Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CADERNO – SOCIOLOGIA – CLÁUDIA ALBAGLI AULA NÚMERO 01 – EVOLUÇÃO DO DIREITO DIREITO JUSTIÇA JURISPRUDÊNCIA DIREITO NORMA POSITIVISMO JURÍDICO DIREITO CULTURA CULTURALISMO JURÍDICO DIREITO LINGUAGEM PÓS POSITIVISMO Inicialmente a ideia de direito esteve muito vinculado à justiça. Trata-se de uma concepção correta porém não absoluta, uma vez que o conceito de justiça pode ser relativizado, sendo, mais eficaz o estabelecimento de normas visando ao combate do considerado injusto; De acordo com a historiografia, diversas ações, inclusive governamentais, embora ferissem direitos humanos, foram legalizadas, como por exemplo, algumas práticas cruéis contra os considerados infiéis pela Santa Inquisição durante a Idade Média; A partir do final do século XVIII e início do século XIX, período marcado por intensas transformações na história humana, a exemplo da Revolução Francesa, ocorreu um processo de racionalização do conhecimento, ou seja, o desejo de sistematizá-lo de uma maneira mais eficaz (desencantamento do mundo para Max Weber). O direito passa, portanto, a vincular-se às normas, regras que visam impor formas de conduta em direção à manutenção do convívio social harmônico; Em seguida, o conceito de direito passa a ser aprimorado, sendo considerado fruto das manifestações culturais de uma sociedade e de uma determinada época. Por exemplo, o consumo de bebida alcóolica é proibida por lei em países como Barein independentemente da idade, entretanto, isso não pode ser afirmado no Brasil, tendo em vista a legalidade para maiores de 18 anos; Por último, é importante estabelecermos um paralelo entre norma-regra (vinculada às condutas – inflexíveis) e norma-princípio (vinculada à interpretação). A linguagem é tida, de agora em diante, como o principal instrumento de uso do direito pelo fato das leis valorizarem, também, princípios como o equilíbrio, a igualdade, a dignidade, entre outros. Os operadores, devem, assim, redigi-las apresentando um discurso que as justifiquem (comprovem, validem...); Na contemporaneidade, a Tripartição de Poderes, ideia sintetizada por iluministas como Locke e Montesquieu, ainda é levada em consideração. Todavia, um dos maiores debates atualmente consiste na sobreposição do poder judiciário em várias civilizações, o que viola o princípio da independência e do equilíbrio entre os três. Entretanto, em regiões onde regimes democráticos se consolidaram, um marco comum consiste na presença de um poder judiciário forte, consolidado e eficaz; AULA NÚMERO 02 – DIREITO, SOCIOLOGIA JURÍDICA E PARADIGMAS A Sociologia traz um olhar que transcende o ambiente meramente jurídico, estabelecendo uma ponte (conexão) com a sociedade, compreendendo as possibilidades de impactá-la; Segundo Ana Lúcia Sabadell, a Sociologia seria a janela de um ônibus, o qual representaria o direito, oferecendo-lhe, portanto, uma visão mais ampla e externa da sociedade; A Sociologia contribui significativamente com o direito antes, durante e depois – demonstra as expectativas da sociedade em relação ao direito e os impactos das normas em um convívio social bem como as consequências de determinadas sanções; A Sociologia ainda carece de maior reconhecimento e de maior uso no âmbito jurídico; A Sociologia passou a, de fato, ganhar um cunho científico a partir do século XIX, dedicando-se ao estudo das relações sociais. A Sociologia jurídica consiste em um ramo pertencente à Sociologia Geral; Entre os principais autores podemos destacar a figura de Eugen Ehrlinch, responsável por sintetizar a concepção de que a premissa da norma é a sociedade. Além disso, se opôs à visão positivista do direito, buscando um olhar mais social e pautado no direito-vivo, ou seja, o direito estaria nas relações vivas da sociedade; A Sociologia interage, assim, de forma dinâmica e permanente com o Direito, não ocorrendo o estabelecimento de qualquer hierarquia; OBS: A coisa julgada vincula-se à segurança jurídica e à maior estabilidade, todavia, algumas raras exceções podem ocorrer como a relativização da coisa julgada e a inconstitucionalização da coisa julgada; AULAS NÚMERO 03 E 04 – ÉMILE DURKHEIM E O POSITIVISMO FILOSÓFICO Émile Durkheim, assim como Max Weber e Karl Marx, integra o grupo dos sociólogos clássicos por serem os primeiros a aderirem um caráter científico para analisar a sociedade; PARADIGMA DOGMÁTICO PARADIGMA SOCIO-JURÍDICO Monismo jurídico – busca por considerar somente como norma aquilo que o Estado determinou, sendo uma óptica mais perceptível a partir da formação dos Estados Nacionais (século XVI); Pluralismo jurídico – direito produzido difusamente pela sociedade, respeitando à ideia de licitude mas estabelecendo suas próprias regras (PLURALISMO = DIVERSIDADE = ORGANICIDADE SOCIAL). Ex: A comunidade anárquica de Chiristiânia, na Dinamarca é um exemplo de Pluralismo jurídico, todavia, o mesmo não se pode afirmar das milícias e organizações sociais criminosas; Prática técnico-formal – relaciona-se com o direito dogmático e com as normas-regras, admitindo raro espaço para a valorização da interpretação e da subjetividade humana. Contribui para um direito mais frio e, às vezes, injusto; Prática empiricamente inserida – vertente defendida pela Sociologia, valorizando-se a capacidade interpretativa e a fixação de normas- princípio, ampliando o ramo de atuação da subjetividade humana e de um olhar mais humano direcionado para as especificidades de cada contexto social; Crença na segurança jurídica - a dogmática jurídica acredita que o ordenamento jurídico é completo, não havendo a existência de lacunas jurídicas e, por consequência, a completude do Direito dá uma maior sensação de segurança jurídica, ou seja, maior estabilidade; Crença no ideal de justo - Já a sociologia jurídica crê que o ordenamento é incompleto, porém completável, agindo com uma abertura zetética, buscando pela realização da justiça através da valorização de princípios Ordem e completude do ordenamento – crença na completude do ordenamento jurídico como já mencionado anteriormente Interpretação sociológica – busca interpretar as normas jurídicas através das relações sociais e das especificidades de cada sociedade, preenchendo possíveis lacunas do ordenamento jurídico Durkheim apresentou uma linha de pensamento com grande influência da Filosofia Positivista de Saint-Simon e Comte, admitindo uma aproximação entre as ciências sociais e as ciências da natureza – os fenômenos sociais seriam regidos, também, por leis naturais; Crença na objetividade, neutralidade e imparcialidade científica; Durkheim buscou compreender como as transformações (novas relações de produção, aumento da concentração fundiária, expansão de princípios liberais...) resultantes de processos revolucionários marcantes do século XVIII (Revolução Industrial e Revolução Francesa, por exemplo) impactaram na vida humana em coletividade; Crença de que a humanidade estaria em constante evolução e desenvolvimento entrelaçado ao conhecimento científico. Esse lema positivista influenciou a elaboração da bandeira nacional brasileira com os dizeres “Ordem e Progresso”; O objeto de estudo da sua sociologia são os fatos sociais – comportamentos coletivos que pela sua permanência e extensão são dotados de uma autonomia, independente das individualidades; São considerados fatos sociais – o direito, a economia, a religião... Na contemporaneidade, as redes sociais podem ser associadas a um fato social; Os fatos sociais são coercitivos (impostos), exteriores (é sobreposto da coletividade para o indivíduo) e gerais (não se limitam a um grupo reduzido de indivíduos); Durkheim, ao apontar para a consolidação dos fatos sociais, distingue maneiras de ser e maneiras de agir. As maneiras de ser apresentam um forte grau de consolidação, admitindo raras mudanças e questionamentos, comoos princípios religiosos. Todavia, a moda, por exemplo, é vista por Durkheim como um fato social de baixo grau de consolidação; Representações coletivas – é a forma da sociedade ver a si própria, sendo os fatos sociais transferidos de geração para geração. Por exemplo, na Bahia é nítida a presença de um sincretismo religioso; Valores – consequências mais difíceis de serem superadas, como os valores religiosos; Consciência Coletiva (CC) x Consciência Individual (CI) – Nas sociedades com baixa divisão do trabalho prevalece, segundo Durkheim, a consciência coletiva, sendo observada uma semelhança nos comportamentos individuais (homogeneidade comportamental) e menor grau de complexidade (CC > CI). Analisando-se as sociedades mais complexas, é nítida, para o sociólogo, a presença de uma maior divisão do trabalho, culminando em uma interdependência acentuada entre os seus membros (CC < CI). SOLIDARIEDADE CARACTERÍSTICAS MECÂNICA Os laços sociais são resultantes da manutenção de comportamentos; Sociedades menos complexas economicamente; Os seres se comportam de formas semelhantes; Baixa divisão do trabalho; Sociedade mais homogênea; CC > CI Coerção imediata, violenta e punitiva; ORGÂNICA Os laços sociais são mantidos pelas dessemelhanças (diferenças); Sociedades mais complexas economicamente; Diversificação dos papéis sociais; Interdependência mais acentuada entre os indivíduos; Maior divisão do trabalho; Sociedade mais heterogênea; CC < CI; Coerção formal e mediata; Direito como um indicador social – Para Durkheim, o direito é um fato social, servindo como um indicador das solidariedades; Em uma solidariedade mecânica, há o direito repressivo cuja finalidade consiste em coibir possíveis comportamentos desviantes; Em uma solidariedade orgânica, há o direito restitutivo cuja finalidade consiste em restituir o indivíduo após o descumprimento da relação de interdependência (contrato); O contrato, de acordo com Durkheim, é um instrumento apto a conectar diferenças, não necessariamente relações escritas; O crime seria um fato social normal, uma vez que encontra-se inerente a qualquer sociedade, consistindo em qualquer atitude que venha a gerar instabilidade na consciência moral coletiva; A pena teria a finalidade de manter a coesão social e garantir a estabilidade da consciência moral predominante; Anomia (“a” + “nomos”) – ausência de norma ou desregramento Modernidade solidariedade orgânica excesso de especialização enfraquecimento dos laços sociais anomia Outros autores além de Durkheim, realizaram concepções e discorreram sobre a anomia Na óptica durkheimiana, a mudança de complexidade da sociedade impacta em uma maior divisão do trabalho. Todavia, é necessário cautela pois o aprimoramento excessivo das habilidades individuais poderia conduzir a uma menor coesão social, enfraquecendo as relações sociais (anomia); Aplicação da anomia na contemporaneidade: a) Ineficácia da norma – Quando a norma não produz o efeito necessário, causando um desregramento social; b) Ausência de poder – (ex: favelas) - o Estado perde espaço, causando-se uma desordem social como o que costuma acontecer com as greves da polícia; c) Multiculturalismo - É a anomia com efeito positivo, fruto do encontro de culturas que contemplam diferenças, sendo o caminho para a convivência das diferenças, simbolizando o rompimento com a e estrutura jurídica rígida vigente; AULA NÚMERO 05 – A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER Assim como Durkheim e Marx, Weber é considerado um sociólogo clássico por ser um dos pioneiros a conferirem um caráter científico à Sociologia; Aspectos históricos – Weber, assim como Durkheim, analisa as transformações na Europa, no século XIX, devido à Revolução Industrial (aspectos econômicos e sociais) e à Revolução Francesa (aspectos políticos); O pensamento de Weber se desenvolveu na Alemanha, país que se unificou tardiamente (1871) em relação à maioria dos Estados europeus, evidenciando-se, portanto, que esses países não acompanharam mesmos níveis de desenvolvimento; A Sociologia de Weber ficou conhecida como compreensiva, devido à valorização da interpretação acima da explicação, buscando analisar as especificidades de cada sociedade bem como as condições histórico-culturais em que foram formadas; A Sociologia de Weber associa-se a diferentes outros ramos do conhecimento – Religião, História, Economia, etc... – análise não estanque sociológica; Reconhecimento de um processo de racionalização – necessidade de analisar os processos sociais de forma objetiva e pautada em ópticas racionais; Influências teóricas: Dilthey – método compreensivo – método interpretativo baseado na reconstrução histórica dos fatos para possibilitar uma melhor compreensão acerca da realidade social; Rickert – ciência da realidade – defesa de que o estudo sociológico se limita a fragmentos da própria realidade do pesquisador. Além disso, há, mesmo que involuntariamente, influência das subjetividades e preconceitos do sociólogo na construção do processo científico; Para Weber, os tipos ideais constroem as ciências sociais. Os tipos sociais seriam conceitos teórico- abstratos com base na realidade-indução, ou seja, indicar conceitos abstratos para analisar conceitos concretos; Ex: Religião, Direito, Economia, etc...; Religião – após a realização de análises sobre diferentes religiosas busca-se extrair o que há de comum entre elas (cultos + símbolos + rituais + lugar sagrado...) Características dos tipos sociais: Unilateralidade – escolha de um fragmento da realidade social (uma das interfaces desses fenômenos sociológicos) Racionalização – busca por objetivar o estudo ao relacionar elementos distintos Utopia – Não se caracteriza em nenhuma realidade específica; Dominação legítima – aquela na qual o dominado aceita a dominação como se fosse a sua própria vontade (o dominado não se percebe na condição de dominado); Não há uma relação de coerção – inexistência de mecanismos explícitos; Classificação ou formas de dominação legítima: Tradicional – resultam de uma relação de tradição, assimilada por gerações sucessivas (ex: comportamentos semelhantes ao longo da estrutura familiar); Carismática – forma de dominação quando um indivíduo segue outro por se identificar com seus ideais, sem perceber o real poder de impacto desse líder (ex: líderes religiosos e políticos – Papa, Hitler, Getúlio Vargas, Hugo Chávez) – nem sempre configura uma liderança negativa e geralmente se associa à repetição de comportamentos ou ideias; Racional-legal – característica da Idade Moderna, consiste naquela exercida pelo Estado – dominação exercida pelas leis, responsáveis por moldar ações e comportamentos humanos que, aos poucos, serão reproduzidos naturalmente (ex: necessidade de parar no sinal vermelho sinalizado por um semáforo) – associa-se com o atributo “legitimidade” das normas jurídicas; Para Weber, a monarquia seria um atraso para a Europa; Para Weber, sempre existiram formas de dominação legítima mas as predominantes foram reconfiguradas ao longo do tempo; Weber defendia que a partir de uma dominação racional-legal unida à burocracia, ocorreria a extinção de qualquer reminiscência do passado político europeu; Vinculada à dominação racional-legal encontra-se a burocracia (do francês “bureau”), um processo de racionalização das relações e se materializaria em: Procedimentos previamente definidos – Cabe ao Estado antecipar, tornar previsível e democratizar previamente as normas visando à obtenção de um caráter equitativo (garantia de maior segurança jurídica aos cidadãos); Divisão de competências funcionais – Necessidade do Estado repartir as competências e funções relacionadas a determinadas normas. Dessa forma, auxilia o cidadãoa ter consciência sobre a quem se referir ou a quem procurar em determinada situação; Ascensão por meritocracia – Defesa da ocupação dos cargos estatais pelo mérito e aptidão, ou seja, aqueles mais preparados intelectualmente deveriam assumir o poder; Weber buscava entender quais as questões que originaram a economia capitalista. Assim, percebeu que havia um relação entre economia e o Estado (relação de causa e efeito), ou seja, quanto mais o Estado usou a forma de dominação racional-legal, mais ele propiciou e consolidou o sistema capitalista na economia. Weber percebe que a economia necessita para seu funcionamento a existência de mecanismos que assegurem as relações econômicas (no Direito, instrumentos jurídicos como o contrato, por exemplo). Direito, Economia e Estado estão numa relação de interferência recíproca, concluindo-se que o Direito é um instrumento necessário para a Economia assim como a Economia é necessária para o direito. Ordens jurídicas e ordens econômicas – Direito x Economia x Estado Direito e economia baseiam-se em premissas distintas mas também apresentam pontos de intersecção através de relações de causa e efeito; Direito trabalha com o dever-ser (plano abstrato e ideal) enquanto a Economia trabalha com o ser, ou seja, com os fatos concretos da sociedade; Existem duas principais situações que evidenciam a relação de causa-efeito entre Direito e Economia: Primeira situação – Direito causa Economia efeito : Weber aponta para a concepção de que o Estado capitalista somente se consolidou devido a um aparato jurídico que garante as bases de certeza e segurança. Ex: O Metalismo era o objetivo central inicial das Grandes Navegações; Ex: Um contrato garante a possibilidade de retirar dinheiro no banco; Segunda situação – Economia causa Direito efeito: O sentido inverso também pode acontecer, uma vez que a Economia pode trazer novas demandas, culminando na necessidade de reinventar o Direito visando à adequação às novas demandas de mercado. Ex: Contratos de franquia e contratos de Leasing; Weber x Kelsen (Daniel Barile) Weber também se dedicou à Teoria do Direito, apontando para a distinção entre Validade ideal e Validade empírica: Validade ideal – Contempla as normas prescritivas de comportamentos ou proibições. Nem sempre o estabelecido pelas normas é, verdadeiramente, cumprido; Validade empírica – Observação da eficácia das normas jurídicas, sendo a Sociologia responsável por analisar de que forma o Direito se concretiza em sociedade sob um viés científico; Método lógico-normativo (plano ideal) dever-ser; Método empírico-causal (plano real) plano de ser; Hans Kelsen afirma que a Dogmática Jurídica é a única ordem científica autônoma. A Sociologia recorre ao direito, evidenciando uma hierarquia; Ambos concordam em um ponto: a diferenciação do dever-ser (formal) e ser (real); Weber discorda ao apontar para a possibilidade da coexistência entre ambas por apresentarem objetos e métodos distintos; Referências: Manual de Sociologia Jurídica – Rodrigues AULAS NÚMERO 06, 07 E 08 – O ESTUDO DE KARL MARX E O DIREITO Biografia: Alemão, formado em Direito, entra para o Doutorado em Filosofia e tenta, sem sucesso, se tornar professor da universidade da sua cidade por pertencer a um grupo que seguia os ideais críticos de Hegel. Ao começar a trabalhar em um jornal, conhece Frederich Engels que se torna seu grande parceiro na elaboração de suas obras devido ao tom crítico das suas obras de análise econômica do sistema capitalista durante a Revolução Industrial. Marx se estabelece, por fim, na Inglaterra; Referenciais teóricos: 1. Hegel – Para Hegel, o conhecimento é processual (construído através de um ciclo de existência) e esse processo se dá entre consciência e experiência; Marx leva em consideração a existência de uma dialética, porém, entre outros dois conceitos – Homem e Natureza (ambiente), intermediada pelo trabalho. Portanto, Marx critica Hegel pelo fato do segundo sintetizar uma dialética baseada numa visão idealista e Marx se dirige a uma óptica baseada no plano das relações materiais; OBS: O trabalho seria a atividade de produção responsável por modificar a sociedade, onde o homem ao entrar em contato com a natureza, possui a capacidade de transformá-la; HOMEM CAPACIDADE DE PRODUZIR SURGIMENTO DE NOVAS NECESSIDADES Marx buscou entender rigorosamente o funcionamento da lógica capitalista. Para Marx, a economia capitalista se vale da capacidade de produzir para obter lucro, explorando elementos do ciclo anteriormente mencionado. Além de se nutrir pela capacidade de produção, o capitalista também se nutre pelo surgimento de novas necessidades (formação da sociedade de consumo), o que contribui para estimular, ainda mais, o setor produtivo; O Materialismo Marxista é dialético uma vez que considera os fenômenos materiais processos possíveis de mudança. A consciência não é consequência passiva da ação da matéria, por isso pode reagir sobre aquilo que a determina. O conhecimento liberta o homem por meio da ação deste sobre o mundo, possibilitando inclusive a ação revolucionária de mudança; O Materialismo Histórico é, portanto, o método formulado por Marx, propondo estudar as sociedades a partir das relações materiais construídas ao longo da história. Esse método contribui para que Karl Marx seja considerado um sociólogo clássico, ao conferir um caráter científico com método específico ao estudo das sociedades humanas; OBS: Para Karl Marx, o capitalismo se fortalece a partir de suas próprias crises; 2. Feuerbach – Em sua obra “A essência do cristianismo”, desenvolve um pensamento em um contexto marcado por uma gradual ruptura com uma mentalidade teocêntrica preponderante. Para Feuerbach, Deus é uma criatura supra-humana criada pelo próprio homem visando à fuga de questões inerentes à própria existência humana. Ocorre também uma grande crítica à Igreja pelo fato dessa se consolidar como uma estrutura de poder, de dominação e, consequentemente, de alienação; Para Feuerbach, a Igreja seria uma estrutura alienadora, retirando do indivíduo a capacidade de perceber-se na real condição da pessoa humana, ou seja, contribuindo para o atrofiamento da capacidade crítica dos cidadãos; A saída apontada por Feuerbach seria a atividade contemplativa da natureza uma vez que contribuiria para o homem se perceber na real condição da pessoa humana a partir da aproximação e do contato harmônico com a natureza; Marx concorda em parte com Feuerbach, aderindo ao conceito de “alienação”. Entretanto, na obra “11 teses contra Feuerbach”, Marx discorda acerca da saída apontada pelo autor, sendo a luta (prática) a alternativa mais eficaz que contribuiria para emancipar e capacitar os indivíduos; Marx influencia o Catolicismo Social, ou seja, uma vertente socialista do Catolicismo – Encíclica Rerun Novarum – Papa Leão XIII – vertente associada mais às questões sociais; O capitalismo, portanto, se consolida a partir de mecanismos alienadores, contribuindo para que os dominados não se percebam na condição de dominados. Marx expande o termo alienação para as relações sociais e do trabalho, afirmando que o mercado é uma forma de alienação pois ele distorce a nossa realidade e somos, portanto, explorados nas relações de trabalho; Essa perspectiva é explícita na linha de montagem uma vez que a acentuada divisão do trabalho contribui para que o operário não se veja como parte da produção, não tendo consciência da totalidade do processo produtivo e tão pouco usufrui daquilo que fora produzido; Karl Marx e o direito: Inexistência de uma teoria do direito; O direito como expressão da classe dominante; Rechaço à propriedade privada; Marx apesar de nunca ter dedicado uma de suas obras exclusivamente ao Direito, criticou em diversas ocasiõeso chamado “direito burguês” pois este seria um instrumento criado pelas elites visando à manutenção das classes dominantes, ou seja, o direito é feito pelo burguês para o burguês. Resumindo, para o autor, o direito seria mais um mecanismo de manutenção ao invés de transformação. OBS: Nem sempre uma elite é representada pelos mais ricos, inclusive, podemos falar em várias elites a depender do exercício do poder em determinada esfera (intelectual, política, econômica, etc...). Por exemplo, no contexto atual marcada por uma pandemia, os cientistas assumiram o protagonismo intelectual. Dessa forma, a concepção de elite para Karl Marx entrou em descrédito na contemporaneidade pelo fato do autor admitir somente os aspectos econômicos. O segundo ponto de crítica de Karl Marx ao direito é relacionado à propriedade privada, objeto que é negado por Marx na sua condição jurídica pelo fato dessa constituir um direito absoluto, contribuindo para a acumulação de riquezas e, consequentemente, para a manutenção de desigualdades socioeconômicas. Destarte, Marx sintetiza a necessidade da estatização das propriedades a fim de se realizar uma nova distribuição, sendo um caminho para o Comunismo. A função social da propriedade privada consiste na obrigatoriedade de que seja dada a propriedade com a finalidade social, não servindo apenas à acumulação de riquezas. Nesse sentido, o que encontra-se em questão é a garantia de benefícios sociais. Essa visão chega ao Brasil tardiamente, ocorrendo apenas com a elaboração da Constituição de 1988 e, posteriormente, do Código Civil Crítica à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1793 – pós-Revolução Francesa); Relevância histórica do documento; Esse documento apresentou um caráter internacional, transcendendo fronteiras e importante tanto na Europa quanto para o mundo todo, sendo constituído de princípios como a ideia de que todos os homens nascem livres e iguais. Marx criticou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão por considerar um documento extremamente progressista e distante da realidade vigente. Direito dos homens e dos cidadãos – natureza de autodivisão social. A representação do homem x cidadão; Marx critica as contradições existentes na Revolução Francesa, iniciando pelo próprio título da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão. Nesse sentido, a separação entre homem e cidadão evidencia a própria autodivisão social existente na França uma vez que esses termos constituem uma mesma pessoa. Ademais, o capítulo referente aos direitos dos homens (direitos particularizados – de usufruto dos indivíduos) é bastante extenso comparado ao capítulo referente aos direitos dos cidadãos. De acordo com Marx, esses direitos particularizados e específicos eram destinados exclusivamente à burguesia. Crítica ao lema de Liberdade, Igualdade e Fraternidade Outro aspecto criticado por Marx foi o lema “Liberdade, Fraternidade e Igualdade”. Liberdade: Não há imposições que venham a garantir a convivência das liberdades. Nesse sentido, a crítica marxista ocorre devido ao fato de que a liberdade era protegida de forma ilimitada. Dessa forma, a liberdade de um acaba interferindo na liberdade do outro; Igualdade: Não há medidas que efetivassem a igualdade entre os sujeitos. Partindo desse pressuposto, somente era garantida a igualdade formal, isto é, perante a lei, sendo ineficaz na prática; Fraternidade: A fraternidade só garantiria a resolução de conflitos e segurança a apenas uma parcela da sociedade. Nessa perspectiva, essa segurança interna direciona-se aos parisienses e à propriedade privada das classes privilegiadas; A saída para Marx seria a luta por um direito de caráter emancipatório – garantidor das autorrealizações, isto é, a possibilidade de decisões autônomas, assegurando a cada indivíduo a fazer suas próprias escolhas. Marx questiona a relação entre lei, ordem e poder autorizado, sendo a questão da legitimidade bastante complexa. Essa visão fica mais clara no caso da colheita de madeiras (aquele que corta a madeira vs aquele que somente retira um galho caído do chão). O fato de ser produzido por uma autoridade legitima, não há garantia da ideia de justo em relação a uma norma jurídica. Marx defende a necessidade de adequação nas normas jurídicas para evitar mesmas punições a condutas distintas. Outro ponto de crítica de Marx seria o fato da pena ser convertida ao proprietário e não ao Estado, além de defender o papel desempenhado pelos costumes na elaboração de leis (fonte principal no sistema de common law). Por último, há uma crítica evidente à colocação do interesse patrimonial acima do interesse vital humano e um resgate do conceito da proporcionalidade, apontando para a importância do equilíbrio. PROPORCIONALIDADE = ADEQUAÇÃO + NECESSIDADE + PONDERAÇÃO Referências: A ideologia alemã – Karl Marx e Frederich Engels Filosofia do Direito – Alysson Mascaro Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens – J.J. Rousseau AULAS NÚMERO 09 E 10 – CONTROLE SOCIAL E O DIREITO 1. Controle social 1.1 – Conceito: É todo e qualquer mecanismo tendente a trabalhar e/ou modificar o comportamento e ações dos indivíduos para viver em sociedade, sendo o Direito um desses mecanismos de controle social, trabalhando em conjunto com outros mecanismos. 1.2 – Controle primário: Compreende os primeiros mecanismos que afetam a vida do indivíduo. Ocorrem nas primeiras instâncias de controle social que é a família, onde modelamos nosso comportamento e moldamos nossas ações. OBS: Trata-se de um controle, conforme mencionado, típico do ambiente familiar e, portanto, o Estado não possui a função de exercer esse controle social primário, apenas encaminha a criança (órfão) para um conselho tutelar ou órgão similar. Em síntese, o Estado apenas pratica um processo de transição nesse quesito. 1.3 – Controle secundário: É o controle social exercido por instituições sociais (escolas, instituições religiosas, clubes...). Essa também constitui o processo de aprendizagem mas não substitui o controle primário, proporcionando a adaptação dos indivíduos a novas situações. 1.4 – Controle social pelo direito: Também chamado de controle social terciário, é o mecanismo de controle que atua principalmente após o processo completo da formação do indivíduo. Situado na última fronteira de controle social, o Direito é uma forma de controle social pelo fato de ser institucionalizado. Dessa forma, o Direito se vincula às normas jurídicas, interpretadas e aplicadas pelo Estado. Nessa perspectiva, o Estado detém o monopólio da violência legítima – isto é, goza do uso e da aplicação de sanções jurídicas (organizadas e previamente estabelecidas), constituindo um poder coercitivo e soberano. OBS: A eficácia do controle social varia a depender do Estado. A título exemplificativo, é explícito que o controle social desenvolvido no Brasil é menos eficaz em relação ao praticado na França. 2. Tipos de sanções: 2.1 – Constritivas: São sanções que apresentam como objetivo constranger o indivíduo para que ele atenda uma obrigação que ele não fez espontaneamente, sendo um exemplo a busca e apreensão; 2.2 – Reparatórios: Tem como função reparar um dano causado, tentar reestabelecer um status que foi danificado. Há momentos que é possível reparar por completo o dano, podendo ser quantificado – Ex: consertar um carro que se chocou em outro. Todavia, existem situações onde o dano é irreparável, tendo o judiciário a função de aplicar uma sanção compensatória. Os casos mais explícitos consistem nos danos morais e os danos à imagem – por exemplo, um indivíduo que teve seus documentos vinculados equivocadamente a instituições criminosas ou um cidadão que ficou marcado pelo vazamento de fotos íntimas. 2.3 – Privativas de liberdade: Ocorre quando ao se descumprir dada norma jurídica, o indivíduo sofrerá uma sanção que causará a privaçãode sua liberdade. Tais sanções compõem, substancialmente, o Direito Penal e basicamente limitam a circulação de pessoas. 3. Controle social e o sistema penal 3.1 - Funções declaradas e latentes: Trata-se da dicotomia entre normas jurídicas escritas x normas não explícitas diretamente mas que existem na sociedade. Em determinadas ocasiões, as normas jurídicas escritas acabam se distanciando bastante da realidades social. Ex: Lei de execução penal encontra-se muito distante do sistema existente em termos práticos; 3.2 – Perspectiva liberal-funcional: Reúne aqueles pensadores que entendem que há questões problemáticas no sistema penal mas visam a encontrar soluções dentro desse próprio sistema. Apesar de fazer inúmeras críticas ao direto penal, o adeptos dessas vertente acreditam que apesar do direito penal possuir diversas falhas, é necessário à organização da sociedade. Em síntese, o sistema penal é funcional mas carece de mecanismos que venham a solucionar internamente questões problemáticas. Ex: Lei 9099/95 - Criou os juizados especiais criminais na tentativa de solucionar situações de maneiras menos formal, direcionado a crimes menos graves. Outro exemplo seria o uso de tornozeleiras eletrônicas visando ao exercício do controle em relação ao indivíduo. 3.3 – Perspectiva crítica ou conflitiva: Realiza críticas ao sistema penal porém numa linha de compreensão voltada para um processo de repensar esse sistema punitivo. A perspectiva conflitiva possibilita tornar explícitas as questões mais difíceis de serem solucionadas com os recursos presentes nos dias atuais. Essa linha de pensamento consiste em um dos ramos contidos em uma concepção abolicionista. As principais críticas realizadas por essa perspectiva são: 3.3.1 - Ilegitimidade do poder punitivo – O poder punitivo seria ilegítimo porque apresenta um caráter higienista, servindo para limpar da sociedade aquilo que é considerado como nocivo, perigoso, arriscado. Além disso, há a questão da desigualdade de tratamento, percebendo a influência que a classe social do indivíduo exerce no caráter punitivo – os jovens da classe mais baixa são mais rapidamente lançados para o sistema carcerário e possuem poucas condições de reintegração social. 3.3.2 - Inexistência do bem e do mal – O crime, sendo uma espécie de regra valorativa, encontra-se inerente a qualquer sociedade, sendo variáveis apenas o número realizado e o grau de complexidade. Destarte, a perspectiva crítica ou conflitiva tenta descaracterizar o crime como uma patologia social, tendo em vista que todos encontram-se sucessíveis a cometerem uma ilicitude. 3.3.3 - Inexistência da culpabilidade pessoal – Ao estudar penal, o crime é típico (necessita ser uma conduta previamente tipificada), antijurídico (confronta o sistema e a ordem jurídica) e culpável (onde a culpabilidade é analisada individualmente pelo sistema jurídico). Compreende a discussão acerca do ímpeto que conduziu o indivíduo a cometer um crime. Nessa perspectiva, há a defesa de que culpabilidade deve ser analisada socialmente e não individualmente, compreendendo a dimensão social que engloba o indivíduo. Um exemplo a ser considerado compreende os denominados furtos famélicos, ou seja, aqueles que ocorrem para saciar necessidades imediatas. Entretanto, deve-se ter cuidado para não consolidar uma visão determinista (“nasceu na favela é criminoso”) 3.3.4 - Impossibilidade de ressocialização – A perspectiva crítica ou conflitiva questiona o próprio conceito de ressocialização. Partindo desse pressuposto, percebe-se a incapacidade do ex-detento ser ressocializado, pois além do preconceito e exclusão da sociedade, há a falta de oportunidade quando ele termina sua pena. Por conseguinte, o sistema carcerário serve, na prática, apenas como um caráter punitivo. OBS: Irving Goffman, Michel Foucault e Alessandro Baratta foram autores estrangeiros que discorreram sobre essa temática. No caso brasileiro, é possível a firmar a existência de um sistema carcerário falido, isto é, ineficaz – o que envolve modelo de arquitetura, modo de ocupação, administração, entre tantos outros fatores. O Brasil apresenta, hoje, a terceira maior população carcerária do mundo com 812.000 pessoas presas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos (com 2 milhões 100 mil pessoas atrás das grades) e China (1 milhão e 600 mil pessoas encarceradas). 3.3.5 - Seletividade do sistema penal: É quando se escolhe politicamente o seu âmbito de tutela, o Estado já seleciona intencionalmente quem irá compor sua "clientela", ou seja, quem serão seus “criminosos”. Esse perfil pode ser reparado no sistema brasileiro, onde a maioria dos detentos são jovens de 18-24 anos, negros e de baixa escolaridade. Destarte, é necessário repensar essa seletividade. AULAS NÚMEROS 11 E 12 – PLURALISMO JURÍDICO 1. Definição: É a ideia de que a sociedade humana é composta de diversos ordenamentos jurídicos, constituindo diversas formas de direito convivendo no mesmo espaço e tempo; O Pluralismo jurídico caracterizado pela convivência entre diversos ordenamentos jurídicos, opondo-se à perspectiva monista, baseada na percepção de que o Estado seria o único centro produtor e aplicador das normas jurídicas; 2. Antecedentes históricos: Boaventura de Sousa Santos crê que o Pluralismo Jurídico não é uma novidade na sociedade pois em alguns momentos de história já se manifestava o Pluralismo Jurídico. O autor cita, como exemplo, o contexto da Idade Média – momento em que havia o sistema normativo dos nobres (suserano/ vassalo), da Igreja e do Senhor Feudal; Outro exemplo citado pelo autor remete ao período da colonização devido à coexistência entre culturas. No período colonial, mais precisamente nos países colonizados a imposição de uma cultura jurídica não se deu de forma automática. Portanto, o período colonial evidenciou uma dicotomia entre colonizadores e colonizados; Por último, outro exemplo, Bonaventura de Sousa Santos cita os processos revolucionários visto que a implantação de um novo direito não ocorre de forma imediata. Destarte, os desdobramentos da Revolução Russa ilustram tal perspectiva visto que esse processo revolucionário não conseguiu o devido êxito. Segundo alguns teóricos, esse fracasso deveu-se à manutenção de aspectos inerentes ao regime czarista; 3. Fundamentos: a) Crise da legalidade política – a insuficiência do ordenamento jurídico conduz à possibilidade do reconhecimento do Pluralismo Jurídico sob uma vertente de complementariedade e não de refutação do direito estatal; b) Sobreposição da realidade social sobre a realidade jurídica – a realidade social se sobrepõe visto que se modifica através de um ritmo mais célere comparado ao âmbito do direito. A título exemplificativo, pode-se citar o cenário atual marcado pela pandemia do covid-19 que se sobrepôs à realidade jurídica; c) Produção por novos sujeitos sociais – uma parcela populacional passa a se organizar um torno de uma normatividade jurídica pelo fato de não ser correspondido pelo direito oficial (monopolizado pelo Estado). Assim, esses indivíduos passam a criar seus próprios ordenamentos jurídicos, ou seja, uma lógica de relações a margem do Estado. A título exemplificativo, pode-se citar os movimentos LGBT no início da sua trajetória; 4. Tipos de Pluralismo Jurídico: 4.1 – Pluralismo estatal: formas do direito que são criadas a margem do Estado mas que se submete ao controle do Estado seja anteriormente ou posteriormente à sua concretização. A título exemplificativo, pode-se citar as convenções condominiais, o que ilustra também o poder normativo dos grupos sociais; 4.2 – Pluralismo comunitário: formas do direito que são criadas a margem do Estado sem passar em nenhum momento pelo seu crivo ou controle. A título exemplificativo, pode-se citar os movimentos sociais – como o MST. Caso essesmovimentos estivessem submetidos à tutela do Estado, perderiam o seu poder de atuação, muitas vezes já limitado. OBS: Apesar da luta coordenada pelos movimentos sociais conduzir a conquistas legais (previstas por lei), esse Pluralismo permanecerá comunitário e não estatal; OBS: O critério para a definição de Pluralismo Jurídico submete-se ao conceito de licitude determinado pelo Estado. Destarte, são excluídas as organizações criminosas desse estudo; 5. Pluralismo no plano internacional – comentários: Um exemplo de Pluralismo no plano internacional é a atual Comunidade Europeia que é o resultado de um projeto de mais de 50 anos onde houve o processo de assimilação de algumas características pelos mais diferentes países, havendo a coexistência de um Direito Interno Próprio de cada país e um Direito Comunitário, que está vigente em toda a Comunidade Europeia. Assim, caso haja uma antinomia entre esses direitos, prevalecerá o da Comunidade Europeia, detentora de toda uma estrutura institucional própria para o funcionamento da comunidade. 6. Pluralismo Conservador x Pluralismo Emancipatório (Antônio Carlos Wolkmer): 6.1 – Pluralismo Conservador: Para Wolkmer, Pluralismo Conservador é toda forma de pluralismo e direito produzido pela sociedade que serve ao capitalismo - ou seja, são modelos jurídicos que só servem para fortalecer mecanismos existentes na sociedade capitalista e gerar o aumento da desigualdade social. A título exemplificativo, pode- se citar o processo de descentralização administrativa e a globalização pois além de facilitar o Pluralismo Jurídico, aumentam também a desigualdade. O autor também retrata a denominada informalização do trabalho, também associada à globalização, a qual é entendida como uma relação de trabalho a margem de vínculos empregatícios e registros formais. Essa informalização do trabalho, portanto, vai criando um rede de relações a margem do Estado, ilustrando um caso de Pluralismo Jurídico. A título exemplificativo pode-se citar o fenômeno da uberização – caracterizado pela existência de profissionais autônomos. O Pluralismo encontra-se evidente também na privatização das empresas estatais, isto é, a transferência de responsabilidades estatais para empresas privadas. Assim, percebe-se um caso de Pluralismo Jurídico uma vez que as agências reguladoras apresentam autonomia no exercício das suas regulamentações. A título exemplificativo, pode-se citar as operadoras telefônicas – reforçando desigualdades uma vez que os cidadãos são obrigados a se submeterem a determinadas imposições. 6.2 – Pluralismo Emancipatório: Segundo o autor, o Pluralismo Emancipatório estaria vinculado a um objetivo de emancipar, de tornar um sujeito emancipado. Essa nova perspectiva busca dar protagonismo aos novos sujeitos sociais (campesinos, indígenas, negros, mulheres, minorias étnicas e outros), muitas vezes não correspondidos pelo direito oficial (Estado), sendo capaz de alcançar uma síntese da vontade geral. Principais tópicos: Fundamentação na satisfação das necessidades especiais: a linha de corte para definir um caráter emancipatório seria a busca por satisfazer necessidades essenciais dos indivíduos. A título exemplificativo, pode-se citar novamente o MST – voltado para a luta pela terra. O exposto anteriormente justifica a exclusão das organizações criminosas do conceito de Pluralismo Jurídico por essas não satisfazerem necessidades especiais; Legitimação de novos sujeitos sociais: é necessário que esses novos sujeitos sociais tenham voz, estando legitimadas. O reconhecimento e a legitimação desses novos sujeitos sociais apresenta suma importância; Ética da alteridade: é a parte romantizada do pensamento de Wolkmer, definida pelo autor como as relações baseadas no respeito às diferenças; AULAS 13 E 14 – ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL E DIREITO Classe social: olhar da Sociologia e do Direito – É a discussão da existência das classes sociais em uma sociedade ou o que proporciona a criação e estabelecimento dessas classes sociais. Utilizando o olhar da Sociologia, trata-se de ver a sociedade com diferenças e estratificações. A título exemplificativo, quando se analisa o perfil dos alunos de uma sala de aula jamais a Sociologia compreenderá um caráter homogêneo (com a presença de meros estudantes) mas dará ênfase às diferenças – se há mais brancos ou negros, quantos usam óculos, quantas mulheres e homens existem. Por outro lado, há um discurso da neutralidade do Direito no seu aspecto abstrato, isto é, a busca por tratar os grupos sociais da mesma forma. Destarte, conclui que o Direito é pensado para todos de forma igualitária, não havendo diferenciações no momento da elaboração das normas jurídicas. Por exemplo, o Código Civil Brasileiro é o mesmo válido para homens, mulheres, negros, brancos, católicos, evangelhos ou qualquer outra condição. Raimundo Nina Rodrigues consistiu em um médico baiano que era defensor da corrente do racismo científico, ou seja, a sustentação através de aspectos biológicos da hierarquia entre raças. Esse autor ficou conhecido após propor um Código Penal distinto para brancos e negros, sustentando a máxima de que os segundos seriam mais propensos à prática de ilicitudes. Apesar de não ter sido levado adiante, essa passagem é bem interessante no direito brasileiro. Abordagens sociológicas: Abordagem qualitativa – trata-se de uma abordagem sociológica, inspirada em Karl Marx, que prioriza a qualidade do indivíduo perante a sociedade, ou seja, a análise acerca de que forma o indivíduo se apresenta para a sociedade e como a sociedade atua sobre ele. Nessa perspectiva, possibilita-se um olhar sociológico conflitivo, responsável por evidenciar as eventuais contradições existentes na sociedade. A título ilustrativo, pode-se citar a questão da condição de empregador pois assim o dono de um barzinho e o dono de uma empresa internacional são encaixados em uma mesma categoria, o que seria impensável na abordagem quantitativa. Em síntese, é uma abordagem marxista e generalista. Abordagem quantitativa - oriunda de Weber, como o seu nome diz, há de categorizar as classes principalmente de acordo com critérios objetivos (como critério de renda, critério étnico-racial, critério de gênero, critério etário...). Ademais, a forma de estratificação social mais utilizada, atualmente, é baseada na criação da Alta, Média-Alta, Média, Média-Baixa e Classe Baixa (A, B, C, D, E). Ademais, em países como o Brasil, é evidenciada a presença de pessoas abaixo da linha da pobreza (miserabilidade) – isto é, com a renda mensal corresponde a um valor igual ou inferior a um quarto do salário mínimo (no Brasil, hoje, o salário mínimo vale R$ 1100,00). Sociedades de estratificação aberta x Sociedades de estratificação fechada: Hoje, trata-se de uma tarefa difícil identificar sociedades de estratificação fechada, ou seja, caracterizadas por uma baixa ou inexistente mobilidade social. A título exemplificativo, pode-se citar o passado indiano, caracterizado por um sistema de castas vinculado a aspectos culturais. Embora esse sistema tenha sido extinto, uma parcela significativa da população ainda pensa como se ainda existisse essa hierarquia. As sociedades de estratificação aberta são aquelas caracterizadas por uma maior possibilidade de mobilidade social. A lógica do capitalismo e a ampla circulação de informações na contemporaneidade mudou, significativamente, a configuração das sociedades, sendo essas predominantemente de estratificação aberta. Estratificação nos países desenvolvidos e nos países subdesenvolvidos: Essa mobilidade social deve ser analisada em casa sociedade de forma particular, tendo em vista as disparidades evidentes entre países desenvolvidos e países subdesenvolvidos. A título exemplificativo, Ronaldinho Gaúcho, ex-futebolista brasileiro,saiu da pobreza à riqueza. Esse salto é mais explícito em países subdesenvolvidos ou em países emergentes, visto que as classes, nessas localidades, são mais espaçadas. Entretanto, tal realidade é distinta daquela evidenciada nos países desenvolvidos, tendo em vista uma relação mais estreita entre as classes – por exemplo, o considerado “pobreza” nesses Estados, muitas vezes, estão muito acima do conceito de “pobreza” nos países periféricos. O direito é um instrumento para facilitar ou dificultar a mudança social? A ideia inicial é de que o Direito deve ser neutro, mas há episódios na história que mostram que o Direito atua tanto como obstáculo quanto como propulsor de mudanças sociais. O direito enquanto empecilho para a ocorrência de mudanças sociais: Discussão acerca do cidadão eleitor – discussão acerca daqueles indivíduos que se encontram no uso e no gozo dos seus direitos políticos. A título ilustrativo, pode-se citar o caso dos analfabetos no Brasil, detentores do status de cidadão eleitor somente durante a vigência das Constituições de 1824 e de 1988. Essa perspectiva alimenta uma visão negativa do Direito visto que a exclusão dos analfabetos dos direitos políticos dificulta a mudança social desses indivíduos. Além dos rumos do país serem conduzidos por uma parcela letrada e privilegiada, os analfabetos ficam impossibilitados de manifestarem uma oposição ao governo vigente e, por conseguinte, de votar em um candidato que venha a lutar para minimizar o analfabetismo nacional. Atualmente, a CF/1988 determina que os analfabetos podem votar mas não podem ser votados, ou seja, não podem se candidatar politicamente, estando restritos somente ao papel de eleitor. Regime jurídico de propriedade – a norma de proteção da propriedade privada (independentemente de ser produtiva ou não) foi também tratada como um obstáculo, pois eram interpretadas como um Direito Absoluto, cujo caso só foi resolvido com a CF/88 (mudança no quesito da propriedade como Direito Absoluto) e com o Código Civil de 2002. O direito enquanto propulsor de mudanças sociais: A Constituição Federal de 1988 (“Constituição Cidadã”) facilita a ocorrência de mudanças sociais devido ao seu caráter protetivo. A CF/88 foi responsável pelo reestabelecimento do regime democrático no Brasil; Atualmente possui suma importância por prever a amplitude do hall de direitos fundamentais e por garantir as condições para a relativização da democracia; Por exemplo, ao mesmo tempo que garante a liberdade de expressão, também apresenta imposição de limites a essa condição visando à manutenção da ordem social e da consolidação de um Estado Democrático de Direito; As normas infraconstitucionais também possuem a capacidade de gerar transformações sociais: CLT – Consolidação das leis trabalhistas (Dec. Lei n°5.452/43) Surgiu durante o Estado Novo Varguista, momento de impulso na industrialização brasileira; Foi resultado de uma reunião de leis esparsas voltadas para questões trabalhistas; Trata-se de uma lei voltada para o trabalhador e nela vigora o princípio da primazia do trabalhador – sempre que há dúvida, está é resolvida a favor do empregado. Daí a necessidade do empregador documentar os seus pagamentos e acordos; ECA – Estatuto da criança e do adolescente (Lei n° 8.069/90) Também seria uma legislação protetiva que veio a ocupar lacunas do sistema jurídico brasileiro nas questões envolvendo essa faixa etária; Responsável por diferenciar criança (até 12 anos) e adolescente (12 anos completos até 18 anos); A criança não responde a uma infração cometida por essa não apresentar discernimento completo de suas atitudes; Responsável pela criação do conselho tutelar que acompanha, de forma atuante, a condição das crianças e dos adolescentes nas localidades que se situam; Código de Defesa do Consumidor - CDC (Lei n° 8.078/90) Também veio suprimir necessidades existentes devido à inexistência de normas constitucionais que pensassem exclusivamente das relações de consumo; Considera o consumidor hipossuficiente, isto é, a parte mais fraca de uma relação, popularmente conhecido como vulnerável diante de uma empresa; Ainda carece de aperfeiçoamento, sobretudo, no que diz respeito à esfera digital; Prevê a inversão do ônus da prova, ou seja, tira do consumidor a responsabilidade de provar algo que ele alega, sendo essa destinada, portanto, a outra parte; Estatuto do Idoso (Lei n° 10.741/03) Proveniente da realização de censos que apontavam para uma tendência de envelhecimento da população brasileira e, por conseguinte, a redução da população economicamente ativa (PEA); Decorre da necessidade da população idosa de um aparto jurídico que garanta especificamente suas demandas e direitos; Passa a classificar como idoso aqueles indivíduos que apresentam uma idade igual ou superior a 60 anos; Possibilitou a formação de uma melhor compreensão acerca de como os idosos devem ser tratados; Ainda necessita de maior respeito por parte dos cidadãos e de maior eficácia na conjuntura brasileira; Estatuto da pessoa com deficiência (Lei n° 13.146/15) Decorre da necessidade das pessoas com deficiência de um aparto jurídico que organize especificamente os dispositivos esparsos relacionados a esse público; Trata-se de uma legislação relativamente nova, carecendo de maior conhecimento por parte do povo e dos juristas; Traz à tona a inclusão das pessoas com insanidade mental, classificadas, durante muito tempo, pelo direito brasileiro como absolutamente incapazes; Promove a proteção de grupos considerados mais fracos juridicamente, tentando, portanto, reequilibrar essa condição de igualdade a partir de um sistema protetivo voltado para o respeito às diferenças; A formação da sociedade brasileira: Processo de ocupação territorial – regime de propriedade: Conhecia-se muito pouco acerca das relações sociais brasileiras antes da chegada dos portugueses; Portugal demarca o Brasil e segue com o seu propósito de dominar outras terras – portanto, o objetivo inicial não havia o ímpeto de estender ao Brasil uma parte do reino português; O objetivo inicial consistia apenas em enriquecimento por meio da exploração de recursos naturais; O domínio português molda os aspectos territorial (existência de estruturas privadas – capitanias hereditárias) e social (a sociedade passa a ser centrada na figura do homem da terra – pioneiro da terra, latifundiário, pai de família – o patriarca e detentor de poder político); Apesar do fracasso do modelo de capitanias hereditárias, manteve-se a base da sociedade centralizada na propriedade privada e no latifundiário; Esse modelo de sociedade brasileira patriarcal vincula-se também à subordinação da figura feminina – sendo raras as mulheres detentoras de títulos de senhoras de engenho; Até a CF/1988 a propriedade consistia em um poder absoluto. A partir da Constituição Federal, determina-se a obrigatoriedade de dar a essa propriedade alguma produtividade, passando a carregar consigo uma função social (geração de empregos, geração de rendas...); Regime escravagista: Segunda grande marca do ponto de vista cronológico quando se pensa o processo de formação social; A forma pela qual se deu a escravidão no Brasil foi marcante e violenta; O fluxo de escravos para o Brasil foi bastante expressivo; A violência foi evidenciada na forma pela qual as pessoas foram trazidas, foram transportadas e foram tratados (inclusive juridicamente) no solo brasileiro; Os escravos eram tratados como propriedade (coisa) detentora de uma determinada finalidade; A superação da escravidão consistiu em um processo derivado das lutas abolicionistas, elevados custos para manutenção pós-tráfico negreiro e da substituição da mão-de-obraescrava pela mão-de- obra imigrante; Esse processo de ruptura com a escravidão não se dá a partir de uma conscientização. A escravidão somente se deu juridicamente (formalmente) mas continuou a se estender no âmbito social tendo em vista que os negros permaneciam em uma condição de subordinação e de uma ausência de direitos; Há mais uma marginalização da população negra do que uma inclusão social; Atualmente, é perceptível o impacto desse período histórico na desvalorização dada ao trabalho braçal – geralmente os indivíduos são mal remunerados e julgados como “perdedores na vida”; Um dos fatores mais evidentes de permanência do período escravagistas trata-se do racismo, seja individual, institucional ou estrutural – sendo essas duas formas mais sutis e duradouras; Patrimonialismo: Corresponde à incapacidade de separação entre o público e o privado; O típico exemplo de patrimonialismo corresponde à famosa “carteirada” – responsável por negligenciar a concepção de que as normas devem ser cumpridas por todos, independentemente de classe social ou atividade laboral exercida; Sérgio Buarque de Hollanda ao apontar o brasileiro como um homem cordial, discorre sobre o caráter dual desse cidadão. Se por um lado, o brasileiro é visto como um homem sentimental e apto a desenvolver relações afetivas mais facilmente, possui uma maior tendência em burlar regras sociais (“o famoso jeitinho brasileiro”); O conceito sociológico de cidadania é errôneo uma vez que nem todos, na prática, usufruem dos mesmos direitos – sendo o exposto formalmente influenciado por critérios raciais, socioeconômicos, etc; A história brasileira foi formada a partir da concessão de privilégios a determinados grupos sociais; Raymundo Faoro – autor de “Os donos do poder” e desenvolve uma tese de que o patrimonialismo brasileiro é consequência do fato de que o mundo privado corrompeu o Estado brasileiro. O problema, portanto, estaria, historicamente, no âmbito privado, realizando estudos aprofundados desde o período de formação do reino português; Wanderley Guilherme dos Santos – opôs-se em relação à tese de Raymundo Faoro, defendeu que o patrimonialismo brasileiro seria resultado da condução e do comportamento do Estado, responsável por corromper a iniciativa privada; Sugestão de leitura: Burocracia e sociedade no Brasil colonial (Stuart Schwartz) Ausência de consciência cidadã (“cidadania concedida”) A cidadania no Brasil não é compreendida como um mecanismo de igualdade social; Percebe-se uma distorção acerca do modo que a cidadania é exercida no Brasil; Os processos de obtenção da cidadania, ao longo da história brasileira, assim como demais conquistas sociais, na sua maioria, não foram protagonizados pelas classes populares, mas sim coordenados por pequenos grupos elitistas. Nesse sentido, o exercício da cidadania se distancia das camadas populares; Daí o uso da expressão “cidadania concedida” por Thereza Sales – o direito passa a ser visto como uma dádiva concedida pelos membros da elite (proprietários de terra, coronéis...). Destarte, soa uma concepção de que as necessidades dos homens livres dependessem de dádivas concedidas pelos superiores; Roberto DaMatta discorreu sobre esse exercício errôneo da cidadania no Brasil, apontando como o termo cidadão, em determinadas ocasiões, é empregado sob uma óptica negativa – “lá vai o cidadão ali”, “deixa disso, cidadão!”; Thiago Coelho – FBDG – 2021.1 @taj_studies
Compartilhar