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Unidade II SOCIOLOGIA DA COMUNICAÇÃO Profa. Dra. Neusa Meirelles Costa A construção midiática do social e de suas práticas Nessa unidade, o foco de discussão é dirigido para a construção, pelos meios de comunicação, de dois grandes temas: a) A construção da produção e do consumo, estudando as mediações simbólicas necessárias à articulação dos dois extremos, um tema importante para publicitários e todos que lidam com a comunicação social; b) A construção do social, semelhanças e diferenças na formação social brasileira, a construção do sujeito e do Outro, e a construção da instância política. Meios de comunicação: imprensa Jornais: os jornais brasileiros refletiram diretamente as tendências políticas e muitos sucumbiram ante os mecanismos de pressão financeira, especialmente durante a ditadura; Mais antigos, no séc. XIX: Jornal do Comércio (PE), O Estado de São Paulo, O Jornal do Brasil; Folha de São Paulo, O Globo: 1925; Outros jornais importantes: Diários Associados, Tribuna da Imprensa e Última Hora, Notícias Populares, O Pasquim. Meios de comunicação: imprensa Revistas: refletem mudanças nas condições econômicas do país e sobretudo reflexos das tendências políticas e sociais: a inserção dependente da economia brasileira nos cursos do capitalismo, fortalecimento da sociedade de consumo; Títulos apareceram e desapareceram, segmentação de temas, expansão dos quadrinhos (HQ); Coleções (obras) e em fascículos foram importantes no campo editorial dos meados do século XX até hoje. Meios de comunicação: rádio Começam como iniciativas de grupos e clubes (1922), logo mudam o caráter; As rádios exerceram papel político fundamental (Revolução de 30, de 32, Campanha da Legalidade 62); Rádio Jornal do Brasil (1935) produziu o programa A Voz do Brasil, serviu de plataforma para o populismo (Getúlio); Outras rádios: Nacional, Mayrink Veiga, Tupi foram o espaço de expansão da música popular (programas de auditório); Importante: Repórter Esso (1941). Meios de comunicação: cinema Várias tendências e períodos: “chanchadas” dos anos 50, a produção (Vera Cruz, SP) foi influenciada pelo realismo italiano. O “caipira” na urbanização (Mazzaropi). No final dos anos 50, o cinema começa a focar o brasileiro pobre (favelado, nordestino): “Rio 40 Graus” (Nelson P. Santos); O CPC produz “Cinco Vezes Favela”; Cinema Novo (Glauber Rocha) cria uma estética e revoluciona o cinema, focalizando sociedade e política. Meios de comunicação: cinema Nos anos 70, as comédias eróticas mantêm a produção, com apelo de público (crítica às elites); A produção quase desaparece com a extinção da Embrafilme (Collor). Retomada com outros temas; criação da ANCINE; Aproximação com estética e temas da TV: “Cidade de Deus”, “Cidade dos Homens”, “Grande Família”, “Os Normais”; Duas iniciativas importantes: Canal Brasil e o portal Porta Curtas Petrobrás, ambos para divulgação da produção nacional. Meios de comunicação: televisão Tem início em 1950 (TV Tupi, SP), logo se expande (TV Rio): produção cultural, óperas, teatro de vanguarda etc.; Organização: empresas concorrentes, combinando imprensa e rádio: Record, Excelsior, Tupi, Globo; Importante papel na música popular: Festivais, Fino da Bossa, Jovem Guarda; Hegemonia: integração nacional em rede, transmissão em cores, aporte de capital externo, avanço tecnológico e relacionamento político. Meios de comunicação: televisão A diversificação de canais não retirou a hegemonia exercida pela Globo, dada a composição da programação: Jornal Nacional, novelas, programas semanais (Fantástico), humor e “reality shows” BBB, em sua 12a versão; A TV paga reforçou essa organização; Os processos de constituição de uma “cultura de massas” são aplicáveis à TV e exemplificados pela TV Globo, embora não apenas a ela. Meios de comunicação: internet Pouco mais de dez anos, permite a comunicação social e individual em espaço também criado (virtual); Aparentemente, elimina a interposição do meio (imprensa, rádio e TV) na comunicação, contudo depende do suporte (provedores, máquinas de busca, armazenamento etc.); Impõe a dependência de recursos técnicos, de linguagem e de ambiente (virtual) para a comunicação. Meios de comunicação: internet Afetou a sociabilidade com as redes sociais, as relações de mercado e, supostamente, substituiu conhecimento por informação; Instaurou a questão do armazenamento da comunicação e de seu acesso: Toda informação pessoal fica disponível, o que implica no risco de invasão de privacidade: é possível saber resultados de exames, pizza preferida, compras realizadas em 2009; Quem terá acesso a essa informação e quando? Conclusão Dois fatores decisivos no entendimento do papel dos meios de comunicação: a) organização empresarial, sua finalidade econômica; b) a interligação entre eles, condição para exercício do controle sobre o “conhecimento da realidade”; A publicidade e o marketing atravessam esse campo e o dividem com o jornalismo, cabendo aos três saberes práticos a elaboração e produção dessa realidade para um público, consumidor de produtos, ideias e de ideias sobre produtos. Interatividade A indústria cultural brasileira tem controle ideológico e formou a cultura de massas, vulgar e simplificada? a) Sim, ela produziu a cultura de massas. b) Não, a variedade de meios não permite falar de “controle ideológico”. c) A diversificação de meios afeta o controle ideológico e a massificação da cultura. d) Não, não houve a formação da cultura de massas. e) A cultura de massas produzida pela TV comprova seu papel. Produção e consumo: articulação material em simbólica É possível direcionar um produto ou serviço desconhecido a um público conhecido, ou supostamente conhecido? Sim, mas... Será preciso articular (ou criar) imagens ou representações, tanto para o público, quanto para o produto; E com certo saber de comunicação associar uma à outra. Produção e consumo: articulação material em simbólica Produzir implica em certa antecipação do consumo, mas como se dá esse processo que antecipa o consumo? Implica em prever e projetar uma dada tendência de comportamento social; portanto, é a sociedade, com todas as suas contradições e complexidades que oferecem base para essa antecipação; Referida ao tempo presente, mas em um deslocamento de passado e futuro. Há historicidade embutida nessa previsão, ou antecipação. Produção e consumo: articulação material em simbólica A associação será o conteúdo da comunicação, A mensagem poderá ser transdiscursiva ou não, mas será a construção associada de duas materialidades (produto e público); As duas socialmente orientadas por padrões, valores e expectativas sociais; Mas nem sempre pré-existentes: o apelo simbólico da “novidade” é grande. Produção e consumo: articulação material em simbólica Apenas para efeito de exposição, é possível distinguir: a. Produção material para consumo material e seu consumo material; b. Produção material para consumo simbólico e seu consumo simbólico; c. Produção simbólica para consumo material e seu consumo simbólico; d. Produção simbólica para consumo simbólico e o consumo simbólico dessa produção. Produção e consumo: articulação material em simbólica Duas observações conceituais: Práticas sociais: você pode entender como um comportamento reiterado e também as ideias que orientam esse comportamento; Articulação: a relação entre dois ou mais objetos considerados (que podem ser ideias,coisas, ou ainda ideias e coisas, assim como podem ser momentos da história, segmentos sociais, processos sociais etc.). Produção material para consumo material e o consumo Se faz pela articulação com condições sociais, históricas e culturais, que induzem o consumo e a produção; Mas consideradas isoladamente, elas aparecem como se fossem realizadas por categorias sociais distintas; Elas são construídas na aparência de vivências peculiares, o que é inconsistente, porque: O trabalhador também é consumidor. Importante: o consumo material não esgota o consumo! Produção material para consumo material e o consumo Mas o consumo material reconstrói simbolicamente os objetos produzidos. É nesse artifício de mediação que se baseiam os comerciais. Ex.: “carros jovens” (?) “Tudo deu em pizza” toma uma prática alimentar (produção e consumo material) por uma prática política de acordos e de privilégios; É costume nos grupos maiores dividir a conta, assim como se passa na “pizza política”: todos os envolvidos dividem o sigilo em torno dos fatos e todos se fartam de impunidade. Produção material para consumo material e o consumo O cotidiano na sociedade capitalista congrega produção e consumo, tanto material quanto simbólico; Essa dimensão da vida social é importante quando se pensa na relação com os objetos, com estilo e design; Os móveis de estilo, o design dos objetos, o modelo se difunde na série, diz Baudrillard, permitindo o acesso a todos, mas... A “customização” reintroduz a diferença; A individualização fundamental. Produção material para consumo material e o consumo A customização adiciona um “valor marginal” ao produto (os marketeiros dizem valor agregado), retira o produto da série, da racionalidade da produção; Empresta ao produto “individualidade”; Pode ser atribuída de vários modos, inclusive com equipamentos de série! Há todo um setor semi-industrial voltado a essa atividade (inclusive os mais simples, dos adesivos). Produção material para consumo simbólico e o consumo Aqui, o foco incide sobre o consumo (fruição) de ambientes requintados e de estilo, movimenta alguns segmentos significativos da produção industrial, do setor de serviços e dos meios de comunicação; Mas “aquilo que é dado como ‘estilo’ no fundo não passa de um estereótipo, generalização sem nuanças de um detalhe ou de um aspecto particular”. Produção material para consumo simbólico e o consumo O consumo simbólico se dá sob a forma de participação ou envolvimento pessoal na ambientação, a busca do consumidor é pelo “clima” criado com os objetos e pela “personalidade do ambiente”; Depois do filme “Beleza Americana” (Sam Mendes, 1999), pétalas de rosa vermelha espalhadas pelo chão, ou na banheira, e velas espalhadas passaram significar sensualidade; O “clima” alimenta a indústria de velas, o consumo para as pétalas desfolhadas, competindo com os sachês de rosa. Produção simbólica para consumo material e o consumo simbólico Como construir as bases da produção simbólica para objetos e equipamentos? Importante: suposta ausência de interposição (o publicitário não fala do produto, é outro quem o faz, e com “credibilidade” que não vem do produto); Articular momento histórico às peculiaridades do produto; Preservar a diferença social entre o consumidor e o “resto”, pela felicidade que ele proporciona; Essa é a chave da produção simbólica para o consumo material. Produção simbólica para consumo simbólico e o consumo simbólico Dois aspectos são fundamentais a esse item: 1. a produção da cultura e práticas sociais nos meios de comunicação e em certa modalidade de literatura; 2. o papel na formação e na disseminação de práticas sociais articuladas a essa produção. Os dois aspectos são relacionados ao que se entende por produto cultural. Produção simbólica para consumo simbólico e o consumo simbólico Trata-se da lógica econômica e social da produção e consumo na ordem capitalista, aplicada à produção de conteúdo; A produção simbólica é tomada no âmbito da representação material (objetos, coisas); O discurso de um conteúdo (tema, assunto, história, música, notícia, evento etc.) é tomado em uma dada materialidade (estatuto) refletindo nas condições abertas para sua elaboração, notadamente remuneração de trabalho, custos etc. Produção simbólica para consumo simbólico e o consumo simbólico A produção simbólica para consumo simbólico fornece ao receptor conteúdos de como pensar e entender o mundo; Há um recorte sobre aquilo que seria necessário dizer, considerando aquilo que é possível dizer. Concepções políticas e ideológicas (até partidárias) transitam nesse campo e imprimem ao conteúdo, antes mesmo de serem elaborados, os “pontos” importantes a serem mencionados. Sensibilizando o receptor, oferece a ele modelos de ação compatíveis com as valorações utilizadas. Interatividade A aplicação da lógica social e econômica teria implicações na elaboração de conteúdo, em sociologia da comunicação? a) Não, mas ele deve ser aceito pelo mercado. b) Sim, implicações econômicas (custos) estéticas (diagramação), estilo (ordem direta), publicitárias e de mercado. c) Depende do conteúdo: há demanda para ciências sociais. d) Sim, mas depende da comercialização. e) Sim, o conteúdo deve facilitar a visualização. A construção do social: semelhanças e diferenças Lembrar que se vai discutir a “construção” do social pelos meios de comunicação e não a constituição, ou configuração do social ao longo da história; Reconhecer que a construção se mostra distinguida em semelhanças e diferenças; Duas categorias, semelhantes e diferentes, que são reflexos de um julgamento, ou apreciação, que as antecedeu, mas que não está explícito. A construção do social: semelhanças e diferenças A SC estuda os pressupostos adotados na construção; Nas peças publicitárias, as semelhanças são projetadas de supostas características do público consumidor para que ele se identifique com o produto, ainda que no imaginário; São “imagens sociais” as utilizadas pelos meios no processo de construção: “Uai, sô, us mininim tava tudo bonzin.” “Us mano aliviaro a barra, firmeza?” A construção do social: semelhanças e diferenças As “imagens” em texto são dizeres cotidianos, mas permitiram a construção de uma “imagem” de que fala, na ausência de visualização; Será o Rio de Janeiro a cidade “que sorri de tudo”? E São Paulo, será sempre apressada “Vambora, vambora, tá na hora” (imagens de letras musicais); Nos dois casos, essas imagens integram a identidade dessas duas metrópoles, refletindo seus habitantes como espelhos de mito. Construção do social: espelho Esse é o elemento central na construção das semelhanças: O “espelho” de apreciações reiteradas para uma coletividade, permitindo a cada integrante nele se reconhecer, ou se projetar, ainda que nele não se visualize individualmente; Esse “espelho” reflete a construção de uma identidade social e um estágio, ou momento no “reconhecimento de si”, como percepção do sujeito de si mesmo, de seus gostos, preferências, atitudes, valores, corpo etc. Construção do social: espelho Nos meios de comunicação, a construção das semelhanças favorece a dimensão “inclusiva” do processo de identidade; O reforço nos traços particulares favorece o pertencimento e identificação com subgrupos, ou certa dimensão “excludente” do processo de identidade social; A integração do mercado fez do comum “regional”, o exóticosofisticado das metrópoles. Ex.: pequi, açaí, fuxico. Construção do social: espelho Na verdade, trata-se do mesmo processo perverso, de natureza econômica e social, ou das mesmas forças de produção e reprodução da ordem social; A dinâmica em movimento centrífugo produz “exclusão social” e em movimento centrípeto produz a ‘inclusão social’; O “espelho” da identidade social se apresenta fragmentado: cada fragmento é uma parte de uma identidade em mosaico que caracteriza a sociedade brasileira. Construção do social: espelho Em toda forma de convívio cotidiano, a distância social aparece antes da palavra, como um enquadramento do olhar; A comunicação se estabelece de uma estranha forma pelo incomunicável, a comunicação da distância, da diferença, entre ‘quem’ é chamado e ‘quem’ chama; Mas o “mosaico” das diferenças motiva produtos culturais, portanto, é preciso compreendê-las e saber reproduzi-las nas telas grandes, pequenas e textos. Construção do social: espelho A exigência implica aproximação com a cultura de referência, fazendo uso de “artifícios” e recursos para acentuar tais traços; No cinema e na TV, esses artifícios vão do ambiente e ao corpo das personagens gestos, modo de falar, posturas, suores, lágrimas, olhos, boca e sangue; Esse corpo produzido remete a personagem para um “lugar conhecido” pelo espectador; É um “corpo social”, significante para a visualidade, construção por mediação simbólica. Construção do social: espelho As construções das diferenças sociais em imagem e texto constituem expressão particular das mediações da sensibilidade na expressão de Barbero (Barbero:2001); Construir a imagem desse Outro, diferente da pretensa uniformidade geral, não é fácil, mas é necessária: na sua “diferença” ele é assunto, é consumidor de ampla gama de produtos e também é eleitor. Construção do social: espelho O Outro diferente pode ser construído “de fora”, acentuando traços exóticos: A mulher brasileira não foi, nem é o arremedo de baiana “pop” de Carmen; o carioca não era um “papagaio” malandro. Construção do social: espelho Um recurso na construção do Outro nos meios visuais, consiste em acentuar traços de sua tipicidade, tornando o Outro risível (mas o caipira que inspirou Mazzaropi era esperto e não era o Jeca). A construção da corporeidade Corporeidade como o modo como aparecem as personagens, sua fala e gestos nas cenas e nos textos, portanto, na articulação de duas modalidades de discurso: visual (cinema, fotografia e cartazes) e textual (letras das canções); Trata-se de transdiscursividade, logo é possível dizer que o corpo percorre “na diagonal” os campos do texto e da imagem, articulando-os entre si e se complementando, e se “abre” para um campo correlato, a vida social, incorporando sentidos, ou os perdendo. A construção da corporeidade a) A produção do corpo do Outro como objeto de desejo, instrumento à disposição de quem canta de seu prazer; b) A produção do corpo do Outro no devaneio, no delírio, na paixão e na loucura de quem canta, no corpo do Outro reside a ‘fraqueza’ do cantor, seus pecados e vícios: aquele corpo é produzido no âmbito de uma ética e estética dos corpos; c) A produção do corpo no âmbito das relações de poder, presentes na ordem do trabalho, na sujeição amorosa, e a partir de distinções sociais e referências visuais de identidade social. Interatividade O conteúdo da produção simbólica abrange: a) Apenas os sentidos culturais e sociais para dos objetos e produtos. b) Sentidos para objetos, práticas e valores para a vida individual e coletiva, modo de ver o mundo e o Outro. c) Ideias, mas não as práticas sociais a serem adotadas. d) Valores, os valores existentes na sociedade. e) As práticas e os critérios de consumo de objetos, ideias e valores a eles relacionados. A construção do cotidiano e da política A divulgação de “modos de entender a realidade e a vida” implica na construção de verdades sobre o cotidiano; A aceitação desses “modos de entender” se dá no plano das ideias e das práticas dos indivíduos; As verdades políticas e o próprio conhecimento pressupõem atitude crítica e reflexão; Mas se apropriar da resposta correta não é conhecimento, é informação; conhecimento e formação implicam capacitação para fazer perguntas, formular hipóteses e buscar respostas válidas. Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia Mas o que é a política? A palavra remete à ação participativa, articulação de diferenças, visando a um denominador comum, uma prática que envolve várias dimensões de poder, Afetadas pela comunicação ampliada, por todos os meios, às quais se deve acrescentar o poder de mobilização. “Como é possível os meios de comunicação exercerem papel político tão amplo?” Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia “Pela manipulação das informações” não é resposta verdadeira; A mídia opera em um campo de concorrência e nele a inverdade corresponde à quebra de confiabilidade, condição para manter índices de audiência, publicidade etc.; Ela também atende às expectativas do público, portanto, “manipulação” confere à mídia um poder que em realidade é menos amplo, conforme Ciro Marcondes. Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia Para entender como os meios de comunicação exercem vários poderes sutis, é preciso entender como o espaço político se formou na sociedade brasileira e quais as trajetórias dos sujeitos coletivos que dele participaram; Esse tema é tratado no livro texto desse curso; Aqui se vai dar ênfase aos recursos utilizados no exercício desses poderes tão sutis quanto importantes na sociabilidade contemporânea. Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia Os recursos não podem comprometer a confiabilidade, logo são mais comuns; Escolha da “pauta” seguida pelo tratamento dessa pauta, e a inserção da notícia política entre duas notícias “mais leves”, especialmente esportiva; Repetição de palavras-chave, de imagens-chave: desburocratização, privatização, modernidade, cidadania, conscientização, são palavras ou bordões utilizados na história política. Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia As palavras-chave são um modo sutil de formar o “consenso planejado” (Noam Chomsky), induzindo o público a pensar a realidade política e social a partir dele, para “entender” o cotidiano; A compreensão política exige repertório para análise e reflexão; para isso não basta jogar com palavras fornecidas pela mídia, é preciso a apreensão política do cotidiano relacionando-a com um futuro em processo. Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia A mídia realiza uma produção da realidade, para um público que em geral não expressa opiniões; Esse processo resulta na formação das maiorias silenciosas (Baudrillard); Uma vivência individualista, mas em sociedade, cabe a elas responder e não questionar, muito menos reivindicar; A dimensão social política da vida coletiva escapa nessa vivência, que tem eixo na vida privada, abrangendo no máximo à família e aos conhecidos. Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia Essa despolitização do brasileiro, estimulada pelos meios de comunicação, é também condição política; Na ausência de crítica e análise política, a crítica moral a substitui, mas com superficialidade; O slogan tão usado, “abaixo a corrupção” é de natureza moral, e não política; O slogan “mais moralidade na política” é vazio: de qual “moralidade” se está falando? Políticae sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia Outro recurso, para formar consenso em torno de candidato é a exposição da vida privada, como atestado de moralidade (argumento discutível); Um último recurso utilizado em campanhas políticas consiste em criar uma “imagem” do candidato partindo de sua presença pública, mais precisamente de sua aparência, formação, hábitos e modo de falar (o candidato é objeto de campanha de MKT, como qualquer produto). Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia Nesse quadro, qual o papel das mídias na discussão da cidadania? O discurso de cidadania não é limitado ao presente, mas se projeta para um futuro desejável, um “vir a ser”; Não se trata mais de assegurar direitos, mas de exercer os direitos assegurados, e de estendê-los a todos aos quais eles são aplicáveis, implicando articulação entre a teoria e a prática, ou o exercício nas condições concretas. Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia Isso significa que o discurso sobre cidadania não tem o “Outro” como objeto, esse “Outro” é sujeito de seu próprio discurso de cidadania, seja instalado pela semelhança, seja pelo exercício do direito à diferença; Essa é a prática de movimentos de trânsito nacional e internacional, dada a semelhança de condições vividas por tais segmentos no Brasil e fora dele; São exemplos: CUFA, Movimento Hutuz Hip Hop, MST, dentre outros. Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia Agora é um sujeito coletivo que fala para o “resto” da sociedade civil; inverteu-se o sentido do discurso: é “de fora” que o discurso chega para a sociedade, e não solicitante, o sujeito se posiciona portador de um discurso tão competente quanto outro qualquer, apenas diferente; É na pluralidade dos discursos que se instaura a democracia, e não no consenso planejado. Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia O conceito de hegemonia diz respeito à modalidade de poder exercido por um grupo, segmento social, região ou país dentre seus congêneres; Ela não é uma modalidade de poder que reflita uma situação quantitativa (maioria), mas reflete uma situação “qualitativa” de maior importância dentre os que são formalmente iguais; Não é situação estável e porque é dinâmica, formam-se grupos que representam interesses não hegemônicos, mas que organizados, podem contestar e rivalizar as tendências hegemônicas. Política e sociabilidade: cidadania, mídia e hegemonia Qual o papel das mídias no debate da cidadania? Acompanhar com interesse; Articulação entre a teoria e a prática, no exercício nas condições concretas é a prática das minorias participativas na sociedade contemporânea; No Brasil, essa prática é fundamental para a democratização das relações sociais, e construção da cidadania, em uma sociedade plural, mas que em lugar da pluralidade preferiu se firmar na diferença. Interatividade A construção da cidadania é um projeto de caráter político. Nesse caso, deve-se pensar que (aponte a alternativa correta). a) Nele, os meios de comunicação devem ser afastados. b) O rádio teria espaço em projetos dessa natureza, mas a televisão não. c) Um projeto dessa natureza seria beneficiado, desde que o conteúdo fosse elaborado com tal finalidade. d) Um projeto de construção da cidadania prescinde dos meios de comunicação; bastariam reuniões em comitês, leituras e nada mais. e) A ideia de cidadania decorre da ideologia burguesa, os meios de comunicação, instrumentos da burguesia, comprometem a construção desse projeto. ATÉ A PRÓXIMA!
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