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Pluralismo Jurídico

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DEZENOVE DE ABRIL: um posicionamento sobre o pluralismo jurídico.
INESSA LABECA
SARA DE CRISTO
Introdução
O presente artigo é resultado do estudo elaborado pela disciplina Sociologia Jurídica abordando essencialmente o conceito de pluralismo jurídico a partir do capítulo do livro didático de Edna Raquel Hogemann, o texto “Notas sobre a história jurídico social de ...”entre outros. Foi objeto de reflexão o pluralismo jurídico na tribo indígena tupi-guarani. O que pensar sobre? Em quais verterdes conceituais?
2. Fundamentos conceituais
O pluralismo jurídico surgiu no final do século XIX, com o enfraquecimento da Escola Monista, caracterizada por doutrinar que o Direito é apenas objetivo e estatal. Com a finalidade de suprir as lacunas sociais do Direito tradicional, a corrente pluralista é resultante da existência de dois ou mais sistemas jurídicos, dotados de eficácia, simultaneamente, em um mesmo tempo e espaço. Ele pressupõe que todos os grupos sociais podem produzir normas efetivas jurídico e socialmente, buscando viabilidade de transformar o direito, a fim de libertar as sociedade que sofrem coma desigualdade e com a exclusão social e reunir as necessidades humanas fundamentais. É um fenômeno universal: toda sociedade é estruturalmente plural e pratica vários sistemas de direito. Nas sociedades estatais, o pluralismo jurídico não e, obrigatoriamente, contraditório ao direito estatal: o Estado pode estimular o pluralismo para reduzir as tensões sociais e promover a paz.
O Estado tem como princípios a sistematicidade, a generalidade e a estabilidade (papel centralizador), ele funde o direto com sua produção, aplicação com o poder político, com o poder estatal, o poder majoritário. Já no pluralismo a fonte do direito emana de diferentes comunidades, sendo uma diversidade de fontes. A legitimidade do Direito Positivo está no Estado, a legitimidade do Pluralismo está nas diferentes culturas.
	Atualmente sobressai um novo modelo de pluralismo jurídico – novo ou industrial – que aparece logo após o surgimento do século XX. Nesse, não há mais tão evidente distinção entre os sistemas Estatal e não-estatal, em decorrência de haver uma maior diversidade de indivíduos. Ele se preocupa com as questões relacionadas aos reais efeitos da lei na sociedade e sobre o que a sociedade necessita do Direito Positivo, buscando melhor diálogo entre as formas oficiais e extra-oficiais do sistema.
	Em Edna Raquel Hogemann, observamos as quatro esferas de intervenção do Pluralismo jurídico:
“[...] 
esfera institucional: critica ao monismo estatal;
esfera sociológica: critica ao legalismo estatal;
esfera pós-moderna: critica à ideia de unidade social;
esfera antropológica: critica ao imperialismo”.
Tais esferas compõem o “direito vivo”, que tem sua fonte principal nos movimentos sociais, revelam suas necessidades e manifestam por seus direitos. Ou seja, há diversos grupos sociais construindo o Direito diariamente, tais como: movimento feminista, LGBT, pessoas especiais, quilombos, indígenas, dentre outros. Esses grupos interferem entre si, como também influenciam a dinâmica do direito produzido pelo Estado.
 	Para o pluralismo Jurídico não há mais como admitir a intervenção totalitária do Estado que acaba por desconsiderar o interesse das minorias, desrespeitando a diversidade.
	
Causas sociais e políticas que favorecem o pluralismo jurídico
Wolkmer, ao defender o “Pluralismo comunitário – participativo” elabora a necessidade dos grupos minoritários serem entendidos como sujeitos transformadores e o conceitua:
“[...] destinado a se contrapor e a responder às insuficiências do projeto monista legal-individualista, produzido e sustentado pelos órgãos do Estado moderno. Este pluralismo [...] encontra a força de sua legitimidade nas práticas sociais de cidadanias insurgentes e participativas. Tais cidadanias são, por sua vez, fontes autenticas de nova forma da produçãoo dos direitos, direitos relacionados à justa satisfação das necessidades desejadas” (2011, p.347).
Com isso, observamos a carência em pesquisar as manifestações do direito fora dos domínios onde a teoria clássica das fontes do direito os situa.
	René Dellagnezze, em seu texto “O pluralismo jurídico” mencionando Wolkmer declara que qualquer apreciação de Pluralismo Jurídico deve levar em conta a herança e a influência do processo de colonização. De forma resumida, na colonização houve o choque cultural entre colonizados x colonizadores, emergindo diversas regras com diferentes origens, enquanto que na descolonização, sistemas legais unificados com especificidades e diferenças próprias foram edificados e, posteriormente, na globalização, coma proximidade entre os países, corrobora para o enfraquecimento dos Estados e de suas tradicionais funções legais. Houve, então, a cultura jurídica durante a conquista e colonizaçãoo; a cultura jurídica na era pós-independência e, a cultura jurídica na contemporaneidade tardia. Em relação a ultima, com cenearios inacabados, significa estar no processo de conscientização para edificar uma cultura política-legal formada a partir da lógica da colonização, exploração e a exclusão de muitos segmentos sociais.
	Entende-se o pluralismo jurídico como um fenómeno da complexidade humana que nasce da inadequação da concepção unitária e centralizadora do direito e das exigências da nova realidade social, dando atenção as formas de ação prática.
	Na perspectiva sociologia,, tem-se um conceito de direito amplo, para além do aparato legal-estatal. Direito enquanto um conjunto de regras com a presença de sanção. Aqui, o pluralismo dá-se a medida em que a sociedade exige diversificação do papel de cada indivíduo social.
	Na filosófica, reconhece que a vida humana é constituída por seres, objetos, valores, verdades, interesses e aspirações marcadas pela temporalidade, fluidez e conflituosidade. Admite aqui uma racionalidade humana interligada por valores, interesses diversos, temporal e circunstancialmente, não podendo restringir-se ao individualismo.
	E na perspectiva política, ele objetiva cessar a ligação entre o Estado – nas suas diversas formas – e o monopólio do poder. Admite a existência de complexo corpo societário formado pela diversidade de partidos e movimentos políticos, organizações sociais e formações autônomas de poder, que na maioria das vezes defendem interesses e ideologias diferentes que acabam por gerar conflitos devido às divergências ideológicas. 
	Enfim, na realidade marcada por grande desigualdade e pluralismos étnicos inferiorizados socialmente, o pluralismo trabalha para alcançar a justiça social, chegar às camadas mais pobres, apresentar uma alternativa à lógica do direito dominante que desumidifica e configura um novo tipo de relações sociais (Torre Rangel, 1997 apud Wolkmer, 2001, p. 203 e 204 apud DELLAGNEZZE).
A exemplo dos tupis-guaranis e um posicionamento crítico das alunas.
No Brasil, os Tupis-guaranis depois de submetidos à colônia, aprenderam com os brancos a se dividirem a si próprios em índios missões, civilizados e índios da floresta, selvagens.
	Embora parece cientificamente estranho, não é fácil dizer quantos são os Guaranis de agora, entre a Argentina e o Paraguai, a Bolívia e o Brasil. Não é feacil sequer definir quem eles são.
	 
	Para outros sub-grupos dos Guaranis, existe um deus supremo, um criador do mundo e de tudo o que nele habita: Ñame Ramõi Papá. Um dos traços mais notáveis da cultura é a sua resistência a modificações fundamentais dos sistemas de símbolos e códigos que organizam o modo de ser tribal “dos antigos”.
	Tem por tradição a busca pela perfeição de si mesmos, por meio de ritos da palavra e da dança, que representam um controle corporal e espiritual. São índios caçadores e nômades, que buscam a terra intocada, própria a uma tribo que vive e deseja viver livre da agricultura e de seu modo de vida sedentário. Eles entendem também a “terra sem mal” como sendo o espaço ainda não apropriado pelohomem branco.
 	
“Quer dizer que o mal – trabalho e lei – é a sociedade. A ausência do mal – a terra sem mal – é a contra-ordem. Não é por acaso que as únicas atividade sociais destinadas a se manterm na Terra sem Mal são as festas de bebidas, também expressão da contra-ordem, ao mesmo tempo que , sem dúvida, são o meio de controla-la. Finalmente, a Terra sem Mal é o lugar da imortalidade, enquanto nessa terra os homens nascem e morrem como se tal fosse a correspondência entre a ordem social das regras e a ordem natural da geração... O homem nasce bom (nasce para deus), a sociedade deprava-o (abole sua natureza divina): poderia ser este o axioma da antropologia dos tupis, ou do que se poderia chamar sua antropodicéia”.
Esses povos vivem também uma restrição alimentar e no plano econômico, pois ainda é possível dançar e rezar, mas é mais viável abandonar tudo e ir em busca da “Terra sem Mal” – mesmo por que, a maioria do território está já ocupado pelo homem branco.
O ordenamento do Estado não respeita exatamente a realidade dos nossos povos, povos diversos. O homem livre, branco, proprietário, empregador, heterossexual, não portador de qualquer doença ou condição especial, acaba sendo mais representado pela Constituição e os Poderes do que as minorias.
	Quanto aos direitos dos indígenas, já tivemos algumas mudanças nos últimos anos. A Constituição de 1988 tem um capítulo considerado um marco no Brasil, pois alterou um padrão e introduziu novas referências para as relações entre o Estado, a sociedade brasileira e os povos nativos.
Um resultado do pluralismo jurídico que tem como fundamento a realização dos direitos humanos, pois enquanto o Estatuto do Índio, Lei 6.001, promulgado em 1973, previa prioritariamente que as populações deveriam ser “integradas” ao restante da sociedade, a Constituição passou a garantir o respeito e a proteção à cultura das populações originárias. A nova Constituição entende que a população indígena deve ser protegida e ter reconhecidos sua cultura, seu modo de vida, de produção, de reprodução da vida social e sia maneira de ver o mundo.
De maneira crítica, acreditamos que o capítulo da Carta Magna transcorre principalmente no que diz respeito ao direito à propriedade, mas ainda não reconhece o pluralismo jurídico e evidente dos índios, sua própria autoridade para auto governar-se, e que se reconhece suas próprias normas. 
Apesar do Direito atribuir outras fontes de produção de normas do ordenamento jurídico, o pluralismo jurídico – na vertente de Wolkmer – revela a luz dos movimentos sociais a condição mais célere de adequação do pensamento jurídico com vistas de uma maior eficácia do Poder Judiciário. Dessa maneira, quanto maior priorizarmos a produção multiforme do direito, atribuindo importância as considerações étnico-sociológicas, menor será o peso atribuído a legislação estatal como única fonte do direito ou fonte dominante.
O Pluralismo está intimamente ligado à proteção dos direitos individuais e a relação de cooperação social tão importante para o convívio saudável de uma conjuntura social (DELLAGNEZZE).
Como Wolkmer, dentre das características participativas do pluralismo, há a redefinição da racionalidade e uma nova ética, pleo refluxo político e jurídico de novos sujeitos – os coletivos; de novas necessidades desejadas de direito construído pelo processo histórico; e pela reordenação da sociedade civil – a descentralização normativa do centro para a periferia, do Estado para a sociedade, da lei para os acordos, os arranjos, a negociação – uma dinâmica interativa e flexível de um espaço público aberto, compartilhado e democrático.
De acordo com o jurista German Palácio apud Delagnezze, a pluralidade é marcada pela porosidade e inter-relacão, nela o Estado é substituído ou complementado por múltiplas instituições, tais como, a corporação transnacional, mercado internacional, a localidade, a comunidade, a família, grupo religioso e a organização não-governamental. É preciso uma dinâmica em constante aperfeiçoamento para que a sociedade seja construída por abstrações, elabora por casos excepcionais de construção sociológica no âmbito do convívio social com os outros indivíduos.
Confiamos no pluralismo jurídico como a corrente que tem o poder de movimentar o Direito de maneira renovadora, fazendo com que a sociedade participe ativamente – com todos os seus anseios e receios – da construção do ordenamento jurídico.
De maneira análoga, o pluralismo jurídico não pretende excluir o Direito Estatal, assim como o feminismo não é um movimento social em combate aos homens, ambos buscam agregar e igualar os diferentes.
Reconhecendo que há mais de uma espécie de fonte fonte de normas é que seremos capazes de evoluir o direito Estatal mais rapidamente. Um evoluir no sentido amplo, de melhorias para todos, com um olhar livre de qualquer discriminação ou negligência. A ideia de diversificar as regras é justamente o que nos dá a esperança da justiça para todos, ou seja, um país que toda a população possa sentir-se mais segura, ter maior e melhor informação sobre a Legislação vigente e ter acesso às autoridades quando necessário. Assim, praticando plenamente os princípios fundamentais da nossa CF.

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