ocasionando então uma
mudança significativa nas formas de organização dos que habi-
tavam o continente antes da chegada dos colonizadores.
A chegada dos espanhóis no continente americano causou
um grande impacto, em vista da ocorrência de um choque de cul-
turas, uma vez que os estágios em que viviam os nativos e os
colonizadores eram completamente diversos, assim como também
eram diferentes as organizações sociais dos nativos que aqui viviam.
Não é possível visualizá-los como uma cultura homogênea,
pois havia diversas fases de desenvolvimento, dependendo do lu-
gar que habitavam. Alguns viviam em cidades e outros em está-
gio ainda tribal, tendo este fator interferido diretamente no pro-
cesso de colonização. De fato existiram reações ao processo de
colonização e dominação, mas elas foram diferentes e de acordo
com o estágio de evolução dos nativos.
Esse processo inicial de contatos entre espanhóis e nativos
foi num primeiro momento uma reação de estranhamento, pois
ali estava uma diferença cultural muito significativa, ocorrendoum processo de etnocentrismo, pois o europeu se mostrava supe-
rior ao nativo, impondo a sua cultura.
O nativo, por sua vez, foi verdadeiramente dominado pelo
espanhol, pois não dispunha de muitas alternativas para escapar
deste processo de colonização do novo mundo. A atitude
etnocêntrica dos colonizadores é evidente, pois já saíram da
Etnocentrismo
Significa que um grupo social
faz de sua visão de mundo a
única possível, e discretamente
se for o caso a melhor, a
natural, a superior, a certa. O
grupo do outro fica nesta
lógica como sendo o engraça-
do, absurdo, anormal ou
inteligível. Este processo
resulta num considerável
reforço de identidade do nosso
grupo. Para maiores detalhes
ver: Rocha, Everaldo. O que é
etnocentrismo. São Paulo:
Brasiliense, 1994.
EaD Ivo do s Sa ntos Can abarro
8
Espanha com essa intenção de obter riquezas para o trono e catequizar os nativos, com a
justificativa ideológica de levar o nome de Deus, cristianizando os que ali estavam. A inten-
ção real do colonizador, no entanto, era saquear as riquezas e descobrir os metais preciosos
tão importantes para o mercantilismo.
As reações ao etnocentrismo europeu acontecem das mais variadas formas, alguns
historiadores inclusive defendem a ideia de que os nativos já estavam prevendo serem domi-
nados por uma cultura superior que viria abalar suas vidas. Tudo isso, porém, faz parte de
um imaginário da colonização, até porque os testemunhos que nós temos da época não nos
permitem chegar a essa conclusão.
De fato os espanhóis impressionaram com seus cavalos e armas de fogo, causando um
estranhamento no nativo, que não sabia muito bem como se defender dessa verdadeira in-
vasão que havia sofrido. Nos relatos dos religiosos que acompanharam as expedições, fica
evidente que a invasão foi muito violenta, que eles queimavam povoados inteiros para sa-
quear as riquezas e dominar os nativos.
Esses atos de violência revelavam os verdadeiros objetivos dos espanhóis, qual seja, de
saquear as riquezas, utilizando a fé como pretexto e justificativa para a dominação.
Os nativos realmente não tinham como se defender das armas de fogo que eram utili-
zadas contra eles, e consequentemente se submeteram ao processo de dominação.
EaD
9
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDIONAL
Unidade 1Unidade 1Unidade 1Unidade 1
DA AMÉRICA COLONIAL AO ESTADO OLIGÁRQUICO
OBJETIVOS DESTA UNIDADE
• Apresentar as diversas possibilidades de entendimento do processo de ocupação da Amé-
rica Meridional num período que compreende o pré-colombiano até a chegada e coloni-
zação dos espanhóis.
• Descrever os sistemas produtivos dos diferentes povos que habitam a América Meridional.
AS SEÇÕES DESTA UNIDADE
Seção 1.1 – A América Pré-Colombiana
Seção 1.2 – A América Após a Chegada de Colombo
Seção 1.3 – Dimensões da Organização da Sociedade Colonial
Seção 1.4 – O Fim do Sistema Colonial
Nesta primeira unidade você irá entender algumas dimensões que caracterizam a
América Colonial. Vamos conhecer como os primeiros colonizadores ocuparam socialmente
o espaço, suas formas de trabalho e as relações sociais estabelecidas com os nativos.
As relações entre nativos e colonizadores não foram nada amenas, ou seja, foram
conflituosas, pois o processo de exploração dos recursos naturais foi intenso, e alguns auto-
res, inclusive, consideram que houve realmente um saqueamento das riquezas da América
Colonial.
Os nativos ainda foram utilizados como mão de obra escrava nos primeiros tempos da
colonização e a economia foi desenvolvida para atender à demanda dos países colonizado-
res, uma vez que estava direcionada para a exportação, mas mantendo-se uma economia de
subsistência para atender às necessidades da população local.
Nesse período colonial tudo girava em torno dos interesses dos países colonizadores.
A política atendia aos interesses das metrópoles, e não havia uma autonomia para propor
novos projetos. A cultura foi constituída por um processo de hibridização, ou seja, juntou-se
EaD Ivo do s Sa ntos Can abarro
10
partes dos colonizadores com partes dos colonizados. A consciência dos setores locais em
torno de um projeto político libertador levou ao desmantelamento do antigo sistema coloni-
al, dando origem ao processo de independência. A América Meridional, após o processo de
independência, passou para as mãos de uma elite local, formando-se e então um Estado
oligárquico, centralizador e autoritário.
Seção 1.1
A América Pré-Colombiana
Esta expressão, “América pré-colombiana”, é empregada amplamente na historiografia
para designar o longo período histórico que os povos americanos viveram antes da chegada
de Cristóvão Colombo na América em 1492, ano tido como um marco histórico, pois a partir
daí os nativos que viviam aqui na América foram incorporados à História Moderna.
Essa incorporação não significou um processo de igualdade de relações, muito pelo
contrário, os europeus impuseram o seu etnocentrismo, pois se consideravam superiores aos
nativos, que não eram considerados cristãos. O mais importante a salientar, contudo, é que
estes nativos tiveram as suas vidas totalmente transformadas, sendo subjugados ao proces-
so de colonização.
A entrada da América na História Moderna significou uma incorporação ao que pode-
mos denominar de pré-capitalismo, com o início de uma nova fase no sistema produtivo
europeu. A partir das grandes navegações alguns países europeus conquistaram terras e
riquezas no Novo Mundo. Espanha e Portugal foram agressivos neste processo de expan-
são, pois investiram capitais e conhecimentos para conquistar riquezas além-mar.
Antes da chegada de Colombo à América já havia uma história, não ligada à Europa,
mas dos nativos que viviam neste espaço. O importante é preservar as diferentes formas de
vivências dos nativos para não cometermos o erro de chamá-los de bárbaros ou selvagens
somente porque não tinham os mesmos hábitos dos europeus.
A organização social dos nativos era bem diferente daquela do europeu, mas isso não
os tornava inferiores, ao contrário do que defendem alguns historiadores, que revelando
uma atitude etnocêntrica, os denominam de bárbaros, selvagens e pagãos. Devemos enten-
der que as culturas têm a sua própria organização, e no caso dos nativos, eles viviam em
diferentes estágios de desenvolvimento, o que os tornava também diferentes entre si, sem,
contudo, que essa diferença seja motivo para que os classifiquemos como inferiores.
EaD
11
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDIONAL
A História da América antes da chegada de Colombo já era vivida pelo menos há apro-
ximadamente 20 mil anos, ou seja, já tinha a sua própria trajetória, independente da Euro-
pa, não fazendo parte das classificações históricas dos povos europeus.
Os nativos que viviam aqui na América atingiam um número extremamente expressi-
vo, estima-se que eram aproximadamente 50 milhões de pessoas, mas seus estágios de de-
senvolvimento eram bem diferentes, vivendo, em sua maioria, em tribos. Alguns, inclusive,
ainda no estágio da pedra lascada, pois eram várias etnias e grupos linguísticos, e outros,
por sua vez, habitavam cidades, apresentando uma organização social mais complexa.
Os nativos tinham os seus próprios credos, os seus deuses, diferentes daquele dos cris-
tãos, gerando, com isso um estranhamento por parte do europeu, que procurava catequizá-
los. Esses diferentes estágios de desenvolvimento dos nativos foram decisivos para impor todo
o processo de colonização, facilitando ou dificultando a dominação imposta pelo espanhol.
A imposição do processo de ocupação e posterior colonização foi totalmente dramática
para os nativos, pois estes ainda não haviam feito contatos com os brancos, o que de imediato
já causou uma série de problemas, desde doenças contagiosas que ocasionaram a morte de
populações nativas que não possuíam resistência àqueles tipos de vírus e bactérias.
O que mais dizimou, no entanto, foram realmente os saques que os espanhóis faziam,
devastandoos povoados em busca de metais preciosos e, mais tarde, com o próprio processo
de escravização do nativo. Alguns historiadores chegam a comentar que esse foi um verda-
deiro cataclismo demográfico, ou seja, uma destruição em massa da população nativa.
É importante destacar e ter sempre em mente que na América viviam nativos em dife-
rentes estágios de povoamento, o que torna ainda mais complexo entender o processo de
ocupação. Vamos num primeiro momento apenas fazer alguns comentários sobre estas co-
munidades ou, como alguns denominam, estas civilizações, por ser uma abordagem ilustrativa
para compreendermos a diversidade da ocupação.
Serão feitas algumas considerações sobre os astecas, maias e incas, mas não pretende-
mos aqui esgotar o assunto, fazendo apenas uma ilustração destes povos que foram funda-
mentais para a história da América pré-colombiana.
1.1.1 – OS ASTECAS
As primeiras considerações sobre os astecas descrevem o seu processo de ocupação no
vale do México, mais precisamente às margens do grande Lago Texcoco. Neste local surgi-
ram os primeiros povoados ou civilizações, originários de vários povos que se constituíram
como os astecas propriamente ditos.
EaD Ivo do s Sa ntos Can abarro
12
Os astecas foram os últimos a chegarem neste vale. Eram não só provenientes de Astlán,
uma região situada no noroeste do México, como também eram oriundos do sul dos Esta-
dos Unidos, vindo a ocupar este vale e formando ali uma civilização bem organizada em
todos os aspectos.
Os astecas ocupavam grande parte do vale do México, e para isso enfrentaram muitos
obstáculos, pois naquele espaço já existiam outras comunidades. Foi realmente um proces-
so de conquista, um processo de ocupação que se deu lentamente, pois os astecas foram aos
poucos dominando o espaço, criando suas comunidades e também as suas cidades.
Construíram a cidade de Tenochtitlán, localizada às margens do Lago Texcoco, local
onde se encontra atualmente a Cidade do México. Esse processo de criação de cidades foi
lento, pois foram construindo aos poucos as cidades de Texcoco e, mais tarde, Tlacopán.
Desta forma foi criado um conjunto de cidades nas quais os astecas estabeleceram os seus
domínios sobre os demais povos que ocupavam os espaços próximos, com isso formado um
verdadeiro império, não sem lutas e violência, pois enfrentaram a resistência dos demais povos.
A cidade de Tenochtitlán ficava exatamente às margens do Lago de Texcoco, sendo
uma região muito pantanosa, apresentando condições de produção muito complexas. Na-
quele tempo, uma das principais atividades produtivas era a pescaria, e também aproveita-
vam as terras ao longo do lago, que eram pantanosas, para produzir hortaliças.
Com o processo de conquistas de outras terras foram intensificado a agricultura, cri-
ando várias técnicas de plantio e irrigações, sendo possível produzir vários tipos de cereais e
outros alimentos, tais como: milho, feijão, melão, baunilha, cacau, pimentão e mesmo o
algodão. Como podemos perceber, essa agricultura era bem desenvolvida, permitindo o sus-
tento e inclusive o acúmulo de excedentes. Neste contexto, a plantação do cacau foi funda-
mental para o seu beneficiamento, produzindo o conhecido chocolate, o qual, mais tarde,
com a colonização, levado à Europa.
A organização da propriedade da terra também era diferente da atual, pois para os astecas
ela era, em sua maioria, coletiva, ou seja, de propriedade do Estado, praticamente não existin-
do a propriedade privada como conhecemos hoje. A distribuição da terra ocorria da seguinte
maneira: cada um dos adultos ou famílias recebiam um pedaço de terra para ser cultivada, na
qual deveria produzir para a família e mais tarde também para guardar como excedente.
Com a expansão dos astecas e conquistas de novas áreas iniciou-se a ocupação priva-
da da terra. Nestas novas áreas conquistadas eram criadas o que chamamos de fazendas
(uma grande propriedade de terras); estas terras privadas passaram a pertencer aos nobres,
pois a sociedade era dividida em castas (o que chamamos atualmente de classes sociais). Os
excedentes produzidos eram comercializados nas cidades, não era utilizada moeda, mas a
troca era em forma de escambo, quer dizer, produto trocado por produto.
EaD
13
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDIONAL
A estrutura da sociedade para os astecas mudou muito desde a sua chegada no vale
do México, pois logo que ocupavam o espaço eles formavam uma sociedade mais homogê-
nea, ou seja, mais igualitária, e governada por sacerdotes. Com o processo de ocupação foi
se formando e complexificando uma verdadeira sociedade de classes.
A divisão social era a seguinte: uma classe dominante (como em toda a sociedade)
formada pelos denominados nobres, que eram chefes guerreiros e os sacerdotes. Depois des-
tes havia uma classe média, formada pelos comerciantes, que acumulavam riquezas, não
com moedas, mas com um grande volume de produtos que iam adquirindo ao longo do
tempo nas atividades comerciais. O povo propriamente dito era dividido em duas camadas:
os que eram classificados como cidadãos comuns e os mais baixos, os escravos.
Os cidadãos comuns que, em sua maioria, dedicavam-se ao cultivo da terra, eram
realmente os trabalhadores, mas também podiam praticar o pequeno comércio e o artesana-
to. As suas obrigações com o Estado eram várias, pois pagavam os impostos, também pres-
tavam o serviço militar e eram convocados a realizar trabalhos obrigatórios, como na cons-
trução da infraestrutura (ruas, pontes, canais e templos). Os escravos eram geralmente os
capturados como prisioneiros de guerras, e alguns sacrificados em nome do Deus-Sol. Os
demais eram condenados pela justiça, como também por dívidas que não podiam pagar.
Os astecas possuíam uma vida cultural bem variada, sua formação cultural foi decor-
rente da junção das diversas manifestações dos povos que habitavam o vale do México. Os
astecas desenvolveram muitos conhecimentos na área da astronomia, e os aplicavam na
prática da agricultura. Também desenvolveram a Astrologia e a Matemática.
O desenvolvimento da arquitetura foi fenomenal, pois construíram grandes cidades, e
suas construções encantaram inclusive os próprios espanhóis. A cidade mais importante foi
Tenochtitlán, a qual chegou a contar com aproximadamente 500 mil habitantes. Esta cida-
de era realmente formidável, tendo sido, inclusive, comparada à Veneza, pois contava com
inúmeros canais. A cidade possuía até aquedutos para o fornecimento de água.
A vida cultural também era intensa, e o sistema educacional estava dividido em duas
partes, ou tipos de escolas: a escola Calmecac, local onde estudavam os filhos dos nobres, e
a escola Telpochcalli, frequentada pelos jovens do povo.
1.1.2 – OS MAIAS
Os maias habitavam uma extensa região, que atualmente compreende o sul do Méxi-
co, Guatemala, Honduras e Honduras Britânica. Essa região começou a ser habitada apro-
ximadamente em 300 a.C., o que significa que estes povos já tinham toda uma história
antes da chegada de Colombo na América.
EaD Ivo do s Sa ntos Can abarro
14
A história dos maias divide-se em períodos que compreendem três fases: pré-Maia, de
300 a 317; o Antigo Império, 317 a 987, e finalmente o Novo Império, que vai de 987 a 1697.
A primeira fase, conhecida como Pré-Maia, é pouco estudada, pois os indícios docu-
mentais são raros, mas entende-se que nessa fase teve início a produção do milho, como
também o começo da construção das cidades. A segunda fase, o Antigo Império, foi um
período marcado pelo estabelecimento de um Estado com características centralizadoras.
Nessa época as cidades maias foram dirigidas pelos monarcas divinos, sendo estes os gran-
des proprietários de terras, que determinavam como deveriam ser os trabalhos obrigatórios
que a população precisava cumprir. Já na terceira fase, o Novo Império, as cidades recon-
quistaram a sua independência.
A principal atividade econômica dos maias era a agricultura, e as terraseram de pro-
priedade do Estado. Os produtos cultivados eram os mais diversos, mas basicamente planta-
vam milho, algodão, feijão, tomate, batata, cacau, etc. Como a agricultura era a principal
atividade, eles lhe dedicavam muita atenção e as técnicas eram aplicadas sempre para con-
seguir uma maior produtividade, destacando-se, por exemplo, a irrigação. Ao mesmo tempo
também praticavam a queimada, o que contribuía para o esgotamento dos solos.
Os historiadores são unânimes em afirmar que o cultivo do milho era realmente uma
atividade expressiva, e consistia a base da alimentação dos maias, e por ser uma cultura
fácil de praticar, eles dedicavam grande parte de seu tempo a outras ocupações. As demais
atividades eram destinadas à construção de cidades e magníficas obras arquitetônicas, como
seus templos.
A sociedade maia também tinha a sua complexidade, e era basicamente dividida em
classes: a primeira classe incluía os considerados nobres, e constituíam-se em chefes guer-
reiros; também mantinham a liderança com as tarefas de toda a administração pública. A
classe dos sacerdotes era considerada a segunda na hierarquia; eles controlavam as ativida-
des religiosas e culturais. O povo fazia parte desta classe e também exercia várias ativida-
des, como as produtivas, pagamento de impostos, prestação de serviço militar e trabalhos
obrigatórios para o Estado. A terceira classe na hierarquia era a dos escravos, não muito
numerosa, e formada por prisioneiros de guerras e também condenados pela justiça.
A população total dos maias era estimada em aproximadamente 15 milhões de pesso-
as, e as famílias eram a base da sociedade, mantendo a preocupação de amparar os velhos.
A arquitetura maia era extremamente desenvolvida, pois construíram extraordiná-
rias cidades com templos, palácios e observatórios. Isso tudo ainda pode ser visitado,
servindo como testemunho do desenvolvimento desta civilização, que impressionou pelo
seu esplendor.
EaD
15
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDIONAL
A questão cultural, porém, não está restrita à cultura material, ela também pode ser
percebida nas ciências, por exemplo, na própria astronomia, considerada tão desenvolvida
quanto a europeia na época dos descobrimentos. Os instrumentos da cultura material tam-
bém são expressivos, pois já trabalhavam com alguns metais como o ouro e a prata. Também
utilizavam a pedra polida para a confecção de instrumentos, tanto para o trabalho, quanto
para a guerra. Quanto às suas crenças, eram adeptos aos deuses da natureza.
1.1.3 – OS INCAS
Os incas também organizaram um verdadeiro império, formado ao longo dos tempos,
num processo de conquistas de outros povos que habitavam a sua região de abrangência. O
local ocupado pelos maias era extremamente vasto, compreendendo uma região de apro-
ximadamente 950.000 Km2, localizada em parte da Colômbia, norte da Argentina e Chile.
Esta região é configurada geograficamente pela Cordilheira dos Andes, ou seja, um
local de difícil ocupação por questões climáticas. Essa região era ocupada há muito tempo,
mesmo antes da chegada dos incas, mas a documentação arqueológica não permite um
estudo mais detalhado dessa fase da ocupação.
A partir do ano 600 este espaço foi ocupado pelos Chimu, que desenvolveram ampla-
mente os processos de irrigação, possibilitando a agricultura. Os Chimu fundaram a cidade
de Chan-Chan, sua capital, que contou com aproximadamente 80 mil pessoas. Os incas
foram sucessores dos Chimu.
Os incas, segundo os estudos, eram oriundos da região amazônica e pertenciam à
etnia quíchua. Tinham a característica de serem bons guerreiros e conquistadores, e com
isso alastraram-se até as terras altas do Peru, conquistando Cuzco. A partir daí as guerras
continuaram no processo de conquistas e expansões, que durou praticamente três séculos,
submetendo ao seu domínio vários povos andinos.
Este processo teve várias fases, mas pode-se citar a conquista do Império Chimu e da
cidade de Tiahuanaco. Este longo processo de expansão é marcado pela conquista de povos
e cidades, bem como pela assimilação de culturas mais desenvolvidas. A expansão dos incas
ocorreu devido as suas constantes guerras e busca de riquezas, consequentemente incorpo-
rando povos, culturas e bens materiais. Antes da chegada dos espanhóis eles formavam um
verdadeiro império, com praticamente 8 milhões de habitantes, divididos em vários grupos
étnicos.
Os povos andinos tinham muitas dificuldades de sobreviver num clima e relevo extre-
mamente hostil e, sendo assim, criaram muitas técnicas para desenvolver a agricultura na-
quele espaço. A agricultura destes povos pré-colombianos era bem adiantada, cultivando
EaD Ivo do s Sa ntos Can abarro
16
muitas espécies de alimentos. Para isso várias técnicas foram sendo experimentadas para
dominar o clima e a geografia, desenvolveram a irrigação, transformando a área desértica
em local produtivo, irrigado com as águas das geleiras.
Esse processo agrícola foi realmente bem desenvolvido, inclusive realizavam fertiliza-
ção dos solos, utilizando o guano como adubo, resíduo proveniente dos excrementos das
aves marinhas. Todo este trabalho de agricultura e realização de obras de infraestrutura
exigia um grande esforço coletivo, e para isso realizavam mutirões para dar conta destas
atividades.
Essa relação com a terra é semelhante aos demais impérios, pois em quase todos ela era
propriedade do Estado. Com o incas este processo se repete, uma vez que não havia a propri-
edade privada da terra, e sim, a organização em unidades produtivas chamadas de ayllu. O
ayllu consistia num agrupamento de várias tribos num mesmo território, dividido em partes
que compreendiam as terras destinadas ao Deus-Sol, ao imperador e às da comunidade.
Nestes ayllu havia a prática da mita, ou seja, de trabalhos obrigatórios. Quanto às
práticas do comércio, não havia moedas e as trocas eram também em forma de escambo, ou
seja, produto trocado por produto. Os impostos eram pagos pela mita. Toda a produção
excedente era armazenada pelo Estado, para enfrentar eventuais desastres naturais, como
também para sustentar os nobres, sacerdotes e mesmo os militares, os quais dependiam do
auxílio do Estado.
Como todo império, os incas também se dividiam em classes sociais, as quais compre-
endiam o clero, a nobreza e naturalmente o povo. O clero, responsável pela parte espiritual
do império, tinha como responsabilidade a magia e os rituais. A nobreza era constituída
pela família do nobre, ou seja, do imperador inca; também faziam parte dela os chefes guer-
reiros e os denominados curacas. O povo era constituído basicamente pelos camponeses, os
quais muito cedo casavam e permaneciam morando no ayllu, praticando a agricultura e
prestando a mita.
Quanto às formas de união, as pessoas casavam um tempo depois de morar juntos, e
os nobres podiam praticar a poligamia.
No que se refere à administração política, havia uma concentração de poder nas mãos
da família do Inca, ou seja, do imperador. Era um tipo de império teocrático, pois o domínio
era exercido em nome do Deus-Sol. Seus poderes estendiam-se ao papel de chefe civil, poder
militar e religioso, e realmente havia uma concentração de poder na sua figura.
O processo de sucessão dos imperadores era extremamente complexo, ocorrendo dis-
putas que incluíam guerras e desordens políticas. Este processo de luta pelo poder serviu
para enfraquecer o império, abrindo uma brecha para a conquista por parte dos espanhóis.
EaD
17
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDIONAL
O grande império era dividido em províncias, cada uma delas com um governador, havendo
uma estrutura política bem organizada, o que possibilitava a perfeita comunicação dentro
do império.
A vida cultural dos incas foi extremamente desenvolvida, pois estes herdaram um sig-
nificativo patrimônio cultural dos povos da região andina, incorporando vários elementos
destes em sua cultura. Na cultura material destaca-se a arquitetura, com a construçãode
grandes edifícios utilizando-se de pedras irregulares que se encaixavam perfeitamente. Este
patrimônio cultural pode ser constatado nas cidades de Cuzco e Machu Picchu, que são
exemplos desta cultura.
Os incas também possuíam um sistema numérico decimal, e eram muito eficientes na
metalurgia, trabalhavam com ouro, prata, cobre e bronze. A tecelagem também foi extrema-
mente desenvolvida, cuja técnica está presente inclusive nos dias atuais.
Essas três civilizações podem ser consideradas as mais desenvolvidas da América Pré-
Colombiana, pois viviam em cidades e possuíam formas de produção bem organizadas, mas
mesmo assim foram dominadas e saqueadas pelos espanhóis, e não conseguiram resistir ao
invasor.
Isso não significa que seus integrantes não reagiram aos ataques dos espanhóis, pois
os relatos dos religiosos revelam que os conflitos foram devastadores para a população nati-
va, que assistiu à destruição de suas cidades e organizações sociais. Com a finalidade de
saquear as riquezas, os espanhóis realmente colocavam fogo nos povoados, matavam a po-
pulação, não tinham nenhuma piedade, e por incrível que possa parecer, ainda se apresen-
tavam como cristãos que levavam o nome de Deus para os pagãos.
Os nativos que ocupavam mais o sul da América ainda viviam no estágio da pedra
lascada e polida, não pertenciam às grandes civilizações e a sua vivência ainda era em
forma tribal, sofrendo também os ataques dos espanhóis, que procuravam riquezas, princi-
palmente metais.
Seção 1.2
A América Após a Chegada de Colombo
Com a chegada de Colombo, em 1492, a América entra para o mundo moderno, ou
seja, passamos a integrar a modernidade, e com o início do pré-capitalismo vamos fazer
parte de um mundo cuja forma de produção estava em transformação.
EaD Ivo do s Sa ntos Can abarro
18
A busca de riquezas fora do continente europeu fazia parte do mercantilismo, que
procurava metais para incrementar a economia. Quando os espanhóis chegaram na Améri-
ca ocorreu um verdadeiro choque de culturas, e, na realidade, este foi um acontecimento
nefasto para os nativos, mas muito lucrativo para os colonizadores. Neste cenário de trans-
formações, a cultura dos nativos passava por uma profunda alteração, pois com a convivên-
cia com uma nova forma de organização social e o início do processo de colonização, a
partir daí passariam a ser colônias de exploração da Espanha.
Logo na chegada os espanhóis foram adentrando no território à procura de riquezas.
Este processo foi de submissão dos nativos, para inseri-los no novo sistema econômico esta-
belecido pelos conquistadores. Esse sistema pode ser designado como colonial mercantilista,
ou seja, já estávamos pertencendo ao pré-capitalismo europeu, com todas as consequências
que isso poderia gerar, e que realmente foram desastrosas para os nativos.
A instituição do sistema colonial fazia parte de todo um processo mais amplo de mu-
dança do feudalismo para o capitalismo. Com a chegada na América efetivou-se este siste-
ma colonial estabelecendo relações de exclusividade entre as metrópoles e as colônias. As-
sim, tudo o que era explorado e produzido nas colônias era destinado para os países coloni-
zadores. Neste sentido, podemos afirmar que este sistema econômico era complementar ao
pré-capitalismo europeu, ou seja, os metais preciosos eram todos enviados para o país colo-
nizador, além dos produtos tropicais e matérias-primas.
A organização do sistema colonial foi extremamente rígido, pois a Espanha criou todo
um aparato para garantir a dominação nos territórios conquistados, além de estabelecer as
formas de produzir riquezas, organizando as formas de trabalho de acordo com o próprio
sistema mercantilista. O aparato criado pela Espanha era complexo, havia o Conselho das
Índias, tendo a tarefa de organizar as questões judiciais, legislativas, militares e eclesiásti-
cas. Já a Casa de Contratação era responsável pelo comércio. Toda a parte administrativa
era regulamentada pelos vice-reis, que se instalavam por todo o território conquistado, for-
mando o seu núcleo de poder, mas subordinado às metrópoles.
O poder mais local era representado pelos cabildos e ayuntamientos, que consistiam
em órgãos locais de poder; seus representantes eram os descendentes de espanhóis nascidos
na América.
A organização dos territórios conquistados foi distribuída em vice-reinados e capitani-
as gerais. Foi a forma encontrada para controlar a administração com os vice-reis e os capi-
tães encarregados de manter a estrutura de poder representando a Espanha e seus interes-
ses na América. A distribuição dos vice-reinados ficou assim estabelecida: vice-reinado da
Nova Espanha; vice-reinado da Nova Granada; vice-reinado do Peru; vice-reinado do Rio
da Prata, além de algumas capitanias gerais.
EaD
19
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDIONAL
Ver na biblioteca do conecta Unijuí o mapa com a colonização espanhola na América
Meridional.
O vice-reinado da Nova Espanha se expandia pelo oeste dos Estados Unidos, o atual
México e uma parte da América Central, e, como podemos observar nos diferentes mapas
(disponíveis na biblioteca), era um território muito extenso. Convém salientar que o México
e o Peru foram importantes centros produtores para o sistema colonial, com grande parte da
produção consistindo na extração de metais preciosos, pois era o que a Espanha procurava
naquele período.
Com a decadência da extração de metais, iniciou-se o sistema produtivo agrícola, com
isso dividindo as terras e utilizando-se da mão de obra indígena. A divisão das terras formou
as grandes propriedades, as denominadas fazendas, que eram unidades produtivas rurais
praticamente isoladas do poder da Espanha. Os proprietários das terras, que exploravam os
tributos e o trabalho dos indígenas, eram os espanhóis e seus descendentes. As grandes
propriedades também eram exploradas pela Igreja mexicana, um dos maiores latifundiários
do vice-reinado. Os índios eram os mais explorados, posto que não possuíam direitos, ape-
nas trabalhavam nas grandes fazendas e nas minas.
A localização do vice-reinado da Nova Granada compreende os atuais territórios da
Colômbia, Panamá e Equador, sendo estes territórios os primeiros a ser ocupado pelos espa-
nhóis, nele sendo criados os primeiros povoamentos. Foi a partir daí que os espanhóis se
deslocaram para a conquista dos novos territórios na busca constante de metais preciosos.
Os espanhóis logo na chegada dominaram os nativos, que já se encontravam num acen-
tuado processo de desenvolvimento, e que foram forçados a trabalhar nas minas e, mais tarde,
na agricultura. Os espanhóis, no início, caçavam os índios e os vendiam para as áreas de
mineração, e somente mais tarde começaram a praticar a agricultura com produtos destina-
dos ao mercado europeu, também criando gado para vender para as zonas de mineração.
Na agricultura utilizavam a mão de obra indígena e mais tarde a escravidão negra.
Com a redução do ouro e prata do México, este vice-reinado foi intensificando a sua produ-
ção para suprir as necessidades da Espanha.
O vice-reinado do Peru situava-se onde atualmente estão o Peru e parte da atual Bo-
lívia, ou seja, um espaço do Império Inca. Antes da chegada dos espanhóis era um território
muito rico, com metais preciosos que foram motivo de cobiça pelos colonizadores. Após o
saque das riquezas, os espanhóis escravizaram os nativos, obrigando-os a trabalharem nas
minas extraindo metais, como também formaram grandes fazendas, cuja mão de obra era
composta pelos nativos. Os proprietários da minas e os fazendeiros detinham um amplo
poder local, entrando em conflito com os representantes da Coroa.
EaD Ivo do s Sa ntos Can abarro
20
Os nativos foram os que mais sofreram com a colonização, pois estavam submetidos à
escravidão, trabalhando nas minas e nas fazendas, tendo sua liberdade condicionada à
prestação do trabalho compulsório. Na nova escala social os nativos estavam condiciona-
dos à escravidão,era a classe mais baixa na hierarquia social, acima deles estavam os mes-
tiços, que constituíram uma classe livre, mas que não subiam na escala social e permaneci-
am temerosos de serem rebaixados a escravos.
Esse processo de colonização também teve as suas reações, a exemplo do caso de
Tupac Amaru, que era descendente de índios, mas revoltou-se contra a servidão e a abusiva
cobrança de impostos, sendo morto e esquartejado pelos espanhóis.
Na parte mais meridional da América tivemos o vice-reinado do Rio da Prata, território
que compreendia um amplo espaço onde atualmente localizam-se a Argentina, Uruguai,
Paraguai e uma parte do Peru e da Bolívia. Como podemos perceber, era realmente uma
extensa área. Começou a ser ocupada ainda no século 16, quando os espanhóis desceram
do Peru e seguiram até o extremo norte da Argentina, chegando ao Rio da Prata, território
que disputavam com os portugueses, todos em busca de ouro e prata. Como não encontra-
ram de imediato, este território permaneceu abandonado por um longo tempo.
Os núcleos de povoamento eram raros, pois não se tinha uma riqueza aparente, então
se atraía um grande número de aventureiros que se dedicavam ao comércio e também à
apropriação de grande quantidade de terras que tinham pouco valor, mas já contava com a
presença de gado selvagem. Os espanhóis geralmente ocupavam as margens do Rio da Pra-
ta, pois era uma área dedicada ao comércio e ao contrabando de couro e metais.
Nesse vice-reinado as relações com os nativos de imediato foram diferentes das ocorri-
das nos demais territórios, pois os espanhóis não encontraram minas, nem cultivavam a
terra. Sendo assim, os nativos não sofreram num primeiro momento o processo de
escravização. Os espanhóis tiveram muitos filhos com as nativas, gerando um grande núme-
ro de mestiços.
Com o declínio da mineração os espanhóis descem em direção ao Rio da Prata e pas-
sam a intensificar a atividade agropecuária e o comércio. O couro era o produto de exporta-
ção, e também praticavam outras atividades comerciais, pois ali era um porto de entrada de
produtos para os demais vice-reinados. Além disso, o contrabando era amplamente pratica-
do. Os filhos de espanhóis nascidos aqui eram chamados de criollos, e formavam um grupo
que se dedicava à agropecuária, possuindo poder local, sendo decisivos para o processo de
independência desse vice-reinado.
Para além dos vice-reinados ainda havia as capitanias gerais, as quais ficavam subor-
dinadas àqueles. As mais expressivas eram as da Guatemala, Flórida, Cuba, Venezuela e
Chile, e como podemos perceber, ocupavam uma vasta região territorial. Também desenvol-
EaD
21
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDIONAL
viam atividades produtivas, como nos vice-reinados. Essa divisão territorial em vice-reina-
dos e capitanias gerais foi fundamental para a Espanha controlar todas as atividades de
extração de metais e produção agrícola praticada aqui, pois o pacto colonial obrigava a
enviar para a metrópole toda a produção, bem como a pagar impostos da extração e expor-
tação.
Esse período colonial foi realmente muito longo, mas ao mesmo tempo foi estabelecido
um poder local pelos criollos, que mais tarde se revoltaram com a situação colonial e luta-
ram pela independência das colônias.
Seção 1.3
Dimensões da Organização da Sociedade Colonial
As formas de trabalho foram extremamente exploradoras, com os espanhóis submeten-
do os nativos a tarefas que eles não desejavam realizar. Dentre as diversas formas de organi-
zação do trabalho podemos destacar a mita, que foi muito utilizada durante todo o período
colonial.
Logo que os espanhóis chegaram à América a busca de metais preciosos foi constante e
a economia mineradora tornou-se responsável pelo enriquecimento da Espanha. A explora-
ção iniciou-se pelos planaltos do México, expandindo-se pela Cordilheira dos Andes, e todo o
trabalho foi feito pelos nativos, com a denominação de mita. Esse sistema consistia num tra-
balho compulsório que empregava as comunidades dos nativos no processo de mineração.
Os nativos eram forçados ao trabalho nas minas, sendo denominados de mitayos.
Quando os nativos partiam para explorar as minas era feito um verdadeiro ritual, pois reza-
va-se o oficio dos mortos. Com a mita era feitos muitos deslocamentos dos nativos e o traba-
lho era tão exaustivo que poucos voltavam vivos para casa.
Além da mita ainda podemos destacar com outra forma de exploração do trabalho dos
nativos, a encomienda, também amplamente utilizada no período colonial americano. Po-
demos destacar duas formas distintas de atividade econômica, a mineração e a produção
agrícola, e nesta última era adotada a encomienda.
A forma de distribuição da propriedade de terras foi a base da grande propriedade,
conhecidas como fazendas, nas quais eram produzidos gêneros alimentícios e matérias-pri-
mas, no início geralmente direcionados para as regiões mineradoras. Com a gradual crise da
mineração, essa produção passou a ser mais destinada ao consumo nas propriedades, e
somente mais tarde para a exportação.
EaD Ivo do s Sa ntos Can abarro
22
A partir do século 18, com o auge da crise da mineração, os produtos exportáveis
passaram a ser realmente os produzidos nas grandes fazendas nos territórios do Caribe e do
Rio da Prata, transformando-as em grandes propriedades rurais exportadoras. A forma de
trabalho denominada de encomienda consistia na servidão dos nativos em vastas áreas de
terras apropriadas pelos colonizadores.
A administração colonial reconhecia a propriedade privada do colonizador e enco-
mendava um considerável número de nativos, os quais deveriam pagar tributos aos proprie-
tários de terras sob a forma de prestação de serviços. O encomendeiro, porém, tinha suas
obrigações, tais como cristianizar os nativos que lhe prestavam serviços e também pagar
impostos à Coroa pelo número de nativos confinados.
Outra forma de trabalho presente na América foi a escravidão negra, introduzida a
partir do século 16 nas regiões onde os nativos resistiam à servidão ou foram exterminados
pelos espanhóis. Podemos perceber que os negros trabalhavam nas Antilhas, alguns tam-
bém nas minas e no serviço doméstico das grandes fazendas. Alguns historiadores defendem
a tese de que a Espanha não participava diretamente do tráfico de escravos, mas que com-
prava de outras companhias, como dos portugueses, que praticaram intensamente o tráfico
por vários séculos.
Os escravos negros também reagiam à escravidão por meio de fugas e motins, pois não
aceitavam facilmente as condições de trabalho impostas pelos seus proprietários.
A intensa exploração dos nativos despertou o interesse da Igreja, que mandou para as
terras americanas a Companhia de Jesus, ainda no século 16, formando assim o que pode-
mos denominar de Reduções Jesuíticas. No Rio Grande do Sul tivemos os sete povos das
missões: São Francisco de Borja, São Nicolau, São Luiz Gonzaga, São Miguel Arcanjo, São
Lourenço Mártir, São João Batista e Santo Ângelo Custódio, sendo um dos mais conhecidos
o de São Miguel, patrimônio da humanidade reconhecido pela Unesco.
As reduções ocupavam grandes territórios e agrupavam um grande número de índios,
os quais viviam coletivamente, praticavam a agricultura, a pesca e o artesanato, mas em
troca eram cristianizados pelos jesuítas. Nas reduções a distribuição dos bens era igualitá-
ria, pois produziam para viver e manter a ordem religiosa, os nativos eram inclusive alfabe-
tizados em sua própria língua.
Também podemos constatar a presença do trabalho semilivre, que se iniciou ainda no
final do século 16, nas grandes fazendas e mais tarde se estendeu para as minas, onde era
conhecido como sistema de peonagem, que em algumas regiões ainda persiste na atualida-
de. É uma forma de trabalho assalariado, mas o trabalhador recebe o seu salário em produ-
tos e não em dinheiro. Esses produtos podem ser os mais variados possíveis, tais como:
carne, cachaça, roupas, utensílios, etc.EaD
23
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDIONAL
O detalhe desta relação é a seguinte: esses produtos são comprados nos armazéns das
minas ou fazendas por um preço muito alto. Sendo assim, o trabalhador fica permanente-
mente endividado, e isso faz com que ele continue trabalhando para esse mesmo patrão pelo
resto de sua vida, caracterizando mais uma servidão do que um trabalho livre.
A estrutura comercial da América Espanhola era totalmente atrelada à metrópole, pois
as relações eram estabelecidas a partir dos tratados que os regulamentavam. No início do
processo de colonização tudo era feito a partir de Castela, pois foi instituída a Casa de
Contratación para cuidar da administração da América Espanhola. O comércio era feito
todo pelo porto de Sevilha, e a partir de 1717 o porto único foi transferido para Cádiz.
No século 18 foi posto fim ao regime de porto único. Sendo assim, qualquer porto
espanhol poderia comercializar com a América. Toda a produção de metais explorados aqui
deveria ser enviadas à Espanha, bem como as matérias-primas que aqui eram produzidas. O
ouro e a prata pagavam altos impostos, e era chamado de quinto um imposto de 20% sobre
o metal. Os produtos manufaturados importados pelas colônias eram comprados com um
alto preço, resultando em altos ganhos por para a Espanha.
Nas colônias poderiam ser praticados a produção de manufaturas e o artesanato. Isso
servia para atender à economia interna, mas era proibido elaborar produtos que concorres-
sem com a metrópole, como o vinho. Durante um longo período as colônias não podiam
comercializar entre si, pois todo o comércio deveria ser feito pelos espanhóis, no entanto era
possível encontrar práticas de contrabando.
A Espanha tinha uma fraca indústria, que não conseguia atender às demandas das
colônias. Com isso, havia muito contrabando, inclusive com a permissão dos administrado-
res locais, que recebiam propinas para permitir que os navios estrangeiros atracassem e
vendessem as suas mercadorias para as colônias. Os funcionários corruptos recebiam mui-
tas propinas por permitir esse comércio, juntando muito dinheiro e voltando a viver na
Espanha. Os ingleses, holandeses e franceses frequentavam constantemente os portos para
fazer contrabando, vendiam os produtos manufaturados, e, em troca, compravam produtos
agrícolas recebendo em ouro e prata, comércio lucrativo para os contrabandistas.
A sociedade espanhola era extremamente tradicional, possuindo resquícios do feuda-
lismo, mostrando-se muito aristocrática e fechada, transferindo esse modelo para as colôni-
as. Os critérios para classificações dos indivíduos em classes sociais foi estabelecido pela
renda de cada um, pelo poder e nascimento. Aqui ainda levava-se em conta a cor da pele,
tudo isso era critério para a alocação nas classes.
Outra grande herança espanhola foi a questão da grande propriedade, pois foi consti-
tuída uma estrutura agrária com predomínio dos latifúndios destinados aos conquistadores
e seus sucessores. A estrutura dos latifúndios é um modelo que começou no período colonial
EaD Ivo do s Sa ntos Can abarro
24
e que persiste até a atualidade. Toda a produção colonial era destinada para a metrópole,
assim o desenvolvimento interno das colônias foi extremamente prejudicado, pois não se
investia internamente.
A estrutura social determinava que no seu topo ficariam alocados os espanhóis prove-
nientes da península ibérica, os denominados chapetones, descendentes da nobreza
empobrecida da Espanha. Esses chapetones ocupavam todos os cargos administrativos das
colônias, pois eram os letrados, também tornando-se donos das grandes propriedades e das
minas, portanto tinham poder político e econômico ao mesmo tempo.
Abaixo dos chapetones ficavam os criollos. Esses eram os filhos de espanhóis nascidos
na América, mas não podiam ter mestiçagem, ou seja, não podiam ter cruzamento interétnico.
Os criollos geralmente eram grandes proprietários de terras, mas também comerciantes. Não
podiam ocupar altos cargos administrativos, mas participavam dos cabildos, um órgão que
representava o poder local.
O modelo de estrutura de classes foi complexo, pois sempre privilegiou os brancos e a
superioridade da raça e do sangue, e isso, de imediato, já excluía índios, negros, mestiços e
outros cruzamentos raciais. Os mestiços, resultado do cruzamento de brancos com índios,
de brancos e negros e de negros com índios, constituíam a maior parcela da população, mas
nunca ocupavam os cargos administrativos, no máximo poderiam ser capatazes das fazen-
das e minas, bem como mão de obra servil e livre.
Na base da sociedade estavam os índios, que na época da chegada dos espanhóis eram
aproximadamente 30 milhões e ficaram reduzidos a cerca de 10 milhões. Isso comprova o
verdadeiro massacre que essa população sofreu ao longo do processo de colonização, pois
foram condenados à servidão nas minas e fazendas.
Na tentativa de interferir no massacre dos índios, a Espanha criou a Lei das Índias,
que procurava proteger a organização comunitária da propriedade e do trabalho indígena.
Na prática, porém, essas leis não funcionaram, pois o encomendero que cobrava impostos e
estava encarregado de cristianizar os indígenas, na realidade os explorava ainda mais, trans-
formando-os em força de trabalho e quando estes morriam ou deixavam as terras, ficava
com elas.
Essa mesma Lei da Índias também proibia a mita, mas isso, na prática, também não
teve acesso, pois os índios continuavam a ser alocados em trabalhos forçados, o que contri-
buiu decisivamente para o genocídio desse povo. Na lei foi instituída a igualdade de direitos
entre índios e espanhóis, mas isso somente existiu formalmente, pois na realidade os indíge-
nas continuaram a ser mão de obra nas fazendas e minas.
EaD
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HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDIONAL
A cultura colonial foi uma imposição dos espanhóis sobre os colonizados, e a
cristianização, mais especificamente o catolicismo, que era a religião oficial dos espanhóis,
a maior delas. Com a imposição do cristianismo as crenças dos nativos foram todas relegadas
a segundo plano, algumas proibidas e até consideradas heresias.
O clero participou de todo o processo de colonização, em acordo com a Coroa, pois
eram os reis que nomeavam os religiosos, bem como cobravam o dízimo. Convém salientar
que a Igreja Católica Espanhola foi a que mais praticou a Inquisição, e na América a
Santa Inquisição foi realmente de causar medo nos colonos. Qualquer coisa poderia ser
considerada como heresia, e os religiosos ainda estavam na caça de judeus, muçulmanos
e protestantes. Por outro lado, também foram tenazes na conversão dos índios ao cristia-
nismo.
A Igreja Católica foi representada também pela Companhia de Jesus, cujos inte-
grantes eram os que mais se dedicavam a catequizar os índios. Os jesuítas foram impla-
cáveis na difusão do cristianismo e no combate às heresias, sendo os principais respon-
sáveis pela introdução do cristianismo na América, e no seu trabalho de cristianização
criaram escolas, batizaram índios e colonos e tentaram de todas as formas livrar os índi-
os da escravidão.
Foram os responsáveis pelas missões jesuíticas, como já vimos anteriormente, e obede-
ciam diretamente ao papa. Nesse sentido, não acatavam as ordens dos bispos e demais
autoridades eclesiásticas, e após muito tempo de conflito com as autoridades, foram expul-
sos da América Espanhola e Portuguesa no século 18.
O estilo barroco também esteve presente na América Espanhola, mostrando-se uma
fiel reprodução do que estava em voga na Europa e muito divulgado pelos jesuítas a partir
do século 17, chegando ao seu auge no século 18. A arquitetura foi decisivamente influenciada
pelo barroco: cidades inteiras, como exemplo algumas do Peru, e vários tipos de constru-
ções, como igrejas, cadeias, cabildos e mesmo residências particulares, todas seguindo os
traços da arquitetura barroca. As igrejas eram as que mais ostentavam as riquezas, todas
barrocas,com pinturas e altares recobertos com finas camadas de ouro. O barroco tam-
bém influenciou a própria literatura, sendo fruto da sociedade colonial, ou seja, as artes
em geral eram todas influenciadas por este estilo, que possuía seus próprios fundamentos
estéticos.
EaD Ivo do s Sa ntos Can abarro
26
Seção 1.4
O Fim do Sistema Colonial
O período colonial foi o mais longo de toda a história da América Espanhola, pois
começou no século 16 e foi até o início do século 19, mais de três séculos de intensa explo-
ração da Espanha em todos os territórios, nos vice-reinados e capitanias gerais. Durante
todo o período colonial a produção mineral e agropecuária era destinada à metrópole, além,
é claro, dos impostos que os colonos tinham de pagar. Houve inclusive a concorrência des-
leal dos produtos aqui produzidos com os comprados da Europa.
No começo do século 19 iniciaram-se as lutas pela independência, pois os que aqui
viviam não suportavam mais a dominação da Espanha e queriam liberdade de comércio e
produção.
Neste processo de independência podemos destacar o papel fundamental dos criollos,
filhos de espanhóis nascidos na América, e que foram os que mais ansiavam pela indepen-
dência, daí deflagrando todo um processo de lutas contra a Espanha.
Este período violento começou no século 19. Nos vários vice-reinados ocorreram lutas
pela independência, mobilizadas pelos criollos, para acabar com as velhas estruturas colo-
niais, mas a Espanha reagiu violentamente a esse processo, pois não desejava o fim do
período colonial. Os criollos, por sua vez, se mostraram muito organizados e com força de
mobilização, mantendo a luta até conseguirem definitivamente a libertação da Espanha,
tendo fim o longo período colonial.
SÍNTESE DA UNIDADE 1
Nesta Unidade visualizamos duas fases da América: num primeiro
momento o período pré-colombiano, ou seja, antes da chegada de
Colombo à América, um longuíssimo período da história da Améri-
ca, muito pouco conhecido por nós, pois os estudos históricos não
são muito expressivos. Este período ficou marcado pelas diferentes
formas de organizações sociais dos nativos, que viviam aqui antes
da chegada de Colombo. As formas de organização social eram
realmente bem diversas, pois alguns ainda viviam de forma tribal,
no período da pedra lascada ou da pedra polida, e outros já se
EaD
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HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDIONAL
organizavam em civilizações. Os nativos mais ao norte já viviam
mais organizados em civilizações, como os incas, maias e astecas,
que habitavam as cidades, com técnicas de produção avançadas.
Os nativos mais ao sul ainda viviam em estágios tribais, pratica-
mente vivendo da caça e pesca nas florestas.
Na segunda fase, já após a chegada de Colombo, no período colo-
nial, a América ficou conhecida como América Espanhola, e foram
praticamente três séculos de dominação e exploração. Os nativos
foram os que mais sofreram com esse processo de exploração, pois
grande parte foi dizimada pelos trabalhos realizados ou mesmo
morta na tentativa dos colonizadores de saquearem as suas rique-
zas. O sistema colonial instalado aqui dava todos os privilégios
para a Espanha, os colonos tinham de produzir em função da me-
trópole, e foi criada toda uma estrutura colonial para que tudo
funcionasse como a Coroa desejava. O sistema colonial sempre
funcionou para legitimar o poder da Espanha na América, até o
ponto em que os criollos não aceitaram mais o sistema, se organi-
zando e vencendo o domínio espanhol.
EaD
29
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDIONAL
Unidade 2Unidade 2Unidade 2Unidade 2
DA FORMAÇÃO DO ESTADO NACIONAL
AOS CONFLITOS DO SÉCULO 19
OBJETIVOS DESTA UNIDADE
• Identificar as perspectivas do Estado oligárquico que se apresentou de forma diferenciada
em alguns países, cada um com suas especificidades.
• Descrever as características que marcaram a experiência do Estado oligárquico no sécu-
lo 19.
AS SEÇÕES DESTA UNIDADE
Seção 2.1 – A Fase de Instabilidade Político-Administrativa
Seção 2.2 – A Fase de Estabilidade Política e Econômica
Seção 2.3 – Exemplo de Estado Oligárquico: a Argentina
Nesta Unidade você vai estudar o processo de formação do Estado Nacional, como
ocorreu a sua efetivação após o processo de independências, estruturado a partir de um
acordo entre as elites locais, garantir suas formas de poder centralizador. Nesta perspectiva
forma-se o Estado oligárquico, ou seja, o poder estava nas mãos das oligarquias locais,
chegando, em alguns países, a formar o caudilhismo.
A centralização do poder causou vários problemas entre países vizinhos, pois procura-
va-se expandir as fronteiras e seus domínios, originando alguns conflitos na Bacia do Prata.
A expansão dos conflitos gerou um panorama de instabilidade no século 19, comprometen-
do inclusive a estabilidade do Estado oligárquico. O conflito mais intenso foi a guerra con-
tra o Paraguai, que dizimou este país, acabando com o sonho de se tornar um país livre em
termos de economia, pois no século 19 os países do Prata dependiam das exportações para
estabilizar sua economia.
EaD Ivo do s Sa ntos Can abarro
30
Seção 2.1
A Fase de Instabilidade Político-Administrativa
Esta primeira fase após o processo de independências foi marcada por um longo período
de reestruturação de toda a sociedade, pois ainda não estava definido exatamente como
seriam as bases do Estado. Alguns historiadores chamam esta de fase da anarquia, haja
vista que ainda não se tinha organizado as formas administrativas, tendo essa expressão
sido largamente utilizada na historiografia latino-americana, pois remete a um período difí-
cil no processo político destes novos países independentes, que passaram por um longo
processo até atingir um ordenamento estável.
Por outro lado, os historiadores também observam que essa desorganização do Estado
deu origem ao fenômeno conhecido como caudilhismo, ou seja, o poder concentrado nas
mãos de uma figura política centralizadora, denominado caudilho. Isso tudo atestou a inca-
pacidade das classes dominantes de instituir um Estado que realmente ocupasse um lugar
de poder, sendo um processo muito longo no decorrer do século 19.
Podemos afirmar que após a independência foi marcante a militarização na sociedade
latino-americana, pois o Estado ainda não se encontrava estruturado. Os militares desem-
penhavam vários papéis, e estavam quase sempre presentes nos momentos em que a classe
dominante não conseguia um consenso, com cada segmento tentando impor a sua hegemonia
sobre as demais classes.
Outro papel dos militares era servir como mediadores para acalmar conflitos em al-
guns países que apresentavam a economia totalmente debilitada em decorrência do proces-
so de independência. A economia foi a que mais se desestabilizou, pelo fato de ter ficado
muito tempo sem receber os capitais dos investidores estrangeiros. A situação de instabili-
dade e as dificuldades de impor uma política estável, transformaram toda a economia da
América Latina num verdadeiro caos, uma situação totalmente dramática para esses países
livres. A interrupção das exportações foi a principal causa do desequilíbrio econômico.
Toda esta instabilidade política e econômica que abateu a América Latina foi decor-
rente das lutas de poder, criando um clima de pessimismo em vários países, principalmente
a partir de 1830, dando margem para que segmentos tradicionais tomassem o poder e cons-
tituíssem um Estado totalmente conservador. Podemos citar vários exemplos destes conser-
vadores e centralizadores no poder, tais como: Antonio López de Santa Anna, no México,
Juan Manoel Rosas, na Argentina (este foi, no sentido literal da palavra, um verdadeiro
caudilho), além de Diego Portales, no Chile.
EaD
31
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDIONAL
A instabilidade econômica entrou em uma outra fase na
segunda metade do século 19, pois a partir desse período foi per-
cebido um acelerado desenvolvimento do setor primário exporta-
dor, isso tudo devidoa uma melhor organização das economias
internas pela intervenção do Estado.
Por outro lado, a economia europeia também já se encon-
trava estável, demandando mais produtos primários e, com isso,
fortalecendo a economia dos países exportadores de matérias-pri-
mas. Com a recuperação, fez-se necessário uma nova política
econômica, com a reformulação do sistema fiscal, pois alguns
segmentos sociais mais produtivos defendiam que seria preciso
abolir os impostos abusivos que impediam determinadas ativida-
des mercantis.
Alguns destes impostos eram resquícios do período colonial,
tais como o dízimo e a alcabala, e os segmentos mais liberais
defendiam o seu fim, bem como argumentavam que o governo
federal não deveria intervir em determinados assuntos econômi-
cos, por exemplo, nas tarifas alfandegárias protecionistas e nos
privilégios de certas empresas públicas.
Seção 2.2
A Fase de Estabilidade Política e Econômica
Na segunda metade do século 19 já se percebia certa esta-
bilidade econômica e política, tendendo a estabilizar as relações
sociais, até então conflituosas. Em muitos países os liberais con-
quistaram o poder e lutaram pelas reformas fundiárias, na tenta-
tiva de apropriação de grande parte de terras que os índios ocu-
pavam. Outro projeto seria a formação de um mercado de traba-
lho, pois no novo contexto econômico era preciso criar uma mão
de obra que atendesse as demandas do novo mercado.
Os liberais no poder eram a favor da expulsão dos índios
das terras comunais e pretendiam também nacionalizar os bens
do clero. Eles viam como uma ameaça ao seu poder os privilégios
Terras comunais
São propriedades de uso
coletivo que ainda havia no
século 19 na Argentina.
EaD Ivo do s Sa ntos Can abarro
32
do clero, dado que pretendiam pôr em prática um projeto de mo-
dernização econômica e social. Esses liberais denunciavam que
o clero não poderia mais ter o poder de decisão na educação e
cultura, pois viam isso como uma forma de centralização da li-
berdade de pensamento.
A intervenção dos liberais foi decisiva no novo modelo de
Estado, conquistando o poder em diversos países, como na Ar-
gentina e no Uruguai onde, a partir de 1830, introduziram políti-
cas de contenção do próprio clero. O outro objetivo dos liberais
era a desapropriação das terras indígenas, no que obtiveram muito
sucesso em toda a América Latina. No caso específico da Argen-
tina foi estabelecida a campanha do deserto, que ocasionou o
total extermínio dos índios que habitavam o sul do país. No caso
do Chile, ocorreu uma verdadeira matança de índios, extermi-
nando essa população de nativos.
A historiografia latino-americana descreve que a atuação
dos caudilhos foi realmente muito controvertida, pois eles repre-
sentavam algum segmento da classe dominante, não tendo uma
legitimidade em relação a todos os grupos sociais. Isso gerou ten-
são entre os caudilhos, resultando em muitas guerras civis entre
eles, que desejavam a concentração de poder em suas mãos.
Os caudilhos representavam um segmento mais conserva-
dor, que defendia um Estado centralizador, com o poder concen-
trado num governante com reconhecimento popular. Os caudi-
lhos eram temidos e ao mesmo tempo respeitados e amados, pois
eles realmente personalizavam o poder de decisão.
A configuração do Estado nacional foi de fato um longo
processo, pois os grupos que assumiam o poder não tinham uma
visão muito clara do que concretamente era necessário fazer para
dar conta de toda uma diversidade socioeconômica vivenciada
por esses países.
Era possível perceber vários estágios de desenvolvimento da
própria economia, até se chegar a uma definição mais precisa do
capitalismo, pois como o período colonial foi muito amplo, as
mudanças também foram lentas. Havia, como declaram os histo-
riadores, um verdadeiro hibridismo na matriz econômica e social.
Campanha do Deserto
A campanha do deserto
consistia em ampliar o
povoamento rumo às regiões
ainda desérticas e que
precisariam ser ocupadas e
colonizadas.
EaD
33
HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDIONAL
O Estado nacional institui verdadeiramente uma nova matriz econômica, agora baseada no
grande latifúndio, daí decorrendo um grande processo de desapropriações de terras, as quais
foram parar nas mãos dos latifundiários ligados ao setor primário exportador.
O Estado nacional, a partir de suas novas políticas, foi incisivo na efetivação de uma
estrutura econômica mais compatível com o mercado externo, conquistando dessa forma
uma retomada dos negócios internacionais. O latifúndio foi responsável pelo incremento da
produção para exportação, aumentando significativamente a quantidade de produtos. Nes-
ta fase a economia já estava mais estabilizada, mas direcionada para o mercado externo,
marcando decisivamente o mercado latino-americano, que adotou uma economia voltada
para as exportações.
O ordenamento político passou para as oligarquias primário-exportadoras, estabele-
cendo, desta forma, um modelo de Estado extremamente centralizador, com o poder con-
centrado nas mãos desse segmento dominante. Neste sentido, podemos perceber que este
foi um momento de consolidação do Estado Nacional e para isso também foi importante a
configuração de um modelo exportador, que conseguiu alavancar a economia.
Com isso, alguns segmentos da classe dominante conseguiram fazer parte do Esta-
do, com a posse de capital suficiente para impor o seu domínio sobre os demais. Sendo
assim, configurou-se esse segmento dominante tanto no comando político quanto na eco-
nomia. Vale destacar que desde a segunda metade do século 19 a Europa já se encontrava
plenamente recuperada economicamente, impulsionando o processo de industrialização,
e com isso importando matéria- prima da América Latina. Essa foi a nova configuração do
capitalismo, ou seja, os países europeus industrializados e os demais fornecendo a maté-
ria-prima.
Esse modelo econômico primário-exportador caracterizou o capitalismo na América
Latina a partir do século 19 e parte do século 20, até se estabelecer o processo de industria-
lização, que ocorreu bem mais tarde por aqui. Esse modelo primário-exportador revelou-se
muito importante para o capitalismo da Europa e dos Estados Unidos, pois nós vendíamos
para eles a matéria-prima por um preço baixo e adquiríamos os produtos industrializados
por um preço muito alto.
Esses países industrializados ganharam muito nestas trocas desiguais e por isso inves-
tiram parte deste capital por aqui, possibilitando a construção de estradas de ferro, a insta-
lação de iluminação elétrica, como também estabelecendo filiais de bancos. No decorrer do
século 19 era necessário a formação de mão de obra para atuar nesta produção primária, e
por isso gradualmente foi ocorrendo a abolição da escravatura, um passo fundamental para
a consolidação do capitalismo como modo de produção dominante.
EaD Ivo do s Sa ntos Can abarro
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A configuração do capitalismo na América Latina foi um processo muito longo, pois a
escravidão ainda estava presente ao lado do trabalho livre, gerando toda uma contradição
nas relações de trabalho. Ainda prevaleciam algumas práticas pré-capitalistas, juntamente
com o capitalismo, com os segmentos dominantes mantendo o seu poder de coerção sobre
os demais segmentos sociais.
É importante frisar que foi somente com essa oligarquia primário-exportadora que
realmente se instalaram as bases efetivas para o desenvolvimento do capitalismo. Já no
final do século 19 percebeu-se uma estabilidade social, econômica e política, demonstrando
o sucesso do capitalismo na América Latina como um todo. Todo esse período de estabilida-
de foi decorrente da atuação desses segmentos primário-exportadores, que desenvolveram
um projeto que atendia aos interesses internos, aliados ao próprio desenvolvimento do capi-
talismo internacional.
Os demais segmentos sociais foram, gradativamente, se ajustando às determinações
desses dominantes, inclusive os populares,que acabaram se constituindo mão de obra para
este modelo exportador. Com esse processo o modelo de Estado nacional acabou sendo
consolidado a partir da inserção destas economias periféricas latino-americanas a um mo-
delo capitalista dominante nos países industrializados.
Grande parte dos autores discute o capitalismo na América Latina defendendo a ideia
de modelo primário exportador dependente dos rumos do capitalismo internacional. Essa é
a verdadeira ideia de teoria da dependência, que vigoraram muito tempo nas teorias clássi-
cas sobre a dependência, para explicar o modelo capitalista. Atualmente já existem outras
correntes teóricas que discutem o capitalismo de um outro ângulo.
Seção 2.3
Exemplo de Estado Oligárquico: a Argentina
Após o processo de independência a Argentina foi governada pelos unitaristas. Isso
revelava o poder de Buenos Aires sobre as demais províncias que possuíam liberdade de
comércio, mas as rendas obtidas com a exportação sempre ficavam na alfândega de Buenos
Aires.
Este segmento que ocupou o poder apresentava-se como liberal, mas era um grupo
oligárquico, extremamente conservador, pois ainda preservava as mesmas atitudes do período
colonial, tentando impor o seu domínio sobre as demais províncias. Havia, entretanto, uma
outra oligarquia que vivia no interior e que não se dedicava ao comércio, ou seja, os grandes
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HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDIONAL
proprietários rurais, que estavam mais preocupados em manter as suas grandes propriedades
de terras, levando uma vida simples no campo. Por outro lado, os que viviam em Buenos Aires
adotavam hábitos europeus e importavam todos os produtos manufaturados do exterior.
Essa oligarquia interiorana era conhecida como federalista, porque defendia a
descentralização econômica e política, ou seja, lutava pela autonomia das províncias do
interior, opondo-se aos unitaristas de Buenos Aires. Ambas as oligarquias lutavam constan-
temente após o processo de independência.
Os unitaristas assumiram o poder realizando uma política que favorecia Buenos Aires,
e todas as exportações e importações eram taxadas na sua alfândega, arrecadando um bom
capital. Esse era o papel que a metrópole exercia no período colonial, quando Buenos Aires
detinha todo o controle sobre a economia da Argentina, pois todos os bancos estavam lá
localizados, e também era responsável pela emissão da moeda.
Nos primeiros anos após a independência os federalistas permaneceram acuados, pois
estavam subordinados ao centralismo dos portenhos, ou seja, dos unitaristas. Essa situação
era totalmente desfavorável para as províncias, pois estas não conseguiam competir com os
produtos manufaturados importados da Inglaterra.
Os artesãos das províncias lutavam ferozmente contra a hegemonia de Buenos Aires,
porque a liberdade de importação desvalorizava os produtos locais, gerando uma concor-
rência desleal, pois os produtos, não raras vezes, custavam mais caro que os importados,
que apresentavam uma qualidade superior aos confeccionados artesanalmente.
A mão de obra local das estâncias era feita pelos gaúchos, um tipo social interiorano
que vivia da criação e matança de gado, que com a exportação destes produtos ficaram à
margem do mercado de trabalho e acabaram formando as tropas dos caudilhos que lutavam
contra a hegemonia de Buenos Aires. Com a guerra civil de 1828 a 1829 os unitaristas de
Buenos Aires foram destituídos do poder e cada província passou a desfrutar de autonomia.
2.3.1 – ROSAS: o caudilho dos caudilhos
Na própria guerra civil um nome se destacou: Juan Manoel Rosas, um rico proprietá-
rio de terras da Província de Buenos Aires, que obteve apoio dos caudilhos do interior, con-
quistando o poder desta província com o apoio dos aliados das demais províncias interioranas.
Rosas ficou conhecido como o “caudilho dos caudilhos”, pois enorme era o seu poder, tendo
a capacidade de dominar toda a vida política da Federação, procurando desta forma a con-
solidação da unidade nacional. Seu poder era reconhecido pelos demais caudilhos das pro-
víncias do interior, que mantinham sua autonomia política, mas cabia a Buenos Aires cui-
dar das relações exteriores da Federação.
EaD Ivo do s Sa ntos Can abarro
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Rosas era um herói da oligarquia rural conservadora e das massas populares que não
eram atendidas por ninguém, ou seja, totalmente desassistidas. O apoio a Rosas era basica-
mente concedido pelos ricos porque ele era capaz de impor ordem na política, garantindo
assim a prosperidade deste segmento. Por outro lado, as classes populares eram submetidas
ao seu poder porque ele era tido como típico gaúcho, era respeitado e venerado inclusive em
procissões, que carregavam a sua imagem, quase como um Deus.
Rosas instituiu uma política severa em relação à economia e estabeleceu uma legisla-
ção alfandegária protecionista. Essas medidas estendiam-se ao artesanato, ficando proibido
importar selas de cavalo, tecidos de lã e algodão, sapatos, bebidas alcoólicas, frutas secas e
demais gêneros. Com isso acabaria a concorrência entre o artesanato local e os produtos
importados. Essa medida também mantinha os rios do interior fechados ao comércio externo.
Durante o governo de Rosas não havia na Argentina uma burguesia industrial, por-
tanto o país era dominado pela burguesia comercial e pelos grandes proprietários de terras,
voltados para o comércio externo, pois naquela ocasião ainda não havia interesse em inves-
tir no processo de industrialização.
A Argentina era especializada em produzir produtos agrícolas e consequentemente
importar os produtos manufaturados, e fazia parte do sistema capitalista global, que desig-
nava alguns países a produzir manufaturados e outros a fornecer matérias-primas. A Argen-
tina importava quase tudo da Inglaterra, e com isso forçando a abertura dos rios para a
navegação internacional, com o apoio dos grandes proprietários e grandes comerciantes.
Rosas, ao longo de seu governo como caudilho dos caudilhos, obteve significativa
credibilidade por parte do povo, pois era temido e amado ao mesmo tempo, mas todo o seu
esforço não logrou quebrar o domínio do porto de Buenos Aires sobre o comércio internacio-
nal. As províncias, apesar das medidas protecionistas, não conseguiam entrar no comércio
internacional, portanto o seu artesanato era destinado ao consumo interno.
Buenos Aires ainda continuava a concentrar a renda e a população, e algumas pro-
víncias do interior permaneciam quase que despovoadas, sendo assim os portenhos ainda
continuavam a exercer as atividades mais lucrativas. O governo de Rosas foi a demonstra-
ção de que o caudilhismo obteve muito respaldo na América Latina, concentrando o poder
nas mãos de um sujeito autoritário e popular ao mesmo tempo.
O governo de Rosas teve fim por um movimento militar liderado por Justo José Urquiza,
governador da Província de Entre-Rios. O movimento teve apoio do Brasil e do Partido
Colorado do Uruguai. Com a derrota de Rosas na Argentina foi instituído um Estado nacional
dominado pelos comerciantes portenhos e pela aristocracia rural de Buenos Aires, todos
vinculados ao imperialismo inglês.
EaD
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HISTÓRIA DA AMÉRICA MERIDIONAL
O Estado liberal foi concebido pelos grandes proprietários de estâncias e dos seto-
res ligados ao comércio internacional, e funcionou plenamente no período de 1870 a
1930. Esse mesmo Estado acabou com a autonomia regional das oligarquias não vincu-
ladas ao mercado externo. Desta forma, o setor exportador impôs sua hegemonia em toda
a Argentina.
2.3.2 – O PROCESSO DE IMIGRAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO
As elites que conquistaram o poder após a queda de Rosas eram economicamente mais
diversificadas, ou seja, não apenas ligadas à exportação. As novas teorias econômicas das
elites refletiam as concepções que vinham do exterior, pois apresentavam um verdadeiro
entrave para o desenvolvimento, os denominados gaúchos, que eram os interioranos defini-
dos como bárbaros, entendidos um dos

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